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Aspectos Históricos e Seus Impactos Nas Escolas Públicas
Aspectos Históricos e Seus Impactos Nas Escolas Públicas
CURSO DE PSICOLOGIA
1 REVISÃO TEÓRICA
1.1 Introdução
1.2 História da Educação no Brasil
1.3 Desenvolvimento na Adolescência segundo Erik Erikson
1.4 Educação e Mudança
2. RELATO DAS OBSERVAÇÕES
2.1. Contexto da Observação
2.2. Relato das Observações
2.2.1 Aspectos Concretos das Observações
2.2.2 Percepções
3. RELATO DAS INTERVENÇÕES
4. RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1 REVISÃO TEÓRICA
1.1 INTRODUÇÃO
Em seu livro Educação para a Mudança, Paulo Freire (1979), nos diz que a
raiz da educação se encontra no processo de construção constante do ser humano e
a consciência do inacabamento que faz possível o processo de educar. O autor
também nos traz que educando deve ser agente de sua própria educação e não
somente um objeto dele, assim como os educadores não necessitam atuar como
depositários do conhecimento.
A educação deve se constituir em um processo de troca entre pessoas que
buscam encontrar-se através dos saberes, pois, a individualidade na busca por
conhecimento leva sempre a criação de sujeitos e sujeitados, onde há a
sobreposição de um saber sobre o outro e isto reduz a potência de transformação da
educação (FREIRE, 1979)
A educação, segundo Paulo Freire, não possui um caráter permanente, sua
característica mais marcante é a de estar em constante processo de transformação.
Para Paulo Freire (1979), todos os seres estão tanto para educadores como para
educandos, não há a necessidade de diferenciar os graus de educação, visto que
cada saber é replicado e utilizado em determinado contexto, não excluindo os
demais (FREIRE, 1979).
O conhecimento das relações e saberes do passado nos auxiliam no
processo de educação porque a partir disto será possível perceber as nossas
características anteriores, nossos comportamentos no presente e como isto
implicará no nosso futuro. Somente com a consciência dos atravessamentos entre
passado, presente e futuro, é possível criar novas concepções, novos saberes, para
que cada dia o ser humano esteja um passo a frente da reinvenção de si mesmo
(FREIRE, 1979).
Em sua reflexão sobre as sociedades fechadas, Paulo Freire (1979) fala
sobre as sociedades latino-americanas que caracterizam-se por serem
sociedades-objeto de outras sociedade consideradas mais desenvolvidas,
tornando-as periféricas e carentes de pensamento reflexivo. A ausência de
consciência crítica nas sociedades colocadas em situação periférica, contribui para
que se estabeleçam pequenos grupos de elite que determinam diretrizes que
auxiliam na manutenção desse assujeitamento das sociedades, diretrizes essas que
estão muito relacionadas ao sistema de educação (FREIRE, 1979).
A alienação das sociedades se dá pelo processo destas quererem se tornar
aquilo que não são, existe a vontade de se parecer com as sociedades que “deram
certo”, em relação as sociedades latino-americanas percebe-se o movimento de
importação de modelos norte americanos. Esse processo se dá pela importação de
valores e cultura, neste ponto também há importação de métodos de ensino que na
maioria das vezes não se adequam a realidade das pessoas dos países
latino-americanos (FREIRE, 1979).
Geralmente, os métodos de ensino empregados nas sociedades periféricas
falham devido ao distanciamento da realidade social onde são aplicados, e assim
ocorre o movimento de culpabilização da sociedade pela incapacidade de atender as
expectativas desses sistemas. Isso ocorre fortemente na área da educação,
contribuindo para que os educandos sintam-se incapazes de atingir o nível de
conhecimento exigido, mas não pela falha do sistema e sim pela crença de que
existe uma incapacidade própria (FREIRE, 1979).
Especificamente falando do Brasil, a educação se encontra engessada por
métodos pedagógicos que limitam a criação de saberes e formação do ser humano
como um todo, oriundos de uma construção histórica. Os impactos das negligências
em relação aos estudantes e educadores contribuem para a manutenção deste ciclo
de fracasso em atender aos sistemas de ensino importados e que não condizem
com o atual estado da sociedade Brasileira.
Desde meu primeiro contato com a escola, a turma 7B foi apresentada como
a “pior turma” da escola e a “mais difícil” de se trabalhar pela orientadora da e por
comentários de funcionários. Em nenhum momento da conversa consegui perceber
informações concretas que justificassem essas afirmações, a não ser um episódio
de briga no recreio entre um menino e uma menina e a agitação que constatei
durante as observações que se seguiram. Além das queixas em relação a turma, a
escola sempre transmitiu a impressão de estar a beira de um colapso devido a
demanda da agressividade dos alunos e que necessitavam de muita ajuda.
Após escutar as demandas da escola, passei a frequentar as aulas da turma
7B e pude perceber o quanto as metodologias de ensino não eram nem um pouco
atrativos, os professores pareciam cansados e tive a sensação de que eles eram
invisíveis em sala de aula. Os alunos da turma 7B, conforme os relatos da
Orientadora, tinham muita dificuldade em entender o que lhes era ensinado, devido a
isso ela me pediu para que quando fosse realizar alguma atividade, eu usasse uma
linguagem "fácil". Essas visão da orientadora passou a me causar estranhamento
conforme eu ia passando mais tempo dentro da sala de aula com os alunos.
Na sala de aula haviam crianças/pré-adolescentes esbanjando energia e do
outro lado havia professores cansados e desmotivados, que não viam nada além da
pior turma da escola. A escola me trouxe a sensação de desorganização, pois, foi
complicado alinhar junto as responsáveis os dias, turmas e horários de trabalho.
Todas as vezes que eu chegava na escola era preciso me apresentar e informar o
motivo da minha presença e sempre era recebida com surpresa, como se ainda não
estavam cientes que eu estaria ali pelos próximos dias.
Durante as conversas com a Orientadora percebi que existe uma grande
vontade de realizar mudanças na escola, porém, há um sentimento de que alguém
de fora deve fazer isso, como se a responsabilidade pelas demandas que surgem
fossem impossíveis de serem resolvidos pela escola e a responsabilidade não fosse
dela mesma.
Esse pensamento me veio e me fez perceber que, talvez, a dificuldade
relação a demanda da agressividade e aos alunos com baixo rendimento, esteja
vindo dessa falta de responsabilização da escola, pela falta de engajamento em
pensar juntamente com todo o grupo escolar em formas de mudar a realidade que,
segundo os relatos, é o que mais causa instabilidade na escola.
Vejo a escola como um grupo cansado, desorganizado e desmotivado em
relação as dificuldades que são apresentadas no dia-a-dia, vejo que falta uma
consciência crítica em relação ao porquê do comportamento dos alunos, ao por quê
a escola estar abandonada, ao por quê existe a dificuldade em trazer a comunidade
de pais para dentro da escola.
Essas três perguntas me guiaram durante todo meu período de estágio,
devido a elas sempre estive com um incógnita na minha mente, em que o que era
dito, não fazia concordância com que era visto e nem com o que eu sentia. Hoje,
finalizando minha escrita, percebo que se fosse possível movimentar esses
"porquês" dentro da escola, com alunos, funcionários e professores, milhares de
outras demandas iriam surgir porque a agressividade é somente o sintoma de um
sistema de negligência e acomodação muito mais complexos.
3.1 Percepções
Ao final dos três dias de intervenção fui tomada pela alegria de saber que
estive diante de um grupo de pré-adolescentes com potenciais incríveis a serem
desenvolvidos, que falta somente alguém que os escute e os auxiliem lidar com as
diferenças de grupo.
Durante nossas rodas de conversa muitos alunos conseguiram perceber
atitudes suas que poderiam ser modificadas para que o ambiente em sala fosse
melhor, pude perceber que mesmo nas diferenças eles se reconhecem como iguais
e que o respeito é algo importante não somente em sala de aula, mas para toda a
vida. Também sai das intervenções sensibilizada pelo fato de que a escola não teve
o momento de olhar e escutar esse alunos, preocupando-se mais em marcá-los
como um problema ao invés de entender como se deu a construção da “identidade
problemática” da turma.
Percebi que existe uma negligência e desesperança em relação a estes
alunos e que não há perspectivas de mudanças em relação a demanda apresentada
enquanto a escola não passar pelo processo de escuta desde alunos. É necessária
uma mudança de pensamento, onde estes alunos passem a ser vistos com vítimas
de um sistema de educação totalmente ineficaz, vítimas de negligência social e
familiar. A turma sétimo B é vítima de uma exclusão gerada pela escola e a escola é
vítima de uma construção histórica de não valorização do seu papel na
transformação da sociedade através da educação.
4. RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA