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Chamada eficaz e a

necessidade da pregação
expositiva
Introdução:
Afirmar que a graça é
irresistível já nos levou a muitas
conclusões equivocadas da
história da igreja. Mas, além de
conclusões equivocadas, o mal
entendimento da doutrina pode
nos levar a práticas eclesiásticas e
litúrgicas igualmente equivocadas.
A visão sobre pregação no culto
público é uma dessas.
Hoje não nos preocuparemos
com detalhes, até mesmo por
causa do tempo disponível,
veremos de forma ampassã sobre
“Chamada eficaz e a necessidade
da pregação expositiva”, assim,
não nos deteremos na relação
pregação e a glória de Deus,
pregação e sua visão das
Escrituras, o papel na pregação no
culto público, o pregador e suas
atribuições, mas unicamente a
pregação expositiva e sua relação
com a salvação do pecador.
Antes de tudo devemos
entender a regeneração. A
regeneração é uma ação do
Espírito Santo que nos torna
capazes de chegar à fé. Como
somos totalmente depravados, por
nós mesmos não temos condições
de olhar para Deus e ver Sua
beleza. Se chegarmos à fé, é porque
o Espírito Santo nos mostrou o
quanto éramos miseráveis. Piper
diz: “A doutrina da graça
irresistível não significa que toda
influência do Espírito Santo não
pode ser resistida. Significa que o
Espírito Santo pode sobrepujar
toda resistência e tornar sua
influência irresistível.”
Mas o ponto é: para nós
chegarmos à fé precisamos saber
sobre ela. E é por causa desse
motivo que Deus ordena a Sua
igreja para pregar o evangelho,
porque é através do evangelho que
as pessoas vão conhecer o amor de
Deus.
Dividimos essa chamada em
dois pontos, eles são:
a. Chamada Geral (Mateus
11: 25-30).
Essa chamada é a chamada que
é feita a todos os homens. Homens
ricos e pobres, brancos e negros,
de toda raça, língua e nação. Essa
chamada é feita através da
pregação. Nós devemos pregar a
todo homem e mulher. Segundo
Paulo em 2 Coríntios 2: 14-16, a
pregação pode ter dois resultados:
ou o quebrantamento do coração
das pessoas, ou o endurecimento.
b. Chamada eficaz ou
individual (Efésios 2: 1-10).
Essa chamada é feita no coração
dos eleitos através da ação do
Espírito Santo em sua vida. Deus
cuida dos Seus pessoalmente, ele
chama cada um pelo nome, ele
também age em cada um
individualmente.
Devemos ter em mente que o
Espírito Santo é quem nos auxilia
em tudo. Não somos nada, nada. O
Espírito Santo sempre age em
nossas vidas, em todas as áreas
sem exceção. É Deus que concede
arrependimento e a remissão de
pecados ao Seu povo (Atos 5:31;
11:18; 13:48; 16:14; 18:27). Não
fazemos nada sem a ajuda do
Espírito Santo.
A pergunta 31 do Breve
Catecismo de Westminster nos
mostra resumidamente e
verdadeiramente o que é a
chamada eficaz:
Que é vocação eficaz?
R. Vocação eficaz é a obra do
Espírito Santo, pela qual,
convencendo-nos do nosso
pecado, e da nossa miséria,
iluminando nossos entendimentos
pelo conhecimento de Cristo, e
renovando a nossa vontade, nos
persuade e habilita a abraçar
Jesus Cristo, que nos é oferecido
de graça no Evangelho.Ref. 1Ts
2.13; At 2.37; 26.18; Ez 36.25-27;
2Tm 1.9; Fp 2.13; Jo 6.37, 44-45.
Vejamos o que venha ser
chamada evicaz:
1. O que venha a ser
chamada eficaz?
Segundo a confissão de Fé de
Westminster, entre outros
aspectos, podemos destacar que:
a. Existe uma chamada interna
e uma externa necessárias
para a salvação dos homens
Segundo Calvino, conforme
Paulo Anglada, “A vocação eficaz,
explica Calvino, consiste de um
duplo chamado: externo, pela
pregação da Palavra, e interno,
pela iluminação do Espírito, o qual
enraíza a palavra pregada.” Paulo
Anglada (Introdução à pregação
reformada – Knox)
A problemática está na ordem
como acontece a conversão do
homem. Não trataremos da ordo
salutis, nem ainda da discussão
entre a vocatio realis e vocatio
verbalis, nos detendo nessa última
por se tratar do chamamento
divino que chega ao homem por
intermédio da pregação da Palavra
de Deus.
Segundo Louis Berkhof:
“Enquanto que todos os outros
movimentos do Espírito Santo que
constam na ordo salutis terminam
somente nos eleitos, a vocação
externa mediante o evangelho tem
maior amplitude. Onde quer que
se pregue o Evangelho, o chamado
é dirigido igualmente aos eleitos e
aos réprobos. Atende ao propósito,
não somente de levar os eleitos à fé
e à conversão, mas também de
revelar o grande amor de Deus aos
pecadores em geral.” Louis
Berkhof (Teologia Sistemática –
Cultura Cristã)
De acordo com os católicos
romanos, este chamamento pode
chegar-lhe também por meio da
ministração do batismo. De fato,
eles consideram o sacramento
como o mais importante meio de
levar o homem a Cristo, e atribuem
à pregação do Evangelho uma
significação decididamente
subordinada. Ainda citando
Berkhof: “O central para Roma é o
altar, não o púlpito”. Louis
Berkhof (Teologia Sistemática –
Cultura Cristã)
Pelágio, por outro lado, buscou
a solução disso na vontade
arbitrária do homem, onde,
segundo ele, o homem, por
natureza, tem uma vontade
perfeitamente livre, de modo que
ele pode aceitar ou rejeitar o
Evangelho, como queira, e assim
pode obter ou deixar de obter as
bênçãos da salvação. Algo muito
parecido com os arminianos.
“Alguns (semi-pelagianos e
arminianos) tem dito que a
aceitação do convite evangélico
depende, em última instancia,
exclusivamente da vontade do ser
humano. Segundo esse ponto de
vista, todos os que ouvem o
evangelho tem a habilidade para
aceita-lo – quer pela capacidade
volitiva natural para responder
(semi-pelargianos), quer por causa
da suficiente graça habilitadora
dada a todos, pela qual a
depravação herdada pode ser
superada (arminianos).” Anthony
Hoekema (Salvos pela graça –
Cultura Cristã)
Analisando a pregação
arminiana, Paulo Anglada chegou
a seguinte conclusão: “A
superficialidade do conceito
arminiano de evangelização se
manifesta na sua pregação. O
arminiano superenfatiza a fé, em
detrimento da necessidade da
regeneração. A fé, para os
arminianos, sendo produto do
coração humano ainda não
regenerado – e não uma dádiva
gratuita e soberana do Espírito
Santo – é indevidamente
salientada, tornando-se a causa, e
não o meio, da salvação... A
pregação arminiana
frequentemente objetiva não a
regeneração do coração do
pecador, mas a decisão do
pecador.” Paulo Anglada
(Calvinismo. As antigas doutrinas
da graça – Knox)”
Martinho Lutero desenvolveu a
ideia de que, enquanto que a lei
opera o arrependimento, o
chamamento do Evangelho traz
consigo o dom do Espírito Santo. O
Espírito está na Palavra, e
portanto, o chamamento, em si
mesmo, é sempre suficiente e, em
sua intenção, é sempre eficaz. A
razão pela qual este chamamento
nem sempre leva a efeito o
resultado desejado e tencionado
jaz no fato de que, em muitos
casos, os homens colocam no
caminho uma pedra de tropeço, de
sorte que, afinal de contas, o
resultado é determinado pela
atitude negativa do homem.
Embora alguns luteranos ainda
falem de vocação externa e
interna, insistem em que a
primeira nunca vem
desacompanhada da segunda.
A distinção entre vocação
externa e interna não surge na
reforma, “A distinção entre
vocação externa e interna já se
acha em Agostinho, foi tomada por
empréstimo por Calvino e, assim,
ganhou proeminência na teologia
reformada (calvinista).” Louis
Berkhof (Teologia Sistemática –
Cultura Cristã)
“Segundo a teologia reformada,
seres humanos são, por natureza,
inabilitados a responder ao convite
do evangelho com arrependimento
e fé. A razão disso é que são todos
nascidos em estado e condição de
pecado conhecido como ‘pecado
original, consistindo isso em
‘depravação total’ (permanente) e
‘inabilidade espiritual’ ... A menos
que Deus, pelo seu Espírito, abra o
coração do ouvinte, capacitando-o
a crer, ele ou ela jamais poderá
aceitar o convite do evangelho.
Essa abertura do coração é o que é
descrito pelos teólogos reformados
como vocação ‘interna’ ou ‘eficaz’.”
Anthony Hoekema (Salvos pela
graça – Cultura Cristã)
Calvino a chama de vocação
interior. O caráter geral desta
vocação também é ensinado nos
Cânones de Dort. Todavia,
repetidamente esta doutrina
encontrou oposição de indivíduos
e grupos nas igrejas reformadas
(calvinistas). Na Igreja Escocesa
do século dezessete alguns
negavam completamente o convite
e oferta da salvação
indiscriminado, enquanto outros
queriam limita-los às fronteiras da
igreja invisível.
A confusão está num fictício
conflito entre a oferta universal do
evangelho e a predestinação.
Parece que pregar não se faz
necessário para que o Espírito
atue, e isso não é verdade: “O
Espírito Santo usa nossas
palavras, mas é o trabalho dele e
não o nosso que produz efeito no
íntimo oculto da vontade humana”
Bryan Chapell (Pregação
Cristocêntrica – Cultura Cristã)
Claro que não está se negando
a ação sobrenatural e soberana do
Senhor, como bem esclarece
Stuart Olyott: “Se alguém
realmente creu, isso aconteceu
porque o braço do Senhor lhe foi
revelado; mas, se alguém não creu,
isso ocorreu porque o braço do
Senhor não lhe foi revelado.
Ninguém pode crer, se Deus não
visitar o coração com grande
poder. Nem mesmo a realização de
milagres pode fazer com que
pessoas creiam (Jo 12.37-38). Algo
tem de ser realizado no íntimo das
pessoas, e somente Deus pode
fazer isso” Stuart Olyott (Pregação
pura e simples – Fiel).
Chegando a essa assertiva que
temos um chamado interno e
outro externo, temos que afirmar
que:
b. Somente os eleitos são
eficazmente chamados
João Calvino explica com
propriedade: “O Fundamento de
nossa vocação é a eleição divina
gratuita pela qual fomos
ordenados para a vida antes que
fôssemos nascidos. Desse fato
depende nossa vocação, nossa fé, a
concretização de nossa salvação.”
João Calvino (Gálatas –
Paracletos).
Sem dúvida, como teólogos,
tentamos encontrar respostas para
essa equação de pregar sabendo
que o resultado será produzido por
Deus, mas creio que a melhor
solução para é o caso é pensar que:
“Em última análise, cabe a Deus
harmonizar o predeterminado
resultado da pregação do
evangelho com a oferta geral da
salvação. Somos limitados aos
meios os quais Deus prescreveu
para conduzir pessoas à salvação.
E o meio mais importante é a
pregação do evangelho.” Anthony
Hoekema (Salvos pela graça –
Cultura Cristã)
O que não é possível negar,
mesmo que não sejamos capazes
de compreender plenamente, é
que: “Naturalmente, o resultado
final, é que os eleitos, e somente os
eleitos, aceitam a Cristo pela fé.
Não significa que os missionários
podem partir e dar aos seus
ouvintes a segura certeza de que
Cristo morreu em favor de cada
um deles e de que a intenção de
Deus é salvar cada um deles; mas
significa, sim, que eles podem
levar as jubilosas e alvissareiras
novas de que Cristo morreu pelos
pecadores, de que Ele os convida a
virem a Ele, e de que Ele oferece a
salvação a todos aqueles que
verdadeiramente se arrependem
dos seus pecados e O aceitam com
uma fé viva.” Louis Berkhof
(Teologia Sistemática – Cultura
Cristã)
O grande alívio que essa crença
nos traz como pregadores é que o
resultado da nossa pregação já está
garantido em Deus. Não fomos
chamados para converter
pecadores, mas para da maneira
mais competente e clara possível
proclamar essa salvação, pois
“Mesmo quando rejeitada, a
eficácia da palavra pregada se
manifesta tornando
indesculpáveis os réprobos, os
quais, afirma Calvino, são cegados
e estupidificados ainda mais pela
pregação da Palavra.” Paulo
Anglada (Introdução à pregação
reformada – Knox).
Diante disso, podemos
descansar, sabendo que:
c. O Espírito Santo é o único
agente que efetua a salvação
pela instrumentalidade da
verdade
Não é a instrumentalidade do
pregador, mas a ação soberana do
Espírito Santo. Não somos nós que
ganhamos almas pra Jesus, mas o
Espírito: “A palavra pregada só se
torna eficaz pela operação interna
imprescindível do Espírito Santo,
‘o Mestre interior’, que a
acompanha. Em contraste com a
posição arminiana, a fé reformada
enfatiza que ‘é Deus somente, na
pessoa do Espírito Santo, quem
pode e torna eficaz a pregação.”
Paulo Anglada (Introdução à
pregação reformada – Knox).
A conclusão disso é óbvia:
“Portanto, ao pregar, não devemos
depender da qualidade de nossa
pregação ou apresentação, embora
estas coisas sejam importantes.
Temos de confiar somente em
Deus e jamais adotar qualquer
abordagem que diminua nossa
dependência dEle” Stuart Olyott
(Pregação pura e simples – Fiel).
Isso nos leva a dar mais
importância a oração e
dependência do Espírito no
preparo e apresentação do sermão.
Mas se a salvação vem pela
atuação do Espírito Santo, e que
independe do pregador pra isso,
não faz sentido todo um preparo
na preparação do sermão.
2. Qual a necessidade de
pregação?
Essa conclusão está
equivocada, quando pensamos
que a fé surgirá no coração do
eleito, pela atuação do Espírito, na
instrumentalidade da pregação da
palavra. “Deus certamente não
revelou nenhum propósito de
salvar a qualquer um, exceto aos
que, ouvindo o evangelho,
obedecem; e ele requer que seu
povo, como guardião do
evangelho, seja diligente em
disseminá-lo como o meio
designado de salvar as almas.
Tudo quanto vai além deste círculo
de meios santificados não vem da
revelação, não foi prometido, não
foi compactuado”. Alexander A.
Hodge (Confissão de Fé de
Westminster comentada – Os
Puritanos)
De forma muito competente
Louis Berkhof explica: “Pode-se
dizer que a vocação de Deus é uma
só, e a distinção ente uma vocação
externa e uma vocação interna ou
eficaz simplesmente chama a
atenção para o fato de que esta
vocação única tem dois aspectos.
Não significa que estes dois
aspectos estão sempre unidos e
sempre andam juntos. Não
asseveramos, com os luteranos,
que “a vocação interna é sempre
concorrente com o ouvir a
palavra”. Significa, porém, que
onde a vocação interna chega aos
adultos, é medida pela pregação da
Palavra. A mesma Palavra ouvida
na vocação externa torna-se
eficiente no coração, na vocação
interna. Pela poderosa aplicação
feita pelo Espírito Santo, a vocação
externa passa direto para a
vocação interna.” Louis Berkhof
(Teologia Sistemática – Cultura
Cristã)
Mesmo fazendo distinção entre
iluminação e vocação eficaz, que
não iremos abordar aqui, John
Owen explica como a pregação
está para a atuação do Espírito
Santo: “Quando a Palavra de Deus
é pregada certas coisas começam a
acontecer aos ouvintes enquanto o
Espírito Santo pessoalmente lhes
torna clara a Palavra. Essas coisas
ocorrem normalmente à pessoa
antes que ‘nasça de novo’... A
segunda coisa que ocorre é que o
Espírito Santo traz convicção de
pecado. Isso também decorre da
pregação da Palavra... Todas essas
coisas que ocorrem às pessoas por
causa da pregação da Palavra são,
na verdade, ações conjuntas do
Espírito Santo com a pregação.”
John Owen (O Espírito Santo – Os
Puritanos).
Não defendemos a posição de
Lutero, onde a pregação leva
consigo o Espírito capacitando
todos os ouvintes presentes, mas
não podemos negar que: “Quando
anunciamos a Palavra, trazemos
com ela a obra do Espírito Santo
para produzir frutos na vida de
outras pessoas. Nenhuma verdade
confere maior incentivo à nossa
pregação e nos fá mais motivos
para esperar resultados dos nossos
esforços. A obra do Espírito está
inseparavelmente unida à
pregação, como o calor está para a
luz que a lâmpada emite.” Bryan
Chapell (Pregação Cristocêntrica –
Cultura Cristã).
Creio que a grande dificuldade
em descansarmos nessa doutrina
esteja no espírito de nossa época.
Somos pragmáticos e por isso
mesmo estamos a procurar de
melhores métodos para melhores
resultados. É preciso nos
juntarmos a Marcus Throup
quando diz: “Assim, afirmamos
que a verdadeira teologia e missão
integral reconhecem a relevância e
a urgência da tarefa evangelística
da pregação.” Marcus Throup (O
valor inestimável da pregação –
Candeia).
Não é uma questão de busca
pelo melhor método de
proclamação, mas sim uma
demonstração de mudança de
paradigmas teológicos. A crença
nas doutrinas básicas sobre as
Escrituras e das doutrinas da
teologia da pregação que estão em
xeque. O que se faz necessário não
é mudar o método de pregação
para melhores resultados, mas
resgatar a visão bíblica sobre a
pregação: “Ora, não existe a
mínima possiblidade de recuperar
a pregação sem uma recuperação
prévia da convicção. Precisamos
reconquistar nossa confiança na
veracidade, relevância e poder do
Evangelho, e voltar a nos sentir
emocionados com ele.” John Stott
(Eu creio na pregação – Vida).
Somente uma igreja
plenamente convicta das
doutrinas concernentes a pregação
para novamente a valorizar e não a
substituir por algo mais atrativo
em nossas comunidades. Assim,
ao invés de impositivamente
atribuirmos a pregação o ponto
mais alto no culto, veremos que “A
pregação merece o mais alto
destaque porque continua sendo o
principal instrumento de Deus
para alcançar o mundo perdido. E
assim, a fé vem pela pregação e a
pregação pela palavra de Cristo
(Rm 10.17)” John A. Broadus
(Sobre a preparação e entrega de
Sermões – Hagnos)
Hernandes Dias Lopes
testemunha em seu livro sobre
pregação expositiva que: “John
Piper, certa vez, escreveu que o
alvo da pregação é a glória de
Deus; o solo da pregação, a cruz de
Cristo; e o dom da pregação, o
poder do Espírito Santo. Outro
proposito da pregação é a salvação
dos perdidos e a edificação do povo
de Deus.” Hernandes Dias Lopes
(Pregação Expositiva: sua
importância para o crescimento da
igreja – Hagnos). É o poder de
Deus sendo manifestado.
Essa manifestação do poder de
Deus não tem nada a ver com
animação ou entusiasmo no
púlpito (mesmo que isso seja
desejado e estimulado em nosso
meio), mas é a plena confiança da
atuação do Espírito por meio da
pregação, afinal: “No púlpito
sempre haverá homens que
reúnem multidões porque são
oradores talentosos, contadores de
histórias interessantes,
palestrantes divertidos, políticos
populares ou acadêmicos eruditos.
Pregações desse tipo podem ser
populares, mas não
necessariamente poderosas. Quem
não prega a Palavra não pode
pregar com poder. E nenhum
pregador fiel irá diluir ou
negligenciar a vontade de Deus.
Proclamar a Palavra – toda ela – é
o chamado do pastor.” John
MacArthur (A pregação da Cruz –
Cultura Cristã).
Isso nos leva a questão: todo
tipo de pregação é igualmente
válida? Existe algo que possamos
destacar junto a teologia da
pregação que nos auxilie para
melhor servirmos ao Senhor por
meio de nossas pregações?
Handdon Robinson nos lembra
algo importante: “Os
reformadores, os puritanos, os
pastores dos Pais Peregrinos na
América do século dezessete eram
essencialmente expositores. Não
proclamavam suas próprias
opiniões particulares, que talvez
fossem questão de interpretação
particular ou de disposição
duvidosa, mas, tomando posição
na Escritura, faziam sua
mensagem chegar ao alvo com
efeito irresistível, com ‘Assim diz o
Senhor’.” Haddon W. Robinson
(Pregação Bíblica: o
desenvolvimento e a entrega de
sermões expositivos – Shedd);
Permitam-me, agora, fazer uma
defesa daquela que considero a
melhor maneira de nos
certificamos que estamos
trabalhando em conjunto ao
Espírito para a salvação dos
eleitos.
3. Por que pregação
expositiva?
Estou plenamente convicto que
a melhor maneira de se pregar com
vistas a conversão dos eleitos é a
pregação expositiva das
Escrituras. Sei que muitos
métodos são sugeridos hoje, mas
não precisamos substituir a
pregação por animadas palestras,
encenações artísticas, filmes ou
mesmo dar uma roupagem mais
aconchegante para a pregação.
Isso tudo é firula pós-moderna.
Sou da mesma opinião do Carl
Trueman: “O evangelho é o poder
de Deus para a salvação. Ele não é
um simples anúncio publicitário –
como parece que tantos gurus
evangélicos pós-modernos
pensam que ele é. Aliás, tornou-se
quase um chavão argumentar que
a razão de os indivíduos não se
tornarem cristãos é porque a
mensagem está sendo comunicada
de maneira errada. Assim, a
impressão que se passa é que o
problema não é tanto o coração
humano rebelde, mas é mais a
inadequação do método de
comunicar o evangelho.” Carl
Trueman (Reforma ontem, hoje e
amanhã – Os Puritanos).
Esse é o grande pecado da
homiletica moderna. Temos vários
livros que ensinam a pregar o que
o povo deseja ouvir, sob o pretexto
de contextualização, mas isso não
é verdade. Esse problema não é
novo, vejam as conclusões de Dan
Doriani em seu livro Verdade na
prática: “Ao examinar centenas de
sermões publicados em
prestigiosos periódicos de
pregação do anos 80 e 90, David
Wells concluiu que o conteúdo e a
organização dos sermões eram
determinados pelo texto bíblico
sob consideração apenas 24,5%
das vezes, e que apenas 19,5%
tinham qualquer relação com a
natureza, o caráter e a vontade de
Deus. A análise de Wells comprova
que os livros recentes sobre
homilética, muito raramente
promovem a pregação exegética. A
pregação tópica orientada àquele
que está buscando
‘espiritualidade’ está em alta.” Dan
Doriani (A verdade na prática –
Cultura Cristã).
Absurdamente a pregação se
tornou um fast food espiritual
onde eu sirvo o que os crentes
desejam pra que eles não
procurem uma nova franquia. Não
pode ser assim. Pregamos o poder
de Deus quando expomos
fielmente o desejo do Senhor
expresso nas Escrituras: “Assim,
pregamos e falamos as palavras de
Deus, não porque esse seja o
método de marketing mais
plausível como apelo aos
incrédulos, mas simplesmente
porque esse é o meio designado
por Deus de nos dirigirmos aos
indivíduos e de conduzi-los à fé.”
Carl Trueman (Reforma ontem,
hoje e amanhã – Os Puritanos).
A própria definição do que
venha a ser um sermão expositivo
nos dá uma ideia do que estamos
falando. Para isso, entre tantas
definições, gosto muito da de
Haddon Robinson: “A pregação
expositiva é a comunicação de um
conceito bíblico, derivado de, e
transmitido através de um estudo
histórico, gramatical e literário de
uma passagem em seu contexto,
que o Espírito Santo
primeiramente aplica à
personalidade e experiência do
pregador, e depois, através dele, a
seus ouvintes.” Haddon W.
Robinson (Pregação Bíblica: o
desenvolvimento e a entrega de
sermões expositivos – Shedd).
Testemunhando sobre a
pregação expositiva e definindo-a,
Mark Dever mostra o que pensa
sobre esse tipo de pregação: “A
pregação expositiva é o tipo de
pregação que, em termos bem
simples, expõe a Palavra de Deus.
Ela toma determinada passagem
da Escritura, explica-a e, em
seguida, aplica o significado da
passagem à vida da congregação. É
o tipo de pregação mais adequado
para determinar o que Deus diz ao
seu povo, bem como àqueles que
não fazem parte de seu povo. O
compromisso com a pregação
expositiva é um compromisso de
ouvir a Palavra de Deus.” Mark
Dever (O que é uma igreja
saudável? – Fiel).
Pregação expositiva não deve se
tornar uma nova moda na igreja,
ela não é modinha a ser seguida,
mas é a forma mais fiel de se
transmitir a verdade divina com
vistas a transformação dos
pecadores: “A exposição bíblica
liga o pregador e as pessoas à única
fonte de transformação espiritual
verdadeira. Considerando que os
corações são transformados
quando as pessoas se deparam
com a Palavra de Deus, os
pregadores expositivos ficam
comprometidos a dizer o que Deus
diz.” Bryan Chapell (Pregação
Cristocêntrica – Cultura Cristã).
Os pregadores moderninhos
tendem a acusar os pregadores
expositivos de antiquados, afinal,
pregar não capta mais a atenção
dos homens, dizem eles. É preciso
uma roupagem mais atrativa. Mas,
ao se moldar ao espirito da nossa
época sob o pretexto de ser mais
eficaz, se esquece da contracultura
que o cristianismo prega. Assim:
“Nem toda mensagem ou ato de
pregação atravessará as barreiras
da nossa cultura anticristã e pós-
moderna. Somente a diligente
exposição do texto sob a poderosa
mão do Espírito Santo de Deus
preencherá o vazio dos nossos
dias” Walter C. Kaiser Jr
(Pregando e Ensinando a partir do
AT: um guia prático para a Igreja –
CPAD).
A questão verdadeira não é, a
meu ver, a tentativa de um método
mais adequado pra nossa época,
mas tem sido a exposição dos
corações apaixonados dos nossos
pregadores pos-modernos. A
crença na incapacidade linguística,
a negação da autoridade, entre
outros problemas listados por Carl
Trueman no livro Imperativo
confessional, vemos que: “De
modo geral, perdemos o interesse
em proclamar o que Paulo chamou
de ‘todo o conselho de Deus’ (At
20.27), buscando suprir todo o
catalogo das necessidades
humanas.” Dan Doriani (A
verdade na prática – Cultura
Cristã).
Nosso desafio é entender que a
conversão se dará pela atuação do
Espírito Santo por meio da
pregação da Palavra, mas se a
Palavra não está sendo exposta no
seu sentido pretendido, mas
somente como pretexto para os
pensamentos pregador, essa
pregação não cumpre seu papel.
Concordo com John Piper quando
diz que: “Toda pregação cristã
deve ser a exposição e a aplicação
de textos bíblicos. Nossa
autoridade como pregadores
enviados por Deus se mantem ou
cai com nossa lealdade evidente ao
texto da Escritura. Digo ‘evidente’,
pois há muitos pregadores que
dizem estar expondo as Escrituras,
enquanto, evidentemente, não
baseiam suas afirmações no texto
bíblico.” John Piper (Supremacia
de Deus na pregação – Shedd).
Isso não significa que os
pregadores estão convictos de que
suas atitudes são incoerentes com
sua proclamação de fé, como diz
respeito a uma cosmovisão, eles
podem nem se dar conta que estão
tomando a atitude errada quando
a pregação bíblica, como bem
notou Mark Dever: “Alguém
poderia afirmar alegremente que a
Palavra de Deus é a autoridade
final e inerrante. Contudo, se essa
pessoa não prega de modo
expositivo (intencionalmente ou
não), ela nega a sua própria
afirmação.” Mark Dever (O que é
uma igreja saudável? – Fiel)
A fé vem pelo ouvir do
evangelho, mas se o evangelho não
for pregador, como virá a fé? Faz
parte do projeto divino a ação do
Espirito por meio da pregação. E
até se nós pensarmos em termos
de crescimento de igreja,
Hernandes Dias Lopes destaca que
essa é a maneira correta de se
obter números: “A pregação
expositiva é vital para a igreja
contemporânea por ser um fator-
chave para o crescimento
saudável. Deus é, sem dúvida, o
causador do verdadeiro
crescimento da igreja (At 2.47; I
Co 3.6). Mas Deus, em sua
soberana vontade, decretou salvar
os pecadores mediante a loucura
da pregação (I Co 1.21). Deus,
portanto, salva os perdidos e
edifica sua igreja por meio da
exposição da sua Palavra.”
Hernandes Dias Lopes (Pregação
Expositiva: sua importância para o
crescimento da igreja – Hagnos).
Conclusão:
Vimos que a salvação dos
perdidos possui um modo de ser
operada. Ela será aplicada pelo
Espírito Santo no coração dos
Eleitos por meio da pregação da
Palavra. Essa graça irresistível usa
um meio para ser aplicada, e por
isso mesmo. Temos uma missão a
desempenhar nesse processo.
Nosso chamado é maravilhoso.
Como pregadores, temos um
papel magnifico a nós dispensado.
Somos chamados a proclamar
fielmente a verdade do Senhor
como registrada em Sua Palavra.
“A exposição dos textos é essencial
porque o evangelho é uma
mensagem que vem a nós em
palavras, e Deus ordenou que as
pessoas vejam a glória de Cristo –
as insondáveis riquezas de Cristo
(Ef 3.8) – nas palavras do
evangelho. Esse é o nosso
chamado: divulgar as palavras e
frases e parágrafos da Escritura e
mostrar a glória de Cristo que é a
imagem de Deus.” John Piper (A
pregação da Cruz – Cultura
Cristã).

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