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Supremo Tribunal Federal

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 741.079 PARANÁ

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


RECTE.(S) : CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA E
AGRONOMIA - CREA/PR
ADV.(A/S) : MARIANA RIZZI CENTURION E OUTRO(A/S)
RECDO.(A/S) : ALARMES E SERVICO ASTORGA LTDA
ADV.(A/S) : CESAR FELIX RIBAS

DECISÃO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM


AGRAVO. CIVIL. CONSELHO REGIONAL:
REGISTRO. OFENSA CONSTITUCIONAL
INDIRETA. AGRAVO AO QUAL SE NEGA
SEGUIMENTO.

Relatório

1. Agravo nos autos principais contra decisão que não admitiu


recurso extraordinário, interposto com base na alínea a do inc. III do art.
102 da Constituição da República.

2. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região decidiu:

“ADMINISTRATIVO. CONSELHO REGIONAL DE


ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA. COMÉRCIO
DE ELETRODOMÉSTICOS E ELETRÔNICOS. REGISTRO.
DESNECESSIDADE. LEI N. 6.839/80. O registro nos conselhos de
fiscalização profissional somente é obrigatório em razão da atividade
básica exercida ou da natureza dos serviços prestados a terceiros (art.
1º da Lei n. 6.839/80). O eventual desempenho de atividades afetas a
determinada área não implica na necessidade de registro da empresa
junto ao conselho profissional afim. Exercendo a empresa como
atividade básica o comércio de produtos eletrodomésticos e eletrônicos
e prestação de serviços de manutenção de equipamentos elétricos e

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
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eletrônicos, impõe-se o reconhecimento da inexigibilidade de sua


inscrição junto ao CREAA. A Turma entende adequado para ações
desta natureza o percentual de 10% sobre o valor da causa, quando
este não representar valor irrisório. Prequestionamento quanto à
legislação invocada estabelecido pelas razões de decidir. Apelação
improvida”.

Os embargos declaratórios opostos foram assim julgados:

“PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.


PREQUESTIONAMENTO. EFEITOS INFRINGENTES. O
Tribunal não fica obrigado a examinar todos os artigos de lei
invocados no recurso, desde que decida a matéria questionada sob
fundamento suficiente para sustentar a manifestação jurisdicional,
dispensável a análise dos dispositivos que pareçam para a parte
significativos, mas que para o julgador, se não irrelevantes,
constituem questões superadas pelas razões de julgar. A
jurisprudência tem admitido o uso dos embargos de declaração para
fins de prequestionamento de matéria a ser resolvida nos Tribunais
Superiores. Ausentes flagrante impropriedade processual, ilegalidade
ou equívoco que comprometa o julgado, impossibilidade de
manifestação sobreposta, a outorgar aos embargos efeitos infringentes,
somente admissíveis em condições especialíssimas, nestas não incluída
a inegável intenção de obter a reforma da decisão da Turma. Matéria
reservada para a via recursal própria. Declaratórios parcialmente
providos exclusivamente para fins de prequestionamento”.

3. A decisão agravada teve como fundamento para a


inadmissibilidade do recurso extraordinário a ausência do preparo.

4. O Agravante argumenta que:

“Após consolidada a natureza de autarquia aos conselhos de


profissionais em face do decidido pelo Egrégio Supremo Tribunal
Federal, na ADI n. 1717-6, ficou estabelecido que estariam isentos ao
pagamento de custas processuais, não havendo que se falar em

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aplicação do parágrafo único do artigo 4º da Lei n. 9.289/96, mas sim


do inciso I, do referido dispositivo”.

No recurso extraordinário, alega-se que o Tribunal a quo teria


contrariado os arts. 5º, incs. XXXV, LIV e LV e 93, inc. IX, da Constituição
da República.

Sustenta que:

“Trata-se, Excelências, da constatação de que a omissão


apontada pelo Recorrente não foi enfrentada pela Turma do Tribunal
Regional Federal da 4ª Região, não sendo aceitável o argumento de
que a matéria nele em debate foi suficientemente abordada e analisada
pela referida Turma no acórdão da Apelação, do que se extrai ter
havido verdadeira negativa de prestação jurisdicional.

(…)

A prova pericial constitui um dos elementos a ser valorado pelo


juiz no momento da prolação de sua decisão, o que não foi realizado
por este Tribunal. Portanto, a decisão ora recorrida fere e nega
vigência ao disposto no artigo 5º, incisos XXXV e LV e no artigo 93,
inciso IX da CF/88”.

Apreciada a matéria trazida na espécie, DECIDO.

5. O art. 544 do Código de Processo Civil, com as alterações da Lei n.


12.322/2010, estabelece que o agravo contra decisão que não admite
recurso extraordinário processa-se nos autos deste recurso, ou seja, sem a
necessidade da formação de instrumento.

Sendo este o caso, analisam-se, inicialmente, os argumentos expostos


no agravo, de cuja decisão se terá, então, se for o caso, exame do recurso
extraordinário.

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6. Inicialmente, cumpre afastar o fundamento da decisão agravada,


pois Autarquia Federal é isenta do preparo:

“AGRAVO REGIMENTAL – JUÍZO DE RETRATAÇÃO.


ORDEM DOS MÚSICOS DO BRASIL – OBRIGATORIEDADE
DE FILIAÇÃO E COBRANÇA DE CONTRIBUIÇÃO –
INCONSTITUCIONALIDADE – RECURSO
EXTRAORDINÁRIO – NEGATIVA DE SEGUIMENTO. 1.
Mediante a decisão de folha 289, neguei seguimento ao extraordinário
em face à deserção, tendo em vista o não-recolhimento do preparo, nos
termos dos artigos 59 do Regimento Interno e 511 do Código de
Processo Civil. Com a peça de folha 292 a 297, o agravante demonstra
que é autarquia, e, portanto, isenta do preparo. 2. De fato, não há
exigência de preparo na espécie. Reconsidero o ato impugnado e passo
ao exame do extraordinário. (…)” (RE 553.847-AgR, Relator o
Ministro Marco Aurélio, decisão monocrática, DJe 23.10.2012,
grifos nossos).

Todavia, a superação desse fundamento não é suficiente para acolher


a pretensão do Agravante.

7. A alegação de nulidade do acórdão por contrariedade ao inc. IX do


art. 93 da Constituição da República não subsiste, pois, embora em
sentido contrário à pretensão do Agravante, o acórdão recorrido
apresentou suficiente fundamentação. Firmou-se na jurisprudência deste
Supremo Tribunal:

“O que a Constituição exige, no art. 93, IX, é que a decisão


judicial seja fundamentada; não, que a fundamentação seja correta, na
solução das questões de fato ou de direito da lide: declinadas no
julgado as premissas, corretamente assentadas ou não, mas coerentes
com o dispositivo do acórdão, está satisfeita a exigência
constitucional” (RE 140.370, Relator o Ministro Sepúlveda
Pertence, Primeira Turma, DJ 21.5.1993).

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8. A Desembargadora Relatora do caso no Tribunal Regional Federal


da 4ª Região afirmou:

“A questão resume-se em saber se é obrigatória a inscrição de


empresa cujas atividades básicas dirigem-se à comercialização e
manutenção de eletrodomésticos junto ao Conselho Regional de
Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Rio Grande do
Sul - CREAA/PR.
Nos termos do art. 1º da Lei 6.839/80, o registro de empresas
nos conselhos de fiscalização profissional é obrigatório em razão da
atividade básica exercida ou da natureza dos serviços prestados a
terceiros.
(...)
Deste modo, tratando-se a impetrada de empresa que tem por
objeto social o comércio de produtos eletrodomésticos e eletrônicos e
prestação de serviços de manutenção de equipamentos elétricos e
eletrônicos impõe-se o reconhecimento da inexigibilidade de sua
inscrição nos quadros do CREAA e de contratação de profissional da
área de engenharia como responsável técnico” ( grifos nossos).

Decidir de modo diverso do que assentado nas instâncias


precedentes exigiria a análise prévia de legislação infraconstitucional
aplicada à espécie (Lei n. 6.839/1980). Assim, a alegada contrariedade à
Constituição da República, se tivesse ocorrido, seria indireta, o que não
viabiliza o processamento do recurso extraordinário:

“Agravo regimental no agravo de instrumento. Limites de


atuação de conselhos profissionais. Alegada existência de substrato
constitucional a justificar o acolhimento do recurso. 1. A decisão
atacada apreciou, adequada e exaustivamente, as questões em debate
nestes autos. Eventuais ofensas se referem ao plano
infraconstitucional. Precedentes. 2. Discussão acerca da
obrigatoriedade do registro nos quadros do Conselho Regional de
Educação Física e da submissão à sua fiscalização, porque dependente
da análise de normas infraconstitucionais, pode resultar, no máximo,
na conclusão de que houve ofensa reflexa à Constituição Federal. 3.

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Agravo regimental não provido” (AI 745.424-AgR, Relator o


Ministro Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe 24.6.2011, grifos
nossos).

Nada há a prover quanto às alegações do Agravante.

9. Pelo exposto, nego seguimento a este agravo (art. 544, § 4º, inc. II,
alínea a, do Código de Processo Civil e art. 21, § 1º, do Regimento Interno
do Supremo Tribunal Federal).

Publique-se.

Brasília, 24 de maio de 2013.

Ministra CÁRMEN LÚCIA


Relatora

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