Você está na página 1de 2

06/08/2019 Conteúdo Jurídico | Caso Bruno: inocente ou culpado?

POR: LUIZ FLÁVIO GOMES

Caso Bruno: inocente ou culpado?

PROCESSO PENAL

Tem início hoje (04.03) o julgamento do ex-goleiro Bruno e Dayanne. Bruno é acusado de ter mandado matar Eliza Samúdio (e ter promovido
o sequestro dela e do lho do casal). A nova investigação aberta pela polícia civil, sobre a possível participação na execução da vítima de
outros policiais, só tende a bene ciar o “Bola” (gerando dúvida sobre a autoria da execução). Em princípio, não altera a situação processual
do ex-goleiro, que é complexa. Por quê?

Porque o promotor (Henry Castro) já disse que vai explorar todas as provas indiciárias contra ele (delação de Macarrão, telefonemas entre
todos eles no dia dos fatos, sangue no carro do acusado Bruno, depoimentos de testemunhas etc.).  Claro que grande peso tem a
surpreendente delação de Macarrão. De qualquer modo, naquele dia Bruno não estava lá para fazer o contraditório. Vai exercê-lo agora.
Tentará a defesa retirar a credibilidade da delação.

Promete o assistente de acusação (doutor Arteiro) uma “bombástica” testemunha, que tudo saberia contra Bruno. Aguardemos! Não há
impedimento legal de a juíza determinar a oitiva de uma testemunha não arrolada pelas partes.

A tática da defesa (conduzida por Lúcio Adolfo) será a desconstrução da validade dos indícios, gerando, assim, dúvida na cabeça dos jurados.
A dúvida, como sabemos, favorece o réu.

Noticia-se que os jurados serão sorteados entre 17 mulheres e 8 homens (informação não o cial). A composição feminina, em tese,
favoreceria a acusação, porque estamos diante de um crime com características “machistas”. Teoricamente haveria solidariedade das juradas
com o sofrimento e humilhação da vítima (uma mulher). Na prática, no entanto, não existem provas empíricas do que é a rmado
teoricamente.

Caso os jurados condenem Bruno, sua pena pode chegar (no máximo) a perto de 41 anos. De qualquer modo, os juízes e tribunais brasileiros
não costumam aplicar a pena máxima. Considerando-se o total da pena de Macarrão (23 anos, menos 8 pela delação, resultando em 15
anos), é plausível supor que eventual condenação de Bruno seja sancionada com pena maior, caso venha a ser reconhecido como mandante
(algo em torno de 25 a 30 anos). Terá que cumprir disso 40% em regime fechado (por se tratar de crime hediondo), descontando-se o tempo
já cumprido de prisão.

Tudo isso, no entanto, é pura especulação, porque no cenário da defesa é perfeitamente possível a absolvição. A defesa tudo fará para
desmontar a força dos indícios incriminatórios.

O Tribunal de Justiça de MG adiou, na última quarta, o julgamento do HC impetrado por Bruno. Fez isso com prudência. Nenhum tribunal
julga HC de um réu com júri marcado para 4 ou 5 dias depois. O Tribunal vai aguardar o veredito dos jurados. Caso absolvam, liberdade
imediata; caso condenem, a tendência é a manutenção da prisão (réu que respondeu preso, normalmente continua preso).

O questionamento relacionado com a ausência do corpo da vítima continua aberto. Se a defesa vai ou não insistir nisso não sabemos. De
qualquer modo, o fato de a Justiça ter expedido uma certidão de óbito não impede tal questionamento (porque a certidão também se
fundamentou numa presunção).

A testemunha Jorge Luiz (primo do réu) já prestou vários depoimentos contraditórios. O último para o “Fantástico”. Sua credibilidade perante
os jurados está minguada. De qualquer maneira, eventual depoimento bastante convincente pode impressionar os jurados.

Fundamental será o interrogatório do réu. Fará o contraditório (diferido) frente ao que disse Macarrão e mostrará seus argumentos. Réu
convicto da inocência costuma impressionar. Quando não mostra convicção, afunda a defesa (tal como ocorreu recentemente em vários
julgamentos midiáticos).

Não havendo provas diretas (seja sobre o corpo da vítima, seja sobre a autoria), são relevantíssimos os debates orais. Estaremos

acompanhando esse julgamento, passo a passo, e informando nossos seguidores no atualidadesdodireito.com.br. Que a juíza, doutora

Marixa Rodrigues, não seja surpreendida com os tumultos do julgamento anterior.

https://www.conteudojuridico.com.br/coluna/1450/caso-bruno-inocente-ou-culpado 1/2
06/08/2019 Conteúdo Jurídico | Caso Bruno: inocente ou culpado?

Luiz Flávio Gomes, o autor

Deputado Federal por São Paulo (2019-2023) - é professor e jurista, Doutor em Direito pela Universidade Complutense de Madri

e Mestre em Direito Penal pela USP. Exerce o cargo de Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Atuou nas funções de

Delegado, Promotor de Justiça, Juiz de Direito e Advogado. Atualmente, dedica-se a ministrar palestras e aulas e a escrever livros
e artigos sobre temas relevantes e atuais do cotidiano.

Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cienti co publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:
GOMES, Luiz Flávio. Caso Bruno: inocente ou culpado? Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 06 ago 2019. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/coluna/1450/caso-bruno-
inocente-ou-culpado. Acesso em: 06 ago 2019.

https://www.conteudojuridico.com.br/coluna/1450/caso-bruno-inocente-ou-culpado 2/2

Você também pode gostar