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Notas sobre a Psicopatologia

– Lição Introdutória
Antes de penetrarmos no universo da semiologia e da nosologia dos
transtornos mentais, é de absoluta relevância compreendermos estes termos.

• Semiologia: Por semiologia médica entende-se o estudo dos sintomas e


sinais das doenças, estudo este que permite ao profissional de saúde identificar
alterações físicas e mentais, ordenar os fenômenos observados, formular
diagnósticos e empreender terapêuticas. (Dalgalarrondo, 2000, p. 19).

• Nosologia: A nosologia (do grego antigo νόσος, translit. nósos): "doença" +


-λογία -logia, "estudo", de 'logos', "discurso", "tratado", "razão" [carece de
fontes]) é a ciência que trata da classificação das doenças. (Wikipédia, 2014).

O paradoxo das nosologias psicopatológicas se situa entre a etiquetagem


(rotulação, enquadramento) dos pacientes e a indispensável observação e
apreensão dos signos e dos fenômenos anteriores, presentes e posteriores a
cada “quadro” (manifestação) psicopatológico.

Psico-pato-logia
Psico -> (psychè) psiquê -> divindade que representa a alma.
Pato -> (pathos) -> paixões, aquilo que é excessivo e acomete o sujeito
passivo.
Logia -> (logos) -> conhecimento, saber
A psicopatologia é então um saber sobre as paixões da alma.
Um discurso sobre o padecer psíquico.
Objetivos da psicopatologia:
Estudar;
Compreender;
Classificar;
e Tratar o sofrimento psíquico.
Falar de psicopatologia representa um perigo de categorização e de
enquadramento do paciente a uma (única) classificação, como se fosse uma
entidade rígida, sem levar em consideração o caso a caso (a singularidade de
cada um).
O clínico, em sua prática na saúde mental, será interpelado pela dimensão
orgânica, antropológica, etnológica, ambiental, mas também cultural,
filosófica e espiritual.
O psicoterapeuta deve considerar o sujeito em sua integralidade (globalidade).

A patologia é uma maneira para, nós humanos, expressarmos nosso "Estar


Mal", diferente do "Mal Estar" comum a todos os seres humanos. Isso é de
cada um. Em suma, devemos considerar a Psicopatologia como uma ciência
"leiga".
Tal ciência tem em suas raízes a Filosofia, as Ciências Médicas e a
Psicanálise.
Em se tratando da psicopatologia, encontramos 3 (três) grandes eixos:

• A Psicopatologia Clássica
• A Psicopatologia Psicanalítica
• A Psicopatologia Organicista com base nas neurociências
Não existe uma abordagem melhor do que a outra e não há uma (unica) forma
de saber capaz de contemplar a complexidade do fenômeno humano em sua
totalidade.
A psicopatologia é uma ciência plural, o que quer dizer que os eixos ou
abordagens são complementares uns aos outros, jamais excludentes.
Cada momento histórico-social teve sua (s) psicopatologia (s), logo suas
tentativas peculiares de decompor o sofrimento psíquico.

 Séc VII ao V a.C.

Na Grécia pré-socrática , o sofrimento psíquico era um castigo dos deuses


irritados com a hybris (desmesure) dos homens.

 Séc V a.C.

Nas obras de Eurípedes a loucura se psicologiza, e tanto a sua etiologia


quanto os quadros clínicos são atribuídos às conseqüências das emoções na
vida dos homens. (Substituição do modelo mítico-teológico por um modelo
racionalista)

 Séc III a.C.


Com Hipócrates, a loucura - a perda da razão ou do controle emocional - é
entendida como um efeito do desarranjo na natureza orgânica do homem.

 Séc III a.C.

Platão dá uma visão completamente nova da psyché, ao considerá-la como


composta de três almas: uma racional, o logos, uma afetivo-espiritual e uma
terceira que seria apetitiva. Para Platão, a loucura atestaria o desarranjo no
equilíbrio das três componentes da psychê, fazendo com que a parte racional,
o logos, perdesse o controle.

 Séc V – XV

A visão medieval da loucura está intimamente associada, ou mesmo


identificada, à possessão demoníaca. Esta perspectiva ganha espaço à medida
que a hegemonia do cristianismo se impõe.

 Séc XIX – Os alienistas

Pinel publica seu "Tratado Médico-Filosófico sobre a Alienação Mental".


Obra revolucionária, o Tratado modifica radical e definitivamente a visão da
loucura e inaugura uma nova especialidade médica, que mais tarde chamar-se-
ia psiquiatria.Pinel lança mãos de descrições densas dos doentes muito através
do caráter físico e moral.Foi o primeiro a agrupar entidades mórbidas das
quais se destacavam: mania sem delírio, mania com delírio, melancolia e
demência.Ele propõe um modelo de tratamento pedagógico e corretivo para
controle do comportamento.

 Séc XIX - XX

Kraepelin e a noção de demência precoce.


Bleuler destitui a demência precoce, conceitua a esquizofrenia e a coloca no
campo das psicoses. Sob influencia de Freud, o pai da Psicanálise e
descobridor do Inconsciente, ''considerava a causa principal da doença mental
como sendo de origem orgânica, mas se interessava vivamente pelos
conteúdos dos sintomas na relação deles com os acontecimentos psicológicos
da vida do doente. O conceito de esquizofrenia foi trazido para Belo
Horizonte, no Hospital Raul Soares, pelo psiquiatra Lopes Rodrigues por
volta de 1929. Lopes Rodrigues valorizava a historia pregressa do paciente,
foi o responsável pela primeira grande revolução na assistência aos loucos
escutando abrindo as portas internas, escutando estes sujeitos e introduzindo a
ergoterapia.
Clerambault com a introdução do Automatismo Mental, Sensitivo e Motor,
assim como da Cisão do Eu. Clerambalut foi, provavelmente, a principal
influencia deLacan no campo da psiquiatria. Trabalhou muito as questões
relacionadas aos fenomenos elementares que compõem as alucinações e os
delírios. Clerambault -> apresentação de pacientes Lacan -> entrevista de
pacientes (lugar de sujeito, não se deve renunciar diante da psicose)
Jaspers, influenciado pela filosofia de Husserl, cria a Psicopatologia
Fenomenologica. Por fenômeno compreende-se tudo aquilo que é passível de
ser posto a luz. Aquilo que aparece a percepção.A Psicopatologia
Fenomenológica de Jaspers propunha ''conhecer, reconhecer, caracterizar e
analisar não só o sintoma, mas o homem e o âmbito em que se inscreve.''Para
Jaspers era ''possível abstrair algo mais, mesmo que intuitivo''.
''Não conhecemos nenhum conceito fundamental que possa conceber o
homem exaustivamente''.

Noções Gerais do
Funcionamento Cerebral

1.1 Introdução
Este capítulo visa apresentar uma visão geral do cérebro, base de estudos da
psiquiatria, oferecendo dados relevantes para um maior entendimento da
experiência e do comportamento humanos.

Consideraremos como “cérebro” apenas os hemisférios cerebrais, embora


outras estruturas façam parte do mesmo. O cérebro é o mais poderoso e
também o mais misterioso órgão do nosso corpo, sendo responsável não só
pelo comando de quase todas as funções orgânicas, como também pela função
quase subjetiva do estado de consciência.

Por que “quase subjetiva”? A resposta é que, se não existirem estruturas


neuronais responsáveis pela consciência ou se estas estiverem alteradas por
alguma patologia, não existirá o estado de consciência, como se pressupõe
necessário que ocorra em sua normalidade.
1.2 Cérebro: uma visão geral

Vimos que o cérebro, além de ser o responsável pelo comando de quase todas
as funções orgânicas, também comanda a função do estado de consciência.

As condições de consciência mais significativas são:

- ter capacidade de atenção e a possibilidade de mudá-la voluntariamente;


- ter um fluxo contínuo de percepção do meio e dos pensamentos;
- ter conhecimento de si próprio e dos outros indivíduos;
- saber o significado de um ato;
- ter capacidade de abstração, conviver ludicamente com a mesma e saber
expressá-la;
- ter condições de realizar planos para si próprio e para seus companheiros;
- ter capacidade de reconhecer, avaliar e seguir valores éticos e estéticos de
sua cultura, bem como respeitar os valores de outras;
- saber refrear e conduzir adequadamente suas necessidades instintivas mais
prementes, como as sexuais e as excretórias;
- ter condições de um conviver socialmente com seus semelhantes,
respeitando os seus limites e as suas necessidades individuais.

Observando os itens acima, separadamente ou em conjunto, podemos dizer


que os chamados “doentes mentais” não possuem essas condições de
consciência porque seus processos mentais não conseguem atingi-las.

Mas o que é um processo mental?

Fisiologicamente, podemos dizer que é o ato resultante do funcionamento dos


neurônios cerebrais, que será adequado quando esses neurônios estiverem
saudáveis e inadequado quando houver uma alteração no funcionamento
destes.

Portanto, mente ou processo mental nada mais é do que o resultado do


funcionamento dos neurônios cerebrais, ou, dizendo de outra forma, de sua
fisiologia.

É necessário esclarecer que não estamos aqui descartando ou invalidando os


processos psíquicos, mas apenas procurando demonstrar que, se não existisse
o substrato neurônico, não haveria uma manifestação psíquica, e a ação do
social sobre o indivíduo não teria importância. Basta lembrar a
indissociabilidade do paradigma do homem como um ser biopsicossocial.
Todos esses processos orgânicos, psíquicos e sociais estão embasados e
ocorrem em razão do funcionamento deste órgão poderoso que é o cérebro,
sobre o qual ainda há muito a ser descoberto.

Para que se tenha uma pequena noção da grandiosidade funcional do cérebro,


procuraremos expressá-lo em números:

Imaginando o cérebro sem as circunvoluções e as cissuras, temos uma


superfície de 1.920 cm².

Se conseguíssemos estender o cérebro, considerando as circunvoluções,


veríamos que o manto cortical que recobre toda sua superfície (córtex) possui
uma área que mede 1200 cm² em cada hemisfério.

As células da neuróglia – tecido que dá sustentação, defesa e nutrição dos


neurônios – são em cerca de 1,2 trilhões, sustentando aproximadamente 100
bilhões de neurônios.

Esta fantástica aparelhagem orgânica pesa aproximadamente 1,2 kg e tem a


capacidade de registrar 100 milhões de sensações por segundo. No estado de
vigília, produz pelo menos, 2 bilhões de impulsos nervosos por segundo
(resposta ao estímulo), façanha que não é possível de ser realizada por
qualquer computador de última geração.

Cada um dos 100 milhões de neurônios do córtex é capaz de se relacionar


com, no mínimo, 30 outros neurônios, originando-se, assim, uma rede de
fibras nervosas, que, se colocadas em fila, alcançariam o comprimento de
160.000 km. Essa rede, em razão direta do uso, está sujeita a constantes
alterações pela formação de novos colaterais, o que determina aumento de
intercomunicação.

Isto é chamado de plasticidade cerebral, isto é, a capacidade de constante


modificação funcional, podendo até mesmo serem criadas funções em áreas
que não são específicas para a mesma.

Ramón y Cajal já demonstraram, há 100 anos, que é possível aumentar a


capacidade cerebral através de estímulos e que também é possível atrofiar ou
até mesmo fazer desaparecer certa área cortical através da inativação ou do
desuso.

Os cientistas acreditam que o homem utilize apenas pouco mais de um terço


da capacidade cerebral, por falta de estimulação, treinamento e
aprendizagem.

Determinadas áreas do cérebro permanecem pouco ativas, desconhecidas e


inexploradas. Esses dados nos permitem compreender por que o
funcionamento do cérebro ainda não foi esclarecido em sua totalidade e por
que ainda há tanto a ser descoberto.

A uma conclusão, entretanto, já podemos chegar: a capacidade do cérebro é


praticamente inesgotável e mesmo se o homem vivesse 500 anos, em
condições saudáveis, ainda assim não poderia esgotar essa capacidade.

Entretanto, voltamos a afirmar que tal capacidade está diretamente relacionada


à lei do uso e do desuso de Lamarck: a estimulação e o uso a aumentam e o
desuso ou a falta de estímulos a atrofiam.

Ao longo de sua vida na Terra, o homem teve o seu sistema nervoso


gradativamente aperfeiçoado, e sua condição humana só foi possível de ser
atingida através da evolução do cérebro.

É provável que o potencial sem uso esteja à espera de processos evolutivos


humanos para entrar em funcionamento, à medida que novas condições
ambientais comecem a surgir e novos estímulos ocorram.

Por enquanto, podemos apenas afirmar que a vontade de captar novos


estímulos, ligada à aprendizagem, é o caminho para uma evolução cerebral.

1.3 – Anatomia e fisiologia do cérebro


humano - NEOCÓRTEX

Considera-se como cérebro as estruturas situadas acima do hipotálamo, ou


seja, os hemisférios cerebrais e as outras estruturas que fazem parte do
telencéfalo.

Os hemisférios cerebrais direito e esquerdo compreendem a maior parte do


cérebro, sendo unidos por um poderoso feixe de fibras – o corpo caloso – que
os inter-relaciona, tornando a mensagem captada por um hemisfério
disponível no hemisfério oposto.

O hemisfério dominante em 98% dos humanos é o esquerdo, que é o


responsável pelo pensamento lógico e pela competência comunicativa. Já o
hemisfério direito, é o responsável pelo pensamento simbólico e pela
criatividade. Nos canhotos as funções estão invertidas.

O hemisfério esquerdo é, então, lógico, objetivo, matemático, linear, com


visão convergente, entre outras características, mas todas elas sempre
relacionadas com o concreto e objetivo.

O hemisfério direito é metafórico, simbólico, artístico, musical, com visão


ampla e divergente, entre outras características, todas elas ligadas ao
simbolismo e ao abstrato.

A superfície do cérebro não é lisa. Ela apresenta saliências e reentrâncias


chamadas circunvoluções, que aumentaram gradativamente com a evolução,
sendo o homem a espécie que apresenta a maior quantidade deste
enrugamento da superfície cerebral.

A função das circunvoluções é aumentar a área do córtex, ou seja, aumentar a


área de registro e decodificação de estímulos e a capacidade de elaboração de
respostas aos mesmos.

COMPARAÇÃO FUNCIONAL ENTRE OS DOIS


HEMISFÉRIOS CEREBRAIS

1.4 – Lobos Cerebrais

O cérebro está subdivido em lobos cerebrais, que apresentam especializações


funcionais, sendo que estas funções sofrem maior aprimoramento e
especificidade em regiões que circundam as áreas de funções mais amplas.

Como exemplo, o lobo occipital (córtex occipital) tem como função a visão de
uma forma ampla. Em torno dessa área, ainda no lobo occipital, ficam as áreas
de associação visual. Assim, com a área ampla, “vejo”, e com as áreas
circundantes à mesma, “interpreto o que vejo”.

Apesar da especificidade dos lobos, a mesma é relativa, pois suas funções se


inter-relacionam funcionalmente. Assim, com o lobo frontal, “penso”, mas ao
mesmo tempo “enxergo” meu pensamento (lobo occipital), posso “sentir o
cheiro” do que penso (lobo temporal) ou até mesmo ter “sensação tátil” do
que estou pensando (lobo parietal).
Lobo Frontal
No homem, o lobo frontal sofreu uma proeminência ou um abaulamento na
parte anterior, formando a região pré-frontal. Essa região é considerada
superior, pois tem como funções a elaboração do pensamento, a capacidade de
atenção e idealização e a adequação comportamental a cada situação social ou
física. É considerada como a sede da psique.

A região pré-frontal possui grande número de fibras que a ligam o cérebro


límbico – local das emoções primitivas – e essas fibras têm como função
coibir ou censurar manifestação do límbico. Quando há lesão na área pré-
frontal, o indivíduo se comporta de uma forma primitiva, irracional e
inadequada, porque o límbico fica livre e sem censura.

Lobo Parietal
Situa-se atrás da cissura central e à frente da cissura parietoccipital. É
importante na percepção do tato, da dor e da posição dos membros. Também
integra as experiências sensoriais provenientes do corpo, permitindo perceber
o tamanho, a forma e a textura dos objetos – identificação sem visualização.
Esta, portanto, intimamente relacionado ao sensório-motor.

A parte superior do lobo parietal é fundamental para uma autoimagem


completa, ou seja, uma percepção global do próprio corpo em relação a si
mesmo ou aos estímulos que o atingem. Uma lesão nessa área pode ocasionar
alterações neurológicas estranhas, como a negação de partes do próprio corpo:
um paciente passa a vestir somente uma perna da calça e a outra não, porque
“aquela perna não existe”.

A porção parietal inferior – próxima ao lobo temporal – está envolvida com a


integração de informações sensoriais relacionadas à fala e à percepção.

Lobo Occipital
É responsável pela visão, sendo este centro localizado na região inferior e
tendo áreas de interpretação de estímulos visuais situadas em torno de si, o
que nos permite identificar a forma, a cor e o tamanho dos objetos.

Na porção mais profunda do lobo occipital, acima do tronco encefálico e do


cerebelo, está uma parte do lobo occipital que faz parte da função de
reconhecimento de fisionomias. A lesão nessa área pode causar uma reação
patológica que leva a confundir faces com objetos inanimados ou outras
manifestações bizarras, todas relacionadas a alterações de fisionomias -
prosofenosia.
Lobo Temporal
Situa-se à frente do lobo occipital e abaixo do lobo parietal. Está relacionado
com a audição, a memória e as emoções.

Também na porção temporal superior fica situada a área de expressão sensória


ou de interpretação – Wernicke -, importante para o reconhecimento da
palavra, possuindo interconexões com a área frontal da linguagem – Broca –
responsável pela articulação da palavra:

- área da expressão motora (Broca) – articulação da palavra


- área sensorial da palavra (Wernicke) – reconhecimento e interpretação da
palavra

As emoções são também mediadas pelo lobo temporal, juntamente com o


frontal, considerando-se sempre suas interligações com o sistema límbico
(emoções instintivas e irracionais), donde emergem as emoções básicas sob o
ponto de vista animal.

Áreas da Expressão

a) Área da expressão motora (Broca) – é uma área funcional que se


desenvolveu na espécie humana, sendo responsável pela capacidade de
expressão ou fala. Essa característica é a que mais diferencia a nossa espécie
das outras espécies animais. Devemos considerar como capacidade de
expressão não apenas no ato motor da fala – verbo – mas também a
capacidade de comunicação e de “expressar algo”, pois, se assim não fosse, os
surdos-mudos não teriam condições de se comunicar. Podemos expressar o
que desejamos através da mímica, do desenho ou, até mesmo de expressões
faciais. Devemos observar que todas essas ações, desde a própria fala, são
motoras. Portanto, a capacidade de expressão é uma função motora
proveniente da fisiologia da área de Broca. Essa área fica situada somente no
hemisfério esquerdo, na parte posterior inferior do lobo frontal e na parte
superior posterior do lobo temporal, logo abaixo da região inferior do lobo
parietal. Quando há lesão nessa área, ocorre a afasia motora, que é a
incapacidade de expressão, embora haja compreensão.

b) Área da expressão sensória ou interpretativa (Wernicke) – é uma área


funcional do cérebro situada na região interna medial, também no hemisfério
esquerdo. Em razão da existência das áreas de Broca e Wernicke, o hemisfério
esquerdo é considerado dominante. Contudo, essa dominância é muito
relativa, pois o hemisfério direito é dominante para outras funções, embora
subjetivas, como arte, filosofia, música, etc. Quando os estímulos captados
pelas outras áreas (visão, audição, olfato, pensamento) convergem todos para
a área de Wernicke, esta é ativada, sendo, portanto, responsável pela
interpretação geral ou global dos estímulos. Por essa razão, é considerada a
área da gnose, do conhecimento profundo ou da memória terciária. Ao atingir
a área de Wernicke, o registro se torna permanente, formando-se assim o
engrama, ou seja, a memória permanente ou o traço de memória. Para que isso
ocorra, é necessária a repetição do estímulo – facilitação sináptica – ou que o
estímulo, embora único, seja muito intenso e forte, como, por exemplo, na
ocorrência de um fato marcante ou traumático. Podemos dizer que, em
Wernicke, ficam guardadas todas as nossas recordações mais profundas, como
lembranças da infância, ocorrências marcantes, etc. Quando há lesão nessa
área, ocorre a afasia sensória, que é a incapacidade de interpretação dos
estímulos e a consequente não compreensão dos mesmos.

Curiosidade
Pierre Paul Broca e Carl Wernicke

A abordagem clínica foi utilizada de forma pioneira pelo médico francês


Pierre Paul Broca. Em um trabalho clássico, realizado por volta de 1860-70,
ele estudou o cérebro de vários pacientes afásicos (isto é, eles não conseguiam
falar; e de fato, um deles, que ficou mais famoso, era capaz de pronunciar uma
única palavra: tan). Após sua morte, Broca descobriu que o cérebro de Tan
tinha uma zona destruída por neurosífilis, a qual foi delimitada a um lado dos
hemisférios cerebrais anteriores (córtex). Esta parte do cérebro se tornou
conhecida como área de Broca e é responsável pelo controle da expressão
motora da fala. Seus estudos foram confirmados por muitos neurologistas,
incluindo John Hughlings Jackson, o prodígio dos neurologistas ingleses, que
foi capaz de confirmar a localização da afasia e sua lateralidade, e
proporcionar uma integração conceitual impressionante da localização
funcional do cérebro, através de sua teoria das hierarquias nervosas, que era
baseada na observação que o pensamento e a memória eram menos afetadas
por lesões do que as funções mais inferiores, como o controle da respiração e
da circulação.

Mais ou menos na mesma época, um neurologista alemão, Carl Wernicke,


descobriu uma área similar no lobo temporal, que, quando lesada, levava a um
déficit sensorial da linguagem, ou seja, o paciente era incapaz de reconhecer
palavras faladas, mesmo quando tivesse sua audição intacta. Wernicke
postulou que esta área (que foi nomeada em sua honra) era conectada por
sistemas de fibras nervosas à área de Broca, formando assim um sistema
complexo, responsável pela compreensão e expressão da linguagem falada.

O cérebro autopsiado de "Tan", o paciente afásico de Broca

Divisão do Córtex Cerebral em Lobos


O córtex cerebral é dividido em:

Lobos cerebrais. Vista medial (esq.); vista lateral (dir.)

Lobo frontal (localizado a partir do sulco central para frente) -


Responsável pela elaboração do pensamento, planejamento, programação de
necessidades individuais e emoção.

Lobo Parietal (localizado a partir do sulco central para trás) -


Responsável pela sensação de dor, tato, gustação, temperatura, pressão.
Estimulação de certas regiões deste lobo em pacientes conscientes, produz
sensações gustativas. Também está relacionado com a lógica matemática.

Lobo temporal (abaixo da fissura lateral) - É relacionado primariamente


com o sentido de audição, possibilitando o reconhecimento de tons específicos
e intensidade do som. Tumor ou acidente afetando esta região provoca
deficiência de audição ou surdez. Esta área também exibe um papel no
processamento da memória e emoção.

Lobo Occipital (se forma na linha imaginária do final do lobo temporal e


parietal) - Responsável pelo processamento da informação visual. Danos
nesta área promovem cegueira total ou parcial.

Lobo Límbico (ao redor da junção do hemisfério cerebral e tronco


encefálico) - Está envolvido com aspectos do comportamento emocional e
sexual e com o processamento da memória.

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