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TEORIA, HISTÓRIA E

CRÍTICA DA
ARQUITETURA E DO
URBANISMO II – TH 2

Profª. Ana Paula de O Zimmermann


Curso de Arquitetura e Urbanismo
Escola de Artes e Arquitetura
Pontificia Universidade Católica de Goiás
O URBANISMO
RENASCENTISTA
ANTECEDENTES HISTÓRICOS

A UTOPIA E A CIDADE IDEAL


 Seria lógico pensar que,
durante o Renascimento se
produzisse uma profunda
transformação nas cidades.
 No entanto, nada disto, ou
quase nada acontece
 As realizações e até as
ideias urbanistas
quinhentistas representam
pouco se as compararmos
com o caminho percorrido
pela arquitetura durante o
mesmo período.
ANTECEDENTES HISTÓRICOS
POR QUE , NO RENASCIMENTO, HOUVE UM DESENVOLVIMENTO
MAIOR DA ARQUITETURA EM RELAÇÃO AO URBANISMO?

 Os arquitetos do Renascimento tinham ao seu


alcance todos os monumentos da antiguidade
romana.
 Os exemplos do urbanismo antigo tinham
desaparecido, estavam sepultados, ou jaziam em
regiões longínquas.
 No início do renascimento, a Europa não
necessitava de novos núcleos urbanos, dada a
estrutura urbana que se havia constituído na Idade
Média.
 O tamanho contido da cidade medieval não
oferecia possibilidades de intervenções em
grande escala.
ANTECEDENTES HISTÓRICOS

 Para os urbanistas
restavam algumas
passagens obscuras do
texto de Vitrúvio, que,
além disso, não
apresentavam
ilustrações.
 No livro I, aparece a
descrição de como deve
ser a cidade para
cumprir os requisitos
básicos da doutrina de
Vitrúvio: firmitas, utilitas,
e venustas.
ANTECEDENTES HISTÓRICOS

A Utopia Clássica propõe


uma cidade cristã e platônica,
uma referência ideal, mais do
que um instrumento realmente
aplicável.

A cidade ideal
renascentista é o corolário
arquitetônico da utopia e como
tal é uma cidade mental: uma
referência platônica.

Igreja S. Andrea em
Mântua, Alberti
ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Leonardo Da Vinci (1452-1519)
Homo ad circulum
vitruviano
No plano ideal, o
CÍRCULO passou a ser o
preferido dos projetistas da
Renascença por significar a
Francesco di redenção da sociedade; um
Giorgio
Martini
emblema da perfeição, do
(1439-1501) equilíbrio e da eternidade.
A CIDADE PERFEITA
deveria ser circular; forma de
bases cósmica e metafísica que
simbolizava, por analogia, a
esfera da criação divina, sem
começo nem fim.
Cesare Cesariano
(1475-1543)
É, geralmente de forma
circular ou um octógono
murado, diferindo-se das formas
retangulares dos bastiões
medievais.
Sendo de forma circular
possui um centro (geralmente
cívico/religioso) com ruas no
interior do perímetro em
diferentes soluções, podendo ser
radiocêntricas.
Outro formato de cidade
ideal seria a interpretação da
mesma em um tabuleiro de
damas com uma planta
poligonal.
Assim nascerá a
cidade ideal do
Renascimento, criação
mais intelectual que
real, que virá a ser
uma consequência do
pensamento utópico
renascentista.
Piazza
Annunziata,
Florença

 A atividade urbanística durante os séculos XV e XVI


consiste, em grande parte, em alterações no interior
das velhas cidades que, geralmente, modificam muito
pouco a estrutura geral.
A CIDADE (IDEAL) RENASCENTISTA
Alberti, retoma o problema da cidade ideal.
A teoria albertinana da cidade: Uma característica forte
desta teoria é a capacidade de unir as novas concepções
urbanísticas com a antiga, de estrutura medieval.

O tratado De re aedificatoria se divide em duas partes:


Tratado de edificação divide-se em:
• Lugar
• Distribuição
• Muros
• Cobertas
• Ventos
• Solar
A CIDADE (IDEAL) RENASCENTISTA
Tratado de urbanismo.
A cidade é formulada a partir de fatores climáticos.
As ruas estão divididas em 3 categorias:
•As principais
•As secundárias
• As ruas funcionais
Vista aérea de Urbino e
pintura da cidade ideal.
Recomendações gerais
• As ruas devem estar bem empedradas e limpas ao extremo.
• Todos os edifícios devem estar alinhados ter continuidade e
mesma altura.
• Deve-se prever espaços públicos.

• Utilização da Perspectiva no contexto da cidade.


PALMANOVA
Palmanova
Essa configuração
resulta, em um modelo
harmonioso graças a uma
complexa disposição de
ruas radiais, três anéis
concêntricos, doze ruas
radiais adicionais e de
seis pequenas praças
secundárias situadas no
interior das quadras.
Palma Nova conseguiu chegar até os dias atuais conservando
seu traçado original, seu contorno fortificado e seus principais
edifícios, sem que tais elementos tenham sido descaracterizados
por desenvolvimentos posteriores.
ALMEIDA - PORTUGAL
Vista do ar, a vila de Almeida, classificada como Aldeia histórica,
parece uma estrela de 12 pontas, tantas quantos os baluartes e
revelins que rodeiam um espaço com um perímetro de 2500 metros.
Esta notável praça-forte foi edificada nos sécs. XVII-XVIII, em redor de
um castelo medieval, num local importantíssimo como ponto de defesa
estratégico da região.

Vista aérea de Almeida,


próxima à fronteira com a
Espanha. O sistema
defensivo é do século XVI,
mas a estrutura morfológica
é a mesma do período
medieval (século XIII).
A CIDADE REAL

Para transformar Para evitar que o


a cidade real na Metástase
benígna ideal abstrato
cidade ideal, atuasse contra a
Alberti propõe: Seletiva
realidade

Abertura de Novas Adaptação da


Vias, criação de novas utopia pontual na
praças regulares com malha urbana da
objetivos cidade medieval
perspectivos =>
influenciando novos
comportamentos
racionais
Roma Plano Regulador
para Roma, 1585-
1590. Ilustração
mostrando o
núcleo medieval,
as muralhas
Aurelianas, as vias
traçadas no
Renascimento e as
vias traçadas por
Sixto V.
Roma

Relacionadas de certa forma com essas idéias de


alternância, pode-se destacar a forma representada pela cidade
e a cidadela enquanto função de defesa militar.

Com exemplo é o Vaticano, entendido como sede do


governo e como cidadela papal em permanente relação dialética
com a cidade de Roma.
Basílica de São Pedro,vista
atual Vaticano Desenhada
por Bramante , com
contribuições de muitos
outros artistas do
Renascimento e do
Maneirismo, como
Michelangelo, Rafael e
Bernini, concluído com o
Barroco
CIDADES COLONIAIS NAS
AMÉRICAS
AMÉRICA
A américa torna-se uma terra virgem onde a utopia
é uma possibilidade real, onde o esquema urbano
idealizados pelos reis católicos e por Carlos V é o único
modelo de cidade renascentista planejado e controlado por
vários séculos.
A retícula hipodâmica é adotada na implantação de
novas cidades na américa hispânica em virtude de ser um
instrumento prático para facilitar o planejamento e a
construção das mesmas.
Não serão encontrados variedade dos esquemas
renascentistas, tão pouco seu desejo de beleza arquétipica,
somente o desejo de expresso e prático de facilitar o
PROJETO, A CIRULAÇÃO E A DEFESA.
AMÉRICA
Outro aspecto é que “as realizações urbanísticas e
de construção nos territórios de além-mar, são, em seu
conjunto, muito mais importantes do que as existentes na
pátria mãe”.
Possibilidades de realizar novos e grandes programas
de colonização e urbanização em virtude de grandes espaços
vazios.
Contrastam-se com a pátria mãe:
EUROPA => há especialistas de alto nível e faltam espaços
para trabalhos importantes

AMÉRICA => há tudo a se fazer e espaços, e faltam os


especialistas de alto nível.
CIDADE COLONIAL
Entre os séculos XV e XVI, tiveram início a ERA DAS
NAVEGAÇÕES e a conseqüente expansão mundial da
civilização européia, impulsionada pelo mercantilismo e pela
posterior descoberta de metais preciosos nas colônias além
mar.
Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Holanda
tornaram-se grandes potências marítimas e partiram para o
domínio do NOVO MUNDO.
• As realizações urbanísticas e de construção nos
territórios coloniais, em seu conjunto, constituíram em
importantes experiências, assim como nas
oportunidades de aplicação na prática dos pressupostos
ideais elaborados nas metrópoles.
Colonização da América Espanhola
O Renascimento correspondeu ao período de expansão
européia. Nos séculos XV e XVI, a expansão marítima e
comercial coube às duas nações ibéricas: Espanha e Portugal.

A Espanha foi o segundo país a se lançar em sua expansão


além-mar.

Os espanhóis financiam a viagem de Colombo, que chega ao


continente americano em 1492. Na América, eles vislumbram
vastas terras virgens, palco propício para as realizações
urbanísticas utópicas do Renascimento europeu –possibilidade
real de concretização de modelos e planos de cidades ideais
quinhentistas.
Os espanhóis encontram
territórios mais propícios à
colonização: os planaltos da
América Central e Meridional.

Aqui encontram diversos


povos com diferentes culturas,
desde os tapuias, no Brasil, até as
Potosi.(Bolívia)
de alta cultura, como os astecas,
maias e incas.

A colonização teve como ponto


de apoio às minas de ouro e
prata, no México e no Peru, e as
riquíssimas minas de prata de
Potosí (atual Bolívia).
Na segunda década do século XVI, os espanhóis
implantaram as cidades de La Habana, Guatemala,
Campeche e Panamá. Estes povoados seguem as mesmas
regras: planos simples e práticos, que se adaptavam à
topografia local.

Ao conquistar a grande cidade indígena Tenochtitlán


(transformada na cidade do México), Cortéz impõe um
modelo de cidade com planta em forma de tabuleiro de
xadrez. O mesmo procedimento é adotado por Pizarro em
Cuzco, no Peru. No resto do continente, os espanhóis
destroem as aldeias indígenas e suas pirâmides e
obrigam seus moradores a ocuparem as novas cidades.
À esquerda, mapa de 1582 de
Tentenango, Vila indígena no
México. À direita, Cidade do
Panamá, plano do século 17.

Tenochtitlán, a capital asteca.


O conceito urbano segue um
padrão uniforme:

-Quarteirões idênticos,
geralmente, com forma quadrada,
definidos por ruas ortogonais e
retilíneas.
Planta de Havana, Juan Síscara
-O centro da cidade é ocupado
por grandes edifícios públicos.

-Estas edificações repousam


sobre uma grande praça regular,
obtida com a supressão de alguns
quarteirões.
Em 1573, Filipe II institui a Lei
das Índias - associação entre os
princípios e ideias renascentistas,
as influências do Tratado de
Vitrúvio e as realizações
concretizadas na América.
Algumas regras mais importantes:
-A planta do estabelecimento a Mapa colonial de Atitlan
ser fundado deveria sempre ser
levada pronta;
-O plano composto por ruas,
praças e lotes deveria ser
implantado a partir da praça
principal, de onde sairiam às ruas,
que se prolongavam até as portas À esquerda, traçado de Luiz Díez Navarro para
e ruas exteriores; Nova Guatemala, 1776. À direita, plano de
Cusco na época da conquista espanhola.
-A implantação deveria ser feita,
deixando espaço vazio aberto ;
-A praça principal, denominada
de praça maior deveria estar
sempre localizada no centro da
cidade;
-A área da praça deveria ser
proporcional e adequada ao
número de habitantes, pensando-
se sempre no futuro crescimento
da cidade;
-A praça e as ruas principais que Mapa colonial de Guatemala.
se originam nela deveriam ser
ladeadas com pórticos;
-Nas áreas que necessitam de
defesa, as ruas deveriam ser largas
para permitir o acesso aos cavalos;
-A igreja deve estar situada
livremente e de forma
independente
-A igreja deveria estar situada
numa área com topografia elevada,
-O hospital freqüentado pelos Planta da Cidade de Lima, Peru,
pobres deveria estar localizado ao século XVIII
norte,
-Os terrenos para construção,
situados em volta da praça
principal, não deveriam ser
cedidos à particulares, e sim à
igreja, aos edifícios reais e
municipais, às lojas e às
habitações de mercadores e, por Plano de Montevidéu, século
último, aos colonos mais ricos. XVIII
As MISSÕES JESUÍTICAS construídas no século XVI para a
catequese indígena constituíram-se em modestos núcleos
urbanos assentados em planos regulares compostos por
casas, igreja e colégio.
• Por pertencerem a uma congregação relativamente
recente – a Companhia ou Sociedade de Jesus, fundada em
1534, quando Inácio de Loyola (1491-1556) e seis
companheiros egressos da Universidade de Paris fizeram
voto de pobreza e de irem pregar o Evangelho –, os
padres jesuítas exerceram uma intensa atividade de
irradiação cristã, em pleno espírito da Contra-Reforma.
Os traçados das cidades hispano-americanas não expressam
uma grande variedade, seus objetivos são eminentemente
práticos, pois visam a facilidade de reimplantação e a defesa.

Na realidade a cidade que é


produzida na América possui
características próprias
originais.

1. o desenho das ruas e


das praças é, por vezes,
inutilmente grandioso, ao
passo que os edifícios são
baixos e modestos (as
casas são quase sempre de
um andar)”
Planta da fundação da cidade de León, hoje Caracas
2. A cidade poderá e deverá crescer, porém não se sabe o quanto
crescerá; sendo assim o plano em tabuleiro xadrez poderá ser
estendido em todo e qualquer sentido.

Planta de 1581,
com a a parte
central da cidade
de Cholula, no
México.
3. O traçado das vias é
uniforme não se
importando com as
especificidades de cada
local. Os traçados
americanos não
acompanharam a
evolução da Europa.

Planta da cidade de
Guadalajara, no
México.

Cidade de Quito,
no Equador, as 4
praças eliminam
quarteirões.
Segundo Benevolo, “as cidades coloniais americanas “são
as realizações mais importantes do século XVI.

Vista aérea da
Cidade de
Guadalajara, com a
praça principal.
O ambiente das cidades
coloniais na América
espanhola, uma rua
típica,

com casas térreas, e a


fachada de uma igreja,
onde os elementos da
arquitetura clássica são
interpretados livremente
pelos construtores.
As Leis das Índias, de acordo
com a estética do
Renascimento, aconselham que
todas as casas da cidade sejam
da mesma forma, isto é
conservem uma grande
unidade. Até há pouco eram
assim as cidades hispano-
americanas grandes e
pequenas, “um legado de
unidade, harmonia e graça que,
hoje, só podemos imaginar
revendo as velhas litografias e
um ou outro daguerreotipo
amarelecido”
Ruas em Mérida, na Venezuela, ainda
circundada pelas casas térreas coloniais.
Colonização da América Portuguesa
• Em Portugal, as realizações urbanísticas e de construção
nos territórios de além-mar são, em seu conjunto, muito
mais importantes do que as existentes no próprio
território.

• Os portugueses, em seu hemisfério, encontraram


territórios pobres e inóspitos (sobretudo a África
Meridional) ou então, no Oriente, Estados populosos e
aguerridos que não podem ser conquistados, assim
fundam somente uma série de bases navais, para
controlar o comércio oceânico, e não tem condições de
realizar uma verdadeira colonização em grande
escala.
Em relação ao Brasil, a ausência de riquezas minerais
aparentes levou os primeiros ocupantes a optarem por uma
colonização de baixo investimento, voltada exclusivamente à
exploração de suas riquezas naturais mais evidentes.

• Inicialmente foram construídos muitos fortes e


fortificações no litoral para protegerem o território
português das incursões de espanhóis, franceses e
holandeses. Estas obras eram realizadas por engenheiros
militares, caracterizando-se por serem recintos
amuralhados (cantaria de pedra) com traçados
geométricos de bases medievo-renascentistas.
A FORTIFICAÇÃO DAS CIDADES NO SÉC. XVII

No período das guerras da restauração, na segunda metade


do séc. XVII, muitas cidades portuguesas foram alvo de
intervenção, com o objetivo de reforçar e melhorar os
sistemas defensivos. Em muitos casos, a nova área urbana
irá englobar o burgo medieval e os antigos arrabaldes.

COLONIZAÇÃO PORTUGUESA NO BRASIL

Até1580 , as vilas como São Paulo, Olinda e Vitória tinham


traçados irregulares. Mas Salvador, como “cidade real”, foi
criada com características diferentes.
Para traça-la, veio de Portugal o mestre de fortificações Luiz
Dias, que trouxe diretrizes da Corte sobre o modo de
proceder.
A cidade teve desde o
início ruas retas e seu
desenho aproximava-se,
nos terrenos planos, do
clássico tabuleiro de
xadrez. Um esquema
semelhante foi adotado
em São Luiz do
Maranhão e Filipéia (João
Pessoa).

Salvador (Bahia)
Em 1549 para dar novo impulso à colonização, o governo
português promoveu a criação de um governo geral e a
fundação da cidade de Salvador na capitania da Bahia
como sede da nova administração (Cidade Real).

Fundada por Tomé de Souza, é a terceira cidade a ser fundada


no Brasil. As demais ainda encontram-se na condição de vilas.

A primeira foi São Vicente em São Paulo (1532) e a segunda


Olinda em Pernambuco (1537).
Colonização da América Britânica

O modelo urbano em tabuleiro, idealizado pelos


espanhóis no século XVI para traçar as novas cidades da
América Central e Meridional, foi também aplicado
extensivamente pelos ingleses, assim como pelos franceses e
holandeses, entre os séculos XVII e XVIII para a colonização
da América Setentrional.

• Vários técnicos de terceira ordem, emigrados para o


Novo Mundo, conseguiram realizar o que não era possível
de ser feito na Europa da época: reorganizar o
ambiente construído com os novos princípios da
simetria e da regularidade geométrica, que
garantiam a afirmação do poder.
• O território norte-americano também foi encontrado sem
cidades, como no caso do Brasil, contudo, os colonizadores
que desembarcaram com o May Flower1, mais de um século
após o início da colonização das terras brasileiras, não
permaneceram no litoral, embrenhando-se para o oeste no
propósito de colonizar e permanecer na sua nova pátria.
A efetiva colonização do território americano – cujo
descobrimento deu-se em 12 de outubro de 1492, por Cristóvão
Colombo – iniciou-se com a implantação de colônias espanholas
(pueblos) na Flórida (St. Augustine, 1565), Novo México (Santa Fé,
1609) e Texas (San Antonio, 1718).

O primeiro assentamento francês foi em Quebec (1608), seguido


por Detroit (1701), Mobile (1711), New Orleans (1722), Fort
Duquesne (Pittsburgh, 1724) e St. Louis (1762), enquanto que o
holandês deu-se na foz do Hudson, Ilha de Manhattan (1620).

Porém, foi o controle britânico que acabou predominando, graças


às cidades coloniais fundadas na Virgínia (1607), na Nova
Inglaterra (1620) e na Pensilvânia (1681). Boston passou a ser a
sede do governo de Massachusetts em 1630, substituíndo
Charlestown (1629) pela boa qualidade de suas fontes d’água.
Filadélfia foi fundada em 1682, na confluência dos rios
Delawre e Schuylkill, por William Penn (1644-1718), em um
local antes habitado por imigrantes suecos. De traçado
uniforme e retilíneo, com ruas cruzando-se em ângulo reto,
possui uma grande praça central, na qual atravessam
ortogonalmente duas grandes avenidas. O plano já apresentava
preocupações de hierarquização de vias e de zoneamento, com
lotes de tamanhos distintos.
• Savannah (Georgia), fundada em 1733, apresenta um
traçado ortogonal em grelha que, embora uniforme,
demonstrava um princípio de diferenciação de vias (principais
e secundárias), além da previsão de jardins residenciais e três
parques.
A CIDADE BARROCA
O BARROCO
Na Itália, após o Concílio de Trento (1545-
63), surge uma igreja revigorada pela
definição de novas posturas pela Contra-
Reforma, que se volta para as massas e
permite uma concepção mais emocional
e universalmente compreensível.

O barroco rompe, assim, com o


intelectualismo classicista do
Maneirismo.
O BARROCO
"Barroco", realmente, significa absurdo ou grotesco,
e era empregado por homens que insistiam em que
as formas das construções clássicas jamais
deveriam ser usadas ou combinadas senão da
maneira adotada por gregos e romanos.

Todos os elementos do Renascimento reaparecem


no Barroco, porém elevados ao grau máximo de
representação.
O BARROCO

Não foi somente a Igreja Romana que


descobriu o poder da arte para
impressionar e dominar pela emoção. Os
reis e príncipes da Europa seiscentista
estavam igualmente ansiosos por exibir seu
poderio e assim aumentar a sua
ascendência sobre a mente de seus súditos.
A CIDADE BARROCA
Entendida como um espaço político, centro
poderoso de decisão e de grande importância
estratégica, a cidade medievo-renascentista do
século XVI sofreu intervenções que permitiram a
abertura de ruas e praças, edificadas dentro dos
princípios da simetria e da proporção.

Os ideais estéticos da RENASCENÇA


defendiam o alargamento de vias, as quais
deveriam confluir para construções
monumentais, agora destacadas em praças
ajardinadas, repletas de fontes esculturais,
estátuas e colunatas.
A CIDADE BARROCA
Em I Quattro Libri
dell’Architettura (1570),
ANDREA PALLADIO
(1508-80) estabeleceu as
premissas de concepção
tanto da arquitetura como
da cidade, as quais se
baseavam em uma atitude
de lógica e de produção
Villa Rotonda, mental, estabelecendo a
(1566, Vicenza). relação das partes e a harmonia das suas
grandezas, o que foi muito bem
exemplificado através do projeto de suas
villas.
A CIDADE BARROCA
Surgimento do Estado Nacional – como expressão de
um todo territorial, de uma integração em vez de uma
soma do conjunto aditivo de cidades.

A formação da Cidade Capital – vinculada ao


desenvolvimento da urbanística praticada pelo Barroco
em tratar de forma cenográfica os espaços urbanos.

Capital moderna de criação barroca onde estão


associadas as sedes de poder que tudo absorviam e
suscitava à grandes intervenções urbanas em cada
uma das capitais que se firmavam através deste conceito
A CIDADE BARROCA
A nova concepção do espaço urbano tornou-se um dos
grandes triunfos da mentalidade barroca: organizar o
espaço, tornando-o contínuo, reduzindo-o à media e à
ordem, estendendo os limites da grandeza, para
abranger o extremamente remoto e o extremamente
pequeno, finalmente, associando o espaço ao
movimento e ao tempo. Uma espécie de início do que
conhecemos hoje como “zoneamento” – uso do solo.

A linguagem barroca oferecia dinâmica, movimento e


drama à forma clássica estática do renascimento, para
que fosse acessível a todos, que fosse revelado de forma
sedutora para as inúmeras camadas sociais.
A CIDADE BARROCA

Afresco da Biblioteca Vaticana mostrando o plano de Sisto V e Domenico Fontana


para Roma, 1587-1589. (INSOLERA, 1981, p. 193)

Extensas avenidas cortando a preexistência medieval,os


sítios arqueológicos, formando eixos perspectivos que
uniriam muitas das principais basílicas cristãs, nova
legibilidade ao espaço urbano.
A CIDADE BARROCA
No século XVII até meados
do XVIII, a arte BARROCA
promoveu um
prolongamento em escala
do Renascimento e, embora
negasse suas normas rígidas
e proporções imutáveis,
manteve a perspectiva
como elemento primordial
na concepção espacial e da
valorização das vias e
monumentos
Piazza del Popolo (Kostof, 1991).
(1589/1680, Roma Itália)
Carlo Rainaldi (1611-91)
A CIDADE BARROCA
A CIDADE BARROCA teve que atender às
aspirações estéticas aristocráticas pela
grandiloquência de suas formas – expressão de
poder, de ordem e de controle social – e, ao
mesmo tempo, aos interesses burgueses pelo seu
aspecto socioeconômico (Goitia, 2003).

Place Stanilas
ant. Place Royale
(Séc. XVII, Nancy,
França)
A CIDADE BARROCA
A cidade tornou-se um
espetáculo para os olhos,
emocionante e dinâmico
que utilizava um repertório
mais rico que o
renascentista, composto
por obeliscos, chafarizes,
estátuas, colunatas e
arcadas, além de grandes
planimetrias, traçados
radiocêntricos e
Place de la Liberátion, Séc. XVII, Dijon ajardinamentos.
França. François Mansart.
A CIDADE BARROCA

Gravura da praça San Carlo a Torino, projetada por Carlo de


Castellamonte, toda com arquitetura uniforme e as duas igrejas gêmeas
emoldurando o eixo perspectivo da Via Roma – projetada por Ascanio
Vittozi, apenas a igreja da esquerda foi construída.
A CIDADE BARROCA

Entrada norte de Roma Praça del


Popolo e o obelisco egípcio e com a
imagem de duas igrejas gêmeas com
poucas características diferentes
(Santa Maria de´Miracoli e Santa
Maria di Monte Santo).
Piazza del Popolo (1589/1680, Roma Itália) Carlo Rainaldi (1611-91).
A CIDADE BARROCA

Palácio de Versailles: vista aérea do palácio e do tridente


(trivium) concebida pelo Rei Luís XV (1638-1715).
A CIDADE BARROCA
Até o RENASCIMENTO, a arte
dos jardins resumia-se na
apropriação pela cidade de
espaços verdes naturais, que
eram cercados e domesticados;
ou então no cultivo de áreas
verdes domésticas.

A partir do BARROCO, os
jardins expandiram-se em
amplas praças com desenhos
Palácio Piccolomini, Pienza.
geométricos e escalonados
em diversos planos.
A CIDADE BARROCA
Principais elementos do URBANISMO BARROCO,
característico da Europa dos séculos XVII e XVIII:

a) Traçados de bases renascentistas, guiados pela


perspectiva, mas dotados de maior liberdade,
movimento e escala, passando a simetria a ser
relativa (em composição, mas não em detalhes);

b) Caráter monumental expresso pela busca da


grandiosidade e pela criação de verdadeiras
“cidades-cenário”, o que foi obtido por meio de
rasgamento e alargamento de vias, assim como
a criação de amplos espaços públicos.
A CIDADE BARROCA
c) Desenho urbano realizado com base na composição
arquitetônica – simetria, ritmo, dominância de massas
compactas e aspecto imponente e sólido das obras –, além da
artificialidade dos jardins;

d) Paisagem concebida como construção humana,


adquirindo assim um espírito mais arquitetônico artificial e
cênico: proliferam eixos, ruas e avenidas radiais,
composições geométricas e a retificação de canais, fontes e
espelhos d’água.
Piazza di Spagna, 1690-1720, Roma. Francesco de Sanctis.
A CIDADE BARROCA
e) Arquitetura urbana exuberante e retórica, de
escala monumental composta por igrejas, palácios e
monumentos para os quais convergiam alamedas
arborizadas e consistiam nos principais temas
estéticos.

Piazza del Popolo (1589/1680, Roma Itália) Carlo Rainaldi (1611-91).


A CIDADE BARROCA - FRANÇA
• O JARDIM BARROCO
Jardin du Palais de Versailles (1668/85) estabelecia-se como uma
André Le Nôtre (1613-1700)
paisagem completa,
simétrica e regular, na qual
os edifícios eram vistos
como cenários e a natureza
trabalhada como massas
compactas e artificiais.
• Os cursos d’água eram
canalizados, os percursos
pré-estabelecidos e todo o
desenho dominado por
relvados e alamedas,
canteiros floridos,
chafarizes, colunatas e
Jardin du estátuas.
Château de Chantilly (1663)
A CIDADE BARROCA - FRANÇA
Segundo LE NÔTRE, os jardins
franceses deveriam ser compostos por:
• Traçados retilíneos e André
Le Nôtre
radiocêntricos compostos por caminhos (1613-1700)
e arruamentos de cascalhos para o
tráfego de cavalos e carruagens; Jardin de
• Amplos relvados, alamedas, cercas- Villandry
vivas, trepadeiras e canteiros
formando desenhos geométricos e
bordaduras curvilíneas, separados de
bosques;
• Criação de cursos d’água (canais e
lagos artificiais), assim como
perspectivas que destacassem as
fachadas arquitetônicas, os portões
de acesso e os elementos
decorativos em profusão.
A CIDADE BARROCA

• A CIDADE BARROCA foi a espacialização dos


ideais do absolutismo e seu traçado – centro
urbano, palácio e jardim – baseava-se em um
conjunto de premissas teóricas e de idealização
perspéctica e geométrica.

• O uso de eixos divergentes e convergentes era


a expressão e instrumento do poder e da ordem
monárquica, representando um ponto de vista
simultaneamente unívoco e abrangente, que
aconteceu em outros países europeus.
A CIDADE BARROCA - PORTUGAL
• Com o Grande Terremoto de 1755, em que a parte antiga e
medieval de Lisboa foi totalmente destruída, o MARQUÊS DE
POMBAL (1699-1782) realizou um plano urbano que remodelou
seu centro e impôs um traçado geometrizado, que valorizava
a criação de praças e o destaque de monumentos.

Marquês
de Pombal
(1699-1782)

Lisboa
REFERÊNCIAS
 SUMMERSON, John. A linguagem clássica da arquitetura.
São Paulo: Martins Fontes, 2006

 NEVES, André Lemoine. Território O pensamento sobre a


cidade no Renascimenrto e seus reflexos em Portugal –
séculos XV-XVII. Humanae, v.1, n.3, p.27-43, Dez.. 2009.

 PEREIRA, José Ramón Alonso. Introdução à História da


Arquitetura: das origens ao século XXI.Trad. Alexandre
Salvaterra. Porto Alegre: Bookman, 2010. p. 29-35.

 BENÉVOLO, Leonardo. História da cidade. São Paulo:


Perspectiva, 2003.

 FAZIO, Michael. A História da arquitetura mundial. Porto


Alegre: Bookman, 2011.

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