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A pesquisa levanta questões como: como é que o Homem elevou-se ao estágio do Homo Faber?
Quais as etapas que marcaram a evolução do trabalho? Qual a sua relação com a cultura? Será
que a ciência e a técnica tem o poder de resolver todos os problemas e enigmas humanos? Quais
as implicações onto-antropológicas do trabalho?
O trabalho tem como objectivo geral compreender o homem na sua dimensão Faber, e como
objectivos específicos analisar as implicações da técnica no progresso da humanidade, a relação
que o trabalho exerce na cultura e civilização do homem.
Para a realização do trabalho recorreu-se ao método da revisão bibliográfica que por sua vez
consiste na recolha e consulta do material que versa sobre o assunto, e como técnica, recorremos
a interpretação textual (hermenêutica).
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1. O Trabalho e a Tecnica como dimensoes Antropologicas
A descoberta que mais contribuiu para elevar o homem ao estágio de homo Faber tenha sido a
descoberta do fogo. Ele acredita que o fogo é a fonte em que está concentrada a energia.
A quantidade de energia que nos coloca à disposição é tão grande, comparando-a com a de um
corpo humano, que podemos considerá-la ilimitada. Por essa razão, a descoberta do fogo é, sem
dúvida, a conquista singularmente maior da humanidade. Ela sozinha libertou o homem da
restrição de sua limitada reserva de energia, substituindo a dos animais domésticos. Aqui
verificamos uma conquista física inequívoca no modo de utilizar a energia, que distingue o
homem dos outros animais quando os comparamos. Nenhuma outra espécie que possua
inteligência faz a menor tentativa de utilizar o fogo, Portanto realmente só o homem é capaz de
usar o mesmo.
No passado o homo Faber, o homem em sua dimensão técnica, raramente despertou a atenção
dos filósofos. Durante os últimos decénios, ao contrário, foi justamente esse aspecto que suscitou
principalmente seu interesse. Hoje temos consciência de que o trabalho é uma atividade tão
importante para o estudo do homem como o conhecimento, a liberdade e a linguagem. Hoje se
compreendeu que “o homem é essencialmente artifex, criador de formas, fazedor de obras que a
natureza do homem é o operador”. Por esse motivo, também nós tomaremos atentamente em
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exame essa atividade, procurando antes de tudo compreender as suas características e natureza,
depois examinando as implicações relativas ao ser do homem. Assim podemos afirmar que:
“não se conhece nenhuma tribo humana, por mais primitiva que seja, que não se utilize do fogo
Com a descoberta do fogo, o homem passou do trabalho manual ’’ para o “artesanal”. Desse
momento em diante, o homem não se contentou mais em colher aquilo que a natureza lhe
colocava à disposição (MONDIN, 1980: 193)”
Deste modo o homem começou a produzir coisas por conta própria, primeiramente às de que
realmente necessitava para sobreviver, e depois também coisas confortáveis de todos os
gêneros3. Na história do trabalho humano distinguem-se dois grandes períodos: o artesanal e o
industrial. No período artesanal, o instrumento de trabalho era o utensílio; no industrial, a
máquina.
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O trabalho no pensamento grego antigamente sempre prevaleceu uma consideração negativa do
trabalho. Platão exclui as artes mecânicas do governo do estado5. Aristóteles define como vil
todo c trabalho porquanto ele oprime a inteligência 6. Cícero e Sêneca exaltam o ócio como
sendo superior ao trabalho. Essa desvalorização do trabalho é devida a diversos motivos:
concepção platónica do homem; exaltação da vida contemplativa; dureza do trabalho (atividade
própria dos escravos). No pensamento grego, o trabalho é definido como imitação e
complemento da natureza (MONDIN 1980:107)
O homem, no exercício do trabalho, sofre ao vacilar sob um fardo. O fardo pode ser invisível,
pois, na verdade, é o fardo social da falta de independência e de liberdade.
Na Idade Moderna, passou-se a fazer diferenciação entre o trabalho qualificado e o
não qualificado, entre o produtivo e o não produtivo, aprofundando-se a distinção entre
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trabalho manual e intelectual. Essas concepções diferenciadas não deixam de ser o
entendimento subjacente à distinção fundamental entre labor e trabalho do período helênico.
O que ocorreu foi o deslocamento do labor, que possui, tanto na esfera pública como na esfera
privada, uma produtividade própria, por maus fúteis ou pouco duráveis que sejam os seus
produtos e seu consumo.
2. Cultura e trabalho
Antes de mais, importa procurar primeiro a relação existente entre estes dois conceitos. Varias
são as diferentes concepções no que concerne a relação entre cultura e trabalho, existe os que
contrapõem a cultura e o trabalho (filósofos gregos e idealistas), existe os que identificam a
cultura com o trabalho (marxistas e capitalistas), existem os que subordinam o trabalho à cultura
e vê nele uma componente de expressão da cultura (Schoonenberg, Dawsim, Guardini, Maritain).
Nijk apud Mondin (1980: 205) no que tange a relação cultura e trabalho, advoga que a cultura
subordina-se ao trabalho: é na acção, no trabalho que o homem obtém a primeira compreensão
da realidade e de si mesmo. A tal compreensão dá, depois, uma forma mediante as várias
expressões culturais. Na mesma linha de ideia Vico acrescenta que “a acção pode constituir o
momento da epifania de uma verdade. Com efeito, muitas descobertas possuem origem desse
mode: não são obtidas estudando em uma mesa, mas explodem improvisadamente no momento
da acção” (Vico apud Mondin, 1980: 206).
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Atingindo a dimensão espiritual, o trabalho regula os hábitos, costumes, leis e moral da
sociedade em que o próprio Homem está inserido. Essa dimensão coloca às claras alguns
aspectos fundamentais: que o Homem é dotado de corpo e espírito, pois, de fato, o trabalho é
fruto de uma mão e de uma mente, que é inteligente e que é livre. Ainda, os desenvolvimentos da
técnica colocam em evidência o carácter histórico e dinâmico do ser humano.
O trabalho, em sua natureza de não ser nunca uma criação total, mas somente uma
transformação, evidencia parcialmente o poder criativo do ser humano. O homem possui um ser
que não está em condições de produzir do nada o ser de nenhuma coisa. Ele pode somente
modelar, transformar, mesmo se pode modelar e transformar de maneira genial e profunda, como
testemunham as obras de arte e os produtos da técnica. O trabalho traz consigo algumas
implicações onto-antropológicas, com isso podemos inferir que no trabalho o homem exprime a
si mesmo “… humaniza parcialmente o cosmo, mas em seu ser profundo, a realidade colocada
em acção pelo trabalho torna-se alheia ao homem, não enriquece efectivamente o seu ser: ela
faz parte da esfera do possuir e não do ser” (Ibidem:206).
O progresso técnico, por um lado, levou o Homem a produção de novos instrumentos que
ajudam o mesmo na superação das suas necessidades quotidianas. Por outro lado, o mesmo levou
a guerras aperfeiçoadas usando armas de destruição massiva e bombas anti-humanas (atómicas)
que levaram a devastação da humanidade durante as duas grandes guerras mundiais, o levou o
Homem a questiona-se sobre a sua civilização, “isso deixa-nos entender como é absolutamente
ilusório e errado fazer do progresso técnico o critério do grau de civilização do homem e da
sociedade. O verdadeiro progresso civil é o que melhora o homem interiormente e não
exteriormente, como faz o progresso técnico” (Ibidem:207).
O homem não trabalha apenas para si mesmo, mas também e sobretudo para os outros, pois:
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O argumento acima postulado, nos leva a entender que o Homem nunca descansara de
aperfeiçoar suas técnicas de trabalho, ou seja, na medida em que a tecnologia avança o Homem
tira proveito para construir a versão mais perfeita de cada instrumento que necessita no seu
quotidiano.
3. O ídolo da técnica
A habilidade e a facilidade com que o homem cria técnicas sempre novas e mais perfeitas
provocou nas gerações recentes uma confiança sem limites no progresso humano, nas
possibilidades de levá-lo à frente até a realização do paraíso na terra e à feliz solução de todos os
problemas e mistérios do homem. Mas é realmente verdade que as ciências e a técnica têm um
poder de resolver todos os problemas e os enigmas humanos.
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procura despersonalizar o trabalhador condicionado a e retificando-o conforme as exigências dos
processos impessoais da produção e da administração a uniformidade totalitária da maquina
passa a todas as esferas com as quais ela entra em contato o agente estandardizado exige uma
resposta estandardizada.
Este fato não ocorre somente nos estados oficialmente totalitários, mas em toda parte. Nos
sistemas tecnológicos, o homem torna-se, então, uma máquina, reduzido o mais possível a uma
série de reflexo.
Indica a situação na qual o individuo está pleno de felicidade e sente-se em paz consigo mesmo e
no momento imediatamente seguinte e sem razão (aparente), comete suicídio. Trata-se de uma
situação catastrófica, mas não é grave ou em outras palavras “euforia na infelicidade”. A ciência
e a técnica não apenas não conseguiram melhorar o homem, mas, elas não melhoraram nem
mesmo o mundo, pelo contrário, devastaram-no de maneira assustadora, diz alguém de forma
irreparável.
A idolatria da máquina não tem causado somente a degeneração do homem, mas também o
estrago do mundo e das coisas. Esses conceito é expresso por Bernanos de forma dramática
quase apocalíptica, em uma das mais pelas páginas do volume em que diz entre outras coisas,
que a nossa civilização mecânica e concentradora não quer tanto salvar-se quanto subsitir, ainda
que à custa do homem, a custa de milhões e milhões de homem massacrados, torturados,
aprisionados, famintos. O que me espanta não ė o facto de que o mundo moderno destrói tudo,
mas o facto que resistirá até que existia qualquer coisa para consumir. A civilização mecânica é
concentradora, produz mercadoria e devora homens. Não se pode fixar limite à produção das
mercadorias.
À civilização mecânica não pode parará na produção de mercadorias a não ser quando tiver
devorado os homens.
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Herbert Marcuse, quase no fim de seu célebre ensaio, afirma entre outras coisas que a sociedade
opulenta esconde o inferno dentro e fora de seus confins;, além disso, ela defende uma
produtividade repressiva e falsas necessidade. O teor alcançado nas áreas industriais mais
avançadas não é um modelo convincente de desenvolvimento porque o homem tornou-se
materialista, que conduz a humanidade ao suicídio. A base de todas as aberrações de época
moderna está numa falsa concepção do homem, uma concepção segundo a qual o homem seria
um animal industrioso, sujeito de determinismo das coisas indefinidamente perfectível.
Segundo Abbagnano (2007: 965) a relação entre o trabalho e a natureza do homem começou a
ser estabelecida no Romantismo, por Hegel, que formulou a primeira teoria filosófica do trabalho
baseando-se nos resultados alcançados por Adam Smith na obra Economia Política. Nesta sua
teoria, Hegel (citado por Abbagnano; 2007: 965) considera o trabalho como medição entre o
homem e seu mundo; essa “medição” denota o facto de que o homem não consome de imediato
o que lhe é fornecido pela natureza, mas pelo contrário, ele realiza o trabalho de transformar
esses productos da natureza de acordo com suas necessidades e vontades.
Ao concebermos o homem como um ser que trabalha, significa que ele é dotado de corpo e
espírito, visto que para se realizar um trabalho é necessário, no mínimo, o uso de mãos ou pés, ou
alguma outra parte do corpo humano – daí que o trabalho implica que o homem é um ser
corpóreo; e, para a realização do trabalho é também necessário pensar: seja em melhores formas
de realizar tal trabalho, bem como nos benefícios da realização do mesmo trabalho – esta é a
parte espiritual do homem. Do pensar do homem ao realizar o trabalho levantamos um ponto
essencial que caracteriza o homem, a saber: a liberdade, pois pensar é um exercício de liberdade.
Mondin (1980: 206) assinala o facto segundo o qual o trabalho ao longo do tempo foi
aprimorado por meio de técnicas que tornaram mais fácil, rápido e eficaz aquilo que antes era
feito em horas e com muitas dificuldades; e este ponto evidencia o carácter histórico e dinâmico
do ser humano. Não só, mas também o poder da criatividade do ser humano, pois ele transforma
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o trabalho ao longo do tempo de modo a satisfazer as necessidades actuais: ele modela e
transforma o trabalho de forma profunda e prática.
Abbagnano (2007: 964) destaca um ponto fundamental no que diz respeito ao trabalho em
relação ao homem, ao colocar que: se o homem trabalha, implica que ele é um ser dependente de
algo, da natureza, pois para realizar seu trabalho o homem precisa de matéria-prima (e esta é
fornecida pela própria natureza); o homem trabalha para atingir certos interesses, e sem a
natureza ele não seria capaz de realizar o trabalho e, consequentemente, não alcançaria seus
objectivos.
No entanto, Mondin (1980: 206) levanta algumas críticas concernentes ao trabalho, ao afirmar
que “... em seu ser profundo, a realidade colocada em ação pelo trabalho torna-se alheia ao
homem, não enriquece efetivamente o seu ser: ela faz parte da esfera do possuir e não do ser”. É
neste sentido que Mundin vê limitações no trabalho como algo que evidencia o ser do homem,
mesmo reconhecendo que o trabalho exprimir algumas peculiaridades do ser do homem na
medida em que o homem ao realizar o trabalho comunica algo de si para fora, deixa seus rastros
de humanidade no mundo, mas ainda assim a realidade que o trabalho apresenta ao homem não é
do ser do homem, mas sim alheia ao próprio homem; nós possuímos aquilo com o qual
trabalhamos, e não somos aquilo com o qual trabalhamos.
Mondin (1980: 207) aponta uma última manifestação do ser do homem que é evidenciada pelo
trabalho, a saber: a contínua auto-transcendência. Abbagnano (2007: 964) chama essa “auto-
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transcendência” de reação activa do homem perante a sua dependência para com a natureza. O
homem está sempre à procura de melhorar suas produções, suas técnicas, e sua forma de
produzir. Em todos os aspectos da tecnologia o homem procura incansavelmente superar a si
mesmo, e alcançar novas metas. Acima de tudo, ele procura superar as determinações do tempo e
da matéria, produzindo máquinas que dificilmente se consomem e se quebram – sua tendência é
sempre ao perfeito, ao eterno e duradouro.
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Conclusão
Na relação entre a cultura e o trabalho, o trabalho desempenha um papel crucial na cultura, pois,
consiste na produção de instrumentos de trabalho e lazer, construção de casas, pontes, estradas e
todos os artefactos que acompanham o progresso da humanidade, não deixando de lado os
efeitos ou ganhos económicos que advirão da própria força de trabalho
Com o triunfo da técnica, o homem tornou-se providência para si mesmo e nao recorria mais a
Deus como faziam os seus antepassados, mas recorre a medicina, engenharia, a indústria, entre
varias areas para esconjurar a fome, doenças, inundaçõs e epidemias. A técnica serviu assim de
um alargamento da mão Humana.
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Bibliografia
MONDIN, Baptista., O homem que é ele: elementos da antropologia filosófica. Paulus, S. Paulo, 1980.
ABBAGNANO, Nicola. Dicionario de Filosofia. Alfredo Bossi; Ivone Castilho Benedetti (Trad.). 5 ed.,
S. Paulo, Martins Fontes, 2007.
VAZ, H.C. de Lima. Antropologia Filosofica, Vol.1. S. Paulo: Edicoes Loyola, 1991.
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