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Gênese do conceito a partir da Wechselwelwirkung

A gênese lógica do conceito tem um caminho longo e um caminho curto. O


caminho longo é a derivação do conceito a partir de todo o caminho da Lógica
Objetiva. Essa derivação tem uma constituição internamente teleológica na
medida em que o conceito provém de seus próprios derivados (Koch, Die Evolution,
2014: 155). Ao provir de seus produtos, o conceito vem a si mesmo como à
origem daqueles. Nisso reside o contrachoque da gênese lógica do conceito:
enquanto parece que o ser e a essência produzam o conceito, na verdade eles são
os momentos da sua autoprodução (Ferrarin, Il pensare e l’io, 2016: 98), através
da qual o conceito determinou a si mesmo como ‘poder que o pensar puro tem
de se autodeterminar’ (Kervégan, Hegel, 2008: 88). O conceito do qual fala a
Lógica não é a origem psicológica ou transcendental de seu desenvolvimento, e
sim sua origem lógica: a autoprodução e especificação de si mesmo do pensar
puro (o pensar sem pressupostos).
Koch reconstruiu a gênese curta do conceito a partir da figura da
interação (Wechselwirkung) enquanto pôr de si mesma (Koch, Die Evolution,
2014: 152-154). Na interação, que conclui a Lógica da Essência, relacionam-se
primeiro a substância ativa e a substancia passiva, segundo uma diferença que já
caiu na figura da ação e reação (efeito e contraefeito), pois cada substancia age
sobre a outra enquanto ativa e recebe a influencia causal da outra enquanto
passiva. Em si, o igualamento (Angleichung) de substancia ativa e passiva já foi
operado quando a interação põe mãos à obra. O que a interação acrescenta? A
única diferença das duas substâncias é seu estatuto de ser substância ativa e
passiva. A interação tem unicamente a disposição esse estatuto relacional. Na
interação, cada uma das duas substâncias faz da outra, que inicialmente é
passiva, a substância ativa e ipso facto faz de si mesma a substância passiva. Na
interação, portanto, o igualamento de status de ambas as substâncias é tanto
pressuposto como também primeiramente efetivado. Em si e para si, igualdade
de status e interação já estavam presentes, mas na atuação da interação
eles são propriamente postos. A interação põe a si mesma, bem como já estava
presente em si e para si; precisamente em razão disso a interação é causa sui,

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ainda que se trate paradoxalmente de uma causa sui parasitária (Koch 2014:
153), por estar já presente desde a ação e reação.
O paradoxo de uma causa sui que já precisa estar presente em si
para que possa pôr-se, é dissolvido no conceito, que deve ser o mesmo que
a interação, mas sem a sua autocontradição. Dado que o ser em si e para si e o
ser-posto são idênticos no caso do conceito, não se pode falar mais de uma causa
sui parasitária. A causa sui que é o conceito dá a si seu ser em si e para si
enquanto ela se põe, a saber, enquanto se torna visível para o pensar puro
que, de resto, é ela mesma; e seu ser em si e para si nada mais é do que seu
pôr-se, portanto, seu tornar-se visível para o pensar que ela mesma é. O
conceito é a manifestação pura dei si, sua autotransparência pura; não
sobra nada de opaco, nenhum resquício de imediato não-mediato.
A operacionalidade absoluta é autotransparência. Cabe perguntar se isso
nos ajuda a compreender com que direito Hegel a apreende como o conceito e
com que direito ele atribui ao conceito os momentos estruturais da
universalidade, da particularidade e da singularidade. No que diz respeito à
estrutura, vale considerar o que a tradição entende por conceito
independentemente de Hegel. Os conceitos são representações universais, que se
apresentam em graus diferentes de universalidade e que constituem estruturas
diairéticas de árvores, nas quais eles estão subordinados e coordenados. Assim
se torna claro que à universalidade pertence essencialmente a particularidade.
Além disso, cada conceito numa estrutura de árvore é também um conceito
singular; mas, à primeira vista, essa singularidade parece ser externa ao conceito.
No entanto, Hegel está convencido de que a singularidade de um conceito
significa sua autonomia na estrutura de árvore.
Independentemente de Hegel, o conceito dá a conhecer uma relação
ulterior com a singularidade: nas terminações da estrutura, a passagem do
universal ao singular é uma exigência inadiável. Debaixo de um conceito
universal, estão não apenas conceitos particulares (espécies), mas, de outra
maneira, também aqueles singulares que constituem seu âmbito (sua esfera de
aplicação), que, porém, por sua vez, em geral não são mais conceitos, mas, por
exemplo, coisas no espaço e no tempo. Mas Hegel destaca e valoriza o fato de que

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também os singulares enquanto tais têm forma conceitual e não se contrapõem
ao conceito como algo alheio.

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