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Superior Tribunal de Justiça

AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.072.906 - RS (2017/0063229-5)

RELATOR : MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE


AGRAVANTE : ITAU UNIBANCO S.A
ADVOGADA : MARIA LUCIA LINS CONCEIÇÃO E OUTRO(S) - PR015348
ADVOGADOS : TERESA CELINA DE ARRUDA ALVIM E OUTRO(S) -
PR022129
ANDRÉ FONSECA ROLLER - DF020742
FERNANDO TORREÃO DE CARVALHO - DF020800
LUIZ RODRIGUES WAMBIER - RS066123A
LEONARDO TEIXEIRA FREIRE E OUTRO(S) - RS072094
EVARISTO ARAGAO FERREIRA DOS SANTOS E OUTRO(S) -
PR024498
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
EMENTA

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.


LIMITAÇÃO DE TEMPO DE ESPERA PARA ATENDIMENTO EM ESTABELECIMENTO
BANCÁRIO. OBSERVÂNCIA DA LEI LOCAL. MULTA COMINATÓRIA PARA O CASO DE
DESCUMPRIMENTO. PRETENDIDA REVISÃO DO VALOR. POSSIBILIDADE DE
REDIMENSIONAMENTO, PELO STJ, EM CASOS EXCEPCIONAIS. FIXAÇÃO EM QUANTIA
EXCESSIVA OU IRRISÓRIA. CASO EM QUE CONFIGURADA A EXORBITÂNCIA DO VALOR
DA MULTA (R$ 50.000,00), INCIDENTE EM CADA EPISÓDIO DE DESCUMPRIMENTO.
REDUÇÃO QUE SE FAZ IMPOSITIVA. AGRAVO INTERNO PROVIDO.
1. A revisão do valor cominado a título de multa para a hipótese de descumprimento da
decisão judicial demanda o revolvimento do substrato fático-probatório de que se serviram as
instâncias ordinárias no momento da fixação, providência, contudo, vedada a este Tribunal, no
âmbito do recurso especial, nos termos da Súmula 7/STJ.
2. Admite-se, contudo, a revisão do valor da multa por esta Corte Superior, em caráter
excepcional, quando constatado que a fixação se deu em quantia irrisória ou exorbitante.
3. No caso dos autos, as instâncias ordinárias, ao arbitrar a multa, não se pautaram pelos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, revelando-se excessivo o valor fixado – R$
50.000,00 (cinquenta mil reais).
4. Agravo interno provido para conhecer do agravo em recurso especial e do próprio recurso
especial a fim de dar-lhe provimento, reduzindo-se a multa para R$ 1.000,00 (mil reais) para
cada episódio de descumprimento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira


Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a
seguir, por unanimidade, dar provimento ao agravo interno, nos termos do voto do Sr. Ministro
Relator.
Os Srs. Ministros Moura Ribeiro, Nancy Andrighi, Paulo de Tarso Sanseverino e
Ricardo Villas Bôas Cueva votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 19 de outubro de 2017 (data do julgamento).

MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Relator

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RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE:

Trata-se de agravo interno interposto por Itaú Unibanco S.A. contra


decisão monocrática desta relatoria que conheceu do agravo para negar provimento
ao recurso especial assim ementada (e-STJ, fl. 476):

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TEMPO


DE ESPERA PARA ATENDIMENTO EM ESTABELECIMENTO
BANCÁRIO. 1. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
OMISSÃO. NÃO OCORRÊNCIA. 2. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE
AGIR. ARGUMENTAÇÃO COM VIÉS EM DIREITO LOCAL.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 280/STJ. ALÉM DISSO, SUA REVISÃO
ESBARRARIA NA SÚMULA 7/STJ. 3. MULTA COMINATÓRIA
APLICADA DE FORMA DESARRAZOADA. ALTERAÇÃO DO
ACÓRDÃO RECORRIDO. NECESSIDADE DE REEXAME DE FATOS
E PROVAS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. 4. AGRAVO
CONHECIDO PARA NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO
ESPECIAL.

Em suas razões, o agravante pretende a reforma da decisão agravada


ao argumento de ser excessivo o valor da multa estabelecida para o caso de
descumprimento da sentença, fixada em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), por
ofensa ao art. 461, §§ 4º e 5º, do CPC/1973 (536, § 1º, e 537 do CPC/2015), na
medida em que existem muitas variáveis que podem influenciar o tempo de espera
para o atendimento em uma agência bancária, as quais não estão previstas na lei
municipal, e que foram desconsideradas pelo Tribunal de origem. Assim, não busca o
revolvimento de aspectos fáticos da demanda, mas apenas dos elementos contidos no
acórdão recorrido.

Pleiteia, ao final, a reconsideração da decisão agravada ou sua reforma


pela Turma julgadora.

Impugnação apresentada às fls. 505-511 (e-STJ).

É o relatório.

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VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE (RELATOR):

Em melhor exame do caso, penso que o inconformismo do agravante tem


razão de ser.

A insurgência, conforme relatado, diz respeito ao valor da multa fixado


pelas instâncias ordinárias para a hipótese de descumprimento da sentença proferida
na ação civil pública. No modo de ver do Banco, mostra-se excessiva a quantia
arbitrada – R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) para cada episódio de descumprimento.

Sobre essa questão, observo que a jurisprudência do Superior Tribunal


de Justiça tem afirmado, no normal dos casos, a impossibilidade de revisão do valor
definido na origem, dada a necessidade de revolvimento do substrato fático-probatório
de que se serviram as instâncias ordinárias no momento da fixação. Assim, os
recursos especiais que veiculam esse tipo de inconformismo costumam ter a sua
admissibilidade negada sob a invocação da incidência da Súmula n. 7/STJ.

Há, no entanto, uma outra linha de entendimento nesta Corte, que admite
a revisão do valor arbitrado pelas instâncias ordinárias, em caráter excepcional,
quando verificado que a fixação se deu em bases irrisórias ou exorbitantes.

Nesse sentido:

AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO


RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. DESCUMPRIMENTO
DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. ASTREINTES. REVISÃO DO VALOR.
POSSIBILIDADE. EXORBITÂNCIA CONFIGURADA. AGRAVO
DESPROVIDO.
1. O eg. Superior Tribunal de Justiça firmou orientação de que o exame
do valor atribuído às astreintes pode ser revisto em hipóteses
excepcionais, quando for verificada a exorbitância ou o caráter irrisório
da importância arbitrada, em flagrante ofensa aos princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade.
2. In casu, o arbitramento pela Corte de origem de multa diária no valor
de R$ 2.000,00 (dois mil reais) por descumprimento de decisão judicial,
que determinou a construção de muro divisório entre os imóveis das
partes, considerando os 29 dias de descumprimento, mostrou-se
exorbitante, razão pela qual foi determinada a sua redução para R$
100,00 (cem reais) por dia.
3. Agravo interno a que se nega provimento.
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(AgInt nos EDcl no REsp n. 1.301.974/PE, Relator o Ministro Raul
Araújo, DJe 14/8/2017)

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO. DESCUMPRIMENTO DE ORDEM JUDICIAL. MULTA
COMINATÓRIA. REVISÃO DO VALOR.
1. Admite a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça,
excepcionalmente, em recurso especial, reexaminar o valor fixado a
título multa cominatória, quando ínfimo ou exagerado. Redução da
multa para adequá-la aos parâmetros da jurisprudência do STJ e aos
princípios da proporcionalidade e razoabilidade.
2. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no REsp 1.022.081/RN, Relatora a Ministra Maria Isabel Gallotti,
DJe de 13/10/2011)

No caso sob exame, as instâncias ordinárias, ao estabelecerem a multa


de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), incidente cada vez em que se caracterizar o
descumprimento da decisão, não se pautaram pelos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, estando autorizada, assim, a excepcional intervenção desta Corte.

Ante o exposto, dou provimento ao agravo interno para conhecer do


agravo e do próprio recurso especial a fim de dar-lhe provimento, ficando reduzida a
multa para R$ 1.000,00 (mil reais), aplicável em cada episódio de descumprimento.

É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

AgInt no
Número Registro: 2017/0063229-5 PROCESSO ELETRÔNICO AREsp 1.072.906 /
RS

Números Origem: 00540451120138210010 0056255474 0056494263 0056655657 01011300294361


02004231020168217000 02452738620158217000 03171159220168217000
04317871620168217000 1011300294361 2004231020168217000
2452738620158217000 3171159220168217000 4317871620168217000
540451120138210010 70065598955 70069902294 70071069215 70072215932
PAUTA: 19/10/2017 JULGADO: 19/10/2017

Relator
Exmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MÁRIO PIMENTEL ALBUQUERQUE
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
AGRAVANTE : ITAU UNIBANCO S.A
ADVOGADA : MARIA LUCIA LINS CONCEIÇÃO E OUTRO(S) - PR015348
ADVOGADOS : TERESA CELINA DE ARRUDA ALVIM E OUTRO(S) - PR022129
ANDRÉ FONSECA ROLLER - DF020742
FERNANDO TORREÃO DE CARVALHO - DF020800
LUIZ RODRIGUES WAMBIER - RS066123A
LEONARDO TEIXEIRA FREIRE E OUTRO(S) - RS072094
EVARISTO ARAGAO FERREIRA DOS SANTOS E OUTRO(S) - PR024498
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
ASSUNTO: DIREITO DO CONSUMIDOR - Irregularidade no atendimento

AGRAVO INTERNO
AGRAVANTE : ITAU UNIBANCO S.A
ADVOGADA : MARIA LUCIA LINS CONCEIÇÃO E OUTRO(S) - PR015348
ADVOGADOS : TERESA CELINA DE ARRUDA ALVIM E OUTRO(S) - PR022129
ANDRÉ FONSECA ROLLER - DF020742
FERNANDO TORREÃO DE CARVALHO - DF020800
LUIZ RODRIGUES WAMBIER - RS066123A
LEONARDO TEIXEIRA FREIRE E OUTRO(S) - RS072094
EVARISTO ARAGAO FERREIRA DOS SANTOS E OUTRO(S) - PR024498
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
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A Terceira Turma, por unanimidade, deu provimento ao agravo interno, nos termos do
voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Moura Ribeiro, Nancy Andrighi, Paulo de Tarso Sanseverino e Ricardo
Villas Bôas Cueva votaram com o Sr. Ministro Relator.

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