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O PENSAMENTO DE HÜRGEN HABERMAS COMO FUNDAMENTO MORAL

PARA AVALIAÇÃO DE DILEMAS PROFISSIONAIS


Professor: Diogo Corrêa1
Acadêmicos:2
Josuel Carlos Oliveira
Kennedy Anderson Lobato
Mateus Menezes Pinheiro
Roger Daniel Mendes Ferreira
Walleffe Ramon Amorim
William Carlos Costa

RESUMO

Tendo sido criado no final do século passado, o Conselho Federal de Educação Fisica teve a
necessidade de responder: como defender os direitos e promover os deveres de uma categoria
profissional? Para tal resposta foi necessário uma série de questionamentos, pois primeiramente se
observou o lado jurídico, sendo ele que indica quais são os direitos e deveres de um profissional em
exercício, estabelecendo direitos e deveres a partir de uma conduta ou comportamento da instância
social, partindo do um ponto de vista de um princípio legal como lei, decreto e etc. Em um segundo
momento, observando os princípios ou fundamentos que expressam os critérios éticos, avaliando assim
problemas oriundos do que pode ou deve o profissional, garantindo o convívio social por meio dos
princípios morais, pois para Beresford (2002), moral “ é tudo aquilo que uma determinada sociedade
admite como sendo certo ou justo em determinado tempo e espaço para regular a conduta e o
comportamento social, sob o ponto de vista moral de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos a ela
pertencentes”. Tendo a partir desse ponto de vista que é insuficiente se pensar somente em defender
direitos e promover deveres de uma classe profissional, tendo em vista que o mundo social encontra-
se em constantes transformações, tais atitudes terão sempre que sofrer novas interpretações,
implicando assim pelo surgimento de novos valores promulgados pela sociedade, tendo que basear
fundamentos em três princípios: racional, objetivo e universal.

Palavras-Chave : Ética. Dilemas Profissionais. Profissional.

1 INTRODUÇÃO

A moral social tem grande importância porque é ela quem define um bom
comportamento dentro de uma sociedade, como por exemplo, a ética profissional na

1
Professor Mestre Diogo Corrêa. Graduado em Licenciatura Plena (Filosofia-UFMA).
2
Graduandos do Curso Superior em Educação Física – Licenciatura
2

educação física escolar que tem sua origem na conduta do professor. A mesma tem
como referência a moral social e pensamentos de alguns filósofos como Sócrates,
Aristóteles, Kant, dentre outros que contribuíram na elaboração de princípios ou
fundamentos éticos.

Ela é demonstrada com características cotidianas básicas através do


cumprimento das atividades propostas pelo ambiente de trabalho, comportamento
moral e socioeducativo. Assim um professor, que tem em seu poder o conhecimento
especifico, deve repassá-lo aos seus alunos de forma digna. Do contrário, quando ele
se omite, deixa de ter responsabilidades e se transforma em mau exemplo,
desvalorizando a si e a sua categoria profissional, incentivando o caos no ambiente
escolar. Segundo Beresford (2002), moral é “tudo aquilo que uma determinada
sociedade admite como sendo certo ou justo, em determinado tempo ou espaço, para
regular a conduta e o comportamento social, sob o ponto de vista moral, de um
indivíduo ou de um grupo de indivíduos a ela pertencentes”. Sendo a moral social todo
um comportamento que um indivíduo ou grupo de indivíduos deve apresentar em uma
sociedade, ela serve como uma forma para avaliar esse segundo momento.

Filósofos como Sócrates, que procuravam de alguma forma indagar os


cidadãos atenienses a respeito das virtudes, sua essência, valores, obrigações. Como
saber se uma conduta é boa ou não, virtuosa ou reprovável? Por que o bem é uma
virtude e o mal um erro? É preferível ser justo ou injusto? Com estes questionamentos
Sócrates forçava os indivíduos a refletirem sobre si mesmo e suas próprias ações.
Além disso, a indagação ética socrática dirige-se não só ao indivíduo, mas também à
sociedade. As questões socráticas podem ser consideradas como fundamento da
ética ou filosofia moral porque procuram definir o campo no qual os valores morais
podem ser estabelecidos além de tentar encontrar seu ponto de partida que, para
Sócrates, é a própria consciência do agente moral. Assim o sujeito é aquele que sabe
o que faz, conhece as causas e os fins de sua ação, a essência dos valores morais,
diria Sócrates.

Já Aristóteles desenvolveu uma reflexão ética perguntando-se sobre o fim


último do ser humano. Para que tendemos? E respondeu: para a felicidade. Aristóteles
entende por felicidade uma atividade conforme a razão. A felicidade está ligada a
atitude humana, sendo um tipo de atividade em conformidade com a “reta razão” e
com a virtude. Isso quer dizer que a vida virtuosa é racional. A felicidade implica a
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educação da vontade em conformidade com os princípios racionais da moderação e,


finalmente, está fundamentalmente ligada à política, uma vez que o homem é definido
como animal político e sua conduta ética tem expressão na polis e a partir dela é
julgada. É na sociedade que os homens podem alcançar o bem supremo: a felicidade,
daí porque, em Aristóteles, ética e política são inseparáveis.

Para Kant é a consciência a fonte dos valores, mas não se trata de uma
consciência instintiva e sentimental; a consciência moral para Kant é a própria razão.
Assim a moral de Kant é a uma moral racional: a regra da moralidade é estabelecida
pela razão, o princípio do dever é a pura razão. A regra da ação não é uma lei exterior
a que o homem se submete, mas é uma lei que a razão, atividade legisladora, impõe
à sensibilidade. Nestas condições, o homem no ato moral é ao mesmo tempo
legislador e súdito.

Sendo assim, os princípios morais junto aos fundamentos que os norteiam,


explícitos pelos filósofos citados, garantem um bom convívio social, servindo assim,
como parâmetro de condutas e comportamentos para avaliar, cientificamente e de
forma consensual problemas ou dilemas; porém, necessita-se buscar outras
referências tangentes ao pensamento ético, com intuito de acrescentar às já
existentes, tendo em vista as diferenças que o mundo contemporâneo apresenta e
suas transformações sociais. Sendo assim, Hürgen Habermas e seu pensamento
acerca da consciência moral ou do agir comunicativo, poderá se constituir em uma
efetiva ponte de natureza teórica, com base racional, universal e objetiva.

2 HABERMAS: O agir comunicativo na avaliação de dilemas profissionais.

Podemos nos valer de dois conceitos que merecem uma explanação mais
significativa. O primeiro conceito tange ao termo Ética, vindo do grego ethos, que quer
dizer conduta ou comportamento no português. No momento que ethos foi descrita
para o latim, resultou na palavra more, que diz respeito em português à Moral, que
significa igualmente conduta e comportamento. Desse modo parte uma busca para se
obter uma relevante diferença entre ética e moral.

Na visão de Beresford (2002), “a ética é uma reflexão teórica sobre a moral, é


a ciência da moral”. Nesta fala ele passa a ideia de que a partir de um princípio ético
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podemos então julgar se certa ação comportamental ou de conduta de certo indivíduo


ou de um grupo de indivíduos é moral, imoral ou more, compreendendo o termo more
como usos e costumes. A partir do pressuposto de ética como uma ciência da moral,
entramos na ideia de Habermas, que vê a ética do discurso como a abordagem mais
promissora da realidade atual.

Habermas em uma menção ao discurso teórico (onde o falante tem que fazer
uso de argumentos para justificar que suas asserções são verdadeiras), fala de uma
ponte que serve para interligar as observações singulares ás hipóteses universais, e
que para o discurso prático (transmitir que uma determinada ação ou norma de ação
seja correta), este sim compreendido como ética, também há necessidade da mesma
forma de uma ponte, denominada de princípio-ponte.

O princípio-ponte que Habermas fala, estabelece um parâmetro para que assim


por meio de tal se possa analisar uma determinada conduta, comportamento social
de um viés ético, como moral, imoral ou more, consequentemente, como Beresford
propõe, essa análise será de cunho científico. Na concepção de Habermas com
relação ao discurso teórico, imprescindível também para o discurso prático, o
princípio-ponte é aquele que possibilita determinado acontecimento de âmbito singular
no que tange conduta e comportamento social, ser relacionado ou não à esfera
universal.

Para um determinado acontecimento singular ser remetido à instância


universal, é indispensável uma avaliação por critérios que sejam também universais,
pois, seria irracional ou incoerente, sob o ponto de vista moral, alcançar o campo
universal sem esse tipo de avaliação que disponha da validade universal.

O texto fala sobre a importância de se saber as três palavras fundadoras do


princípio-ponte, que são: universal, vontade e consenso, explicando e organizando
a ideia que elas querem passar para assim saber a respeito do sentido do termo
Universal.

A primeira palavra, universal, segundo Ferreira (2001, p.696) quer dizer


especificamente: “relativo ao universo; comum a todos os homens; a quem se
atribuíram totalmente direitos e deveres”.
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Já Cunha (1986, p.818), diz que pode-se separar a palavra universal em: uni +
versal, ou melhor, uni + verso, que quer dizer: uni do latim unus, que significa “um,
único”; e verso derivado do latim versus, que significa “cada uma das linhas
constitutivas de um poema”.

A palavra universal possui numerosas interpretações surgidas desde a


antiguidade, Aristóteles e Kant falaram a respeito, mas na verdade é o sentido
atribuído por Kant que Habermas utiliza, ou seja, como “juízos universais e
necessários”.

Podemos entender mais adequadamente através do sentido utilizado por


Habermas, como aquilo que é designado por um juízo comum a todos os homens.
Então um juízo comum a todos os homens, tem a base em um juízo proferido pela
razão, e o que torna um juízo comum a todos os homens é o seu caráter racional.

A palavra vontade, segundo Cunha (1986, p.828) possui o sentido: “capacidade


de escolha, de decisão, anseio, desejo”. No campo da vontade Habermas utiliza um
pouco do conhecimento de Ferrater-Mora, este diz que seu aspecto ético é como uma
faculdade que representa uma atitude motivada pela razão.

A terceira palavra que devemos absorver é de essencial importância no


pensamento de Habermas. O consenso, segundo Ferreira (2001, p.177), refere-se a
uma “concordância de ideias, de opiniões”.

Neste sentido, veremos o que absorver das palavras de Habermas, quando se


refere ao princípio-ponte como possibilitador do consenso que assegura a validez de
normas que exprimam uma vontade universal.

A aplicação da ação comunicativa de Habermas, juntamente com a facilitação


do diálogo, buscando promover um acordo de entendimento entre pessoas em
conflito, contribui para a formação de uma satisfação mútua entre os conflitantes. O
processo de mediação é a ponte para essa satisfação, pois permite que os sujeitos
passem de um estado de conflito para o estado de cooperação, fazendo cair por terra
o paradigma do Ganhar versus Perder, contribuindo para o surgimento de uma
consciência moral espelhada em princípios, orientando o agir dos indivíduos
singulares pela ideia de entendimento.
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A ética do discurso de Hürgen Habermas vem sendo uma das teorias mais
estudadas e apresentadas como método, ou ainda, como solução para a análise de
problemas éticos e morais nas sociedades atuais. A fundamentação da teoria
habermasiana na discursividade dos indivíduos faz com que sua abrangência penetre
nos mais diversos e assimétricos ambientes e mundos, possuindo assim, a
possibilidade de fazer interagir a classe política com os mais diversos membros da
sociedade. O Orçamento Participativo, através de suas reuniões e discussões entre o
poder público e a comunidade, vem gerando consensos acerca das necessidades
mais urgentes dentro das comunidades. É nesse espaço de interação social entre
políticos e sociedade que a ética do discurso pode ser colocada em prática de forma
a tornar os debates o mais ético possível e, tornando assim a sociedade mais justa e
igualitária.

Hürgen Habermas traz em suas bases uma teoria moral que procura fornecer
um princípio que oriente nossas ações em contextos e interações sociais. Como
afirma Macedo (1993, p. 38): “A teoria da ação comunicativa tem sua expressão na
linguagem e sua base na ética”. Tal como na Teoria do Agir Comunicativo, a Ética do
Discurso parte do pressuposto de que a linguagem é o meio de interação entre as
pessoas e de acordo com este referencial, quando duas ou mais pessoas se
comunicam pode haver concordância e aceitação de um fato ou não. A questão central
aqui não é tanto a aceitação de uma ideia, mas o direito que cada falante tem de expor
seus argumentos de forma não coercitiva, e o respeito à opinião de todos os agentes
envolvidos em um debate de ideias. Quando alguém rompe com as pretensões de
validade de uma proposição, surge um impasse. E embora a teoria do agir
comunicativo vise o consenso, a superação do impasse pode não ser um momento
isento de “conflito”, como em uma “guerra”, só que neste caso uma disputa
inteiramente ideológica, no sentido mais amplo do termo.

A vontade universal proferida por Habermas refere-se a uma vontade, que


tenha força de lei, advinda da razão. Mas, somente advir da razão não é suficiente no
caso da ética do discurso, essa mesma vontade universal só possui validade quando
é, também, estabelecida por intermédio de uma argumentação que visa atingir uma
concordância intersubjetiva, ou seja, o que Habermas chama de agir comunicativo,
onde somente a partir de proposições oriundas da razão comunicativa, exprimidas
pela linguagem submetidas ao consenso de um determinado grupo, é que se poderá
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chegar a validade de uma norma, pois “ de acordo com a ética do discurso, uma só
deve pretender validez quando todos o que passam ser concernidos por elas cheguem
ou( possam chegar ), enquanto participantes de um discurso prático, a um acordo
quanto a validez dessa normas”.

Pelo exposto, segundo o pensamento de Habermas, será através de um senso


estabelecido por participantes de uma categoria ou grupo de pessoas que se poderá
validar uma determinada norma e, por assim dizer, da mesma maneira avaliar,
científica e consensualmente, a partir dos direitos e deveres estabelecidos, a conduta
e o comportamento social, sob um ponto de vista moral, oriundos de dilemas relativos
a esses mesmos direitos e deveres estabelecidos. Entretanto, esse consenso advém
de uma prática argumentativa, por isso o agir comunicativo, que seja veiculada pela
razão e que, por meio do processo intersubjetivo se chegue ao consenso. Mas como
isso seria possível para o sistema CONFEF CREF’s.

A partir do código de ética profissional e, por assim dizer, daquilo que


estabelece como direitos e deveres para o exercício da referida profissão, encontra-
se aplicado deontologicamente, dilemas oriundos, entre o que se refere o ponto de
vista jurídico e o que se refere o ponto de vista moral, ou seja, dilemas entre o que
estabelece a lei e o que é exprimido pelo comportamento social dos referidos
profissionais.

Dessa forma, verifiquemos como exemplo, como seria a aplicação prática dos
postulados da Ética do discurso de Habermas, numa situação na qual um determinado
profissional seja refém do não cumprimento da lei substantiva do referido código por
parte de outro profissional, no que se refere, por exemplo, ao caso de agressão verbal,
constrangimento etc.

Como exemplo, na esfera da lei adjetiva do Código de Ética Profissional de


Educação Física, encontra-se como procedimento do Tribunal de Ética do referido
Conselho, através do que se entende pela conduta de proferir inicialmente uma
audiência de conciliação entre os profissionais envolvidos, uma semelhança relativa
ao procedimento que se refere a Ética do discurso de Habermas, ou seja, através do
agir comunicativo se profere alternadamente a cada um dos profissionais envolvidos
a oportunidade de relatar verbalmente o acontecido, o qual fará obviamente a sua
exposição de maneira racional e objetiva, visando proclamar a defesa de seu
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comportamento junto a esfera universal, destinando-se comprovar um comportamento


moral ou não, sabendo-se que o desenrolar desse acontecimento será intercedido
pelo distinto Tribunal. De tal maneira, da mesma forma se manifesta a avaliação do
mesmo caso por todos os envolvidos, através do agir comunicativo, respeitando-se e
utilizando-se simultaneamente os princípios de cunho racional, objetivo e universal,
que visa chegar a avaliação consensual da provável imoralidade proferida pelo
profissional agressor e,n assim sendo, determinado por resolver o dilema de maneira
democrática e justa.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Inicia-se com um questionamento sobre o seguinte problema: até que ponto é


possível se ampliar a base de fundamentação moral do atual código de Ética
Profissional da Educação Física, a partir de princípios de cunho racional, objetivo e
universal, que contribuam para avaliar, cientificamente e de forma consensual,
problemas ou dilemas pertinentes ao comportamento social, sob o ponto de vista
moral, dos profissionais vinculados aos sistemas CONFEF/CREF’s?

Para colaborar com a solução do questionamento realizado, estabeleceu-se o


objetivo de ampliar a base de fundamentação moral do atual código de Ética
Profissional da Educação Física, a partir de princípios com cunho racional, objetivo e
universal, no propósito de avaliar, científica e consensualmente, problemas ou dilemas
pertinentes ao comportamento social, sob o ponto de vista moral, dos profissionais
vinculados ao sistema CONFEF/CREF’s.

O objetivo citado foi alcançado através do pensamento de Hürgen Habermas


acerca da consciência moral ou do agir comunicativo, o qual pode ser considerado
uma efetiva ponte de natureza teórica que apresenta uma base racional, universal e
objetiva que possibilita o estabelecimento de critérios para avaliar científica e
consensualmente problemas e dilemas relativos ao comportamento social, sob o
ponto de vista moral, de profissionais vinculados ao sistema CONFEF/CREF’s.

Para entender o pensamento de Habermas, se faz necessário conhecer o


significado de 3 aspectos importantes citados pelo mesmo: universal, racional e
objetivo.
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Para Habermas, universal é aquilo que é designado por um juízo comum a


todos os homens, e tal juízo deve obrigatoriamente ser proferido pela razão, caso tal
juízo não seja revestido totalmente de razão, este não poderá ser considerado como
comum a todos os homens.

Racional é tudo aquilo que advém da razão. Tal razão não pode ser dissociada
da realidade.

Objetivo é aquilo encontrado no âmbito da experiência sensível, sendo


separado do pensamento particular (individual) que, por sua vez, pode ser percebido
por todos os observadores.

A compreensão de tais aspectos possibilita a melhor compreensão do conceito


da citada ponte de natureza teórica citada por Habermas acerca da consciência moral
ou do agir comunicativo.

4 REFERÊNCIAS

BORJA, Alexandre; BERESFORD, Heron. Ética profissional na educação física. Rio


de Janeiro: Shade, 2004.

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