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Introdução

O tema que se pretende abordar é “O trabalho e a Técnica como dimensões Antropológicas”. O


tema foi atribuido pelo docente como exigência de avaliação.

A pesquisa levanta questões como: como é que o Homem elevou-se ao estágio do Homo Faber?
Quais as etapas que marcaram a evolução do trabalho? Qual a sua relação com a cultura? Será
que a ciência e a técnica tem o poder de resolver todos os problemas e enigmas humanos? Quais
as implicações onto-antropológicas do trabalho?

O trabalho tem como objectivo geral compreender o homem na sua dimensão Faber, e como
objectivos específicos analisar as implicações da técnica no progresso da humanidade, a relação
que o trabalho exerce na cultura e civilização do homem.

Para a realização do trabalho recorreu-se ao método da revisão bibliográfica que por sua vez
consiste na recolha e consulta do material que versa sobre o assunto, e como técnica, recorremos
a interpretação textual (hermenêutica).

Quanto a estrutura, o trabalho parte da definição do conceito trabalho, posteriorimente as várias


etapas da concepção do mesmo, sua relação com a cultura, a técnica e o seu desenvolvimento, e
suas implicações oonto-antropológicas, e finalmente a conclusão e as referências bibliográficas.

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1. O Trabalho e a Tecnica como dimensoes Antropologicas

1.1. O conceito trabalho

Recorrendo a perspectiva de Mondin (1980:194) o trabalho é “toda atividade material e espiritual


que procura um resultado útil”. Mas precisamente podemos dizer que o trabalho é uma atividade
cansativa com a intenção de modificar as coisas mediante o uso do corpo e de instrumentos. Para
a explicação do trabalho concorrem alguns elementos subjetivos (pensamento, vontade, ação,
habilidade) e alguns elementos objetivos (matéria e instrumentos). O trabalho humano é a
resultante de muitas condições internas comportamentais, e até intelectuais.

1.2. A concepção Histórica do Trabalho

Por: Agnaldo Tene

A descoberta que mais contribuiu para elevar o homem ao estágio de homo Faber tenha sido a
descoberta do fogo. Ele acredita que o fogo é a fonte em que está concentrada a energia.

A quantidade de energia que nos coloca à disposição é tão grande, comparando-a com a de um
corpo humano, que podemos considerá-la ilimitada. Por essa razão, a descoberta do fogo é, sem
dúvida, a conquista singularmente maior da humanidade. Ela sozinha libertou o homem da
restrição de sua limitada reserva de energia, substituindo a dos animais domésticos. Aqui
verificamos uma conquista física inequívoca no modo de utilizar a energia, que distingue o
homem dos outros animais quando os comparamos. Nenhuma outra espécie que possua
inteligência faz a menor tentativa de utilizar o fogo, Portanto realmente só o homem é capaz de
usar o mesmo.

No passado o homo Faber, o homem em sua dimensão técnica, raramente despertou a atenção
dos filósofos. Durante os últimos decénios, ao contrário, foi justamente esse aspecto que suscitou
principalmente seu interesse. Hoje temos consciência de que o trabalho é uma atividade tão
importante para o estudo do homem como o conhecimento, a liberdade e a linguagem. Hoje se
compreendeu que “o homem é essencialmente artifex, criador de formas, fazedor de obras que a
natureza do homem é o operador”. Por esse motivo, também nós tomaremos atentamente em

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exame essa atividade, procurando antes de tudo compreender as suas características e natureza,
depois examinando as implicações relativas ao ser do homem. Assim podemos afirmar que:

“não se conhece nenhuma tribo humana, por mais primitiva que seja, que não se utilize do fogo
Com a descoberta do fogo, o homem passou do trabalho manual ’’ para o “artesanal”. Desse
momento em diante, o homem não se contentou mais em colher aquilo que a natureza lhe
colocava à disposição (MONDIN, 1980: 193)”

Deste modo o homem começou a produzir coisas por conta própria, primeiramente às de que
realmente necessitava para sobreviver, e depois também coisas confortáveis de todos os
gêneros3. Na história do trabalho humano distinguem-se dois grandes períodos: o artesanal e o
industrial. No período artesanal, o instrumento de trabalho era o utensílio; no industrial, a
máquina.

Segundo Batista Mondin (1980:195) encontramo-nos no momento único na história, em que


ocorre uma mudança radical na técnica do trabalho, e também no trabalhador, uma mudança
quantitativa na estrutura e na eficácia da produção (vapor, eletricidade, petróleo, energia
atómica), mas também mudança qualitativa, nas relações próprias que o trabalho estabelece entre
o homem e a natureza. Esses fatores estão na base da sociedade industrial, compreendendo
também o mundo rural, com suas implicações coessenciais: crescimento em progressão
geométrica, concentração, racionalização, planejamento, socialização, urbanização.

1.2.1. O trabalho na idade antiga

Na compreensão de Lima (1991: 28) As raízes da concepção do homem que denominamos


clássica e cuja expressão filosófica tentamos traçar brevemente devem ser buscadas, sobretudo
na cultura grega arcaica que floresce nos séculos Vlll e VII A.C. e apresenta uma extraordinária
riqueza de manifestações que a cultura clássica (a partir do século VI) recolherá e organizará
num universo espiritual coerente e harmônio . Herdada por Roma e fundindo-se com elementos
especificamente romanos, irá constituir a cultura clássica greco-romana, que forneceu à
civilização ocidental sua primeira e permanente constelação de ideais e valores.

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O trabalho no pensamento grego antigamente sempre prevaleceu uma consideração negativa do
trabalho. Platão exclui as artes mecânicas do governo do estado5. Aristóteles define como vil
todo c trabalho porquanto ele oprime a inteligência 6. Cícero e Sêneca exaltam o ócio como
sendo superior ao trabalho. Essa desvalorização do trabalho é devida a diversos motivos:
concepção platónica do homem; exaltação da vida contemplativa; dureza do trabalho (atividade
própria dos escravos). No pensamento grego, o trabalho é definido como imitação e
complemento da natureza (MONDIN 1980:107)

1.2.2. O trabalho na idade medieval e moderna

O trabalho no pensamento cristão na perspectiva de MONDIN (Ibidem: 108) época patrística e


escolástica, atribui-se ao trabalho um valor soteriológico: ele é visto como instrumento de
purificação e de salvação; todavia continua-se a considerá-lo como uma atividade ignóbil, servil.
Os teólogos protestantes conservam também essa concepção: Lutero e Calvino exaltam o
trabalho como expressão de pertencer ao Reino dos eleitos 228. Um novo modo de conceber o
trabalho desenvolveu-se na época moderna: ele não é ipais considerado como imitação da
natureza, mas sim como expressão da livre iniciativa humana. Com o trabalho, o homem “quer
fugir das fatalidades, que, de tempos imemoriais, tinha aprendido a considerar como
invencíveis”.

Conforme o homem afirma a sua autonomia, o trabalho assume um significado sutilmente


antropológico: serve para formar e aperfeiçoar o homem. Voltaire recomendava a todos que
desenvolvessem algum trabalho, com a finalidade de contribuir para o próprio sustento e para o
bem-estar da humanidade. O trabalho, de fato, elimina três grandes males: o aborrecimento, o
vício e a necessidade. De Lima assinala três causas à essa transformação da concepção do
trabalha a fé na ciência; a propensão em direção ao domínio do mundo; as aplicações
antropológicas da ciência, que deram ao homem o convencimento de poder criar o próprio
destino.

O homem, no exercício do trabalho, sofre ao vacilar sob um fardo. O fardo pode ser invisível,
pois, na verdade, é o fardo social da falta de independência e de liberdade.
Na Idade Moderna, passou-se a fazer diferenciação entre o trabalho qualificado e o
não qualificado, entre o produtivo e o não produtivo, aprofundando-se a distinção entre

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trabalho manual e intelectual. Essas concepções diferenciadas não deixam de ser o
entendimento subjacente à distinção fundamental entre labor e trabalho do período helênico.
O que ocorreu foi o deslocamento do labor, que possui, tanto na esfera pública como na esfera
privada, uma produtividade própria, por maus fúteis ou pouco duráveis que sejam os seus
produtos e seu consumo.

2. Cultura e trabalho

Por: João Muianga

Antes de mais, importa procurar primeiro a relação existente entre estes dois conceitos. Varias
são as diferentes concepções no que concerne a relação entre cultura e trabalho, existe os que
contrapõem a cultura e o trabalho (filósofos gregos e idealistas), existe os que identificam a
cultura com o trabalho (marxistas e capitalistas), existem os que subordinam o trabalho à cultura
e vê nele uma componente de expressão da cultura (Schoonenberg, Dawsim, Guardini, Maritain).

Nijk apud Mondin (1980: 205) no que tange a relação cultura e trabalho, advoga que a cultura
subordina-se ao trabalho: é na acção, no trabalho que o homem obtém a primeira compreensão
da realidade e de si mesmo. A tal compreensão dá, depois, uma forma mediante as várias
expressões culturais. Na mesma linha de ideia Vico acrescenta que “a acção pode constituir o
momento da epifania de uma verdade. Com efeito, muitas descobertas possuem origem desse
mode: não são obtidas estudando em uma mesa, mas explodem improvisadamente no momento
da acção” (Vico apud Mondin, 1980: 206).

Na compreensão Mondin (Ibidem:205), o trabalho é, pelo contrário, uma componente


fundamental e essencial da cultura e, além de uma função prática, económica e instrumental,
pode absorver também uma função noética, ideativa, teorética. O trabalho subordina-se a cultura
e vai além daquilo que são os parâmetros práticos e materiais, atingindo também a dimensão
espiritual do Homem. Com isso podemos afirmar que, o trabalho desempenha um papel crucial
na cultura pois, consiste na produção de instrumentos de trabalho e lazer, construção de casas,
pontes, estradas e todos os artefactos que acompanham o progresso da humanidade, não
deixando de lado os efeitos ou ganhos económicos que advirão da própria força de trabalho.

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Atingindo a dimensão espiritual, o trabalho regula os hábitos, costumes, leis e moral da
sociedade em que o próprio Homem está inserido. Essa dimensão coloca às claras alguns
aspectos fundamentais: que o Homem é dotado de corpo e espírito, pois, de fato, o trabalho é
fruto de uma mão e de uma mente, que é inteligente e que é livre. Ainda, os desenvolvimentos da
técnica colocam em evidência o carácter histórico e dinâmico do ser humano.

O trabalho, em sua natureza de não ser nunca uma criação total, mas somente uma
transformação, evidencia parcialmente o poder criativo do ser humano. O homem possui um ser
que não está em condições de produzir do nada o ser de nenhuma coisa. Ele pode somente
modelar, transformar, mesmo se pode modelar e transformar de maneira genial e profunda, como
testemunham as obras de arte e os produtos da técnica. O trabalho traz consigo algumas
implicações onto-antropológicas, com isso podemos inferir que no trabalho o homem exprime a
si mesmo “… humaniza parcialmente o cosmo, mas em seu ser profundo, a realidade colocada
em acção pelo trabalho torna-se alheia ao homem, não enriquece efectivamente o seu ser: ela
faz parte da esfera do possuir e não do ser” (Ibidem:206).

O progresso técnico, por um lado, levou o Homem a produção de novos instrumentos que
ajudam o mesmo na superação das suas necessidades quotidianas. Por outro lado, o mesmo levou
a guerras aperfeiçoadas usando armas de destruição massiva e bombas anti-humanas (atómicas)
que levaram a devastação da humanidade durante as duas grandes guerras mundiais, o levou o
Homem a questiona-se sobre a sua civilização, “isso deixa-nos entender como é absolutamente
ilusório e errado fazer do progresso técnico o critério do grau de civilização do homem e da
sociedade. O verdadeiro progresso civil é o que melhora o homem interiormente e não
exteriormente, como faz o progresso técnico” (Ibidem:207).

O homem não trabalha apenas para si mesmo, mas também e sobretudo para os outros, pois:

O trabalho coloca os homens em contacto mútuo, seja no momento da


produção como no do consumo. Hoje, quase todos os trabalhos se fazem
em comum e raramente aquilo que é produzido é usado apenas pelos que
o fizeram. Enfim, o trabalho demonstra outro aspecto muito significativo
do ser do homem […] todos os aspectos da tecnologia o homem procura
incessantemente superar a si mesmo, alcançar novas metas. Procura
superar os limites do tempo e da matéria, produzindo máquinas e obras
que não se consomem e não se quebram. Ele tende incessantemente ao
duradouro, ao perfeito, ao eterno (Ibidem: 208).

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O argumento acima postulado, nos leva a entender que o Homem nunca descansara de
aperfeiçoar suas técnicas de trabalho, ou seja, na medida em que a tecnologia avança o Homem
tira proveito para construir a versão mais perfeita de cada instrumento que necessita no seu
quotidiano.

3. O ídolo da técnica

Por: Sara Buque

A técnica surge em consequência da necessidade de modificar o meio e adaptar às suas


necessidades. A técnica requer o uso das ferramentas e conhecimentos bastante variados, os
quais podem ser tanto físicos como intelectuais.

Na compreensão de Mondin (1980:199) o triunfo da técnica tornou o homem o soberano da


natureza, capaz de dominar as forças impetuosas e desfrutá-las para as próprias exigências. Com
o triunfo da técnica, o homem tornou-se providência para si mesmo, e por isso, já não recorria a
Deus como faziam os seus antepassados, mas recorre à medicina, a engenharia, a indústria, etc.

A habilidade e a facilidade com que o homem cria técnicas sempre novas e mais perfeitas
provocou nas gerações recentes uma confiança sem limites no progresso humano, nas
possibilidades de levá-lo à frente até a realização do paraíso na terra e à feliz solução de todos os
problemas e mistérios do homem. Mas é realmente verdade que as ciências e a técnica têm um
poder de resolver todos os problemas e os enigmas humanos.

O uso da técnica provocou consequências positivas e negativas. Nas consequências positivas: a


técnica colocou à disposição dos homens muitíssimos meios de transporte, de comunicação, de
aprisionamento, de divertimento, multiplicaram as suas exigências e as maneiras de satisfazê-las,
mas não contribuiu em nada para melhorá-lo interiormente dai que surgem as consequências
negativas porque ao invés de contribuir para o desenvolvimento das faculdades criativas do
homem a cultura tecnológica tende a transformar todas as actividades automáticas sejam essas
estéreis servis ou mesmo criativas e liberais. Até o jogo e o esporte têm que ser regulamentados e
submetidos ao principio de mesmo esforço. Ao invés de considerar o trabalho como meio
precioso para forjar uma personalidade mais fortemente individualizada, o homem tecnológico

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procura despersonalizar o trabalhador condicionado a e retificando-o conforme as exigências dos
processos impessoais da produção e da administração a uniformidade totalitária da maquina
passa a todas as esferas com as quais ela entra em contato o agente estandardizado exige uma
resposta estandardizada.

Este fato não ocorre somente nos estados oficialmente totalitários, mas em toda parte. Nos
sistemas tecnológicos, o homem torna-se, então, uma máquina, reduzido o mais possível a uma
série de reflexo.

“[...] na realidade, nem a utilização dos controles políticos em vez dos


controles físicos [...], nem a mudança no carácter do trabalho pesado,
nem a assimilação das classes ocupacionais, nem a igualação na esfera
do consumo compensam o facto de as decisões sobre a vida e a morte,
sobre a segurança pessoal e nacional, serem tomados em lugares sobre os
quais os indivíduos não têm controle algum. Os escravos da civilização
industrial desenvolvida são escravos sublimados, mas são escravos [...]’’.
(MARCUSE, 1967:49).

Indica a situação na qual o individuo está pleno de felicidade e sente-se em paz consigo mesmo e
no momento imediatamente seguinte e sem razão (aparente), comete suicídio. Trata-se de uma
situação catastrófica, mas não é grave ou em outras palavras “euforia na infelicidade”. A ciência
e a técnica não apenas não conseguiram melhorar o homem, mas, elas não melhoraram nem
mesmo o mundo, pelo contrário, devastaram-no de maneira assustadora, diz alguém de forma
irreparável.

A idolatria da máquina não tem causado somente a degeneração do homem, mas também o
estrago do mundo e das coisas. Esses conceito é expresso por Bernanos de forma dramática
quase apocalíptica, em uma das mais pelas páginas do volume em que diz entre outras coisas,
que a nossa civilização mecânica e concentradora não quer tanto salvar-se quanto subsitir, ainda
que à custa do homem, a custa de milhões e milhões de homem massacrados, torturados,
aprisionados, famintos. O que me espanta não ė o facto de que o mundo moderno destrói tudo,
mas o facto que resistirá até que existia qualquer coisa para consumir. A civilização mecânica é
concentradora, produz mercadoria e devora homens. Não se pode fixar limite à produção das
mercadorias.

À civilização mecânica não pode parará na produção de mercadorias a não ser quando tiver
devorado os homens.

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Herbert Marcuse, quase no fim de seu célebre ensaio, afirma entre outras coisas que a sociedade
opulenta esconde o inferno dentro e fora de seus confins;, além disso, ela defende uma
produtividade repressiva e falsas necessidade. O teor alcançado nas áreas industriais mais
avançadas não é um modelo convincente de desenvolvimento porque o homem tornou-se
materialista, que conduz a humanidade ao suicídio. A base de todas as aberrações de época
moderna está numa falsa concepção do homem, uma concepção segundo a qual o homem seria
um animal industrioso, sujeito de determinismo das coisas indefinidamente perfectível.

4. Implicações onto-antropológicas do trabalho

Por: Fátima Francisco

Segundo Abbagnano (2007: 965) a relação entre o trabalho e a natureza do homem começou a
ser estabelecida no Romantismo, por Hegel, que formulou a primeira teoria filosófica do trabalho
baseando-se nos resultados alcançados por Adam Smith na obra Economia Política. Nesta sua
teoria, Hegel (citado por Abbagnano; 2007: 965) considera o trabalho como medição entre o
homem e seu mundo; essa “medição” denota o facto de que o homem não consome de imediato
o que lhe é fornecido pela natureza, mas pelo contrário, ele realiza o trabalho de transformar
esses productos da natureza de acordo com suas necessidades e vontades.

Ao concebermos o homem como um ser que trabalha, significa que ele é dotado de corpo e
espírito, visto que para se realizar um trabalho é necessário, no mínimo, o uso de mãos ou pés, ou
alguma outra parte do corpo humano – daí que o trabalho implica que o homem é um ser
corpóreo; e, para a realização do trabalho é também necessário pensar: seja em melhores formas
de realizar tal trabalho, bem como nos benefícios da realização do mesmo trabalho – esta é a
parte espiritual do homem. Do pensar do homem ao realizar o trabalho levantamos um ponto
essencial que caracteriza o homem, a saber: a liberdade, pois pensar é um exercício de liberdade.

Mondin (1980: 206) assinala o facto segundo o qual o trabalho ao longo do tempo foi
aprimorado por meio de técnicas que tornaram mais fácil, rápido e eficaz aquilo que antes era
feito em horas e com muitas dificuldades; e este ponto evidencia o carácter histórico e dinâmico
do ser humano. Não só, mas também o poder da criatividade do ser humano, pois ele transforma

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o trabalho ao longo do tempo de modo a satisfazer as necessidades actuais: ele modela e
transforma o trabalho de forma profunda e prática.

Abbagnano (2007: 964) destaca um ponto fundamental no que diz respeito ao trabalho em
relação ao homem, ao colocar que: se o homem trabalha, implica que ele é um ser dependente de
algo, da natureza, pois para realizar seu trabalho o homem precisa de matéria-prima (e esta é
fornecida pela própria natureza); o homem trabalha para atingir certos interesses, e sem a
natureza ele não seria capaz de realizar o trabalho e, consequentemente, não alcançaria seus
objectivos.

No entanto, Mondin (1980: 206) levanta algumas críticas concernentes ao trabalho, ao afirmar
que “... em seu ser profundo, a realidade colocada em ação pelo trabalho torna-se alheia ao
homem, não enriquece efetivamente o seu ser: ela faz parte da esfera do possuir e não do ser”. É
neste sentido que Mundin vê limitações no trabalho como algo que evidencia o ser do homem,
mesmo reconhecendo que o trabalho exprimir algumas peculiaridades do ser do homem na
medida em que o homem ao realizar o trabalho comunica algo de si para fora, deixa seus rastros
de humanidade no mundo, mas ainda assim a realidade que o trabalho apresenta ao homem não é
do ser do homem, mas sim alheia ao próprio homem; nós possuímos aquilo com o qual
trabalhamos, e não somos aquilo com o qual trabalhamos.

O trabalho, acima de tudo, apresenta-nos a parte humana e limitada do homem: o cansaço, a


fadiga, o sofrimento – o sofrimento é o custo do trabalho. O homem não é uma máquina, ele é
feito de carne, e por isso é susceptível de dor, sofrimento, esgotamento, etc. Tanto o trabalho
corpóreo quanto o trabalho mental cansam o homem.

Apesar de reconhecermos que o trabalho, o progresso técnico, transformou e ainda transforma a


nossa vida quotidiana, ainda assim ele não é capaz de transformar ou moldar o nosso interior: ele
não determina o grau de civilização do homem e da sociedade. O que ele faz é manifestar uma
pequena parte do ser do homem (não a totalidade de seu ser), que é a dimensão social do homem:
o homem não trabalha somente para si, mas também para os outros; e sempre é impelido a
manter contacto com outros homens, seja no momento da produção ou do consumo.

Mondin (1980: 207) aponta uma última manifestação do ser do homem que é evidenciada pelo
trabalho, a saber: a contínua auto-transcendência. Abbagnano (2007: 964) chama essa “auto-

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transcendência” de reação activa do homem perante a sua dependência para com a natureza. O
homem está sempre à procura de melhorar suas produções, suas técnicas, e sua forma de
produzir. Em todos os aspectos da tecnologia o homem procura incansavelmente superar a si
mesmo, e alcançar novas metas. Acima de tudo, ele procura superar as determinações do tempo e
da matéria, produzindo máquinas que dificilmente se consomem e se quebram – sua tendência é
sempre ao perfeito, ao eterno e duradouro.

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Conclusão

Face ao tema “O trabalho e a Técnica como dimensões Antropológicas”, pode-se compreender o


trabalho como sendo uma actividade material, artesanal, mas também se compreende o trabalho
como algo espiritual, dado que na idade medieval o trabalho tinha um valor de purificação e de
salvação do Homem. O Trabalho tambem funciona como uma forma de obtenção de lucros para
o ser humano.

Na relação entre a cultura e o trabalho, o trabalho desempenha um papel crucial na cultura, pois,
consiste na produção de instrumentos de trabalho e lazer, construção de casas, pontes, estradas e
todos os artefactos que acompanham o progresso da humanidade, não deixando de lado os
efeitos ou ganhos económicos que advirão da própria força de trabalho

Com o triunfo da técnica, o homem tornou-se providência para si mesmo e nao recorria mais a
Deus como faziam os seus antepassados, mas recorre a medicina, engenharia, a indústria, entre
varias areas para esconjurar a fome, doenças, inundaçõs e epidemias. A técnica serviu assim de
um alargamento da mão Humana.

O trabalho, acima de tudo, apresenta-nos a parte humana e limitada do homem: o cansaço, a


fadiga, o sofrimento, o sofrimento é o custo do trabalho. O homem não é uma máquina, ele é
feito de carne, e por isso é susceptível de dor, sofrimento, esgotamento, etc. Tanto o trabalho
corpóreo quanto o trabalho mental cansam o homem.

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Bibliografia

MONDIN, Baptista., O homem que é ele: elementos da antropologia filosófica. Paulus, S. Paulo, 1980.

MARCUSE, Herbert, Ideologia da sociedade industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1967.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionario de Filosofia. Alfredo Bossi; Ivone Castilho Benedetti (Trad.). 5 ed.,
S. Paulo, Martins Fontes, 2007.

VAZ, H.C. de Lima. Antropologia Filosofica, Vol.1. S. Paulo: Edicoes Loyola, 1991.

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