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Editorial
A República
Nós,doRN...
Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte Ano I - Nº 12- Novembro de 2005
O APÓSTOLO E O MECENAS
2 nós, do RN Suplemento Natal - Novembro de 2005
Apresentação
Um breve histórico
ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
Rubens Lemos Filho ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
WILMA MARIA DE FARIA
M
al dá para acreditar que a iniciativa de lançar norte-riograndense ao vigor da política cultural desenhada GOVERNADORA DO ESTADO:
o suplemento cultural do Diário Oficial "nós, pela Excelentíssima Senhora Governadora Wilma Maria CARLOS ALBERTO DE FARIA
do RN", ficou um ano para trás. O espraiar de Faria, deliberadamente voltada para prestigiar a terra e GABINETE CIVIL DO GOVERNO DO ESTADO
da vida e as circunstâncias do trabalho profissional o povo. RUBENS MANOEL LEMOS FILHO
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
fazem o tempo passar em câmera lenta e, quando nos Advém também deste projeto abrangente a
damos conta, acordamos para a realidade. E o caráter calorosa resposta obtida pelo exemplar que reportou
desta realidade é a conquista de um objetivo, no nosso a intelectualidade do País de Mossoró, na edição
caso, a distribuição da cultura norte-riograndense lançada especialmente na I Feira de Livros da capital
encartada no Diário Oficial do Estado. do Oeste. D.E. I.
De forma translúcida e variada, este trabalho do Neste número, emolduramos os traços humanos RUBENS MANOEL LEMOS FILHO
Departamento Estadual de Imprensa - DEI e da de dois heróis, Alberto Maranhão e Padre João DIRETOR GERAL EM EXERCÍCIO
Assessoria de Comunicação Social, leva às escolas e Maria. Um, político, o pioneiro multifacetado das HENRIQUE MIRANDA SÁ NETO
bibliotecas do Rio Grande do Norte uma epítome das artes e da ciência; e o outro, sacerdote católico, san- COORDENADOR DE ADMINISTRAÇÃO
manifestações culturais, o perfil de personalidades tificado pela observância dos princípios humanistas E EDITORAÇÃO
históricas e o nosso rico folclore. e cristãos. Ambos, dignificantes exemplos de JURACIR BATISTA DE OLIVEIRA
É por aí que se revela o reconhecimento da sociedade unidade espiritual, coerência e dignidade. SUBCOORDENADOR DE FINANÇAS
EDUARDO DE SOUZA PINTO FREIRE
Editorial SUBCOORDENADOR DE INFORMÁTICA
nós, do RN
Soprando a velinha do bolo editor-geral
MIRANDA SÁ
Miranda Sá chefe de redação
C
MOURA NETO
ompletando um ano de da Imprensa Oficial, "nós, do popular, documentando a pre-
existência, o suplemento RN" leva aos quatro cantos do ciosa vida do sacerdote avançado equipe redacional
cultural do Diário Oficial, Brasil a capacidade criadora e para a sua época, como jornalista PAULO DUMARESQ - REPORTAGEM
"nós, do RN", já ocupa um lugar o desempenho produtivo da combativo e agitador social. ANCHIETA FERNANDES - PESQUISA
de honra nos meios intelectuais nossa gente nos diversos estágios JOÃO MARIA ALVES - FOTOGRAFIA
Espelhamos, também, a projeção
do Rio Grande do Norte, divul- espaciais e temporais, registrando- do humanista despido de diagramação e arte final
gando com originalidade os va- os, sem a pretensão de ser um vaidades, do amor pelo próximo e EDENILDO SIMÕES
lores espirituais da Nação produto final da História. da solidariedade presente na mis- ALEXANDRO TAVARES DE MELO
Potiguar. Estamos comemorando o
são sacerdotal. Programação Visual
Em nossa avaliação, a saga primeiro aniversário deste suple-
Realçando e aprofundando EMANOEL AMARAL
percorrida por este encarte espe- mento participando das comemo-
cial do D.O., manteve o charme rações do Centenário da Morte do a pesquisa histórica, este tra- ALEXANDRO TAVARES DE MELO
inicial do suplemento e o entusi- Padre João Maria, promovidas pelo balho tentará elucidar os
motivos transcendentais do Capa
asmo dos jornalistas e gráficos Centro de Documentação EMANOEL AMARAL
seus responsáveis, tornando-se Cultural Eloy de Souza, da Fundação padre João Maria ser eleito
motivo de orgulho dos dirigentes José Augusto. santo pelo povo norte- Colaboradores
e servidores do Departamento Esta edição pretende fazer a riograndense, antes mesmo de CARLOS MORAIS
Estadual de Imprensa - DEI. simbiose das artes gráficas, da concluído o processo canôni- CARLA XAVIER
Como produto qualificado imagem e do texto com a crença co de sua beatificação. EDSON BENIGNO
CARLOS DE SOUZA
Correspondências JOÃO RICARDO CORREIA
Coordenação Gráfica
Senhor Editor-Geral povo mossoroense na resistência e na a Carla Xavier; enfim, felicitar a todos WILLAMS LAURENTINO
É impressionante a vitalidade cul- imposição de derrota a Lampião. os que fizeram uma edição que deve VALMIR ARAÚJO
tural de Mossoró, de fundas raízes Quero felicitá-lo pelo seu emo- encher de orgulho Mossoró e sua
históricas, como revelado na excelente cionado perfil póstumo do jornalista e gente. Parabéns!
edição de número 11/outubro de escritor Dorian Jorge Freire, assim Com as expressões do meu justi-
2005 de “nós do RN”, que mostra como Anchieta Fernandes pela ficado apreço, firmo-me
também a precedência da cidade em reportagem sobre e com Vingt-un Cordialmente
aspectos do campo político, como seu Rosado, a Tácito Costa pela reportagem DEPARTAMENTO ESTADUAL DE IMPRENSA
Maurício Azêdo
pionerismo no exercício do direito de sobre Raibrito, a Carlos de Souza, a AV. CÂMARA CASCUDO, 355 - RIBEIRA - NATAL/RN
Presidente da ABI CEP.: 59025-280 - TEL.: (084) 3232-6793
voto pelas mulheres, e o destemor do Paulo Jorge Dumaresq, a Carlos Morais,
SITE: www.dei.rn.gov.br - e-mail: dei@rn.gov.br
Natal - Novembro de 2005 Suplemento nós, do RN 3
Padre João Maria: o anjo caridoso com os pobres, atendendo a todos s e m d i s t i n ç ã o A l b e r t o M a r a n h ã o : d u a s vezes g o v e r n a d o r
U
m tinha a aparência de sertanejo. fraque. "Possuía, dentro de si, o encanto campo de atuação. Cem anos depois da Alberto Maranhão para o Rio Grande
Pele morena, sempre queimada lírico de uma poesia que sempre se fir- morte de um e sessenta e um da do do Norte, no mês passado, ensejou a
do sol pelas caminhadas que mou como característica do seu caráter outro, eles continuam em evidência realização de uma cerimônia que mobili-
empreendia em nome de qualquer pes- privilegiado", afirmou Paulo Viveiro, entre seus conterrâneos norte-rio- zou não apenas os principais expoentes
soa que precisasse de sua ajuda - um autor de "Um governo, um homem". grandenses.
da administração pública, mas também
infeliz, um doente, um moribundo. Concluiu o curso de Direito no Recife e Padre João Maria, cujo centenário de
Andava de batina preta, tinha olhos já no ano de sua formatura assumia um morte ora é comemorado, não foi ape- os baluartes da cultura local. O cortejo
vivos e penetrantes, segundo registraram cargo importante no governo de seu nas o anjo caridoso com os pobres. Foi que desaguou no velho teatro da Ribeira,
os cronistas de sua época, testemunhas irmão. Foi secretário de Estado, o fundador da imprensa católica, onde agora jaz seu construtor, fez lem-
também de sua inestimável obra de cari- Procurador Geral do Estado e diretor do trincheira na qual defendeu também os brar a todos que ali estava sendo home-
dade em favor dos aflitos. Sorria pouco, jornal "A República" antes de ser eleito, ideais abolicionistas. A ele foi consagra- nageado alguém cujo sobrenome
mas tinha bom humor. Gostava de fazer ele mesmo, governador do Estado para da a cadeira de patrono nº 11 da imprimiu sua marca na história da
trocadilhos com as palavras. De família dois mandatos. Academia Norte-Rio-Grandense de sociedade nordestina e, particularmente,
humilde, era extremamente simples e Quando o primeiro faleceu, em 1905, Letras. Seu irmão caçula, Amaro
do Rio Grande do Norte, desde o início
afetuoso. o segundo ocupava uma cadeira de de- Cavalcanti, jurista, ministro do Supremo
O outro pertencia a uma das oligar- putado federal, tendo já exercido o Tribunal Federal e político, também tem da colonização portuguesa.
quias mais poderosas do Rio Grande do primeiro mandato de governador. uma cadeira no mesmo colegiado, a de Eles fizeram e ficaram na História do
Norte. Alto, forte, másculo, de bonita Ambos foram populares no seu tempo, nº 12. Rio Grande do Norte. Cada um a seu
cabeleira, trajava costumeiramente um arregimentando seguidores no seu O traslado dos restos mortais de modo, cada qual do seu jeito.
4 nós, do RN Suplemento Natal - Novembro de 2005
A Devoto da pobreza
vida do Padre João Maria (1848-1905) sempre
se caracterizou pelo enfrentamento de
desafios. Na condição de homem da imprensa
e da imprensa
católica não foi diferente. Seguindo orientação do
Papa Leão XIII, que em 1891 divulgou a Encíclica
Rerum Novarum, chamando a atenção da Igreja e do
mundo para a situação de penúria que vivia o lumpem-
proletariado e recomendando aos católicos a prática da Reprodução
No
Jardim do
padre, as ruínas
da casa onde
nasceu Os tijolos da casa onde João Maria nasceu no município de Jardim de Piranhas
Cedida
N
ossa missão era rastrear a presença do padre
João Maria em sua terra natal. Intuíamos que
possivelmente existiam ainda restos das pare-
des da casa onde o santo sacerdote nasceu, porque um
funcionário do DEI, que também nos acompanhou a
Jardim de Piranhas, Arnaldo Andrade de Carvalho,
soubera da existência delas, tempos atrás, quando
atuou como árbitro de futebol em partidas naquela
cidade.
Chegamos a Jardim de Piranhas e procuramos uma
funcionária da Prefeitura Municipal (em cuja área de
entrada existe um busto do irmão jurista do padre,
Amaro Cavalcante - já que ele é o patrono do prédio
da prefeitura -, e que foi inaugurado naquela área a 23
de dezembro de 1998, por ocasião do cinqüentenário
do município), Suely, que imediatamente convocou o
sacristão da paróquia (a padroeira de Jardim de
Piranhas é Nossa Senhora dos Aflitos) a comparecer à Fachada da casa onde o Padre João Maria morou em Jardim de Piranhas: lembrança que o povo perp e t u a
prefeitura.
Conhecido pela alcunha de Neto Sacristão, cujo na fazenda Três Riachos, nome que substituiu o antigo tivemos o privilégio de tocar em tijolos da moradia que
nome verdadeiro é Manoel Germano de Araújo, é um Logradouro, fazenda então pertencente ao município abrigou o corpo recém-nascido do futuro vigário da
patrimônio da paróquia. Há 27 anos que exerce o seu de Vila Nova do Príncipe (nome depois mudado para paróquia de Nossa Senhora da Apresentação, de Natal.
ofício junto aos vários párocos, atendendo os fiéis com Caicó), já que Jardim de Piranhas, na data do nasci- Além das ruínas, conhecemos outros lugares mar-
uma simpatia a toda prova - como soubemos e com- mento do padre João Maria (1848), pertencia à referida cantes da história do padre João Maria em Jardim de
provamos. Nunca o afastaram do cargo, porque tem Vila Nova do Príncipe. Piranhas. O seu busto, inaugurado na Praça Padre João
uma receita de vida dividida em quatro itens: 1) Deus Para se chegar às ruínas, tivemos que deixar o carro Maria, em 1955, por ocasião do cinqüentenário do seu
no coração; 2) fé; 3) paciência; e 4) amor pelo trabalho. na sombra da casa da fazenda Três Riachos, e fazer falecimento. A casa em que ele morou na cidade, quan-
Neto Sacristão realmente nos levou às ruínas da uma boa caminhada ao sol, entre a galharia e a terra do criança. A rua Padre João Maria. O Centro Social e
casa do padre, que ainda permanecem junto ao açude seca do sertão. Mas ficamos recompensados, porque Pastoral Padre João Maria.
Revista & notícia do padre João Maria, na praça com o ciado bacharel em História e licencia- Sugerimos que ali seja construída uma
seu nome em Jardim do Piranhas, do em Matemática pela UFRN. "Casa do Padre João Maria", onde o
Conhecemos a "Revista Jardim em ocorrida no dia 16 de outubro, com Gutenberg também acrescenta que a povo católico jardinense pudesse culti-
Festa" (que tem website na Internet: missa celebrada pelo padre Francisco casa que padre João Maria morou, var sua fé no santo filho da cidade.
www.jardimemfesta.com), órgão ofi- de Assis Dantas de Lucena, admi- quando criança, foi a primeira escola de Uma espécie de pequeno museu, onde
cial da festa da padroeira de Jardim do nistrador paroquial, além de uma con- Jardim de Piranhas, e teve seu pai, o turista encontrasse material (docu-
Piranhas, lançada em setembro, tão ferência biográfica pronunciada por Amaro Soares de Brito, como o mentos, fotos) sobre a memória do
bonita graficamente quanto informati- Ubiratan Queiroz, da qual nos foi gen- primeiro professor a lecionar na cidade. padre. Ter-se-ia ali, num município que
va graças à competência de um editor, tilmente cedida uma cópia pelo profes- O local onde estão hoje as ruínas já é Jardim, um jardinzinho onde o
Geovane Pereira de Araújo. E capta- sor Gutenberg Dantas de Queiroz - da casa onde nasceu o padre João povo sentisse a aura de santidade deste
mos a repercussão da homenagem que Gute (do Centro de Educação Maria poderia ser aproveitado para um nome: Padre João Maria Cavalcante de
relembrou os cem anos de falecimento Professora Maria Norma Alves), licen- investimento cultural e religioso. Brito.
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Seminário realizado pela Fundação José Augusto reuniu os maiores estudiosos da figura do santo sacerdote potiguar
parte da manhã foi dedicada aos estudos acadêmicos sobre Tarcísio Gurgel destaca o gosto da época pelos Segundo Tarcísio Gurgel tais versos têm "a marca incon-
o padre e se revezaram na mesa, os professores Irene de lugares-comuns, como "empíreo augusto" ou "fatal tris- fundível da ironia jorgeana, apelando ao bom senso do
Araújo van dem Berg, da UFRN; Rodson Ricardo do teza", recursos que empobrecem a linguagem poética. santo a quem definitivamente se opõe a insanidade terrena".
Nascimento, da UERN; o pesquisador Cláudio Galvão; o Mas se regozija com o poema À Memória de um Justo, Em seguida à leitura do texto de Tarcísio Gurgel, o coorde-
poeta Paulo de Tarsso Correia de Melo, da ANL e Indira de Gotardo Neto, que "busca descrever com isenção e nador da mesa, jornalista Vicente Serejo chamou o poeta
Rosado, que fez uma comunicação. justeza a figura samaritana de João Maria". Para ele, "todo Diógenes da Cunha Lima para falar de episódios marcantes
A parte da tarde foi reservada para a poesia, literatura e o poema prima pelo equilíbrio - em alguns momentos até na vida do padre João Maria, que costumava doar sua roupa
história potiguar na vida do padre João Maria. O escritor insinuando um certo distanciamento - como se, buscan- ou a alimentação pessoal para os mais necessitados. Um tipo
Tarcísio Gurgel, que não pôde participar do encontro, do racionalizar o seu sentimento, o eu-lírico descrevesse de homem santo que não temia tratar de doentes infectados
enviou representantes para falar do padre João Maria na o ocorrido, preocupando-se em conter a tristeza, admi- pela varíola e se expôs tantos, passou tantas privações que
poesia de Segundo Wanderley, Ivo Filho, Francisco ração e a emoção causadas pelo desenlace". acabou pagando com a própria saúde.
Palma, Gotardo Neto, Carolina Wanderley, Damasceno Quanto aos poemas de Carolina Wanderley e Logo após a palestra do presidente da Academia
Bezerra, Jorge Fernandes, Palmira Wanderleye. Damasceno Bezerra, receberam análise idêntica aos poe- Norte-riograndense de Letras, foi chamado o folclorista
Segundo Tarcísio Gurgel, esta "é uma produção que se mas de Ivo Filho e Francisco Palma. A influência do par- Gutemberg Costa que fez um relato minucioso da pre-
me permitem a redundância, tipicamente secundina, a nasiano Segundo Wanderley na vida literária de Natal era sença do padre João Maria na cultura popular. Além dos
começar da grave invocação às musas para que seja tão forte que "certos procedimentos de composição que muitos ex-votos que as pessoas costumavam apor nas
feito o elogio fúnebre". viriam a se tornar irritantemente obrigatórios, entre os proximidades do busto do santo potiguar, Gutemberg
parnasianos, impunham fatalmente coincidências". Costa também apresentou provas da existência de vários
Musa do luto, musa da tristeza, Antes de comentar o penúltimo poema de autoria folhetos de cordel em homenagem ao padre João Maria.
Toma o saltério roxo da saudade, do nosso maior poeta modernista, Tarcísio Gurgel Logo após esta fala, o professor Coquinho situou a figura
Vamos cantar o Sol da caridade. preferiu antecipar a análise do poema de Palmira do padre João Maria em um contexto histórico em que se
Vamos carpir o Anjo da pobreza. Wanderley. "Numa recolha como essas, não poderia destacaram o padre Ibiapina, padre Cícero e Antonio
faltar a comovente simplicidade do lirismo de Palmira Conselheiro.
Em seguida, Tarcísio Gurgel comenta os poemas Wanderley e ela ressalta no poema Oferendas de A palestra de Vicente Serejo foi concisa, mas de muita
Uma Lágrima e Sublime Ocaso, da autoria dos poetas Ivo Aniversário que é certamente um dos melhores escritos informação sobre três textos fundamentais da literatura
Filho e Francisco Palma, que lamentam o falecimento do sobre o padre João Maria". potiguar sobre o padre João Maria: Henrique Castriciano,
padre João Maria. Segundo ele, o primeiro e o segundo Para o poema de Jorge Fernandes dedicado ao padre Eloy de Sousa e Câmara Cascudo. Para encerrar, o bió-
poema "são bem aparentados na proposta lírica: os dois João Maria, o comentarista reservou palavras de grande grafo de padre João Maria, Manoel do Rego apresentou
quartetos de cada um enfocam diretamente, e em tom de sensibilidade. Encontramos aqui um "Jorge Fernandes resultados de sua pesquisa. No final da tarde, o jornalista
forte dramaticidade, o ocorrido. Não se invoca a musa. envelhecido e amargurado, porém capaz de imagens de Miranda Sá falou sobre o padre João Maria e sua militân-
Deplora-se diretamente o triste ocorrido. Porém, detalhe no grande beleza em sua coloquial ironia modernista". cia histórica na imprensa potiguar.
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A praça
do santo:
velas e promessas
Além de fitas coloridas, palmas bentas e local onde atualmente é o Banco do
retratos de pessoas beneficiadas com os Nordeste. O prédio da Loja Maçônica
milagres conseguidos por intercessão do 21 de Março, que é atualmente o
padre. Edifício 21 de Março, que, segundo a já
Alguns prédios importantes, seja pela mencionada escritora Jeanne Fonseca
sua arquitetura, seja pela marcação Leite Nesi, "era um prédio de relevante
histórica, situaram-se na Praça Padre valor arquitetônico, ostentando traços e
João Maria. Residências, como o sobra- características neoclássicas". O prédio
do de Aureliano Medeiros, ainda hoje de da Irmandade do Senhor Bom Jesus dos
pé. O prédio do Instituto de Música, no Passos.
O
nome da praça, hoje, repre- cantos de pássaros. lar, ou em livros e pela imprensa escrita. Dentre trajados com suas opas roxas, desfilando para
senta uma homenagem a ele, Pela Resolução municipal no 105, muitos outros, mencionam aqui os seguintes. comparecerem à "Procissão do Encontro",
Quando a praça era totalmente arboriza- num clima de unção religiosa. Mas a noite na
o santo ainda não canoniza- de 11 de Julho de 1906, a praça pas- praça trazia para ali personagens irreverentes. A
da com "fícus-benjamins" (teve uma adminis-
do oficialmente. Antes disso, porém, sou a ser chamada Praça Padre João altas horas, com o frio da madrugada, atores
tração municipal que mandou derrubar estas
lá pelo século 19, o terreno situado Maria. Pedro Soares de Araújo Filho, árvores, embora recentemente tenham sido que haviam saído de uma jornada de ensaios no
por trás da Igreja-matriz de Natal era funcionário do Tesouro do Estado, replantadas algumas, que começam a dar Teatro Alberto Maranhão, chegavam ao busto
conhecido como Praça da Matriz. Por era um devoto do padre João Maria. sombra às barracas da feira de artesanato que do padre João Maria e não resistiam: desviavam
ali, desfilavam as procissões e os Teve então a idéia de mandar constru- hoje existe na praça),o oxigênio protegia as para o próprio acervo ex-votos artísticos.
cortejos fúnebres que iam para o ir na praça um monumento home- pessoas. Então, foliões de alguns grupos car- À Praça Padre João Maria, além do
Alecrim. Mas, além destas cenas nageando o sacerdote falecido. Juntou navalescos, para dormirem um pouco após o próprio nome do santo sacerdote, estão liga-
almoço, antes de chegar à hora das batalhas dos nomes de outras figuras que tiveram algo
tristes ou de caráter religioso, a praça dinheiro e fez campanha. Vítima da a ver com sua história. Por exemplo: Joaquim
de confetes e dos desfiles, armavam redes
era também local onde artistas gripe ou influenza, faleceu a 14 de nos galhos das árvores e gozavam de uma Guilherme de Souza Caldas, que era o propri-
amadores improvisavam teatrinhos Maio de 1918. boa sesta, sem nenhuma preocupação com etário da casa onde os políticos do Cantão da
para representarem suas peças. Mas o governo do Estado e o clero roubos, ainda não existentes ali. Gameleira organizavam seu núcleo. Hostílio
Grupos de políticos e intelectuais completaram a obra: a 07 de agosto A 07 de setembro de 1908, foi inaugura- Dantas, escultor, autor do busto do Padre
também ali se reuniam, no que era de 1919, era inaugurado o busto, do o serviço de bondes (puxados a burro) em João Maria. Miguel Micussi, autor do pedestal
chamado "Cantão da Gameleira", sobre pedestal de granito, em meio à Natal. Os meninos gostavam de passear de granito (pedras vindas de Lajes) onde este
para prosearem alegremente. gameleira e os pés de "fícus-ben- neles. Não pagavam. Queriam passear. Mas busto foi colocado. Professora Joana Bessa,
logo se aborreciam. Aproximando-se o fim responsável pela confecção de um gradil de
Daí que a praça passou também a jamins" que davam grande sombra em ferro que circundava o referido busto.
da linha, que era a Praça Padre João Maria,
ser "um ponto de animação da toda a extensão da praça, atraindo desciam, dizendo: "não quero mais não..." E ainda: Joaquim Ferreira Chaves, gover-
cidade" - como informou Jeanne pessoas a se sentarem nos bancos de Mas corriam de imediato para a praça, onde nador do Rio Grande do Norte, que em 1915
Fonseca Leite Nesi em seu livro madeira que existiam. Com a presença começavam a imitar Tarzan, pulando de mandou começar os serviços de calçamento
"Caminhos de Natal" (2002) - e o seu do busto, os fiéis transformaram o galho em galho nas árvores. Os adolescentes da praça. Waldemar de Almeida, pianista e
nome mudou para Praça da Alegria. local em foco de crendice popular, estudantes "se revezavam junto ao busto do maestro, fundador do Instituto de Música do
Para o que contribuiu também a saúde acendendo velas e depositando ex- Santo Padre, desmanchando-se em promes- RN, cuja sede foi construída na praça, onde
ambiental: abundância de árvores e votos em pagamento de promessas. sas em vésperas de prova escolar", segundo hoje é o prédio do Banco do Nordeste. (AF)
Natal - Novembro de 2005 Suplemento nós, do RN 9
Os caminhos da beatificação
Monsenhor Francisco de Assis Pereira, postulador da causa do Padre João Maria, na mesa redonda coordenada por Miranda Sá
O
menino de vida simples, que enfren- A conclusão da Fase Diocesana se dá com obtido pela interseção do Padre João Maria.
tou a varíola e a seca, entregando-se a constituição, pelo arcebispo metropolitano No caso dele, há notícias de muitas graças
por inteiro à causa humanitária, Dom Matias Patrício, de um Tribunal obtidas por sua invocação. O monumento da
poder ser elevado à glória dos altares de Diocesano, com a função de ouvir as teste- praça Padre João Maria, no centro da cidade, e
Deus. O processo de beatificação do Padre munhas que deverão relatar tudo que sabem o seu mausoléu, recebem quase diariamente
João Maria, também conhecido como o sobre o candidato a beato. Como já faz 100 oferendas por curas e graças alcançadas.
"Santo de Natal", foi aberto em 2002 e, de lá anos que o padre faleceu, não existem teste- Será necessário fazer uma triagem para ver
para cá, está sendo feita uma pesquisa históri- munhas oculares - que tenham convivido com se existe um fato que possa ser considerado
ca, com recolhimento de documentos, ele - vivas e, sendo assim, serão ouvidas aque- um verdadeiro milagre. O caso será analisado
escritos e tudo que possa dar uma visão níti- las pessoas que tiveram contato com essas pelo Tribunal Diocesano, através de um
da da vida do candidato a beato. testemunhas. processo que ouvirá a pessoa miraculada, os
Antes da abertura do processo de beatifi- Então, com os dados históricos coletados e médicos, enfermeiros e outras testemunhas,
cação é necessária a escolha do postulador, que a reunião dos depoimentos, o processo será além da solicitação de diagnósticos e atestados
é uma espécie de coordenador das ações que concluído em Natal e enviado para Roma, médicos, para saber se a cura de tal pessoa não
serão realizadas. Monsenhor Francisco de Assis onde terá início a Fase Romana. Nessa fase teve explicação médica.
Pereira, postulador da causa do Padre João também há a nomeação de um postulador, que Monsenhor Assis afirma que ainda não
Maria, também conduziu a Causa dos Mártires pode ser o da primeira fase. Em Roma, as existe uma preocupação com a comprovação
Cunhaú e Uruaçu e, mais recentemente, abriu o informações passarão pelo crivo da de um milagre. "Ainda estamos na primeira
processo de beatificação do Padre Monte. Congregação da Causa dos Santos, em três fase do processo. Estamos reunindo docu-
Também é necessário enviar um pedido de níveis. Primeiro, os consultores históricos mentos e escritos. Quando concluirmos essa
autorização a Roma para iniciar o processo de analisarão se há fundamento histórico. Em fase e enviarmos o processo para Roma é
beatificação, que já foi concedida para a causa seguida, os consultores teológicos vão estudar que nos debruçaremos para examinar todas
do Padre João Maria no dia 16 de maio de 2005. as provas de santidade e, por último, com a essas comunicações de milagre", afirmou o
O processo é dividido em duas fases. A comprovação de que João Maria é realmente postulador.
primeira, intitulada Fase Diocesana, ocorre na santo, os bispos e cardeais tomam as decisões Aprovado o milagre, tudo estará pronto
cidade onde o candidato exerceu seu sacerdó- finais e, finalmente, o processo vai para a mesa para a beatificação. A solenidade de beatifi-
cio e faleceu. Nesta fase ocorre a reunião de do Papa, que dá a última palavra. cação pode ser realizada em Roma, presidida
documentos, escritos e depoimentos que con- pelo Cardeal Prefeito da Congregação da
cedam respaldo à beatificação do candidato. Milagres: a prova final Causa dos Santos, ou na Diocese onde faleceu
"Para auxiliá-lo, o postulador nomeia uma o servo de Deus - em Natal - presidida pelo
Comissão Histórica, composta por três ou Superando essas fases o processo ainda não arcebispo metropolitano. Após tudo isso, o
quatro historiadores do Rio Grande do Norte, estará concluído. A verdade histórica ficará padre receberá o título de Beato ou Bem-
que tenham conhecimento sobre o Padre João corroborada pela autoridade pontifícia, mas Aventurado e poderá receber culto público na
Maria", informou Monsenhor Assis. ainda restará a constatação de um milagre, Igreja. (C.X)
10 nós, do RN Suplemento Natal - Novembro de 2005
-V. vai ao baile de Palácio? lizadas na Capital, podemos afirmar, sem exagero, que cia cultural de Natal, em 1900, com apenas 15,37% dos
Alberto Maranhão colocou Natal no Século XX. Antes
- Ainda não tivemos convite, mas se tivermos, talvez vá. seus 13.725 habitantes em condições de ler e escrever.
de 1908, esta cidade não passava de um burgo, seme-
- Convite têm, com certeza. Eles mandam convite para todo Uma calamitosa penúria analfabética que, sem dúvida,
lhante, em quase tudo, às pequenas cidades do interior",
mundo, porque querem encher. Papai recebeu o dele sábado. contribuía para a implantação da "oligarquia mansa",
reconheceu o sociólogo Itamar de Souza, em sua avali- assim chamada pelo seu patriarca, o senador Pedro
O diálogo é do romance Gizinha, publicado pelo ação historiográfica sobre o período republicano de Velho.
governador norte-rio-grandense Antônio de Souza 1889 1930. O certo é que Alberto Maranhão promoveu um ver-
(1907-1908 e 1920-1923). Usando sua arte ficcional, o "Ele foi um estadista, um cidadão do mundo, um dadeiro banho de civilização no Estado, principalmente
romancista enfoca duas jovens da sociedade natalense, engenheiro de boas causas", vibra até hoje Enélio em Natal, com a adoção de novos costumes e novos
Adalgiza, a Gizinha, personagem-título do livro, Petrovich, presidente do Instituto Histórico e hábitos repassados aos natalenses, caso de sua meloma-
"senhora de suas ventas", e sua amiga Nair, conheci- Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN), o prin- nia - incentivando a criação de uma Escola de Música,
da por suas "mãos de fada" na arte da confecção de cipal incentivador da idéia do traslado das cinzas de funcionando no grupo escolar Augusto Severo, pautan-
bordados. Elas, jogando conversa fora e se assanhando Alberto Maranhão, morto em 1944, aos 72 anos, em do-a para a disseminação do ensino de música, estética,
nos comentários, falando sobre o mais badalado baile Parati (RJ), sendo enterrado no cemitério história, literatura musical e belas artes, responsáveis
da Natal do início do Século XX, que "ia ser um São João Batista, no Rio de Janeiro, pelo florescimento de um refinamento artístico-educa-
estouro", conforme se comentava nos cafés finalmente trazidas para Natal, a 4 cional na cidade. Foi o maior animador do desenvolvi-
paroquianos. O chamado "baile de Palácio", de outubro e 2005 e depositadas mento musical e manteve ainda uma orquestra no
envolvido num clima de belle époque, tinha no Teatro Alberto Maranhão, Teatro Carlos Gomes e um famoso quinteto de cordas
seu palco de danças no aristocrático e construído na sua primeira que, segundo Eloy de Souza, chegou a ser considerado
famoso salão róseo do Palácio Potengi, administração governamen- "o mais completo do Brasil."
uma criação do jovem governador tal. Noutro trecho de "Gizinha", uma evidência dessa
Alberto Maranhão (1900-1904 e 1908- Banho de civilização e renovação: "Na sala da orquestra, ao lado do salão prin-
1913), de apenas 26 anos de idade, progresso - O romancista- cipal, um professor afinava o piano, com uma insistên-
entontecido pelo fascínio do poder e governador, Antônio de cia de azucrinar as duas praças vizinhas e a rua da
saboreando sua lua-de-mel de mecenato Souza, dedicou dois dos Conceição... Na cabeça de carregadores, estantes da
lítero-festivo. quinze capítulos d e orquestra, caixas de violoncelos e contrabaixos..."
O até hoje mais jovem governador "Gizinha" aos bailes de Alberto Maranhão conseguiu, verdadeiramente, oxi-
do Rio Grande do Norte, do período palácio, uma inovação social- genar ainda a vida educacional do Estado, desem-
republicano, cumpriu um governo sem entretenimentista que desas- poeirando os antigos e surrados projetos na área, resta-
méritos (não construiu sequer uma escola), sossegava Natal: "No dia mar- belecendo, de início, a Diretoria Geral da Instrução,
naquele primeiro mandato, castrado pela cado para a grande festa toda a órgão responsável pela coordenação e detonamento do
Alberto Maranhão
onipresença centralizadora e mandonista de seu cidade amanheceu em alvoroço... sistema educacional em projeção. Ou seja: criar um
irmão, Pedro Velho. "Desde cedo as barbearias se enche- grupo escolar em cada sede de comarca e uma escola
Em contrapartida, recuperou-se, assombrosa- ram, mas o serviço todo estava na mão dos mista em cada um dos outros municípios estaduais,
mente, ao agigantar-se, na segunda administração - "oficiais", porque os patrões andavam pelas casas par- conforme o decreto n.º 178, de 29 de abril de 1908, logo
comandando o primeiro sextênio governamental na ticulares, aparando o cabelo das senhoras e raspando no início de sua segunda governança. Para instrumen-
República Velha. E nem mesmo a poderosa sombra do pescoço das melindrosas mais adiantadas... talizar essa dinâmica didático-funcional da instrução
irmão-gigante desaparecido, conseguiu fazer com que Os salões do palácio ornamentavam-se em profusão pública, baixou o decreto n.º 139, de 15 de dezembro de
se transformasse num fenômeno incomparável, na luxuosa, e até nas hora do expediente toda a casa estava 1910, implantando o Código de Ensino, recheado de
sua condição técnico-administrativa, empreendendo cheia do ruído alegre dos operários, comandados pelo inovações e idéias - atualizadas e contextualizadas em
uma ação governamental revolucionária. Promoveu mordomo, encerando soalhos, pregando sanefas, su- modernidade, num período ainda anêmico de realiza-
uma revolução técnico-administrativa progressista bstituindo cortinas e reposteiros, mudando móveis, ções palpáveis na área educacional. O governador
em Natal, civilizando a cidade e enquadrando-a nos instalando fios para duplicar a iluminação, já habitual- Alberto Maranhão, para interiorizar e disseminar seu
trilhos do progresso. mente deslumbrante, polindo lustrando, embelezando programa de implantação de uma rede educacional
"Foi um governador de idéias práticas e felizes", tudo - a fim de poder exprimir, ao menos aproximada- primária, pela maior parte dos 37 municípios do Rio
resumiu seu contemporâneo e amigo, o senador Eloy de mente, a alegria do coração dos promotores". Grande do Norte,construiu 23 grupos escolares, envol-
Souza, depois adversário, quando a oligarquia O governador Alberto Maranhão, por conta da cri- vendo os presidentes das Intendências Municipais. Em
Maranhão trincou e bipartiu-se - Ferreira Chaves, ação da Lei n.º 145, de 6 de agosto de 1900, autorizada 1912, 2.500 alunos estavam matriculados nestas 23
chefiando uma fatia do espólio oligárquico de Pedro pelo Congresso Legislativo e incentivada pelo poeta escolas primárias instaladas pelo interior. Em Natal,
Velho, enquanto Alberto Maranhão e Tavares de Lira, Henrique Castriciano, premiando com a publicação de fundou o Frei Miguelinho, no bairro do Alecrim, o
comandavam o outro quinhão, em oposição ao obra de ciências ou de interesse literário, produzidas segundo grupo escolar, por ordem cronológica, da ca-
primeiro rebento e agora responsável pelo desmanche pelos nossos autores ou por naturais de outros Estados, pital, além da implantação da Escola Normal, destinada
da oligarquia. aqui residentes, passou a ser chamado de "Mecenas a formar professores de ambos os sexos - para atender
"Pela quantidade e pela qualidade das obras rea- potiguar". Certamente, levando-se em conta a indigên- à demanda de docentes do sistema educacional.
Natal - Novembro de 2005 Suplemento nós, do RN 11
O
macaibense Alberto Frederico de se da tipografia do jornal "A República",
Albuquerque Maranhão, que dá de que já fora Chefe de Redação, que
nome à importante casa de teatro Alberto Maranhão começou a dar exem-
em Natal, além de também ser patrono de plo mandando publicar livros.
rua e de escolas em Natal e no interior Começou mesmo em 1900, publicando
(em Nova Cruz), foi governador do Rio o belíssimo livro de poesias de Auta de
Grande do Norte por duas vezes: de 25 Souza, "Horto", com prefácio de Olavo
de Março de 1900 a 25 de março de 1904, Bilac, e incluído na coleção Biblioteca do
e de 25 de março de 1908 a 31 de dezem- Grêmio Polimático. No mesmo ano pu-
bro de 1913. blicou em livro uma conferência pronun-
Embora alguns historiadores consi- ciada a 05 de agosto, no Palácio do
derem medíocre o seu primeiro período Governo, por Francisco de Sales Meira e
de governo (por exemplo: em seu livro Sá, sobre Augusto Teixeira de Freitas.
"A República Velha no Rio Grande do Em 1901, publicou mais um livro de
Norte - 1889-1930", Itamar de Souza poesia: "Verbenas", de Ana Lima, com
chega a dizer a respeito o seguinte: prefácio de Pedro Avelino, incluído na
"Passou quatro anos empregando pa- coleção Biblioteca do Congresso
rentes e dando festas no Palácio Literário. Em 1902, sairia um livro do
Potengi"), a verdade é que o jovem go- antecessor de Alberto Maranhão no
vernador (começou a governar com ape- segundo período de governo deste,
nas 26 anos e alguns meses de vida) Antônio de Souza. Título da obra:
deixou pelo menos duas obras marcantes "Questão de limites com o Estado do
já em sua primeira gestão: o término e a Ceará - Apontamentos e Documentos - 1ª
inauguração do teatro que hoje tem o seu Série".
nome e a sanção da primeira lei de incen- Em seu segundo período de governo,
tivo à publicação de livros no RN. também pela tipografia de "A República",
A "Lei Alberto Maranhão" é curtinha; Alberto Maranhão mandou publicar algu-
por ela se tem uma idéia da preocupação mas obras importantes. Como por exem-
do governador com a ajuda aos escritores plo, em 1909, a profética conferência de
ainda no final do século 19. Sancionada Manoel Dantas intitulada "Natal D'Aqui a
em 6 de agosto de 1900, ela autoriza o Cinqüenta Anos".
governador a premiar livros de ciência e Esta conferência-conto foi pronuncia-
literatura. Diz o seguinte o artigo único: da no salão de honra do Palácio do
"É o governador autorizado a premiar Governo, a 21 de março de 1909. Outra
livros de ciência e literatura produzidos conferência pronunciada no Palácio do
por filhos domiciliários do Rio Grande Governo e que o governador mandou
do Norte, ou naturais de outros Estados, publicar pela tipografia de "A República"
quando neste tenham fixa e definitiva a foi "O Amor", pronunciada por Honório
sua residência". Alberto M a r a n h ã o : autor da primeira lei de incentivo à cultura Carrilho, a 01 de agosto de 1909.
Ainda de acordo com a lei, este prêmio Muitos outros livros importantes na
deverá consistir na publicação, à custa do livro verse sobre assunto que diretamente entenda época foram publicados devido à ação
Tesouro, daqueles dos referidos livros que, medi- com a história e o progressivo desenvolvimento incentivadora de Alberto Maranhão: em 1910, uma
ante parecer escrito de uma comissão composta do Estado". reunião das "Poesias" de Segundo Wanderley, o
do diretor da Instrução Pública e dois homens de A lei, que dizem ter sido uma sugestão de nosso poeta condoreiro. Em 1913, um livro
letras designados pelo governador, forem consi- Henrique Castriciano, foi publicada no jornal "A administrativo: "Da Organização do Ensino
derados dignos desse favor oficial. "A exigência de República", em seu nº 172 (do ano XII), numa Normal, Profissional e Primário", de Nestor dos
naturalidade e domicílio será dispensada quando o quarta-feira, 22 de agosto de 1900. E foi servindo- Santos Lima.
Um tea tr o centenário
Te a t r o A l b e r t o M a r a n h ã o , q u e j á f o i c h a m a d o d e T h e a t r o C a r l o s G o m e s : j u s ta h o m e n a g e m a q u e m f o i o s e u m a i o r pa t r o n o
Carlos de Souza
C
erta vez, Anízio Teixeira - considera-
do um dos maiores educadores do
Brasil - comparou o ensino da
Escola Doméstica ao de países com tradição
escolar como a Inglaterra. O sociólogo
Gilberto Freire chegou a dizer que a ED
ensinou o Nordeste a como se alimentar.
Câmara Cascudo, Humberto de Campos e
Jorge Amado, entre outros intelectuais de
peso, também exaltaram o papel da ED. Em
25 de outubro deste ano, o sociólogo suíço
Paul Ammann, que aqui estava realizando
um trabalho de desenvolvimento social
para os municípios do Oeste do Rio
Grande do Norte, declarou que "se todos
os estados brasileiros tivessem uma escola
como a Doméstica, o Brasil não seria subde-
senvolvido".
Pois bem: essa instituição de ensino quase
centenária foi idealizada no segundo governo
de Alberto Maranhão. Coube ao seu
secretário de Estado, Henrique Castriciano
de Souza, viajar a Europa, especialmente
Suíça e Belgica, para se inspirar num modelo
de escola especializada na educação da mu-
lher. Isso tudo numa época em que havia
pouco, muito pouco espaço para a mulher na Escola fundada no governo A l b e r t o M a r a n h ã o pelo secretário H e n r i q u e C a s t r i c i a n o
sociedade brasileira.
Inaugurada em 1º de setembro de 1914, Henrique Castriciano tinha em
O ROSTO DA ED
já no governo de Ferreira Chaves, a Nízia Floresta um exemplo de edu-
Escola Doméstica tornou-se, portanto, a cadora a ser perseguido e, por isso, ela o Desde março de 1945, portanto há 60 anos, que uma única pes-
primeira instituição de ensino do Brasil influenciou na criação da escola. Da fundação soa responde pela administração da Escola Doméstica: dona
voltada exclusivamente para a formação até os dias atuais, a ED tem como filosofia de Noilde Ramalho. "Minha escola: minha vida e minhas alegrias, eu
ensino a formação completa da mulher, não agradeço a ti por ter-me dado a oportunidade de aqui viver",
e educação feminina. No primeiro Livro resume a diretora ao falar da ED. Faz questão de frisar que a insti-
de Atas da escola está estampada a assi- apenas particularizando as necessidades
tuição não tem fins lucrativos, primando sobretudo pela quali-
natura do governador Alberto Maranhão, domésticas, mas colocando a mulher dentro dade. "Não trabalhamos pelo dinheiro no final do mês. Nosso
em cuja gestão, afinal, foi instituída a do contexto da sociedade, de modo que ela empenho é em educar e formar cidadãos prontos para a vida,
Liga de Ensino do Rio Grande do Norte, possa visualizar maneiras de me-lhorar o desde a infância. O ensino e a formação pessoal devem caminhar
ambiente familiar e contribuir para o juntas", explica.
entidade mantenedora e responsável
pelos trabalhos de fundação da ED. engrandecimento da sociedade e da família.
Noilde Ramalho tem orgulho em dizer que a estrutura de
O pioneirismo da ED sobressaia-se a Até hoje referência de ensino em todo país, a ensino de sua escola é avançada, mesmo depois de 91 anos.
partir do corpo docente. Professoras escola abriga alunas vindas de outros estados "Nossa filosofia não está superada, muito pelo contrário. Estamos
francesas, inglesas, norte-americanas, e municípios do Rio Grande do Norte. sempre atualizados, em sintonia com as mudanças e reformas.
suíças, entre outras origens, introduziam Personalidades da vida pública e Nem por isso deixamos o passado de lado. Afinal, quem não tem
social do Rio Grande do Norte passaram passado, não tem vida", afirma.
na escola um ensino inovador. Em 1919,
época em que a figura do psicólogo era pela ED. É o caso da deputada federal A ED oferece educação infantil, onde as turmas são mistas
desconhecida no país, a ED já tinha uma Sandra Rosado, da primeira-dama de com a opção de tempo integral; ensino fundamental I (da 1ª a 4ª
disciplina com essa matéria. Técnicas de Natal, Andréia Ramalho, da empresária série), também com turmas mistas; ensino fundamental II (da 5ª
conservar alimentos foi outro campo, até Teresa Tinoco, da jornalista Marília a 8ª série), com turmas femininas, e ensino médio, também com
turmas femininas. Atualmente, a instituição possui cerca de 800
então desconhecido, abordado nas aulas. Tinoco. A jornalista e assessora de comu- alunos. A escola possui alunas de diferentes camadas sociais.
Foi introduzida a cadeira de horticultura, nicação Graciema Carneiro é ex-aluna da Prioriza inclusive a inclusão de alunos portadores de deficiência.
quando sequer havia o hábito de se Escola Doméstica. Ela afirma que deve à
comer verdura naquela época. As alunas Desde a fundação, um dos destaques e diferenciais da Escola
instituição a sua base educacional. "As
aprendiam, além de plantar e colher, Doméstica são as aulas práticas. Razão de ser da ED, a formação
aulas práticas que tive foram fundamen- doméstica tem sido aplicada de maneira mais significativa, fazen-
tudo sobre o poder nutritivo dos vege-
tais para a minha profissão, nas ativi- do parte do currículo da 5ª à 8ª séries. Nas aulas de educação ali-
tais. Álgebra, física, anatomia, técnica de mentar, as alunas não aprendem apenas a cozinhar, mas também
dades de relações públicas e cerimonial,
empalhar bichos - áreas de conhecimento o valor nutritivo do alimento. Já na disciplina fundamentos de
além dos conhecimentos para o lar ",
igualmente inexploradas - também fazi- puericultura, as alunas aprendem a cuidar de crianças.
am parte do currículo escolar. afirma.
Natal - Novembro de 2005 Suplemento nós, do RN 15
O
lugar não podia ser mais acolhedor.
Finalmente, após 61 anos, os restos mortais
do ex-governador Alberto Frederico de
Albuquerque Maranhão (1872-1944) foram deposita-
dos em solo potiguar, mais precisamente no jardim
do Teatro Alberto Maranhão, inaugurado em sua
primeira gestão como chefe do executivo estadual.
Antes do reencontro definitivo com sua terra, o
político encontrava-se sepultado em Parati, no Rio de
Janeiro, Estado que o acolheu durante a aposentado-
ria. O traslado das cinzas do 'mecenas da cultura' para
o solo norte-rio-grandense se deu no último dia 4 de
outubro.
Como pedia a ocasião, a recepção foi digna de um
estadista. Após o desembarque no aeroporto
Augusto Severo, em Parnamirim, o cortejo com os
restos mortais do ex-governador e de sua esposa Inês
Albuquerque Maranhão seguiu em carro aberto para
o Teatro Alberto Maranhão, onde a governadora
Wilma de Faria e outras personalidades políticas rece-
beram com honras quatro netos vindos do Rio de
Janeiro e membros da família que permaneceram no
Estado.
A justa homenagem a um dos governantes mais
queridos e prolíferos do RN mobilizou grupos po-
pulares e companhias teatrais no pátio externo do
TAM. As secretarias de Educação do Estado e do
Município também se envolveram no acontecimento.
"O evento coroa os cem anos de inauguração do
Teatro Alberto Maranhão", observa a diretora da casa,
Hilneth Correia. Ela informa que haverá um concur-
so de redação entre os alunos do ensino fundamental
sobre a vida de Alberto Maranhão, adiantando que o Restos mortais do ex-governador foram depositados no jardim do teatro que ele inaugurou
primeiro passo para o vencedor do concurso será uma
bolsa integral para cursar Letras na UnP. terra", esclarece Hilneth Correia. era voltado para o humanismo, a responsabilidade, o
A idéia da transposição partiu do presidente do Conforme a diretora, a sugestão segue o exemplo respeito mútuo e unânime e um arquiteto das boas
Instituto Histórico e Geográfico do RN, Enélio de teatros no Maranhão e no Rio Grande do Sul. causas em favor da comunidade.
Petrovich, que sugeriu ao então governador Garibaldi Nestes dois Estados, há patronos sepultados nas Enélio lembra ainda que Alberto Maranhão foi o
Alves Filho a construção de um mausoléu para sepul- principais casas de espetáculos. A mobilização fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Rio
tar definitivamente Alberto Maranhão. Como a pro- acabou influenciando pedidos na Paraíba, para trazer Grande do Norte, inaugurando a academia em 29 de
posta gerava uma demanda considerável de recursos Augusto dos Anjos, e em Macaíba, que quer receber março de 1902. Também incentivou as iniciativas cul-
públicos - construção e manutenção do monumento os restos mortais de Augusto Severo, irmão de turais por meio da Lei nº 145, de 6 de agosto de 1900.
- o plano foi adiado. Alberto Maranhão. "Uma luz de inteligência que se irradiou em nossas
"Quando Enélio veio conversar comigo sobre a Na visão do presidente do IHG/RN, Enélio almas pela valorização do conhecimento humano",
proposta, durante o centenário do Teatro Alberto Petrovich, Alberto Maranhão foi um "estadista, assevera. E conclui: "eu dei o impulso inicial para que
Maranhão, decidimos que aqui seria um bom local autêntico cidadão do mundo e exemplo de uma Alberto Maranhão fosse sepultado definitivamente
para selar esse reencontro entre o político e sua existência gloriosa". Enfatiza que o ex-governador em solo potiguar".
“Alberto Maranhão
foi o Potengi
que se fez homem”
Diógenes da Cunha Lima,
presidente da Academia
Norte-Rio-Grandense de Letras