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Pharm. Bras. ISSN.

1414-4794

Atribuições clínicas
do farmacêutico
As atribuições clínicas
do farmacêutico estão
abrindo horizontes
para o fortalecimento
da farmácia clínica,
base para a prescrição
farmacêutica e pedra
angular do processo
de consolidação da
autoridade técnica
do profissional. Elas
têm conexão com
a responsabilidade
social do farmacêutico
e podem assumir
papel estratégico na
aguardada mudança
na saúde.
Visite a página do
Conselho Federal de Farmácia
www.cff.org.br

Em nossa página, você terá acesso


às seguintes informações:
• CFF (sua história, funções, metas e objetivos; a dire- • Publicações (informações sobre as publicações técni-
toria e os conselheiros federais; as comissões e grupos cas e científicas na área farmacêutica);
de trabalho);
• Editais (licitações e eleições);
• Os CRFs (diretorias, endereços, telefones e emails);
• Consultas públicas (as matérias que se encontram
• O Cebrim Centro Brasileiro de Informações sobre me- abertas à participação do farmacêutico ou de toda a
dicamentos (Atividades, Sismed, solicitação de infor- sociedade para ser editadas.);
mações, farmácia comunitária, medicamentos novos,
nomenclatura, dissertações, artigos, livros, notícias e • Notícias (geradas no CFF e fora.);
alertas etc.); • Agenda de eventos (saiba sobre os congressos, se-
• Legislação (o Código de Ética da Profissão Farmacêu- minários, fóruns, simpósios, cursos e outros eventos
tica e todo o conjunto da legislação farmacêutica bra- farmacêuticos que serão realizados, no Brasil e fora);
sileira - leis, decretos, portarias, resoluções do CFF,
• Links (clique e terá acesso às mais importantes pági-
resoluções sanitárias, projetos de lei etc.);
nas das organizações farmacêuticas e de saúde em ge-
• Revista “Pharmacia Brasileira” (a publicação do CFF ral, do Ministério da Saúde, da Anvisa, das faculdades
está disponibilizada, também, na Internet). Visite-a; de Farmácia, entre outras). E muito mais.

O acesso é gratuito. A página é sua.


Índice

PALAVRA DO PRESIDENTE
Em artigo, o Presidente do CFF, Dr. Walter Jorge
DIRETORIA João, prevê que a prescrição farmacêutica e
Presidente:
Dr. Walter da Silva Jorge João atribuições clínicas vão para a história da profissão.
Vice-presidente:
Dr. Valmir de Santi 04
Diretor Secretário-Geral:
Dr. José Vilmore Silva Lopes Júnior
FARMÁCIA CLÍNICA
Diretor Tesoureiro:
Dr. João Samuel de Morais Meira Atribuições clínicas do farmacêutico, sim.

06
COMISSÃO DE TOMADA DE CONTAS
Dr. José Gildo da Silva (AL) Dr. Walter Jorge João,
Dr. Carlos Eduardo Queiroz de Lima (PE) Presidente do Conselho Federal
Dr. Erlandson Uchôa Lacerda (RR) de Farmácia (CFF).

PLENÁRIO
Conselheiros Federais:
Dra. Rossana Santos Freitas Spiguel - Crf-Ac ENTREVISTA COM DR. WALTER JORGE
Dr. José Gildo da Silva - Crf-Al
Dra. Karla Regina Lopes Elias - Crf-Am JOÃO, PRESIDENTE DO CFF
Dr. Carlos André Oeiras Sena - Crf-Ap
Dr. Altamiro José dos Santos - Crf-Ba As atribuições clínicas do farmacêutico são algumas
Dra. Lúcia de Fátima Sales Costa - Crf-Ce das forças mais poderosas que compõem o arsenal
Dr. Forland Oliveira Silva - Crf-Df
Dr. Gedayas Medeiros Pedro - Crf-Es de recursos de que o homem dispõe para promover
Dr. Jaldo de Souza Santos - Crf-Go
Dr. Fernando Luis Bacelar de Carvalho Lobato - Crf-Ma
a saúde física e mental da humanidade. O Presidente
Dr. Luciano Martins Rena Silva - Crf-Mg do CFF, Walter Jorge João, fala sobre o assunto em
Dra. Ângela Cristina Rodrigues Cunha Castro Lopes - Crf-Ms

11
Dr. Edson Chigueru Taki - Crf-Mt entrevista à revista PHARMACIA BRASILEIRA.
Dr. Walter da Silva Jorge João - Crf-Pa
Dr. João Samuel de Morais Meira - Crf-Pb
Dr. Carlos Eduardo de Queiroz Lima - Crf-Pe
Dr. José Vílmore Silva Lopes Júnior - Crf-Pi
Dr. Valmir de Santi - Crf-Pr Dr. Walter Jorge João, Presidente do CFF.
Dra. Ana Paula de Almeida Queiroz - Crf-Rj
Dra. Lenira da Silva Costa - Crf-Rn
Dra. Lérida Maria dos Santos Vieira - Crf-Ro
ENTREVISTA COM
Dr. Erlandson Uchôa Lacerda - Crf-Rr
Dr. Josué Schostack - Crf-Rs
DR. JOSÉ MIGUEL DO
Dr. Paulo Roberto Boff - Crf-Sc
Dra. Vanilda Oliveira Aguiar Santana - Crf-Se
NASCIMENTO JÚNIOR,
Dr. Marcelo Polacow Bisson - Crf-Sp
Dr. Amilson Álvares - Crf-To
DIRETOR DO DASF/MS
COMISSÃO DE DIVULGAÇÃO E PUBLICIDADE:
Dr. Gustavo Baptista Éboli (RS)
Dr. Márcio Antônio da Fonseca e Silva (SP)

JORNALISTA RESPONSÁVEL:
(redação, reportagens e edição)
Aloísio Brandão
RP 1.390/07/65v/DF

Estagiário de Jornalismo: Anderson Souza


FOTO: Yosikazu Maeda
Dr. Valmir de Santi,
Vice-Presidente do CFF Dr. José Miguel do Nascimento Júnior,
PROJETO GRÁFICO:
Kiko Nascimento - K&R Artes Gráficas Diretor do dasf/ms
Tel: (61) 3386-5408 / (61) 8232-7424 ARTIGO
O Vice-Presidente do CFF, Dr.
O crescimento e o
Artigos não manifestam necessariamente a
opinião da revista “Pharmacia Brasileira”, e são Valmir de Santi, explica em artigo convencimento da
de inteira responsabilidade dos seus autores. que, apesar de difíceis mensuração assistência farmacêutica
e análise, os gastos públicos com a
saúde têm aumentado. Ele chama na saúde pública
a atenção para a sinalização do O farmacêutico Dr. José Miguel
Ministério da Saúde para a inclusão do Nascimento Júnior afirma:
UMA PUBLICAÇÃO DO
CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA da farmácia clínica em várias “Não podemos avançar no SUS
somente com a compreensão de
15
SHCGN-CR 712/13, Bloco “G” – Loja 30 instâncias SUS.
Tel.: (61) 2106-6501 – Fax: 3349-6553
CEP 70760-670 – Brasília-DF
que a assistência farmacêutica é
somente logística”.
17
E-mails: ass.imprensa@cff.org.br (redação)

A Capa desta edição foi produzida


pelo editor Aloísio Brandão e pelo
ilustrador Kiko Nascimento
Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 3
Índice

ARTIGO
Mais um momento
crucial para a Farmácia 29
O Diretor Secretário-Geral do CFF, José Vílmore,
alerta os farmacêuticos para a necessidade de
assumirem os seus postos, nas farmácias, sob pena
de colocarem em risco a sociedade à qual juraram
servir com os seus conhecimentos. Não assumindo
as suas funções, os farmacêuticos estão “delegando”
Professora Zilamar Costa Fernandes:
“Eu acho que deveria haver uma o seu papel a outros profissionais não-capacitados.
revisão do item das Diretrizes que
trata da questão do estágio”.
Diretor Secretário-Geral do CFF, José Vílmore

ENSINO FARMACÊUTICO
DIRETRIZES CURRICULARES:
necessidade de ajustes ENTREVISTA COM DR. MÁRIO BORGES,
Especialista em ensino farmacêutico, AUTORIDADE EM SEGURANÇA DO PACIENTE
a professora Zilamar Fernandes
entende que as DNCs envelheceram PROGRAMA NACIONAL DE SEGURANÇA
em alguns aspectos.
25 DO PACIENTE: Um sopro de esperança

Em 2013, o Ministério da
Saúde instituiu o Programa
Nacional de Segurança do
Paciente (PNSP). É uma ação
mais enérgica para enfrentar
os eventos adversos que
ocorrem na assistência à
saúde. Saiba mais sobre o
PNSP, lendo a entrevista com
o farmacêutico mineiro Mário
Borges, uma das maiores
Código de Ética 30 autoridades brasileiras em
segurança do paciente. Dr. Mário Borges, uma das maiores

reformulado entra em vigor


autoridades brasileiras em erros de

31
medicação: “A assistência tornou-se muito
mais complexa e efetiva. Logo, mais
sujeita a erros; logo, mais perigosa”.

ARTIGO
Qualidade de vida em doadores de sangue
Artigo assinado pelos professores de Hematologia e
Citologia Clínicas da UFPB, João Samuel de Morais Meira
(aposentado), Diretor Tesoureiro do CFF, e Daniele Idalino
Janebro, conclama: “A doação de sangue é essencial para
a saúde pública, e a OMS preconiza que 3% da população
Dr. João Samuel de Morais Meira, Dra. Daniele Idalino Janebro,
Diretor Tesoureiro do Conselho Federal Professora substituta de seria o suficiente para formar um exército de doadores
de Farmácia e professor aposentado Hematologia e Citologia Clínicas
de Hematologia e Citologia Clínicas do Departamento de Ciências adequados para atender às necessidades de sangue dos

40
do Departamento de Ciências Farmacêuticas da UFPB. hospitais, no mundo”.
Farmacêuticas da Universidade Federal
da Paraíba (UFPB).

4 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


Índice

ENTREVISTA COM DR. HIGOR


GUERIM, FARMACÊUTICO
ESPECIALISTA EM SAÚDE ESTÉTICA

Um mercado forte 45
à espera do farmacêutico Farmacêutico Higor Guerim, especialista em saúde estética.

49
Dr. Josué Schostack: “Presença do farmacêutico,
no serviço de farmácia hospitalar, é sinônimo de
gestão, de controles e de qualificação técnica”.
Farmacêutico Marcus Vinícius
Um poder chamado farmácia hospitalar O Professor homenageado
Silva inaugurou sua farmácia, no
interior do Rio Grande do Norte,
onde prestará cuidados clínicos no
Instituições públicas e privadas de qualquer setor estão, cada vez Tarcísio Palhano posa à porta
do ambulatório farmacêutico ambulatório que leva o nome do
mais, submetidas a rigorosos padrões de qualidade, a protocolos e que leva o seu nome Professor Tarcísio Palhano

normas que lhe garantam aquilo que é uma exigência, no mundo


inteiro: a qualidade. Não é diferente nos hospitais.
FARMÁCIA CLÍNICA:
Grande exemplo na
ENTREVISTA COM DR. CARLOS CECY,
pequena Jucurutu 56
Jucurutu (RN) entrou para a
MEMBRO DO FÓRUM PERMANENTE MERCOSUL privilegiada lista de cidades
PARA O TRABALHO EM SAÚDE onde estão se desenvolvendo
experiências exitosas em cuidados
MERCOSUL: os gargalos da regulamentação clínicos farmacêuticos prestados em
O Mercosul avança na regulamentação do comércio e estabelecimentos particulares. Ali, o
da indústria. As regras concernentes a esses setores estão farmacêutico Marcus Vinícius Silva
praticamente concluídas. Mas o bloco continua arrastando- montou a sua Farmácia do Povo e
se para regulamentar os serviços na área da saúde. A do Aposentado Gadu, onde presta
explicação para o descompasso está, em parte, nos interesses à população serviços baseados nas
corporativos. A análise é do farmacêutico e professor Carlos atribuições clínicas farmacêuticas.
Professor Carlos Cecy representa o Cecy, que representa o CFF no Fórum Permanente Mercosul O estabelecimento conta com o
CFF no Fórum Permanente Mercosul
para o Trabalho em Saúde. Ambulatório Professor Tarcísio
52
para o Trabalho em Saúde
Palhano.

VÁRIAS
MAIS
Teste para Aids por fluido oral
será ofertado pelo SUS ENCARTE DE FARMÁCIA HOSPITALAR
O kit para realização do teste estará
disponível em todas as campanhas do Nesta edição, o encarte de Farmácia Hospitalar
“Fique Sabendo”, em serviços do SUS que traz como tema “Gestão de pessoas, na farmácia
atendem as populações vulneráveis e nas hospitalar, e serviços de saúde” (Parte II).
farmácias da rede pública. Esta e outras

58
matérias estão na seção “Várias”.

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 5


Palavra do Presidente

Prescrição farmacêutica
e atribuições clínicas:
para a história da profissão
Walter Jorge João,
Presidente do Conselho Federal de Farmácia (CFF).

Um repórter de um grande jornal perguntou-me Neste modelo, o produto é comercializado segue


se a prescrição farmacêutica, autorizada pelo Conse- a lógica do mercado, que se utiliza de ferramentas
lho Federal de Farmácia, por meio da Resolução Nº de venda, como a propaganda. Ora! Propaganda de
586, de 29 de agosto de 2013, irá acabar com a cul- medicamentos nos meios de massa é um perigo brutal
tura da automedicação do brasileiro. Respondi-lhe e as autoridades sanitárias sabem muito bem de sua
que não, assim como a prescrição médica, ao longo nocividade. Mais: o acesso restrito da população aos
de décadas, também, não a reverteu. Mas enfatizei sistemas público e privado de saúde (à consulta e à
ao jornalista a minha inteira convicção de que este prescrição médica e odontológica) igualmente con-
ato profissional contribuirá enormemente para mu- duz à automedicação.
dar a desoladora e trágica realidade associada ao uso Este quadro agrava-se, se entendermos que há
de medicamentos, marcada por interações medica- novas necessidades em saúde, a exemplo do enve-
mentosas, intoxicações e não adesão do paciente ao lhecimento da população, que requer o uso de mais
tratamento que, tantas vezes, resultam em volumosos medicamentos. Apesar de os medicamentos terem
casos de hospitalizações evitáveis e até em mortes, relevância em todas as faixas etárias, é entre os idosos
gerando transtornos aos pacientes e familiares, e im- que o seu uso é maior, porque há uma prevalência
pondo pesados ônus aos sistemas de saúde. de doenças crônicas e degenerativas relacionadas ao
Aliás, ressalto que a FDA (a agência que regula processo de envelhecimento que, no atual contexto,
medicamentos, nos Estados Unidos) está propondo é fruto da transição demográfica.
que a regulação de MIPs (medicamentos isentos de Mais de 80% dos idosos precisam tomar, no
prescrição médica) seja modificada. A Agência quer mínimo, um medicamento por dia. O uso desses pro-
um novo processo regulatório por meio do qual ela dutos está intrinsecamente relacionado à manuten-
possa reagir a novos dados sobre problemas relacio- ção de sua saúde e consequentemente ao aumento
nados ao uso desses produtos. de sua longevidade. Mas isto, por outro lado, tem um
A cultura da automedicação, no Brasil, é pro- custo: o uso simultâneo de vários fármacos predispõe
fundamente arraigada e tem origens diversas, o que à ocorrência de interações medicamentosas. Este é
torna a sua erradicação difícil. Definir alguns medica- um enorme desafio para os farmacêuticos, e parte
mentos como de venda livre já é, por si, um indutor dele será enfrentada sob a forma de prescrição farma-
cêutica, uma medida adotada pelo CFF, com grande
desta prática. O medicamento, bem social destinado
repercussão na promoção da saúde.
à manutenção da saúde e à cura de doenças, é, ainda,
tratado como mercadoria no modelo mercantilista de Esta prática terá um papel preponderante na
farmácias e drogarias que temos, no País. segurança dos usuários de medicamentos e reduzi-

4 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


Palavra do Presidente
rá custos para os sistemas de saúde, como já ocorre, As atribuições clínicas do farmacêutico consoli-
há mais de dez anos, em países desenvolvidos. Se a daram-se, já, em grande parte dos países de Primeiro
prescrição farmacêutica é boa para as populações e Mundo. No Brasil, elas passaram a reverberar, com
sistemas de saúde desses países, porque não seria boa mais intensidade, nos últimos dez anos, está se orga-
para os brasileiros? nizando como um movimento que poderá estar na
Quando, em conjunto com os profissionais e as vanguarda das mudanças aguardadas para a saúde e
instituições farmacêuticas de todo o País, o CFF trou- tem merecido a atenção das autoridades sanitárias.
xe ao debate, amplo e irrestrito, a prescrição farma- Originária do ambiente hospitalar, a farmácia
cêutica e, em seguida, a regulamentou, foi por enten- clínica, matriz da prescrição e das atribuições, che-
dê-la imprescindível e inadiável. Afinal, não se pode gam às farmácias particulares e nos estabelecimentos
prorrogar questões vitais, como a segurança de uma públicos, seguindo protocolos elaborados por organis-
população que se automedica e, em decorrência des- mos nacionais e internacionais da saúde.
sa prática, sofre todo tipo de agravos em saúde. Foi
A prescrição farmacêutica e as atribuições clíni-
uma resposta à sociedade sob a forma de cuidados
cas abrem novos horizontes para os farmacêuticos,
farmacêuticos.
para a população, a saúde e o mercado. Consolidam
O Brasil possui 175 mil farmacêuticos. Destes, a filosofia de atuação profissional junto ao paciente e
82% estão atuando nas 80 mil farmácias e drogarias terão importância decisiva na consolidação da autori-
espalhadas pelo País. É tamanha a força contida na dade técnica do farmacêutico.
capilaridade representada por esses estabelecimentos
comunitários e nos serviços prestados pelos farma- Além de regulamentar essas atividades, o CFF as-
cêuticos à população, sem burocracia, sem fila, sem sumiu o papel de fomentador do conhecimento da
marcação para atendimento. As autoridades sanitárias farmácia clínica, por meio de um curso online e da
precisam entender a magnitude desta força. Infeliz- criação de uma página na internet devotada exclusi-
mente, ela não é plenamente utilizada, o que inflige vamente ao setor. Ressalto que este esforço do Con-
pesados ônus em saúde à população, aos cofres dos selho conta com a colaboração de instituições científi-
sistemas e desequilibra toda a saúde. cas e de entidades sindicais do segmento profissional.
O curso à distância, que leva o nome de “Prescrição
É vexaminoso constatar o descompasso existente, Farmacêutica: noções gerais”, será disponibilizado,
no Brasil. O País que se prepara para assumir posições no segundo semestre de 2014.
de destaque na economia internacional (inclusive
como um dos maiores mercados farmacêuticos do O Conselho está convencido do impacto positivo
mundo) é o mesmo que possui um modelo arcaico que a prescrição farmacêutica e as atribuições clínicas
e pernicioso de farmácias. Muitas são subutilizadas causarão na saúde da população, que vive o fenô-
como estabelecimentos de saúde e estão mais identi- meno do envelhecimento e das decorrentes doenças
ficadas com as questões mercadológicas, deixando de crônicas, como a hipertensão, o diabetes, entre ou-
contribuir com a saúde pública. tras. E que levam ao uso de medicamentos (muitas
vezes, à polifarmácia) que podem desencadear vários
ATRIBUIÇÕES CLÍNICAS - Ao jornalista que me
tipos de problema.
questionou sobre a prescrição farmacêutica, eu disse
que este ato é parte de uma política muito mais com- O fenômeno da transição demográfica associado
plexa e vasta do Conselho Federal de Farmácia, com às mudanças sociais constituem gastos. E o custeio da
vistas a fortalecer as práticas clínicas profissionais. Por saúde é um dos grandes desafios para os gestores do
isto, o CFF editou, no mesmo período, a Resolução setor. Mas eles sabem que uma das chaves para a so-
Nº 585, de 29 de agosto de 2013, que regulamenta lução do problema está com os farmacêuticos. Não é
as atribuições clínicas do farmacêutico. Elas remetem exercício de futurologia, mas a prescrição farmacêuti-
aos cuidados em saúde e ao sentido de responsabili- ca e a as atribuições clínicas do farmacêutico farão de
dade social do profissional. 2013 um marco na história da profissão farmacêutica.

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 5


Farmácia Clínica

Atribuições clínicas
do farmacêutico, sim Pelo jornalista Aloísio Brandão,
Editor desta revista.

As atribuições clínicas do farmacêutico são uma Saúde). Embora esteja longe da conclusão, é possível
das forças mais poderosas que compõem o arsenal estimar que o volume da economia passe de 20%.
de recursos de que o homem dispõe para promover
O SUS vive num permanente processo de atua-
a saúde física e mental da humanidade. Em gran-
lização e expansão. Não seria diferente, considera-
de parte dos países de Primeiro Mundo, essas atri-
dos o seu gigantismo e sua complexidade. O Sistema
buições já se consolidaram. No Brasil, os ecos (um
realiza, por ano, 11 milhões de internações hospita-
pouco tardios, ressalte-se) da revolução mundial
lares, 2,3 bilhões de procedimentos ambulatoriais,
que elas desencadearam ganham novos contornos
mais de 600 milhões de consultas médicas, cerca de
e vêm gerando uma onda de ações praticadas, ora
graças ao desprendimento individual de farmacêuti- 400 milhões de exames de laboratórios e 150 mi-
cos, em suas farmácias e drogarias, ora em cuidados lhões de vacinas.
prestados dentro das equipes multiprofissionais, em Matéria publicada no jornal Folha de São Paulo
estabelecimentos públicos, seguindo protocolos ela- (digital) (http://dinheiropublico.blogfolha.uol.com.
borados por organismos nacionais e internacionais br/2013/09/26/gasto-federal-em-saude-crescera-nos
da saúde. -proximos-quatro-anos-o-que-nao-cresceu-nos-ul-
É a farmácia clínica abrindo horizontes e con- timos-dez/), no dia 26.09.13, intitulada “Gasto fe-
solidando, no País, a filosofia que faz o farmacêutico deral em saúde crescerá nos próximos quatro anos
aproximar-se do paciente, por meio dos seus cuida- o que não cresceu nos últimos dez”, diz que, sob
dos. Esta especialidade solidifica-se como a pedra pressão dos parlamentares, o Planalto já concordou
angular do processo de fortalecimento da autoridade em aumentar gradualmente, até 2017, as despesas
técnica do profissional. E mais: ela poderá assumir da União em saúde para 15% de sua receita cor-
posição estratégica na guinada histórica tão aguarda- rente líquida (a receita anual, descontados repasses
da na saúde pública brasileira, além de gerar signifi- a Estados e Municípios e fontes de recursos como o
cativa economia para os cofres dos sistemas público PIS-Pasep).
e privado de saúde.
Em 2014, o orçamento da saúde pode crescer
O CFF está realizando uma pesquisa sobre a de R$ 92 bilhões para R$ 98 bilhões. Quando os
economia que as atribuições clínicas do farmacêu- 15% da receita líquida forem atingidos, a verba
tico poderão causar para o SUS (Sistema Único de será de R$ 109 bilhões, em valores de 2014. É

6 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


Farmácia Clínica
o equivalente a 2% da renda nacional, ou seja, Embora, no Brasil, o maior interesse pela farmá-
do Produto Interno Bruto (PIB). Do total do or- cia clínica deu-se, nos anos 80, especialmente, na
çamento da Pasta da Saúde, 12,5% são alocados área hospitalar (nos Estados Unidos, ela teve início,
pelo MS com medicamentos. O Diretor do DAF na década de 60, também, no âmbito hospitalar).
(Departamento de Assistência Farmacêutica) do As atribuições clínicas constituem um vasto elenco
Ministério da Saúde, farmacêutico José Miguel do de ações profissionais que podem ser exercidas, em
Nascimento Júnior, lembra que a Saúde passou de todos os lugares e níveis de atenção, bem como em
5,8% do orçamento, em 2003, para 12,5%, em serviços públicos e privados (ver a relação das atri-
2013. O mesmo aumento, lembra Dr. Miguel, foi buições ao fim desta matéria). Quando surgiu, nos
acompanhado pelos Estados e Municípios. “O de- Estados Unidos, a farmácia clínica foi conceituada
bate sobre a assistência farmacêutica ganhou des- como área da Farmácia voltada à ciência e prática do
taque entre os gestores, quer seja pelo nível de uso racional de medicamentos na qual os farmacêu-
investimento, quer seja pela necessidade de pro- ticos prestam cuidado ao paciente, de forma a otimi-
ver acesso. Há um interesse enorme em pactuar a zar a farmacoterapia, promover saúde e bem-estar e
assistência farmacêutica”, afirma o Diretor do DAF prevenir doenças.
em entrevista à revista PHARMACIA BRASILEIRA.
Um aspecto relevante contido nos cuidados clí-
O PAPEL DO CFF - O Conselho Federal de Far- nicos é o impacto social que ele pode gerar. Esse im-
mácia (CFF) tem papel decisivo na consolidação da pacto ganha mais relevo, se forem levadas em conta
farmácia clínica. O órgão trouxe um marco a este questões, como a dificuldade de acesso da popula-
setor, ao editar a Resolução Nº 585, de 29 de agosto ção brasileira aos serviços de saúde, os problemas de
de 2013, que regulamenta as atribuições clínicas do financiamento do setor, a carência de informações
farmacêutico. A publicação da norma é o ponto alto dos pacientes em saúde em geral e, em medicamen-
da política que o CFF adotou, focalizada no fortale- tos, em especial; o uso irracional e incorreto de me-
cimento da clínica, base para a prescrição farmacêu- dicamentos.
tica autorizada pelo Conselho Federal em outra Re-
solução (a de número 586, também de 29 de agosto Por outro lado, o farmacêutico, uma autorida-
de 2013). As atribuições clínicas estão relacionadas de em medicamentos, está disponível, nas farmácias
aos cuidados à saúde e remetem ao sentido de res- particulares, e o acesso aos seus cuidados clínicos é
ponsabilidade social do farmacêutico. ágil, desburacratizado, não gera filas, não exige mar-
cação de consulta e (ainda) não tem custos para o
OS DEBATES - As Resoluções editadas pelo ór- paciente.
gão foram precedidas de um amplo - e democrático
- debate envolvendo todas as instituições representa- Mais: com o interesse que vem tendo em apro-
tivas do setor, coordenadores e professores de cursos fundar os seus conhecimentos técnicos e científicos
de Farmácia, especialistas em Farmácia Clínica, au- na clínica, o farmacêutico estará mais próximo do
toridades sanitárias e outros convidados. A primeira paciente e apto a lhe prestar um vasto elenco de
discussão aconteceu, na 1ª Oficina Sobre Serviços serviços correspondentes às suas atribuições clínicas,
Farmacêuticos em Farmácias Comunitárias, reali- fato que o tornará uma força imprescindível nas saú-
zada, em Brasília, em maio de 2012. des pública e privada.
O evento levou a Brasília 40 excelências da pro- Responsável pela implantação do primeiro Ser-
fissão farmacêutica, entre docentes da área clínica viço de Farmácia Clínica, no Brasil, em 1979, no
de cursos de Farmácia e representes de instituições Hospital Universitário Onofre Lopes (da UFRN -
científicas, sociedades científicas e associações pro- Universidade Federal do Rio Grande do Norte), em
fissionais. O Conselho quis, com o evento, produ- Natal, o professor Tarcísio Palhano, Assessor da Pre-
zir um pensamento que harmonizasse a opinião da sidência do CFF, explica assim a clínica: “A clínica
maioria acerca dos cuidados clínicos e da prescrição é o que move os cuidados farmacêuticos. É a sua
farmacêutica. essência”.

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 7


Farmácia Clínica
CFF FOMENTA A CLÍNICA - O interesse do far- controladas. Foi quando nasceu a ideia de expandir
macêutico brasileiro pela clínica tem no CFF o seu para outros profissionais, inclusive o farmacêutico, as
principal fomentador, em parceria com as institui- responsabilidades no manejo clínico dos pacientes,
ções científicas e entidades sindicais do segmento com vistas a fortalecer o cuidado.
profissional. O órgão está elaborando e disponibili-
A forma factível para se garantir o sucesso des-
zará pela Internet, no segundo semestre de 2014, o
sa experiência estava em se conceder mais atribui-
curso à distância “Prescrição Farmacêutica: noções
ções aos farmacêuticos. Os governos, então, de-
gerais”. O objetivo do Conselho é alcançar todos os
ram-lhes a autoridade para prescrever. Vale ressaltar
farmacêuticos brasileiros interessados em atuar na
que, nesses países, os farmacêuticos já tinham um
área.
papel importante na promoção da saúde, no manejo
O CFF tem toda a convicção de que as atribui- clínico e na revisão da farmacoterapia.
ções clínicas e a prescrição farmacêutica impactarão
Portanto, é de se entender que a expansão das
positivamente na saúde da população, baseado nos
atividades clínicas, em parte, ocorreu como resposta
bem-sucedidos exemplos brasileiros e nas transfor-
ao fenômeno da transição demográfica e epidemio-
mações radicais que ocorreram na saúde pública de
lógica e suas implicações na saúde pública e nas difi-
países, como Reino Unido, Austrália, Nova Zelân-
dia, Estados Unidos e Canadá, onde os farmacêuti- culdades que os setores público e privado passaram
cos exercem a prescrição, há mais de dez anos. Esta a encontrar para garantir o financiamento do setor.
certeza está mobilizando o órgão, que trabalha em A morbimortalidade relativa às doenças e
ritmo acelerado para por em marcha os projetos fo- agravos não transmissíveis e à farmacoterapia ti-
cados na área clínica. veram um enorme crescimento, repercutindo nos
PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA - Nesses países, sistemas de saúde, o que exigiu um novo perfil
as autoridades sanitárias encontraram na prescrição do farmacêutico. Esse conjunto de necessidades
farmacêutica a alternativa segura para solucionar passou a cobrar um farmacêutico mais focado no
problemas de saúde relacionados ao uso de medica- cuidado direto ao paciente, na promoção do uso
mentos e, também, resolver questões em seus siste- racional de medicamentos e de outras tecnologias
mas de saúde, principalmente, os gastos descontro- em saúde. Ou seja, o profissional contemporâneo
lados que estavam gerando prejuízos aos seus caixas. foi levado a redefinir a sua prática em conformida-
de com as necessidades dos pacientes, dos siste-
O que aconteceu foi que o envelhecimento da mas de saúde, do mercado.
população e as suas decorrentes doenças crônicas
pesaram sobre os sistemas de saúde, notadamente o FARMÁCIA CLÍNICA NO SUS - Se há, da parte
excepcional crescimento dos gastos com a farmaco- da categoria farmacêutica, um esforço organizado,
terapia empregada nessa faixa etária. Depois de ten- tendo à frente o CFF, com vistas a atuar na área clí-
tar várias alternativas, as autoridades daqueles Países nica, cresce, dentro do SUS, o pensamento de que,
avaliaram os benefícios da prescrição farmacêutica sem os cuidados clínicos do farmacêutico, as refor-
e concluíram que ela seria parte da solução do pro- mas que estão sendo implantadas no Sistema não
blema. Os governos passaram, então, a autorizar a lograrão êxito.
prescrição farmacêutica sob diferentes modelos. Um nome de peso alinhado a este pensamento
A prescrição surgiu como resultado de um pro- é o do sanitarista e professor Eugênio Vilaça Mendes.
cesso desencadeado dentro dos órgãos de saúde O mineiro Vilaça foi um dos idealizadores da pro-
daqueles países cujo foco estava centrado no des- posta de criação do SUS, aprovada pela Constituinte
locamento das ações para o paciente e para o uso que votou e aprovou a Constituição de 1988 da qual
apropriado do medicamento. As autoridades sani- uma das pérolas é o Sistema Único de Saúde, en-
tárias buscavam melhores resultados no tratamento, tendido em toda a sua complexidade, com destaque
mantendo as pessoas saudáveis ou com suas doenças para as suas funções sanitária, social e de cidadania.

8 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


Farmácia Clínica
Em 1990, a Lei 8080 dispôs sobre a organização relacionados com medicamentos. Os serviços clíni-
do SUS, o planejamento da assistência à saúde e a cos do farmacêutico poderiam prevenir grande parte
articulação interfederativa do Sistema. Em 2011, o desses problemas.
Decreto 7508 instituiu a reestruturação do Sistema e
Eugênio Vilaça apela para a necessidade de os
previu a implantação do modelo denominado Redes
gestores abandonarem o arcaico pensamento que
de Atenção à Saúde (RAS) no contexto dessa nova
privilegia a prevalência de esforços na organização
estrutura. Nas discussões sobre a nova estrutura, os
dos ciclos logísticos do medicamento, deixando de
cuidados clínicos farmacêuticos foram citados como investir na farmácia clínica. Para ele, o componente
“indispensáveis”. Mesmo porque o Decreto é ins- da farmácia clínica “tem sido relegado a um segundo
pirado no livro “As Redes de Atenção à Saúde”, de plano, no SUS, o que determina resultados econô-
autoria de Vilaça. micos e sanitários inadequados com relação ao uso
Em seu livro, o professor e sanitarista Eugênio de medicamentos”. Ele qualifica essa visão da assis-
Vilaça é categórico, ao dizer que uma das condições tência farmacêutica de “fragmentada”, o que acaba
para o sucesso da reestruturação do SUS é a implan- por refletir na visão de toda a saúde. Mas os ventos
tação da farmácia clínica no Sistema. Para ele, o futu- estão virando.
ro dos medicamentos será de insucesso, caso a assis- LISTA DAS ATRIBUIÇÕES CLÍNICAS (Resolução
tência farmacêutica não seja organizada. Argumenta Nº 585, de 29 de agosto de 2013) - São atribuições
que os gastos com o item medicamentos subirão, no clínicas do farmacêutico relativas ao cuidado à saú-
mundo, inevitavelmente, por causa da transição de- de, nos âmbitos individual e coletivo:
mográfica. E não será diferente, no Brasil.
I. Estabelecer e conduzir uma relação de
O sanitarista alerta que “em geral, o crescimen- cuidado centrada no paciente;
to dos gastos com assistência farmacêutica supera
o incremento do Produto Interno Bruto dos países, II. Desenvolver, em colaboração com os
gerando problemas de financiamento”. Cita o caso demais membros da equipe de saúde,
do Canadá, onde o gasto com medicamentos em re- ações para a promoção, proteção e re-
lação aos gastos totais de saúde subiu de 9,5%, em cuperação da saúde, e a prevenção de
1985, para 17,0%, em 2006 (CANADIAN INSTITU- doenças e de outros problemas de saú-
TE FOR HEALTH INFORMATION, 2006). de;

A população está vivendo mais, porém paga III. Participar do planejamento e da avalia-
um preço por sua longevidade, que inclui o uso de ção da farmacoterapia, para que o pa-
mais medicamentos. A preocupação do sanitarista é ciente utilize de forma segura os medi-
quanto ao manejo desses produtos e com o custeio. camentos de que necessita, nas doses,
Se o manejo continuar inadequado, os resultados se- frequência, horários, vias de administra-
rão cada vez mais danosos para a população e para ção e duração adequados, contribuindo
os cofres dos sistemas de saúde. para que o mesmo tenha condições de
realizar o tratamento e alcançar os obje-
Importa salientar que paralelamente aos efei- tivos terapêuticos;
tos benéficos, os problemas relacionados ao uso
de medicamentos são um risco à saúde com igual IV. Analisar a prescrição de medicamentos
quanto aos aspectos legais e técnicos;
gravidade que o cigarro, o álcool, o sedentarismo e
outros males. Os medicamentos são considerados a V. Realizar intervenções farmacêuticas e
quarta causa de morte prevenível, no mundo, devi- emitir parecer farmacêutico a outros
do à carência de acesso, à falta de efeito e aos efeitos membros da equipe de saúde, com o
maléficos desses produtos. Avaliações dão conta de propósito de auxiliar na seleção, adição,
que entre 40% e 54% dos pacientes acompanhados substituição, ajuste ou interrupção da
em farmácias comunitárias sofreram com problemas farmacoterapia do paciente;

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 9


Farmácia Clínica
VI. Participar e promover discussões de ca- XVIII. Pactuar com o paciente e, se necessário,
sos clínicos de forma integrada com os com outros profissionais da saúde, as
demais membros da equipe de saúde; ações de seu plano de cuidado;
VII. Prover a consulta farmacêutica em con- XIX. Realizar e registrar as intervenções far-
sultório farmacêutico ou em outro am- macêuticas junto ao paciente, família,
biente adequado, que garanta a privaci- cuidadores e sociedade;
dade do atendimento;
XX. Avaliar, periodicamente, os resultados
VIII. Fazer a anamnese farmacêutica, bem das intervenções farmacêuticas realiza-
como verificar sinais e sintomas, com o das, construindo indicadores de qualida-
propósito de prover cuidado ao paciente; de dos serviços clínicos prestados;
IX. Acessar e conhecer as informações cons- XXI. Realizar, no âmbito de sua competência
tantes no prontuário do paciente; profissional, administração de medica-
mentos ao paciente;
X. Organizar, interpretar e, se necessário,
resumir os dados do paciente, a fim de XXII. Orientar e auxiliar pacientes, cuidadores
proceder à avaliação farmacêutica; e equipe de saúde quanto à administra-
ção de formas farmacêuticas, fazendo o
XI. Solicitar exames laboratoriais, no âmbito
registro destas ações, quando couber;
de sua competência profissional, com a
finalidade de monitorar os resultados da XXIII. Fazer a evolução farmacêutica e registrar
farmacoterapia; no prontuário do paciente;
XII. Avaliar resultados de exames clínico- XXIV. Elaborar uma lista atualizada e conciliada
laboratoriais do paciente, como instru- de medicamentos em uso pelo paciente
mento para individualização da farma- durante os processos de admissão, trans-
coterapia; ferência e alta entre os serviços e níveis
de atenção à saúde;
XIII. Monitorar níveis terapêuticos de medi-
camentos, por meio de dados de farma- XXV. Dar suporte ao paciente, aos cuidadores,
cocinética clínica; à família e à comunidade com vistas ao
processo de autocuidado, incluindo o
XIV. Determinar parâmetros bioquímicos
manejo de problemas de saúde autoli-
e fisiológicos do paciente, para fins de
mitados;
acompanhamento da farmacoterapia e
rastreamento em saúde; XXVI. Prescrever, conforme legislação específi-
ca, no âmbito de sua competência pro-
XV. Prevenir, identificar, avaliar e intervir nos
fissional;
incidentes relacionados aos medicamen-
tos e a outros problemas relacionados à XXVII. Avaliar e acompanhar a adesão dos pa-
farmacoterapia; cientes ao tratamento, e realizar ações
para a sua promoção;
XVI. Identificar, avaliar e intervir nas intera-
ções medicamentosas indesejadas e cli- XXVIII. Realizar ações de rastreamento em saú-
nicamente significantes; de, baseadas em evidências técnico-
científicas e em consonância com as po-
XVII. Elaborar o plano de cuidado farmacêuti-
líticas de saúde vigentes.
co do paciente;

10 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


ENTREVISTA COM
Dr. Walter Jorge João, Presidente do Cff

A revista PHARMACIA BRASILEIRA ouviu


o Presidente do Conselho Federal de Farmácia,
Walter Jorge João, sobre as atribuições clínicas
e a prescrição farmacêutica. Para ele, o fato de o
farmacêutico buscar na farmácia clínica respostas
para as novas necessidades sociais e em saúde mos-
tra o quanto o profissional tem “atitude”.

Quando levou as atribuições clínicas e a pres-


crição farmacêutica ao centro de um debate, em
âmbito nacional, o Presidente do CFF cercou-se
de toda cautela e salientou: “A prescrição e as
atribuições só serão regulamentadas, se refletirem
a vontade da maioria dos farmacêuticos”. Dr.
Walter Jorge, então, saiu numa cruzada pelo
País, empunhando a bandeira da união entre os
profissionais e as instituições profissionais para
pregar os benefícios dos cuidados clínicos para
a saúde da população.
VEJA A ENTREVISTA
COM DR. WALTER JORGE JOÃO.
Dr. Walter Jorge João, Presidente do CFF.

REVISTA PHARMACIA BRA- profissionais nos sistemas de saú- pacientes de um plano de saúde,
SILEIRA - Dr. Walter, por que de, a mesma literatura apresenta nos Estados Unidos, resultou em
o CFF empenhou-se tanto em evidências de melhores resulta- melhoria significativa dos parâ-
aprovar a proposta de regula- dos clínicos no controle de pro- metros clínicos e em economia
mentação das atribuições clínicas blemas relacionados à segurança para o plano de saúde, na medida
do farmacêutico? do tratamento medicamentoso, a em que, para cada dólar investido
Walter Jorge João, Presi- exemplo do progresso no contro- no serviço clínico, o sistema rece-
dente do CFF - Porque temos le do diabetes, da dislipidemia e be entre 2,5 e 12 dólares de re-
plena convicção nos poderes da hipertensão, além da redução torno. Nós, também, iniciaremos
sanitário e social das atribuições da procura por serviços de emer- estudos que possam comprovar
clínicas. Vários serviços clínicos gência e do número de hospitali- cientificamente os benefícios das
prestados no âmbito da atenção zações, bem como a diminuição atribuições clínicas em pacientes
à saúde já foram descritos e ava- no tempo de internação hospita- portadores de doenças crônicas.
liados na literatura pertinente, a lar. Outro importante dado é a
qual mostra o quanto eles impac- diminuição dos eventos adversos PHARMACIA BRASILEIRA -
tam, de forma positiva, na me- relacionados a medicamentos, Como o senhor explica o novo
lhoria da qualidade do processo do índice de massa corporal e da contexto da saúde, no Brasil, e os
de uso de medicamentos e nos mortalidade. desafios que ele representa para
resultados terapêuticos. o farmacêutico?
Há um estudo que revela
Baseada em estudos que ava- que o acompanhamento farma- Walter Jorge João, Presi-
liam a contribuição dos cuidados coterapêutico oferecido a 15.000 dente do CFF - O contexto da

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 11


ENTREVISTA COM
Dr. Walter Jorge João, Presidente do Cff

saúde, no mundo - e não é dife- nimo, um medicamento por dia, agregar algum ganho a mais ao
rente, no Brasil - está passando o que predispõe à ocorrência seu salário, vende medicamen-
por profundas mudanças. A pres- de interações medicamentosas e tos, sem critério técnico e científi-
tação de cuidados em saúde está à intoxicação, por causa da di- co, deixando o paciente comple-
sendo redefinida, na tentativa de minuição das funções hepática tamente desassistido de cuidados
se buscar uma nova organização e renal dos idosos, entre outros em saúde. Assim, esse paciente é
e divisão do trabalho. Por trás dis- fatores. Aproximadamente 19% exposto a vários riscos.
to, estão a crise de financiamento das admissões hospitalares entre O balconista e o estabele-
dos sistemas de saúde e o desafio pacientes idosos tem origem nos cimento (estou me referindo às
de se assegurar o acesso a esses problemas relacionados ao uso farmácias e drogarias que não
sistemas, respeitada a questão de medicamentos. prestam assistência farmacêutica)
do custo-efetividade. Os serviços
Imagine, portanto, o quanto são peças de uma engrenagem
farmacêuticos entram, neste con-
as atribuições clínicas e a prescri- perniciosa e movida pelo interes-
texto, como um aliado da popu-
ção farmacêutica poderão contri- se econômico, sob o olhar, se não
lação e dos sistemas de saúde.
buir com a saúde da população, de aprovação, de neutralidade de
As últimas décadas trouxe- levando em conta toda esta reali- todos os Poderes da República.
ram transformações profundas ao dade que expus. Mas é preciso ficar claro que tudo
setor, a começar pelo impressio- faremos para que essa realidade
nante aumento da demanda de PHARMACIA BRASILEIRA não detenha o avanço da profis-
assistência à saúde, pela incorpo- - O farmacêutico é obrigado a são farmacêutica. Os farmacêuti-
ração de tecnologias e a susten- prescrever? cos estão a caminho de servir a
tabilidade do seu financiamento. população, e têm, para tanto, as
Veja o caso do Brasil. No País, a Walter Jorge João, Presi- suas atribuições clínicas e o ato
população cresceu para mais de dente do CFF - Ele é autorizado, da prescrição. Queremos levar
200 milhões de habitantes, se- mas não obrigado a prescrever. É mais saúde às pessoas.
gundo o último censo do IBGE isto o que dispõe a Resolução do
CFF. A farmácia não é lugar ape-
(Instituto Brasileiro de Geografia
nas para se vender medicamento.
e Estatística), divulgado, em agos-
PHARMACIA BRASILEIRA - É, antes de tudo, um estabeleci-
to de 2013, e as dificuldades de
Fale sobre a relação das farmácias mento de saúde onde as pessoas
financiamento do setor são críti-
com os seus clientes. têm o direito assegurado por lei
cas. Por outro lado, a população
a receber cuidados clínicos far-
está envelhecendo e, desse pro- Walter Jorge João, Presi- macêuticos. Os benefícios destes
cesso, decorre o aumento das dente do CFF - A realidade, hoje, cuidados são muitos e estão cita-
doenças crônicas. é muito cruel. Sessenta e quatro dos na literatura internacional.
A transição demográfica por cento das pessoas que vão
constitui uma nova necessidade às farmácias não procuram o far- PHARMACIA BRASILEIRA -
em saúde. Cerca de 80% dos ido- macêutico. Infelizmente, é assim. Por que o CFF levou as propostas
sos tem pelo menos uma doen- O critério que elas adotam para de regulamentação das atribui-
ça crônica. Significa dizer que é decidir por um ou outro estabele- ções clínicas e da prescrição a
maior a necessidade de esses pa- cimento é o menor preço e não a tantos debates?
cientes usarem mais de um medi- busca pelo cuidado profissional.
Walter Jorge João, Presi-
camento, sem se perder de vista a O resultado dessa condu- dente do CFF - Porque o CFF,
promoção do uso racional destes
ta completamente equivocada desde que começamos a falar em
produtos.
é que esses pacientes acabam atribuições clínicas e em prescri-
Vale ressaltar que mais de sendo atendidos pelo balconista ção farmacêutica, entendeu que
80% dos idosos utilizam, no mí- que, movido pelo interesse em os assuntos deveriam ser profun-

12 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


ENTREVISTA COM
Dr. Walter Jorge João, Presidente do Cff

atribuições e a prescrição farma- ção à saúde. As reuniões da OMS


cêutica? de Nova Delhi (1988), de Tóquio
(1993), de Vancouver (1997) e de
Walter Jorge João, Presi-
Haia (1998) discutiram o assunto.
dente do CFF - Claro. Aliás, to-
das as matérias aprovadas pelo Em Tóquio, a OMS pro-
nosso Plenário refletem as reco- duziu um documento histórico
mendações de organismos na- intitulado “Boas práticas em far-
cionais e internacionais de saú- mácias hospitalares e comunitá-
de. A Lei Federal Nº 8.080/90, rias”. O documento, publicado,
que dispõe sobre as condições em 1995, ressalta a importância
para a promoção, proteção do papel do farmacêutico na
e recuperação da saúde, a reorganização dos serviços de
organização e o funcionamento saúde. O documento especifica
dos serviços correspondentes como missão da prática farma-
e dá outras providências, cêutica “promover medicamen-
estabelece, em seus artigos 6º e tos e outros produtos e serviços
damente debatidos e somente 7º, “que a assistência terapêutica relacionados à atenção à saúde
seriam instituídas, se fossem por e farmacêutica deve ser garantida e ajudar os indivíduos e a so-
consenso da categoria. O CFF, integralmente aos cidadãos ciedade a utilizá-los da melhor
em momento algum, pretendeu brasileiros, de acordo com o maneira possível”.
impor aos farmacêuticos as atri- princípio da integralidade de
buições clínicas e a prescrição. assistência”. O texto acrescenta que “um
Por isto, as Resoluções foram serviço farmacêutico amplo com-
Noutras palavras, a Resolu- preende atividades que visem a
frutos de um amplo processo de ção Nº 586/13 está em conso-
discussões entre êuticos. Por isto, garantir uma boa saúde e preven-
nância com a referida Lei Orgâ- ção de doenças na população”.
também, elas foram objetos de nica e com a Política Nacional de
consultas públicas. Portanto, os serviços clínicos vin-
Assistência Farmacêutica, aprova- culados diretamente ao paciente,
As atribuições clínicas e a da pela Resolução do Conselho à família e à comunidade estão
prescrição farmacêutica não são Nacional de Saúde Nº 338/04. consonantes com o que reco-
matérias de confrontação, mas de Ao conceituar a assistência menda a OMS.
colaboração com os outros pres- farmacêutica, a Resolução
338/04 contempla as ações vol- No Brasil, o Ministério da
critores. O processo de institui-
tadas à promoção, proteção e Saúde publicou as “Diretrizes
ção das mesmas foi absolutamen-
recuperação da saúde, tanto in- para estruturação de farmácias
te democrático para que, desta
dividual quanto coletiva, tendo no âmbito do Sistema Único de
forma, pudéssemos construir um
o medicamento como insumo Saúde”. Esse documento apre-
pensamento comum que tradu-
essencial com vistas à promoção senta os serviços farmacêuticos
zisse a complexidade técnica e
do acesso e do seu uso racional. assistenciais ou clínicos como in-
científica, bem como o alcance
tegrados aos serviços de saúde e
social e sanitário dessas ações. Estamos em consonância,
prevê que eles devem garantir a
Este processo teria que refletir o também, com as diretrizes da
efetividade, a segurança da tera-
pensamento da maioria. OMS (Organização Mundial da
pêutica e sua avaliação, obtenção
Saúde) e da FIP (Federação Far-
e difusão de informações sobre
PHARMACIA BRASILEIRA - macêutica Internacional). Essas
medicamentos e saúde.
O CFF esteve em consonância, instituições internacionais reco-
também, com os organismos de mendam um novo papel para o Não é só. Em 2010, o Mi-
saúde, ao debater e aprovar as farmacêutico no sistema de aten- nistério da Saúde volta com duas

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 13


ENTREVISTA COM
Dr. Walter Jorge João, Presidente do Cff

outras publicações em que rei- paciente resultante de suas ações


tera a importância dos serviços no cuidado em saúde. E este
clínicos farmacêuticos no siste- processo não necessariamente
ma público. No Caderno 25 da resulta do diagnóstico nosológi-
Atenção Básica, ao se referir às co de doenças nem pressupõe a
doenças respiratórias crônicas, indicação do uso de medicamen-
a publicação recomenda que os tos.
serviços farmacêuticos sejam di-
A prescrição farmacêutica
recionados ao paciente. Cita a
refere-se ao ato de selecionar a
dispensação e o acompanhamen-
conduta mais apropriada, duran-
to farmacêutico entre os serviços.
te a provisão de serviços. Prescre-
A mesma publicação men- ver é recomendar, é indicar algo “As atribuições
ciona como atribuições comuns ao paciente baseado em suas
a todos os integrantes da equipe
clínicas e a prescrição
necessidades de saúde e dentro
multiprofissional o acolhimen- do contexto clínico. Recomendar
farmacêutica não
to humanizado, a educação em que uma pessoa hipertensa ou são matérias de
saúde, a notificação ao serviço de diabética mude os seus hábitos confrontação, mas de
farmacovigilância, o acompanha- de vida, incluindo em sua rotina colaboração com os
mento contínuo e a realização de a prática de exercícios físicos e a
visita domiciliar.
outros prescritores”
redução da ingestão de açúcar,
(Walter Jorge João,
E mais: o Qualifar SUS pre- gordura e sal são exemplos de Presidente do CFF).
vê, em seu eixo de cuidados, ações, no campo da educação
“inserir a assistência farmacêutica em saúde, em que o farmacêuti-
nas práticas clínicas, visando à re- co não prescreve medicamentos.
solutividade das ações em saúde, Mas é uma prescrição farmacêu-
otimizando os benefícios e mi- tica, entendendo-a em sua com-
nimizando riscos relacionados à plexidade e inteireza.
farmacoterapia”. E olha que não
falei, ainda, sobre o apelo que o PHARMACIA BRASILEIRA -
sanitarista e um dos idealizadores O senhor pode repetir a resposta
do SUS, Eugênio Vilaça, fez, no que deu a um jornal, quando este
sentido de que os gestores in- lhe perguntou se a prescrição far-
cluam a farmácia clínica no SUS. macêutica vai extinguir a cultura
de medicamentosas, como into-
da automedicação?
xicações, não adesão do paciente
PHARMACIA BRASILEIRA - Walter Jorge João, Pre- ao tratamento, uso irracional de
Prescrição farmacêutica ou pres- sidente do CFF - A prescrição medicamentos, falta de informa-
crição de medicamentos? farmacêutica certamente não irá ção sobre o uso correto do medi-
Walter Jorge João, Presi- reverter a cultura da automedica- camento e sobre saúde em geral,
dente do CFF - O termo correto ção do brasileiro, do mesmo jei- entre outros problemas que resul-
é prescrição farmacêutica e não to que a prescrição médica não tam em hospitalizações evitáveis
prescrição de medicamentos. Há a reverteu. Mas a prescrição far- e em mortes, gerando transtornos
uma distinção muito clara entre macêutica terá muito a contribuir aos pacientes e causando prejuí-
um termo e outro. A prescrição para mudar o quadro relacio- zos aos sistemas público e priva-
farmacêutica é um conjunto de nado ao uso de medicamentos. do de saúde.
recomendações documentadas Este quadro é marcado por vários
que um farmacêutico fornece ao problemas relacionados ao uso

14 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


Artigo

Dr. Valmir de Santi, Vice-Presidente do CFF

Custeio da saúde pública


e farmácia clínica
Valmir de Santi,
Vice-Presidente do CFF.
E-mail: santivalmir@gmail.com

N ão é tarefa fácil mensurar e analisar os gastos


públicos com a saúde. Múltiplo e complexo,
o custeio do setor é um labirinto de trânsito e com-
A qualificação dos profissionais que atuam na
saúde, como os farmacêuticos; a reorientação que o
Ministério da Saúde vem fazendo, organizando a as-
preensão complicados. Mudanças nas formas de cál- sistência farmacêutica pública em todas as instâncias,
culos, imprecisão de dados e outros problemas caem criando programas, todos eles de alto impacto sanitá-
num imbróglio, quando se esmiúça as contas do setor. rio e social, focalizados na facilitação do acesso da po-
Mas uma coisa é certa: os gastos do Governo com a pulação aos medicamentos, como o Farmácia Popular
saúde têm aumentado, ainda que insuficientemente do Brasil e Aqui tem Farmácia Popular; implantando
para atender plenamente a demanda da população. e expandindo o SAMU (Serviço de Atendimento Mó-
Chamo a atenção para a sinalização do Ministério da vel de Urgência) e o Programa Saúde da Família, com
Saúde para a inclusão da farmácia clínica em várias foco na prevenção e na atenção básica, são alguns
instâncias Sistema. exemplos dos novos paradigmas do setor.

Contudo, não se deve observar apenas o aumen- Esses programas revelam uma saúde que, aos
to dos recursos, mas, sim, as mudanças empreendidas poucos, vai abandonando o eixo paradigmático e
no SUS (Sistema Único de Saúde), nos últimos dez equivocado da medicalização, das práticas estrita-
anos, frutos de uma nova orientação sanitária e social. mente curativas e avança para o fortalecimento da
Grande parte dos programas vinculados a essa nova atenção básica que contempla a promoção e a pro-
abordagem com que o Governo trata a área abre es- teção da saúde, sem deixar de buscar a prevenção.
paços importantes para a atuação dos farmacêuticos. Lembro o médico sanitarista e um dos pais do
Eu diria mais: muitos desses programas só lograrão êxi- projeto do SUS (Sistema Único de Saúde), Sérgio Arou-
to, se incluírem os serviços clínicos dos farmacêuticos. ca, para quem o modelo que vigorava, no País, estava

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 15


Artigo
“falido”, exatamente porque estava fixado na “medica- atribuições clínicas, além de assegurar o uso correto,
lização da vida”, segundo palavras do próprio Arouca. evitando possíveis interações, buscar a adesão do pa-
O saudoso sanitarista fez a seguinte declaração: “Te- ciente ao tratamento, entre outras ações.
mos que entrar no coração desse SUS desumanizado e
E, sempre, na perspectiva do uso racional dos
medicalizado e resgatar a promoção da saúde”.
medicamentos. É, desta forma, que os serviços clí-
As novas ações ministeriais, resultantes de uma nicos farmacêuticos reduzem os problemas relacio-
compreensão mais integral e mais social da saúde pelas nados ao uso de medicamentos, as hospitalizações
autoridades sanitárias, marcham nesse sentido. Mas é evitáveis e outros prejuízos que correm o caixa já
preciso apressar a inserção plena dos serviços clínicos minguado do SUS.
farmacêuticos na saúde pública (e, também, no siste-
Um bom começo dessa estratégia já está aconte-
ma privado), porque esses serviços vão exatamente ao
cendo, em São Paulo, onde a Secretaria Municipal de
encontro dessas transformações em curso.
Saúde publicou Portaria reconhecendo o farmacêuti-
Para tanto, urge que a assistência farmacêutica co como um dos prescritores dentro do SUS. A partir
seja estruturada, em todos os níveis – e principalmen- desse passo, o farmacêutico vai ter mais condições de
te nos Municípios, que é a ponta onde estão os cida- exercitar seus conhecimentos em favor dos pacientes,
dãos -, para que não se perca este momento positivo envolvendo-se mais no acompanhamento e na inter-
por que passa o setor. E faço um alerta: todas estas venção sobre problemas de saúde afetos à sua capaci-
conquistas poderão ruir, se os cuidados farmacêuti- dade e formação. Ganha a população paulistana, que
cos, prestados à luz da clínica, não forem disponibili- terá um profissional à altura de suas necessidades.
zados aos indivíduos e à coletividade.
Lembro palavras do Diretor do DAF/MS (Depar-
Outro sanitarista e par de Sérgio Arouca na cons- tamento de Assistência Farmacêutica) do Ministério
trução do projeto do SUS, o dentista e professor Eu- da Saúde, Dr. José Miguel do Nascimento Júnior, ditas
gênio Vilaça, diz que é errado atribuir apenas ao item em uma entrevista à revista PHARMACIA BRASILEI-
financiamento todas as mazelas da saúde. Alerta que RA, nesta edição. Segundo ele, “não podemos avan-
aumentar os recursos, pura e simplesmente, é “fazer çar no SUS somente com a compreensão de que a
mais do mesmo”. assistência farmacêutica é somente logística”.
Quando eu informo, aqui, que o custeio da saúde Esta declaração ganha uma importância maior,
aumentou, não estou afirmando que ele se encontra porque é um representante do Ministério da Saúde
em patamares desejáveis. De forma alguma. O ideal reconhecendo que a assistência é mais que logística.
seria que o custeio chegasse a 10% das receitas cor- Ela está vinculada à clínica e, por conseguinte, ao cui-
rentes brutas da União. Pelo menos esta foi a vontade dado do farmacêutico prestado diretamente ao pa-
popular manifestada pelo Movimento Saúde + 10. ciente. Lembremos, ainda, as ações de educador em
saúde do farmacêutico, capazes de mudar hábitos de
Eu concordo com o Ex-Ministro da Saúde, José
vida de pessoas diabéticas ou hipertensas, melhoran-
Gomes Temporão, também, sanitarista do grupo do
do, assim, a sua qualidade de vida.
Arouca, quando diz que o SUS tem muitos inimigos e
que não é fácil detectá-los. Mas citou a judicialização Avançamos, sim, na saúde. Mas precisamos de
da saúde como um deles. Outros inimigos, segundo um Congresso mais sensível, ainda, às questões da
Temporão, são a medicalização, que força a incorpo- saúde, para aprovar matérias essenciais relacionadas
ração de tecnologias de modo acrítico, a defesa orto- ao setor. Faltou exatamente sensibilidade para ouvir
doxa de uma estrutura de Estado que já não dá conta os clamores populares e aprovar, na íntegra, o Saúde
dos desafios da gestão contemporânea, a visão arrai- + 10, garantindo recursos que tirariam o setor da as-
gada (e equivocada) de que saúde se confunde com fixia em que se encontra.
assistência médica.
Ainda é tímida a participação dos serviços clíni-
Aproveito para acrescentar que não adianta o cos do farmacêutico no SUS, mas programas de alto
Sistema ter acesso à mais moderna tecnologia e aos alcance sanitário e social estão sendo implementados,
medicamentos do porvir, se faltar o farmacêutico para com vistas a abrir portas para a inclusão da farmácia
dizer como devem ser utilizados. Não adianta ter alo- clínica no Sistema. Não se está pedindo nada demais,
cação de mais recursos se, no SUS, faltar o farmacêu- nem se faz, aqui, apologia ao corporativismo. Os ser-
tico para garantir a aquisição, armazenamento e dis- viços farmacêuticos são uma das vigas-mestras do con-
pensação corretas do medicamento; para, com suas junto da saúde. Sem eles, o sistema desmorona-se.

16 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


ENTREVISTA
COM DR. JOSÉ MIGUEL DO NASCIMENTO JÚNIOR,
DIRETOR DO DASF/MS

Dr. José Miguel do Nascimento Júnior, Diretor do dasf/ms

O crescimento e o
convencimento da assistência
farmacêutica na saúde pública
Pelo jornalista Aloísio Brandão,
Editor desta revista.

O processo de inclusão da assistência farma-


cêutica na saúde pública, com foco na far-
mácia clínica, está deixando a morosidade para im-
para consubstanciar as transformações em curso no
SUS (Sistema Único de Saúde). “Não podemos avan-
çar no SUS apenas com a compreensão de que a as-
primir um ritmo mais acelerado ao seu movimento. sistência farmacêutica é somente logística”, afirma o
O novo desempenho tem a ver com a criação do Diretor do DAF/MS, Dr. José Miguel do Nascimento
DAF (Departamento de Assistência Farmacêutica e Júnior, farmacêutico.
Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde - DAF/ Em entrevista à revista PHARMACIA BRASILEI-
MS). O órgão vê a farmácia clínica como condição RA, José Miguel reforça que “a assistência farma-

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ENTREVISTA
COM DR. JOSÉ MIGUEL DO NASCIMENTO JÚNIOR,
DIRETOR DO DASF/MS

cêutica é transversal às políticas públicas de saúde no SUS, não se fala mais em dispensário e, sim, em
e visa a proporcionar aos usuários um atendimento farmácias; não se fala ou se escreve profissional habi-
integral, seja por meio do acesso e qualidade dos litado e, sim, farmacêutico”.
produtos farmacêuticos, seja em termos do processo
O debate sobre assistência farmacêutica, segun-
de atenção à saúde, com garantia da continuidade
do o dirigente do DAF/MS, ganhou destaque entre
do cuidado”.
os gestores, quer seja pelo nível de investimento,
Ele acrescenta ser fundamental que a assistência quer pela necessidade de prover o acesso. “Há um
farmacêutica na atenção básica esteja estruturada interesse enorme em pactuar a assistência farmacêu-
para atingir esse propósito. “Neste contexto, é im- tica”, garante José Miguel.
prescindível que os serviços de gestão e cuidado far-
Graduado em Farmácia Bioquímica pela Uni-
macêutico estejam claramente incorporados como
versidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especia-
um componente essencial nas políticas farmacêuti-
lista e mestre em Saúde Pública pela mesma institui-
cas locais”, pede o Diretor do DAF/MS. Lembra que
ção, Dr. José Miguel é membro do Conselho Gestor
a estruturação da assistência farmacêutica no SUS
do Programa Farmácia Popular do Brasil, tem expe-
adquiriu a condição de estratégia para o aumento e
riência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em
a qualificação do acesso da população aos medica-
assistência farmacêutica. Foi Presidente do Conselho
mentos.
Regional de Farmácia de Santa Catarina, nos anos de
Nesta entrevista, Dr. José Miguel do Nascimen- 1989, 2003 a 2009 e Professor da Universidade do
to Júnior ressalta a importância que a assistência Vale do Itajaí (SC), de 1995 a 2012. VEJA A ENTRE-
farmacêutica adquiriu no contexto da saúde pública. VISTA COM O FARMACÊUTICO JOSÉ MIGUEL DO
Resultado disto, de acordo com ele, é que, “hoje, NASCIMENTO JÚNIOR, DIRETOR DO DAF/MS.

PHARMACIA BRASILEIRA tência farmacêutica na Rede de de atuar em serviços de saúde


- Dr. Miguel, a saúde pública Atenção à Saúde, por meio da clí- que estão sendo reestruturados
passa por ajustes, com vistas a nica farmacêutica nos pontos de e em sistemas informatizados
reforçar o princípio da “Saúde atenção à saúde, abriga serviços de gestão da assistência farma-
para todos” que norteia o SUS de orientação do uso racional de cêutica, com apoio da gestão
(Sistema Único de Saúde). Vá- medicamentos, com a finalidade local. Já mostramos nosso valor
rios projetos estão em discus- de obter resultado concreto na na gestão. Agora, chegou o mo-
são; outros, em curso, como o efetividade do tratamento, visan- mento de contribuirmos com o
Redes de Atenção à Saúde, e há do a atingir objetivos terapêuticos cuidado às pessoas. Tenho con-
toda uma expectativa de que o desejados. vicção de que faremos muito
Sistema incorpore mais serviços bem este novo papel.
A clínica farmacêutica de-
farmacêuticos, inclusive na área
senvolve-se em um contexto
clínica. Como o senhor explica PHARMACIA BRASILEIRA -
de atividade interdisciplinar da
a nova saúde que está sendo A atenção básica e a promoção à
equipe de saúde, interface ne-
construída? E que papel ela re- saúde são os eixos da nova saúde
cessária para a garantia da inte-
serva ao farmacêutico? coletiva. As práticas clínicas e a
gralidade do cuidado em saúde.
Farmacêutico José Miguel Essa prática exigirá do farmacêu- gestão, ambas prestadas pelo far-
do Nascimento Júnior, Diretor tico a capacitação profissional e macêutico, estão contempladas
do DAF/MS - A inserção da assis- a perseverança, com o objetivo nesses eixos?

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ENTREVISTA
COM DR. JOSÉ MIGUEL DO NASCIMENTO JÚNIOR,
DIRETOR DO DASF/MS

“Não podemos avançar no SUS somente


com a compreensão de que a assistência
farmacêutica é somente logística”
(Dr. José Miguel do Nascimento Júnior, Diretor do DASF/MS).

Portanto, é fundamental tem Farmácia Popular” e “Farmá-


que a assistência farmacêutica na cia Popular”?
atenção básica esteja estruturada
Farmacêutico José Miguel
para atingir esse propósito. Neste
do Nascimento Júnior - Creio
contexto, é imprescindível que
que, de uma forma geral, a am-
os serviços de gestão e cuidado
pliação do número de farmácias
farmacêutico estejam claramente
e drogarias com farmacêuticos
incorporados como um compo-
presentes e as práticas de aten-
nente essencial nas políticas far-
ção farmacêutica desenvolvi-
Farmacêutico José Miguel macêuticas locais.
das, em algumas delas, demons-
do Nascimento Júnior - A aten- Assim, o DAF vem buscando tram que a luta pela farmácia
ção básica, caracterizada por um fortalecer as atividades interseto- enquanto estabelecimento de
conjunto de ações de saúde nos riais conjuntamente com outras saúde deve ser uma das nossas
âmbitos individual e coletivo, áreas do Ministério da Saúde e grandes bandeiras.
abrange não somente a pro- em especial com o Departamen-
to de Atenção Básica. Esse é um Se observarmos os avanços
moção à saúde e a proteção da
debate importante e contínuo obtidos, seja do ponto de vista da
saúde, mas também a preven-
que estamos fazendo no MS. Não atualização de normas, seja pela
ção de agravos, o diagnóstico,
podemos avançar no SUS somen- capacitação do profissional far-
o tratamento, a reabilitação, a
te com a compreensão de que a macêutico para atuar nesta área,
redução de danos e a manuten-
assistência farmacêutica é apenas fica evidente que trilhamos um
ção da saúde. Deve ser desen-
logística. caminho correto. Muito há por
volvida, por meio do exercício
se fazer, mas não podemos negar
de práticas de cuidado e ges- Nas redes, estamos presentes que muito foi feito.
tão, sob a forma de trabalho em nos pontos de atenção, fazendo
equipe, e dirigidas a populações promoção da saúde, promoção As entidades representativas
de territórios definidos. do uso racional de medicamen- da categoria, bem como a Anvisa
tos; atuando, de modo articula- e o MS, possuem, ainda, desafios
A assistência farmacêutica é em prol dos usuários dos medi-
do, com as equipes de saúde. A
transversal às políticas públicas camentos, os quais tenho certe-
clínica farmacêutica se destaca,
de saúde, e visa a proporcionar nesse contexto, e vem sendo za de que serão atingidos. Neste
aos usuários um atendimento compreendida pelos demais ato- sentido, o Programa Farmácia
integral, seja por meio do aces- res políticos do SUS. Popular e seus estabelecimentos
so e qualidade dos produtos far- credenciados não podem ser vis-
macêuticos, seja em termos do PHARMACIA BRASILEIRA - tos de forma isolada desta ação
processo de atenção à saúde, O Ministério da Saúde está satis- maior. A busca da qualificação
com garantia da continuidade feito com a participação dos far- dos serviços prestados pelas far-
do cuidado. macêuticos nos programas “Aqui, mácias e drogarias parceiras do

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damental neste caminho. São fer-


ramentas e oportunidades que os
“O debate da assistência farmacêutica profissionais devem conhecer e
ganhou destaque entre os gestores, quer utilizar em prol das comunidades
seja pelo nível de investimento, quer seja e de sua profissão.
pela necessidade de prover acesso” Temos como prioridade em
(Dr. José Miguel Nascimento Júnior, Diretor DASF/MS).
nossa gestão a capacitação dos
do do

recursos humanos da assistência


Programa Farmácia Popular é ne- ção do farmacêutico no SUS já farmacêutica. Vimos fazendo in-
cessária. é uma realidade. Ele está atuan- vestimentos continuados neste
do na vigilância sanitária, nas campo. Foram diversas oportu-
Hoje, são mais de 6 milhões
análises clinicas, na gestão da nidades. Com profissionais ca-
de brasileiros atendidos mensal-
assistência farmacêutica e na dis- pacitados para atuarem no SUS,
mente nas mais de 30.000 uni-
pensação, além de outras áreas os resultados de sua intervenção
dades parceiras. É um potencial
(vigilância epidemiológica, plane- serão melhor qualificados e, aí, o
enorme para que os farmacêu-
jamento, auditoria, educação em reconhecimento virá.
ticos desenvolvam sua pratica
saúde etc.).
clínica. São pacientes que retor-
nam, todos os meses, em busca A visão de que haverá um PHARMACIA BRASILEIRA
de seus medicamentos. Vejo que, ato tripartite que torne obriga- - Fale sobre os critérios (o pacto
ainda, é muito tímida a atuação tório que as unidades de saúde de gestão entre União, Estados e
clínica do farmacêutico. É um contem com farmacêuticos é um Municípios é um deles) adotados
trabalho que precisa ser registra- processo em construção, em vir- para o financiamento da assistên-
do, publicado. Seus resultados tude de não ter na lei federal esta cia farmacêutica, em cada um
devem ser divulgados para que obrigatoriedade, de forma expli- dos seus componentes. Qual o
sejam conhecidos, avaliados e, cita. Por outro lado, muito já an- nível de interesse dos Municípios
se de boa qualidade, serem utili- damos. Veja: hoje, no SUS, não em pactuar, com vistas a organi-
zados como parâmetros. Precisa- se fala mais em “dispensário” e, zar as suas assistências? Ressal-
mos ultrapassar a relação comer- sim, farmácias; não se fala ou se te-se que o Governo Lula quase
cial de parceiro. A introdução de escreve “profissional habilitado” quintuplicou o volume de recur-
serviços deve ser discutida. Este é e, sim, farmacêutico. sos destinados ao setor.
um belo desafio que temos. Farmacêutico José Miguel
Foram passos grandiosos que
culminaram com o reconheci- do Nascimento Júnior - Houve
PHARMACIA BRASILEIRA - um incremento importante no in-
mento do farmacêutico no SUS.
Quando o senhor imagina que a vestimento do MS com medica-
Creio que se levarmos o debate
inserção do farmacêutico no SUS mentos. Passamos de 5,8% do or-
por esse lado - o da obrigatorie-
estará definitivamente efetivada? çamento, em 2003, para 12,5%,
dade - afastaremos os gestores.
O que falta para a conclusão do em 2013. Este mesmo aumento
Mais vale um grande exemplo
processo de inserção total? Cerca
a ser mostrado do que o discur- foi acompanhado nos níveis mu-
de 80% das unidades de dispen-
so da obrigatoriedade. Aqui, no nicipais e estaduais. O debate da
sação de medicamentos do SUS
DAF, estamos investindo pesado assistência farmacêutica ganhou
não contam, ainda, com a parti-
na formação dos farmacêuticos, destaque entre os gestores, quer
cipação de farmacêuticos.
para melhorar a gestão nos Mu- seja pelo nível de investimento,
Farmacêutico José Miguel nicípios e Estados. O Hórus e o quer seja pela necessidade de
do Nascimento Júnior - A inser- Qualifar-SUS têm um papel fun- prover acesso. Há um interesse

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ENTREVISTA
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enorme em pactuar a assistência Eixo Estrutura, que visa a contri- recursos financeiros de forma
farmacêutica. buir para a estruturação dos ser- apropriada.
viços farmacêuticos no Sistema
A cada pactuação, elevamos As farmácias da Atenção
Único de Saúde (SUS), de modo
o patamar de compromissos dos Básica receberam mobiliários
que estes sejam compatíveis com
gestores. Seja ele no financia- e equipamentos. Ainda com os
as atividades desenvolvidas na as-
mento, seja nas responsabilida- recursos do Ministério da Saú-
sistência farmacêutica.
des. Um grande benefício foi a de, foram realizadas aquisição
criação do DAF, em 2003, pelo Por meio do Eixo Estrutura, de uniforme para a equipe, ade-
fato de dar ao MS e ao SUS uma são direcionados recursos finan- quação de estrutura física nas
área especifica de coordenação ceiros para a aquisição de mobi- farmácias e a garantia de educa-
da Política de Assistência Far- liários e equipamentos necessá- ção continuada para toda equi-
macêutica. Com ela, avançamos rios à estruturação das Centrais pe da assistência farmacêutica.
muito. Contribuímos para a Po- de Abastecimento Farmacêutico, Muitos outros exemplos podem
lítica de Recursos Humanos do à organização das farmácias no ser citados. O Qualifar-SUS tem
SUS, para a Política do Complexo âmbito da atenção básica e à revolucionado. Ele faz parte da
Industrial em Saúde, para a Polí- manutenção dos serviços farma- pauta estratégica da Diretoria
tica de Atenção Básica. Hoje, o cêuticos. Ou seja, esse eixo tem do Conasems. Isso é uma vitória
DAF está maduro e reconhecido propiciado aos Municípios habi- importante.
interna e externamente. litados ao Programa Qualifar-SUS
os recursos financeiros e o apoio PHARMACIA BRASILEIRA
PHARMACIA BRASILEIRA - técnico imprescindíveis ao de- - O CFF apoia integralmente os
O Qualifar-SUS é vinculado ao senvolvimento de uma política esforços do DAF/MS, com vistas
Brasil Sem Miséria por uma ques- de assistência farmacêutica de a expandir o Qualifar-SUS. Tan-
tão de orientação político-social qualidade. to que o CFF pediu apoio, nesse
do programa. Que resultados o sentido, ao Conselho Nacional de
O Município de Itapeva, lo-
Qualifar-SUS tem apresentado, Saúde. É possível ampliar o pro-
calizado no Estado de São Paulo,
nos Municípios mais carentes? grama a um universo maior de
com aproximadamente 87.000
Farmacêutico José Miguel habitantes, relatou a experiên- Municípios?
do Nascimento Júnior - O Pro- cia na 1ª Oficina Nacional do Farmacêutico José Miguel
grama Nacional de Qualifica- Programa, realizado, em agosto do Nascimento Júnior - O Quali-
ção da Assistência Farmacêutica de 2013, na cidade de Brasília. far-SUS - Eixo Estrutura habilitou,
- Qualifar-SUS -, instituído pela Antes do Programa, o Município no primeiro ano do Programa,
Portaria 1214, de 14 de junho de apresentava dificuldades na ges- 453 Municípios. Em 2013, novos
2012, tem por finalidade contri- tão e na estruturação da assistên- 453 Municípios foram contem-
buir para o processo de aprimo- cia farmacêutica. plados com recursos de investi-
ramento, implementação e inte- mento e custeio, totalizando 906
Após o recebimento dos
gração sistêmica das atividades Municípios habilitados. Na pro-
recursos do Qualifar-SUS, foi
da assistência farmacêutica nas gramação de 2014, teremos um
viabilizada a informatização da
ações e serviços de saúde, visan- incremento de 30% no número
assistência farmacêutica e a im-
do a uma atenção contínua, inte-
plantação do Hórus em toda Municípios habilitados, totalizan-
gral, segura responsável e huma-
rede de saúde, proporcionando do 70% de habilitação dos Mu-
nizada.
uma programação de medica- nicípios contemplados no Plano
O programa está estruturado mentos adequada às necessida- Brasil Sem Miséria - com até 100
em quatro eixos, dentre estes, o des do Município e o uso dos mil habilitantes.

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DIRETOR DO DASF/MS

Há perspectivas de amplia- do Nascimento Júnior - O deba- eixos estratégicos me movem,


ção do programa. Entretanto, te sobre a assistência farmacêuti- todos os dias, e dão a orienta-
precisamos garantir resultados ca constituído nas Conferências e ção técnico-política. Contar com
concretos, nos Municípios já Conselhos de Saúde, bem como a competência, compromisso
habilitados, e a destinação de nos processos de pactuação com e comprometimento dos coor-
orçamento para esta ação. So- o Conass (Conselho Nacional de denadores gerais do DAF (Luiz
bre orçamento, este é um debate Secretários de Saúde) e o Cona- Henrique Costa, Marco Aurélio
difícil, devido à restrição orça- sems (Conselho Nacional de Se- Pereira, Karen Sarmento Costa e
mentária e às diversas políticas cretários Municipais de Saúde), Rodrigo Fernandes Alexandre) fi-
e programas do MS. Precisamos tem dado respostas à sociedade zeram a diferença, nesse período.
dar visibilidade ao Qualifar-SUS brasileira na ampliação do acesso Minha caminhada foi mais leve
e divulgar seus resultados positi- aos medicamentos e na estrutu- com eles ao meu lado.
vos. Isto tem que repercutir inter- ração dos serviços farmacêuticos. Devo muito, também, às
namente no MS e no Congresso Nos últimos anos, a estruturação ações estruturantes que os Ex-Di-
Nacional onde o orçamento é da assistência farmacêutica no retores do DAF (Norberto Rech,
decidido. Sistema Único de Saúde vem Dirceu Barbano e Manoel Ro-
sendo considerada uma estraté- berto dos Santos) deixaram. Vejo
PHARMACIA BRASILEIRA - gia para o aumento e a qualifica- como uma continuidade progres-
O senhor dirige o Departamento ção do acesso da população aos siva. Muitas coisas que estamos fa-
de Assistência Farmacêutica do medicamentos. zendo, hoje, não seriam possíveis,
Ministério da Saúde, há cinco antes. O amadurecimento do de-
Tive a oportunidade de gerir
anos. Quais os principais avanços bate com o Conass, o Conasems
o DAF, quando a Política Nacio-
e transformações que acontece- e o Controle Social possibilitou os
nal de Assistência Farmacêutica
ram, na assistência farmacêutica avanços que estamos vendo.
(Resolução 338/2004, do Conse-
brasileira, nesse período?
lho Nacional de Saúde) já tinha Alguns processos/projetos
Farmacêutico José Miguel sido definida. Seus princípios e marcaram a gestão, quais sejam:

1. A concepção do Hórus e sua implantação. te. Hoje, o Qualifar-SUS atingiu um nível de


O modo como cuidamos dele; a capila- conhecimento igual ao Hórus. Isto é muito
ridade que atingimos proporcionou uma bom.
visibilidade ao DAF nunca antes atingida.
3. O Programa Farmácia Popular, com a am-
Foi muito intensa a articulação técnica e
pliação do acesso que vem atingindo; a res-
politica que fizemos para angariar o apoio
posta e articulação com o Plano Brasil Sem
dos Conasems e Conass, dos Secretários
Miséria; sua contribuição na redução das in-
(as) Municipais de Saúde, dos Cosems de
ternações por asma, hipertensão e diabetes;
todo o Brasil.
a capilaridade da rede para o interior do Bra-
2. O Qualifar-SUS foi a oportunidade que pre- sil. Desta forma, mostra-se um dos Progra-
cisávamos para agrupar as atividades que o mas mais bem avaliados pela população. A
DAF vem desenvolvendo, ao longo dos úl- Presidenta Dilma tem conversado constante-
timos anos. Os quatro eixos nos permitiram mente com a população sobre os resultados
que focássemos nossas ações em áreas prio- do Programa e ampliando compromissos.
ritárias e, ao mesmo tempo, ter uma marca Ganha a sociedade, ganha o SUS e ganha a
forte que dialoga bem interna e externamen- profissão.

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ENTREVISTA
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4. A estruturação do Componente Especializa- ção do Uso Racional de Medicamentos), no


do da Assistência Farmacêutica, em 2009, Brasil, que vai nos dar um panorama real do
foi um salto na gestão do SUS. Mobilizamos impacto dos investimentos do Ministério da
nossa inteligência e capacidade de nego- Saúde para o acesso a medicamentos para
ciação interna e externa para garantir uma os brasileiros. Além de termos dados sobre o
profunda mudança. Definimos responsabili- acesso, vamos saber, também, como os bra-
dades pelo financiamento, pela gestão e di- sileiros estão utilizando seus medicamentos,
minuímos a judicialização. Uma obra que, identificando as formas e as fontes de ob-
hoje, é reconhecida por todos os gestores tenção de medicamentos incluídos o SUS,
do SUS e que proporcionou, nos últimos as farmácias privadas e o Programa Farmá-
quatro anos, grande economia de recursos cia Popular. Na primeira etapa da pesquisa,
orçamentários para o SUS e que teve a capa- que começou, em setembro, nossos entre-
cidade de ampliar acesso aos medicamentos vistadores visitaram domicílios, em todo o
alocados nesse Componente. País; entrevistando mais de 38 mil pessoas.
Ainda no primeiro semestre, iniciaremos a
5. A definição do Programa Nacional de Plantas segunda fase da pesquisa, avaliando os ser-
Medicinais e Fitoterápicos foi outra agenda viços de assistência farmacêutica prestados
importante que ajudamos a construir. Hoje, na atenção básica. Visitaremos um total de
o DAF coordena o Comitê Nacional de uma 245 Municípios distribuídos nas cinco re-
política que é intersetorial. São 11 órgãos giões brasileiras. Vejo como um processo
do Governo e 11 da Sociedade. Muita pac- avaliativo de nossa política. É o povo falan-
tuação dentro do Governo com o monito- do do que lhe atende e do que precisamos
ramento do Comitê tem levado a alterações aprimorar. Teremos um insumo essencial ao
no marco regulatório para atender as especi- planejamento das ações da assistência far-
ficidades da cadeia produtiva; tem buscado macêutica no SUS.
valorizar o conhecimento tradicional; temos
7. No final do mês de janeiro, estivemos na
apoiado e articulado a cadeia produtiva, por
Campus Party, considerado o maior evento
meio de arranjos produtivos locais. Esta é
de tecnologia do mundo, lançando o Med-
uma agenda que proporcionou o reconhe-
SUS, um aplicativo para tablet e celulares
cimento e inserção dos fitoterápicos no SUS.
que traz a Relação Nacional de Medicamen-
Algo impensado, no passado recente. Além
tos Essenciais (Rename). Nosso foco são os
disso, estamos incentivando 23 projetos
prescritores, dispensadores, demais profis-
de Arranjos Produtivos Locais, em todas as
sionais da equipe de saúde e gestores. Que-
regiões do País, e apoiando 24 localidades
remos que o aplicativo seja um instrumento
para a estruturação da Assistência Farmacêu-
racionalizador das ações de assistência à saú-
tica em Plantas Medicinais e Fitoterápicos.
de e de gestão. O MedSUS vai trazer mais
6. Nos próximos meses, apresentaremos os eficácia na gestão dos recursos para aquisi-
primeiros resultados da PNAUM (Pesquisa ção de medicamentos e mais qualidade nas
Nacional sobre Acesso, Utilização e Promo- prescrições médicas.

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ENTREVISTA
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PHARMACIA BRASILEIRA Portaria 316/76. Construímos as


- O senhor, representantes do diretrizes e estratégias de forta-
Conselho Federal de Farmácia e lecimento da farmácia hospitalar,
da Sociedade Brasileira de Far- no Brasil (Portaria GM nº 4.283
mácia Hospitalar (Sbrafh) estão à de 30/12/2010), fizemos um
frente do trabalho de elaboração fórum especifico para conhecer
de uma contraproposta à pro- as experiências farmacêuticas e
posta apresentada pela Ebserh dos hospitais.
(Empresa Brasileira de Serviços
Foi um evento maravilhoso,
Hospitalares) para a questão da
rico em conteúdo e um espaço
farmácia hospitalar. A Ebserh
de diálogo. Muitos profissionais
quer a divisão da farmácia, fican-
conheceram-se no Fórum e, até
do, de um lado, a farmácia clínica
hoje, vem trocando experiências.
isolada. Do outro lado, ligada ao
Nossa função, aqui, é oportuni-
setor de suprimentos e vinculada
zar os espaços de diálogo. Fico
à gerência administrativa, fica-
feliz com que tenhamos construí-
riam a farmácia de dispensação e
do o intangível: uma relação de
a CAF (Central de Abastecimen-
confiança e de companheirismo
to Farmacêutico), mas separa-
entre os militantes da farmácia
das uma da outra. A alternativa
hospitalar.
proposta pelo senhor, o CFF e a
Sbrafh é manter as áreas clínica Gosto de construir pontes
e administrativa juntas e ligadas a entre as pessoas. Via que tinha, nistro Padilha, que foi fundamen-
uma mesma subordinação. Além neste tema, um amplo espaço de tal na vitória obtida. A experiên-
das questões logísticas e clínicas, construção e muitas vozes opri- cia mostra que quando se somam
a alternativa contempla o ensino midas. Isso me motiva. Quando as forças, atingir os objetivos fica
farmacêutico, ali dentro. Por que tomei conhecimento da proposta mais fácil. Um grande trabalho
é importante manter juntas as da Diretoria da Ebserh, vi que ela articulado com CFF, Sbrafh e MS.
unidades da farmácia hospitalar? contrariava aquilo que estávamos
Os colegas do nosso GT fo-
construindo, ou seja, regulamos
Farmacêutico José Miguel ram fundamentais na argumenta-
que a farmácia hospitalar é inte-
do Nascimento Júnior - O DAF ção técnica. Todos estão de pa-
grada e a proposta buscava divi-
vem desenvolvendo um conjunto rabéns, pois pensar um hospital
di-la.
de ações no campo da farmácia apenas como um local de produ-
hospitalar. Inicialmente, monta- Não havia sentido, ali. Bus- ção de serviços, sem pensar que
mos um Grupo de Trabalho que quei articulação interna no MS e ele é fonte de conhecimento, não
produziu uma proposta que cul- fizemos repercutir na Ebserh nos- atingiremos o nível de excelência
minou pactuada com o Conass e sa preocupação. A partir da Nota que outros países já atingiram na
o Conasems, que veio revogar a Técnica DAF, envolvemos o Mi- área hospitalar.

24 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


Ensino Farmacêutico

DIRETRIZES CURRICULARES:
necessidade de ajustes
Especialista em ensino farmacêutico entende que as
DNCs apresentam envelhecimento em alguns dos seus
aspectos. Instituições de ensino, por outro lado, não
conseguiram compreender e cumprir as Diretrizes.

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DNCs) instituídas, em 2002,


pelo Ministério da Educação, por meio da Resolução CNE/CES 02/02,
com o objetivo de oferecer competências e habilidades para o exercício
da profissão farmacêutica, envelheceram em alguns aspectos e carecem
de urgente atualização. O estágio é um dos itens mais problemáticos. A
observação é da farmacêutica Zilamar Costa Fernandes que, há mais de
dez anos, estuda o comportamento do ensino farmacêutico brasileiro.
Assessora da Presidência do Conselho Federal de Farmácia para assun-
tos ligados à educação e Coordenadora da Comissão Assessora de Edu-
Professora Zilamar Costa cação Farmacêutica do CFF (CAEF), Zilamar é professora aposentada de
Fernandes, Assessora da
Presidência do CFF para assuntos Farmacotécnica Homeopática da Faculdade de Farmácia da Universida-
ligados à educação farmacêutica: de Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e de Síntese de Fármacos no
“Eu acho que deveria haver uma
curso de pós-graduação da mesma Universidade.
revisão do item das Diretrizes que
trata da questão do estágio”. “Embora representem um avanço para o ensino farmacêutico, as
Diretrizes envelheceram em alguns aspectos e continuam não sendo
cumpridas em outros”, avalia a professora Zilamar Fernandes. Paralela-
mente a isso, há, fora das Diretrizes, outra situação que concorre para
descompassar as mudanças propostas por esse conjunto de normas: a
dificuldade que grande parte dos cursos de Farmácia tem para absorver
a sua filosofia. Daí, nascem outros problemas.
ESTÁGIO - A desatualização dentro das DNCs, explica a especia-
lista, tem origem no dinamismo próprio do setor de saúde, em especial
do segmento farmacêutico, responsável por gerar transformações sig-
nificativas nas práticas profissionais. Um dos pontos que carecem de
atualização é o estágio.
As DNCs definem que o estágio para os estudantes de Farmácia
devem corresponder a 20% da carga horária total dos cursos. Para Zila-
mar Fernandes, esta recomendação é importante, por condicionar um
tempo para a disciplina, mas as Diretrizes não refletem a qualidade do
estágio, em muitas instituições de ensino. A Assessora do CFF explica:

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 25


Ensino Farmacêutico

nesta área e, quase sempre, Bro-


matologia. As Análises Clínicas,
também, possuem um percen-
tual muito aquém do desejável.
A verdade é que o conteúdo está
concentrado no eixo principal da
profissão, que é o Medicamento”.
As Diretrizes preconizam
que, embora haja o eixo princi-
pal, exista uma interface entre
Alimentos e Medicamentos, de
forma transversal. Por exemplo, a
Microbiologia, que é obrigatória
em todos os cursos, poderia ser
aplica aos Alimentos, às Análises
Clínicas e ao Medicamento, de
forma integrada.
“É preciso que haja um diá-
logo entre os conteúdos das dife-
rentes áreas, mas muitas institui-
ções de ensino não absorveram
“O objetivo dos 20% é assegurar da interação do acadêmico de
isto e continuam agindo, basea-
uma integração entre o ensino e Farmácia com a realidade profis-
das no modelo anterior. Aí, para
o serviço, com qualidade, de for- sional. A especialista faz, ainda, a
cumprir a carga de 4000 horas
ma a possibilitar o exercício pro- seguinte denuncia: “Muitos cur-
determinada pela Resolução CNE
fissional seguro, mas não é o que sos tratam os 20% da carga ho-
número 02 de fevereiro de 2002,
vem acontecendo”. rária destinada ao estágio apenas
que cria as Diretrizes, as institui-
como um meio para tornar-se re-
Muitos cursos até destinam ções desequilibram a harmonia
a percentagem estipulada pelas gular junto ao MEC”.
que deveria existir entre os con-
Diretrizes, mas, denuncia Zila- CONTEÚDO – A não pre- teúdos, à medida que contem-
mar Fernandes, o que vários de- conização de um percentual de plam uma ou outra área”, acres-
les fazem é uma verdadeira bur- abrangência de conteúdo nas centa Zilamar Fernandes.
la. “Muitas instituições de ensino diferentes áreas profissionais A conduta de muitas institui-
buscam parcerias fictícias com (Análises Clínicas, Alimentos e ções de ensino, comenta a pro-
instituições de saúde, e outras se- Medicamentos) é outro aspec- fessora, tem origem na flexibili-
quer fazem a supervisão docente to das Diretrizes que sofreu um zação prevista nas Diretrizes. Ou
do estágio, deixando o aluno sem processo de envelhecimento, de seja, as DNCs deram aos cursos
orientação, sem acompanhamen- acordo com Zilamar Fernandes. a liberdade para definir os seus
to algum”, revela a professora. Ela explica: “O que acontece é próprios projetos pedagógicos,
Ela atribui à referida conduta que a grande maioria dos cursos “mas muitos usam muito mal a
de muitas instituições de ensino tem de 3% a 10%, no máximo, liberdade”, lamenta. A professora
e à frouxidão de outras o fato de de conteúdos referentes à área Zilamar Fernandes lembra que as
o estágio estar perdendo o senti- de Alimentos. Há instituições que Diretrizes não determinam, por
do de importância como indutor possuem apenas uma disciplina exemplo, quais são as discipli-

26 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


Ensino Farmacêutico

nas específicas para a formação. movam a integração entre áreas, inicie, já no terceiro semestre. É
Apenas indicam as competências para que se instale, no ensino, a inconcebível que o acadêmico de
e habilidades, deixando o curso prática da interdisciplinaridade, Farmácia tome contato com a ex-
livre para elaborar a sua matriz tão útil para o farmacêutico, ao periência prática, com três anos
curricular, o que, muitas vezes, longo de sua vida profissional”, e meio de curso”, recomenda a
implica na subutilização ou qua- apelou a especialista em ensino professora que pediu, ainda, que
se exclusão de alguns conteúdos. farmacêutico. o ensino contemple o Sistema
INTERDISCIPLINARIDADE Em muitos cursos, o ensino Único de Saúde (SUS), o trabalho
– Onze anos depois de publica- de Farmacologia, por exemplo, em equipe e a atenção à saúde.
das as DNCs, outras mudanças é estanque e, por conseguinte, Mas, ainda que reconheça
previstas não foram implantadas não dialoga com a Fisiologia, a problemas relacionados às Di-
por grande parte dos cursos de Patologia, a Farmacovigilância, retrizes, Zilamar Fernandes tem
Farmácia, a exemplo da interdis- a Epidemiologia e mesmo com um entendimento de que as
ciplinaridade, da integração entre as disciplinas da área das Análi- DNCs são “avançadas” em sua
áreas e da aproximação entre o ses Clínicas. “O que estamos ob- perspectiva de promover trans-
ensino e as realidades profissional servando, em muitos cursos, é a formações no ensino. A assessora
e social. Farmacologia sendo ministrada do CFF pontifica que parte dos
apenas como o ensino de grupos problemas está localizada nas
Zilamar Fernandes aponta a
de fármacos e suas funções”, la- instituições de ensino – “são di-
utilização, por muitos professo-
menta Zilamar Fernandes. ficuldades, em sua maioria, con-
res, da metodologia tradicional,
que não prevê a integração entre Ela volta a falar do estágio: centradas na gestão”, diagnostica
áreas, como responsável pela re- “Em muitos cursos, o estágio só - e que estas devem empregar
sistência às mudanças. “É muito é oferecido, no sétimo semes- todos os esforços, no sentido de
necessário que os professores pro- tre, quando o ideal é que ele se compreender e cumpri-las.

Como mudar?
A PHARMACIA BRASILEIRA fez duas
revista
perguntas à professora Zilamar Fernandes, com o
objetivo de saber dela as alternativas que ela propõe
para atualizar as Diretrizes. Veja as perguntas.

Professora Zilamar Costa


Fernandes: “As Diretrizes não
são tão rigorosas”.

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 27


“Quanto à liberdade que as DNCs dão
Ensino Farmacêutico
às instituições de ensino para que definam
os seus projetos pedagógicos, gerou
um equívoco, no sentido de que muitas atender apenas certos pontos que sabem que o siste-
confundem a liberdade com o direito de ma de avaliação do Ministério da Educação exige para
os procedimentos de autorização e reconhecimento
estruturar cursos de baixa qualidade” para o seu funcionamento. Agem assim, movidas
(Assessora Presidência CFF para assuntos da educação farmacêutica).
da do
apenas pela necessidade de ficarem regulares com o
MEC.
Essas instituições não estão preocupadas em
PHARMACIA BRASILEIRA - Professora, a senho- atender a outras recomendações das Diretrizes, como
ra observa que as Diretrizes Curriculares desatualiza- a interdisciplinaridade, a capacitação de professores
ram-se em alguns aspectos. Um deles é o estágio. As para metodologias ativas, gestão integrada aos servi-
DNCs não criaram um parâmetro de qualidade para ços etc.; não estão interessadas em formar farmacêu-
os estágios. O outro aspecto é a liberdade concedida ticos qualificados e cidadão para a sociedade, dota-
pelas DNCs aos cursos de Farmácia, com o objetivo dos de capacidade crítica. Mas como os professores e
de que eles definam os seus próprios projetos peda- coordenadores desses cursos podem formar cidadãos
gógicos. Mas, segundo a senhora, muitos usam mal com espírito crítico, se eles próprios, tão arcaicos e
essa liberdade. Que mudanças a senhora propõe para retrógrados, não são nem um pouco críticos?
as Diretrizes, com vistas a corrigir essas distorções?
PHARMACIA BRASILEIRA - São as instituições
Professora Zilamar Costa Fernandes - Eu acho
de ensino que não conseguem entender e cumprir a
que deveria haver uma revisão do item das Diretrizes
filosofia e as propostas das Diretrizes Curriculares, ou
que trata da questão do estágio, para garantir, não só
as DNCs que são rigorosas demais e não podem ser
o seu percentual de tempo em relação à carga horária
seguidas?
do curso, mas também para definir as suas áreas de
abrangência e um percentual mínimo para o desen- Professora Zilamar Costa Fernandes - Real-
volvimento dessas áreas. Desta forma, as Diretrizes mente, é a filosofia das Diretrizes que não é enten-
contemplariam a questão da qualidade do estágio.] dida, em sua plenitude, pelas instituições de ensino.
Sei de casos de um estudante de Farmácia que não As DNCs não são tão rigorosas. A flexibilização para
teve uma boa formação teórica e prática em Alimen- a definição do projeto pedagógico é um exemplo de
tos, porque o seu curso possuía uma matriz curricular que elas (as Diretrizes) não são tão rigorosas. Mas se
concentrada em medicamentos e Análises Clínicas. flexibilizam, por um lado, por outro lado, elas têm
Depois de formado, essa pessoa foi convidada para a expectativa de que os cursos ofereçam um ensino
atuar em uma indústria de alimentos de grande porte moderno, humanístico e de qualidade.
e, aí, ele experimentou um grande fracasso profissio-
Em verdade, muitos cursos são acomodados. Eles
nal, por sua incapacitação na área (a de Alimentos).
não buscam compreender e cumprir estas Diretrizes,
Resultado: esse novo farmacêutico não pode assumir
como não compreenderiam nem cumpririam outras
o cargo para o qual foi convidado.
Diretrizes, se estas houvessem.
Vale ressaltar que esta é uma situação de grande
fragilidade para o ensino. E este caso não é raro. Pelo
contrário, é muito comum até que, em uma região,
um curso ofereça uma formação mais voltada para “Em verdade, muitos cursos
o seu mercado, negligenciando o ensino em outras são acomodados. Eles não
áreas. Isto mostra que a formação generalista preconi- buscam compreender e cumprir
zada pelas Diretrizes não está acontecendo, de fato.
estas Diretrizes, como não
Quanto à liberdade que as DNCs dão às
compreenderiam nem cumpririam
instituições de ensino para que definam os seus pro-
jetos pedagógicos, gerou um equívoco, no sentido de outras Diretrizes, se estas houvessem”
que muitas confundem a liberdade com o direito de (Assessora da Presidência do CFF para assuntos da educação farmacêutica).

estruturar cursos de baixa qualidade. Elas se detêm a

28 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


Artigo

Mais um momento
crucial para a Farmácia José Vílmore Silva Lopes Júnior,
Diretor Secretário-Geral do Conselho Federal de Farmácia.
E-mail: vilmore@ig.com.br

Outro fator de mudança é o envelhecimento po-


pulacional, até então, inédito, em nosso País, e, com o
aumento da expectativa de vida, doenças, até então,
pouco prevalentes, começam a se tornar endêmicas.
São elas o Alzheimer, Parkinson, osteoporose, câncer
e diversos outros problemas resultantes de doenças
crônico-degenerativas.
Todo este quadro que se forma leva a um au-
mento do consumo de medicamentos que, se não
acompanhado de informações para o uso correto e
racional, conduz ao aumento dos casos de internação
por intoxicações a outros problemas relacionados ao
uso de medicamentos (PRMs).
O farmacêutico tem um papel imprescindível
na melhoria da qualidade de vida da população, na
prestação de serviços de saúde, tais como o acompa-
nhamento de pacientes diabéticos, hipertensos, disli-
pêmicos e principalmente na orientação do uso cor-
reto de cada medicamento adquirido, para observar
os riscos de interações e das falhas de tratamentos por
Dr. José Vílmore: O farmacêutico não pode delegar, por omissão, abandono destes. O farmacêutico tem que focar não
a outros profissionais sem nenhuma capacitação ou com meia mais no medicamento, mas no cuidado ao paciente.
formação o seu relevante papel junto à sociedade.
Este cuidado ao paciente tem no farmacêutico

A
o principal agente, por diversos motivos. Ele é o pro-
profissão farmacêutica tem evoluído, nes- fissional de saúde mais acessível e mais próximo da
tas duas últimas décadas, período em que população. É o último profissional do setor na linha
a sociedade brasileira passou, também, por muitas do cuidado, antes da intervenção medicamentosa,
transformações. A melhoria da renda e o estímulo com possibilidade de, se detectados problemas, rea-
do consumo têm demonstrado, na farmácia, um lado lizar alguma intervenção. Mas é um profissional que
perigoso para a população. Tratando o medicamen- tem de sair da passividade burocrática e assumir esta
to como um bem qualquer e não como um insumo função a qual, até o presente momento, é de sua ex-
à saúde, temos visto crescer, no Brasil, o número de clusividade.
internações por intoxicações medicamentosas em
Não podemos mais ser omissos e delegar, por
níveis que nunca havíamos detectado.
esta omissão, a outros profissionais sem nenhuma
O aumento da renda, invariavelmente, vem capacitação, como no caso de vendedores (bal-
acompanhado do aumento da oferta de alimentos e conistas), ou com meia formação, como no caso
da mudança para um estilo de vida mais sedentário de dos técnicos, o nosso relevante papel junto à
que consequentemente leva à obesidade e a todos sociedade, sob pena de colocarmos em risco esta
os problemas que esta acarreta: aumento dos casos sociedade à qual juramos servir com os nossos co-
de diabetes, hipertensão, dislipidemias, entre outros. nhecimentos.

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 29


Código de Ética
reformulado
entra em vigor
Farmacêuticos de todo o Brasil têm novas padronizados. Um dispositivo legal foi incluído para
normativas éticas a seguir em sua conduta cotidiana garantir que os processos tramitem dentro dos pra-
de trabalho e em favor do zelo pela saúde. Foi publi- zos previstos, a fim de evitar a prescrição da infração.
cada, no dia 25 de março de 2014, no “Diário Oficial “Um exemplo é a cláusula que prevê a redistribui-
da União”, a Resolução nº 596/2014, que reformula ção da Relatoria”, comenta Gustavo Beraldo Fabrício,
os Códigos de Ética Farmacêutica e de Processo Éti- Consultor Jurídico do CFF.
co, e estabelece as infrações e regras de aplicação PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA - Para o Presi-
das sanções disciplinares. A matéria foi Aprovada na dente do CFF, Walter Jorge João, a maior vantagem do
Reunião Plenária do CFF de fevereiro de 2014. A re- novo Código é o fato de ele ter sido elaborado, de for-
solução atualizou o Código anterior, que esteve em ma democrática e participativa. A proposta de resolu-
vigência por quase dez anos, e tornou a legislação ção foi colocada em consulta pública por duas vezes
mais objetiva, favorecendo uma maior padronização e todos os Conselhos Regionais de Farmácia (CRFs)
nos julgamentos. puderam dar sua contribuição. “Importante frisar que
A nova Resolução congrega conteúdos normati- buscamos um processo de construção democrático,
vos de outras cinco resoluções. São elas as de números mas com responsabilidade”, comenta Walter Jorge
160/82, 231/91, 417/04, 418/04 e 461/07. Todas elas João. O novo Código de Ética Farmacêutica respeita
foram revogadas. Uma inovação é a adequação das todos os dispositivos legais vigentes, como a Consti-
normativas ao momento atual. O Código atualizado tuição Federal e a Lei nº 6838/80, que dispõe sobre o
disciplina, por exemplo, a conduta do farmacêutico prazo prescricional para a punibilidade de profissional
nos mais diferentes meios de comunicação, incluindo liberal, por falta sujeita a processo disciplinar.
as redes sociais, como Twitter e Facebook. Atitudes A aplicação da Resolução nº 596/2014 caberá
que ferem as normas éticas, mesmo no mundo virtual, aos Conselhos Regionais de Farmácia, em primeira
agora, são passíveis de punição. instância, e ao CFF, em grau de recurso. Para a elabo-
Para tornar a normativa mais justa e objetiva, ração da normativa, foi considerada a experiência do
além de, como foi citado, favorecer uma maior pa- Plenário do CFF no julgamento dos processos éticos
dronização nos julgamentos, as infrações foram vincu- em grau recursal. O Conselho contou, também, com
ladas às penalidades. Para cada conduta foi definida a colaboração do promotor Diaulas Costa Ribeiro, do
uma pena a ser aplicada. Portanto, dois profissionais Ministério Público do Distrito Federal (MP-DF), espe-
que cometem a mesma infração ética terão idêntica cializado na área de Saúde. “Foi um trabalho árduo,
punição, ainda que pertençam a CRFs diferentes. mas compensador. Que a nova normativa seja, de
As infrações continuam a obedecer à gradação fato, uma ferramenta para a promoção de uma atua-
prevista na Lei nº 3820/60, de criação dos Conselhos. ção farmacêutica ética, voltada para o bem-estar da
Foram classificadas entre leves, moderadas e graves. população. E, ainda, que sirva como instrumento pro-
O andamento processual, também, se tornará mais tetor aos profissionais cumpridores dos seus deveres”,
célere com a nova legislação, pois os prazos foram finaliza o Presidente do CFF.

Fonte: Comunicação Social do CFF.

30 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


ENTREVISTA
COM DR. MÁRIO BORGES

PROGRAMA NACIONAL DE
SEGURANÇA DO PACIENTE:

Um sopro de esperança
Jornalista Aloísio Brandão,
Editor desta revista.

Em 2013, o Ministério da Saúde instituiu o Programa


Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). É uma ação
mais enérgica, com vistas a enfrentar o grave problema
dos eventos adversos que ocorrem na assistência à saúde.
Objetivo do PNSP é qualificar o cuidado, em todos os
estabelecimentos de saúde brasileiros públicos e privados.

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 31


ENTREVISTA
COM DR. MÁRIO BORGES

“O cuidado à saúde que, antes, era simples, me- to. Evitar erros de medicação também se inclui entre
nos efetivo e relativamente seguro, passou a ser mais as ações da OMS.
complexo, mais efetivo, porém potencialmente peri-
PNSP - Em 2013, o Ministério da Saúde brasilei-
goso”. As palavras, que aparentemente trazem uma
ro partiu para enfrentar mais incisivamente o proble-
flagrante contradição, são do médico e pesquisador
ma, ao instituir o Programa Nacional de Segurança
inglês Cyril Chantler e ajudam a definir a gravidade
do Paciente, por meio da Portaria GM/MS número
e complexidade da segurança do paciente, no mun-
529/13. O objetivo do Programa é qualificar o cui-
do, com o peso de um postulado. O Dr. Chantler é
dado, em todos os estabelecimentos de saúde brasi-
Diretor do Great Ormond Street Hospital, uma das
leiros públicos e privados. “O grau de complexidade
maiores instituições hospitalares pediátricas do mun-
que o cuidade de saúde atingiu não deixa mais espa-
do, e um dedicado estudioso dos resultados dos tra-
ço para uma gestão de saúde não profissionalizada”,
tamentos dos pacientes. A necessidade de se garantir
justifica o documento referência para o programa. O
segurança ao paciente já foi objeto de preocupação,
PNSP já definiu eixos e protocolos.
há 2.500 anos. Hopócrates (460 a 370 a.C) advertiu:
“Primum non nocere” (Primeiro, não cause o dano). FARMACÊUTICOS NO CIPNSP - O Conselho
O que levou o pai da Medicina a cunhar a frase? A Federal de Farmácia tem assento no Comitê de Im-
certeza de que o cuidado poderia, sim, causar algum plementação do Programa Nacional de Segurança
prejuízo a quem o recebe. Os alertas de Hipócra- do Paciente (CIPNSP). Representado pelos farma-
tes e de Cyril Chantler são separados apenas pelo cêuticos Tarcísio Palhano, Assessor da Presidência,
tempo, mas trazem a mesma verdade. O Ministério e Josélia Frade, integrante da Assessoria Técnica do
da Saúde, em 2013, adotou uma ação mais efetiva órgão, o CFF integra, no Comitê, os subgrupos de
no enfrentamento do problema, com a instituição do Qualificação e Capacitação cujas ações viabilizaram
Programa Nacional de Segurança do Paciente. a participação de farmacêuticos num programa de
treinamento, no Hospital Albert Einstein, em São
As duas frases não devem soar como efeito. A
Paulo.
insegurança do paciente é algo grave, preocupante
e entrou para as estatísticas como uma das maiores O programa, denominado “Capacitação em As-
causas de morte, no mundo. Também, chamado de sistência Farmacêutica com Profissionais do SUS”,
evento adverso, o problema matou cerca de 100 mil tem carga horária presencial de 16 horas e utiliza a
pessoas em hospitais, nos Estados Unidos, nos anos metodologia da simulação realística. Foram ofere-
1990 (é uma taxa de mortalidade superior às causa- cidas 80 vagas com duas turmas de 40 participan-
das pelo HIV, câncer de mama ou atropelamento) e tes. A primeira turma realizou o curso, nos dias 9 a
representou gastos anuais estimados entre US$ 17 e 10 de outubro de 2013, e a segunda, nos dias 12
29 bilhões. Dez por cento, em média, dos pacien- e 13 de dezembro do mesmo ano. O objetivo é
tes internados, em vários países - inclusive no Brasil fornecer subsídios para o gerenciamento do sistema
- sofrem algum tipo de evento adverso, sendo que e dos processos de administração de fármacos aos
destes 50% são evitáveis. pacientes, bem como para a análise dos processos
de qualidade e segurança na administração de fár-
É tão grave a questão dos danos gerados pelos
macos, em ambiente hospitalar.
cuidados que a OMS (Organização Mundial da Saú-
de) criou, em 2004, a Aliança Mundial para a Segu- O CFF está representado nos subgrupos de Edi-
rança do Paciente cujo objetivo é reduzir os riscos toração e Publicação, Evento Adverso Relacionado à
e abrandar os eventos adversos. Para tanto, adotou Assistência e Capacitação e Qualificação. Ressalte-se
ações globais das quais as prioritárias são reduzir a a participação do Conselho na revisão dos protocolos
infecção associada ao cuidado em saúde, por meio para a Prevenção de quedas, Identificação do pacien-
da campanha de higienização das mãos, e promover te, Segurança na prescrição, Uso e administração de
uma cirurgia mais segura, por meio de uma lista de medicamentos, Cirurgia segura, Prática de  higiene
verificação antes, durante e depois do procedimen- das mãos em serviços de saúde e para a prevenção de

32 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


ENTREVISTA
COM DR. MÁRIO BORGES

úlcera por pressão (http://www.anvisa.gov.br/hotsite/ para a promoção da segurança do paciente: políti-


segurancadopaciente/publicacoes.html). cas públicas e papel do farmacêutico”, “Protocolo
Tarcísio Palhano foi o responsável pela implan- brasileiro de uso seguro de medicamentos e Rede
tação do primeiro serviço de farmácia clínica e do argentina de monitorização de segurança no uso de
primeiro CIM (Centro de Informação sobre Medica- medicamentos” e “Ensaios clínicos: desenvolvimen-
mentos), no Brasil, sediados no então Hospital das to de produtos e segurança do paciente”.
Clínicas, hoje, Hospital Universitário Onofre Lopes,
ASSISTÊNCIA É SUJEITA A ERROS - O farma-
em Natal, pertencente à Universidade Federal do
cêutico mineiro Mário Borges, uma das maiores au-
Rio Grande do Norte (UFRN). Durante 12 anos, ele
toridades brasileiras em segurança do paciente, des-
dirigiu a farmácia daquela instituição hospitalar. Dr.
faz a aparente contradição no postulado do Dr. Cyril
Tarcísio Palhano faz uma recomendação clássica: “O
ato de dispensação é uma prerrogativa inalienável Chantler. Borges explica: “A assistência ao paciente,
do farmacêutico. Para fazer isso, com qualidade e há tempos, era prestada geralmente por um só médi-
respaldo técnico que o ato impõe, é preciso que ele co, que usava poucos medicamentos, pedia poucos
analise a prescrição. Esta análise possibilita que se exames e era, de forma geral, menos efetiva. As no-
identifique e se evite erros”. vas tecnologias em saúde foram sendo incorporadas
(novos medicamentos, exames e procedimentos in-
Já a Dra. José Frade é farmacêutica pela Uni-
versidade Federal de Ouro Preto. Tem mestrado em vasivos, equipamentos de ultima geração e outros) à
Ciências da Saúde pela Fiocruz e em Atenção Farma- assistência que, também, passou a contar com outros
cêutica pela Universidade de Granada (Espanha). É, profissionais. Por isto, a assistência tornou-se muito
ainda, especialista em Saúde Coletiva e em Farmácia mais complexa e efetiva. Logo, mais sujeita a erros;
Clínica pela Universidade do Chile, e em doenças logo, mais perigosa”.
respiratórias.
De acordo com Borges, a expectativa de vida
ERROS DE MEDICAÇÃO MAIS COMUNS - O da população aumentou e diminuiu muito a morta-
professor Tarcísio Palhano observa que um dos er- lidade, “mas os erros aumentaram, porque toda essa
ros mais comuns tem origem na letra, muitas vezes nova tecnologia não é isenta de danos”, realçou.
ilegível, do médico prescritor, o que dá margem a Pelo contrário, continua o especialista, ela é plena
confusões quanto aos nomes dos medicamentos. de riscos.
Exemplos de erros citados por Palhano com nomes
de princípios ativos são Clorpromazina e Clorpropa- A revista PHARMACIA BRASILEIRA entrevistou
mida; com nomes comerciais, Flagyl e Plasil, Trico- o Dr. Mário Borges. Ele atua na Fundação Hospita-
cel e Tricocet. “Uma má interpretação de uma grafia lar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG) e coordena
ruim pode levar à dispensação de medicamentos a Comissão de Segurança Assistencial e Hospitalar
com indicações completamente distintas”, alerta. do Hospital João XXIII, da Fundação. Mestre em
A busca da segurança do paciente, ressalta Tar- Epidemiologia e especialista em Farmácia Hospita-
císio Palhano, é prioridade para o Conselho Federal lar, ele é, ainda, doutor pela Faculdade de Medicina
de Farmácia e demais organizações farmacêuticas. da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)
Tanto que foi tema de quatro mesas-redondas do “IX e pela School of Pharmacy da University of London
Congresso Brasileiro de Farmácia Hospitalar”, reali- (Centre for Medication Safety and Service Quality) e
zado, de 14 A 16 de novembro de 2013, em São Presidente do Instituto para Práticas Seguras no Uso
Paulo, com o apoio do CFF. de Medicamentos (ISMP Brasil). Integra, na condição
As mesas-redondas tiveram as seguintes aborda- de notório saber em erros de medicação, o Comitê
gens: “Programa Nacional de Segurança do Pacien- de Implementação do Programa Nacional de Segu-
te: como estimular as notificações pelos estabeleci- rança do Paciente (CIPNSP), do Ministério da Saúde.
mentos de saúde?”, “Uso racional de medicamentos VEJA A ENTREVISTA.

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 33


ENTREVISTA
COM DR. MÁRIO BORGES

Farmacêutico Mário
Borges, uma das maiores
autoridades brasileiras em
erros de medicação: “A
assistência tornou-se muito
mais complexa e efetiva.
Logo, mais sujeita a erros;
logo, mais perigosa”.

PHARMACIA BRASILEIRA leira de Enfermagem e Segurança 2013, que institui ações para a
- Dr. Mário Borges, o senhor foi do Paciente) e outras instituições. segurança do paciente em servi-
convidado pelo Ministério da ços de saúde. Esta RDC tem de-
O lançamento do progra-
Saúde, por seu notório saber em finições de termos em segurança,
ma veio tornar oficial o engaja-
erros de medicação, para parti- determina a criação dos Núcleos
mento do Governo Federal, no
cipar do Comitê de Implemen- de Segurança do Paciente (NSP)
sentido de melhorar a segurança
tação do Programa Nacional de em todos os serviços de saúde,
da assistência à saúde. Já foram
Segurança do Paciente. O que se define as competências do NSP,
publicadas portarias ministeriais
pode esperar do Programa? bem como as responsabilidades
e resoluções da Anvisa, além de
da direção dos serviços de saúde
Mário Borges - O lança- fornecimento de material educa-
para a criação dos núcleos.
mento do Programa Nacional de tivo. Acredito que o programa irá
Segurança do Paciente, no dia 1º melhorar a qualidade e a seguran- É importante, ainda, acres-
de abril de 2013, pelo Ministro ça do serviço prestado nos esta- centar que os NSP terão que de-
da Saúde, foi muito importante belecimentos de saúde, reduzirá senvolver várias atividades. Pode-
e oportuno, pois é sabido que o sofrimento de pacientes e dos mos citar algumas delas, como:
os eventos adversos ocorridos próprios profissionais da saúde e elaborar, implantar, divulgar e
na assistência à saúde mostram economizará recursos financeiros. manter atualizado o plano de se-
frequência elevada, podem lesar gurança do paciente no serviço
e até matar pacientes, além de Sugiro o acesso ao hotsite da de saúde, além de outras tarefas a
levar ao desperdício de recursos Anvisa http://www.anvisa.gov.br/ serem executadas. Outro aspecto
financeiros destinados ao sistema hotsite/segurancadopaciente/in- importante a ser visto na RDC 36
de saúde. dex.html, pois, nele, há bastante é que os NSP deverão notificar
material de apoio e legislação mensalmente os eventos adver-
O assunto segurança do pa-
sobre o assunto, além dos sos que ocorrerem nos serviços
ciente já vinha sendo discutido,
protocolos completos a serem de saúde para a Anvisa.
há mais tempo, pelo Ministério
adotados. Tudo vai auxiliar bas-
da Saúde, Anvisa (Agência Nacio- Existem prazos a serem cum-
tante no entendimento do papel
nal de Vigilância Sanitária), Fio- pridos e sugiro leitura cuidadosa
do farmacêutico na melhoria da
cruz (Fundação Oswaldo Cruz), da RDC em questão. Como a
segurança do paciente.
ISMP Brasil (Instituto para Práti- RDC 36 foi publicada, em ju-
cas Seguras no Uso de Medica- É importante ler com atenção lho de 2013, a Anvisa irá cobrar
mentos), Rebraensp (Rede Brasi- a RDC 36, de 25 de julho de o que está determinado para a

34 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


ENTREVISTA
COM DR. MÁRIO BORGES

direção dos serviços de saúde e


NSP, nos prazos estipulados e,
desta maneira, é muito impor- “Os eventos adversos ocorridos na
tante que todos tomem conheci- assistência à saúde mostram frequência
mento das exigências contidas na elevada, podem lesar e até matar pacientes,
RDC 36/2013. além de levar ao desperdício de recursos
financeiros destinados ao sistema de saúde”
PHARMACIA BRASILEIRA (Farmacêutico Mário Borges).
- Entre os problemas que geram
situação de insegurança para o
paciente, os erros de medicação
são os que oferecem mais riscos à PHARMACIA BRASILEIRA - medicamentos por conta própria.
saúde? Quais os principais erros? O que são erros de medicação e Neste caso específico, o próprio
E que outras situações geram in- quais as suas principais causas? paciente provocou um erro de
segurança? medicação.
Mário Borges - Uma defi-
Mário Borges - De forma nição aceita pela Organização As principais causas desses
geral, os erros de medicação Mundial da Saúde é a seguinte: erros são o desconhecimento so-
representam 30% de todos os erros de medicação são quais- bre medicamentos e acerca do
eventos adversos que acontecem quer eventos evitáveis que, de paciente que vai recebê-los. Exis-
quando o paciente é atendido fato ou potencialmente, possam tem outras causas, também, rele-
nos estabelecimentos de saú- levar ao uso inadequado de me- vantes, como comunicação entre
de. É importante destacar que a dicamento, quando o medica- os profissionais na prescrição,
maioria das pesquisas feitas so- mento encontra-se sob o contro- dispensação e administração;
bre eventos adversos é feita em le de profissionais da saúde, do semelhança de nomes, rótulos e
hospitais e os erros de medica- paciente ou do consumidor, po- embalagens de medicamentos;
ção estão, quase sempre, entre dendo ou não provocar dano ao falta de condições adequadas
as três principais causas desses paciente. Os erros de medicação para que o ciclo de utilização dos
eventos. As pesquisas feitas so- podem ser relacionados à prática medicamentos aconteça, falta de
bre o tema em ambulatórios e profissional, aos produtos usados educação permanente sobre o
farmácias comunitárias são em na área da saúde, procedimen- tema, ausência de normas e pro-
menor número, mas vêm aumen- tos, problemas de comunicação, cedimentos operacionais padrão,
tando ultimamente, e mostram incluindo prescrição, rótulos, falta de envolvimento do pacien-
que a frequência de erros é alta; embalagens, nomes, preparação, te, familiares e cuidadores.
nesses locais “não hospitalares”, dispensação, distribuição, admi-
normalmente a principal causa nistração, educação, monitora- PHARMACIA BRASILEIRA
de eventos adversos são os erros mento e uso de medicamentos. - Que profissionais da saúde co-
de medicação. Simplificando, erros de medica- metem erros de medicação? E
ção ocorrem, quando existe al- quais são os erros mais significati-
Os erros que ocorrem na
gum tipo de falha no ciclo de uti- vos praticados pelos profissionais?
assistência à saúde são diversos
lização do medicamento.
e os mais comuns são: erro de Mário Borges - De forma
diagnóstico, quedas, erros de É importante ressaltar que geral, os erros são multiprofissio-
medicação, úlceras por pressão, os erros de medicação são nais, multifatoriais e passíveis de
problemas na identificação dos passíveis de prevenção e podem prevenção. Assim, não se pode
pacientes, erros de comunicação acontecer sem a interveniência dizer que profissionais mais co-
entre os profissionais da saúde e de profissionais do setor, quando, metem erros. Eis um exemplo,
outros. por exemplo, um paciente toma para ilustrar melhor esta multipro-

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 35


ENTREVISTA
COM DR. MÁRIO BORGES

“Uma questão, também, importante é que


o mercado de trabalho está se abrindo
para profissionais que têm conhecimento e
experiência com segurança do paciente e
segurança no uso de medicamentos”
(Farmacêutico Mário Borges).

fissionais da Enfermagem como Anvisa fortaleceu-se, ao longo


aqueles que erram mais. Esta desses anos; o gerenciamento
situação não reflete a realidade de riscos desenvolveu-se muito
e é uma injustiça com os enfer- e foi implantado em parte dos
meiros, pois os erros são, em sua hospitais. O movimento de acre-
maioria, multiprofissionais. ditação de serviços de saúde,
Dr. Mário Borges também, avançou bastante e já
Já o mais significativo que
temos várias instituições acredita-
ocorre, e que pode gerar graves
das, no Brasil, criando condições
danos aos pacientes, é o erro na
fissionalidade dos erros: um mé- para que os pacientes tenham
dose dos medicamentos e, ge-
dico prescreve um medicamento, uma assistência mais segura.
ralmente, na fase da prescrição.
de forma incompleta, pouco legí-
Entretanto, como já foi citado, o O Ministério da Saúde está
vel e confusa. Essa prescrição vai
farmacêutico deve rever as pres- revendo a contratualização com
para a farmácia e é interpretada
crições que recebe e o enfermei- os serviços de saúde do SUS (pró-
e dispensada para o profissional
ro, da mesma maneira, deve diri- prios e conveniados) e existem
da enfermagem. Então, este ad-
mir qualquer dúvida que tenha. propostas de que pagamentos, a
ministra o medicamento e o pa-
partir de 2014, sejam feitos, to-
ciente tem um dano grave.
PHARMACIA BRASILEIRA mando em conta não somente os
Neste caso, todos os profis- - Há quase dez anos, a PHAR- procedimentos realizados, mas
sionais erraram, começando pelo MACIA BRASILEIRA o entrevistou também os resultados desses pro-
médico, que prescreveu, de for- para uma matéria sobre erros de cedimentos. Ou seja, a qualida-
ma inadequada; o farmacêutico, medicação. Que avaliação o se- de e a segurança passam a fazer
que deveria ter retornado a pres- nhor faz desses problemas, ao parte das exigências para o paga-
crição para averiguação e não longo deste período? Apesar de mento dos serviços prestados.
ter interpretado ou adivinhado, não haver, no Brasil, dados esta-
O próprio lançamento do
como acontece muito, em hos- tísticos sobre o tema, é possível
Programa Nacional de Seguran-
pitais, ambulatórios e farmácias dizer se os erros aumentaram ou
ça do Paciente pode ser citado
comunitárias; o enfermeiro que, diminuíram em quantidade e em
como um grande avanço. Acre-
também, deveria ter verificado gravidade?
dito que estamos no caminho
e questionado qualquer dúvida
Mário Borges - Desde aque- certo, mas o sucesso do Progra-
acerca da prescrição, antes de
la entrevista de 2005, acredito ma vai depender do envolvi-
administrar o medicamento.
que avançamos muito no estudo mento dos governos estaduais e
Os erros que mais aparecem e prevenção dos erros de medi- municipais, secretários de Saúde
na mídia são, geralmente, os re- cação. Várias pesquisas foram estaduais e municipais, vigilân-
lacionados à administração de feitas, em hospitais brasileiros; cias sanitárias de todos os níveis,
medicamentos e mostram os pro- a rede de hospitais sentinela da estabelecimentos da saúde e,

36 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


ENTREVISTA
COM DR. MÁRIO BORGES

principalmente, dos profissionais de medicação, no Brasil, sejam e experiência com segurança do


da saúde que estão na ponta do maiores do que os de países de- paciente e segurança no uso de
sistema, prestando assistência aos senvolvidos, devido às deficiên- medicamentos. Foi, portanto,
pacientes. Creio que a frequên- cias próprias do sistema de saúde uma chance importante de ab-
cia atual dos erros de medicação brasileiro. sorver conhecimentos sobre o
é menor do que há dez, pelos tema. Houve no evento núme-
avanços que tivemos, mas esta PHARMACIA BRASILEIRA - ro expressivo de palestrantes do
afirmação não está baseada em O senhor é o Presidente do Insti- exterior e brasileiros debatendo,
pesquisas. tuto para Práticas Seguras no Uso sob diversos ângulos, a seguran-
de Medicamentos (ISMP-Brasil). ça do paciente. Tivemos, ainda,
PHARMACIA BRASILEIRA - A entidade realizou, em abril o “Prêmio Michel Cohen melho-
Pode citar o número de mortes de 2014, em Ouro Preto (MG), rando a segurança do paciente”
e de agravamento do estado de o “I Congresso Internacional so- para os três melhores trabalhos
saúde de pessoas hospitalizadas bre Segurança do Paciente ISMP completos inscritos no evento.
devido aos erros de medicação? Brasil” e “V Fórum Internacional
sobre Segurança do Paciente: Er- PHARMACIA BRASILEIRA -
Mário Borges - Infelizmen-
ros de Medicação”. O que ficou O Ministério da Saúde e a Anvisa
te, não temos estatísticas de
desses eventos? apoiaram o “I Congresso Interna-
mortes por erros de medicação,
cional do ISMP” e, inclusive, rea-
no Brasil. Podemos citar estatísti- Mário Borges - O ISMP Bra-
lizaram uma reunião do CIPNSP,
cas dos Estados Unidos, onde se sil já organizou quatro fóruns in-
dentro do evento. O que isso sig-
estima que existam por volta de ternacionais sobre segurança do
nifica?
100.000 mortes por ano relacio- paciente, no Brasil. À medida que
nadas à assistência e, dentre esses esses fóruns foram acontecen- Mário Borges - Isto traduz
erros, por volta de 7.000 mortes do, a importância do assunto e a importância do Congresso e
por ano são relacionadas a me- o número de participantes foram revela o reconhecimento das au-
dicamentos. Acredito que, no aumentando, e foi uma evolução toridades sanitárias brasileiras ao
Brasil, tenhamos números seme- natural organizar o “I Congres- evento. Lá, estiveram represen-
lhantes ou superiores, mas, como so Internacional do ISMP” sobre tadas as mais importantes orga-
já foi dito, não temos, ainda, esta- o tema. Esperamos muito do “I nizações do setor de saúde bra-
tísticas confiáveis sobre o assunto. Congresso Internacional sobre sileiras para discutir a segurança
Segurança do Paciente ISMP Bra- do paciente. Grande parte dos
PHARMACIA BRASILEIRA - sil” e “V Fórum Internacional so- integrantes do Comitê de Imple-
Quanto se gasta, no Brasil, devi- bre Segurança do Paciente: Erros mentação do PNSP foi, também,
do aos erros de medicação? de Medicação”, pois, além dos palestrante no evento, fato que
avanços já mencionados, como a enriqueceu as discussões.
Mário Borges - Não temos,
criação do Programa Nacional de
também, um levantamento
Segurança do Paciente e o maior PHARMACIA BRASILEIRA -
fidedigno sobre os gastos com
engajamento dos profissionais da Porque é tão difícil combater os
erros de medicação no Brasil,
saúde, tivemos um debate bas- erros de medicação?
mas podemos verificar dados de
tante rico sobre que medidas são
outros países. Os Estados Unidos Mário Borges - Existem duas
mais efetivas para melhorar a se-
da América, Reino Unido e razões principais que tornam difí-
gurança dos pacientes.
Espanha, por exemplo, estimam cil diminuir a frequência dos erros
gastos da ordem de bilhões de Uma questão, também, im- de medicação. A primeira delas é
dólares com erros de medica- portante é que o mercado de a dificuldade de mudar hábitos
mentos, todos os anos. Prova- trabalho está se abrindo para pro- ou resistência às mudanças. Os
velmente, os gastos com erros fissionais que têm conhecimento erros são normalmente de origem

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 37


ENTREVISTA
COM DR. MÁRIO BORGES

sistêmica, e para evitá-los é ne- PHARMACIA BRASILEIRA PHARMACIA BRASILEIRA -


cessário rever o modo como tra- - Dr. Mário Borges, o Programa Os protocolos do Programa Na-
balhamos e melhorar a segurança Nacional de Segurança do Pa- cional de Segurança do Paciente
dos sistemas, mas mudar hábitos ciente é a mão do Governo ace- foram publicados e trazem nor-
é difícil. Todos nós temos rejeição nando para a busca de soluções matizações e orientações que to-
a mudanças e tendemos a perma- dos problemas que levam à inse- dos os estabelecimentos de saúde
necer na “zona de conforto”. Ou gurança do paciente? O Progra- terão de seguir. Comente os pro-
seja, mudar sistemas e pessoas ma é parte de um novo contexto tocolos e cite as normatizações e
não é tarefa de fácil execução. da saúde, no Brasil? Como ele se orientações que o senhor realça
insere nesse contexto? como as mais importantes.
Outra razão que torna difícil
combater os erros de medicação Mário Borges - Os eventos Mário Borges - Foram pu-
é que temos de lidar com o sen- adversos que ocorrem na assis- blicados seis protocolos, até o
timento de culpa das pessoas e tência ao paciente são conside- momento. São eles: “Prevenção
com o modo como as instituições rados um problema grave pela de quedas”, “Identificação do
enfrentam os erros dos profissio- Organização Mundial da Saúde. paciente”, “Segurança na prescri-
nais. Está entranhado na nossa O mais importante é que par- ção, uso e administração de me-
cultura. Sempre que ocorrer um te significativa desses eventos dicamentos”, “Cirurgia segura”,
erro, temos de encontrar um cul- é evitável. O Programa Nacio- “Higiene das mãos” e “Prevenção
pado e puni-lo e, desta forma, re- nal de Segurança do Paciente de úlceras por pressão”.
solver o problema. (PNSP) é um passo importante
Sugiro que os farmacêuticos
para que os profissionais da saú-
Diante disso, ninguém quer leiam todos os protocolos, espe-
de e os pacientes possam evitar
ser o bode expiatório ou o cul- cialmente o de “Segurança na
esses eventos.
pado pelo que aconteceu. A prescrição, uso e administração
cultura punitiva individualista, A assistência à saúde presta- de medicamentos”, “Prevenção
que, ainda, vigora em muitas da aos pacientes, no mundo intei- de quedas” e “Identificação do
instituições de saúde não resol- ro, é complexa. As práticas assis- paciente”. Os protocolos têm
ve os erros de medicação e leva tenciais não acompanharam esta uma estrutura definida, que é a
à subnotificação, pois as pes- complexidade e os erros ocorrem seguinte: finalidade, justificativa,
soas têm medo e vergonha de em números inesperadamente abrangência, definições, segu-
notificar os erros. altos. O PNSP vem, com compe- rança na atividade do protocolo,
tência, normatizar a criação dos intervenções, procedimento ope-
Se existe subnotificação,
Núcleos de Segurança do Pacien- racional padrão, monitoramento,
temos pouca informação para
te e a notificação dos eventos indicadores e referências.
dirigir as medidas para os reais
em todos os estabelecimentos de
pontos frágeis do sistema, que É importante, ainda, citar
saúde do Brasil.
levam aos erros. Podemos que todos os protocolos foram
aprender com a indústria japo- Várias outras atividades es- elaborados para a implementa-
nesa, que premia os funcioná- tão previstas e muitas delas já ção, em todos os estabelecimen-
rios, quando encontram os erros estão prontas ou sendo desenvol- tos de saúde, exceto consultórios
e sugerem soluções para evitá vidas, como, por exemplo: publi- médicos e serviços de assistência
-los. A cultura punitiva deve ser cação de protocolos, elaboração domiciliar.
mudada para a da abordagem de cadernos sobre os temas mais
sistêmica, em que todos os fa- importantes da área, confecção PHARMACIA BRASILEIRA
tores que levaram ao erro são de vídeos educativos e outros. - O Dr. Cyril Chantler, médico
estudados e as medidas preven- Sugere-se acessar o link http:// e pesquisador inglês dedica-
tivas são direcionadas e, de for- www.anvisa.gov.br/hotsite/segu- do aos estudos dos resultados
ma geral, são mais efetivas. rancadopaciente/index.html dos tratamentos dos pacientes

38 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


ENTREVISTA
COM DR. MÁRIO BORGES

e Diretor do Great Ormond de riscos. A assistência é sujeita a index.html), vejam os vídeos e


Street Hospital, um dos maio- erros. leiam as publicações, material
res hospitais pediátricos do de apoio, aulas, alertas, informes
mundo, fez uma declaração PHARMACIA BRASILEIRA - técnicos e outros matérias.
referencial sobre a questão da A infecção adquirida em ambien-
Além disso, que procurem
segurança do paciente. Diz ele: te hospitalar é um dos danos mais
integrar-se, ainda mais, a outros
“O cuidado à saúde que, an- graves geradores de insegurança
profissionais da saúde (médi-
tes, era simples, menos efetivo ao paciente. Que avaliação o se-
cos, enfermeiros, fisioterapeutas,
e relativamente seguro, passou nhor faz do papel das CCIHs (Co-
odontólogos e outros), para me-
a ser mais complexo, mais efe- missões de Controle de Infeção
lhorar a segurança do paciente.
tivo, porém potencialmente Hospitalar), no Brasil?
Por fim, leiam, com atenção, os
perigoso”. Por que o cuidado,
Mário Borges - Os Servi- protocolos, especialmente o pro-
antes mais seguro, tornou-se
ços e as Comissões de Controle tocolo de prescrição, uso e admi-
perigoso, apesar de mais efeti-
de Infecção são essenciais para nistração segura de medicamen-
vo?
evitar as infecções passíveis tos, que pode ser acessado nesse
Mário Borges - A assistên- de prevenção, e os hospitais mesmo link do hotsite da Anvisa.
cia ao paciente, há tempos, era devem, por força de lei e de
prestada geralmente só por um portarias, possuir essas comis- Tenho a certeza de que,
médico, que usava poucos me- sões e serviços. O papel deles conforme cresce a importância
dicamentos, pedia poucos exa- é imprescindível para que estes da qualidade e segurança da as-
mes e era, de forma geral, menos eventos sejam controlados den- sistência prestada ao paciente,
efetiva. As novas tecnologias em tro do possível. crescerá, também, a importância
saúde foram sendo incorporadas e responsabilidade do farmacêu-
(novos medicamentos, exames e PHARMACIA BRASILEIRA - tico. O mercado de trabalho será
procedimentos invasivos, equi- De que forma os farmacêuticos ampliado para o profissional, pois
pamentos de última geração e podem contribuir para promover várias atividades presentes nos
outros). Além disso, vários ou- a segurança do paciente? protocolos têm que ser desenvol-
tros profissionais foram sendo in- vidas por farmacêuticos.
Mário Borges - Os farmacêu-
corporados à assistência, que se Entretanto, para que os far-
ticos são fundamentais para que
tornou muito mais complexa e macêuticos possam desempe-
a segurança do paciente possa ser
efetiva. Logo, mais sujeita a erros; nhar, de forma adequada, as
garantida na assistência à saúde.
logo, mais perigosa. atividades propostas no PNSP,
A importância dos erros de me-
A expectativa de vida da po- dicação comprova esta relevân- é preciso preparar-se, cada vez
pulação aumentou e diminuiu cia do profissional farmacêutico e mais, para essas demandas. Os
muito a mortalidade, mas os er- sugiro aos colegas que acessem o pacientes que, muitas vezes, so-
ros aumentaram, porque toda hotsite de segurança do paciente mos nós mesmos ou nossos fami-
essa nova tecnologia não é isenta da Anvisa (http://www.anvisa.gov. liares, merecem uma assistência
de danos. Pelo contrário, é plena br/hotsite/segurancadopaciente/ segura.

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 39


Artigo

Qualidade de vida
em doadores de sangue
Os Serviços de hemoterapia
precisam da participação de uma
população saudável para doar, al-
truística e voluntariamente, o san-
gue e seus componentes, cabendo
conhecer e estar integrada ao perfil
dos doadores que realizarão o ato
cidadão da doação. A Norma Téc-
nica Brasileira em Hemoterapia,
revisada, em 2013 (Portaria MS nº
2.712), possibilita que as pessoas
realizem doações de sangue com
qualidade, não correndo risco no
ato transfusional e não submeten-
do os receptores do seu sangue a Dr. João Samuel de Morais Meira, Diretor Dra. Daniele Idalino Janebro, Professora
riscos de contrair doenças. Desta Tesoureiro do Conselho Federal de Farmácia substituta de Hematologia e Citologia
forma, a avaliação na qualidade de e professor aposentado de Hematologia Clínicas do Departamento de Ciências
e Citologia Clínicas do Departamento de Farmacêuticas da UFPB.
vida desse doador merece especial Ciências Farmacêuticas da Universidade
atenção dos formuladores de polí- Federal da Paraíba (UFPB).
ticas públicas em saúde no escopo
da promoção à saúde.
aos componentes a serem transfun- cionamento social” têm sido utiliza-
A doação de sangue é essen- didos. dos e cabe aos profissionais de saúde
cial para a saúde pública, e a Orga- compreender esses sinônimos, uma
nização Mundial de Saúde (OMS) Reforça-se que todo processo
vez que qualidade de vida relaciona-
preconiza que 3% da população de doação de sangue é seguro para o
da à avaliação subjetiva do indivíduo
seria o suficiente para formar um doador, executado apenas com ma-
e ligada ao impacto do estado de
exército de doadores adequados terial descartável. O que leva um in-
saúde reflete a capacidade de o ser
para atender às necessidades de divíduo a praticar o ato de doar san-
humano viver, plenamente.
sangue dos hospitais, no mundo. gue expressa-se por um exercício de
cidadania em sua forma mais nobre Assim, a avaliação da qualida-
Na hemoterapia, as ativida- – a de salvar a vida de uma pessoa. de de vida dos doadores de san-
des são desenvolvidas por profis- gue pode nos mostrar quais são as
sionais de equipe multidisciplinar, Destarte, é essencial que haja a
dimensões de sua vida que estão
que é composta por farmacêuti- associação entre a doação de sangue
sendo negligenciadas e quais es-
cos, biomédicos, médicos, enfer- e a percepção que o indivíduo tem
tão mais enfocadas. Isto permitirá
meiros e técnicos de enfermagem de sua qualidade de vida, uma vez
refletir sobre novas ações que po-
e de laboratório que precisam de que, apesar de não haver benfeito-
derão ser incorporadas na triagem
comprometimento e entrosamen- ria física para o doador, a literatura
clínica do doador, com vistas a se
to para um trabalho em equipe, aponta que doar sangue eleva a au-
melhorar não só a assistência ao
eficaz e eficiente, com vistas a toestima e sentimentos de bem-estar
mesmo, mas se construir a promo-
minimizar ao máximo os riscos do entre os doadores.
ção da saúde do doador, contri-
paciente, além de garantir a segu- Sinônimos de qualidade de vida buindo para uma melhor seguran-
rança aos receptores em relação como “condições de saúde” e “fun- ça transfusional.

40 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


Prêmio Jayme Torres

Uso racional de
medicamentos em foco
O Prêmio Jayme Torres de 2013, que
teve como tema o Uso Racional
de Medicamentos (URM), tem os seguin-
tes vencedores na Categoria Profissional:
Rodrigo Batista de Almeida (CRF/PR), em
primeiro lugar, com o artigo “Uso racional
de medicamentos numa proposta integra-
da de educação e saúde”, e Mariza Casa-
grande Cervi (CRF/RS), ocupando a segun-
da colocação, autora do artigo “Estratégias
educacionais indutoras do uso racional de
medicamentos”. Na Categoria Estudante, o
Prêmio foi conferido a Larissa Celestina La-
bas, acadêmica da Faculdade de Farmácia
da Universidade Estadual de Ponta Grossa
(PR). O artigo com que ela concorreu ao
certame leva o título de “Projeto Uso Ra-
cional de Medicamentos: estratégia de
conscientização”. Cinquenta trabalhos (38
na categoria profissional e 12 produzidos
por acadêmicos de Farmácia) concorreram
ao Jayme Torres de 2013. Os prêmios fo-
ram entregues, durante a solenidade come-
morativa ao Dia do Farmacêutico, realizada
pelo CFF, em Brasília, na noite do dia 24 de
janeiro.

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 41


Prêmio Jayme Torres

Para o Dr. Rodrigo Batista, que atua no Cur- nhos, na qual os personagens foram desenhados
so d e Farmácia do Instituto Federal do Paraná por alunos de uma escola de Palmas.
(IFPR), o tema do Prêmio Jayme Torres de 2013
O estudo encontrou dificuldades em levantar
despertou nele a necessidade de estudar a rea-
algumas informações como, por exemplo, a utiliza-
lidade dos medicamentos armazenados, em do-
ção de medicamentos no contexto da automedica-
micílios, no Município de Palmas (PR). Este foi o
ção. “Tivemos algumas limitações no estudo. Não
ponto de partida para a produção do artigo que
foi possível saber as condições de armazenamento
conquistou o primeiro lugar no Prêmio.
e a forma de sua aquisição - se pelo SUS ou pela
rede privada de farmácias”, diz.
Um ponto de extrema relevância, ressalta
o autor do artigo vencedor do Jayme Torres, é
a “farmacologização da sociedade”, fenômeno
Dr. Rodrigo Batista de produzido pela crença de que quase todos os
Almeida, autor do artigo eventos do cotidiano têm um fundo patológico e
vencedor na Categoria
Profissional, fala em
devem, portanto, ter uma abordagem terapêutica
“farmacologização da com a utilização de medicamentos”, acrescenta. 
sociedade”. Rodrigo Batista observa que uma das formas de
se reverter o aumento abusivo no consumo de
medicamentos é a conscientização da população
e dos profissionais de saúde sobre o grande risco
potencial que o uso desses produtos representa.
“O recolhimento de medicamentos já ocor- A opção por usar um medicamento deveria
ria, há três anos, desde que o IFPR (Instituto Fe- ser pautada pelo máximo rigor. Diz o farmacêuti-
deral do Paraná) iniciou as atividades, no Muni- co: “Isso exigiria uma mudança no paradigma da
cípio de Palmas. Mas a campanha ficava restrita atuação profissional de todos aqueles que podem
ao simples recolhimento e ao destino final”, prescrever medicamentos (médicos, dentistas, en-
afirma. Neste ano, porém, o Instituto decidiu fermeiros e farmacêuticos), bem como reorientar
dar um passo a mais e começou, então, a anali- as práticas de automedicação”. E completa: “Caso
sar todo o material recolhido. “Com esse traba- haja necessidade em se usar um medicamento,
lho, foi possível identificar que medicamentos este deve ser administrado nas menores doses pos-
estavam estocados, nas residências, e estimar o síveis e dispensado em quantidades adequadas
impacto para as saúdes humana, animal e am- para o tratamento, evitando-se sobras que podem
biental, caso esses produtos viessem a ser utili- prejudicar a saúde de pessoas e animais ou, ainda,
zados ou descartados, de forma incorreta”, ex- serem descartadas, inadequadamente”.
plica o farmacêutico Rodrigo Batista.
O artigo “Uso racional de medicamentos
Essas informações foram repassadas à po- numa proposta integrada de educação e saúde”
pulação por diferentes meios. “Como parte da contou com os seguintes autores colaboradores:
população não tem acesso aos jornais, levamos Amanda Sotoriva, Ângela Cristina Andrade Sal-
a mesma informação para programas de rádio”, vador, Caroline Menchor Folchini, Jardel Cris-
conta o farmacêutico. Essa propagação acabou tiano Bordignon e Rodrigo Hinojosa Valdez. O
atingindo o público infantil, proporcionando, autor principal levou o prêmio de R$ 6.000,00,
ainda, a elaboração de uma história em quadri- certificado e troféu.

42 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


Prêmio Jayme Torres

DESCARTE CORRETO - A autora do artigo cursos de Farmácia, Nutrição, Medicina, Química,


que ficou em segundo lugar, Dra. Mariza Ca- Artes Visuais e Informática da UPF; professores e
sagrande Cervi, atua na Universidade de Pas- alunos entre sete e 13 anos do ensino fundamental
so Fundo (UPF) e reconhece a necessidade de do Colégio Gabriel Taborin, em Marau, além de re-
uma conscientização ambiental relacionada ao presentantes das secretarias municipais de Saúde,
descarte de medicamentos, tanto por parte da Meio Ambiente, Educação e Ação Social.
população, quanto dos profissionais da área.
O projeto, segundo a farmacêutica, apesar
da resistência ainda encontrada por parte da
comunidade, vem crescendo, a cada ano, en-
volvendo um número cada vez maior de par-
ticipantes. Anualmente, também, vem sendo
Dra. Mariza Casagrande observado um aumento crescente na coleta de
Cervi, que assina o
artigo classifivcado em resíduos medicamentosos, em ambos os Muni-
segundo lugar, pede uma cípios. “Aos poucos, despertou-se a consciência
conscientização ambiental
relacionada ao descarte de
ecológica e o interesse da comunidade sobre
medicamentos. URM”, afirma a Dra. Mariza Casagrande Cervi.
O trabalho desenvolvido até este momen-
to apresentou resultados positivos. Mas a grande
quantidade de amostras grátis de medicamentos
encontrada, durante as coletas, trouxe à tona algu-
Em seu texto, Mariza Casagrande apresenta mas reflexões. “Muitas vezes, parece que os pres-
um trabalho de extensão que vem desenvolvendo, critores não ligam muito, vez que não apresentam
há oito anos, em dois Municípios do Rio Grande do as devidas preocupações. Uma de nossas dificulda-
Sul - Marau e Passo Fundo -, em que propõe estra- des é chegar até o prescritor”, informa.
tégias de educação continuada em saúde e meio
Mariza Casagrande acrescenta: “Desta forma,
ambiente, abordando orientações e atitudes con-
fica mais difícil falar sobre o URM com indivíduos
cretas sobre o uso racional, descarte e destino final
que desconhecem os efeitos danosos do uso abusi-
de medicamento. “Antes de abordarmos o tema
vo e inadequado de medicamentos. Principalmen-
URM, buscamos despertar a consciência ecológica
te, quando o medicamento é visto como aliado na
da comunidade”, conta a farmacêutica.
busca da saúde, sendo desconsiderada a alimenta-
Essa prioridade, que consiste em alertar a po- ção e o exercício físico como práticas importantes
pulação sobre os riscos que os medicamentos tra- e viáveis, por exemplo”, elucida.
zem, não só às pessoas e aos animais, mas também
IMPORTÂNCIA DO FARMACÊUTICO - Para
ao meio ambiente, foi definida, após ser constatado
finalizar, os dois vencedores na Categoria Profis-
o desinteresse do assunto por parte da população.
sional lembram a importância do farmacêutico no
“Quando levávamos este assunto para ser discutido
uso racional de medicamentos. “O farmacêutico
entre os usuários, sentíamos uma falta de concen-
tem papel fundamental na promoção do URM,
tração geral, justamente pelo desconhecimento de
visto que ele é quem está envolvido em pratica-
sua relevância”, argumenta.
mente todas as etapas que abordam o processo
A execução do projeto de extensão contou de assistência farmacêutica, desde a pesquisa e
com a participação de professores e alunos dos desenvolvimento (P&D) de produtos, registro sani-

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 43


Prêmio Jayme Torres

tário, produção, manipulação e controle de qua- Inicialmente, o projeto era executado, por
lidade, transporte e armazenamento, seleção/pa- meio do trote solidário, em que os calouros do
dronização, aquisição, distribuição, dispensação e curso de Farmácia arrecadavam, junto à comu-
acompanhamento farmacoterapêutico. Fica claro, nidade, os medicamentos em condições de uso
portanto, que o farmacêutico é o profissional mais ou não, vencidos ou dentro do prazo de valida-
próximo do medicamento e que pode, em cada de e amostras grátis. Posteriormente, veio, tam-
uma das etapas descritas, trabalhar de acordo com bém, a necessidade de conscientização sobre o
o paradigma do URM”, concluem. uso racional.
Além das arrecadações e descarte de medi-
CATEGORIA ESTUDANTE - Vencedora na
camentos, o projeto contou com algumas estra-
Categoria Estudante, a acadêmica Larissa Celesti-
tégias desenvolvidas para fortalecer a conscien-
na Labas, de 22 anos, concorreu ao Prêmio Jayme
tização, a exemplo da Campanha 5 de Maio,
Torres com o artigo “Projeto Uso Racional de Medi-
na qual foram montados estandes, no terminal
camentos: estratégia de conscientização”. Larissa,
central de ônibus da cidade de Ponta Grossa,
que cursa o último ano do Curso de Farmácia da
onde os acadêmicos prestavam orientações às
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no
pessoas, do ciclo de palestras aos acadêmicos
Paraná, integra o Projeto Uso Racional de Medica-
dos cursos de Farmácia e Medicina, e de pa-
mentos, desde o primeiro ano de faculdade.
lestras em comunidades onde o consumo de
“Eu me interessei pelo tema e desenvolvi pales- medicamentos é bastante evidente. O projeto,
tras visando à conscientização dos acadêmicos de no entanto, não consegue abranger a população
Farmácia sobre a importância do uso racional, sobre como um todo. “Isso demandaria um número
o projeto em si, sobre a farmácia caseira e sobre que maior de alunos e, principalmente, o interesse
medicamentos as pessoas devem ter, em suas casas, da população em conhecer o assunto”, afirma.
onde os mesmos devem ser armazenados e sobre o
INCENTIVO À PESQUISA - O Prêmio Jay-
seu descarte correto”, conta a estudante.
me Torres foi criado pelo Conselho Federal de
Farmácia, em 2002, através de Resolução, para
incentivar a pesquisa científica entre farmacêu-
ticos e acadêmicos de Farmácia e a produção
de artigos técnicos e científicos. Também, para
Vencedora na Categoria
Estudante, a acadêmica
homenagear um dos fundadores e primeiro Pre-
Larissa Celestina Labas sidente do CFF, o Dr. Jayme Torres.
produziu o artigo
“Projeto Uso Racional de Por Anderson Souza,
Medicamentos: estratégia Estagiário de Jornalismo junto à Assessoria de Imprensa do CFF, sob
de conscientização”. a coordenação do jornalista Aloísio Brandão, editor desta revista.

44 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


ENTREVISTA
COM HIGOR GUERIM, FARMACÊUTICO ESPECIALISTA EM ESTÉTICA

ESTÉTICA, um
mercado forte à
espera do farmacêutico Pelo jornalista Aloísio Brandão,
Editor desta revista.

Farmacêutico Higor Guerim, especialista em estética.

O “Diário Oficial da União” de 24 de maio de De acordo com a norma editada pelo CFF, cons-
2013 traz publicada, em suas páginas, a Resolução de tituem técnicas de natureza estética e recursos tera-
número 573, do Conselho Federal de Farmácia, que pêuticos utilizados pelo farmacêutico em estabele-
regulamenta as atribuições do farmacêutico no exer- cimentos de saúde estética a I - avaliação, definição
cício da saúde estética e da responsabilidade técnica dos procedimentos e estratégias, acompanhamento
pelo estabelecimento que executam atividades afins. e evolução estética; II - cosmetoterapia; III - eletro-
A Resolução, ao reconhecer a estética como área de terapia; IV - iontoforese; V - laserterapia; VI - luz in-
atuação do farmacêutico, imprime um forte sentido tensa pulsada; VII - peelings químicos e mecânicos;
de qualificação técnica e cientificamente ao setor, VIII - radiofrequência estética; e IX - sonoforese (ul-
vez que os farmacêuticos são detentores de conhe-
trassom estético).
cimentos clínicos utilizados na terapêutica para fins
estéticos e de saúde. A Resolução traz, ainda, ganhos DEFINIÇÃO DAS TÉCNICAS - Cosmetoterapia
para a sociedade, que passa a contar com serviços de consiste na aplicação externa e superficial de pro-
qualidade, e para os farmacêuticos, que veem con- dutos denominados genericamente de cosméticos
solidado um importante nicho de mercado. com finalidade terapêutica e de embelezamento;

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 45


ENTREVISTA
COM HIGOR GUERIM, FARMACÊUTICO ESPECIALISTA EM ESTÉTICA

Eletroterapia é o uso de correntes elétricas den- um estado de completo bem-estar físico, mental e
tro da terapêutica. Os aparelhos de eletroterapia social e não somente a ausência de doença ou en-
utilizam uma intensidade de corrente muito baixa, fermidade”.
correspondente a miliamperes e microamperes. Os
VITÓRIA JURÍDICA - A Resolução, já no pará-
eletrodos são aplicados diretamente sobre a pele e
grafo único do seu artigo primeiro, deixa claro que
o organismo é o condutor. Na eletroterapia, são con-
o farmacêutico não está autorizado a praticar inter-
siderados parâmetros, como resistência, intensidade,
venções de cirurgia plástica com fins estéticos. Ainda
voltagem, potência e condutividade; Iontoforese é assim - e apesar de não ser uma atividade exclusi-
a introdução de radicais químicos nos tecidos, por va do farmacêutico -, mal o CFF editou a 573/13,
meio do um campo elétrico, produzido por uma cor- o Conselho Federal de Medicina tentou, na Justiça,
rente unidirecional. Durante essa introdução, ocorre suspendê-la, ajuizando um pedido de antecipação
a repulsão e a atração iônica, de acordo com a pola- de tutela contra o Conselho de Farmácia. Mas a Juíza
ridade de cada eletrodo e, assim, sua interação com Substituta da 17ª Vara da Seção Judiciária do Dis-
a membrana biológica. Laserterapia é uma técnica trito Federal, Maria Cândida Carvalho Monteiro de
não ablativa utilizada na depilação, discromias, en- Almeida, após analisar os argumentos apresentados
velhecimento cutâneo, flacidez tegumentar e lesões pela Consultoria Jurídica do CFF, indeferiu o pedido.
vasculares; Luz Intensa Pulsada é considerada uma
fonte de luz não-laser gerada por lâmpadas, resultan- “O farmacêutico é o profissional detentor do co-
do na emissão de calor e radiação luminosa, sendo, nhecimento sobre medicamentos e pode, sim, ser o
portanto, classificada como recurso fototermotera- responsável técnico por estabelecimentos nos quais
pêutico; Peeling químicos e mecânicos são proce- se utilizam técnicas de natureza estética e recursos
dimentos de estética capazes de promover a reno- terapêuticos para fins estéticos, desde que não haja
vação celular, de forma progressiva, estimulando a a prática de intervenções de cirurgia plástica. É mais
regeneração natural dos tecidos; Radiofrequência um campo de atuação para o farmacêutico. É mais
estética é um tipo de radiação eletromagnética que, uma conquista da categoria”, exclamou o Presidente
em frequências mais elevadas, gera calor nos teci- do CFF, Walter Jorge.
dos biológicos. A técnica é considerada não ablati- MERCADO - O mercado aberto para o farma-
va, induzindo a produção de colágeno sem ruptura cêutico, no setor estético, é muito promissor. Em
da pele. Sonoforese (ultrassom estético) significa o Curitiba (PR), o farmacêutico Higor Guerim, especia-
uso do ultrassom para aumentar a absorção cutânea lista no setor, abriu, em 2012, uma clínica de saúde
de fármacos aplicados, topicamente. A sonoforese estética. Tamanha foi a demanda enfrentada por seu
aumenta exponencialmente a absorção tópica de estabelecimento que, em 2013, Guerim expandiu a
substâncias, através da epiderme, derme e anexos empresa, com a abertura de mais duas clínicas.
cutâneos.
Higor Guerim foi convidado pelo CFF para
SAÚDE - O CFF, no texto da Resolução atuar como assessor ad hoc na elaboração da Re-
573/2013, define a saúde estética como “a área da solução 573/13. A revista PHARMACIA BRASILEIRA
saúde voltada à promoção, proteção, manutenção e o entrevistou para esta matéria sobre saúde estéti-
recuperação estética do indivíduo, de forma a sele- ca. “A saúde estética pode ser eficaz na redução da
cionar e aplicar procedimentos e recursos estéticos, circunferência abdominal, que sabidamente está as-
utilizando-se para isto produtos cosméticos, técnicas sociada ao aparecimento de problemas cardíacos, e
e equipamentos específicos, de acordo com as ca- pode minimizar os efeitos do tempo sobre a pele.
racterísticas e necessidades do cliente”. O bem-estar O farmacêutico pode, também, orientar e incentivar
promovido pela saúde estética vai ao encontro do hábitos saudáveis e tudo que pode estar relacionado
conceito de saúde estabelecido pela OMS (Organi- ao bem-estar do paciente”, explica Guerim. VEJA A
zação Mundial da Saúde) segundo a qual “saúde é ENTREVISTA.

46 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


ENTREVISTA
COM HIGOR GUERIM, FARMACÊUTICO ESPECIALISTA EM ESTÉTICA

PHARMACIA BRASILEIRA -
O que o farmacêutico faz na esté-
tica pura e na saúde estética? Que
itens ele produz e dispensa? E que
serviços presta?
Farmacêutico Higor Gue-
rim - Quando falamos em saúde
estética, entendemos que a saúde
está relacionada ao bem-estar e à
satisfação com a aparência física.
Podemos trabalhar essas questões,
através de diversos procedimen-
tos usados na estética, que podem
minimizar, ou resolver diversas
características antiestéticas, como
cicatrizes de acne, manchas, gor-
dura localizada, estrias, celulite e
até a obesidade.
Quando não usamos o ter-
mo saúde estética, podemos estar
nos referindo a procedimentos
Dr. Higor Guerim
de manutenção de um resultado
já obtido ou técnicas preventivas
para retardar o aparecimento de
características do envelhecimento
celular.
A Resolução 573, do CFF,
não muda nada em relação ao
que pode ser manipulado em Farmacêutico Higor Guerim PHARMACIA BRASILEIRA -
uma farmácia magistral. A clínica - A saúde é agregada à estética em Em que casos a saúde estética é
de estética não pode exercer ativi- diversas situações, como no caso eficaz?
dades de manipulação de formu- de uma pessoa que recupera a
Farmacêutico Higor Gue-
lações, mas o farmacêutico pode confiança para sair em público,
rim - A saúde estética pode
aplicar cosméticos produzidos em depois de resolver uma caracterís-
tica que a incomoda, ou no caso ser eficaz na redução da cir-
outro estabelecimento. Podemos,
de uma pessoa que trata a obe- cunferência abdominal, que
ainda, oferecer vários serviços que
sidade e melhora de problemas sabidamente está associada ao
envolvem diversas técnicas descri-
tas na Resolução. secundários, como a hipertensão, aparecimento de problemas
hiperglicemia, problemas cardía- cardíacos, e pode minimizar os
PHARMACIA BRASILEIRA - cos, problemas de articulação, en- efeitos do tempo sobre a pele.
Em que situações a saúde é agre- tre outras. O farmacêutico, além O farmacêutico pode, também,
gada à estética? Que benefícios a de executar as técnicas de estéti- orientar e incentivar hábitos
saúde estética traz aos clientes das ca, pode auxiliar na utilização de saudáveis e tudo que pode es-
clínicas pelas mãos do farmacêuti- medicamentos dispensados para tar relacionado ao bem-estar do
co especialista? outros problemas de saúde. paciente.

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 47


ENTREVISTA
COM HIGOR GUERIM, FARMACÊUTICO ESPECIALISTA EM ESTÉTICA

PHARMACIA BRASILEIRA -
O senhor é um empresário bem-
sucedido no setor da estética.
Abriu, em Curitiba, há um ano,
uma clínica e, em 2013, a enorme
“Para se capacitar na área, o
expansão da demanda o levou a farmacêutico deve procurar um
abrir duas filiais. O senhor acon- curso de especialização. Com a
selharia o farmacêutico especialis- publicação da Resolução, muitas
ta a abrir o seu próprio negócio? instituições já estão oferecendo cursos
Com que recomendações e res-
salvas?
direcionados para farmacêuticos”
(Farmacêutico Higor Guerim).
Farmacêutico Higor Guerim
- Recomendo o farmacêutico
a abrir o seu próprio negocio,
sim. Mas abrir uma clínica não
é sinônimo de sucesso. Existem
muitas questões que devem ser
levadas em consideração. Não PHARMACIA BRASILEIRA - ser profissionais liberais e ofere-
é diferente de outro negócio. Em que classe social localiza-se cer o serviço como autônomo. O
Temos que ter um bom ponto a maior parte da clientela das farmacêutico pode montar a sua
comercial, estrutura de acor- clínicas de estética? O aumento agenda de trabalho, de acordo
do com o publico alvo, preço do poder de compra das classes com a sua disponibilidade de tem-
competitivo, entre outros. Não C e D fez expandir o mercado po. Pode, também, desenvolver
podemos esquecer que temos estético? outras atividades em outras áreas
vários custos, como funcioná- da profissão.
Farmacêutico Higor Gue-
rios, aluguel, luz, água, telefo-
rim - As classes sociais que mais
ne, material de consumo etc. PHARMACIA BRASILEIRA -
consomem esses serviços são B O que o farmacêutico que se in-
Então, uma boa reserva inicial
é indispensável para não passar e C. O aumento do poder de teressa pela saúde estética deve
sufoco, nos primeiros meses. consumo dessas classes é um fazer para se capacitar na área?
dos responsáveis pela expansão Onde ele pode buscar a especia-
PHARMACIA BRASILEIRA deste setor. lização? Há quantidade de cursos
- Quanto custa, em média, abrir que atende à demanda dos farma-
uma clínica de estética? Que PHARMACIA BRASILEIRA cêuticos?
equipamentos e produtos são im- - O senhor participou do Grupo
Ad Hoc do Conselho Federal de Farmacêutico Higor Gue-
prescindíveis para se abrir uma clí-
Farmácia que elaborou a proposta rim - Para se capacitar na área, o
nica e quais os seus preços?
farmacêutico deve procurar um
de Resolução que regulamenta as
Farmacêutico Higor Guerim curso de especialização. Com a
atividades do farmacêutico na es-
- O custo para abertura de uma publicação da Resolução, muitas
tética. Que impactos esta norma
clínica e muito variável. Hoje em instituições já estão oferecendo
causará nas ações profissionais?
dia, dispomos de uma infinida- cursos direcionados para farma-
de de equipamentos, produtos e Farmacêutico Higor Guerim cêuticos. Ele vai ter que mostrar
técnicas para este setor. Tudo vai - A Resolução vai oferecer  mais que é um bom profissional. Não
depender do que a clínica preten- uma opção ao farmacêutico e, tenho dúvidas de que isto vai
de oferecer. O valor inicial pode também, uma oportunidade para ocorrer. Em pouco tempo, sere-
variar de 60 mil Reais a 600 mil atuarmos em uma nova modalida- mos uma classe profissional reco-
Reais. de de trabalho. Agora, podemos nhecida nesta área.

48 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


poder chamado
Um
farmácia hospitalar
Pelo jornalista Aloísio Brandão,
Editor desta revista.

Instituições, públicas e privadas de qualquer setor estão, cada


vez mais, submetidas a rigorosos padrões de qualidade, a proto-
colos e normas que lhe garantam aquilo que é uma exigência,
no mundo inteiro: a qualidade. Não é diferente nos hospitais. O
farmacêutico hospitalar, Conselheiro Federal de Farmácia pelo
Rio Grande do Sul e Coordenador do Grupo de Trabalho em
Farmácia Hospitalar (GFH) do Conselho Federal de Farmácia
(CFF), Josué Schostack, cita os quesitos estabelecidos por duas
importantes entidades certificadoras, a ONA (Organização Na-
cional de Acreditação) e a JCI (Joint Commission International)
para emitir a acreditação dos hospitais. São eles o controle e a
segurança dos sistemas de dispensação de medicamentos, de sua
entrada no hospital (aquisição), passando pelo seu armazenamen-
to, sua distribuição e circulação no ambiente hospitalar, até a
sua chegada, de forma segura e racional, ao paciente, no leito
hospitalar. É, aí, que entram o farmacêutico e seus imprescindíveis
serviços. O CFF, por meio do seu Grupo de Trabalho, vem ado-
tando uma política, com vistas a qualificar o farmacêutico hos-
pitalar e a expandir a estrutura dos seus serviços. “É esta a nossa
função, e pretendemos cumpri-la, na integra”, enfatizou o Dr.
Josué Schostack.

Os serviços farmacêuticos O farmacêutico é encarre­ medicamentos e de produtos


estão intimamente relacionados gado, ainda, de funções admi- para a saúde e a participação nas
ao controle e à segurança de nistrativas, como a aquisição, comissões de licitação. “Estas
todo o processo envolvendo o estocagem, dispensação; técni- são algumas das atividades diá­
medicamento no ambiente hos­ cas, a exemplo da atenção far­ rias do farmacêutico hospitalar”,
pitalar. Ali, enfatiza Schostack, o macêutica e outras atribuições lembra Josué Schostack.
farmacêutico é “o administrador clínicas, sem contar a sua partici­
do medicamento e dos produtos pação nas Comissões de Contro­ Ele acrescenta que o pro­
para a saúde circulantes, em cada le de Infecção Hospitalar (CCIH), fissional atua, ainda, no planeja­
canto, sejam eles o ambulatórios, nas ações no suporte nutricional mento estratégico integrado ao
as unidades de enfermagem entre e no parecer técnico; econômi- processo de gestão, o que permite
outros”. cas, entre as quais a seleção de à farmácia hospitalar definir sua

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 49


sua participação na qualidade dos nome genérico, evitando associa­
produtos adquiridos e ofertados e ções, reduz o universo desses pro­
na prescrição médica. A garantia dutos disponíveis nos estoques da
de qualidade dos produtos indus­ farmácia hospitalar.
trializados, manipulados de forma
“O Hospital de Clínicas de
magistral ou oficinal, das soluções
Porto Alegre, Universitário e de
parenterais, dos produtos citotó­
referência nacional e interna­
xicos, dos antissépticos e desin­
cional, dispõe, como medica­
fetantes é compromisso assumido
mentos padronizados, de uma
pelo farmacêutico e pela farmácia
listagem de oitocentos fárma­
hospitalar”, pontifica o Dr. Josué
cos para o atendimento de um
Schostack.
hospital terciário, com atuação
ECONOMIA - Reforce-se o na área de transplantes, cân­
papel preponderante dos serviços cer, infecto, traumato, gineco
farmacêuticos para a economia e pediatria, nos seus 750 leitos,
dos hospitais em relação ao item atendendo às mais diversas pa­
Dr. Josué Schostack: “Presença do farmacêutico, medicamentos. “A presença do tologias. Este estoque racional
no serviço de farmácia hospitalar, é sinônimo de farmacêutico, no serviço de far­ e controlado pela CCIH e CFT
gestão, de controles e de qualificação técnica”. mácia hospitalar, é sinônimo de atende às necessidades das
gestão, de controles e de quali­ prescrições médicas hospitala­
missão e, num processo constan­ ficação técnica”, sintetiza Josué res”, informa o farmacêutico.
te de melhorias internas, garantir, Schostack.
Dr. Schostack trouxe um
com redução de custos, a quali­ Ele explica que a implanta­ dado concreto que ilustra a ca­
dade técnica de produtos e uma ção de uma sistemática de distri­ pacidade dos serviços farmacêuti­
assistência de excelência aos pa­ buição de medicamentos, racio­ cos de promover economia para
cientes dependentes de ações te­ nal e efetiva, reduz os estoques as instituições hospitalares: “O
rapêuticas. nas unidades de enfermagem e estorno diário de medicamentos
DE PROBLEMA À SEGU­ consequentemente faz cair os efetivado pelo serviço de farmá­
RANÇA TÉCNICA - Se, no pas­ custos hospitalares. Lembra que cia hospitalar, feito em produtos
sado, os farmacêuticos - e as far­ a seleção de medicamentos pelo se necessário (em torno de 20%
mácias hospitalares - eram um
problema, uma dor de cabeça
para os administradores hospita­
lares, vez que estavam associados
a grandes estoques, ao capital
imobilizado e às despesa contí­
nuas, hoje, garante Schostack, os
farmacêuticos são “uma seguran­
ça técnica para a administração
hospitalar”.
A sua participação na elabo­
ração da seleção de medicamen­
tos, no controle da aquisição, no
armazenamento e dispensação
de medicamentos e de produtos
para saúde evidenciam o profis­ Grupo de Trabalho em Farmácia Hospitalar do CFF: a Presidente da Sbrafh, Helaine Capucho
sional comprometido com a insti­ (DF); a representante da Comissão de Farmácia Hospitalar do Estado do Espírito Santo,
tuição, gerenciando estoques que Maria José Sartório; o Coordenador do GFH/CFF e Conselheiro Federal de Farmácia, Josué
Schostack (RS); a Presidente da Sobrafo, Iara Maria Franzen Aydos (RS), e os representantes
representam até 50% dos gastos das Comissões de Farmácia Hospitalar dos Estados do Maranhão, Daniela Soares Fernandes,
do Hospital. “É imprescindível a e de São Paulo, José Ferreira Marcos.

50 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


do receituário médico-hospitalar)
- antimicrobianos suspensos - re­
presentam, às vezes, uma econo­
mia em torno de 15% da despesa “A presença do farmacêutico, dia e noite,
total mensal com medicamentos, no hospital, tranquiliza médicos, enfermeiros,
no hospital”.
numa constante troca de informações onde
DIFICULDADES - Mas os quem ganha, sempre, é o paciente”
benefícios dos serviços farmacêu­ (Farmacêutico hospitalar Josué Schostack).
ticos, ainda, precisam chegar ao
conhecimento dos administrado­
res hospitalares e sensibilizá-los
para a necessidade de incluí-los
plenamente nas equipes multi­ os hospitais, segundo define a FH), Helaine Carneiro Capucho
profissionais. “Ainda, precisamos Portaria número 2616/1998, do (DF), e da Sociedade Brasileira
esclarecer os administradores hos­ Ministério da Saúde. A CCIH, em de Farmacêuticos em Oncologia
pitalares que as equipes de profis­ conjunto com a Comissão de Far­ (Sobrafo), Iara Maria Franzen Ay­
sionais desenvolvem um trabalho mácia e Terapêutica, tem papel dos; e representantes das Comis­
de excelência, quando motiva­ preponderante no controle do uso sões de Farmácia Hospitalar dos
dos. Hoje, na plenitude dos hos­ de antimicrobianos no ambiente Estados de São Paulo, José Ferrei­
pitais, fala-se em equipe médica, hospitalar e atua, ainda, no sen­ ra Marcos; Rio Grande do Sul, o
de enfermagem, de nutrição, de tido de reforçar a política de uso próprio Schostack (Presidente do
assistentes sociais, de psicólogos. racional de medicamentos e pro­ GT); do Espírito Santo, Maria José
Quando se fala em equipe farma­ dutos para a saúde. Sartório, e do Maranhão, Daniela
cêutica, refere-se a hospitais de Soares Fernandes.
O papel do farmacêutico na
50, 150, 300, 800 leitos com um
CCIH é vital e decisivo para o Josué Schostack detalha as
farmacêutico hospitalar apenas
sucesso desse comitê hospitalar ações do GT, com vistas a forta­
para atender à legislação vigente”,
e multiprofissional. Ele atua no lecer o segmento: “Esta compo­
lamentou Josué Schostack.
serviço de farmácia, controlan­ sição de profissionais, com sua
Segundo ele, os hospitais que do a antibioticoterapia e anti­ prática efetiva, busca a qualifi­
possuem equipe de farmacêuticos bioticoprofilaxia, no preparo de cação do farmacêutico hospita­
conseguem prestar serviços com nutrições parenterais e na far­ lar, a atualização de resoluções
muito mais qualidade, obtendo mácia clínica; no laboratório de normativas e orientadoras para
redução de custos e tendo o ser­ análises clínicas, proporcionan­ o exercício profissional, bem
viço de farmácia com mais quali­ do controles sobre o uso seguro como frente às Portarias prove­
ficação, como um aporte técnico e racional dos antimicrobianos, nientes do Ministério da Saúde e
à equipe multiprofissional de saú­ na resistência a essa classe de às RDCs da Anvisa”.
de. “A presença do farmacêutico, medicamentos, na redução de
Para isso acontecer, diz Josué
dia e noite, no hospital, tranqui­ custos pela implantação de uma
Schostack, o Grupo de Trabalho
liza médicos, enfermeiros, numa seleção de medicamentos para o
que ele preside produz cadernos
constante troca de informações hospital, de forma a atender às
técnicos e informativos atualiza­
onde quem ganha, sempre, é o necessidades técnicas para pres­
dos, que são disponibilizados,
paciente”, declarou o Conselheiro crição médica.
por meio da revista “Pharma­
Federal pelo Rio Grande do Sul e
CFF - O Conselho Federal cia Brasileira”, realiza cursos de
farmacêutico hospitalar.
de Farmácia dá atenção especial atualização para o farmacêutico
CONTROLE DA INFECÇÃO à Farmácia Hospitalar. Tanto que hospitalar promovidos pelo CFF
HOSPITALAR - O farmacêuti­ possui um Grupo de Trabalho de em parceria com os Conselhos
co tem atribuição importante na altíssimo nível voltado para o se­ Regionais de Farmácia. O GT está
Comissão de Controle de Infec­ tor. “O Grupo é composto pelas focado, também, na derrubada da
ção Hospitalar (CCIH), comitê Presidentes da Sociedade Brasilei­ Súmula 140 e na atualização da
de atuação obrigatória em todos ra de Farmácia Hospitalar (SBRA­ RDC 67/207, da Anvisa.

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 51


MERCOSUL:
os gargalos da
regulamentação
Pelo jornalista Aloísio Brandão,
Editor desta revista.

O Mercosul avança - e até com alguma agilidade - na


regulamentação do comércio e da indústria. Aliás, as
regras concernentes a esses setores estão praticamente
concluídas. Mas o bloco continua arrastando-se
para regulamentar os serviços na área da saúde. A
explicação para o descompasso está, em parte, nos
interesses corporativos. A análise é do farmacêutico
e professor Carlos Cecy, que representa o Conselho
Federal de Farmácia no Fórum Permanente Mercosul
para o Trabalho em Saúde. “Nenhuma profissão quer
perder suas áreas de atividade, nem as conquistas
consolidadas em leis trabalhistas”, argumenta ele. E como
se dará a harmonização em pontos, como a prescrição
farmacêutica? O ato, conquistado pelos farmacêuticos
brasileiros, em 2013, graças a uma resolução editada pelo
Conselho Federal de Farmácia (CFF), não é exercido em
nenhum outro País membro do Mercado.

52 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


Há gargalos que não se desfazem facilmente em nosso
mercado comum, emperrando a fluidez dos processos de
harmonização e regulamentação. Talvez, por isto, o Presi-
dente do Uruguai, José Mujica, declarou, em uma entrevista
recente ao jornal Lá República, do seu País, que o Mercosul
está ferido. “Estamos feridos e vamos ter de rever o que fun-
ciona e o que não funciona, e apontar os problemas, com
muita ênfase”. Mujica foi mais além, ao se referir à lentidão
com que o bloco ajusta as suas diferenças: “Em algum mo-
mento, teremos que regular e, se não regulamos, os governos
mudam e os povos ficam”.
Estas e outras questões relacionadas ao Mercosul, como
a dificuldade de harmonizar diferenças gritantes no ensino
farmacêutico dos países que integram o mercado comum,
são abordadas nesta entrevista com o professor Carlos Cecy.
Graduado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) onde
se doutorou em Farmacognosia, Cecy é farmacêutico apo-
sentado do Hospital das Clínicas da mesma Universidade e
Professor Carlos Cecy representa o
professor aposentado da PUC-PR (Pontifícia Universidade CFF no Fórum Permanente Mercosul
Católica do Paraná). Foi Presidente do Conselho Federal de para o Trabalho em Saúde

Farmácia (1983-1984). VEJA A ENTREVISTA.

PHARMACIA BRASILEIRA - até o próximo ano, tais diretrizes levando-se em consideração a


Dr. Carlos Cecy, a partir de 2015, estarão aprovadas e os prestado- legislação já existente, de modo
os serviços farmacêuticos (e os de- res de serviços poderão circular a se lograr maiores níveis de con-
mais do setor da saúde) vão mes- livremente, desde que atendam à vergência normativa. Será o caso
mo ser prestados livremente, nos legislação. da prescrição farmacêutica, que,
países que integram o Mercosul? segundo me consta, existe apenas,
Em que pé encontram-se as nego- PHARMACIA BRASILEIRA no Brasil.
ciações, com vistas à harmoniza- - Os farmacêuticos brasileiros
ção dos serviços? Os países terão acabam de adquirir o direito de PHARMACIA BRASILEIRA -
condições de implementar a cir- prescrever medicamentos, gra- As negociações realizadas pelas
culação dos serviços? ças à autorização do Conselho profissões da saúde, até 2004,
Federal de Farmácia nesse senti- apresentavam avanços e tudo fa-
Farmacêutico Carlos Cecy - zia crer no sucesso das harmoni-
do. Eles poderão prescrever nos
Está sendo elaborado, no âmbito zações. Em seguida, o Ministério
países membros do Mercosul? O
do Mercosul, o “Plano de Ação da Saúde passou a concentrar to-
senhor vislumbra a possibilidade
do Programa de Liberalização do das as negociações junto aos paí-
de se harmonizar esse ato pro-
Comércio de Serviços”, que deve- ses membros. Para tanto, criou o
fissional?
rá estar concluído, em 2015. Este Fórum Permanente do Mercosul
prazo foi fixado pelo Protocolo de Farmacêutico Carlos Cecy - para o Trabalho em Saúde, com o
Montevideo, que entrou em vigor, Um aspecto que dificultará essa objetivo de subsidiar a Pasta com
em 7 de dezembro de 2005, dan- harmonização será, com certeza, informações na área. Que avalia-
do dez anos para a definição das os serviços de saúde específicos ção o senhor faz do processo de
diretrizes que tratarão da liberali- de um dado País. Neste caso, negociação entre os países, após
zação do comércio dos serviços. deverá haver adequação da legis- a centralização das negociações
Portanto, tudo leva a crer que, lação dos demais Estados partes, pelo Ministério da Saúde?

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 53


Farmacêutico Carlos Cecy “Um aspecto que dificultará essa harmonização
- As negociações realizadas dire-
serão os serviços de saúde específicos de
tamente entre as profissões não
tinham respaldo legal e não sur-
um dado País. Neste caso, deverá haver
tiram efeito. Assim, foi mais pro- adequação da legislação dos demais Estados
dutivo o Ministério da Saúde as- partes, levando-se em consideração a legislação
sumir, através do SGT (Subgrupo já existente, de modo a se lograr maiores níveis
de Trabalho) 11, as negociações,
de convergência normativa. Será o caso da
tendo um diálogo permanente
com as representações profissio- prescrição farmacêutica” (Farmacêutico Carlos Cecy).
nais, através do Fórum Mercosul
para o Trabalho em Saúde.

PHARMACIA BRASILEIRA - trial são muito mais ágeis e têm por vários profissionais: médicos,
Ao contrário do que ocorreu, na Eu- a regulamentação praticamente químicos, farmacêuticos e biomé-
ropa, quando da criação da União completa. Por outro lado, a regu- dicos. Este é um grande desafio
Europeia, por que os profissionais lamentação das profissões da área que está sendo discutido pelos Es-
da saúde sul-americanos não se da saúde caminha a passos de tados partes.
envolvem diretamente no processo tartaruga. Isto pode ser explicado,
de formação do Mercosul? em parte, pelos interesses corpo- PHARMACIA BRASILEIRA
rativos, pois nenhuma profissão - Fale do ensino, nos Países do
Farmacêutico Carlos Cecy - quer perder áreas de atividade, Mercosul. É possível estabelecer
Sua pergunta sobre o desinteresse nem as conquistas consolidadas alguma comparação entre os cur-
do envolvimento nas questões do em leis trabalhistas. Também, as sos dos países, tomando por base
Mercosul merece um esclareci- divergências de denominações, a qualidade dos mesmos?
mento. Por parte dos brasileiros, de órgãos controladores, de âmbi-
este desinteresse justifica-se pelo Farmacêutico Carlos Cecy -
to profissional e de formação con-
fato de os mesmos não vislum- No que respeita a qualidade dos
tribuem para que as discussões se
brarem vantagem em migrar para profissionais formados, os Países
perenizem.
os países vizinhos, pois, além de membros aprovaram, em 2008,
territorialmente menores, não são um acordo visando à criação de
PHARMACIA BRASILEIRA
economicamente atraentes. O um sistema de acreditação de cur-
- Como harmonizar diferenças
mesmo não ocorre com os pro- sos denominado Sistema ARCU
gritantes na formação acadêmi-
fissionais dos demais Países Mem- (Acreditación Regional de Carreras
ca e no âmbito profissional far-
bros, que acompanham, de perto, Universitarias)-SUR. Trata-se de
macêutico, nos Países membros,
toda a legislação do Mercosul e um mecanismo de avaliação da
considerando, por exemplo, que,
vêem, no Brasil, infinitas possibi- qualidade do ensino, com vistas
na Argentina e no Paraguai, o bio-
lidades de trabalho e de progresso a agilizar a revalidação dos diplo-
químico não é farmacêutico, mas,
profissional. mas universitários.
sim, o profissional formado em
outro curso - o de Bioquímica? O processo foi implantado
PHARMACIA BRASILEIRA - em caráter experimental para os
Farmacêutico Carlos Cecy -
O processo de harmonização dos cursos de Agronomia, Engenharia
Essa pergunta remete ao que foi
serviços farmacêuticos - e de saú- e Medicina, sendo facultativa a
dito: que, somente no Brasil, o
de, em geral -, no Mercosul, é mui- adesão das instituições de ensino.
farmacêutico é habilitado para o
to lento em comparação ao que Os cursos de Medicina da Univer-
exercício das análises clínicas. Nos
ocorre com os produtos, inclusive sidade Estadual de Londrina, da
demais Países, inclusive na Ve-
medicamentos e cosméticos, se- Santa Casa de Misericórdia de São
nezuela, essa atividade é exercida
gundo especialistas. Por que? Paulo e da Universidade Federal
por um profissional específico: o
de São Paulo (Unifesp) estão parti-
Farmacêutico Carlos Cecy - bioquímico ou o bioanalista, que
cipando do sistema.
Concordo com a sua colocação. se constitui em uma profissão. No
O setor de comércio e o indus- Brasil, é uma atividade exercida Atualmente, o programa

54 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


“Os setores de comércio e indústria são
muito mais ágeis e têm a regulamentação
praticamente completa. Mas a regulamentação
das profissões da área da saúde caminha a
passos de tartaruga. Isto pode ser explicado,
em parte, pelos interesses corporativos, pois
nenhuma profissão quer perder áreas de
atividade” (Farmacêutico Carlos Cecy).

abrange, também, os cursos de elaborados para não ferirem inte-


Odontologia, Arquitetura, Enfer- resses dos profissionais envolvidos.
magem e Veterinária, e é admi-
nistrado, no Brasil, pelo Merco- PHARMACIA BRASILEIRA -
sul Educacional. Além dos Países O Brasil, o Uruguai e o Paraguai
membros do Mercosul, partici- firmaram acordos bilaterais que
pam desse programa a Bolívia, autorizam o livre trânsito de pro-
o Chile e a Colômbia. A convo- fissionais na faixa de fronteira.
catória das instituições é feita, Esses acordos foram realizados
anualmente, sob a orientação da paralelamente ao Mercosul e não
RANA (Rede de Agências Nacio- têm nada a ver com os ajustes rea-
nais de Acreditação). lizados, até aqui, no contexto do
Mercado Comum. Esses acordos
PHARMACIA BRASILEIRA - causam algum tipo de impacto
As Diretrizes Curriculares, instituí- nas negociações do Mercosul?
das, no Brasil, em 2002, deram aos Eles interferem, de alguma forma,
cursos liberdade para definir os no processo de negociação desen-
Professor Carlos Cecy
seus próprios projetos pedagógi- volvido pelo Subgrupo de Traba-
cos, em contraposição aos demais lho (SGT) 11, que responde pela
países do Mercosul, onde existe área da saúde?
uma normatização rigorosa em re- mercado farmacêutico brasileiro e
Farmacêutico Carlos Cecy -
lação a esse aspecto. Essas diferen- o crescimento (inclusive a espan-
Esta questão já foi parcialmente
ças têm dificultado o processo de tosa diversificação) da profissão,
respondida no item 4. A amplia-
harmonização dos serviços? o Mercosul trará vantagens para
ção do mercado de trabalho é,
Farmacêutico Carlos Cecy - sempre, desejável e bem-vinda. o profissional brasileiro? Ele será
Os acordos bilaterais são firmados Acredito que trará vantagens aos atraente para o farmacêutico bra-
em casos em que há urgência na farmacêuticos e demais profissio- sileiro?
resolução de determinado proble- nais da área da saúde. Aliás, já Farmacêutico Carlos Cecy
ma e geralmente abrangem áreas existem relatos de médicos bra- - As negociações sobre a harmo-
fronteiriças. Como as resoluções sileiros que clinicam, em um ou nização profissional não atingem
do Mercosul demandam muitos dois dias da semana, em Buenos aspectos específicos da formação.
estudos e devem ser aprovadas Aires. O transporte aéreo permite Estes serão avaliados pelo sistema
por unanimidade, os Países recor- a locomoção e esses profissionais ARCU-SUR de acreditação, que
rem a acordos bilaterais, por se- estão aproveitando isso para ex- futuramente abrangerá todos os
rem de aplicação imediata e não pandir sua área de trabalho. cursos superiores. Enquanto isto
comprometerem as negociações permanece o sistema de revalida-
do bloco. Mesmo assim, seus ter- PHARMACIA BRASILEIRA - ção de diplomas para os profissio-
mos devem ser cuidadosamente Se considerarmos o gigantismo do nais formados no exterior.

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 55


FARMÁCIA CLÍNICA
Grande exemplo
na pequena Jucurutu
J ucurutu é um Município norte-rio-granden-
se de cerca de 20 mil habitantes, distante
233 quilômetros de Natal, capital do Estado. Em
fevereiro de 2014, a pequena e nordestina Ju-
curutu entrou para a privilegiada lista de cida-
des onde estão se desenvolvendo experiências
positivas em cuidados clínicos farmacêuticos
prestados em estabelecimentos particulares. O
feito que está projetando o Município no con-
texto sanitário é uma iniciativa do farmacêutico
Marcus Vinícius Silva. Ele montou, ali, a sua Far-
mácia do Povo e do Aposentado Gadu, onde
presta à população serviços baseados nas atri-
buições clínicas farmacêuticas. A solenidade de
inauguração foi marcada pela apresentação ao
público do Ambulatório Professor Tarcísio Pa-
lhano, localizado dentro do estabelecimento. É
uma homenagem do proprietário ao seu ex-pro-
fessor, pioneiro da farmácia clínica, no Brasil, e
uma das maiores autoridades farmacêuticas do
País.
Formado pela Faculdade de Farmácia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
o Dr. Marcus Vinícius, 26 anos, natural de Ale-
xandria (RN), partiu para o desafio de montar
uma farmácia e transformá-la num espaço de
saúde destinado às práticas clínicas farmacêuti-
cas movido pela paixão profissional e pela con-
Farmacêutico Marcus Vinícius Silva
vicção de que este é o caminho natural que se
inaugurou sua farmácia, no interior do Rio abriu ao farmacêutico, no mundo inteiro. E Ju-
Grande do Norte, onde prestará cuidados curutu não fugiu a essa inclinação profissional.
clínicos no ambulatório que leva o nome
do Professor Tarcísio Palhano. A Farmácia do Povo e do Aposentado Gadu
(Grande Arquiteto do Universo para os maçons),
segundo promete o seu proprietário, propõe-se
a fazer um trabalho “diferenciado”. Marcus Vi-
nícius explica: “A diferença é que vamos pres-
tar serviços clínicos à população. Vamos aplicar
injetáveis, fazer a aferição da pressão arterial e
medir os parâmetros bioquímicos (taxa de glico-

56 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


se), colocar piercing e brincos, além de realizar
o acompanhamento farmacoterapêutico, inclu-
sive domiciliar”, explica o Dr. Marcus Vinícius.
AMBULATÓIRIO E HOMENAGEM - Mar-
cus, já na inauguração, deixou claro a que veio
a sua farmácia, ao criar, ali, um espaço inter-
no para o ambulatório, onde ele se dedicará à
prestação de serviços e, também, à prescrição
farmacêutica e outros atos das atribuições clíni-
cas do profissional. “Tenho toda a convicção de
que a farmácia é um estabelecimento de saúde
e deve ser gerida como tal”, enfatizou.
O proprietário deu ao ambulatório o nome
de uma das maiores expressões da farmácia clí-
nica brasileira. Tarcísio Palhano, professor apo-
sentado de Farmacologia Aplicada, de Farmácia
Clínica e de Estágio Supervisionado Farmacêuti-
co, na UFRN, e Ex-Diretor da farmácia do Hos-
pital Universitário Onofre Lopes, de Natal, é
pioneiro da farmácia clínica, no Brasil. Implan-
tou o primeiro Serviço de Farmácia Clínica e o
primeiro CIM (Centro de Informação sobre Me-
dicamentos) do País. Especializou-se em Farmá-
cia Clínica, no Chile, e em Farmácia Hospitalar,
na França, e é um dos nomes mais requisita-
dos para palestras e conferências sobre o tema,
no Brasil e fora. É Assessor da Presidência do O Professor homenageado Tarcísio
Palhano posa à porta do ambulatório
Conselho Federal de Farmácia (CFF), Coorde- farmacêutico que leva o seu nome.
nador Técnico- Científico do Cebrim (Centro
Brasileiro de Informação sobre Medicamentos),
Departamento do CFF. Palhano foi professor de
Marcus Vinícius.
A Presidente do Conselho Regional de Far- PRESIDENTE DO CFF - “Homenagear o Dr.
mácia do Rio Grande do Norte, Maria Célia Ri- Tarcísio Palhano não é apenas uma manifestação
beiro Dantas de Aguiar, enviou uma mensagem de reconhecimento a um dos mais competentes
ao proprietário da farmácia, por meio do Vice farmacêuticos brasileiros de todos os tempos,
-Presidente do órgão, Jairo Sotero Nogueira de mas, também, uma demonstração de gratidão
Souza. Dra. Célia Ribeiro Dantas destacou a im- a todos os profissionais que fazem da Farmá-
portância daquele momento para a entidade re- cia um estuário do humanismo e da sabedoria,
presentativa dos farmacêuticos potiguares. “Em um espaço para a pesquisa e um campo para a
tempos de turbulência e descontentamentos aproximação com o paciente, visando à manu-
sociais, é acalentador ter ciência de que a vida tenção de sua saúde e a cura de sua doença”,
premia os cidadãos de bem e as personalidades disse o Presidente do CFF, Walter Jorge João, em
legítimas, que são justamente aquelas que con- mensagem lida durante a solenidade de inaugu-
quistam respeito com o esforço próprio, como é ração da farmácia que reuniu autoridades locais
o caso do amigo Tarcísio Palhano”. de todos os Poderes.

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 57


Várias

CFF e CFM: caminho aberto


para o entendimento
Ele lembrou a luta vitoriosa que desencadeou, quan-
do esteve à frente do Conselho Regional de Farmácia
do Pará, em favor da recolocação do farmacêutico, na
farmácia. Na ocasião, os farmacêuticos contaram com
o apoio dos médicos.
O Conselheiro Federal de Medicina pelo Esta-
do do Pará, Waldir Cardoso, afirmou que, além de
participar da luta dos farmacêuticos paraenses ci-
tada pelo Presidente do CFF, a Medicina foi parceira
da Farmácia em outras questões comuns, como a
defesa da farmácia como estabelecimento de saú-
de e da implantação da política de medicamentos
genéricos.
Os Presidentes do CFM, Roberto D’Ávila, e do CFF, Walter Jorge João
(terceiro e quarto da esquerda para a direita), acompanhados do NÃO AO PL 7036/14 - O Presidente do CFF enfa-
Consultor ad hoc Wellington Barros, da assessora técnica Josélia
Frade e do assessor da Presidência, Tarcísio Palhano, todos do CFF. tizou a necessidade de se fazer oposição formal ao PL
7036/2014, de autoria do Deputado Rogério Carvalho
Os Conselhos Federais de Farmácia (CFF) e de (PT/SE). “Se aprovado, o Projeto irá ferir a autonomia
Medicina (CFM) vêm dialogando em torno de temas dos conselhos profissionais da saúde”, alertou Walter
de interesse comum às duas entidades. No dia 27 de Jorge João.
março de 2014, o Presidente do CFF, Walter Jorge
O plenário do CFM destacou alguns pontos de
João, participou da 1ª Sessão Plenária Extraordiná-
pauta a serem debatidos entre médicos e farmacêu-
ria do CFM, em Brasília, a convite do Presidente do
ticos. São eles: fracionamento de medicamentos; ne-
Conselho de Medicina, Roberto D´Ávila. No dia 26 de
cessidade de carimbo do médico em receitas aviadas,
fevereiro, D’Ávila e o vice-presidente do órgão, Carlos
nas Farmácias Populares; necessidade de explicitar o
Vital, visitaram os diretores e assessores técnicos do
diagnóstico no receituário, exigida por algumas far-
Conselho de Farmácia, na sede do CFF.
mácias; dispensação de receitas de médicos estran-
A aproximação entre o CFF e CFM, segundo afir- geiros que atuam em zonas de fronteira; pesquisas
mou Walter Jorge na Plenária do Conselho de Me- mercadológicas realizadas, em farmácias, entre ou-
dicina, marca o restabelecimento do diálogo com as tros temas relacionados às resoluções de nº 585 e Nº
demais categorias da área da saúde. “É importante 586, do CFF.
destacar que temos muito mais pontos em comum
Walter Jorge esteve na sede do CFM acompa-
do que divergências com a Medicina. Várias de nos-
nhado dos assessores da Presidência do CFF, Josélia
sas lutas, também, são lutas dos médicos. E essa
Frade e Tarcísio Palhano, e pelo Consultor Ad Hoc
aproximação nos permite debater as divergências e
Wellington Barros. Na próxima visita dos representan-
evitar a judicialização de pautas discordantes”, argu-
tes do CFF ao Conselho Federal de Medicina, serão
mentou o Presidente do CFF.
debatidos os pontos listados pela categoria médica
PARCEIROS - Por muitos anos, disse Walter Jor- como “inquietantes”. Os representantes do CFM tam-
ge, médicos e farmacêuticos trabalharam juntos, e bém foram convidados a participar de uma Reunião
não faz sentido as duas categorias estarem separadas. Plenária do CFF.

58 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


Várias

Teste para Aids por fluido


oral será ofertado pelo SUS
O kit para realização do teste estará disponível
em todas as campanhas do Fique Sabendo, em
serviços do SUS que atendem as populações
vulneráveis e nas farmácias da rede pública.

Um novo teste rápido de Aids realizado por fluido confiabilidade, além de não necessitar de infraestrutura
oral está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), laboratorial”, explica Alexandre Padilha, à época, Minis-
desde março de 2014. O resultado sai, em até 30 mi- tro da Saúde.
nutos. A Portaria que normatiza a medida foi publica-
Na apresentação disponível, nas farmácias, os
da, no dia 18 de dezembro de 2013, pela Secretaria de
testes terão uma bula explicativa com informações de-
Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. O novo
talhada do passo a passo para a sua realização; orienta-
diagnóstico será ofertado para a população em todas
ção para procurar serviço de saúde, se der positivo; e o
as campanhas do Fique Sabendo, nos serviços do SUS
número de telefone disponível para responder dúvidas.
que atendem as populações vulneráveis e nas farmácias
“As pessoas que, eventualmente, não se sintam à von-
da rede pública, a partir do segundo semestre de 2014.
Testes com essa metodologia, que possuírem registro na tade para ir a um centro de saúde ou a um laboratório,
Anvisa, também, poderão ser vendidos em farmácias da poderão fazer o teste com privacidade, em sua própria
rede privada. casa, no horário e da forma que quiserem”, ressaltou o
Ministro.
Inicialmente, o teste com fluido oral será utilizado
por 40 ONG parceiras do Departamento de DST, Aids O kit para a realização do teste está sendo produ-
e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, que atuam, zido pelo laboratório Bio-Manguinhos/Fiocruz e contém
em 21 Estados e no Distrito Federal. Terão prioridade ao uma haste coletora descartável (swab) - de uso único
novo método, durante esta fase inicial - prevista para ini- - para obtenção de fluido oral; um frasco com solução,
ciar, em março de 2014 - as populações prioritárias que no qual é colocada a haste coletora após a obtenção da
apresentam maior vulnerabilidade à infecção pelo HIV amostra; um frasco com o tampão de corrida de reação;
(homens que fazem sexo com homens, um suporte plástico de teste, em que
gays, profissionais do sexo, travestis, ocorrerá a reação e a revelação do re-
transexuais, pessoas que usam drogas, sultado.
pessoas privadas de liberdade e em si- Como pré-requisto para fazer o
tuação de rua). diagnóstico oral, é necessário que, 30
AUTOEXAME - “Em um segundo minutos antes, a pessoa evite ingerir
momento, o diagnóstico estará disponí- alimento ou bebida, fume ou inale qual-
vel para todas as pessoas que quiserem quer substância, escove os dentes e use
realizá-lo, inclusive como autoexame. A antisséptico bucal. Também, se deve re-
sua grande vantagem é a segurança e a tirar o batom e evitar realizar atividade

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 59


Várias

oral que deixe resíduo. O fluido do teste oral é extraído à sua realidade local, de modo a viabilizar o acesso de
da gengiva e o começo da mucosa da bochecha com o todos os indivíduos que desejam conhecer seu estado
auxílio da haste coletora. O resultado sai em até 30 mi- sorológico”, observa Jarbas Barbosa.
nutos. Quando surge uma linha vermelha, significa que
Outra novidade do Manual é a possibilidade de
não é reagente. Caso apareçam duas linhas vermelhas,
confirmação do diagnóstico rápido de HIV, com um se-
indica que, naquela amostra, há anticorpos anti-HIV, ou
gundo teste, também, rápido, que permite a redução do
seja, o teste é positivo.
tempo de entrega do resultado ao paciente. Atualmente,
MANUAL - A Portaria, também, aprova o novo a confirmação do diagnóstico de HIV é feita, por meio de
Manual Técnico para Diagnóstico da Infecção pelo HIV testes Elisa e Western Blot.
em Adultos e Crianças. O documento complementa os
procedimentos para a realização de testes de HIV, no “Anteriormente, quando a pessoa realizava o exa-
País.  “A Portaria atualiza a forma técnica de diagnóstico me em laboratório, e o Elisa dava positivo, era feito um
do HIV para  adequarmos aos avanços alcançados nesse teste complementar do tipo Western Blot. Com o avanço
campo, nos últimos anos. O objetivo é tornar mais fácil a tecnológico, esse exame ficou ultrapassado. Por essa ra-
sua interpretação pelos profissionais de saúde”, explica zão, na nova Portaria - quando o teste inicial feito no la-
o Secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa. boratório der positivo - o teste complementar recomen-
dado, a partir de agora, é o teste molecular”, explica o
Segundo o Secretário, a principal meta é possibili-
Diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais,
tar a ampliação da testagem e do acesso mais rápido e
Fábio Mesquita.
eficiente a todos que buscam o diagnóstico. “Isso per-
mitirá aos profissionais e serviços escolhas adequadas Fonte: Agência Saúde - Atendimento à Imprensa (por Nivaldo Coelho).

Pesquisa aborda problemas


na gestão de resíduos
“Na atenção primária em saúde, não há um proces-
so de gerenciamento, programa ou ações voltados à mi-
nimização da geração de resíduos de serviços de saúde”.
A observação é da aluna do mestrado profissionalizante
em Saúde Pública, Domicele Ramos, com base na pes-
quisa sobre a gestão de resíduos nas Unidades Básicas
de Saúde de Araçatuba (SP). O estudo analisou a estru-
turação de um plano de gerenciamento para esses resí-
duos que contemplasse a legislação vigente, ressaltando
as dificuldades encontradas pelos profissionais e desta-
cando a importância do tema para o cenário de saúde
pública e coletiva.
A pesquisa teve como foco a observação dos im-
passes no gerenciamento de resíduos de serviços de A avaliação de todo o processo de geração até a
destinação final dos resíduos proporcionou uma
saúde, particularmente, em unidades básicas. Segundo consciência crítica em relação ao conhecimento
a aluna, essas unidades são classificadas como peque- dos profissionais envolvidos no processo
nos geradores e, na maioria das vezes, os olhares das
políticas públicas e dos gestores estão voltados aos gran-
des geradores de resíduos, como hospitais e clínicas de

60 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


Várias

grande porte, negligenciando o gerenciamento dos resí- consequências dos problemas observados no estudo,
duos nesses outros estabelecimentos. Domicele sugere o cumprimento das normas, como a
elaboração do plano de gerenciamento para as unida-
Seguido pelo estudo de campo, por meio de visi-
des, a efetivação de uma agenda de política ambiental
tas às unidades de saúde, foi levantado o histórico de
na área da saúde e, por fim, a conscientização de todos
elaboração do plano de gerenciamento, a quantificação
os envolvidos no processo de melhorias das políticas pú-
e caracterização dos resíduos nestas unidades, procedi-
blicas no âmbito da atenção primária em saúde.
mentos de manejo abrangendo forma de segregação,
acondicionamento, armazenamento interno e externo, A avaliação de todo o processo de geração até a
transporte, tratamento e destinação final dos resíduos. destinação final dos resíduos proporcionou uma cons-
ciência crítica em relação ao conhecimento dos profis-
Em relação aos resultados, a pesquisa acusou que
sionais envolvidos no processo. Além disso, destacou a
falta, nas unidades, gerenciamento e designação de
importância da elaboração do plano de gerenciamento
responsabilidades, uma lacuna observada, também, na
para todas as unidades.  A tese de mestrado, intitula-
análise da legislação. “Nenhuma das unidades de saú-
da  “Impasses e dificuldades na gestão de resíduos de
de dispõe de Plano de Gerenciamento dos Resíduos de
serviços de saúde: estudo de caso no município de Ara-
Serviços de Saúde (PGRSS), sendo este solicitado em di-
çatuba”, foi apresentada, em 29 de novembro de 2013,
ligência pela Vigilância Sanitária para emissão do alva-
na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), sob
rá sanitário”. Também, foi observada a falta de conhe-
a orientação da professora Elda Falqueto. Domicele Ra-
cimento dos profissionais em relação à importância de
mos, graduada em Enfermagem, tem especialização em
todo o processo de gerenciamento dos resíduos.
Saúde da Família pela Universidade Federal de Goiás
Entre as medidas importantes para a redução das (UFG).

Ministério da Saúde atrai


investimentos de R$ 1 bilhão na
produção de medicamentos biológicos
O Ministério da Saúde liderou novo processo de
atração de investimentos de empresas multinacionais
no setor de saúde do País. Acordo entre a multinacional
Merck Serono e a Bionovis intermediado pelo Ministério
da Saúde vai impulsionar as Parcerias para o Desenvolvi-
mento Produtivo (PDP) em andamento com o Governo
Federal para a produção nacional de biofármacos.
A entrada da Merck Serono na parceria viabiliza a
construção da fábrica que produzirá seis medicamentos
biológicos, a partir de 2014. A parceria atual prevê in-
vestimento de R$ 500 milhões para construção, desen-
volvimento de produtos e transferências tecnológicas. A
Bionovis pretende investir R$ 1 bilhão na produção de
medicamentos biológicos, no Brasil, nos próximos cinco
anos.
PPS levará à redução de cerca de 10% do déficit
na balança comercial de medicamentos

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 61


Várias

Os produtos, que serão fabricados pelo Bionovis e O acordo com a Merck Serono garante a trans-
os institutos públicos Fiocruz e IVB (Instituto Vital Brasil), ferência tecnológica, em cinco anos, entre a multi-
são de última geração e de alto custo para o tratamento nacional e a empresa Bionovis, criada para a fabrica-
de doenças, como câncer e artrite reumatoide - Etaner- ção exclusiva de medicamentos biológicos e formada
cepte, Rituximabe, Bevacizumabe, Cetuximabe, Inflixi- por quatro grandes laboratórios (Aché, EMS, União
mabe e Trastuzumabe. Química e Hypermarcas). A Merck Serono é uma das
maiores empresas de medicamentos do mundo, dis-
O secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Es-
tribui produtos em mais de 150 países. A empresa
tratégicos (SCTIE), Carlos Gadelha, destacou que as PDPs
possui mais de 38 mil funcionários e, no ano pas-
relativas a esses seis medicamentos foram divulgadas,
sado, seu faturamento foi superior a 11 bilhões de
em junho de 2013. “Num período de cinco meses, já
Euros. “Considero um dos projetos mais relevantes,
se conseguiu um parceiro tecnológico que domina o
porque significa ampliar o acesso da população a
ciclo completo de produção e que contratualmente se
medicamentos importantes a tratamentos extrema-
compromete e nós vamos seguir, passo a passo, esse
mente sofisticados”, afirmou Vera Valente, represen-
processo para que a transferência de tecnologia seja in-
tante da Merck Serono, no Brasil.
tegral, desde o que eles chamam do lote semente, até a
embalagem do produto, no Brasil”, explicou. MEDICAMENTOS BIOLÓGICOS - Em junho de 2013,
o Ministério da Saúde anunciou novas 27 parcerias entre
“Nossa intenção é transferir a tecnologia para que
laboratórios públicos e privados que resultarão na pro-
os produtos sejam totalmente manufaturados, aqui no
dução nacional de 14 biológicos. A produção nacional
Brasil. Assim, vamos aliviar a balança comercial negativa,
deve gerar economia de R$ 225 milhões por ano. Atual-
ganhar com geração de empregos e formação de téc-
mente, os biológicos consomem 43% dos recursos do
nicos especializados, além de colocar o Brasil na inde-
Ministério da Saúde com medicamentos, cerca de R$ 4
pendência desses produtos”, enfatizou o Presidente da
bilhões por ano, apesar de representarem 5% da quan-
Bionovis, Odnir Finotti.
tidade adquirida. Com as medidas, o País aumenta para
REDUÇÃO DO DEFICIT - Considerando as PDPs exis- 25 o número de biológicos produzidos, nacionalmente.
tentes e previstas no Ministério da Saúde, com participa- Os produtos biológicos são feitos a partir de material
ção da Bionovis, haverá uma redução de cerca de 10% vivo e manufaturados, a partir de processos que envol-
do déficit na balança comercial de medicamentos que, vem medicina personalizada e biologia molecular.
em 2012, atingiu US$ 11 bilhões. A economia de divisas
esperadas é de aproximadamente US$ 1 bilhão. Fonte: Agência Saúde, do Ministério da Saúde.

Um prêmio à análise das intervenções


de farmacêuticos clínicos
Durante estudo, foram avaliadas Desde 2006, a Einstein, publicação de divulgação
científica do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa
6.438 prescrições e realizadas 933
Albert Einstein (ISSN 1679-4508), vem premiando
intervenções farmacêuticas. A dose anualmente os artigos originais da área da saúde,
foi o problema mais encontrado, distribuídos nas categorias Medicina Cirúrgica, Me-
representando 46,73% do total. dicina Clínica, Saúde Multiprofissional, Ciências Bá-
sicas/Medicina Experimental e Gestão e Economia
em Saúde. Em 2013, os trabalhos foram seleciona-
dos entre os artigos submetidos para publicação, no
período de 1/7/2012 até 30/6/2013. Concorreram
ao prêmio 89 trabalhos distribuídos nas seguintes

62 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


Várias

áreas: Ciências Básicas e Medicina Experimental - 9 Multiprofissional. O artigo foi elaborado como trabalho
artigos; Medicina Clínica - 32 artigos; Medicina Cirúr- de conclusão da Residência, na área de atenção hospi-
gica - 18 artigos; Saúde Multiprofissional - 12 artigos; talar, da farmacêutica Wálleri Reis e outros, e trata dos
Gestão e Economia em Saúde - 18 artigos. problemas da farmacoterapia e das intervenções farma-
cêuticas realizadas na avaliação de mais de 6000 pres-
O objetivo deste prêmio é o fomento e divulga-
ção de estudos nacionais. Os ganhadores recebem crições, no Hospital de Clínicas da Universidade Federal
prêmios nos valores de R$7.000,00 para os primeiros do Paraná.
colocados, R$3.000,00 para os segundos colocados RESUMO - O artigo tem por autores os farma-
e R$ 2.000,00 para os terceiros colocados de cada cêuticos Wálleri Christini Torelli Reis, Carolinne Thays
categoria. Scopel, Cassyano Januário Correr e Vânia Mari Salvi
O Prof. Dr. Eric Roger Wroclawski foi o fundador e Andrzejevski. O objetivo do trabalho é analisar as in-
primeiro editor da Einstein. Falecido, em 2009, era mé- tervenções realizadas por farmacêuticos clínicos, du-
dico urologista, foi Presidente da Sociedade Brasileira rante a revisão de prescrições médicas das Unidades
de Urologia e da Confederação Americana de Urologia e de Terapia Intensiva Adulto, Terapia Intensiva Cardio-
Professor de Urologia da Faculdade de Medicina do ABC. lógica e de Cardiologia Clínica de um hospital univer-
sitário terciário do Brasil.
Em 2013, o artigo “Análise das intervenções de far-
macêuticos clínicos em um hospital de ensino terciário MÉTODOS - A análise de prescrições foi realiza-
do Brasil”, ficou  em primeiro lugar  na categoria Saúde da diariamente com avaliação dos seguintes parâme-
tros: dose, intervalo de administração, apresentação
e/ou forma farmacêutica, presença de medicamen-
tos inapropriados/desnecessários, necessidade de
medicamento adicional, alternativas terapêuticas
mais adequadas, presença de interações medica-
mentosas relevantes, inconsistências nas prescri-
ções, incompatibilidades físico-químicas/estabilidade
da solução.
A partir dessa avaliação, os problemas relacionados
aos medicamentos foram classificados, bem como as in-
tervenções farmacêuticas resultantes, conforme estabe-
lecido pelo manual de farmácia clínica do hospital.
RESULTADOS - Durante o estudo, 6.438 prescrições
foram avaliadas e foram realizadas 933 intervenções far-
macêuticas. Os medicamentos mais envolvidos nos pro-
blemas foram ranitidina (28,44%), enoxaparina (13,76%)
e meropenem (8,26%). A aceitação das intervenções foi
de 76,32%. O problema mais comumente encontrado foi
relacionado à dose, representando 46,73% do total.
CONCLUSÃO - Até 14,6% das prescrições avaliadas
apresentaram algum problema relacionado a medica-
mentos. As intervenções farmacêuticas promoveram
mudanças positivas em sete a cada dez dessas pres-
crições.

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 63


Várias

PERFIL INDUSTRIAL

Fiocruz apresenta 2º Censo da


indústria farmoquímica nacional
Não há produção de matéria-prima para antibió-
ticos, no Brasil; faltam consolidar a produção de insu-
mos para antineoplásicos (para câncer) e investimentos
para ampliar o parque produtor de medicamentos para
doenças cardiovasculares, negligenciadas e para o siste-
ma nervoso central. Estas são algumas das fragilidades O vice-presidente de Produção e
Inovação em Saúde da Fiocruz, Jorge
apontadas pelo estudo “Avaliação do setor produtivo Bermudez, apresenta o estudo sobre o
farmoquímico nacional – capacitação tecnológica e pro- setor farmoquímico, em Brasilia
dutiva”, apresentado pelo Vice-Presidente de Produção
e Inovação em Saúde (VPPIS) da Fiocruz, Jorge Bermu-
dez, durante apresentação realizada, no auditório da An- ciamento público, 36% das indústrias recorrem ao Finep;
visa, em Brasília, que contou com a presença de repre- 29%, ao BNDES; 14%, à Fapesp; e 4%, à Faperj.
sentantes da indústria, do Governo e da pesquisa.
Algumas utilizaram mais de uma fonte. Outras 39%
Este é o segundo censo da indústria farmoquímica informaram não estar utilizando, ou nunca ter utilizado
nacional. O primeiro referiu-se ao período 2004-2007 e, recursos públicos.  O grau de inovação em produtos é
também, foi realizado pela Fiocruz. O censo tem por ob- baixo, e a maioria das empresas trabalha com molécu-
jetivos mapear e identificar as las fora da proteção paten-
empresas atuantes, no Brasil, tária, segundo o estudo.
analisar o esforço de inovação Bermudez observou ser he-
e parceiras, avaliar aspectos terogêneo o grau de conso-
econômicos relacionados à lidação das empresas – 12
estrutura de custos e de fi- têm capacidade tecnológi-
nanciamento, recolher suges- ca consolidada, nove  estão
tões das empresas e elaborar em consolidação e outras
relatório com informações ca- seis não consolidadas.
pazes de subsidiar propostas
para o setor, entre outros. Concessão de incen-
tivos fiscais para as em-
Hoje, são 36 indústrias presas de genéricos que
no setor farmoquímico –  30 usarem matéria-prima
participaram do estudo. No nacional, aumento da alí-
censo anterior,  eram 23. quota de importação, caso
Quase 90%, no Sudeste, em especial, nos Estados do exista a mesma matéria-prima produzida, no Brasil,
Rio de Janeiro e São Paulo e nas regiões metropolitanas e aumento da oferta de financiamento público para
de Campinas e Ribeirão Preto. A grande maioria (89%) indústrias de pequeno porte são algumas sugestões
tem capital nacional e, quanto à atividade produtiva, so- apresentadas pelas empresas, durante as visitas dos
mente 47% são exclusivamente farmoquímica. Vinte e pesquisadores e que constam do relatório da Sub-
um por cento atuam como farmoquímica e farmacêutica comissão Especial de Desenvolvimento do Complexo
(humana ou veterinária), 14% química ou excipiente e Industrial da Saúde, Produção de Fármacos, Equipa-
14% extração (animal ou vegetal). mentos e outros insumos, da Comissão de Segurida-
No que se refere aos recursos humanos, houve pe- de Social da Câmara dos Deputados, conforme ob-
quena redução na força de trabalho: de 2142, em 2007, servou Bermudez. Após a  apresentação do estudo,
para 2047, em 2012. No entanto, houve aumento no nú- os pesquisadores participaram de debate e respon-
mero de pós-graduados e graduados. Quanto ao finan- deram perguntas da platéia.

64 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


Várias

ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

Saúde avalia uso de Pesquisa Nacional sobre Acesso,


medicamentos Utilização e Promoção do Uso
Racional de Medicamentos mostrará
como o brasileiro consome remédios
e o acesso à política de assistência
O Ministério da Saúde lançou uma pesquisa inédita,
no País, sobre o acesso da população a medicamentos. A farmacêutica na Atenção Básica
Pesquisa Nacional sobre Acesso, Utilização e Promoção
do Uso Racional de Medicamentos (PNAUM) está entre-
vistando 38,4 mil pessoas, em 245 Municípios brasileiros, rina (UFSC), Bahia (UFBA), São Paulo (Unifesp), Pelotas
sobre temas, como o uso de medicamentos, acesso aos (UFPel) e Campinas (Unicamp), Faculdade de Medicina
produtos no Sistema Único de Saúde (SUS), uso racional da Santa Casa de São Paulo, Fundação Oswaldo Cruz
e a automedicação. O público entrevistado é dividido (Fiocruz) e Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
por gênero, escolaridade e em sete faixas etárias - desde
A coordenação dos trabalhos será de responsabili-
crianças a idosos. As informações são transmitidas, em
dade das Universidades Federais do Rio Grande do Sul
tempo real, por tablets, e a previsão é que, em 2014, os
(UFRGS) e de Minas Gerais (UFMG). “É muito importante
dados do inquérito estejam finalizados.
as Universidades estarem trabalhando junto com o Mi-
Para o Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos nistério da Saúde para a melhoria do Sistema Único de
Estratégicos do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha, os Saúde”, disse o Vice-Reitor da UFRGS, Rui Oppermann.
resultados da pesquisa vão possibilitar conhecer os hábi-
A pesquisa, também, vai revelar como ocorre o
tos da população e tornar possível o uso racional de me-
acesso a esses produtos no SUS, pelo programa Far-
dicamentos. Só nos últimos cinco anos, houve quase 60
mácia Popular e pelas drogarias privadas; se as pessoas
mil internações por intoxicação medicamentosa. “A pes-
seguem as prescrições médicas e se persistem no trata-
quisa vai oferecer um diagnóstico sobre a relação da po-
mento com medicamentos; se há variação no acesso aos
pulação com o remédio e mostrar o que ainda podemos
produtos, de acordo com as condições sociais, econô-
melhorar. Já aumentamos a oferta de remédios e o orça-
micas e demográficas; e a avaliação dos serviços de as-
mento para a compra de medicamentos subiu quase seis
sistência farmacêutica na atenção básica e uso racional
vezes, nos últimos dez anos. Queremos garantir que toda
de medicamentos pela população. O levantamento vai
a população saiba que o tratamento está à disposição e
contar um investimento de R$ 9,4 milhões e vai mostrar
como fazê-lo, da forma mais segura possível”, afirmou.
como é a utilização dos medicamentos para as doenças
Ainda segundo Gadelha, o medicamento é um bem mais comuns e para as crônicas.
somente se for usado de forma adequada. “Queremos
ENTREVISTA - A pesquisa será dividida em duas eta-
mostrar para as pessoas que a saúde é composta por
pas. A primeira será realizada, nos domicílios dos 26 Es-
uma série de bons hábitos, desde uma boa alimentação
tados e no Distrito Federal. A segunda parte da PNAUM
à prática regular de exercícios. Precisamos evitar que o
será a aplicação de questionário nas Unidades Básicas
brasileiro continue com esta ideia de que somente o me-
de Saúde (UBS) e nos locais de entrega dos medicamen-
dicamento é que traz saúde e qualidade de vida. A saúde
tos nesses serviços. Nesta etapa, secretários de Saúde,
é um conjunto de ações”, destacou o Secretário.
coordenadores municipais da Assistência Farmacêutica,
APURAÇÃO - Os 140 entrevistadores estão em responsáveis pela distribuição de medicamentos nas far-
campo, desde setembro de 2013, para coletar os dados mácias ligadas ao SUS, médicos e usuários, também, se-
que estão sendo analisados por professores-pesquisa- rão entrevistados. O enfoque será o funcionamento dos
dores de 12 instituições parceiras do Ministério: Univer- serviços de assistência farmacêutica.
sidades Federais do Rio Grande do Sul (UFRGS), Minas Fonte: Agência Saúde do Ministério da Saúde
Gerais (UFMG), Ceará (UFC), Brasília (UnB), Santa Cata- (Daniela Martins e Vera Stumm).

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 65


Várias

Especialista diz que falta política


adequada para toxicologia forense
“Hoje em dia, o surgimento de novas drogas sintéti-
cas mais potentes demanda o desenvolvimento de novos
métodos para identificar e qualificar essas substâncias.
A falta de uma política adequada a padrões de referên-
cia, no entanto, é o maior entrave ao desenvolvimento
da toxicologia forense”. A observação é do Chefe do La-
boratório de Toxicologia do Centro de Estudo da Saúde
do Trabalhador e Ecologia Humana da Escola Nacional de
Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Sérgio Rabello Alves.
Segundo ele, o poder público não autoriza a impor-
tação de drogas certificadas, em razão de sua caracterís-
tica controlada. “Essa é uma questão regulatória dos mi-
nistérios da Saúde e da Justiça, que precisam flexibilizar
as normas em prol da aquisição dessas drogas com alto
teor de pureza, para fins de pesquisa em laboratórios de
referência. A alegação do Governo é em relação aos as-
pectos de segurança pública”, afirmou.
A toxicologia é uma ciência que investiga agentes tóxicos e o grau
Historicamente, a toxicologia é dividida em três de nocividade nos organismos vivos, subdividida em diversas áreas:
fases. A primeira é caracterizada pelo contato inicial do descritiva, mecânica, forense, clínica, ambiental, ocupacional, analítica
homem com produtos e misturas, que ocorreu em virtu-
de do desenvolvimento da agricultura e do armamento, elucidar procedimentos legais ou judiciais refere-se à to-
e o contato com o fogo. A segunda fase é mais obscura, xicologia forense.
datada, na Idade Média, e caracterizada por envenena-
Sua aplicação serve para reconstrução de dinâmi-
mentos de grau importante por compostos arsenicais.
cas de eventos; determinação de morte por homicídio,
Por isso, explicou Alves, existiam os provadores de suicídio, acidentes industriais, acidentes com veículos
comida dos reis, mas a investigação da causa mortis e a automotivos e reações adversas; e casos por indução
necrópsia não eram autorizadas pela Igreja. A terceira de drogas (assassinatos, casos psiquiátricos e violência
fase refere-se à moderna toxicologia. Segundo Paracel- sexual). Para garantir qualidade, a análise da toxicologia
sus (séculos 15/16), fundador da disciplina de toxicolo- forense deve ter resultado inequívoco e laudo irrefutá-
gia, todas as substâncias são veneno. vel. No entanto, de acordo com Alves, não existe laudo
A dose certa diferencia o veneno do remédio. A irrefutável, pois sempre pode se achar algum detalhe
partir da segunda metade da década de 1940, cresceu que não foi evidenciado.
o número de patentes registradas como substâncias quí- A análise toxicológica sistemática de substâncias
micas, assim como os homicídios e suicídios associados desconhecidas prevê o seguinte processo: estratégia
a substâncias químicas. analítica de amostras, desenvolvimento analítico toxico-
MULTIDISCIPLINAR - Conforme disse Alves, a to- cinético e investigação da toxicidade. Esse processo, que
xicologia é uma ciência multidisciplinar que investiga leva de dois a três meses, é cercado de uma política de
agentes tóxicos e o grau de nocividade nos organismos garantia de qualidade. Na cadeia da custódia, a amostra
vivos, subdividida em diversas áreas: descritiva, mecâ- toxicológica percorre o seguinte caminho: coleta, pro-
nica, forense, clínica, ambiental, ocupacional, analítica. cessamento, extração, preparo, análise propriamente
Para ele, qualquer aplicação ou estudo de tóxicos para dita, finalizando com a elaboração do laudo.

66 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


Várias

Segundo Alves, caso não tenha controle desse flu- post mortem, são avaliados o estado do corpo, o sangue,
xo, o juiz pode questionar o laudo, que pode ser invalida- assim como são utilizadas outras amostras, como do fí-
do. Depois do etanol, que lidera o número de amostras gado e do cabelo. Essa última é bem eficiente no caso de
toxicológicas, o segundo lugar é ocupado pelo “chumbi- levantamento histórico da utilização de substâncias e ex-
nho”, nome popular de um poderoso inseticida agrícola posição a metais pesados, porque, inclusive, pode ser la-
cujo princípio ativo é o aldicarb, do grupo químico dos vado para eliminação de substâncias exógenas. Também,
carbamatos. é muito usado em programas de reabilitação para moni-
toramento de abstinência de dependentes químicos.
Nos casos sem histórico, os técnicos lançam mão
de testes de screening, métodos de triagem e, depois, A partir da segunda metade da década de 1990,
testes mais confirmatórios, para aumentar o grau de aumentou o número de publicações na área de toxico-
certeza, a exemplo da análise de cromatografia. Quan- logia forense, das quais duas delas se destacam: “Foren-
do não há suspeição da substância química, a tecnologia sic Science Internacional” e “American Journal Forensic
mais utilizada é a análise toxicológica sistemática, que se Medical Pathology”. Nelas, os principais assuntos abor-
utiliza da padronização de métodos analíticos, inclusive dados giram em torno de desenvolvimento de métodos
é a mais aplicada na Europa, informou Alves. analítico ou amostragem; investigação e aplicação dos
métodos analíticos; estratégias analíticas; entre outros.
As amostras clínicas (pessoas vivas) são de sangue,
a mais usual, cabelo, saliva e urina. Já no caso de análise Fonte: Informe Ensp

DENGUE

Estudo definirá público


para receber vacina
Encomendada pelo Ministério da
Saúde, a pesquisa integra as medidas O estudo é dividido em três partes, um inquérito
preparatórias para a introdução da soroepidemiológico, um de morbi-mortalidade e outro
vacina contra a doença. de imunidade celular. O inquérito soroepidemiológico
será realizado, em 63 cidades representativas das cinco
regiões do País. O objetivo do inquérito é determinar o
grau de imunidade da população à infecção pelo vírus
O Ministério da Saúde está financiando um estudo da dengue. Serão coletadas cerca de mil amostras de
que tem como finalidade indicar as áreas e os públicos sangue por cidade, na faixa etária de um a 20 anos. As
prioritários a serem imunizados contra a dengue. O es- amostras das outras faixas etárias serão obtidas na Pes-
tudo integra as medidas preparatórias para a introdução quisa Nacional de Saúde (PNS).
da vacina contra a doença, no Brasil, e conta com recur-
O trabalho de morbi-mortalidade consiste em uma
sos de R$ 5,3 milhões.
ampla revisão dos artigos e informações científicas so-
Um grupo de trabalho, formado por técnicos do bre dengue, no Brasil, publicadas em periódicos nacio-
Ministério da Saúde, Anvisa e especialistas de diversas nais e internacionais. A meta é coletar informações epi-
universidades, como a Escola Paulista de Medicina e a demiológicas para caracterizar a ocorrência, o perfil da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), irá elabo- transmissão de dengue, no País, reunindo informações
rar um plano para subsidiar o Ministério da Saúde na de- adicionais sobre grupos etários vulneráveis, taxas de le-
finição das áreas e grupos etários para receber a vacina. talidade e sorotipos circulantes.

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 67


Várias

Já a pesquisa de imunidade celular será realizada mundo. A técnica utiliza o chamado vírus atenuado.
em pessoas infectadas pelos sorotipos DENV 1, 2, 3 e 4. Isto é, o próprio vírus da dengue modificado, de ma-
O objetivo é avaliar a resposta imunológica desses pa- neira que produz anticorpos na população, mas não
cientes e o desenvolvimento dos casos graves da doen- desenvolve a doença. A pesquisa pelo Instituto Butan-
ça. Os trabalhos subsidiarão a elaboração de modelos tan iniciou-se, em 2006.
matemáticos que servirão como ferramenta para apoiar
No mundo, estão sendo testadas sete vacinas. No
o Ministério da Saúde na definição do público que rece-
Brasil, além do Butantan, o Instituto de Tecnologia em
berá a vacina contra a dengue. Todo o estudo deve estar
Imunobiológicos Bio-Manguinhos, da Fundação Oswal-
concluído, em dois anos.
do Cruz (Fiocruz), também, está pesquisando uma nova
TESTES - A vacina brasileira contra a dengue, que vacina contra a dengue, com apoio do Ministério da Saú-
já está em fase de testes em humanos, é desenvolvida de. Os estudos são realizados, desde 2009, em parceria
pelo Instituto Butantan, com o apoio do Ministério da com o laboratório privado GSK. A previsão é que a vacina
Saúde. A expectativa é que o imunobiológico seja ad- seja concluída, no prazo de cinco anos.
ministrado em uma única dose e combata os quatro
sorotipos da doença (1, 2, 3 e 4) já identificados, no Fonte: Agência Saúde, do Ministério da Saúde.

Hospira fortalece seu portfólio, no Brasil, com


aquisição da Evolabis Produtos Farmacêuticos
A Hospira, Inc. (NYSE: HSP), líder
mundial em medicamentos injetáveis e
tecnologias de infusão, anunciou, em fe-
vereiro de 2014, a aquisição de um labo-
ratório brasileiro de produtos oncológi-
cos, a Evolabis Produtos Farmacêuticos
Ltda., para apoiar o crescimento de seus
negócios, no Brasil. Com um histórico de
mais de 11 anos no mercado nacional e
importantes medicamentos oncológicos
injetáveis em seu portfólio, a Evolabis é
uma forte presença nos principais cen-
tros oncológicos brasileiros.
“A Evolabis se encaixa perfeitamente cativos, onde planejamos expandir nos-
no plano de crescimento da Hospira, no so portfólio de produtos, nos próximos
Brasil,” disse Alexandre Seraphim, Coun- anos, de forma a melhorar o acesso de
try Manager  da Hospira Brasil. “O Bra- pacientes e profissionais de saúde aos
sil é um mercado em expansão no qual medicamentos injetáveis que salvam vi-
estamos fazendo investimentos signifi- das”, acrescentou.
68 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014
Internacional

Farmácia
em português
Pelo jornalista Aloísio Brandão,
Editor desta revista.

A busca pela integração en- Geral do CFF, para os cargos de


tre os farmacêuticos dos países Vice-Presidente da Associação e
lusófonos, a criação de um selo Presidente do seu Conselho Fis-
de qualidade emitido pela AFPLP cal. Lucilo Williams, de Moçam-
(Associação dos Farmacêuticos bique, elegeu-se Presidente da
dos Países de Língua Portuguesa) AFPLP.
às faculdades de Farmácia; a cria-
O mandato da nova diretoria
ção e coordenação de um mes-
vai até 2014. Criada, em 1993, a
trado online multicêntrico (Bra-
AFPLP reúne as instituições re-
sil e Portugal) que contemplaria
presentativas dos farmacêuticos
professores, coordenadores de
de Angola, Brasil, Cabo Verde,
cursos e estudantes de Farmácia;
Guiné-Bissau, Moçambique, Por-
instituição de bolsas de ensino,
tugal e São Tomé e Príncipe. A
em mestrado e doutorado, para
África portuguesa ainda não con-
estudantes dos países que falam
seguiu dar um grande salto em
português. Estas são algumas das
direção ao fortalecimento da pro-
propostas defendidas pela direto-
fissão farmacêutica, mas é cres-
ria da AFPLP na assembleia-ge-
cente a grita entre os profissionais
ral da instituição, realizada, em
pela implantação de uma política
Luanda (Angola), em 2013, em
Dr. Valmir de Santi, Vice-Presidente do pública para o setor e a criação
CFF, elege-se Vice-Presidente da AFPLP.
que foram eleitos os brasileiros
de elos entre os profissionais dos
Valmir de Santi, Vice-Presidente
países.
do Conselho Federal de Farmácia
(CFF), e José Vílmore Silva Lopes Nesse sentido, a 13ª Assem-
Júnior Diretor, Diretor Secretário- bleia Geral da AFPLP aprovou,

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 69


Internacional

por unanimidade, uma resolução a implantação, em todos os paí-


em favor da prestação de serviços ses de língua portuguesa, de sis-
profissionais pelas farmácias que temas de registro e aprovação de
será encaminhada à população medicamentos, bem como siste-
e aos governos dos países. Por mas de farmacovigilância.
outro lado, a diretoria eleita ali-
Os brasileiros apresentaram
nhavou propostas de ação para a
aos seus pares os novos para-
gestão.
digmas da farmácia, no Brasil.
PROPOSTAS - Entre as pro- Falaram da inclinação dos pro-
postas apresentadas pelo Presi- fissionais para a área clínica, dos
dente eleito Lucilo Williams estão debates em torno da prescrição
a criação de um selo de qualida- farmacêutica e da migração de
de a ser emitido pela Associação muitas farmácias para um mode-
às faculdades de Farmácia; a lo mais focalizado nos cuidados
criação e coordenação de um profissionais.
mestrado online multicêntrico
FARMED - Outra decisão
(Brasil e Portugal) que contem-
relevante, -tomada, em Angola,
plaria professores, coordenadores
foi a formação do Farmed, um
de cursos e estudantes de Farmá-
fórum das autoridades regulado-
cia; instituição de bolsas de en-
ras de medicamentos no espaço
sino, em mestrado e doutorado,
lusófono. O objetivo do Farmed
para estudantes dos países lusó-
é cooperar e harmonizar aspetos
fonos; divulgação de cursos de
de carácter regulamentar, registro
pós-graduação; implantação de
de medicamentos, licenciamento
tutoria de jovens farmacêuticos
e inspeção. No Congresso, foi,
sob a liderança de farmacêuticos
ainda, assinado um protocolo de
sêniors; implantação de um prê-
cooperação entre a Direção Na-
mio farmacêutico lusófono, entre
cional de Medicamentos e Equi-
outras.
pamentos, Ministério da Saúde
SERVIÇOS DE QUALIDADE de Angola e a Faculdade de Far-
- A busca da qualidade dos servi- mácia da Universidade de Lisboa.
ços farmacêuticos prestados, nas Oitocentos farmacêuticos de to- José Vílmore Silva Lopes Júnior Diretor,
Diretor Secretário-Geral do CFF, foi escolhido
farmácias, é outra preocupação dos os países de língua portugue- Presidente do Conselho Fiscal da Associação.
da AFPLP e tema dos mais deba- sa participaram do Congresso. O
tidos no Congresso, em Luanda. próximo evento será realizado,
Ali, os farmacêuticos propuseram em Moçambique, em 2015.

70 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


Memória

Arouca,
um nome
para sempre

P assaram-se dez anos da morte do médico


sanitarista Sérgio Arouca e a memória do
brasileiro sobre a sua obra continua viva e intacta,
principalmente, entre profissionais de saúde. Aos
61 anos de idade, o Ex-Presidente da Fiocruz fale-
ceu, por conta de um câncer no fígado, mas deixou
um legado que o tornou uma referência mundial,
graças à sua produção científica e sua participação
em lutas coletivas, que deram início à implantação Médico sanitarista Sérgio Arouca
participou de lutas coletivas que
do Sistema Único de Saúde (SUS). Duas décadas e resultaram na implantação do SUS
meia depois de promulgada a Constituição Federal
que criou o SUS, os profissionais da área festejam
a conquista. E, ao festejá-la, celebram a memória
de Arouca.
O elo entre o sanitarista e o que viria a
se tornar o SUS foi firmado, a partir de 1986,
quando ocorreu a 8ª Conferência Nacional de
Saúde. Entre os temas, estavam: “Saúde como
Direito”, “Reformulação do Sistema Nacional
de Saúde” e “Financiamento do Setor”. Foi gra-
ças a esta Conferência, presidida por Arouca,
que algumas etapas importantes foram logradas,
como a implantação do Sistema Unificado e
Descentralizado de Saúde (SUDS) – o primeiro

Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014 71


Memória

grande passo para o SUS – e as bases para a Diretor da ENSP, Hermano Castro, e o Presiden-
seção Da Saúde da Constituição de 1988 – que te do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz
classificou a saúde como um direito de todos e (Asfoc-SN), Paulo Garrido.
dever do Estado. Além disso, foi de suma im-
DESIGUALDADES - Cabe observar, no en-
portância para a propagação do movimento da
tanto, que restam algumas frustrações para os
Reforma Sanitária.
que efetivamente querem um SUS para todos.
Um ano antes da 8ª CNS, Arouca fora no- “Nossos indicadores relacionados à qualidade
meado Presidente da Fundação Oswaldo Cruz de vida e inclusão social no campo da saúde
(Fiocruz), uma das principais instituições em tiveram muitos avanços, mas ainda temos um
pesquisas na área da saúde pública, no País. SUS que apresenta desafios enormes”, expôs o
Quando Presidente, a Fiocruz avançou e se tor- Presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, durante
nou referência na formulação e discussão da as discussões no auditório da ENSP.
política de saúde.
Na prática, é possível notar que a falta de
Por conta de toda sua história, o maior líder leitos em hospitais, de consultas especializadas,
da reforma sanitária brasileira foi lembrado nas de servidores e de medicamentos, ainda, é um
solenidades dos 59 anos da Escola Nacional de axioma. Muitos acreditam que isso é um exem-
Saúde Pública (ENSP), em setembro de 2013. plo do descontentamento que resultou no grito
Durante os debates, realizados por sanitaristas das ruas pedindo por melhorias junto a diversos
e pesquisadores, no auditório da ENSP – ali, fo-
movimentos.
ram discutidos assuntos como o resgate da re-
forma sanitária e o rumo privatista do SUS –, os “Ninguém foi pedir plano de saúde bara-
presentes colocaram máscaras estampadas com to ou pago pelo Estado. Foram pedir respeito
uma caricatura de Arouca, que foi desenhada, aos direitos do cidadão”, lembrou a pesquisa-
há 20 anos, pelo cartunista Ziraldo. O vídeo “O dora da Fundação Getúlio Vargas, Sonia Fleury,
pensamento crítico de Sergio Arouca”, produ- ainda, no auditório. Em meio às questões re-
zido pelo “Canal Saúde”, da Fiocruz, que traz lacionadas ao rumo que o SUS poderá tomar,
momentos históricos da militância de Arouca, o médico pediatra e sanitarista Gilson Carva-
como sua luta pela Reforma Sanitária, também, lho alertou: “Para onde vai o SUS, depende de
foi exibido. como vamos enfrentar esses desafios. A persistir
o atual cenário em que até o Governo favorece
A Associação Brasileira de Saúde Coletiva
a mitigação do direito à saúde, nos restará um
(Abrasco) e o Centro Brasileiro de Estudos em
Saúde (Cebes) foram igualmente homenagea- SUS básico para pobre”.
dos. Entre os participantes da cerimônia, esta- Por Anderson Souza, estagiário de Jornalismo nesta revista, com a
vam o Presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, o coordenação do jornalista Aloísio Brandão, editor.

72 Pharmacia Brasileira nº 88 - Janeiro/Fevereiro/Março 2014


Farmácia
nas ondas do rádio

Farmacêuticos e população têm um encontro, todas as quartas-feiras, às


15h30, em torno de temas relacionados à saúde e, sempre, com um sentido
de utilidade pública. Há mais de dez anos, a "Rádio Nacional da Amazônia"
(Ondas Curtas 11.780KHz e 6.180KHz), emissora da EBC (Empresa Brasil de
Comunicação), leva ao ar um quadro de entrevistas com farmacêuticos de
todos os segmentos profissionais.
A mesma entrevista, com nova edição, é transmitida, também, por uma rede
de 900 emissoras localizadas, em todo o País, e liderada pela “Agência
Radio Web”, atingindo um público estimado de 60 milhões de ouvintes. A
produção da entrevista conta com a participação do Conselho Federal de
Farmácia (CFF).
Ouça a ENTREVISTA FARMACÊUTICA, ao vivo, pelas emissoras de rádio de
sua cidade ou pela Internet (http://www.ebc.com.br/sobre-a-
ebc/veiculos-da-ebc/radios/radio-nacional-da-amazonia). Ou ouça a
gravação na página do CFF, no endereço
(http://www.cff.org.br/pagina.php?id=687&menu=145&titulo=Arquivo+
de+Entrevistas). A pauta de cada entrevista encontra-se na capa site do CFF,
dois dias antes de ir ao ar.
CURSO DE CAPACITAÇÃO EM
FARMÁCIA HOSPITALAR
Curso idealizado e elaborado pelo Grupo de Trabalho em
Farmácia Hospitalar do Conselho Federal de Farmácia.
Calendário - 1º Semestre 2014

Datas Espírito Santo Pará Alagoas


9/10Mai14 Módulo 4 Módulo 1 Módulo 2
23/24Mai14 Módulo 1 Módulo 2 Módulo 5
6/7Jun14 Módulo 6 Módulo 3 Módulo 1
1/2Ago14 Módulo 2 Módulo 4 Módulo 3
15/16Ago14 Módulo 3 Módulo 5 Módulo 6
29/30Ago14 Módulo 5 Módulo 6 Módulo 4

REALIZAÇÃO: APOIO: COORDENAÇÃO:


Grupo de Trabalho sobre
Farmácia Hospitalar

O curso é chancelado por:


INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES:
www.cff.org.br
VAGAS LIMITADAS

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