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O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural decidiu, por unanimidade, pelo tombamento do

Conjunto Histórico de Pelotas (RS). A reunião ocorreu na manhã desta terça-feira (15), na sede
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Brasília. A partir de agora,
as praças, José Bonifácio, Coronel Pedro Osório, Piratinino de Almeida, Cipriano Barcelos e o
Parque Dom Antônio Zattera, conjuntamente com a Charqueada São João e a Chácara da
Baronesa são reconhecidas como Patrimônio Cultural Brasileiro.
Praça Piratinino de Almeida, Pelotas (RS)O Conjunto Histórico de Pelotas

Quatro praças, um parque, a Chácara da Baronesa e a Charqueada São João integram o


Conjunto Histórico de Pelotas e têm significativo valor histórico, artístico e paisagístico. É essa
riqueza cultural que se deseja preservar. Dessa forma, caso aprovado pelo Conselho Consultivo
do Patrimônio Cultural, o Conjunto Histórico de Pelotas pode ser inscrito em três Livros do
Tombo: Livro do Tombo Histórico, Livro do Tombo de Belas Artes e Livro do Tombo
Arqueológico, etnográfico e paisagístico.

Uma característica particular do Conjunto Histórico de Pelotas é que, considerando o sistema


municipal de patrimônio cultural estabelecido pelo Plano Diretor de Pelotas, será
desnecessária a delimitação de poligonal de entorno, uma vez que o bem protegido pelo Iphan
está totalmente inserido nas Zonas de Preservação do Patrimônio Cultural, que após análise
verificou-se assegurar a preservação da vizinhança e ambiência da coisa tombada, nos termos
do Decreto-Lei 25/1937.

Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural

Conselho que avalia os processos de tombamento e registro é formado por especialistas de


diversas áreas, como cultura, turismo, antropologia, arquitetura e urbanismo, sociologia,
história e arqueologia. Ao todo, são 22 conselheiros, que representam o Instituto dos
Arquitetos do Brasil (IAB), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), o Conselho
Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), a Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), o
Ministério da Educação, o Ministério do Turismo, o Instituto Brasileiro dos Museus (Ibram), o
Ministério do Meio Ambiente, Ministérios das Cidades, e mais 13 representantes da sociedade
civil, com especial conhecimento nos campos de atuação do Iphan. Na ocasião da 88ª Reunião,
a nova composição do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural foi apresentada e o
antropólogo Roque Laraia se despediu de suas atividades como conselheiro, após 13 anos de
atuação como representante da sociedade civil e, posteriormente, da ABA. Ele foi relator de
importantes processos de Registro, como o Ofício das Baianas de Acarajé e o da Cachoeira de
Iauaretê – Lugar Sagrado dos Povos Indígenas dos Rios Uaupés e Papuri.

Fonte: http://portal.iphan.gov.br/rs/noticias/detalhes/4652/conjunto-historico-de-pelotas-rs-
agora-e-patrimonio-cultural-do-brasil
Em 2018, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tombou o conjunto
arquitetônico de Pelotas como Patrimônio Cultural do Brasil. No mesmo dia, reconheceu
também a tradição doceira como Patrimônio Cultural Imaterial.

Duas iniciativas foram decisivas para inserir Pelotas no ciclo positivo da preservação
sustentável: a aprovação do Inventário do Patrimônio Histórico da cidade, no ano 2000, e a
inscrição, em 2001, no Programa Monumenta, uma parceria do governo federal com a Unesco
para apoiar a educação e a preservação da paisagem histórica e cultural em cidades brasileiras.
A partir daí, tudo vem mudando.

Mais do que tombar e restaurar prédios, Pelotas está enfrentando com sucesso um desafio que
pouquíssimas cidades brasileiras conseguem vencer: a convivência entre o patrimônio histórico
e a comunidade, integrando, gerando renda e aquecendo um mercado promissor. Hoje, há
escritórios de arquitetura especializados em projetos de restauração que empregam, além dos
arquitetos, historiadores, pesquisadores, fotógrafos designers e os profissionais diretamente
envolvidos nas obras de restauração.

Para formar mão de obra especializada, tem gente dando curso de cimento penteado, estuque
e escaiola. O que é isso? Antigas técnicas construtivas utilizadas no interior dos casarões e que
permanecem vivas graças ao trabalho de artífices e restauradores.

Quando um prédio está devidamente restaurado, outra ponta desse mercado entra em ação.
São projetos comerciais e de serviços que já enxergam um grande valor em ter suas marcas
ligadas à conservação do patrimônio. Assim, lojas, restaurantes, cafés e grandes empresas de
variados segmentos vem instalando suas sedes em edifícios recuperados, muitos deles sem o
uso de dinheiro público na restauração.
Sem falar nos cerca de 40 mil visitantes, segundo estimativa da Secretaria de Turismo, que vão
a Pelotas todos os anos exclusivamente em busca dos velhos testemunhos de outros tempos.
Parece que a cidade vive um novo ciclo, no qual a riqueza edificada que os antepassados
deixaram volta a representar cultura, identidade e prosperidade.

Fonte: https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/cultura/2019/04/681712-recuperacao-
do-patrimonio-historico-de-pelotas-avanca

O Museu do Doce da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), localizado no Casarão 8 da Praça


Coronel Pedro Osório, recebeu nos últimos dias a equipe de produção e gravação da série
Conhecendo Museus. Exibida nos canais TV Brasil e TV Escola, a série terá um episódio
dedicado ao Museu do Doce.

EQUIPE de geração da série já esteve no Museu do DoceEQUIPE de geração da série já esteve


no Museu do Doce

O objetivo da série Conhecendo Museus é a divulgação dos bens e valores culturais da


humanidade democratizando o conhecimento gerado por essas instituições, além de divertir e
fomentar o surgimento de novos públicos.

A proposta tanto promove o resgate da memória brasileira – inscrita nos objetos, obras de arte
e documentos –, consolidando-a num conjunto de informações acessíveis, como colabora na
formação e no apuro da consciência crítica dos telespectadores, em particular os mais jovens.

O professor Roberto Heiden, atual diretor do Museu, avalia a importância da realização desse
programa, que vai mostrar dois patrimônios nacionais brasileiros do Museu do Doce: a própria
sede do Museu, patrimônio edificado integrado ao centro histórico de Pelotas, e a tradição
doceira do município, objeto de valorização e divulgação das atividades realizadas no âmbito
do Museu. “O programa irá colaborar com a divulgação dessas duas dimensões patrimoniais
representadas pela instituição ligada à UFPel”, observa.

Fonte: http://diariodamanhapelotas.com.br/site/tv-brasil-serie-conhecendo-museus-tera-
episodio-sobre-o-museu-do-doce/
Os marcos iniciais da virada de Pelotas com relação ao seu patrimônio ocorreram há 20 anos,
mas faz muito mais tempo que alguns pelotenses perceberam o valor inestimável de sua
história - membros da sociedade civil, políticos e pesquisadores ligados especialmente ao curso
de Arquitetura da Universidade Federal de Pelotas. O primeiro imóvel tombado pelo município
foi o Obelisco Republicano, em 1955.

Ao longo das décadas seguintes, outras iniciativas ocorreram, de forma esparsa. Até que no
ano 2000 foi aprovada, com muita polêmica, a lei do Inventário do Patrimônio Histórico da
cidade. "Depois da aprovação, muitos proprietários se sentiram punidos, mesmo com o
incentivo da isenção do IPTU para quem preservasse. Ao mesmo tempo, havia um grupo de
pessoas espalhadas por diversas áreas que estavam preocupadas com o patrimônio. Esse foi
um momento efervescente e decisivo", relembra a Secretária de Estado da Cultura, Beatriz
Araujo, que na época já atuava em projetos culturais envolvendo conservação de patrimônio
em Pelotas e que também foi Secretária de Cultura do município em duas ocasiões.

A lei que protegeu 1,7 mil imóveis em diferentes níveis possibilitou a inscrição de Pelotas no
programa Monumenta. Com seis projetos aprovados, Pelotas começou a ver, aos poucos, o seu
Centro Histórico renascer. A primeira restauração do Monumenta foi a Fonte das Nereidas, o
chafariz importado da França em 1873 para abastecer a cidade de água potável e também para
substituir o pelourinho que ficava no coração da antiga praça.

Não somente para a elaboração dos projetos, mas também para executar as obras, formou-se
um escritório do programa na cidade. Coordenado pela arquiteta pelotense Simone Neutzling,
o local chegou a reunir 35 técnicos por meio de um convênio entre a prefeitura e as
universidades. "A aprendemos muito com a empresa contratada para as obras, o que
possibilitou que todos nós pudéssemos continuar atuando em outros projetos. Foi o começo
de tudo", destaca Simone. Além de projetar o futuro dos velhos prédios, o grupo pretendia
aprender as técnicas de restauro se familiarizar com os mecanismos de viabilização financeira
de obras de conservação. Outras iniciativas para restauração de edificações, não contempladas
pelo programa Monumenta, começaram a ser vistas pela cidade, com investimento dos
herdeiros e proprietários, que aos poucos reconheciam o valor histórico do imóvel da família.

Em 2013, o PAC Cidades Históricas, outro programa do Governo Federal, injetou novo ânimo na
cidade. Dos 17 projetos apresentados, seis foram aprovados e quase todos ainda estão em fase
de execução ou licitação.

A revitalização da Praça Coronel Pedro Osório, por exemplo, estava ocorrendo enquanto a
reportagem do Jornal do Comércio circulava pelo Centro de Pelotas, entre uma entrevista e
outra. Já o majestoso Theatro Sete de Abril, o primeiro do Rio Grande do Sul, inaugurado em
1833 e há anos fechado por necessitar de reformas, está em fase de licitação para o começo
das obras.

Fonte: https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/cultura/2019/04/681712-recuperacao-
do-patrimonio-historico-de-pelotas-avanca.html
O belíssimo patrimônio edificado que renasce aos poucos nas ruas surgiu em circunstâncias
singulares que não se repetiram em nenhuma outra cidade brasileira no período. Instaladas no
final do século XVIII às margens dos arroios que ligam Pelotas à Lagoa dos Patos e ao porto de
Rio Grande, as charqueadas eram o ponto de chegada dos tropeiros que traziam rebanhos da
Campanha e da Fronteira. O gado era recebido e abatido. A carne era salgada e exposta ao sol
em mantas. O couro era beneficiado nos curtumes. É conhecida a história das águas do Arroio
Pelotas vermelhas de sangue em dias de abate. Um trabalho insalubre e sacrificante, feito
sempre pelos negros. Exportado para todo o mundo justamente para a alimentação da mão de
obra escrava que atuava em muitos países no início do século XIX, o charque se tornou uma
fonte de renda inesgotável. O historiador pelotense Mário Osório Magalhães, no livro
Opulência e Cultura na Província de São Pedro, conta que as ricas famílias dos charqueadores
tinham contato direto com o que havia de mais elevado em termos de educação, moda e
cultura na Europa. Para reproduzirem um estilo de vida semelhante à sua condição financeira,
mandaram erguer os casarões, além de espaços públicos para o entretenimento, como o
Theatro Sete de Abril e o Clube Caixeiral. Arquitetos e artistas vinham da Europa,
especialmente da Itália, para trabalhar na construção das casas dos barões do charque.

O auge deste ciclo ocorreu na segunda metade do século XIX, quando Pelotas era a principal
cidade do Sul do País e os charqueadores, os homens mais poderosos da província. O Visconde
da Graça, avô do escritor Simões Lopes Neto, chegou a emprestar quantias volumosas ao
Estado, a fundo perdido, para cobrir dívidas ou investir em obras públicas. São dessa época os
casarões mais rebuscados, em estilo eclético com influências de art nouveau e art déco. Neles
se desenvolveram técnicas importadas como a escaiola, para solução ornamental e de
acabamento de tetos e paredes.

O escritor, filósofo e professor Luís Rubira relembra que os prédios não testemunham apenas a
riqueza e o refinamento da elite. Eles também revelam a exploração e o sacrifício dos negros,
que construíam os casarões na entressafra do charque. "Uma parte desse patrimônio ainda
revela uma outra face da mesma história, que é o florescimento do comércio, especialmente
no centro da cidade. A partir de 1840 os comerciantes também edificaram suas casas com
opulência e estilo, demonstrando sua inserção na dinâmica urbana", comenta.

No final do século XIX e início do XX, alguns fatores encerraram o ciclo de prosperidade. A
abolição da escravidão e a invenção dos navios frigoríficos, que possibilitaram a exportação de
carne in natura, mataram a atividade. Pelotas tentou se industrializar e fazer crescer seu
comércio. Nunca mais, porém, experimentou um ciclo de riqueza tão intenso. Ficaram pelas
famílias os tradicionais sobrenomes. E pelas ruas os testemunhos verdadeiramente eternos de
um período curto e intenso, durante o qual Pelotas foi o centro de muitos mundos.

Guia rápido para um passeio pela cidade de Pelotas e seus locais históricos:

Praça Coronel Pedro Osório - Uma das praças mais bonitas e antigas da cidade, em seu entorno
estão grandes monumentos. Antigamente chamada de Praça da República, é citada muitas
vezes pelo escritor Simões Lopes Neto na série de crônicas Inquéritos em contraste, que
publicou na imprensa pelotense em 1913. No centro da praça está a Fonte das Nereidas.

Casa da Banha - O casarão em estilo colonial totalmente restaurado serviu como quartel para
as tropas legalistas durante a Revolução Farroupilha, em 1836. Na metade do século XIX,
abrigou um famoso açougue, o que lhe rendeu o apelido de Casa da Banha.

Casas Geminadas- Conjunto de duas casas geminadas com acesso central, construídas entre
1912 e 1913. Em sua fachada se encontra vários estilos arquitetônicos, como o art nouveau.

Castelo Simões Lopes - Erguido entre 1920 e 1922, pertenceu a Augusto Simões Lopes,
advogado, professor e político pelotense. Foi construído com características da arquitetura
medieval. Passou anos fechado, mas agora vive um empolgante processo de restauro, com a
participação intensa da comunidade, que se reúne no local aos finais de semana, em eventos
com programação cultural.

Mercado Público Central- Também localizado no Centro Histórico, foi construído na primeira
metade do século XIX e sofreu uma grande reforma no início do XX. Hoje, abriga lojas,
restaurantes e tem uma intensa programação cultural, especialmente aos finais de semana.

Grande Hotel - Majestoso prédio localizado no Centro, foi inaugurado em 1928. Hoje não
hospeda mais ninguém, funcionando apenas como hotel--escola para o curso de Hotelaria.

Casas 6 e 8 - No entorno da Praça Coronel Pedro Osório ficam essas duas lindas edificações,
que hoje abrigam o Museu da Cidade de Pelotas e o Museu do Doce. No interior dos dois
prédios é possível observar os forros trabalhados ricamente em estuque e as paredes
revestidas com escaiolas.

Solar da Baronesa- Residência da famosa sinhá Amélia de Britto Hartley, cuja personalidade se
tornou famosa em Pelotas e acabou dando nome ao casarão e ao grande terreno do entorno.

7"Nasci em uma cidade histórica, mas minha geração não sabia disso." A descoberta foi do
atual secretário de Cultura de Pelotas, Giorgio Ronna, que deixou a cidade para morar no
exterior e, quando voltou, percebeu de cara uma mudança de atitude. "As pessoas se
apossaram do patrimônio, estavam reconhecendo a história como sua. Isso ocorreu graças à
reconfiguração do espaço público, com os projetos de restauração", completa.

Para o arquiteto e especialista em iconografia, Guilherme Almeida, o maior desafio de um


projeto de conservação é fazer com que a comunidade se reconheça no patrimônio, sinta-se
parte do conjunto. A solução para isso, segundo ele, passa obrigatoriamente pela educação
patrimonial. Compreender a história e identificar em que ponto essa história coletiva toca a
trajetória individual de cada um é o segredo para engajar a sociedade. "Hoje, apesar de termos
mais informação, o tempo para descobrir um bem e salvá-lo é menor. Por isso a conservação
tem que ser um ideal de todos", salienta.

Criado há sete anos, o projeto do Dia do Patrimônio é uma das iniciativas que busca o
engajamento e a educação da sociedade para a causa da conservação. No ano passado, a
programação teve visitação gratuita em mais de 30 sítios históricos, além de oficinas, palestras
e atividades culturais. Em um ou mais dias de programação, alunos da rede pública são
incentivados a participar, formando uma nova geração preocupada com o legado histórico da
cidade.

Em 2018, os saberes e ofícios que fazem parte da cultura foram tema do Dia do Patrimônio,
seguindo uma tendência que já é visível na cidade: a preservação das técnicas construtivas. Um
exemplo disso ocorre no escritório da arquiteta Simone Neutzling, que em parceria com a
jornalista Yara Baumgarten prepara a publicação de manuais que detalham técnicas antigas
como a escaiola, o cimento penteado e o estuque, usadas hoje na restauração das edificações.
Em seu escritório, sediado em um antigo casarão, ela também planeja oferecer oficinas de
restauro, além de vender pequenas porções de matéria prima específica para cada restauração.
"Já sabemos que não basta restaurar. Temos que educar a sociedade para a preservação. E a
recuperação dessas antigas técnicas, para formar mão de obra especializada, faz parte desse
processo. Isso também cria um mercado importante, gerando renda", explica Simone.

Com o apoio da Unesco, pesquisadores e entidades conseguiram levar a cabo o inventário da


tradição doceira da região. Ficou provado que, mais do que uma reprodução dos doces
conventuais portugueses, a doçaria tradicional pelotense é única, originada no mesmo
contexto que fez surgir o majestoso patrimônio edificado.

Ao mandar toneladas de charque em navios para os engenhos do Nordeste, os charqueadores


recebiam parte do pagamento em açúcar. A mescla da tradição portuguesa com os doces
religiosos dos africanos deu origem a uma doçaria diferente, refinadíssima e digna de ser
servida em pequenas porções, nos elegantes saraus que a aristocracia frequentava.

É o antigo modo de fazer desses doces que mereceu o título de Patrimônio Cultural Imaterial,
conferido pelo Iphan. Os doces de Pelotas tradicionais também possuem um selo de
rastreamento e de Indicação de Procedência, assegurando que foram feitos de acordo com a
velha tradição que mistura as trajetórias do charque, dos salões e das cozinhas repletas de
cozinheiras negras e cadernos de receita portugueses. A próxima vez que você deixar um ninho
de fios de ovos, um pastel de Santa Clara ou um bem-casado derreter na sua boa, o faça sem
culpa. Afinal, esse doce é muito mais do que um acúmulo de calorias: é uma pequena e
deliciosa testemunha da história.
Conjunto Histórico de Pelotas é reconhecido como Patrimônio Cultural

publicada em 10 de maio de 2018, às 14h26

Charqueada São João, Pelotas (RS)


Fruto e testemunho único do ciclo econômico e cultural do charque, que ocorreu no Rio
Grande do Sul, aproximadamente de 1800 a 1900, o Conjunto Histórico de Pelotas (RS) tem
significativo valor histórico, urbanístico e artístico. Constituído por sete setores, o Conjunto
pode ganhar o título de Patrimônio Cultural Brasileiro no próximo dia 15 de maio. Caso
aprovado pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, pode ser inscrito em dois Livros do
Tombo: Livro do Tombo Histórico e o Livro do Tombo de Belas.

Praça Cipriano Barcelos, Pelotas (RS)Os Setores de Proteção correspondem às praças José
Bonifácio, Coronel Pedro Osório, Piratinino de Almeida, Cipriano Barcelos e o Parque Dom
Antônio Zattera, conjuntamente com a Charqueada São João e a Chácara da Baronesa. Juntos,
apresentam valor histórico diretamente relacionado a, pelo menos, dois momentos de
desenvolvimento econômico regional: o do charque (1800 a 1900) e o do início da
industrialização (1900 a 1930). O valor artístico está presente nos remanescentes da
arquitetura colonial luso-brasileira e da arquitetura eclética, especialmente no que diz respeito
às composições de fachada e emprego de elementos decorativos, assim como pela qualidade
dos elementos complementares e de acabamento. Já o valor urbanístico existe pela relação
entre a regularidade do traçado urbano, com a presença de espaços públicos marcados pela
intensa massa de vegetação, de equipamentos de abastecimento de água do século XIX e de
esgotamento pluvial representativo do urbanismo sanitarista do início século XX.

Todos esses bens do Conjunto Histórico apresentam uma semelhança importante:


compartilham uma história comum, em maior ou menor grau, relacionada com o ciclo do
charque. Tal atividade, exemplificada pela Charqueada São João (1810), foi significativa a ponto
de ter propiciado o surgimento e o crescimento urbano da Freguesia de São Francisco de Paula
(1812), atual cidade de Pelotas. Da mesma forma, a riqueza do charque permitiu o
desenvolvimento de uma arquitetura eclética de alta qualidade, com manifestações
significativas que chegaram às duas primeiras décadas do século XX. Em seu tempo, a
qualidade urbana e arquitetônica de Pelotas foi complementada e potencializada com ações
pioneiras de embelezamento, abastecimento e saneamento urbanos, o que pode ser
constatado pelo desenho das praças públicas, pelo conjunto de caixa d‘água e chafarizes do
século XIX e pelo urbanismo sanitarista do início do século XX.

Charqueada São João, Pelotas (RS)A Charqueada de São João

Foi construída em 1810 por Antônio José Gonçalves Chaves, natural de Vila Verde do Ouro em
Portugal. Gonçalves Chaves se instalou no Rio Grande do Sul em 1805 para trabalhar como
caixeiro, fazendo rápida fortuna, a ponto de dez anos mais tarde, ser considerado um dos
homens mais ricos da província. Foi representante dos interesses da Vila de São Francisco de
Paula na Câmara de Rio Grande, membro do Conselho Geral da Província (1828), vereador da
primeira Câmara Municipal de Pelotas (1832), e membro da Assembleia Legislativa Provincial.
Juntamente com Domingos José de Almeida, José Vieira Viana e Bernardino José Marques
Canarim, importou dos Estados Unidos, em 1832, uma máquina à vapor que permitiu o
estabelecimento da navegação entre Pelotas e Rio Grande. Em 1837, durante a Revolução
Farroupilha, estabeleceu uma charqueada em Montevidéu e, nesse mesmo ano faleceu vítima
de um naufrágio.

A charqueada está localizada à margem direita do arroio de Pelotas e dela resta apenas a
residência-sede e algumas ruínas da área de produção. É uma residência térrea com pátio
interno, formada a partir de ampliações sucessivas e que tem a forma retangular de 32.20 x
26.90 m. Em 1810, foi mandado construir uma primeira residência com cozinha em anexo. Em
uma segunda etapa, teriam sido construídas as alas leste e sul, desenhando uma espécie de
“C”, com pátio de serviço aberto ao centro. Por fim, em uma última ampliação serviu para
fechar o pátio central, através da construção de um depósito. Ao contrário das outras
residências de charqueadas, o interior mantém-se em ótimo estado de conservação. A fachada
principal tem três portas e quatro janelas do tipo guilhotina.

Fonte http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/4641

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