Você está na página 1de 9

1ª lei de Mendel

Mendel desenvolveu a primeira prova de uma teoria, que explica a herança, mediante
a transmissão de unidades (“fatores”) contidas em células reprodutoras, pondo fim às
noções vagas como as referentes à herança pelo “sangue”. Os genótipos de todos os
organismos, segundo esta teoria, estão formados por genes (fatores).Devido à validade
desta teoria em todos os âmbitos da vida, desde os vírus até o homem, o gene pode ser
considerado como a unidade fundamental da vida !

O princípio da segregação foi formulado por Gregorio Mendel em 1866 sob tão
peculiares circunstâncias, que o mundo científico não soube apreciar ou reconhecer
por um período de 34 anos.

Em primeiro lugar, Gregorio Mendel não era biólogo e sim monge de um monastério
de agostinianos em Brünn, Áustria - atualmente Brno (República Tcheca). Em 1843
chegou como um rapaz pobre ao monastério. Foi ordenado sacerdote em 1847 e em
1851 foi enviado por sua ordem para estudar Ciências Naturais na Universidade de
Viena. Não obteve notas muito brilhantes em Física e Matemática, porém quando
voltou a Brünn como professor auxiliar de Ciências em 1854, deu provas das
qualidades intelectuais que caracterizam os grandes cientistas.

Pode-se afirmar que ninguém dos que tiveram contato e nem os que leram o trabalho
de Mendel - no século XIX - apreciaram o seu significado, ficando esquecido até
1900, quando a lei da segregação foi redescoberta quase simultaneamente por três
pesquisadores diferentes, que obtiveram resultados semelhantes aos de Mendel.

Estes três cientistas - De Vries na Holanda, Correns na Alemanha e Tschermak na


Áustria - encontraram o trabalho esquecido de Mendel e proclamaram a sua
importância. Imediatamente suas conclusões foram confirmadas e ampliadas
mediante experimentos realizados em várias partes do mundo em muitas espécies de
animais e vegetais.

Métodos de Mendel

Para compreendermos o trabalho de Mendel devemos examinar seus métodos. Outros


pesquisadores haviam realizado experimentos de hibridação com plantas e Mendel
conhecia o trabalho de seus predecessores. Assim:

 Uma importante razão que resultou para Mendel na descoberta de suas leis foi a
sábia escolha do material e dos métodos de estudo por ele utilizados.
 Mendel evitou as complexidades que haviam perturbado os investigadores
precedentes, simplificando o máximo possível o problema. Quando as plantas
de diferentes espécies ou variedades são cruzadas, aparece grande variabilidade
na descendência. Os pesquisadores anteriores faziam as observações sobre as
plantas e os animais como um todo, estudando conjuntamente todos os
caracteres e órgãos em que os híbridos diferiam dos parentais e entre si.
 Mendel limitou sua atenção a caracteres isolados, por exemplo, a cor das
flores. Assim que estabelecia o comportamento de cada caráter isolado, estudava
dois caracteres simultaneamente, tais como a cor das flores e a altura do caule.
Além disso, contava o número de cada tipo de descendentes obtidos do
cruzamento, reduzindo assim o fenômeno da herança a uma base mensurável e
quantitativa.
 A ervilha resultou ser um material muito satisfatório para os experimentos de
hibridação. Suas flores apresentam estrutura em que normalmente o grão-de-
pólen de uma flor atinge o seu próprio estigma, verificando-se assim a
autofecundação.

Mendel podia abrir a quilha de uma flor e retirar os estames antes que houvesse a
produção de pólen, impedindo a autofecundação. Assim, lhe foi possível colocar sobre
esta flor “castrada” o pólen da planta que lhe interessava empregar como o outro
parental do cruzamento.

Protegia as flores fecundadas artificialmente da polinização por outro pólen de


origem desconhecida, impedindo o acesso de insetos a elas.

 Para observar a segunda geração híbrida depois do cruzamento, bastava deixar


que as flores se autofecundassem normalmente.

O procedimento de Mendel consistia em cruzar plantas que diferiam em um par de


caracteres e observar o aspecto da primeira geração híbrida ou “F1”. Então, cruzava
as plantas híbridas entre si (ou lhes permitia que se autofecundassem) e cultivava uma
segunda geração, ou F2.
 a geração parental é conhecida tecnicamente por geração P.
 a primeira geração híbrida, descendente do cruzamento parental, é a
geração F1.
 a segunda geração híbrida, resultante do cruzamento dos F1 entre si,
será a geração F2 e assim sucessivamente.

Na geração F2 Mendel contava o número de plantas que possuia cada um dos


caracteres comparados, tais como a cor das flores, a cor das sementes ou o
comprimento dos caules, em que os parentais diferiam. O mais importante de tudo, é
que do estudo de alguns dados relativamente tão simples, formulou hipóteses de
trabalho ou explicações teóricas dos fatos que havia observado.

A validade destas explicações teóricas foi provada por experimentos posteriores,


primeiro pelo próprio Mendel e depois por outros pesquisadores, empregando diferentes
plantas e animais. As explicações teóricas que Mendel fez para os seus resultados,
atualmente estão firmemente estabelecidas e constituem as leis de Mendel da herança.
Estas representam dois princípios importantes sobre a segregação e distribuição
independente dos genes, juntamente com algumas generalizações fundamentais, tais
como as referentes à dominância e recessividade dos caracteres nos híbridos.

Lei da segregação de Mendel - 1ª lei.

Cada caráter (fenótipo) é condicionado (codificado) por dois fatores (genes).Esse


par de fatores segrega (se separa) no momento da formação dos gametas, sendo
apenas um fator conduzido por gameta.

Dominância

Antes de iniciar os cruzamentos, Mendel certificava-se de estar lidando com plantas de


linhagens puras. Segundo ele, eram puras as linhagens que originavam, por
autofecundação, somente plantas iguais a si. Se uma planta produzisse, ao se
autofecundar, algum descendente diferente dela, era chamada híbrida.

Quando Mendel cruzou uma planta de linhagem pura de sementes amarelas com outra
de sementes verdes também de linhagem pura, a descendência (F1) resultou parecida
com a parental de sementes amarelas. Parecia que o caráter verde estava suprimido e
que o amarelo dominava.

Por isso, Mendel chamou os caracteres como a cor amarela das sementes de
dominantes e a sua alternativa, cor verde das sementes de recessivas.
Os sete caracteres estudados por Mendel na ervilha se comportavam desta maneira, ou
seja, cada par de caracteres comparados, resultou em um dominante e outro recessivo.
Pesquisadores posteriores encontraram muitos outros caracteres que igualmente
mostram dominância completa ou quase completa. Há casos em que o indivíduo
heterozigoto ou híbrido apresenta um fenótipo intermediário entre os fenótipos
(caracteres) dos homozigotos (puros), fenômeno conhecido como dominância
incompleta. Nestes casos, não há dominância e os indivíduos híbridos (heterozigotos)
não se parecem com nenhum dos parentais e são mais ou menos intermediários entre
os dois.

Segregação

Sendo a dominância completa ou incompleta, há uma regra válida: sempre que os


parentais pertencerem a duas variedades puras, a primeira geração (F1) é uniforme
com relação ao caráter que se está considerando.

Mendel, ao cruzar ervilhas, em contraste com a uniformidade dos híbridos da primeira


geração (F1), obtinha na segunda geração (F2) produzida por autofecundação das
plantas de flores púrpuras de F1 duas classes de plantas diferentes: púrpuras e brancas.
Não encontrava plantas com flores de tonalidade intermediária.

Além disso, Mendel, diferentemente de seus predecessores, contava o número de


indivíduos com cada uma das características distintas que reapareciam por
segregação na geração F2. Por exemplo, no experimento com a cor das flores, obteve
929 plantas F2, sendo que 705 delas tinham flores púrpuras e 224 apresentavam flores
brancas.
Segregação semelhante era encontrada nas gerações F2 dos cruzamentos com outros
pares de caracteres. Ao serem comparadas essas contagens, Mendel encontrava em
todas a mesma proporção simples, ou seja, ¾ dos indivíduos F2 eram parecidos com o
caráter dominante e ¼ eram parecidos com o recessivo.

Tabela 1

Resumo dos resultados, nas gerações F2, dos experimentos de Mendel com ervilhas.

Dominante Recessivo Proporção


Caráter Total
No % No % entre os F2
Forma da semente
5.474 74,74 1850 25,26 7.324 2,96 : 1
(lisa ou rugosa)
Cor das sementes
6.022 75,06 2.001 24,94 8.023 3,01 : 1
(amarela ou verde)
Cor das pétalas – flores
705 75,89 224 24,11 929 3,01 : 1
(púrpura ou branca)
Forma da vagem (fruto)
882 74,68 299 25,32 1.181 2,95 : 1
(inflada ou comprimida)
Cor da vagem
428 73,79 152 26,21 580 2,82 : 1
(verde ou amarela)
Posição das flores
651 75,87 207 24,13 858 3,14 : 1
(axilar ou terminal)
Comprimento do caule
787 73,96 277 26,04 1.064 2,84 : 1
(longo ou curto)
Totais 14.949 74,90 5.010 25,10 19.959 2,98 : 1

Trabalhos posteriores com ervilhas, realizados por outros pesquisadores, confirmaram


completamente os resultados obtidos por Mendel.

Tabela 2

Resumo da geração F2, resultante da herança da cor de sementes em ervilhas.

Sementes amarelas Sementes verdes


Pesquisador Total
No % No %
Mendel, 1865 6.022 75,05 2.001 24,95 8.023
Correns, 1900 1.394 75,47 453 24,53 1.847
Tschermak, 1900 3.580 75,05 1.190 24,95 4.770
Hurst, 1904 1.310 74,64 445 25,36 1.755
Bateson, 1905 11.902 75,30 3.903 24,70 15.806
Lock, 1905 1.438 73,67 514 26,33 1.952
Darbishire, 1909 109.060 75,09 36.186 24,91 145.246
Totais 134.706 75,09 44.692 24,91 179.399
A hipótese do gene

Os resultados observados com os experimentos conduziram Mendel às seguintes


hipóteses:

 Os caracteres comparados, tais como as cores púrpura ou branca das flores de


ervilha, são determinadas por “algo” que é transmitido dos parentais a seus
descendentes, mediante as células sexuais ou gametas.

Este “algo” chama-se “fator” (gene). O ponto essencial é que os diferentes


genes, tais como os que determinam as diferentes cores das flores ou se as
sementes são lisas ou rugosas, não se misturam, não se contaminam e nem
afetam uns aos outros quando estão juntos no híbrido.

Cada característica é determinada por fatores hereditários, presentes aos pares


em um indivíduo. Um dos fatores do par foi herdado da mãe, e o outro, do
pai.Indivíduos puros para determinada característica têm os fatores do par
idênticos, enquanto indivíduos híbridos têm fatores diferentes.

 Em contraposição, os diferentes genes segregam, ou seja, separam-se puros e sem


contaminação, passando para os diferentes gametas formados pelo híbrido e se
apresentarão em diferentes indivíduos da descendência do mesmo. Se o indivíduo
for puro, todos os gametas terão fatores (genes) iguais; se o indivíduo for híbrido,
produzirá dois tipos de gametas, em mesma proporção.

Para visualizar como os genes são transmitidos e distribuídos é conveniente


simbolizá-los por letras.Convencionalmente, os genes dominantes são
simbolizados por letras maiúsculas e seus recessivos correspondentes por
minúsculas.

No cruzamento de ervilhas púrpuras com ervilhas brancas, B pode indicar o gene para
cor púrpura das flores e b para a forma alternativa ou alélica deste gene, que dará
flores brancas.B e b são genes alelos:

Cruzamento parental  Flor púrpura pura x flor branca pura

Como os indivíduos se originam da união de dois gametas, recebem um gene para a


cor das flores de cada parental.

O parental de linhagem pura de flores púrpuras pode, portanto, ser representado por
BB e seus gametas por B; o parental de linhagem pura de flores brancas é bb e seus
gametas são b.
Quando as duas plantas se cruzam, o gameta feminino contendo B é fecundado pelo
gameta masculino que possui b, ou vice-versa. O zigoto híbrido resultante terá tanto o
gene B, quanto o gene b; sua fórmula gênica ou seu genótipo será Bb.

Quando os dois genes de um par de alelos são iguais, o indivíduo é dito homozigoto; as
plantas de linhagens puras púrpura (BB) e branca (bb) são homozigotas. Quando os
dois genes do par de alelos são desiguais, o indivíduo é heterozigoto (Bb).

As plantas de flores púrpuras obtidas por Mendel na geração F1 (Bb) eram


heterozigotas (híbridas); eram púrpuras devido ao fato de o alelo B ser dominante
sobre o b, que é recessivo.

Proporções mendelianas

Pelos princípios da segregação, os dois genes alelos que estão no heterozigoto Bb não
se fundem, não misturam e nem contaminam um ao outro, apesar de o fenótipo deste
híbrido só expressar a cor púrpura nas flores e não dar nenhuma indicação visível da
presença do gene b no genótipo.

Estes dois genes irão segregar-se (separar-se) quando o organismo híbrido


(heterozigoto) formar seus gametas (meiose), de maneira que, aproximadamente a
metade (50%) dos gametas levarão o gene B e a outra metade o b.

Suponhamos que na fecundação os gametas se combinem ao acaso, não havendo


preferência a favor ou contra a união dos gametas que contenham genes iguais ou
diferentes. Finalmente, suponhamos que as plantas de todos os genótipos – BB, Bb, bb
– sejam igualmente viáveis, resultando que as proporções relativas destas plantas,
desenvolvidas a partir das respectivas sementes, sejam as mesmas proporções formadas
na fecundação.

Flor púrpura F1 x flor púrpura F1


Bb Bb

Tipos de gametas ½ ½
produzidos B b
½ ¼ BB ¼ Bb
B (púrpura) (púrpura)
½ ¼ Bb ¼ bb
b (púrpura) (branca)

Dado que cada uma destas quatro combinações tem a mesma probabilidade de
ocorrência, cada uma delas se apresentará na mesma proporção entre os descendentes,
isto é, 25% ou ¼ de cada. Por exemplo, a probabilidade de o gameta contendo o gene
B, através da fecundação, encontrar-se com o gameta b, é ½ x ½, ou seja ¼.

As plantas BB – homozigotas – só terão o alelo para a cor púrpura (esperados na


proporção de ¼, isto é, ½ x ½). As plantas Bb – heterozigotas - apresentarão os dois
tipos de alelos e serão também de cor púrpura (esperados na proporção de 2/4 ou ½),
visto que o gene B é dominante sobre o b. As plantas bb terão dois alelos para a cor
branca e só produzirão flores brancas (esperadas na proporção de ¼).

Portanto, se as suposições anteriormente estabelecidas forem válidas, aproximadamente


¾ ou 75% das plantas da geração F2 deverão ter as flores púrpuras (¼ AA + 2/4 Aa)
e aproximadamente ¼ ou 25% serão brancas. Isto equivale a dizer que as plantas de
flores púrpuras e de flores brancas vão aparecer aproximadamente na proporção de 3 :
1.

Dentre 929 plantas realmente obtidas por Mendel na geração F2, do cruzamento entre
flores púrpuras e flores brancas, 705 tinham flores púrpuras e 224 brancas, constituindo-
se, portanto, uma segregação de 75,89% de plantas de flores púrpuras (vide tabela
1).Este resultado se aproxima da proporção esperada de ¾ : ¼ , ou seja, 3 : 1.

Proporções muito semelhantes obteve Mendel nos cruzamentos em que intervieram


todos os demais caracteres por ele estudados (vide tabela 1). Nos cruzamentos entre
sementes amarelas e verdes, foram obtidos por diferentes pesquisadores um total de
179.399 sementes (F2), conforme a tabela 2. Entre estas sementes, 134.706 – 75,09% -
eram amarelas e 44.692 – 24,91% - eram verdes.

Naturalmente, os resultados dos experimentos de cultivo das ervilhas não são exatos,
como também não seriam os resultados (casuais ou probabilísticos) de lançamento de
uma moeda ao ar, ou do lançamento de dados.A razão é a mesma para todas as
situações!

Não se deve esperar, por exemplo, que para cada três plantas de flores púrpuras se
encontre sempre uma planta com flor branca; assim, também que ao lançar a moeda ao
ar vá sempre se alternando o resultado cara ou coroa. A proporção de 3 : 1 e outras
proporções mendelianas simplesmente indicam as probabilidades do que se espera
estatisticamente. Na realidade, quanto maior for o número de indivíduos analisados,
maior será a tendência de as proporções observadas se aproximarem das esperadas
(vide tabela 2).

Você também pode gostar