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FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

BRENDA ALVES DA SILVA

ASPECTOS HISTÓRICOS E SEUS IMPACTOS NAS ESCOLAS


PÚBLICAS

PORTO ALEGRE, RIO GRANDE DO SUL


2019
BRENDA ALVES DA SILVA

ASPECTOS HISTÓRICOS E SEUS IMPACTOS NAS ESCOLAS


PÚBLICAS

Trabalho apresentado como pré-requisito


para aprovação na disciplina de Estágio
Básico I, pelo Curso de Psicologia do
Centro Universitário Ritter dos Reis –
UniRitter, sob orientação da Profª. Me.
Patrícia Costa da Silva

Cidade,15 de Junho de 2019.


SUMÁRIO

1 REVISÃO TEÓRICA
1.1 Introdução
1.2 História da Educação no Brasil
1.3 Desenvolvimento na Adolescência segundo Erik Erikson
1.4 Educação e Mudança
2. RELATO DAS OBSERVAÇÕES
2.1. Contexto da Observação
2.2. Relato das Observações
2.2.1 Aspectos Concretos das Observações
2.2.2 Percepções
3. RELATO DAS INTERVENÇÕES
4. RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1 REVISÃO TEÓRICA

1.1 INTRODUÇÃO

Considerando as origens da desigualdade no Brasil, que datam desde a


época da colonização, faz-se necessário realizar a observação e a reflexão dos
impactos dos acontecimentos sociais passados dentro do ambiente escolar na
atualidade. De forma que os fenômenos observados dentro do ambiente escolar
possam ser reconhecidos na sua origem, possibilitando uma avaliação crítica dos
avanços e retrocessos nesta área e a partir disto mobilizar a criticidade nos agentes
dentro da escola. Através do conhecimento da raiz das dificuldades enfrentadas
pelas escolas na atualidade como a evasão escolar, baixo rendimento, violência,
falta de investimentos e apoio do Estado, é possível tornar a educação um processo
reflexivo sobre sua própria constituição.
Também é preciso conhecer os processos psíquicos que tornam a
adolescência um período tão conturbado para que o papel do educador possa ser
efetivo tanto na formação formal quanto nas questões relacionadas ao
autoconhecimento dos seus educandos, pois, não podemos negar que escola é um
ambiente que influencia diretamente o processo de formação da identidade dos
jovens.

1.2 Histórico da Educação no Brasil

A organização do período colonial foi importante para suprir as necessidades


da época também foi responsável pela ascensão da grande elite latifundiária e
escravocrata. Com a sociedade organizada desta forma, não era necessário levar
educação para os trabalhadores do campo e nem aos escravos, visto que suas
atividades eram voltadas para o esforço físico e não intelectual. Desta forma foi
criada uma grande massa não alfabetizada (RIBEIRO, 2000).
Neste período as classes dominantes acreditavam ser necessário oferecer ao
povo a educação sob influência de princípios religiosos. Desta organização surgiu a
Companhia de Jesus que tinha por objetivo doutrinar as pessoas camadas sociais
mais baixas segundo os princípios da Igreja Católica (RIBEIRO, 2000).
Ao longo do tempo a Companhia de Jesus se afastou deste objetivo passando
a focar seus ensinamentos para os jovens de famílias de elite, a fim de arrecadar
mais lucros e formar novos sacerdotes. Deste modo o Brasil negou por muito tempo
a educação para o povo de um modo geral. Analisando este recorte da história do
Brasil, podemos perceber claramente como a educação serve a interesses políticos,
visto que houve uma alteração no foco do ensino para o fortalecimento da Igreja no
período colonial (RIBEIRO, 2000).
No Século XVIII, Portugal era administrada pelo Marquês de Pombal, que
realizou mudanças no setor educacional. Entre suas principais ações destaca-se a
retirada da responsabilidade da Igreja sobre a educação. Mesmo com as mudanças
ocorridas no século XVIII, a elite continuava tendo prioridade no ensino, os métodos
pedagógicos se mantiveram autoritários, não oferecendo espaço para a expressão
da criatividade, tornando os estudantes obedientes ao sistema político da época
(RIBEIRO, 2000).
As reformas propostas pelo Marquês do Pombal eram consideradas
revolucionárias, entretanto, Ribeiro (2000) destaca que as reformas fizeram com que
o nível das escolas caíssem e afirma que o impacto da má administração no setor
educacional público é uma marca que carregamos ao longo dos anos e que a
educação contribui para que as classes sejam divididas e subjugadas.
Durante o século XVIII, se observa a emergência de uma nova classe social,
a burguesia, que estava economicamente ligada ao comércio e a indústria. O papel
desta classe sobre a educação merece destaque, pois, ela reivindicava a educação
escolarizada e passou a frequentar as escolas juntamente com a elite. Embora
fortemente influenciada pela iluminismo europeu, que era totalmente contra a
estratificação social, a burguesia ainda tinha a necessidade compactuar com ideias
desta classe (RIBEIRO, 2000).
Com fixação da coroa de Portugal no Brasil e a presença de Dom João VI no
Brasil, estão documentadas significativas reformas no setor da educação. Durante
este período foi criada a primeira instituição de ensino superior não-teológica, cursos
de medicina, o Museu Real e a Biblioteca pública. Ainda que tenham sido os
primeiros centros de cultura e educação brasileiros, estes locais também eram
frequentados somente pela alta sociedade (RIBEIRO, 2000).
Na sua revisão sobre a História da Educação no Brasil, Ribeiro (2000) expõe
que a educação primária nunca foi priorizada, visto que o foco da administração
eram as instituições de ensino superior e a grande massa não alfabetizada que já
vinha sendo esquecida, continuava sem acesso a educação.
Em 1834 a educação foi descentralizada e passou a ser responsabilidade das
províncias administrar o ensino primário e médio, ao governo central ficou a
responsabilidade de administrar a educação superior. Com nomenclaturas e
diretrizes atualizadas, podemos verificar essa descentralização da educação nos
dias atuais, sendo ela dividida hoje entre os Municípios, os estados e a União
(RIBEIRO, 2000).
A característica das instituições de ensino durante o século XIX era a
preferência pelo curso de Direito, sendo assim, os currículos das escolas públicas
eram voltados para este curso. Ribeiro (2000) explica que esta estruturação do
ensino na época, era devida a aversão social ao ensino profissionalizante, pois a
mão de obra provinha do sistema escravocrata, logo não era necessário educar os
filhos da elite para o trabalho braçal (RIBEIRO, 2000).
A dificuldade do Estado em arrecadar tributos e distribuir entre os setores da
educação fez com que o ensino fosse dominado pelas instituições privadas, o que foi
mais um fator agravante para o elitismo da educação de qualidade no Brasil
(RIBEIRO, 2000).
Durante o período da República foram propostas outras reformas para a
educação, visando a inovação no ensino. Benjamin Constant foi um dos nomes de
destaque desta época e propôs que o ensino passasse a ter conteúdos científicos e
defendeu a inclusão de diretrizes para organizar os diferentes níveis de educação.
As ideias Benjamin Constant não foram utilizadas na prática porque não havia um
governo capaz de sustentar e executar as propostas, além de que não existia o
apoio político das elites para apoiar tais reformas (RIBEIRO, 2000).
Após Benjamin Constant outras intervenções foram elaboradas e postas em
prática, como exemplo, o Código de Epitácio Pessoa, que visava colocar lógica no
currículo e retirar disciplinas como Biologia e Sociologia. Todas as reformas que se
sucederam na educação do Brasil, durante o período da República não tiveram
resultados positivos. A educação primária continuava abandonada e a maioria da
população não tinha acesso ao ensino. Existia uma alternância de referências
filosóficas nas reformas, de um lado o pensamento positivista, pragmático e
científico e do outro lado o pensamento liberal buscando uma igualdade de direitos e
a extinção de privilégios (RIBEIRO, 2000).
Ribeiro (2000) afirma que, nenhuma das reformas do período republicano
foram suficientes para causar uma mudança no sistema de ensino devido a este
modelo estar totalmente atrelado a economia e a política vigente. Durante a década
de 20, houve a queda do modelo econômico baseado na agricultura, no comércio e
na exportação, abrindo espaço para que a classe burguesa ascendesse política e
socialmente. A partir desta nova posição, a classe burguesa passou a reivindicar
mudanças em todos os setores da administração do país.
As revoluções desta época, assim como o surgimento do Partido Comunista e
a Semana de Arte Moderna, influenciaram fortemente o sistema de ensino, neste
contexto, surgiu a proposta da Escola Nova, onde pela primeira vez, através dos
educadores o analfabatismo em massa foi visto como um problema social e
começou a ser discutido em público (RIBEIRO, 2000).
As classes envolvidas na proposta da Escola Nova reivindicavam o ensino
universal, gratuito e obrigatório para toda a população, afirmavam a importância do
Estado no processo de reestruturação do ensino público em nível nacional. Com
isso, durante os anos de 1920 e 1929 ocorreram reformas Educacionais a níveis
estaduais, sobretudo nos estados do Nordeste (RIBEIRO, 2000).
As reformas da Escola Nova trouxeram, as seguintes mudanças, como cita
Ribeiro (2000): I- A escola primária passou a oferecer hábitos de educação,
raciocínio lógico, literatura, história e língua portuguesa, além do desenvolvimento
físico e da higiene; II - O ensino médio buscava integrar os conteúdos do ensino
primário e superior, promovendo um pensamento científico; III - Era defendida a
ideia da organização do ensino superior para a produção científica e formação
profissional.
Após um período de reformas na educação, nas décadas seguintes, surgiu
novamente o conflito entre agricultores e a burguesia. Faz-se necessário revisar este
ponto da história da Educação porque após esta pressão, foi decretado o fim da
República Velha e a tomada do poder por Getúlio Vargas e com isto ocorreram
mudanças significativas no setor educacional.
Em 1930, foi criado o Ministério da Educação, que neste período não tem sua
funções bem estabelecidas e tem como ministro Francisco Campos, que no ano
seguinte propôs a reforma do ensino superior. Este início de década ficou marcado
conflitos políticos que ocasionaram descontentamento da população e insatisfação
das áreas políticas e levaram o governo a não conseguir realizar a elaboração de um
plano de governo estruturado, o que gerou demora para novas medidas na
educação (RIBEIRO, 2000).
Nos anos que se seguiram, de 1930 a 1937, houve um grande conflito de
ideias e interesses no campo da educação. Em uma das pontas havia a Igreja,
afirmando que a instabilidade do governo era causada pelo afastamento da
educação aos princípios de Deus e do outro lado os pioneiros da educação
reivindicando que suas reformas fossem postas em prática. Estes conflitos servem
como base para que Vargas, tomando medidas para atender as duas vertentes, se
solidificasse no poder, sendo responsável por outras reformas na educação
(RIBEIRO, 2000).
Na Constituição de 1934, foi inserido um capítulo para educação, atribuindo a
União de criar as diretrizes para o ensino, foi decretada a criação de Conselhos
Nacionais e Estaduais de Educação, ficou determinado investimentos mínimos no
setor, a obrigatoriedade do ensino primário e o reconhecimento da educação como
um direito fundamental de todos. Esta foi a primeira vez que a educação teve
destaque no governo (RIBEIRO, 2000).
Houve também neste período a implantação de um modelo pedagógico
baseado em técnicas dos Estados Unidos, influenciados pela filosofia de John
Dewey. Este é principal ponto de crítica aos precursores da Escola Nova, pois com
importação de um novo tipo de ser, acabou-se negando todo o contexto sociocultural
brasileiro (RIBEIRO, 2000).
No ano de 1937 é instaurado o Estado Novo, fortemente ligado a ideologias
fascistas, apoiado pela burguesia industrial. A classe burguesa passou a dominar os
espaços deixados pelos agricultores, que aos pouco foram perdendo seu espaço.
Neste período foi outorgada a nova constituição, onde declarava que educação eram
todas as áreas relacionadas a arte e a ciência, estabeleceu-se políticas escolares
sobre a educação profissional e sobre a gratuidade do ensino primário (RIBEIRO,
2000).
O contexto social da época teve forte mudança durante o período de governo
de Getúlio Vargas, onde a economia ficou baseada na indústria. O pensamento
nacional de desenvolvimento era baseado na industrialização, que a demanda de
mão de obra qualificada no mercado. Assim, durante o Estado Novo houve um
aumento das verbas aplicadas na educação, principalmente em políticas
educacionais voltadas para o ensino profissionalizante da classe operária. Ao lado
do desenvolvimento industrial também houve o crescimento da classe comercial,
assim com demanda de mão de obra qualificada foi criado Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial - SENAC (RIBEIRO, 2000).
Após a queda de Getúlio Vargas, foram propostas novas reformas no setor da
educação coordenadas pelo Ministério da Educação, novamente o objetivo das
reformas era a reforma nacional das políticas de educação e o estabelecimento de
diretrizes para o ensino e investimentos no setor. Ainda na década de 50, ressurge o
conflito de ideias entre a Igreja Católica e os pensamentos liberais, onde suas
principais discussões eram sobre a escola pública versus particular (RIBEIRO,
2000).
Do lado da Escola Particular estavam a Igreja e os donos de escolas privadas,
que defendiam a ideia de que as escola públicas não dariam conta de desenvolver o
lado humano como um todo, argumentando que as escolas públicas visavam uma
educação formal, deixando de lado questões como filosofia de vida. Já os
defensores das escolas públicas, baseavam-se nas ideologias liberais e
pragmáticas, buscando a educação para adaptação do indivíduo para as demandas
sociais (RIBEIRO, 2000).
Os defensores da escola pública também afirmavam que as escolas religiosas
voltavam sua atenção sempre para as camadas privilegiadas da sociedades e isso ia
contra sua visão de democratização da educação. A resolução desse conflito veio no
ano de 1961, com a aprovação da nº Lei 4024, que dispunha sobre as Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, assim ambos os lados foram beneficiados (RIBEIRO,
2000).
Na Década de 60 surgiram diversos setores da sociedade interessados na
educação popular, como os Centros Populares de Cultura e os Movimentos de
Educação de Base. Estes setores buscavam levar a educação para o povo, além da
educação formal, incluíram em seus programas elementos culturais como o cinema,
teatro e política, buscando a participação popular nas decisões políticas (RIBEIRO,
2000).
A política Brasileira passou por nova instabilidade em 1964 acontece o Golpe
Militar, financiado por grupos de empresários e políticos. Visando o afastamento de
todos que não apoiavam as medidas tomadas pelo governo militar, houve um
período de intensa repressão e censura neste período, o que levou muitos nomes da
Ciência e da Educação a buscarem exílio em outros países (RIBEIRO, 2000).
Os desdobramentos na educação durante o período militar foram mais
notados no Ensino Superior, onde ocorreu o aumento da procura bem maior do que
as vagas disponíveis. A procura por cursos superiores decorreu do pensamento da
classe média de que, somente através da educação era possível ascender
socialmente (RIBEIRO, 2000).
Os acordos feitos com países estrangeiros para superar a crise na educação
superior, não foram suficientes para a demanda, isto levou no ano de 1967 a
organização da Comissão Meira Matos com finalidade de repensar os acordos e
elaborar novas propostas que dessem conta dos movimentos estudantis que se
atenuavam cada vez mais (RIBEIRO, 2000).
Em 1968, Ato Institucional nº 5 acabou com todas as liberdades individuais
dos cidadãos e no campo da educação era expressamente proibida qualquer tipo de
manifestação política. A educação superior ainda se encontrava em crise e na
tentativa de organização o governo militar redigiu a lei de reforma do ensino
superior, sem consulta pública (RIBEIRO, 2000).
Com esta lei os governantes buscavam transformar o ensino superior no
modelo universitário americano. Dentre as principais alterações estabelecidas,
destacam-se o sistema de créditos nas matrículas e o sistema de vestibular
unificado e classificatório. Durante todo o período da Ditadura Militar, a principal
preocupação do governos era a profissionalização da mão de obra, visto a crescente
modernização do país e também amenizar as pressões dos grupos estudantis
acerca dos investimentos em educação (RIBEIRO, 2000)
Na revisão da história da educação de Ribeiro (2000), já podemos traçar uma
linha que liga o passado com o estado atual da Educação no Brasil. Conforme o
autor cita, a história está viva para nos contar como as reformas e leis sobre a
educação do país sempre foram propostas por um minoria que sempre agiu de
acordo com seus interesses políticos e econômicos.
Desde o período da colonização até os dias atuais a Educação é utilizada
como um instrumento político de controle da população e através das suas
manobras, age para garantir a manutenção do poder nas mãos das elites de nossa
sociedade. Em todas as discussões sobre o tema da Educação Pública no Brasil
vemos que há o discurso de resgatar a potência das escolas públicas como agentes
de transformação social e a criação de cidadãos críticos atuantes politicamente,
porém ao revisar este recorte da história vemos que a educação poucas vezes teve
a liberdade de criar seres críticos e por inúmeras vezes foi negada a população de
base. A questão em aberto sobre a educação é como um setor tão carente de uma
gestão eficaz pode resgatar o poder que nunca lhe foi dado.
Ribeiro (2000), nos diz que quando se cria propostas de reformas na
educação é fundamental olhar para o passado para que possamos aprender com os
erros e mantermos os acertos para o futuro, independentemente do posicionamento
ideológico do governo vigente. Ao nos concentrarmos em estudar a história da
educação podemos perceber um ciclo em que há mais retrocessos do que avanços,
podemos notar que há uma clara repressão da potência de criar da educação.
A educação é dada em conta gotas para a sociedade porque todos sabemos,
que assim como ela é manejável para atender aos interesses da pequena elite
Brasileira, ela é principal ferramenta para a desestratificação social em que estamos
presos a décadas.
1.2 Educação e Mudança

Em seu livro Educação para a Mudança, Paulo Freire (1979), nos diz que a
raiz da educação se encontra no processo de construção constante do ser humano e
a consciência do inacabamento que faz possível o processo de educar. O autor
também nos traz que educando deve ser agente de sua própria educação e não
somente um objeto dele, assim como os educadores não necessitam atuar como
depositários do conhecimento.
A educação deve se constituir em um processo de troca entre pessoas que
buscam encontrar-se através dos saberes, pois, a individualidade na busca por
conhecimento leva sempre a criação de sujeitos e sujeitados, onde há a
sobreposição de um saber sobre o outro e isto reduz a potência de transformação da
educação (FREIRE, 1979)
A educação, segundo Paulo Freire, não possui um caráter permanente, sua
característica mais marcante é a de estar em constante processo de transformação.
Para Paulo Freire (1979), todos os seres estão tanto para educadores como para
educandos, não há a necessidade de diferenciar os graus de educação, visto que
cada saber é replicado e utilizado em determinado contexto, não excluindo os
demais (FREIRE, 1979).
O conhecimento das relações e saberes do passado nos auxiliam no
processo de educação porque a partir disto será possível perceber as nossas
características anteriores, nossos comportamentos no presente e como isto
implicará no nosso futuro. Somente com a consciência dos atravessamentos entre
passado, presente e futuro, é possível criar novas concepções, novos saberes, para
que cada dia o ser humano esteja um passo a frente da reinvenção de si mesmo
(FREIRE, 1979).
Em sua reflexão sobre as sociedades fechadas, Paulo Freire (1979) fala
sobre as sociedades latino-americanas que caracterizam-se por serem
sociedades-objeto de outras sociedade consideradas mais desenvolvidas,
tornando-as periféricas e carentes de pensamento reflexivo. A ausência de
consciência crítica nas sociedades colocadas em situação periférica, contribui para
que se estabeleçam pequenos grupos de elite que determinam diretrizes que
auxiliam na manutenção desse assujeitamento das sociedades, diretrizes essas que
estão muito relacionadas ao sistema de educação (FREIRE, 1979).
A alienação das sociedades se dá pelo processo destas quererem se tornar
aquilo que não são, existe a vontade de se parecer com as sociedades que “deram
certo”, em relação as sociedades latino-americanas percebe-se o movimento de
importação de modelos norte americanos. Esse processo se dá pela importação de
valores e cultura, neste ponto também há importação de métodos de ensino que na
maioria das vezes não se adequam a realidade das pessoas dos países
latino-americanos (FREIRE, 1979).
Geralmente, os métodos de ensino empregados nas sociedades periféricas
falham devido ao distanciamento da realidade social onde são aplicados, e assim
ocorre o movimento de culpabilização da sociedade pela incapacidade de atender as
expectativas desses sistemas. Isso ocorre fortemente na área da educação,
contribuindo para que os educandos sintam-se incapazes de atingir o nível de
conhecimento exigido, mas não pela falha do sistema e sim pela crença de que
existe uma incapacidade própria (FREIRE, 1979).
Especificamente falando do Brasil, a educação se encontra engessada por
métodos pedagógicos que limitam a criação de saberes e formação do ser humano
como um todo, oriundos de uma construção histórica. Os impactos das negligências
em relação aos estudantes e educadores contribuem para a manutenção deste ciclo
de fracasso em atender aos sistemas de ensino importados e que não condizem
com o atual estado da sociedade Brasileira.

1.3 Desenvolvimento na Adolescência segundo Erik Erikson

Erik Erikson foi um psicanalista alemão, que desenvolveu a partir da ideias de


Freud uma sistematização do Desenvolvimento Humano durante toda a vida, devido
a isso, a teoria de Erikson é reconhecida por alguns escritores como teoria
pós-freudiana. Uma das principais diferenças entre as teorias de Erikson e Freud é
em relação a importância da sociedade, cultura e da história no processo de
formação da personalidade. Outro ponto de diferenciação entre as teoria é o de que
para Erikson o ego é uma estrutura psíquica que tem a capacidade de geradora de
autoidentidade, do autoconceito e também nos auxilia na resolução dos diversos
conflitos que surgem durante o ciclo do desenvolvimento. Para erikson o Ego
também tem a função de auxiliar que o indivíduo mantenha suas características de
personalidade frente as pressões sociais. (BARROS, 2007).
Os estágio do desenvolvimento de Erikson são conhecidos como as “Oito
idades do Homem” e para cada uma dessas idade, o autor destaca que existem
conflitos psíquicos a serem resolvidos que contribuem para a formação da
personalidade dos indivíduos (BARROS, 2007).
O estágio do desenvolvimento de Erikson que diz respeito a adolescência é
chamado de ​Identidade vs Confusão de Papéis. ​Este período ocorre dos doze aos
dezoito anos de idade e é marcado pela movimentação do adolescente em conhecer
a si mesmo. Durante os períodos de desenvolvimento anteriores, o individuo
conviveu com diferentes grupos de pessoas e adquiriu características semelhantes
das pessoas ao seu, como pais, professores e amigos. Neste estágio, Erikson diz
que ocorrerá o apice das inúmeras outras crise de identidade que o ser humano irá
passar ao longo de todo o ciclo da vida, pois o adolescente buscará renunciar a
certas características herdadas e fortalecerá outras, buscando constantemente
encontrar a si mesmo e criar uma identidade sólida que lhe seja útil para as
ocorrências do cotidiano. Nesta fase os adolescentes buscam a pertencer a grupos
de outros jovens, pois isto facilita o seu processo de encontro e há uma forte rejeição
aos valores e características que são vinculados aos pais. Socialmente também é
esperado que o adolescente se vincule a novas ideologias políticas e religiosas
(MILLER, 2002).
O processo de resolução do conflito desta fase se dará de maneira
satisfatória quando o adolescente conseguir integrar suas vivências do passado e as
experiências atuais. Munido desta relação entre o passado, presente e futuro o
adolescente deverá conseguir identificar os valores pelos quais acredita viver,
encontrar uma identidade sexual prazerosa e iniciar o processo de escolha de uma
ocupação, porém, há a possibilidade de o adolescente não conseguir ultrapassar
esta fase plenamente e a isso Erikson denominou de Difusão da Identidade
(MILLER, 2002).
Em uma entrevista para a Universidade de Houston, em 1964, Erikson
explica a contribuição da sociedade para a Difusão da Identidade, pois, segundo ele,
quando há um direcionamento dos impulsos desta fase de maneira eficaz, há menos
conflitos e quando mais livre e sem controle esta fase se desenvolve, mais difícil
será a integração dos papéis sociais que os adolescentes desempenham.
Entretanto, é importante deixar claro que em sua entrevista, Erikson também diz que
não defende que os papéis sociais sejam rigidamente pré-determinados, pois isto
acabará em excluir aqueles que não conseguirem atender as expectativas da
sociedade (MILLER, 2002).
Assim, dentro deste período de intensa pressão interna e externa cabe a nós
profissionais da Psicologia, capazes de compreender o ser humano nos seus mais
íntimos processos psíquicos identificar estratégias que auxiliem educadores a lidar
com tamanhas demandas vindas dos adolescentes, tendo sempre em mente que
não há a necessidade de controlar os impulsos, auxiliar no direcionamento de
energia para atividades que tornem esta fase mais prazerosa e produtiva, formando
adultos psiquicamente bem estruturados.

2. RELATO DAS OBSERVAÇÕES

2.1. Contexto da Observação


As observações foram realizadas na Escola Estadual de Ensino Fundamental
Brigadeiro Silva Paes, localizada na Rua Professor Clemente Pinto, nº 555, Zona Sul
de Porto Alegre. A escola funciona nos turnos da manhã e da tarde, entre os turnos
estão divididos os anos iniciais (1º ao 5º) e os anos finais (6º ao 9º). A escola conta
com 13 funcionários e 25 professores, que atendem 655 alunos em ambos os
turnos. A administração da escola é realizada por um Diretor, duas vice-diretoras,
que se dividem por turnos de aula, duas orientadoras educacionais e duas
supervisoras. A escola não possui Psicóloga Escolar, porém a Professora e
Orientadora do turno da manhã é formada em Psicopedagogia e é responsável por
atender as demandas que surgem dos alunos e professores.
A escola possui salas de aula padrão, com quadros brancos e classes
individuais para cada alunos, sala de informática, quadra de futebol e refeitório. A
biblioteca encontra-se fechada por não haver bibliotecário, o laboratório de ciências
e subsolo estão interditados pela Secretário de Educação devido a estrutura oferecer
riscos aos alunos. A escola também possui uma sala especial, chamada de sala de
recursos onde os alunos de inclusão tem suas aulas com uma professora específica.
Atualmente a escola atende 42 alunos de inclusão, diagnosticados com algum dos
transtornos que abrangem os Transtornos Globais do Desenvolvimento.

2.2. Relato das Observações

2.2.1. Aspectos Concretos das Observações


Foram realizadas observações dentro de salas de aula, durante o recreio, nos
corredores da escola e em conversas com funcionários. Foi definida, junto com a
administração da escola, uma turma específica para realizar as observações, a
sétimo ano B (7B).
Ao chegar na escola me encontrei sua grande estrutura gradeada e a quadra
principal, colorida por um grupo de voluntários, onde está escrita a frase “Se
conhecer melhor para entender o outro”. Em uma conversa com as funcionárias da
escola, este grupo de voluntários foi até a escola trabalhar o tema Empatia. A quadra
colorida em azul, rosa e branco se destaca em meio a pintura cinza da escola.
Mais próximo da entrada existe uma espécie de canteiro, que aparentemente
um dia foi colorido e com folhagens, mas hoje encontra-se desbotado e sem
manutenção. Entrando pela porta principal existe um corredor e uma grade onde fica
uma funcionária responsável por monitorá-lo. No térreo ficam as salas de aulas dos
anos iniciais, o laboratório de informática, secretaria, sala de professores,
coordenação, diretoria e no primeiro e segundo andar ficam outras salas de aula e a
biblioteca. No subsolo estão o refeitório, sala de artes e o saguão eventos, que foi
interditado devido ao risco estrutural.
Aos fundos da escola existe um grande pátio com árvores e uma quadra de
chão batido de vôlei e futebol. Ali também fica uma pequena pracinha cercada, onde
acontece o recreio dos alunos das séries iniciais, também há um pavilhão de
madeira com 5 salas de aula, que conforme a orientadora, foram as primeira salas
da escola e hoje uma destas salas é utilizada por um parceiro da escola para dar
aulas de Judô para crianças da comunidade.
As únicas cores que encontramos pela escola são as dos trabalhos expostos
pelos alunos em algumas paredes, em geral, a escola é monocromática e com
pouca iluminação nos corredores, mesmo durante o dia. Conforme relato da
Orientadora Educacional, que foi quem me guiou por uma visita na escola, não há
verba suficiente para dar conta da manutenção e devido a isso a escola tem um
aspecto de ​“mal cuidada”.
Durante as visitas e conversas com a orientadora, ela relatou que a escola
possui uma demanda referente a agressividade e, atualmente, esta é maior
​ partir desta exposição da orientadora, foi
dificuldade em administrar a escola. A
definida a turma na qual eu iria realizar as observações, que segundo ela, é uma das
“piores turmas”​ de um grupo de quatro turmas com demandas de agressividade.
Realizei as observações da turma 7B durante o recreio e sempre nos dois
últimos períodos de aula. Estive presente nas aulas de Português, História, Ciências,
Artes, Matemática, Inglês e Educação Física. Cheguei na sala de aula e as classes
estavam espalhadas de modo aleatório, conforme os grupos de afinidade da turma.
Sempre fui apresentada pelos os professores como aluna de Psicologia da Uniritter
que iria observar os alunos para realizar um trabalho, apenas a professora de
matemática permitiu que eu me apresentasse aos alunos de forma mais
descontraída. Sentei ao fundo da sala e no decorrer da aula foi procurada por
olhares curiosos, mas nenhum aluno falou comigo, mesmo eu me colocando a
disposição para eles tirarem dúvidas no final de cada aula.
Durante a maioria das aulas os alunos utilizam livros didáticos, conforme a
disciplina do período e realizavam os exercícios do próprio livro. Todos os
professores utilizavam essa metodologia, orientavam sobre o capítulo, pediam para
que os estudantes lessem os textos introdutórios e respondessem as questões.
Os estudantes se mantinham extremamente agitados durante todo o tempo,
circulando entre as classes e pedindo para irem ao banheiro diversas vezes. Em
algumas aulas ocorreram indícios de agressão entre eles, com tapas e empurrões,
mas todos em tom de brincadeira. Cada professor lidava de uma forma diferente,
alguns iam até os alunos envolvidos e os mandavam sentar, outros gritavam da sua
própria mesa para pararem com as agressões.
Independente da disciplina ou do professor a agitação e o barulho em sala de
aula eram constantes, a turma funcionava desta forma. Os professores tinham uma
postura de contenção do barulho e da agitação, pouco notei a explicação do
conteúdo. Nem mesmo o de história que, entre todos os professores observados,
mantinha uma postura mais rígida, com gritos e murros nas classes, conseguia
prender a atenção dos estudantes. Ao final de cada aula, os alunos não conseguiam
terminar as atividades e as levavam para casa e o combinado sempre era trazer na
próxima aula as atividades concluídas, o que pude perceber que, em uma turma de
24 alunos, em média 5 alunos traziam as atividades da última aula. No início de cada
nova aula, alguns dos professores concedia 5 minutos para finalizarem a atividade
pendente para prosseguirem com o conteúdo, o que também a maioria da turma não
realizava.
Os estudantes ouviam as solicitações de silêncio dos professores, mas em
minutos a sala voltava ao estado de barulho e circulação entre as classes. Um grupo
de quatro meninas era o que se mantinha distante do resto da turma, conversando
entre si. Os demais alunos conversavam sobre como realizar a atividade,
reclamavam de não saber como fazer e de não encontrar as respostas entre outras
conversas paralelas.
As aulas de Artes eram as únicas que tinham uma dinâmica diferente, os
alunos sentavam-se em pequenas ilhas de classes e professora mantinha diversas
atividades paralelas, orientando-os a fazer um pouco de cada uma durante a aula e
as mesmas ficavam em sala para que pudessem concluir ao longo das semanas.
Durante as aulas de artes os alunos mantinham-se mais calmos e
concentrados nas atividades, fazendo brincadeiras entre si e compartilhando
materiais. A professora tinha uma postura firme, porém sem demonstrar
agressividade. A sala de artes também possuía uma decoração diferente das
demais, tendo móbiles com mandalas pendurados pelo teto, trabalhos colados nas
paredes e diversas prateleiras com materiais.
2.2.2. Percepções

Desde meu primeiro contato com a escola, a turma 7B foi apresentada como
a ​“pior turma” da escola e a ​“mais difícil” de se trabalhar pela orientadora da e por
comentários de funcionários. Em nenhum momento da conversa consegui perceber
informações concretas que justificassem essas afirmações, a não ser um episódio
de briga no recreio entre um menino e uma menina e a agitação que constatei
durante as observações que se seguiram. Além das queixas em relação a turma, a
escola sempre transmitiu a impressão de estar a beira de um colapso devido a
demanda da agressividade dos alunos e que necessitavam de muita ajuda.
Após escutar as demandas da escola, passei a frequentar as aulas da turma
7B e pude perceber o quanto as metodologias de ensino não eram nem um pouco
atrativos, os professores pareciam cansados e tive a sensação de que eles eram
invisíveis em sala de aula. Os alunos da turma 7B, conforme os relatos da
Orientadora, tinham muita dificuldade em entender o que lhes era ensinado, devido a
isso ela me pediu para que quando fosse realizar alguma atividade, eu usasse uma
linguagem "fácil". Essas visão da orientadora passou a me causar estranhamento
conforme eu ia passando mais tempo dentro da sala de aula com os alunos.
Na sala de aula haviam crianças/pré-adolescentes esbanjando energia e do
outro lado havia professores cansados e desmotivados, que não viam nada além da
pior turma da escola. A escola me trouxe a sensação de desorganização, pois, foi
complicado alinhar junto as responsáveis os dias, turmas e horários de trabalho.
Todas as vezes que eu chegava na escola era preciso me apresentar e informar o
motivo da minha presença e sempre era recebida com surpresa, como se ainda não
estavam cientes que eu estaria ali pelos próximos dias.
Durante as conversas com a Orientadora percebi que existe uma grande
vontade de realizar mudanças na escola, porém, há um sentimento de que alguém
de fora deve fazer isso, como se a responsabilidade pelas demandas que surgem
fossem impossíveis de serem resolvidos pela escola e a responsabilidade não fosse
dela mesma.
Esse pensamento me veio e me fez perceber que, talvez, a dificuldade
relação a demanda da agressividade e aos alunos com baixo rendimento, esteja
vindo dessa falta de responsabilização da escola, pela falta de engajamento em
pensar juntamente com todo o grupo escolar em formas de mudar a realidade que,
segundo os relatos, é o que mais causa instabilidade na escola.
Vejo a escola como um grupo cansado, desorganizado e desmotivado em
relação as dificuldades que são apresentadas no dia-a-dia, vejo que falta uma
consciência crítica em relação ao porquê do comportamento dos alunos, ao por quê
a escola estar abandonada, ao por quê existe a dificuldade em trazer a comunidade
de pais para dentro da escola.
Essas três perguntas me guiaram durante todo meu período de estágio,
devido a elas sempre estive com um incógnita na minha mente, em que o que era
dito, não fazia concordância com que era visto e nem com o que eu sentia. Hoje,
finalizando minha escrita, percebo que se fosse possível movimentar esses
"porquês" dentro da escola, com alunos, funcionários e professores, milhares de
outras demandas iriam surgir porque a agressividade é somente o sintoma de um
sistema de negligência e acomodação muito mais complexos.

​3. RELATO DA INTERVENÇÃO

A intervenção na Escola Silva Paes foi aplicada em três dias da semana, em


um grupo de alunos da sétima série. Na ocasião também estava presente um colega
de Estágio Básico, cujo fizemos toda proposta de intervenção e aplicação juntos.
No primeiro dia intervenção propomos a confecção de um cartaz individual,
dividido em duas partes, onde os alunos responderiam as questões sobre suas
qualidades e na outra parte descreveriam quais são as seus sonhos para o futuro.
No segundo dia de intervenção buscamos trabalhar questões relacionadas a valores.
Para esta atividade solicitamos aos alunos que escolhessem três valores que os
representassem e escrevessem nos locais indicados, após cada um poderia se
assim desejasse, falar sobre os valores escolhidos e explicar o que eles
significavam.
Após o fim da atividade do segundo dia, foi necessário a modificação da
dinâmica do terceiro dia, pois surgiram demandas que, em discussão com o colega
que me acompanhava, precisavam ser mais exploradas e trabalhadas com os
alunos. A demanda trazido pelos alunos foi em torno da questão do respeito, o valor
que mais foi citado entre os alunos e segundo eles não estava presente no seu
dia-a-dia. Com isso, elaboramos a atividade de construir um cartaz sobre respeito,
onde cada aluno colocou seus valores pessoais ao redor da palavra respeito e em
seguida escreveram atitudes que contribuíram para que houvesse mais respeito
entre eles, depois disso realizamos uma roda de conversa sobre o tema.

3.1 Percepções

Ao final dos três dias de intervenção fui tomada pela alegria de saber que
estive diante de um grupo de pré-adolescentes com potenciais incríveis a serem
desenvolvidos, que falta somente alguém que os escute e os auxiliem lidar com as
diferenças de grupo.
Durante nossas rodas de conversa muitos alunos conseguiram perceber
atitudes suas que poderiam ser modificadas para que o ambiente em sala fosse
melhor, pude perceber que mesmo nas diferenças eles se reconhecem como iguais
e que o respeito é algo importante não somente em sala de aula, mas para toda a
vida. Também sai das intervenções sensibilizada pelo fato de que a escola não teve
o momento de olhar e escutar esse alunos, preocupando-se mais em marcá-los
como um problema ao invés de entender como se deu a construção da “identidade
problemática” da turma.
Percebi que existe uma negligência e desesperança em relação a estes
alunos e que não há perspectivas de mudanças em relação a demanda apresentada
enquanto a escola não passar pelo processo de escuta desde alunos. É necessária
uma mudança de pensamento, onde estes alunos passem a ser vistos com vítimas
de um sistema de educação totalmente ineficaz, vítimas de negligência social e
familiar. A turma sétimo B é vítima de uma exclusão gerada pela escola e a escola é
vítima de uma construção histórica de não valorização do seu papel na
transformação da sociedade através da educação.
4. RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA

Conforme Ribeiro (2000) a educação no Brasil vem sendo negligenciada


desdes os tempos da colonização. Da chegada dos portugueses até os dias atuais,
passou por uma série de reformas ineficazes, pois não dão conta da forte
estratificação social da sociedade brasileira, onde sempre prevalece a diferenciação
entre as classes e a educação formal de qualidade é oferecida para aqueles que
historicamente sempre tiveram as melhores condições, as chamadas elites,
enquanto o restante da população fica a mercê das constantes reformas.
Ao revisar a história pude perceber que o sentimento de desorganização
dentro da Escola Silva Paes não é uma sensação que se restringe somente a ela,
mas sim é uma consequência de uma série de medidas a nível nacional que causam
a sensação de impotência dos administradores das escolas públicas, pois a
educação no Brasil é completamente instável. Esta instabilidade está relacionada
tanto a elaboração de currículos que possam dar conta da demanda de formar seres
humanos e pela falta de investimentos no setor da educação.
A desigualdade social que acompanha nossa história conforme, explicitou
Ribeiro (2000), vem negando acesso a formação e ao trabalho de grande parte da
população e isso gera tanto criação de subempregos como o aumento da
criminalidade e pensando que a escola é o ambiente onde todas as linhas da
sociedade se cruzam, consequentemente esta violência se reflete no ambiente
escolar.
Os educadores tem uma função mais ampla do que somente a educação
formal, pois, convivem diariamente com seus educandos e talvez sejam os que mais
estão em contato com as demandas referentes ao amadurecimento dos
adolescentes.
Conforme a teoria Erickson, a adolescência é um período turbulento, onde é
esperado que haja rebeldia em relação as figuras de poder. É através dessa
negação das características de terceiros que os adolescentes selecionam e integram
as partes que mais adiante se constituirão como sua personalidade (BARROS,
2008)
Devido a essa inconstância dos jovens, fica evidente nas observações que os
professores e administradores da escola não estão prontos para lidar com estas
demandas, encarando-as apenas como mal criação e marcando estes alunos como
incapazes de serem formados.
Além da falta de preparação dos professores para lidar com as demandas
psicossociais dos alunos, uma questão muito importante é a descrença dos próprios
em relação aos saberes de seus alunos. Estes professores atuam somente
depositando conhecimento em seus alunos, ficando claro o modelo de educação
bancária tanto criticado por Paulo Freire.
Embora tenha muitas críticas em relação ao modo como agem as pessoas
dentro da escola Silva Paes, revisar a história e pensar a luz Paulo Freire me fez
compreender como é complexa a rede de falhas que cercam a educação em, visto
que a sociedade se cruza dentro da escola e a escola externaliza os sintomas da
sociedade mal administrada historicamente.
A educação é uma rede de saberes de estudantes, educadores e
comunidade, onde um não se desvincula do outro e todas experiências são
importantes para o processo de evolução do ser e da sociedade (FREIRE, 1979).
Durante o processo de observação, podemos perceber que há uma cisão entre
escola e estudantes, onde de um lado há os professores sábios e alunos
incompetentes sendo essa dicotomia a principal dificuldade da escola.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência em estar dentro de uma escola como observadora foi de um
aprendizado enormemente significativo, não somente como futura Psicóloga, mas
como pessoa. Entretanto, o sentimento que fica em relação a todo este processo de
revisão da história, estudos sobre a adolescência e o potencial de transformação da
educação é o de que não se finda aqui. Foi possível também verificar como nossas
percepções se tornam mais ricas quando nos despimos do pré-julgamento, tanto
nossos como o de terceiros sobre determinados acontecimentos. Em uma
autoavaliação sobre construção deste trabalho tive a certeza de que o assunto
Educação é muito mais complexo do que parece e envolve aspectos micro e macro
de toda a sociedade e que embora pareça um caos, sempre há uma saída para
buscar desenvolver medidas que a torne mais eficaz no processo de formação do
ser humano e da transformação social e descoberta mais incrível de todo este
trabalho é que a esperança está nos próprios estudantes, que na maioria das vezes
são esquecidos nas salas de aula. A juventude tem a energia necessária para
transformar a realidade das escolas, só é preciso dar as ferramentas para
educadores e estudantes e acredito que seja essa uma das maiores importâncias do
Psicólogo Escolar.
REFERÊNCIAS

BARROS, G. Célia. Pontos de Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: Ática,


2008.

MILLER, H. Patricia. Theories of Developmental Psychology.​ ​Nova Iorque,​ ​Worth


Publishers, 2002.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1979.

RIBEIRO, M. L. S. História da Educação Brasileira: A Organização Escolar. 18. ed.


Campinas: Autores Associados, 2000.

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