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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
RESUMO
PRADO, Camila Affonso. Responsabilidade civil dos pais pelo abandono afetivo dos
filhos menores. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Direito, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2012.
O estudo sobre o tema proposto no presente trabalho somente se tornou possível a partir da
mudança paradigmática introduzida pela Constituição Federal de 1988. Ao consagrar a
dignidade da pessoa humana como fundamento do Estado Democrático de Direito, a
Constituição Federal colocou a proteção do ser humano como valor central do
ordenamento jurídico, estabelecendo princípios norteadores do direito de família, tais como
o da solidariedade, da igualdade, do pluralismo das entidades familiares e do melhor
interesse da criança e do adolescente. É nesse contexto que surge o princípio da
afetividade, sobre o qual as relações familiares, em especial a de parentalidade, devem
estar baseadas. Trata-se, contudo, de princípio cujo conteúdo é de difícil delimitação. Isso
porque sua expressão é o afeto, usualmente entendido como sinônimo de amor, o que o
desvincularia de qualquer dever jurídico. Ocorre que o princípio da afetividade não se
relaciona à ideia de sentimento, mas à dedicação que os pais devem ter com a criação e a
formação dos filhos menores, o que se dá por meio de comportamentos pró-afetivos.
Refere-se, assim, ao cumprimento dos deveres de ordem imaterial do poder familiar, quais
sejam o de criação, educação, companhia e guarda, que efetivamente colocam os filhos sob
a proteção e o amparo dos pais. O descumprimento voluntário e injustificado desses
deveres caracteriza o abandono afetivo. Porém, se o vínculo afetivo é rompido em
decorrência da conduta do genitor guardião, que impede a convivência familiar, não há
abandono afetivo, eis que descaracterizado pela prática de alienação parental. Configurado
o abandono, questiona-se a possibilidade de se aplicar o instituto da responsabilidade civil
à relação de parentalidade. Na hipótese dos pais que abandonam afetivamente os filhos
menores é plenamente possível que todos os elementos da responsabilidade civil subjetiva
– conduta contrária à ordem jurídica, culpa, dano e nexo causal – se façam presentes,
surgindo, por conseguinte, o dever de indenizar os danos morais e materiais causados.
ABSTRACT
PRADO, Camila Affonso. Parents’ liability for young children affective abandonment.
Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo,
2012.
The study about the theme proposed in this work only became possible due to the
paradigmatic change introduced by the Federal Constitution of 1988. By approving the
human dignity as a Democratic Rule of Law foundation, the Federal Constitution set the
human being protection as the central value of the legal system, establishing principles of
family law, such as solidarity, equality, pluralism of family forms and best interest of child.
It is in this context that arises the principle of affectivity, on which family relationships,
especially the parental one, must be based. It is, however, a principle whose content is
difficult to delimit. That is because its expression is the affection, generally understood as
synonym of love, what would detach it from any legal obligation. Yet, the principle of
affectivity is not related to the idea of feeling, but to the dedication that parents must have
with the raising and development of their young children, which occurs by pro-affective
behaviors. It refers, therefore, to the fulfillment of the immaterial duties of the parental
authority, namely raising, education, company and custody, which effectively put children
under protection and support of parents. The voluntary and unjustified breach of these
duties characterize the affective abandonment. Nevertheless, if the affective bond is broken
due to the guardian behavior that forbids family relationship, there is no affective
abandonment as it results from the parental alienation. Characterized the abandonment, it is
questioned the possibility of applying the liability’s institute to the parental relationship. In
the case of affective abandonment it is entirely possible that all liability’s elements –
breach of duty, fault, damage and factual causation – be present, resulting, as a
consequence, in the duty to indemnify the moral and material damages caused.
INTRODUÇÃO
1
TJMG, Apelação Cível nº 408550-5, 7ª Câmara Cível, Rel. juiz Unias Silva, data do julgamento:
01/04/2004.
2
STJ, REsp nº 757.411-MG, Quarta Turma, Rel. Min. Fernando Gonçalves, data do julgamento: 29/11/2005.
6
afetivo propriamente dito, é preciso verificar que a sua ocorrência pressupõe a existência
de uma relação de parentalidade, sem a qual não é possível falar em abandono do filho por
um dos pais. Para tanto, examinar-se-á o conceito de filiação, bem como as suas origens,
biológica e socioafetiva. Após, analisar-se-á o poder familiar, seu conceito, características,
titularidade e, especialmente, os deveres dos pais em relação à pessoa dos filhos menores:
criação, educação, sustento, companhia e guarda. Por fim, serão estudadas quais condutas
dos pais podem configurar o abandono afetivo dos filhos, assim como se este pode ser
causa de suspensão ou destituição do poder familiar. Indaga-se, nesse sentido, se a
obrigação de natureza alimentar está relacionada ao afeto e, consequentemente, se o seu
cumprimento, por si só, descaracteriza o abandono afetivo. Os dizeres de Rodrigo da
Cunha Pereira bem demonstram o cerne da questão:
Histórias de pais “abandônicos” têm sido quase um “lugar comum”,
quase uma repetição de histórias de centenas ou milhares de crianças (...).
O pai sempre pagou pensão alimentícia ao menor. Faltou alimento para a
alma, afinal de contas, nem só de pão vive o homem3.
3
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Nem só de pão vive o Homem: responsabilidade civil por abandono afetivo.
Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=392>. Acesso em: 13/06/2010.
7
CONCLUSÃO
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