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CANAL DO CÓRREGO BONSUCESSO


INSPECÇÃO E DIAGNÓSTICO DE PATOLOGIAS DE GALERIAS
DE AGUAS PLUVIAIS

M. TORRES N. MUSTELIER
Eng.º Civil, Ms Eng. Civil Arquiteta, PhD Eng. Civil
CEFET-MG CEFET-MG
Belo Horizonte; Brasil Belo Horizonte; Brasil
maria.zenha@constranbh.com.br niubis@yahoo.com

C. G. CESAR
Eng. º Civil, PhD Eng. Civil
CEFET-MG
Belo Horizonte; Brasil
cristinagc@civil.cefetmg.br

RESUMO

Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, é uma das maiores cidades do Brasil. Uma das suas características
particulares é a presença de várias bacias e, por consequência, vários cursos d’água que permeiam todo o traçado
urbano. Nas últimas décadas, para evitar a ocorrência de inundações, grande parte desses cursos d’água foi canalizado e
revestido em concreto. Nessa concepção, as águas resultantes de precipitações pluviométricas devem ser rapidamente
afastadas das áreas urbanas através do aumento de sua velocidade de escoamento. Apesar de ser uma solução rápida e
eficaz, essas estruturas em concreto exigem manutenção constante.

Este trabalho, através de registros fotográficos, teve como intuito levantar dados para alertar para o estado de
conservação da galeria em estudo e estímulo para que sejam desenvolvidos novos trabalhos na área, mostrando a atual
necessidade de manutenções preventivas em redes de drenagem em Belo Horizonte.

Através dos estudos realizados, foi constatada a necessidade de reforço estrutural no Córrego Bonsucesso. As patologias
existentes no Canal do Córrego do Bonsucesso estão comprometendo as estruturas de concreto tanto no aspecto de
durabilidade quanto de estabilidade, podendo causar danos que além de afetar o canal, poderá afetar a integridade de
pessoas e bens. A partir deste estudo sugere-se a utilização de concretos de alta e desenvolvimento de novos projetos
contemplando a possibilidade de escoamento de água pluvial, esgoto e lixo, que é o que acontece em nossa realidade
brasileira.
1. INSTRODUÇÃO

O aumento da população, fenômeno comum nas grandes cidades, requer maior cuidado com as redes de drenagem e as
canalizações de cursos de água por serem estruturas extremamente necessárias para o funcionamento de uma cidade.
Quando não funcionam com eficácia, demandam manutenções e recuperações, quase sempre emergenciais e de alto
custo.

A utilização para a qual as redes de drenagem foram projetadas traz um desgaste previsto em projeto, mas também há
um desgaste não previsto: escoamento das águas, que normalmente fluem poluídas por sedimentos sólidos, esgotos
clandestinos e contaminações químicas oriundas de efluentes não-domésticos que crescem cada vez mais contaminando
as galerias de águas pluviais

Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, é uma das maiores cidades do Brasil. Uma das suas características
particulares é a presença de várias bacias e, por consequência, vários cursos d’água que permeiam todo o traçado
urbano. Nas últimas décadas, para evitar a ocorrência de inundações durante os períodos de cheia, grande parte desses
cursos d’água foi canalizado e revestido em concreto. Nessa concepção, as águas resultantes de precipitações
pluviométricas devem ser rapidamente afastadas das áreas urbanas através do aumento de sua velocidade de
escoamento. Apesar de ser uma solução rápida e eficaz, essas estruturas em concreto exigem manutenção constante,
devido à possibilidade de surgimento de diversas patologias, comuns no concreto como material de construção. Soma-
se a esta característica natural, o fato das águas de nossos rios serem misturadas indevidamente às águas servidas
(esgotos), o que agrava o aparecimento dessas anomalias, normalmente decorrentes de ações climáticas e atmosféricas.

Esse processo desencadeia diversas patologias por processos físicos e químicos, sendo as mais recorrentes as
infiltrações, desgastes por abrasão, desgastes por cavitação, armaduras expostas, trincas e ninhos de concretagem,
carreamento de materiais, desagregação e destacamento do concreto [1]. Todas essas anomalias devem ser reduzidas e
evitadas tanto quanto possível. Por esse motivo, a situação estudada neste trabalho teve foco na busca de melhores
soluções técnicas para a recuperação das galerias de águas pluviais em Belo Horizonte – BH.

2. CASO DE ESTUDO

2.1 Localização

A análise proposta é pertinente à bacia do córrego Bonsucesso, o qual se localiza na região do Barreiro, Centro Sul e
Oeste no município de Belo Horizonte, o córrego é integrante do Programa de Recuperação Ambiental de Belo
Horizonte, e tem área de 1.192 hectares, atendendo uma população de 34.000 habitantes e extensão total do curso
d’água de 22.000 metros. O córrego Bonsucesso nasce nas encostas da Serra do Curral, próximo à divisa com o
município de Nova Lima, e é um afluente da margem direita do Ribeirão Arrudas e está localizado na porção sul do
município de Belo Horizonte (Figura 1).

O projeto integrante deste programa para a bacia do córrego Bonsucesso é constituído por tratamento de fundo de vale,
recuperação de erosões, complementação e implantação de sistemas de macro e microdrenagem, implantação de
interceptores e complementação de redes coletoras de esgotos sanitários, implantação de sistema viário, implantação de
áreas de uso social e paisagismo, implantação de bacia de detenção de cheias, desapropriação, remoção e
reassentamentos de famílias, além de ações de educação ambiental e mobilização social.
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Figura 1 - Bacia elementar do córrego Bonsucesso – Site Prefeitura de Belo Horizonte.

2.2 Descrição e caracterização do canal

A galeria do córrego Bonsucesso esta localizado sob a Rua Úrsula Paulino e é um bueiro de travessia constituído por
célula única. A galeria do córrego Bonsucesso é composta por lajes de piso com calha, paredes e laje de teto em
concreto armado. Tem extensão aproximada de 50,50 metros e geometria conforme seção descrita à abaixo: Seção S0-
0m a 50,50 m x 2,30 m (calha h= 0,40m) conforme Figura 2.

Figura 2 – Vista frontal Córrego Bonsucesso – (Fonte: Arquivo Empresa B, 2012)


Para realização da verificação analítica da estrutura foi necessária à execução de prospecção para identificação das
armaduras na laje de teto (Figura 3 (a)) e da laje de piso (Figura 3 (b)) e paredes (Figura 4 (c) e (d)), e nas juntas de
dilatação (Figura 3 (e) e (f)), a fim de definir a tipologia e constituição, visto que os projetos originais não foram
disponibilizados.

(a) Vista de armadura na laje de teto e (b) laje de piso com exposição parcial da
perda de parte da sua estrutura – armadura – Início+38,00m
Início +25,00 m-

(c) Detalhe de armadura exposta na parte (d) Vista de armadura exposta no entorno
inferior da parede direita –Início + 33,00 da contribuição de 150 mm localizada
na parede direita – Início + 44,90 m

(e) Detalhe de armadura exposta na junta de (f) Abertura na parede esquerda para
dilatação da laje de teto – Início +11 m. chegada de contribuição –Início + 2,5m
Figura 3 – Detalhes das patologias encontradas (Fonte: Arquivo Empresa B, 2012).

Para verificar a resistência do concreto foram extraídos três testemunhos de concreto (figura 5) sendo dois na laje de
teto e um na parede, conforme a NBR 7680: 2007. A empresa responsável pela extração dos testemunhos foi escolhida,
pois é uma empresa de renome no mercado, sendo indicada por vários profissionais que foram consultados para
elaboração deste trabalho, é especializada em coleta de materiais para ensaios de resistência do concreto. Os três pontos
de extração de testemunho foram escolhidos por estes estarem nos pontos mais críticos verificados na estrutura. A
resistência à compressão dos testemunhos será apresentada na Tabela 1.
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Figura 4 – Extração do corpo de prova na parede esquerda - (Fonte: Arquivo Empresa B, 2012).

Tabela 1 - Resultado de resistência à compressão – Relatório técnico empresa A, 2012.


CP ESTRUTURA RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO (MPa)
1 Parede esquerda 34,4
2 Laje de teto 44,6
3 Laje de teto 35,7

3. PARECER TÉCNICO DA EMPRESA A QUANTO ÀS CONDIÇÕES DO CANAL

Durante a inspeção técnica observou-se que a laje de piso apresenta-se com desgaste por abrasão com exposição parcial
das armaduras e assoreamento. A laje de teto e as paredes de concreto apresentam também armaduras expostas. Foram
localizadas nas paredes quatro contribuições conforme indicadas abaixo:

 Início + 1,40 m – contribuição de diâmetro de 150 mm – parede esquerda;


 Início + 7,50 m – contribuição de diâmetro de 150 mm – parede esquerda;
 Início + 25,50 m – contribuição de diâmetro de 600 mm – parede direta;
 Início + 44,90 m – contribuição de diâmetro de 150 mm – parede direita.

Observou-se uma abertura na parede esquerda localizada no Início + 2,50 m para chegada de nova contribuição e uma
abertura com carreamento de material na parede direita localizada no início + 24,00 m.

3.1 Procedimento executivo de construção e canalização de barragem de ensecamento para reparo

Com o objetivo de ensecar¹ toda a área de trabalho, deverá ser construída 01 (uma) barragem a montante do início +
0,00 m do canal. As águas represadas deverão ser canalizadas com no mínimo 2 tubos de PVC com Ø 300mm (Figura
5) que poderão ser fixados em suportes de sustentação conforme figura 6. Após a execução dos trabalhos na laje de
piso, direcionar as tubulações para a parte central da laje possibilitando os trabalhos de recuperação e reforço estrutural
nas paredes laterais. Todos os esgotos clandestinos existentes na área ensecada, assim com as outras contribuições
deverão ser captados em uma tubulação de 100 mm com conexões adequadas, ou sistema de calhas, durante a execução
das obras, para que não interfiram na qualidade dos serviços de recuperação e reforço.

Figura 5 - Barragem de Ensecamento (Seção Tipo-2 Tubos) – Relatório técnico empresa A, 2012.

¹ ensecar ficar em seco; enxugar-se da umidade que lhe, secar-se. esgotar; secar. Pôr em seco.
Figura 6 - Suporte para Sustentação dos Tubos da Ensecadeira (2 Tubos) – Relatório técnico empresa A, 2012.

3.2 Iluminação da área de trabalho

O interior das galerias é um ambiente naturalmente escuro, sendo assim, dificulta a visualização de suas características e
de suas patologias, o que requer iluminação adequada para o desenvolvimento dos trabalhos. No entanto será necessária
a instalação de rede elétrica ao longo de toda a extensão do canal, que esteja em obras, de forma a permitir uma
iluminação adequada para a execução dos trabalhos. A rede elétrica indicada será composta por fio condutor 4,0 mm²
com lâmpadas incandescentes de 100 watts, a cada 5 metros, instalada nas duas paredes.

3.3 Limpeza das superfícies e remoção dos entulhos

A limpeza das superfícies e no interior do canal tem como objetivo retirar todas as sujeiras e impregnações, partículas
soltas, fungos, eflorescências, manchas, etc. Somente após esta limpeza será possível iniciar os trabalhos de
recuperação, pois o substrato deverá estar totalmente limpo para possibilitar a visualização das patologias existentes.
Após a remoção manual de todos os entulhos e assoreamentos para fora da galeria, devera ser realizado jateamento com
água sob pressão com equipamento tipo lava-jato com bico direcional, com pressão mínima de 14 MPa (2000 psi) e
mangueiras de alta pressão com engates rápidos. Iniciar a limpeza pelas partes mais altas, procurando manter uma
pressão adequada para remoção das partículas soltas. Executar movimentos circulares com o bico do jato para facilitar a
limpeza de toda a superfície.

4. PRINCIPAIS PROPOSTAS DE INTERVENÇÕES PARA A REPARAÇÃO DE ANOMALIAS

Depois do levantamento da situação e sendo verificado que vários fatores contribuíram para o agravamento dos danos,
tais como cobrimento insuficiente ao meio agressivo, fck inadequado e concreto com agregados não resistentes à
abrasão foram propostas as seguintes intervenções [2-3]:

4.1 Recuperação da laje de piso em concreto armado

A laje de piso é normalmente a parte dos canais fechados onde se apresenta com o maior número de patologias, em
função do desgaste provocado pela passagem do fluxo. A recuperação irá depender do nível de desgaste da superfície,
tomando-se como referência o ponto com maior desgaste:

 Tipo A: quando o nível de desgaste situa-se acima da armadura da laje de piso,


 Tipo B: quando o nível de desgaste situa-se na região da armadura da laje de piso com exposição parcial das
barras,
 Tipo C: quando o nível de desgaste situa-se abaixo da região da armadura, com exposição total das barras, mas
ainda com a presença da parte inferior da laje,
 Tipo D: quando o nível de desgaste situa-se abaixo da laje de piso, com perda parcial da estrutura de concreto,
Tipo E: quando o nível de desgaste situa-se abaixo da laje de piso, com perda total da estrutura de concreto,

Neste estudo de caso está previsto a utilização somente do piso tipo B, no entanto após o ensecamento da galeria poderá
ocorrer outra tipologia para o piso (Figura 7).
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Figura 7: Detalhe de recuperação de piso em concreto armado “Tipo B” – Relatório técnico empresa A, 2012.

4.2 Fechamento dos reparos superficiais localizados até 5 cm

Para o preenchimento dos reparos superficiais até 5 cm deve ser utilizada argamassa polimérica, de base cimentícia, não
retrátil, tixotrópica, impermeável, pré-dosada pelo fabricante, com resistência à compressão superior a 20 MPa com 24
horas. No caso de reparos em grandes áreas a argamassa deve ser aplicada em faixas com no máximo 1,00 m² para
diminuir os efeitos da retração. Segue identificação das etapas conforme Figura 8: 1. Demolição do concreto; 2.
Limpeza da armadura; 3. Preparo do substrato; 4. Argamassa de reparo;5. Acabamento.

Figura 8- Anatomia de reparos localizados superficiais (até 5 cm) – Relatório técnico empresa A, 2012.

4.3 Fechamento dos Reparos Generalizados Utilizando Argamassa Projetada

A técnica de projeção consiste em se conduzir concreto ou argamassa através de uma mangueira projetando-os em alta
velocidade (acima de 120 m/s). A força do jato, ao encontrar a superfície de base, comprime o material, mantendo-o
auto-aderido. A superfície que vai receber o material pode estar em qualquer posição (vertical, inclinada ou horizontal).
Os detalhes executivos para projeção em argamassa são os descritos a seguir,: 1. Tratamento do substrato; 2. Argamassa
projetada, cobrimento mínimo de 3 cm; 3. Armadura remanescente; 4. Tela soldada. (Figura 10).

Figura 10 - Projeção de argamassa – Relatório técnico empresa A, 2012.


4.4 Carreamento de material (pequenas cavidades)

Este processo está indicado para preenchimento de vazios nos aterros dos canais, provocados pelo carreamento de
material, de pequenas dimensões, sendo todos os trabalhos realizados no interior do canal revestido fechado. A região
vazia será preenchida com sacos de aniagem, tamanho 0,50 x 0,80 m, capacidade de 50 kg, com solo-cimento na
proporção de 50 kg/m³. A sacaria deverá ser colocada manualmente, de forma a ocupar todos os vazios da cavidade. O
detalhe para preenchimento de vazios provocados por carreamento de material é o seguinte, conforme Figura 11:

Figura 11 - Preenchimento de vazios provocados por carreamento de material (pequenas cavidades) – Relatório
técnico empresa A, 2012.

4.5 Armação de reforço na laje de piso

A laje de piso deverá receber reforço através da colocação de aço, com diâmetro de 16,0 mm. Para tanto deverá ser
realizado a demolição do piso com espessura de 5 cm preservando as armaduras existentes, Após a demolição e
limpeza, incorporar a nova armadura, fixando as extremidades com adesivo epóxi e reconstituir o concreto.

5. CONCLUSÕES

O estudo de caso da galeria do córrego Bonsucesso foi escolhido por este estar em nível avançado de degradação de sua
estrutura, e o mesmo serve de exemplo da realidade do que vem ocorrendo com outras estruturas deste tipo, não só no
município de Belo Horizonte como no Brasil. Através dos estudos realizados, foi constatada a necessidade de reforço
estrutural no Córrego Bonsucesso. Esse reforço deverá ser realizado nas superfícies internas do canal através de
colagem de chapas de aço, nas paredes e na laje de cobertura Na laje piso deverá ser realizada a demolição de 5 cm e
incorporado aço com diâmetro de 16 mm, devendo ser recomposta uma camada de concreto de 5 cm sobre o reforço de
aço, além da aplicação de camada de desgaste com espessura de 5 cm sobre toda a laje de piso do canal [4]. Também foi
verificado um desgaste da laje de piso, com exposição do agregado graúdo e das armaduras, esta ocorrência se deve a
abrasão. As patologias localizadas nas paredes e laje de teto ao longo de todo o Canal como armadura exposta, podem
ser em consequência de falhas construtivas, que pode ter sido causada por deficiência da espessura de cobrimento das
armaduras [5].

6. AGRADECIMENTOS

Ao Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais e á Empresa Constran pelo apoio desta pesquisa.

7. REFERÊNCIAS

[1] Aguiar, J.E.; Baptista, M. Concrete structures erosions of urbans stormwater channels, Ibracon Strutures and
Materials Journal, Volume 4, Number 1, p.070- 09, março de 2011.
[2] Melo, V.; Santos, H.; Silva, A.; Patologias em estruturas hidráulicas de macrodrenagem revestidas em concreto.
Construindo, Belo Horizonte, v .1, n.2, p.32-37, jul./dez. 2009.
[3] Silva, P. F. A. Durabilidade das estruturas de concreto aparente em atmosfera urbana. São Paulo: Editora Pini,
1995NIELSEN, A, VO.
[4] Emmons, P.H. Concrete Repair and Maintenance Ilustrated. R.S. Means Company. 295p. 1993.
[5] Aguiar, J. E. Estudos das características técnicas e operacionais das galerias de águas pluviais como subsídios
para gestão patrimonial e estabelecimento de diretrizes para projetos de sistemas de drenagem urbana.
Dissertação (Programa de Pós – graduação em Saneamento, Meio ambiente e Recursos Hídricos). Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012.

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