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(Este material foi obtido de Manual de pesquisa, vol.

3; Eduardo AC Garcia)

Brasília, DF
Set. 2004

Sumário
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Introdução à construção de cenários prospectivos

Introdução 3

1 Por que Explorar o Futuro e como fazê-lo 3

1.1 Visão Extrapolativa ou Determinística 3

1.2 A Abordagem Prospectiva e Probabilística 8

2 A Construção de Cenários como Instrumento de Exploração do Futuro 12

2.1 O Conceito de Cenário 12

2.2 Propósitos da construção de cenários 17

2.3 Principais “ingredientes” de um cenário 18

2.4 Atributos da abordagem de cenários 19

2.4 Tipos de Cenários 20

2.5 Níveis de Agregação dos Cenários 24

2.6 Usos e Aplicações de Cenários 25

Uma Introdução à Metodologia de Construção de Cenários 26


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Introdução à construção de cenários prospectivos

A parte que segue apresenta uma síntese das principais


Introdução características da abordagem determinística, como parte da
introdução à geração de cenários prospectivos, numa nova
O tema, ainda que abordado de forma simples neste abordagem, para tratar do futuro, sem ter a pretensão de
documento, é oportuno e útil para facilitar a reflexão, em prevê-lo; apenas se deseja aprimorar a base de informações
particular quando essa apresentação é feita em foro para se tomar decisões no presente.
acadêmico, sobre o desenvolvimento que se quer e que
deve ser feito para transformar essa visão em realidade, Ao contrário do que a palavra cenário sugere e, em
para fazer o futuro ao pensar e planejar essa criação, termos comuns, é erroneamente interpretada. Esse
buscando as condições e atores que levem ao progresso conceito, neste documento, não significa uma fotografia
almejado de forma favorável, sem que se possa dispensar, estática de uma possível configuração futura, mas, a
nessa criação, o passado, com suas muitas conquistas, descrição dinâmica de uma “trama”, com seus respectivos
experiências, erros (...), ao incorporar lições e possibilitar a atores e circunstâncias interagindo no ambiente
convivência e a integração de valores”arcaicos” e de considerado e limitado nas cenas, nas circunstâncias.
inovações.

1.1 Visão Extrapolativa ou Determinística


1 Por que Explorar o Futuro e
como fazê-lo Em termos gerais, a metodologia básica das previsões
tradicionais tem sido a extrapolação de tendências, feita
com a aplicação de análises de séries temporais, sendo que
A prática da exploração do futuro, de “adivinhar” é tão a maioria dessas previsões se fundamenta na hipótese de
antiga quanto a própria humanidade, sem, contudo, ter-se que o futuro pode ser antevisto mediante a inferência da
progredido o suficiente a ponto de poder responder: é análise de fatos e eventos (séries históricas) consistentes do
possível prever eventos, descobertas e invenções no futuro? passado, naquilo que tais fatos e eventos têm de
quantificável.
Em alguns casos é possível antecipar o sentido geral do
desenvolvimento científico e tecnológico para um dado Essa antevisão do futuro tem algumas implicações, no
período de tempo e sob certas condições de relativa campo determinístico, 1 que devem ser cuidadosamente
estabilidade. Entretanto, a pergunta anterior ainda espera examinadas, em especial quando se buscam definir ações e
uma resposta. estratégias de processos do desenvolvimento sustentável, à
luz de rápidas mudanças, de ações-reações e de ajustes que
As tentativas de respostas à questão acima reabrem a afetam esses processos.
reflexão sobre o determinismo da história, tanto entre os
idealistas quanto entre os materialistas, embora a previsão Em termos detalhados, os métodos clássicos de
do futuro e a metodologia empregada por essas correntes previsão (suposições ou antevisão de possível
filosóficas sejam diferentes para uma mesma base: o desenvolvimento futuro) e prognóstico (provável
determinismo e a unicidade do futuro. desenvolvimento futuro) possuem, em maior ou menor
Se há um desígnio de Deus ou se as leis gerais da
história indicam um caminho inexorável da futura 1 O determinismo é uma doutrina filosófico-científica segundo a
trajetória da humanidade, o resultado epistemológico é o qual tudo é determinado, isto é, submetido a condições
mesmo: o futuro já estaria definido ou delineado, pelo necessárias e suficientes que são, elas próprias, determinadas.
menos no longo prazo. Faltariam apenas condições Nesse sentido, trata-se de uma generalização do princípio da
adequadas e necessárias para o homem (p. ex., habilidades, causalidade a que nada escapa; mas, é possível modificá-las,
competências, desenvolvimento “espiritual”…) interpretar dominá-las, (re)orientá-las (...). É o princípio de causas-e-efeitos,
essas leis. Esta é a premissa, epistemológica e/ou excluindo, segundo Kant, contingências e fatalidades. Não
ideológica, que fundamenta este tipo de abordagem confundi-lo com o predeterminismo: a existência única e contínua
predominante durante muitos anos nos processos de de causas, de tal forma que o futuro estaria inteiramente inscrito
no presente, da mesma forma como o presente resultou do
investigação e análise do futuro.
passado.
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Introdução à construção de cenários prospectivos

grau, características, tais como as que se relacionam a e) A previsão categórica porque o valor futuro de
seguir. determinada variável é único e considerado como
certo, determinístico, admitindo-se, no máximo, uma
a) Uma visão segmentada e isolada ou autônoma da faixa de variação, dentro de determinado intervalo.
realidade, sem considerar (ou sem dar a devida
consideração) de fatores exógenos do objeto, fato ou Com essa admissão se aceita que a qualidade (ou a
fenômeno, motivo de previsão. estrutura, ou o comportamento na gestão de pessoas,
p.ex.) de uma variável não se altera e se torna pouco
Segundo a visão segmentada, o objeto da previsão é dependente de mudanças nos condicionantes
tratado de modo relativamente independente do exógenos como são as mudanças tecnológicas
quadro socioeconômico, político-institucional, (inovações) e os novos hábitos de consumo, as
globalizado ou tecnológico-cientígico, entre outras tendências e pressões de organização.
importantes referências do cliente (empresa, setor,
“cultura” etc.) e de seu ambiente que experimentam Onde ficam as influências de profundas
mudanças e que evoluem. Portanto, na visão, não se transformações que levam a pensar se estar vivendo
faz uma análise integrada (sistêmica) e consistente de mudanças de épocas numa sociedade da informação?
seus principais componentes para melhor caracterizar
a natureza e, dessa forma “bem” fundamentar o f) A omissão dos atores intervenientes no objeto de
desenvolvimento com ações e estratégias estudo quando seus interesses e a influência dos
“prognosticáveis”, quanto possível. vários segmentos econômicos, socioculturais e
políticos no objeto não são considerados ou só o são
b) A adoção de um conceito restrito de objetividade e implicitamente e de forma assistemática, na
de precisão limitada nas previsões tradicionais; isto, construção das previsões.
porque tal metodologia (conceitos, técnicas e
métodos) só considera as variáveis ou fenômenos g) O uso exclusivo ou predominante de métodos e
passíveis de quantificação “intervalar”, enquanto que modelos estatístico e econométricos determinísticos,
fatos e fenômenos relevantes de dimensões como a como expressões matemáticas de relações
sociocultural, político-institucional e tecnológico- essencialmente pressupostas como fixas, onde o
científica, com quantificações “nominais” e comportamento das variáveis características do objeto
“ordinais” intuitivamente analisáveis, não são de estudo é determinado a partir da relação com séries
considerandos. Dessa forma limitada, a adoção históricas com variáveis econômicas, demográficas e
restrita de objetividade reduz a precisão nas previsões tecnológicas, entre outras. Tais variáveis sofrem os
tradicionais. efeitos de outras.

c) As relações entre as variáveis são concebidas como Os processos extrapolativos e determinísticos estiveram
estruturas estáticas, portanto, sem considerações de associados (em alguns casos limitados, continuam) ao
mudanças ou de ajustes no horizonte de longo prazo planejamento tradicional.
da projeção.
O Quadro 1 apresenta uma síntese desse tipo de
Com a turbulência de entornos e com a dinâmica de planejamento, bem como as principais características do
processos, resultados e atores na era do planejamento estratégico apropriado para a construção de
conhecimento, da globalização, da negociação (...) as cenários, em que atores e ambientes se encontram em
conseqüências do falso pressuposto de estruturas constantes mudanças e ajustes. O objetivo do planejamento
estáticas são graves. é influir em comportamentos para se alcançar resultados
desejados, quando se descrevem os objetivos e meios.
d) A explicação ou (determinação; ver nota de rodapé
1) do futuro pelo passado, quando o comportamento
de determinadas variáveis (fatos ou fenômenos) for
obtido pela extrapolação de uma série histórica Quadro 1. Principais características e diferenças entre as
representativa do comportamento, no passado, desses abordagens planejamento tradicional (PT) e o planejamento
fatos ou fenômenos o que corresponde à premissa de estratégico (PE), este último utilizado na construção de cenários
que, no horizonte adotado, as relações identificadas prospectivos para o desenvolvimento com determinados atributos
no passado serão mantidas no futuro: não há campo
ou espaça para a melhoria.
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Introdução à construção de cenários prospectivos

O prazo do PE é longo, com retornos

ESTRATÉGICO (PE)
TRADICIONAL (PT)
PLANEJAMENTO

PLANEJAMENTO
aos curtos e médios prazos
seqüenciais da ATP, atendendo
Prazo b Curto exigências políticas e
ITEM

-administrativas da organização e
outras determinadas pelo meio
ambiente e pelos clientes.
O enfoque do PE é de estruturas e
processos, sem excluir variáveis, tais
O PE aborda “todos” os aspectos do como, como no caso do agronegócio,
problema e prevê, até onde é possível Enfoque Variáveis as agroflorestais, agroindustriais e
Universalidadea - ass das cadeias (estruturas)
e seja conveniente ou oportuno fazê-
lo, as conseqüências da abordagem. produtivas primárias e secundárias,
incluindo mercados e consumidores.
No PE “todas” as partes devem,
formar um conjunto integrado e A abordagem do PE é
harmonizado, um todo, não transdisciplinar, com claros e
necessariamente como a soma dessas definidos elos entre as disciplinas. Às
Unidade - vezes a disciplina é vista como
partes, dado o efeito sinérgico e Determinís-
complementar das mesmas quando se tico ferramenta a ser integrada, com
traz a teoria de sistema para este tipo esforços complementares de
Abordagem
de planejamento. Disciplinar aperfeiçoamento, de evolução
gerencial e de inovação tecnológica c,
(merológico) buscando o conteúdo sistêmico da
O PE é orientado pelos objetivos a
que ele deu origem ou para o qual se nova abordagem: analise intencional
destina, dentro da realidade; essa (p. ex., do “jogo” de atores e de
realidade compreende aspectos, tais modelos qualitativos).
como: técnico-científicos,
Objetividade Difuso operacionais/ administrativos, O PE destaca a função
financeiros, econômicos, interdisciplinar. Nesse destaque há se
socioculturais, meio ambiente colocar elos explícitos que permitem
ecológicos e políticos-institucionais, a integração de resultados
Premissa - disciplinares. Caracteriza-se pela
entre outras que o DS contemple.
turbulência e descontinuidade, com
O PE é complexo, com análise facilitada pela construção de
desdobramentos e ênfase em fatores árvores de problemas e árvores de
críticos e condicionantes, explorando objetivos, entre outras técnicas.
a complexidade sem complicação
A natureza do PE é indicativa, dada,
nem simplismo.
em parte, pelos cenários prospectivos.
Responde, em parte, à pergunta Estabilidade A análise qualitativa e quantitativa
como. Natureza Determinís- de fatores do ambiente externo
Objetivo Simplificado tica contribui para aperfeiçoar estratégias,
O PE é conjuntural e estrutural,
tendo como estratégia a tração, isto avaliar riscos e antecipar momentos
é, como deverá ser a organização chaves para as mudanças i
para..., e os impulsos, isto é, as
respostas aos desafios, às ameaças,
aos riscos e às oportunidades
tratadas nos cenários, com vistas
a(...) Continuação
O PE destaca os cenários
alternativos, com descrições
qualitativas e contextuais de como o
presente evoluirá (espera-se que
Continuação evolua), mostrando futuros possíveis
O PE é conduzido de forma a Cenário com ocorrências plausíveis, d que
Previsão
assegurar a necessária flexibilidade único possibilitam repensar o que está em
para atender às contingências e andamento, redefinir e adequar
garantir a sua continuidade dentro de diretrizes para o futuro e incorporar
Flexibilidade Pouca novas estratégias de gestão no
esquemas modernos, tais como, no
início de 2000, a formação de redes, presente e com efeito para o futuro
a parceria e a descentralização assim construído.
criteriosa. As relações do PE são, com
Estáticas com
freqüência, dinâmicas com estruturas
Relações j estruturas
evolutivas características de
constantes
processos.
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Introdução à construção de cenários prospectivos

O PE como auxílio de decisão. Visão estratégica associada ao


Criação de estímulos para mudança. destino da empresa, orientada por
Processo estruturado, porém, menos respostas a questões como:
formais e burocráticos.  Onde se encontra, qual é o espaço
Manutenção de vantagens que ocupa e o que é a empresa hoje ?
competitivas com viabilidade  Onde se deseja chegar, qual deverá
econômica e sustentabilidade em ser o seu papel (seu espaço, sua
várias dimensões. identidade ou perfil adequado ao
Pouca Premissas
Quanto menor sejam as etapas meio) e o que é preciso fazer para
diferença para o êxito
planejadas, melhor será o plano. - atingir os propósitos possíveis e
Outras e h
. entre de um plano
Não estabelecer objetivos que não desejáveis, na oportunidade e
planejament estratégico
possam ser monitorados mediante intensidade/abrangência?
o e decisão
indicadores de acompanhamento e  O que se deseja vir a ser e por que
avaliação. em função da missão?
Ajudar o eficiente a ser eficaz. (e o  Competência ou excelência técnica
eficaz a ser eficiente). em que? Para que setores, áreas e
Não é fazer previsões, mas pensar clientes? Como fortalecer a empresa
acerca do futuro com base na para definir a visão de futuro e para a
compreensão de agentes e fatores do prospecção tecnológica?
passado à luz de tendências.
Propicia a tomada de decisões
Parcial. estratégicas; é favorável a visão de
A visão do PE é global: Previsão
Visão j Previsão longo prazo; valoriza as decisões de
prospectiva
clássica conservação e manejo integrado dos
O passado recursos; fundamenta bases de um
Explicação j explica o O futuro é a razão de ser do presente Benefícios do
sistema de administração e controle
futuro planejamento
estratégico, além de facilitar a
(apenas se
Único e comunicação e coordenação vertical
Futuro j Múltiplo e com incertezas destacam
seguro e horizontal; propicia a integração da
alguns do PE)
empresa; ajuda a enfrentar
Atitude j
Passiva Ativa e criativa mudanças; mostra a importância de
Formal. Concentrado no plano e no processo. acompanhar a evolução da
Atitude j Concentrado Planejar com eventos e não com tecnologia para ajustar a empresa e
no plano. processos. evoluir para a competitividade.
Alta Fontes: Manual de pesquisa…vo. 1 (Vários autores citados na obra
administração Envolvimento de todos. consultada: a ESG (1983); b Adaptado de Johnson (1985 ); c Drucker
Atitude j Limitada Permanente e continuamente
participação e aprimorado. (1992; d Schnnars (1987); e Sink& Tuttle (1993); f Gaj (1987); g
envolvimento Drucker citado por Gracioso (1990); h Cobra(1991). i Embrapa (1990, p.
12). j Godet (1977), citado por Beinstein (1994, p. 194).

A teoria do planejamento, com traços sintetizados no


Continuação PE, tem-se beneficiado com a evolução e progresso de
Maior informação e participação da teorias de organizações (qualidade, gestão etc.) e com os
comunidade. recentes avanços de teoria de sistemas, do conhecimento,
Informações mais acuradas e
difundidas (socializadas).
da cibernética e da informática, entre outras importantes
Conceitualização clara, definida e áreas do saber. Com elas, alterou-se o conceito de PT, na
compreensível para todos, de década de 70, definindo-o como “antecipação de decisões
Requerimentoe. - objetivos e metas atingíveis, e de do que deve ser feito” (NEWMAN, 1951) 2, para uma nova
meios para atingi-los.
Todos devem ter e aceitar a versão “enriquecimento sistemático da base de informações
responsabilidade do aprimoramento para a tomada de decisões, apontando conseqüências
institucional. futuras de ações no presente e implicações imediatas de
Ter definidas as referências de objetivos futuros alternativos”, destacando-se a função do
avaliação (veja gestão da qualidade).
planejamento como auxiliar, ainda separada da tomada de
decisão, além de outros atributos como do enfoque de
curto prazo para prazos alongados, com foco em estruturas
sistêmicas (Quadro 1), passando a se constituir ferramenta
prospectiva.

2 NEWMAN, W. H. Administrative action: the techniques of


organization and management. New York: Prentice-Hall, 1951.
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Introdução à construção de cenários prospectivos

A síntese que apresenta o Quadro 1 deve ser vista b) a ausência de uma visão global e integrada da
como um ponto de reflexão para pensar, de maneira realidade; essa visão é cada vez forte e necessária com
criativa e endógena, em uma forma de planejamento que a abertura de economia ao comercio mundial, com a
seja adequada às condições de cada caso. Essa fase criativa, globalização e com a modernização de sistemas como
reflexiva, crítica (...) é básica na construção de cenários. os de informações e comunicações que tornam fatos e
fenômenos distantes conhecidos por todos (em tempo
Em termos gerais, as previsões obtidas segundo a real);
abordagem extrapolativa e determinística, com o
planejamento tradicional, até o início dos anos 70, no c) a inadequação para tratar com a incerteza e a
século passado, revelaram-se com certa precisão e limitação de traduzi-la em riscos, dada a qualidade
confiabilidade, com uma razoável margem de acerto. crítica e segmentada de dados e informações;

Esse relativo acerto de previsões se devia à condições d) a explicação do futuro apenas pelos fatos e
peculiares daquele período como, p. ex., a relativa fenômenos registrados (às vezes, sem fidelidade) do
estabilidade de condicionantes políticos, econômicos e passado e pelo comportamento e evolução desses fatos
tecnológicos. e fenômenos em geral determinados por outros fatores
em outras condições; por outro lado, os dados e
Entretanto, a partir daquela década, quando as relações informações referentes a fatores econômicos, sociais,
socioeconômicas e políticas passaram por importantes culturais, ecológicos e políticos-institucionais não
descontinuidades e transformações, os erros de projeção possuem, em muitos casos, a mesma precisão de
foram se acentuando e as abordagens extrapolativas e dados e informações controláveis de ciências exatas
determinísticas se tornaram ineficientes. como a física e matemática.

No mundo, os "choques do petróleo" (1973 e 1979) e de As leis sócio-econômicas e mesmo tecnológicas só são
aceleração de mudanças tecnológicas, econômicas, válidas para um certo limite espaço temporal, não podendo
socioculturais e políticas, entre elas o “enfraquecimento” ter validade universal. Essa característica dá a
do "comunismo", alteraram, de forma significativa e endogeneidade e, por vezes, unicidade, ao processo de
definitiva, o comportamento da dinâmica de desenvolvimento. Além disso sempre permanece uma
desenvolvimento o que tornam as previsões determinística incerteza quanto a representatividade dos dados coletados.
sem utilidade e valor aplicativo. Conseqüentemente não se pode esperar prognósticos
sempre confiáveis, sobretudo em condições de aceleração
No Brasil, os erros de previsão se evidenciaram, com das mudanças econômicas, sociais e tecnológicas.
maior peso, um pouco mais tarde (primeira metade da
década de 80) com o advento da recessão no período 81/83 Por outro lado, os modelos econométricos ainda não
e com as mudanças expressivas nas dinâmicas de permitem perceber ou incorporar, com plena fidelidade, os
desenvolvimento político e econômico, tais como a efeitos de mudanças políticas, econômicas, sociais ou
abertura e redemocratização do País, a moratória tecnológicas e não devem ser usados (isoladamente) em
econômica, o Plano Cruzado, a Constituinte, a ascensão e previsões de médio e longo prazos; estas previsões não
queda do Presidente Collor e o Plano Real, entre outros podem ser tratadas mediante transposições de métodos de
importantes fatos. curto e médio prazos, como se a dinâmica econômica,
social ou político-institucional fosse fundamentalmente a
Os crescentes erros e imprecisões da abordagem mesma ao longo do tempo.
tradicional da previsão, levam a conclusão de que, salvo
em circunstâncias e situações específicas, esta abordagem Outra deficiência da abordagem clássica é a sua
está superada e seu uso é inadequado ou insuficiente para incapacidade de lidar com a incerteza, na medida em que
prognosticar a evolução futura de muitos objetos, fatos ou configura o comportamento do objeto de projeção
fenômenos, por várias razões, entre outras as indicadas a exclusivamente num único e incondicional prognóstico,
seguir: admitindo-se, no máximo uma faixa de segurança, uma
faixa de variação para uma medida de posição. Não possui,
a) a inexatidão dos dados e a instabilidade ou portanto, a flexibilidade para antecipar ou evidenciar
insuficiência dos modelos adotados; é necessário, mudanças qualitativas no futuro, fato cada vez mais
conforme consta no Quadro 1, combinar diversos freqüente no novo milênio.
tipos de dados e informações, tratá-los dentro de
abordagens dinâmicas e sistêmicas e analisar o Finalmente, a principal deficiência da abordagem
conjunto no contexto sistêmico; determinística é “ver” o futuro com os “olhos” no passado,
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Introdução à construção de cenários prospectivos

com as experiências e meios do passado. Isto corresponde a Nas sociedades modernas, a reflexão prospectiva se
ignorar todas as mudanças latentes ou já em andamento - impõe em razão dos efeitos conjugados de vários fatores,
cuja acentuação é uma das características básicas do destacados, a seguir, dois deles:
mundo contemporâneo - e admitir a reprodução das
condições vigentes até o horizonte da projeção. Neste a) em primeiro lugar, a intensidade e o ritmo acelerado
sentido, Wack (1985) 3 pondera que as previsões das mudanças técnico-científicas (em especial em
determinísticas nem sempre estão erradas e que muitas campos como os da biotecnologia, informática e
vezes elas são razoavelmente acuradas. Mas, é exatamente comunicação), econômicas, socioculturais,
isso que as fazem perigosas, pois elas são construídas na ambientais- ecológicas e político- institucionais, entre
suposição de que o mundo do futuro será como o do outras, as quais exigem um planejamento estratégico
presente. na visão de longo prazo, pois quanto mais rápido e
“seguro” se busque percorrer o caminho, maior
Às vezes tais previsões dão certo porque a realidade distancia “os faróis” devem alcançar;
nem sempre muda ou as mudanças não alteram, de
maneira significativa, a previsão. Mas, cedo ou tarde, as b) em segundo lugar, os fatores de inércia ligados às
previsões determinísticas ou estrapolativas vão falhar, e estruturas e aos comportamentos mandam e entender
falham exatamente no momento quando são mais essas mudanças para “semear [e fazê-lo da melhor
necessárias, porque não conseguem antecipar mudanças forma…] no presente para colher no futuro".
essenciais (rupturas) nos ambientes de negócios que, de um
momento para outro, tornam obsoletas as ações, estratégias Contudo, se a realidade muda e, segundo Prigogine e
ou as posturas vigentes e os resultados do passado. Stengers (1984), essa mudança é caótica, a direção da
mudança não parece estar assegurada; dessa forma, as
mutações são portadoras de múltiplas incertezas que toda
organização deve integrar em sua estratégia: incertezas, p.
1.2 A Abordagem Prospectiva e ex., de natureza econômica sobre a taxa de crescimento e
Probabilística os processos produtivos; incertezas socioculturais como nos
hábitos de consumo, incertezas de natureza tecnológica em
O Quadro 1, na terceira coluna, destaca características processos e resultados para o futuro.
do planejamento estratégico (PE) diretamente
relacionadas com os propósitos dos cenários prospectivos; Deve-se adiantar que a prospectiva de cenários não
estes cenários são básicos para formular planos de pretende eliminar essas incertezas através de uma
desenvolvimento sustentável. predição ilusória. Ela visa apenas, organizá-la e reduzi-la
tanto quanto possível. De fato, conforme assinala Matus 5 o
Os propósitos do PE apontam para propiciar a tomada planejamento sempre se faz em condições de incerteza. O
de decisões estratégicas, para fundamentar um sistema de que muda é o grau e a natureza da incerteza. Ela surge
comunicação, para a coordenação vertical e horizontal de porque o ator que planifica e seus “oponentes” exercem
longo prazo e para ajudar a organização a enfrentar as efeitos interativos que redefinem o universo de eventos
mudanças; tal ajuda se orienta para fortalecer a capacidade possíveis e desejados.
da organização se preparar para enfrentar os desafios e
para aproveitar as oportunidades nas mudanças e ajustes. Esses efeitos podem passar por “estados” imprevisíveis
que perturbam o sistema social. Portanto, é razoável pensar
O planejamento baseado em prospectivas (cenários) é que esse sistema só admite uma causalidade sistêmica que
um modo eficiente para tratar possíveis futuros ao é complexa, plural e variada, onde raramente (ou em casos
considerar, p. ex., como diversos elementos poderiam especiais) é possível estabelecer relações biunívocas e
interagir (simulações) sob determinadas condições “bem-comportadas” de causa-efeito com algum grau de
(SCHOEMAKER, 1995). segurança.

A prospectiva, segundo Godet (1983; adequado) 4, é


uma reflexão sistemática que visa orientar a ação presente
à luz de futuros possíveis.

3  WACK, P. Scenarios: Uncharted Waters Ahead, in Harvard


Business Review, Set/Out, 1985. 5 MATUS, C. Adeus, Senhor Presidente. Recife: Litteris,
4 GODET, M. Méthode des Scénarios. Futuribles, Nov. 1983. 1989.
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Introdução à construção de cenários prospectivos

Por outro lado, a incerteza pode ser introduzida na O esforço intelectual dispendido desde a Segunda
situação planificada por meio das perturbações que o Guerra Mundial para gerar técnicas de previsão do futuro
contexto externo exerce sobre o objeto de planejamento e tem refletido essas necessidades e propósitos prementes e
“cenarização”. Por conseguinte, o planejador não pode crescentes de organizar as incertezas para melhor planejar
ignorar a incerteza, mas, tem que conviver e aprender a a ação-e-estratégia no presente com efeito no futuro. Neste
lidar com ela. esforço, têm sido geradas diversas técnicas e métodos,
desde complexos modelos matemáticos até métodos
É preciso entender que a prospecção e os cenários não rigorosos de organização, de estruturação e de
pretendem traçar futuros possíveis, imagináveis ou hierarquização de variáveis dinâmicas em interação nas
desejáveis para determinados atores e condições, mas, mudanças de diferentes. Destes, o método de cenários,
apenas, incitar uma reflexão para delimitar espaços (na com vários modelos e processos, é o mais completo e rico
concorrência, nos mercados globalizados…) e para definir para a antecipação de futuros; trabalhando sempre com
possibilidades de evolução de acontecimentos que, no mais de uma alternativa, os cenários “reduzem” a
contexto do DS e especificamente de P&D, estarão inevitável incerteza frente ao futuro sem cair no
diretamente relacionados com esse desenvolvimento e tipo determinismo.
de pesquisa. Assim operando, é necessário admitir e
enfrentar as incertezas quanto ao futuro e se programar e A antecipação de futuros pela “cenarização” criteriosa
organizar o melhor possível para enfrentá-las. Em alguns não é portanto, uma atividade puramente teórica ou um
casos, essa preparação possibilita traduzir as incertezas em exercício especulativo ou de magia e quiromancia.
riscos “aceitáveis” e programáveis. Desta forma, a
atividade de planejamento estratégico, como um processo Ela deve ser vista de outra forma e serve, antes de tudo,
de decisão com efeitos no futuro, deve incorporar recursos para preparar a ação – estratégia direcionada na criação do
técnicos e instrumentos adequados para “antever” esse futuro. Para os atores sociais interessados na
futuro e reduzir as incertezas, não as ignorar. “cenarização”, não se trata de antecipar futuros, mas, de
fazê-los ou “construí-los” mediante o exercício de práticas
Para não se limitar à intuição e à ilusão de sociais de indivíduos, grupos e organizações dispostos
continuidade e estabilidade de processos e resultados, ou (com vontade e espírito solidário), instruídos
para não se enganar na fantasia da utopia, em relação ao (competências) e educados (habilidades e comportamentos)
futuro como prolongamento do passado feito no presente, é para esse fim; este documento é uma introdução à
necessário cuidar de mapear tecnicamente e organizar os construção de cenários prospectivos para aplicar no
futuros prováveis (com riscos), possíveis (com incertezas) e desenvolvimento sustentável.
sempre plausíveis, isto é, aqueles com mais coerências e
possibilidades de ocorrerem. Ao contrário da concepção determinística do futuro, a
análise prospectiva e a postura intelectual dos que
A ótica de análise (diagnósticos, previsões…) também é trabalham com essa análise, deve partir do princípio que
muito diversa dependendo do ator social (se indivíduo ou o futuro é incerto e indeterminado e que a humanidade
grupo de indivíduos, empresa ou governo) que observa o tem, a cada instante, diante de si, múltiplas alternativas,
futuro (como é observado, que instrumentos possui para uma delas se coloca como desejável e possível: desejável
fazê-lo, que propósitos busca etc.), podendo ser mais geral pelos atores do desenvolvimento; possível dada as
ou específico, de acordo com o seu universo de interesse. condições, disposições e meios desses atores.

Entre o cidadão, preocupado, p. ex., com a sua renda, O suposto central é que o futuro é construído pela
com a estabilidade ou melhoria no emprego, com a prática social, pela ação-estratégia de homens organizados
segurança e como o nível de vida e bem-estar material e que têm projetos consistentes, propósitos conciliadores,
“espiritual”, e o Estado ou grandes corporações, recursos sustentáveis, vontades para a parceria, sentido de
articuladores de grandes projetos materiais com impactos cooperação e de trabalho em equipe..., homens com
no desenvolvimento, há uma ampla gama de situações e conflitos (definidos pelos interesses em jogo) e, sobretudo,
condições, tanto no âmbito e abrangência de interesses e homens com uma certa visão dos possíveis (prováveis)
objetivos como nas formas distintas de seus recursos futuros e uma grande disposição (solidariedade) para
técnicos, de organização e de construção de futuros. O construir o futuro desejável e possível.
DS é o processo para integrar, articular e sinergizar esses
propósitos e meios de diversos atores, variáveis e cenas que Esta afirmação de abertura intelectual frente ao futuro
se projetam e articulam, por vezes, em horizontes não significa a recusa à formulação de leis gerais da
diferentes. história que estabeleçam padrões de explicação e de
comportamentos prováveis da sociedade, um certo
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Introdução à construção de cenários prospectivos

determinismo na ausência do conhecimento dessa segurança da sua capacidade de previsão de eventos


explicação e comportamento futuros.

As ciências sociais são, em última instância, um corpo Rigorosamente, tanto as ciências sociais quanto as
analítico sistemático de explicações de eventos históricos ciências naturais partem de um modelo simplificado da
com base em conceitos, de leis gerais e enunciados realidade, reduzindo-a a uma rede de relações causais, em
universais e, também, de aspectos singulares e locais cuja que as condições fundamentais podem não permanecer
base empírica reside na história. Este mesmo corpo constante nos processos sociais; isto significa que o modelo
analítico que procura explicar a história pode ser útil para simplificado deve tratar as condições particulares definidas
construir eventuais processos sociais de futuros. no espaço e no tempo para o futuro, aquelas que sejam
projetadas.
De uma maneira geral, se a ciência oferece uma
explicação racional dos eventos naturais ou sociais já Dessa forma, a restrição primeira à previsão em
ocorridos, a partir da sua construção teórica, seria possível, ciências sociais reside na imponderabilidade das condições
em tese, antecipar o futuro utilizando essa mesma base específicas do espaço e no tempo quando projetadas para o
teórica de explicações, sempre que for capaz de futuro. O que se considera estável é o modelo analítico, o
desenvolver as condições específicas em que se aplicarão marco teórico ou o paradigma provado e construído a
as leis e postulados gerais, bem como prever suas partir da sua capacidade científica de explicar eventos do
ocorrências no futuro. Desta forma, sempre que for passado.
possível dispor de uma explicação para determinado
evento, dispor-se-á, também, de uma previsão, posto que se Dessa forma, a previsão ou análise prospectiva deve
tem um modelo das condições em que o evento, já incorporar a aplicação de leis gerais, definidas por um
explicado, deverá ocorrer. modelo, à singularidade espacial e temporal do objeto, fato
ou fenômeno em que se faz a previsão, definida como um
Deve-se observar, no entanto, que no processo social processo.
não há uma regularidade dos eventos e são difíceis de
antecipar as condições nas quais as leis gerais se Se o tempo considerado na “construção” de fatos e
aplicariam. Além disso, as ciências sociais, por vezes, não fenômenos da singularidade é o futuro, então essa
têm uma única explicação para o mesmo evento, uma vez construção deverá (poderá) ser feita com base em hipóteses
que diferentes paradigmas ou corpos teóricos e e observações probabilísticas; nessa construção a pesquisa
metodológicos dividem os cientistas em vertentes distintas e a ciência poderão utilizar técnicas de simulação.
do pensamento.
Deve-se acrescentar que, ao final, o que importa não é
Dessa forma, tanto a explicação dos eventos históricos, saber ou garantir se a previsão é científica, se utiliza esta
quanto a previsão desses eventos no futuro dependerão do ou aquela técnica do método científico, mas, que ela seja
marco teórico utilizado e da capacidade elucidativa do realizada com suporte de uma teoria científica e que resulte
objeto. Embora a epistemologia moderna das ciências de uma formulação racional e fundamentada de hipóteses
exatas não mais considere os eventos naturais como científicas consistentes e relevantes. (ver Manual de
regulares e controláveis, mas também probabilísticos, o pesquisa..., vol. 5).
peculiar das ciências sociais está na singularidade dos
eventos que constituem seus objetos, nem sempre de Se o futuro é indeterminado para um horizonte aberto
ocorrências probabilísticas conhecidas. de possibilidades, a análise prospectiva, aparentemente não
se constitui numa atividade científica rigorosa.
Por outro lado, nas ciências sociais os fundamentos
resultam da ação de homens que são simultaneamente No entanto, deve recorrer à ciência, ao modelo
objetos e atores, portanto, em uma (p. ex., cliente, científico e às teorias de explicações e interpretações do
consumidor...) ou outra (p. ex., concorrente, fornecedor...) processo social para conceber possíveis (em alguns casos,
posição utilizada para construir expectativas sobre o futuro até prováveis) desenvolvimentos futuros.
que pautam comportamentos coletivos em base a essas
expectativas com diferentes resultados. Desse modo, a análise prospectiva pode ser considerada
uma tecnologia e um recurso técnico da ciência ou uma das
A “quase” impossibilidade da experimentação (a não aplicações da ciência que não afeta a sua essência. A
ser no campo da simulação) em ciências sociais é outra conseqüência natural desse conjunto de deficiências tem
dificuldade à sua comprovação teórica e, portanto, à sido o abandono progressivo das abordagens de projeções
11

Introdução à construção de cenários prospectivos

feitas exclusivamente com bases determinísticas e Delfos Alto Longo


extrapolativas. Impactos Cruzados Alto Longo
“Focus Groups” Alto Curto
INTERATIVO
A tendência, no final da década de 90, era a de adotar
um conjunto (ou um "mix") de métodos de previsão e Curto, Médio ou
Cenários Alto
Longo
prognósticos e aplicar aqueles “mais adequados” (??) em Fonte: Adaptado de ANSOFF, H. Igor, in Implantando a
função do nível de turbulência ambiental e do horizonte administração Estratégica, São Paulo: Atlas, 1993, p. 87.
temporal de exploração do futuro, como sugerem os
quadros que seguem (Quadro 2 e Quadro 3 que
complementa o Quadro 1).

A relação de métodos acima é apenas uma amostra que


não esgota o conjunto de técnicas e métodos disponíveis
para a exploração do futuro, para a construção de cenários
que auxiliam essa exploração. Deve-se adiantar que a construção e análise de cenários
tem sido a alternativa mais utilizada, no final da década de
90, tanto em escala mundial como em nível nacional e
regional, para “antecipar” possíveis futuros com horizontes
de médio e longo prazos.

Por esse destaque, a parte que segue tratar das


principais características dos cenários prospectivos.

Quadro 2 Traços dos métodos de previsão


NO MEIO AMBIENTENÍVEL DE TURBULÊNCIA

DE PLANEJAMENTOHORIZONTE TEMPORAL

Quadro 3 Dois estilos de planejamento que podem ser


utilizados na construção de cenários prospectivos
Planejamento Baseado em
Planejamento Baseado
Previsões Determinísticas
em Cenários
e Extrapolativas
1. Concentração nas incertezas.
1. Concentração nas certezas.
Legitima o reconhecimento das
“Mascara” as incertezas
MÉTODO incertezas
2. Apoia-se em projeções únicas e 2. Apoia-se em imagens lógicas
“lineares” do futuro
3. O quantitativo orienta ou 3. O qualitativo orienta ou
determina o qualitativo determina o quantitativo
4. Esconde (“mascara”) os riscos 4. Explicita e sublinha os riscos
5. Favorece a flexibilidade e o
5. Favorece a inércia
espírito de responsabilidade
6. Parte da simplicidade para a 6. Parte da complexidade para a
complexidade simplicidade
FONTE: Global Business Network (GBN).
MONITORIA AMBIENTAL
Análise de Conjuntura Alto Curto - médio
Indicadores Antecedentes Alto Curto
Análise Bayesiana Alto Curto
Curto/
Análise de Risco Político Alto
Médio
EXTRAPOLAÇÃO
Regressão Simples/Múltipla Baixo Curto
Indicadores Antecedentes Alto Curto
Análise Bayesiana Alto Médio
JULGAMENTO
12

Introdução à construção de cenários prospectivos

2 A Construção de Cenários como demonstrar como uma determinada meta (propósito


quantificado, resultado, efeito etc.) pode ser atingida.
Instrumento de Exploração do
Futuro
A metodologia usada por Kahn e Weiner (op. cit.) na
A superação ou a minimização de deficiências da formulação de cenários foi a de reunir especialistas em
abordagem determinística – extrapolativa de previsão exige várias áreas e construir, com eles, os cenários (surprise
metodologias alternativas que, entre outras características: free) e, depois, considerar variações resultantes da
introdução de mudanças nos pressupostos desses cenários
a) possuam flexibilidade suficiente para lidar com a "livres de surpresas".
incerteza, característica inerente ao futuro da No contexto de cenários surprise free é possível
realidade e do mundo contemporâneo; lidar com a apresentar seqüências hipotéticas de situações complexas,
incerteza pressupõe, entre outras, traduzi-la em risco; construídas com o propósito de concentrar a atenção nos
processos causais (causa-efeito) e em pontos importantes
b) tenham capacidade para construir visões globais que de uma tomada de decisão.
integrem a influência de fatores, tais como os
políticos-institucionais, econômicos, sociais-e- Os cenários podem ser vistos como imagens ou como
culturais, tecnológicos-e-científicos e meio ambiente- desenhos de futuros configurados a partir da combinação
ecológicos, entre outros, nas variáveis inerentes ao coerente e consistente de hipóteses plausíveis (no presente)
fato, fenômeno, processo ou produto objeto de sobre os possíveis (e até prováveis) comportamentos e
previsão. ações - estratégias de agentes e variáveis determinantes de
um sistema ou de uma realidade, verificando-se que quanto
A construção de cenários é a alternativa mais maior o nível de incertezas do ambiente maior será a
adequada para atender a tais requisitos, pelo menos no necessidade de buscar e fortalecer os vínculos da
estado de conhecimento disponível no início do novo negociação (agenda), isto é, os instrumentos para a
milênio, sobre estudos prospectivos. construção do cenário que possibilitem a compreensão dos
fatores de incerteza no futuro. É com base nessa
Antes de apresentar características e fases do compreensão (descrição e análise) que se preparam as
processo de construção de cenários como instrumento de ações e estratégias no presente para influenciar (construir)
exploração do futuro, são sintetizados alguns conceitos o futuro; influenciar o futuro? Observe-se que não se pode
básicos. influenciar ou construir esse futuro enquanto não se tenha
a prospecção e a relativa “boa” compreensão de seus
elementos (variáveis, cenas, trajetórias…) e atores
esperados.
2.1 O Conceito de Cenário
Mas, que compreensão se pode ter de um futuro que se
constrói no ambiente natural do caos, com base em fatos e
O conceito cenário, no sentido comum, pode ser
fenômenos incertos, instáveis, não isolados (estruturados
entendido como o espaço que apresenta um conjunto de
num sistema) e que experimentam constantes mudanças
elementos visuais (p. ex., moveis, objetos, efeitos especiais
muitas delas imprevisíveis? Na visão do pessimista,
etc.) e as condições em que decorre determinada ação ou
daquela que tem a predisposição de ver e julgar as coisas
cena.
pelo lado mais desfavorável, nenhuma compreensão.
No contexto do desenvolvimento sustentável, trata-se Para o pesquisador ousado e otimista, alguma
de um conceito importante no planejamento para delimitar compreensão necessária para orientar processos de decisão
e caracterizar espaços, atores e possibilidades de evolução e definir rumos da pesquisa. Pelo lado do otimista, do líder
de acontecimentos relacionados com o progresso. entusiasta com capacidade e habilidade para comandar o
desenvolvimento sustentável, toda a compreensão
A palavra cenário ou futurible foi inicialmente aplicada necessária Isto, admitindo-se que o cenário seja uma
ao planejamento estratégico militar, sendo definido como: descrição e análise de um futuro imaginável, desejável e
possível, não uma construção para pretender prevê-lo; mas,
uma reflexão para delimitar espaços (na concorrência, nos
“a seqüência de eventos hipotéticos de situações mercados, na sociedade etc.) e para definir possibilidades
complexas, construídas com a finalidade de focalizar de evolução de acontecimentos que, no contexto de
as atenções em processos causais e pontos de pesquisa, estão ou estarão diretamente relacionados com o
decisão” (KAHN; WEINER, 1969), a fim de
13

Introdução à construção de cenários prospectivos

desenvolvimento, seus resultados e os atores nela País, ou caminhos possíveis em direção ao futuro
envolvidos. (RATTER, 1979), sem pretender, repetindo, eliminar a
incerteza (apenas gerenciá-la; acrescenta-se, a negação da
Portanto, a construção de futuro que interessa ao
incerteza é a causa da surpresa), mas, prever, sob certas
desenvolvimento é aquela relacionada com o possível circunstâncias ou hipóteses, o que pode acontecer, sobre as
entorno relevante (de clientes, de fornecedores, do meio
possibilidades de futuro, avaliando as premissas do passado
ambiente, de mercados etc., em termos de variáveis), com e presente (KAHN; WEINER, 1969).
as atividades desses clientes (cenas e trajetórias) e com os
resultados para esses alvos e seus correspondentes Apresentar, na construção de cenários, seqüências
entornos. hipotéticas de situações complexas com o propósito de (ver
item 2.2 Propósitos da construção de cenários):
Nesse contexto, o estudo de cenário se refere a uma
descrição e análise de um futuro possível, imaginável e a) concentrar a atenção nos processos causais (causa-
desejável, por determinados agentes (p. ex., planejadores e efeito) e em pontos importantes (fatores críticos) ou
gerenciadores que possam interpretar expectativas e relevantes (simplificados) da tomada de decisão
possibilidades de agentes do desenvolvimento) inseridos
b) preparar a organização para enfrentar as crescentes
num todo, em um sistema, bem como um caminho ou uma
incertezas do futuro;
trajetória que conecta a situação de origem, neste caso o
presente, onde se tomam as decisões, com o futuro em c) apoiar a tomada de decisões na formulação de
construção. planos, ações – estratégias e objetivos institucionais;
Como quase toda reflexão sobre o futuro, os estudos d) identificar oportunidades, a serem aproveitadas, e
prospectivos de cenários estimulam formas criativas de riscos de mudanças no ambiente externo, preparando-
analisar no longo prazo, de (re)pensar e o próprio se para enfrentá-los;
pensamento estratégico e o modo em que se possam
adaptar eventos e processos no futuro, conforme se São, entre outros, propósitos da construção de cenários.
projetam e esperam sejam os ambientes que predominarão. Deve-se observar que os cenários surprise free não são
Consideram-se, nesse exercício, os eventos e processos coerentes com os propósitos anteriores; estes cenários não
incertos e prováveis, ocupando-se de eventuais surpresas e emergem de contextos e visões complexas, dinâmicas e
da imprevisibilidade que impõe a necessidade de lidar com com surpresas, com situações integradas e instáveis, mas,
cenários alternativos. Por isso, a construção de cenários, de “realidades” que são simplificadas, destacando-se
constitui-se uma ferramenta importante que facilita a apenas o que é mais relevante, sem, contudo, perder a
tomada de decisão em situações de incertezas na medida visão global.
em que lida com antecipações, com certa racionalidade. Ainda que simplificada, a visão da realidade (fato ou
A análise de futuros possíveis ajuda a reconhecer e se fenômeno) e do mundo deve se sistêmica, menos atrelada
adaptar às mudanças que se esperam ocorrerão no meio ao formalismo e mais definida por processos de inter-
que afeta (afetará) o desenvolvimento, possibilitando, dessa relações e interações de variáveis e de atores inter-
forma, definir caminhos alternativos de evoluções e relacionados (apenas, os principais), de percepções e
permitir escolher as manobras apropriadas para cada um valores complexos simplificados, de símbolos e
dos atores em suas correspondentes opções (SCHWARTZ, significados complexos simplificados e de idéias e
2000; adequado ao texto). conceitos característicos dos cenários modernos numa
visão operacional simples.
Nessa construção de futuro, consideram-se os eventos e
processos incertos e prováveis, ocupando-se de eventuais Na visão prospectiva, o cenário pode ser entendido
surpresas e imprevisibilidades. como “o conjunto formado pela descrição coerente de uma
situação [esperada e possível] no futuro e pelo
Os métodos aplicados na construção de cenários encaminhamento dos acontecimentos que permitem passar
recorrem às técnicas associativas com uma visão criativa, da situação de origem [o presente] à situação futura”
como formas de pensar no futuro, e de como projetar e realizável e desejável (GODET, 1987); atender estas
prever a avaliação de impactos potenciais. últimas característicos impõe simplificação.
Pelo cenário construído não se indica o que o futuro Em termos gerais, o conceito compreende os cenários
será, porque os cenários não são e não devem ser possíveis ou imagináveis; os cenários realizáveis como
entendidos como prognósticos ou previsões sendo todos os possíveis de ocorrer e que levam em conta
determinísticas, mas, apenas formas de ampliar a os condicionantes do futuro; e os cenários desejáveis,
compreensão de eventos potenciais de longo prazo dentro dos cenários possíveis, porém nem sempre sendo
(NORSE, 1979, adequado) em nível de região, Estado e cenários realizáveis, conforme se ilustra na Figura 3
14

Introdução à construção de cenários prospectivos

obtida do Manual de pesquisa..., vol 2.

A parte superior da Figura 3 indica forças propulsoras e


forças restritivas integradas e que confluem (forças e
fatores) na entrada de processos; essas entradas poderão
ser: globais (SS: globalização, empresas multinacionais
etc), nacionais (Ss) e regionais (ss); que definem evoluções,
estados e tendências em cada um desses níveis e que
determinam passos na construção de cenários.

Os passos básicos na construção de cenários, indicados


na Figura 3, são: a delimitação do sistema, a
caracterização de fatores-chave, a definição e ordenamento
de incertezas, a lógica de fatores condicionantes e os
indicadores, com desdobramento na descrição de cenários Neste sentido, avaliam-se os cenários desejáveis
alternativos (os possíveis, desejáveis e exeqüíveis) dentro de um subconjunto de cenários possíveis não apenas
ordenados ou alinhados com base no “peso” relativo de como os que possam se imaginar, mas, aqueles que
seus componentes. preencham condições de operacionalização, que possam
ocorrer e que sejam admissíveis pelos atores; dentro dos
propulsoras

cenários possíveis e desejáveis, define-se um subconjunto,


Forças

Global: SS: FM ainda menor, de cenários exeqüíveis ou realizáveis,


cenários que podem e devem ser considerados no
Nacional: Ss; planejamento e gestão para o desenvolvimento sustentável.

Regional: A segunda ilustração (Figura 4) apresenta


ss: FH desdobramentos de expectativas e possibilidades de clientes
Forças e
restritivas

e interessados no objeto que é cenarizado (p. ex., o cenário


Forças

fatores da pesquisa: os clientes e áreas a serem tratados pela


organização; o cenário do desenvolvimento: as obras que se
planejam e executam dentro de critérios de
sustentabilidade ampla).
a) Delimitação de sistemas (cenários globais até os cenários de
projetos), ambientes (macro até micro) e clientes (corporações As idéias, agrupadas por algum critério, definem,
globalizadas até o cliente local) em vários níveis representados por: na Figura 4, três cenários; a cada cenário corresponde uma
SS, Ss e ss, com caracterizando de problemas (análise estrutural: certa saída ou possível resultado de um conjunto plausível
Político, macroeconômico, tecnológico até o mercado local) e de alternativas logicamente agrupadas; estes, por sua vez,
especificação de propósitos (Globais estratégicos até a decisão de
investimento numa tecnologia). devem ser avaliados para fundamentar a tomada de
b) Caracterização de fatores-chave FH/ss e forças motrizes decisões de um plano, programa ou projeto, segundo seja o
propulsoras e restritivas (FM/MM). caso.
c) Definição e ordenamento de incertezas críticas.
d) Estudo da “lógica” de fatores condicionantes do futuro.
e) Descrição de cenários (desejáveis: CD; possíveis: CP e exeqüíveis:
CE) e ordenamento, pelos “peso” de fatores, conforme a seqüência
lógica: CD  CP; CE  [CD  CP].
Cenário
Cenário11
Cenário
Cenário22 Cenário
Cenário33

Resultado
Resultado11

Cen. Desejáveis Expectativas


Expectativasee Resultado
possibilidades Resultado22
possibilidadesdos
dos
f) Seleção de indicadores e teste de consistência e sensibilidade dos grupos...
grupos...
cenários. Cen. Exeqüíveis
Resultado
Resultado33
g) Análise comparativa de implicações de cada alternativa “cenarizada”,
Cen.e Possíveis
interpretação de variáveis escolha de um cenário com base em
critérios. Estudo
Estudo
h) Elaboração de planos, ações e estratégias com base no cenário
escolhido na fase anterior.
Figura 4 Desdobramento de expectativas e possibilidades de
clientes na construção de cenários

Figura 3 Passos na construção e aninhamento de cenários


15

Introdução à construção de cenários prospectivos

As ferramentas aplicadas na construção de cenários


recorrem às técnicas associativas (análises descritivas,
prospectivas e operativas) com uma visão criativa, como
formas de pensar-imaginar no futuro, e de como projetar e
O planejamento do estudo e a construção de cenários prever a avaliação de impactos potenciais; não indica o que
pressupõem escolher, no presente, dentre várias opções que o futuro será. Nessa construção, segundo Schwartz (2000),
a empresa ou um plano de desenvolvimento tem manipulam-se dois mundo ou realidades:
(MARKIDES, 2000; adequado), as pressupostas
“melhores” ações e estratégias com relativa compreensão a) a dos fatos: exploram-se fatos, indicam-se as
de seus possíveis resultados, dos desdobramentos e percepções daqueles que têm a responsabilidade de
externalidades. tomar decisões e definir rumos;

Nesse planejamento não se estudam apenas b) a das percepções que resultam da transformação dos
tendências do presente ou evoluções do passado, mas, dados e informações em conhecimentos das
constroem-se imagens de futuro, além de se preparar o estratégias em novas percepções.
capital humano para enfrentar contingências e agir com Por essa manipulação, os cenários são instrumentos
conhecimento dos prováveis riscos assumidos ou das úteis para delinear panoramas e, dentro desses panoramas,
possíveis conseqüências das incertezas “explícitas” em indicar quando e quais medidas educativas,
cada cenário. disciplinadoras, corretivas ou de fomento, entre outras,
Trata-se, no conceito moderno de cenário para o podem ou devem ser tomadas para atingir determinadas
planejamento, de uma nova forma de pensar que resulta metas da organização no futuro, da construção do
coerente com a transição, no início do novo milênio, de desenvolvimento sustentável desejável e possível.
uma visão mecanicista e cartesiana para a sistêmica e de Trata-se, na prática, de uma ferramenta moderna de
formulações da teoria da complexidade que alertam como trabalho para orientar a empresa, como uma referencia
evoluem os fenômenos, não pela competição, mas pela co- para o exame de alternativas e para a tomada de decisões,
evolução. rumo aos objetivos estratégicos da mesma.
Em certos casos e conforme seja a ênfase que se Dessa forma, a indicação de rumos da empresa em
quer o cenário poderá oferecer uma descrição mais panoramas complexos e com grande número de incertezas
qualitativa do que quantitativa, bem como identificar um pode ser auxiliada pela “cenarização”, com resultados em
conjunto de fatos e fenômenos possíveis no futuro, com termos de valores ou índices de fatores que definem a
ocorrências plausíveis, mas não necessariamente conveniência, a oportunidade e as possibilidades de êxito
asseguradas (SCHNAARS, 1987). no futuro das atividades delineadas no presente. Nesses
No enfoque de uma nova visão prescritiva, o indicadores se sintetizam descrições qualitativas e
contexto não é mais ou apenas uma realidade objetiva e contextuais, junto com indicadores numéricos, de como o
independente, mas, principalmente, uma realidade objetiva presente poderá evoluir, o caminho dessa trajetória e as
que resulta de “negociações” e acordos (p. ex., os que características possíveis (esperadas) no futuro.
resultam em agendas) entre diversos atores interagindo A construção de cenários é amplamente utilizada
com suas respectivas agendas, interesses – objetivos e por empresas e governos para concentrar a atenção da
realidades – cenários. administração em possíveis futuros (WILSON III, 1998),
A realidade a ser construída com base em percepções, sendo apropriada, segundo Schoemaker (1993), para
em objetivos, em decisões a serem tomadas e em ações e estudar complexas situações em que as incertezas são
estratégias a serem tomadas por diversos agentes, deve freqüentes e não devem ser eliminadas.
possibilitar a confluência 6 de interesses e de objetivos dos A construção de futuros alternativos (cenários) é
atores intervenientes e interessados. Possibilitar, entendido feita a partir da definição de propósitos mediante a análise
como proporcionar e facilitar, é um fator chave na de estruturas, forças propulsoras, funções, inter-relações e
construção de cenários que passa pela negociação e que se mútuas influencias de componentes (dimensões do DS).
define como básica no desenvolvimento sustentável. Essa construção envolve um alto nível de abstração, de
análise e de síntese-integração e uma elevada capacidade
reflexiva com visões espaciais e temporais diluídas,
6 Essa confluência não significa nem pressupõe eliminar os conforme se ilustra na Figura 5, segundo Meadows et alii,
conflitos de interesses, de objetivos e de posicionamentos dos (1972).
atores, mas, apenas destacar os pontos comuns ou vínculos entre
eles, valorizados na negociação fruto da participação e disposição Os cenários, apesar de trabalhar com diferentes
para a construção de cenários. escopos (abrangências espaciais, p. ex.) e horizontes de
16

Introdução à construção de cenários prospectivos

futuros, são utilizados, com relativa freqüência, para a economia ao mercado mundial e da economia informal no
formulação de opções de longo prazo, constituindo-se mercado interno; para as transformações da economia com
importantes instrumentos de planejamento para auxiliar a megafusões, formações de joint ventures e processos de
definição de rumos. Tendo em conta sua destinação para o privatizações; para as novas formas do mercado de
longo prazo, os cenários terão menor precisão. trabalho propiciadas, em parte, pela modernização
tecnológica e organizacional que tem permitido produzir
Nessa visão, procuram visualizar e concentrar seu mais com menos trabalhadores; para a instabilidade e
foco nas dificuldades estruturais. Entretanto, para a
imprevisibilidade do mercado globalizado; para as novas
organização e em termos práticos, parte da garantia do formas de competição e padrões de competitividade, entre
êxito está no atendimento, com efetividade, de problemas
outros não menos importantes tópicos.
conjunturais e de curto prazo. Nesse âmbito, a capacidade
de se pensar e de detalhar é mais bem detalhada ou melhor
definida, conforme ilustra a Figura 5.
2.2 Propósitos da construção de cenários
Sob condições e mudanças do meio ambiente em
acelerados processos e, por vezes, descontinuas trajetórias,
as projeções e experiências do passado não são suficientes
para orientar, com eficiência, a organização nem o
Terra

desenvolvimento.
Faz-se necessário, para tratar as novas situações,
Região Messorregião País

escolher, dentre um leque, direções consistentes para


Espaço

“fazer” o futuro e para orientar os esforços e recursos na


direção escolhida para essa construção. Nessa direção,
orientam-se o planejamento estratégico e os cenários como
descrições consistentes de evoluções dinâmicas de um
sistema (atividade, processo...) fixado por algumas
variáveis exógenas interagentes, características
(descritores) do sistema. A escolha desses descritores e a
Local

formulação de hipóteses consistentes relativas ao cenário a


ser estudado, constituem a principal dificuldade na
formulação de cenários.

A construção de cenários para a pesquisa deve


servir, em especial, a dois propósitos, sintetizados a seguir
(complementa e enfatiza apresentação anterior; pág. 13):

a) o primeiro, antecipar e compreender riscos e


incertezas de processos relacionados com a pesquisa
para gerenciar com previsibilidade, isto é, orientar ou
1 dia 1 mês 1 ano 10 anos 100 anos ....
auxiliar às pessoas que fazem as coisas acontecerem,
Te mpo em contraste com aquelas que apenas observam as
coisas acontecerem ou as que não sabem o que está
Esse atendimento não pode ser descuidado, acontecendo;
Figura 5 Dimensões espacial e temporal na visão de
inclusivefuturo
porque dele depende a imagem e o êxito no
futuro da empresa. O importante, então, é integrar o b) o segundo, descobrir opções estratégicas, ao organizar
atendimento de necessidades nesse horizonte com o uma variedade de informações sociais, culturais,
atendimento prospectado em horizontes maiores, de médio econômicas, tecnológicas, político-institucionais e
e longo prazos, para atender, simultaneamente interesses e ecológicas, entre outras, aparentemente sem relação
possibilidades de diversos horizontes e níveis de entre elas e transformá-las em um plano de julgamento,
abrangência dos envolvidos. não apenas entrecruzando variáveis e produzindo
muitos resultados, mas criando poucas alternativas
Esta parte conceitual finaliza com algumas (opções estratégicas antes não consideradas pela gestão)
indicações para reflexões prévias à construção de cenários e caminhos consistentes para o futuro; uma dessas
para a pesquisa no contexto global do início do novo alternativas pode estar certa e ser escolhida na gestão.
milênio; essas indicações apontam para a abertura da
17

Introdução à construção de cenários prospectivos

Segundo Wilson (2002), os cenários podem ser O propósito da construção de cenário está diretamente
usados não apenas para elaborar descrições e alternativas relacionado, também, como a estratégia 7, isto é, com
plausíveis para o futuro e para auxiliar o processo de aquilo que a empresa possui de singular e faz a diferença
tomada de decisões (isto, porque o foco é mais estratégico, das demais empresas, conferindo-lhe qualidade e
ao lidar com tendências e incertezas de longo prazo, do competitividade que as outras não possuem e que, por
que tático, ao tratar com desdobramentos de curto prazo), causa disso, a habilita pela competência e êxito no que faz.
mas, também, como uma ferramenta de aprendizado para
Segundo esta concepção, cada organização tem ou deve
explorar áreas de riscos e oportunidades.
desenvolver sua própria estratégia formulada com base nos
A análise de variáveis qualitativas e quantitativas, com cenários que a afetem ou que poderão vir a afetá-la e por
elementos de criatividade e sensibilidade, na construção de ela serem afetados.
cenários é importante para, entre outros propósitos dos A percepção e análise de tendência no contexto de
cenários: cenários são necessárias para fundamentar a reflexão e a
a) traçar rumos mediante acordos e definições de tomada de decisão de maneira criteriosa e com
agendas e programas elaborados com objetividade: oportunidade, possibilitando realizar os ajustes e a sintonia
um conjunto de avaliações e decisões básicas para a que cada caso venha a requer, bem como manter o
orientação; “melhor” rumo da organização, consistente com a sua
missão.
b) planejar e auxiliar a gestão de atividades em diversos
horizontes (p. ex., de um ano fiscal ou num período Como construir cenários? Trata-se de um processo de
maior que possibilite o posicionamento da construção coletiva que reúne e integra especialistas nos
organização no mercado); objetivos de interesse da organização, programa ou plano;
convoca e integra especialistas em prospecção e elaboração
c) planejar investimentos e orientar políticas de de cenários; e convoca e integra outras áreas do
geração/ adaptação e de transferência/ difusão de conhecimento como são as de sistemas, informação e
tecnologias; comunicação e planejamento – administração – gestão.
d) buscar parcerias, viabilizar a formação de redes e Em geral, as dimensões do desenvolvimento para o
alavancar recursos para a pesquisa, entre outros qual se definem e constroem os cenários prospectivos
propósitos. devem estar representadas
A análise e previsão de que trata a construção de
cenários, poderá ter como focos, entre outras:
2.3 Principais “ingredientes” de um cenário
a) as variáveis econômicas no contexto de cenários que
podem ser conjugadas em modelos (processos) inter- Um cenário, em geral, compreende vários
setoriais e inter-regionais de equilíbrio geral; componentes, com destaque para os seguintes:
b) as variáveis socioculturais no contexto de cenários
que podem ser conjugadas em processos de ajustes a) Uma filosofia que é consistente com conceitos
sociais e de redução de desigualdades nesta dimensão; modernos da gestão da qualidade total e que se
constituir fundamento e essência do futuro
c) as variáveis do meio ambiente e de seus recursos cenarizado; essa base filosófica é denominada por
naturais no contexto de cenários ecológicos que alguns autores como “lógica” do cenário; tais
podem ser conjugadas em processos de conservação e fundamentos ou lógica do cenário definem para onde
manejo integrado e de prevenção contra perdas, bem vai o objeto cenarizado (qual é a essência).
como os de proteção dessas riquezas naturais não
apenas para as presentes gerações, mas para as 7 A estratégia institucional pode conceitualizar-se como a arte de
futuras; escolher um caminho, dentro dos possíveis, de interação em
d) as variáveis organizacionais e institucionais no várias dimensões, orientado por determinadas configurações
contexto de cenários políticos e administrativos que alternativas (cenários) e dinâmicas em que se articulam atores
(buscar a harmonia entre eles), recursos (escolher, aplicar e
podem ser conjugadas em processos de re-arranjos da
coordenar, com eficácia, os recursos de que se dispõe) e ações
administração, da gestão e do Estado moderno. (explorar condições favoráveis e oportunidades, superar entraves,
Todos esses focos e a integração desses processos em tratar limitações etc.) para alcançar certos objetivos e metas da
suas diversas dimensões se relacionam, com maior ou organização (p. ex., os objetivos estratégicos), em dado contexto
menor intensidade, com a pesquisa e seus resultados, com e visão de longo prazo; por esta estratégia a organização se
posiciona de forma competitiva e garante, de certa forma, sua
o desenvolvimento sustentável. sobrevivência no horizonte dessa visão temporal.
18

Introdução à construção de cenários prospectivos

b) Variáveis; representam os elementos ou os aspectos transações entre os atores intervenientes ao longo do


essenciais do ambiente (ou contexto, segundo caminho.
PORTER, 1981) 8 considerado face ao objetivo a que
se destina o cenário (o que considerar).
2.4 Atributos da abordagem de cenários
c) Atores; entendidos como entidades ou organizações
públicas e privadas, instâncias de decisão, classes Os atributos desejáveis de um cenário se relacionam,
sociais, agentes econômicos, grupamentos ou pessoas em parte, com a essência ou lógica da prospectiva de
que influem ou influirão significativamente o sistema organizar, sistematizar e delimitar (caracterizar) incertezas
considerado, tais como empresas, partidos políticos, explorando sistematicamente os pontos de mudanças; em
financiadores, grupos técnicos e entidades de parte, com os propósitos e recursos alocados nessa
consumidores, entre outros (a quem considerar). construção. Relacionam-se, também, com os atributos da
qualidade, da gestão da qualidade total.
d) Cenas; cada uma delas descreve o estado ou a
situação do sistema considerado e seu contexto num Em geral, os principais atributos dos cenários são:
determinado período de tempo; a cena pode ser
definida uma descrição de como estão organizados ou
1) Uma visão global da realidade que se impõe na
vinculados entre si os atores e as situações,
medida em que se observa a interdependência entre
representando um "corte" dentro do processo
atores, variáveis e cenas e se acentuam, com a
evolutivo do objeto considerado.
aceleração das mudanças, essas interdependências;
esse fenômeno de complexificação e entrelaçamento
A preocupação fundamental de cada cena não é das relações da sociedade levam a que qualquer
apenas evidenciar a dinâmica da situação ao longo do abordagem isolada desses fenômenos (p. ex.,
tempo, e sim as estruturas a ela associadas num dado considerar autonomamente a evolução de
segmento de tempo; qual a dimensão das variáveis determinado objeto) apresente um menor valor
nesse instante; qual a posição relativa de cada uma explicativo ou este seja de escasso valor.
delas face às demais; quais os atores intervenientes e
como eles interagem. Estas são, entre outras, questões
Uma das características básicas dos cenários reside
descritas na cena.
na sua capacidade de reunir, comportar e articular
opções, estudos, prognósticos, hipóteses e
Cada cena é uma visão sincrônica do objeto contribuições múltiplas e diversas.
cenarizado num determinado período de tempo.
Para tal fim (complexo porque são muios interesses
e) Trajetórias de atores, variáveis e cenas; trata-se dos e abrangentes porque são muitas dimensões), deve-
percursos ou caminhos, ao longo do tempo, do objeto se prover, na construção de cenários, estruturas
cenarizado, na qual se descrevem os movimentos ou ágeis e flexíveis para integrar estudos e explorar
as dinâmicas desses objetos, partindo da cena inicial políticas alternativas.
até a cena final; no caso em que o cenário configura
políticas e estratégias (governamentais ou
Por outro lado, a cenarização promove ou facilita a
empresariais) é na trajetória que se explicitam tais
flexibilidade e a capacidade de reação de
definições, com a seguinte forma lógica geral:
intervenientes, interessados (...) e ajuste às
condições, perspectivas (...).
Para o sistema S alcançar o estado descrito
na Cena i (tempo Ti) será necessário
2) Ênfase nos aspectos qualitativos da realidade
implementar a política A no tempo Ti - Ti, a
presente ou dos futuros “construídos”, sem
política B no tempo Ti - T2 e assim por
descuidar aspectos quantitativos dos fatos ou
diante....
fenômenos.
A trajetória também deve evidenciar as tensões,
As opções fundamentais dos cenários são
contradições, conflitos existentes ou potenciais,
essencialmente qualitativas e cada cenário
desequilíbrios e elementos de regulação das
caracteriza um futuro qualitativamente distinto dos
demais. Isso não significa, repetindo, que a
8 PORTER, M. Vantagem Competitiva. Rio de Janeiro:
construção de qualquer cenário independa ou
prescinda de elementos quantitativos.
Campus, 1989.
19

Introdução à construção de cenários prospectivos

Os cenários combinam grande quantidade de A construção do futuro, desse modo, explica-se mais
informações e de conhecimentos qualitativos e pela ação humana imprevisível do que pelo jogo de
quantitativos e transmitem os resultados de uma determinismos de interesses e propósitos.
análise integral em formas transparentes e
compreensíveis. Ao mesmo tempo, o cenário Daí decorre uma mudança de natureza das previsões
permite antever como um futuro incerto pode reagir através de cenários em relação às abordagens
e como este pode ser influenciado ou impactado por tradicionais: aqui, as previsões são condicionais na
decisões no presente. É com base nesse atributo que medida em que a sua precisão depende da
a organização se prepara. ocorrência de determinadas suposições ou premissas
explicitadas pelo cenário adotado.
Em muitos casos, os números e tratamentos
estatísticos são essenciais para dar precisão e 6) Adoção de modelos conceituais, métodos
conferir significado aos elementos qualitativos dos qualitativos e quantitativos e de uma visão
cenários. Mas, os aspectos quantitativos serão probabilística dos fenômenos. Esta característica da
decorrência ou detalhamento de formulações mais abordagem de cenários é conseqüência das
amplas de caráter qualitativo. anteriores que incluem a incerteza e a pluralidade
como algo inerente à exploração do futuro.
3) As relações entre variáveis e atores são vistas
como estruturas dinâmicas e complexas que Deste modo, dependendo da natureza dos fatos e
comportam mudanças qualitativas ao longo do fenômenos (cenas), das variáveis consideradas e do
horizonte de projeção; essas dinâmicas e ajustes grau de conhecimento que se tem a respeito deles,
fazem a diferença entre fatos e fenômenos do são formulados desde modelos matemáticos até
passado e os fatos e fenômenos do futuro, esquemas conceituais puramente qualitativos para
permitindo realizar interpretações “lógicas” para analisar e “prognosticar” (?) comportamentos
esse futuro. futuros, vale dizer, para organizar, sistematizar e
delimitar incertezas desses fatos e fenômenos,
4) O futuro é concebido como a motivação básica das explorando as oportunidades nas mudanças ou na
ações e decisões do presente centrado em incertezas manutenção de rumos.
e não como um prolongamento inevitável da
dinâmica do passado, de projeções e prognósticos. 7) A consideração explícita de atores (cenas,
trajetórias...) envolvidos. Cada cenário, em geral,
A premissa básica que apóia esta visão de futuro é poderá representa uma particular hegemonia, um
que as pessoas, grupos, organizações ou classes predomínio de uma aliança de determinados atores
sociais são capazes de influenciar o seu próprio em torno de um dado projeto, propósito ou conjunto
destino dentro de um quadro de oportunidades, de interesses.
limitações e restrições concretas, porém manejáveis
por elas. Isso significa, na prática, considerar a dimensão
política como um forte condicionante do futuro.
É em função dessa possibilidade, ampliada pela Afinal, as mudanças nas diversas dimensões
tecnologia da informação e comunicação da era do (políticas, econômicas, tecnológicas, sociais,
conhecimento, que o cenário se torna uma base culturais, ecológicas etc) não ocorrem ao acaso,
importante para reflexão e decisão sobre o futuro ao mas, como o resultado do jogo de coalizões e
incorporar esse quadro. conflitos dos grupos ou instituições intervenientes
em cada situação.
5) Uma visão plural e incerta do futuro que resulta do
confronto e/ou da cooperação de diferentes atores, 8) Pertinência, coerência, plausibilidade e
variáveis e cenas. credibilidade 9. Um cenário não é, repetindo, a
realidade futura nem predizer o futuro, mas um
Em cada momento, o futuro “previsível” (?) é meio de orientar a ação presente à luz de futuros
múltiplo e incerto, porque resulta da confrontação possíveis ou desejáveis.
ou da cooperação de diferentes atores sociais em
torno de determinados projetos, cenas, variáveis,
meios e interesses alguns conflitantes. 9 Este atributo está baseado descrito na obra de GODET, Michel.
De l’anticipation à l’action: Manuel de Prospective et de
Stratégie. Paris: Dunod, 1991. p. 15.
20

Introdução à construção de cenários prospectivos

A preocupação com o “realismo” e com a eficácia


dos resultados devem guiar a reflexão prospectiva
visando o conhecimento de fatos sociais e
históricos.
A lógica de construção de cenários normativos
Os cenários devem focar questões relevantes e consiste em primeiro, estabelecer o futuro desejado para,
formular hipóteses-chave sobre o futuro, bem como depois, definir como alcançá-lo, a partir da situação inicial,
assegurar a coerência e plausibilidade das conforme se ilustra na Figura 7.
combinações possíveis dessas hipóteses.

Por outro lado, os cenários devem ser transparentes 1º. Passo


Idéias
tanto em termos de conteúdo (comunicabilidade) Delineamento do
Utopias
futuro desejado
como dos métodos, técnicas e procedimentos

Horizonte
de tempo
adotados para obter e tratar esse conteúdo. 2º. Passo Objetivo
Diagnóstico Geral

2.4 Tipos de Cenários


Futuro
3ª. Passo
Na construção de cenários é possível, conforme sejam Passado
Trajetória
os objetivos, meios e diretrizes, ter-se várias tipas,
mencionando-se, entre outros, os cenários imagináveis ou Presente
(Antítese)
hipotéticos, os cenários possíveis, os cenários normativos
ou desejados, os cenários mais prováveis ou de referência,
os cenários extrapolativos e os cenários extremos ou de
Figura 7 Síntese dos passos e da lógica de cenários normativos
contraste.
No caso da construção de cenários normativos se
Para as finalidades didáticas elementares deste parte do pressuposto de que o futuro pode ser construído e
documento apenas são considerados dois tipos: os cenários que essa construção é desejável e possível pelo indivíduo
normativos e os cenários exploratórios com a subdivisão ou atores, em função de valores sociais e econômicos e da
que é apresentada na Figura 6. vontade e força política dos engajados; é um compromisso
de atores em relação a determinados propósitos.
Os cenários normativos configuram futuros
desejados, exprimindo sempre uma vontade ou um A aplicação de cenários normativos tem se dados
compromisso de um ator ou de uma coalizão específica de em estudos de mercado de longo prazo e no planejamento
atores em relação a determinados objetivos ou projetos. do desenvolvimento e formulação de estratégias
empresariais.

Os cenários exploratórios caracterizam futuros


Normativos
Normativos possíveis ou prováveis do contexto considerado, para
possíveis usos de situações contingenciais (menos
Extrapolativos
Extrapolativos freqüentes) e de transição (mais freqüentes), mediante a
Cenários
Cenários simulação e desdobramento de certas condições iniciais
diferenciadas, sem que seja assumida qualquer opção ou
Livres
Livresde
de
surpresas preferência por um dos futuros configurados.
surpresas
Exploratórios
Exploratórios Nos cenários exploratórios extrapolativos o futuro
Variações
Variações
Canônicas
Canônicas é apenas considerado como um prolongamento do passado
e do presente; esse prolongamento compreende duas
variantes: o futuro "livre de surpresas" e o futuro com
Múltiplos
Múltiplos variações canônicas.

Referências
Referências A extrapolação pura e simples configura o "futuro
livre de surpresas". Nesse caso, as informações reunidas
Alternativos
sobre o passado e o presente são consideradas em algum
Alternativos

Figura 6 Principais tipos de cenários


21

Introdução à construção de cenários prospectivos

modelo representativo da situação que permite visualizar o Os cenários exploratórios múltiplos pressupõem
futuro supondo que ele será um prolongamento inevitável rupturas nas trajetórias de futuro, representando, portanto,
da dinâmica do passado e presente, com os ajustes futuros plausíveis ou prováveis qualitativamente distintos.
decorrentes de alterações em curso, conforme ilustra a
Figura 8. O cenário de referência é o que caracteriza a evolução
futura suposta como a mais provável do objeto cenarizado,
no momento em que a projeção é realizada e em todos os
instantes onde as escolhas ou rupturas se impõem aos
atores dominantes, considerando as mudanças e demais
Visão tendências latentes ou prevalecentes em uma situação de
Retrospectiva partida.

Situação Futuro Na maioria dos casos, o cenário de referência não


Extrapolação
Atual Livre de corresponde a uma extrapolação pura e simples das
Tendências Surpresa tendências passadas, porque o mais provável é que ocorram
rupturas ou mudanças qualitativas nos padrões
dominantes.
Figura 8 Cenários extrapolativos exploratórios de
futuros livres de surpresa Os cenários alternativos, configuram futuros com
menor probabilidade de ocorrência que o descrito no
cenário de referência, ampliando o leque de possibilidades
do futuro, conforme se ilustra na Figura 10.
Na maioria das vezes esse tipo de prognóstico tem
pouca utilidade preditiva. Entretanto, é a extrapolação
muito importante porque serve como uma primeira visão
de futuro.

A extrapolação com variações canônicas, por sua Cenário


vez, consiste em variar um ou mais parâmetros L. Surpresa
característicos do futuro livre de surpresas e, com isso,
configurar os futuros alternativos resultantes. Significa, na Cenários
prática, introduzir uma faixa de variação admissível no Referência
futuro livre de surpresas sem mudanças qualitativas, Visão
conforme se ilustra na Figura 9. Retrospectiva

Extrapolação Cenário
Situação Variações
Atual Tendências Canônicas

Visão
Retrospectiva

Cenário
Situação Extrapolação Cenário Alternativos
Atual Variações
Tendências Canônicas
Figura 10 Cenários exploratórios múltiplos

Figura 9 Cenários de extrapolações com variações


canônicas

Em geral, para a construção de cenários exploratórios


são seguidos os seguintes passos metodológicos:

a) Definição do escopo; essa definição pode ser orientada


por perguntas, tais como: Que “cenarizar” para se
22

Introdução à construção de cenários prospectivos

atingir determinadas metas? Quais são os objetivos e para definir incertezas, identificar tendências,
“agentes” envolvidos e interessados na “cenarização”? caracterizar nichos e trajetórias. A seguir se faz a
Como estes se caracterizam e delimitam? Qual deve ser análise (de consistência de dados e informações, de
a formação, orientação, capacitação etc., da equipe agrupamentos e banco de dados – sistemas de
engajada na construção de um cenário? informações) e, finalmente, com grupos capacitados,
realiza-se a delimitação de sistemas.
b) Estudos retrospectivos, considerando diversos
aspectos, tais como: tensões, estrangulamentos, fatores No Brasil (CENÁRIOS EXPLORATÓRIOS DO
de inércia, e forças propulsoras e restritivas, entre BRASIL, 2020), com base na capacidade de influencia
outros, para a conjugação de forças, p. ex., as e hierarquização de fatores centrais como indicadores
propulsoras e restritivas para certas mudanças, do de tendências, foram definidos três cenários, os quais
presente e passado, explorando a complexidade; estabeleciam contextos possíveis, considerando as
seguintes variáveis:
c) análise estrutural de variáveis e atores- ambientes - paradigmas políticos / nova ordem internacional;
(cenas) com suas respectivas importâncias relativas no
- globalização da produção;
contexto do cenário; - regulamentação do comércio mundial, “governança”
e governabilidade;
d) procedimentos e sistemas de informações que - grau de estabilidade econômica;
possibilitam as análises de cenários seus componentes: - investimentos produtivos;
variáveis, atores, cenas, trajetórias etc.; - investimento e gastos governamentais;
- capacidade competitiva;
e) mapeamento, seleção e ordenamento de - setor produtivo e abertura da economia;
condicionantes, tais como: tendências, fatos “portadores - ritmo de crescimento da economia;
de futuro”, estratégias, coalizões e agrupamento de - mercado de trabalho e emprego;
atores, entre outros, feito com base em “análises de - mercado interno;
sensibilidade” do sistema “cenarizado”; - distribuição espacial da produção; e
- gestão e manejo de recursos naturais.
f) geração e desenvolvimento de cenários;
Com essas variáveis foram considerados três cenários:
g) análise estratégica das alternativas escolhidas como Abatiapé, Baboré e Caaetê.
sendo as mais oportunas e vantajosas.
b) A análise retrospectiva de fatos de interesse,
A preparação, com a construção de cenários que definem indagando processos de evolução, trajetória e
a visão de futuro, é fundamental para a C&T e P&D dada tendências, utilizando-se os bancos de dados e
as grandes transformações tecnológicas e científicas em informações consistidas.
curso e as tendências que influencia a gestão dos processos
de pesquisa. c) O exame de estratégias de atores considerando tanto
os elementos estáveis como os portadores de mudanças.
Para construir futuros possíveis, sejam eles normativos
ou exploratórios, é necessário considerar vários aspectos de d) A elaboração de cenários alternativos a partir dos
um processo metodológico (SCHWARTZ, 1999), entre fatos mais “prováveis”, de negociações e acordos
outros, os seguintes: (agendas) e de interações entre os atores, cenas e
variáveis, bem como das transformações que poderão
a) A delimitação do sistema incluindo as principais surgir em cada alternativa (LICHA, 1994;
forças (driving forces) que nele atuam, a resolução complementado).
dessas atuações e a extensão espaço-temporal das
mesmas. A Figura 11 apresenta uma síntese de roteiro do
processo de elaboração de cenários.
Essa delimitação compreende a caracterização de área,
setores, clientes, cenas, variáveis e trajetórias. A parte que segue ilustra um roteiro (questionário)
proposto pela Embrapa para orientar a elaboração de
Cada caso poderá requerer determinadas atividades cenários para definir rumos da pesquisa considerando o
preparatórias, mas, em geral, estas poderão começar horizonte do agronegócio em 2001-2010:
com entrevistas com líderes, gerentes e especialistas
23

Introdução à construção de cenários prospectivos

a) Quais os principais invariantes? fenômenos relativos


ao setor de atuação ou área de conhecimento que
têm elevada previsibilidade no horizonte de 10 b) Quais as incertezas críticas? Referem-se a eventos ou
anos, isto é, fenômenos que, qualquer que seja o fenômenos de baixa previsibilidade e de elevado
cenário descrito, não sofrerão alterações neste impacto sob o objeto de investigação no horizonte
período, maior consciência e exigências ambientais em estudo.
(DS e MDL, p. ex., tratados neste minicurso);
crescente importância do complexo agroindustrial c) Quais serão as prioridades para a P&D em
brasileiro para a economia nacional; intensificação biotecnologia no Brasil?
e adequação do uso de tecnologias na agroindústria
(tecnologias “limpas” e apropriadas para pequenos e d) Como evoluirão as tecnologias de clonagem e de
grandes agricultores) e ampliação dos investimentos alteração genética no caso do agronegócio?
nos requisitos associados à qualidade (certificação
de produtos); e) Qual será o posicionamento do novo governo (2003)
com relação ao setor de P&D para agronegócios?

f) Como evoluirá a posição brasileira nas negociações


internacionais relativas aos produtos da
agroindústria?

g) Como evoluirá o sistema de proteção mediante


Macrocenários patentes e a sua aplicação no Brasil?
Entrevistas
EntrevistasCom
Com Macrocenários
Mundiais,
gerentes
gerentesee Mundiais,Nacionais
Nacionais
especialistas:
especialistas: Regionais
Regionais
Incertezas
IncertezasX X
Certezas
Certezas 2.5 Níveis de Agregação dos Cenários
Grandes
GrandesTendências
Tendências
eeEvoluções
Evoluções Os cenários também podem ser diferenciados segundo o
Oficinas
Oficinasde
decapacitação
capacitação
metodológica
metodológicaeeconstrução
construçãode
de nível de abrangência espacial e temporal ou conforme seja
cenários
cenários a agregação de seus objetos.
Atividades
Atividades Nivelamento
Nivelamento
Preparatórias conceitual De um modo geral, pode-se distinguir três níveis de
Preparatórias conceitualee
metodológico
metodológico agregação:

a) Nível "macro" como são os macrocenários mundiais,


Mapeamento
Mapeamentode de
tendências
tendências
Geração
Geraçãodede os macrocenários nacionais ou os macrocenários
cenários
cenários regionais, nos quais se configuram futuros possíveis,
Varreduras
Varredurasna na
Internet
Internet prováveis ou desejáveis, normativos ou exploratórios,
Consultas
Consultas para grandes sistemas e contextos, reunindo e
/Especialistas
/Especialistas Desenvolvimento
Desenvolvimento
dos projetando tendências nas diversas dimensões do
doscenários
cenáriosmais
mais
Prováveis
Prováveis desenvolvimento.

De certa forma, os macrocenários representam


Consolidação
antevisões panorâmicas e globais de futuros mundiais,
Consolidaçãodos
doscenários
cenários
nacionais e regionais, como são, para os países da
comunidade européia (OCDE) a Face aux Futurs /
Evento
Eventodedevalidação
validaçãodos
doscenários
cenáriosee Interfuturs; de países como são os Macrocenários
reflexão
reflexãoestratégica
estratégica Brasil 1992/2010 e os Macrocenários Amazônia 2010
do Brasil e de setores ou de regiões dentro de países
como são os Macrocenários Nordeste 2010, no Brasil
Metodologia
Metodologiade
demonitoramento
monitoramento

Em geral, os macrocenários são referências para


situar reflexões e decisões de governos, instituições ou
Figura 11 Roteiro do processo de elaboração de cenários empresas face aos diversos futuros que as afetarão.
24

Introdução à construção de cenários prospectivos

Entretanto, conforme argumenta Porter (1986) 10, na Questão Estratégica “Manutenção do custo
estes são excessivamente gerais para que sejam operacional unitário das Áreas X e Y em
suficientes no desenvolvimento da estratégia de uma parâmetros rentáveis até a ano 2004.
organização ou setor particular.
Os microcenários focalizam decisões ou questões
As suas implicações para indústrias (setores) são, vias estratégicas ao explorar aspectos particulares de um
de regra, mal-entendidas; por outro lado, a construção negócio, de uma tendência ou de uma empresa, com
desses cenários exige a análise de um conjunto de o propósito de subsidiar a avaliação de questões ou a
fatores muito amplos e com poucos conteúdos e tomada de decisões estratégicas específicas.
ramificações estratégicas dos meios macroeconômicos
e político-institucionais importantes para indústrias É conveniente esclarecer que o enfoque dos
básicas, segundo o autor. microcenários não deve ser tão estreito sob pena de
provavelmente não alcançar algumas questões ou
Outras incertezas que os macrocenários deixam de dimensões-chave, limitando seus usos e aplicações.
fora, como transformações tecnológicas e
comportamento da concorrência, podem surgir como
fatores dominantes que conduzem a mudança na
estrutura de indústrias (ou setores) particulares. 2.6 Usos e Aplicações de Cenários

b) Nível intermediário ou setorial; são cenários de O Quadro 4 dá uma idéia de usos e aplicações de
indústrias, segmentos ou ambientes de negócios cenários em diversas atividades do desenvolvimento
específicos, como são, para o caso do segmento de sustentável, com destaque, neste Quadro, para estudos de
petróleo, A indústria do Petróleo no Brasil e no mercado, planejamento (estratégico e contingencial),
Mundo no Horizonte 2001, PETROBRÁS e a gerenciamento estratégico em tempo real, referência para
Integrating Scenarios into Strategic Planning at negociação, análise de projetos e apoio à tomada de
Royal Dutch/Shell e para o caso do desenvolvimento decisões.
tecnológico do Brasil, os Cenários do ambiente de
Negócios da FINEP no horizonte 1993/2010.

A alternativa que vem sendo desenvolvida é a


construção de cenários setoriais ou de ambientes de
negócios específicos. Tais cenários tentam configurar
estruturas futuras possíveis desses ambientes,
projetando tendências de demanda, oferta, surgimento
(ou desaparecimento) de substitutos, comportamento
da concorrência (inclusive entrantes em potencial),
fatores institucionais específicos e "jogos" dos atores
mais importantes.

Os cenários de nível intermediário servem para


antecipar ameaças e oportunidades inerente ao
ambiente "de negócios" considerado e fundamentar
planos e decisões estratégicas da organização
diretamente interessada.

c) Nível "micro"; os microcenários, desenvolvidos


quase que “sobremedida” a partir de cenas,
variáveis e atores particulares para contextos e
ambientes gerais, como nos casos de P&D em
petróleo, os microcenários Planejamento Cenário
de P&D para a Statoil e os Cenários Focalizados

10  PORTER, Michael E., Vantagem Competitiva - Criando e


Sustentando um Desempenho Superior. Rio de Janeiro:
Campus, 1986 (Capítulo 13).
25

Introdução à construção de cenários prospectivos

envolve os impactos dos cenários desde o nível


macroeconômico e político até o nível da indústria e da
empresa. Nesta aplicação, as estimativas de lucros e
margens de mercado são feitas através de funções que
envolvem explicitamente variáveis dos macrocenários e
da empresa, e não apenas cálculos de risco e retorno
intuitivos, o que ajudaria os gerentes a pensar de forma
mais sistemática sobre os riscos associados a
determinados investimentos.

Quadro 4 Exemplos de usos e aplicações de cenários Continuação (c)


ATIVIDADE CARACTERÍSTICAS Quadro 4 Exemplos de usos e aplicações de cenários
Uma das aplicações mais antigas dos cenários é apoiar ATIVIDADE CARACTERÍSTICAS
a elaboração de estudos de mercado, especialmente em
projeções de demandas em setores como os de energia Ao trabalhar com cenários explícitos, os decisores
elétrica, telecomunicações e derivados do petróleo, com envolvidos geralmente unificam ou "sintonizam" suas
base em duas idéias: os métodos tradicionais de visões de mundo ou premissas em relação ao futuro.
projeção conduzem a estimativas com erros crescentes e Isto dá mais unidade e coerência às decisões tomadas,
Estudo de reduzindo o risco de conflitos decorrentes do uso
mercados para cada cenário corresponde uma demanda diferente
não somente em termos quantitativos mas também implícito de premissas distintas pelos diversos
qualitativos. A premissa fundamental é que, sob decisores envolvidos.
cenários qualitativamente distintos, provavelmente a O principal benefício dos cenários é que eles fornecem
demanda muda de magnitude e também de perfil ou de Apoio à aos decisores maneiras efetivas de se precaverem face
natureza. tomada de às incertezas do futuro. Neste sentido, o propósito dos
decisão cenários não seria necessariamente gerar estratégias,
Os cenários são particularmente úteis e valiosos para o mas, produzir insights e uma compreensão das forças
planejamento, em especial, o estratégico, ao que vão compor as incertezas do futuro em que a
anteciparem oportunidades, ameaças, novos desafios ou organização vai operar. Os cenários podem fornecer
possibilidades. Representam configurações de futuros uma base explícita para debates posteriores e
alternativos geralmente com horizontes de médio e possivelmente, a construção de estratégias. Podem
longo prazos, em especial, quando estão envolvidas também ampliar as hipóteses dos executivos sobre
decisões ou investimentos de longa maturação ou como o mundo vai ficar e sobre o que eles percebem
atividades com grande efeito multiplicador como é o
qual será a realidade futura a.
caso, p. ex., do desenvolvimento tecnológico. Os a
cenários devem avançar mais em termos de tempo (10- Fonte: GRAYSON, Leslie E. Who and How in Planning for Large
20 anos, p. ex.) e produzir antecipações (p. ex., difusão Companies: Generalizations from the Experiencies of Oil Companies.
de determinada "família" de tecnologias) que devem ser London: Mac Milan, 1987.
trabalhadas no horizonte de planejamento (5-10 anos, p.
Planejamento
ex.) para que os problemas e oportunidades vistos
antecipadamente sejam tratados em tempo hábil dentro
dos planos, feito tomando por base o cenário mais
Uma Introdução à Metodologia de
provável (ou de referência). No entanto, existem certos
cenários cuja probabilidade de ocorrência é baixa mas
Construção de Cenários
que tem um alto potencial de impacto sobre o sistema. As descrições e ilustrações que segue complementam as
Para esses cenários, é recomendável montar planos de
contingência, que representam estratégias menos informações anteriores de conceitos; essas descrições
elaboradas que as do "Plano Estratégico de Referência", procuram auxiliar a construção de cenários, sem entrar em
mas, que já antecipam no essencial quais devem ser as detalhes. O objetivo desta apresentação é oferecer ao leitor
ações de resposta da do sistema, caso venha a ocorrer
este cenário de probabilidade baixo, porém de alto
um sumário de técnicas e métodos utilizados na construção
impacto. de cenários, com o propósito de situá-lo no tema e
Um dos processos básicos da gerência estratégica em despertar a curiosidade ou motivá-lo para a pesquisa acerca
"tempo real" é a análise de impacto x urgência de do assunto. Como nos casos anteriores, esta apresentação é
fenômenos internos ou externos à empresa, feita por ilustrada.
Gerencia cenários simplificados m que se configuram evoluções
estratégica alternativas plausíveis para cada fenômeno considerado
em tempo (a técnica de "árvore de decisões" pode ser muito útil; Várias técnicas e métodos podem ser utilizados para a
rela ver Manual de pesquisa..., vol. 2) e efetuar a análise de elaboração de uma visão de futuro, mas, segundo
impacto x urgência de cada alternativa, o que Schoemaker (1993), apenas a análise de múltiplos cenários
enriquece a análise estratégica e pode melhorar a é a ferramenta indicada para examinar incertezas. Os
qualidade e consistência das decisões.
processos metodológicos, segundo o nível de estruturação e
Os cenários têm um papel de explicitar as premissas
Referência quanto à evolução de fatores ambientais não- a natureza da abordagem, podem ser agrupados conforme
para fazer controlados, com base nas quais são negociados planos se indica e sintetiza no Quadro 5.
negócios estratégicos ou determinados contratos como, p. ex.,
"contratos de gestão" entre governo e uma controlada. Quadro 5 Síntese de técnicas e métodos utilizados na
Análise de Para a avaliação de projetos em relação à diferentes construção de cenários
projetos cenários deve ser feita uma estimativa de risco e retorno
dos investimentos através de uma visão mais ampla que TIPO CARACTERÍSTICAS
26

Introdução à construção de cenários prospectivos

Baixo nível de estruturação: reuniões e palestras TÉCNICAS CARACTERÍSTICAS


(exposições, debates etc., que poderão enriquecer os
pressupostos) com especialistas sobre cenários futuros Brainstorming; Técnica de trabalho em grupo que visa
Simples: bom (ver roteiro proposto pela Embrapa; pág. 24). produzir o máximo de possíveis soluções (idéias) para
senso, intuição Os principais resultados das reuniões são a geração de um dado problema, ao estimular a imaginação e fazer
pressuposições compartilhadas pelos participantes a surgir idéias, o que seria mais difícil em trabalhos
respeito do futuro e do ambiente do negócio e das isolados.
oportunidades e ameaças à organização. Para que isso ocorra é necessário “ambientar” os
participantes, explicar-lhes as regras e o método e
Alto nível de estruturação e o predomínio da abordagem
Incentivo à motivá-los para a expressão livre e/ou de maneira
quantitativa do futuro, feita com “pesados” modelos
criatividade espontânea, sem censura, nem críticas; anotaras idéias
econométricos, de simulação e/ou de dinâmicas de
como sendo de interesse.
sistemas. Neste grupo se encontram:
Análise morfológica; visa explorar de maneira
- a Análise de Impacto de Tendências (ver Figura 12)
sistemática, os futuros possíveis a partir do estudo de
feita com base na extrapolação de uma variável-chave
todas as combinações que resultam da decomposição de
ajustada com base na ocorrência de eventos de
um sistema em seus atributos.
impactos; são selecionadas, após definido o escopo,
Questionário e entrevistas.
duas ou três direções-chave (forças diretivas) com seus
Base correspondentes estados alternativos; tais fatores são
combinados numa matriz da qual se geram os cenários Método Delphi; consiste em interrogar
quantitativa e individualmente, mediante sucessivos questionários,
dedutiva, alternativos e possíveis;
- a Análise de Impactos Cruzado (HELME.R; determinado grupo de especialistas. Após cada rodada,
(Huss e as respostas são analisadas e reapresentadas ao grupo
GORDON, 1966) Esta análise, na forma de uma matriz,
Hontona ) é baseada no conceito de que a ocorrência ou não de um para que tenham a oportunidades, com a síntese de
possível evento ou ação de certa política, pode afetar a Avaliação resultados da rodada anterior, de rever suas opiniões.
probabilidade de ocorrência de um conjunto de outros Dessa forme, busca-se a convergência de idéias e
eventos ou ações; o método requer que tais interações minimizar os problemas de grupos como são pressões
sejam definidas e seus efeitos estimados; ao conjunto das sociais, influencias exageradas e polarizações
possíveis combinações de eventos se associam Modelagem e simulação.
freqüências de ocorrências; o resultado são os cenários
gerados. Esta Análise auxilia ao planejamento Método Elletre (ver no texto)
Análise
estratégico, tanto no setor público quanto no privado (ver Método de análise hierárquica
multicritério
Figura 13).
Alto nível de estruturação e abordagens qualitativas
(predominante), complementada pela análise
quantitativa. Neste grupo se encontra:
Base
a Metodologia de Construção de Cenários de Godetb;
qualitativa,
compreende três etapas (construção de uma base 1 .S e le çã o d o E s co p o e
quantitativa e Id e n tific a ç ã o da s
analítica; elaboração de cenários e previsões
dedutiva D ire çõ e s C h a ve d o
quantitativas; e formulações de estratégias e planos de C e n á rio
ação); essas etapas compreendem 10 atividades
indicadas na Figura 14.
e a Metodologia de Construção de Cenários 2 . C ria çã o d e u m 3 . Id e n tifica ç ã o d e
Q u a d ro p a ra o s T e n dê n c ia s Im p o rta n te s
Base Industriais e Estratégia Competitiva sob Incerteza de C e n á rio s e R e u n iã o d e S é rie s d e
qualitativa, Porter;c esta abordagem tem um foco bem definido: os D ados
quantitativa e ambientes de negócio, centrado em cinco forças
dedutiva competitivas (ver Figura 15), sem tratar macrocenários
que o autor considera pouco úteis 5 . E s ta b e le cim e n to d e 4 . D e s e n vo lv im e n to d e
Médio nível de estruturação e abordagem, em essência, u m a L ista d e E ve n to s u m a E x tra p o la ç ã o
Base Im p a c ta n te s
qualitativa e intuitiva – criativa do futuro. S im p le s
qualitativa,
Neste tipo se encontram:
lógico-
- a Metodologia SRI de Peter Schhwartz e
intuitiva e
- a Metodologias de construção de cenários 6 . E s ta b e le cim e n to d e
heurística 7 . M o d ifica ç ã o
exploratórios. P ro b a b ilid a d e s d e
("C a lib ra g e m ") d a
O c o rrê n c ia d o s E v e n to s
a
HUSS, William R; HONTON, Edward J. Scenario planning: what style no Tem po E x tra p o la ç ã o O rig in al
should you use? Çong Range Planning, v. 20, n. 4. p. 21-29. 1987. b
GODET, Michel. De l´anticipation à l´action. Paris: Dunod, 1991.
c
PORTER, Michael. Vantagem competitiva: criando e sustentando um 8 . D e sc riç ã o d o s
desempenho superior. Rio de Jasneiro: Campus. 1991 (cap. 13). C e n á rio s R e s u lta n te s

As técnicas de apoio na construção de cenários são


sintetizadas no Quadro 6. F ig u ra 1 2 Ilu s tra ç ã o d a A n á lis e d e Im p a c to d e T e n d ê n c ia s
n a c o n s tru ç ã o d e c e n á rio s

Quadro 6 Técnicas utilizadas na construção de cenários


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Introdução à construção de cenários prospectivos

1. D e fin içã o d a
1. D e lim itaçã o d o 2 . A n á lise d o
Q ue stão e d o
F e nô m e no a se r A m b ie n te E xte rn o
H o rizo nte T em po ral (V a riáve is
E stud a d o (V a riá veis
In te rn a s) E xte rna s)

2 . Ide ntifica çã o de 4 . Ide ntifica ção do s


Ind ica d ores C h ave E ve nto s Im p acta nte s
3 . D elim ita ção d o S istem a e P e sq u isa d as
V a riáve is C h ave

5. E stim a tiva da s A n á lise


3 . P rojeçã o d os
P ro ba b ilida de s d o s E strutu ra l
Ind ica d ores C h ave
E ven tos
4 . Ide n tifica çã o d as V a riá veis E xte rn as M o trizes e
da s V a riá ve is In te rna s D e p e n de n tes

6 . E stim a tiva d o s
7. A n álise de Im p a cto s
Im pa ctos do s E ven -to s
C ruzad o s
n os In dicad ore s

5. 6 . S IT U A Ç Ã O
8 . O pe raçã o d o R E T R O S P E C T IV A ATUAL
M o de lo d e A n álise d o s M e ca n ism o s G e rm e s de
Jo g os d o s T e nd ê n cia s M u d a nça
S im ula çã o
A tores A tores M o to re s P ro jeto s do s A to re s

F ig u ra 1 3 Ilu s tra ç ã o d a A n á lis e d e im p a c to s cru z ad o s n a


co n s tru çã o d e c e n á rio s

M é to do 7 . E S T R A T É G IA S D O S A T O R E S
"M A C T O R "

M éto d o d e 8. Jog o de H ipó te se s P ro b a biliza da s so b re


C on su lta a a s Q u e stõ e s C h ave P a ra o F u turo
E xp erts (P e s-
qu isa S M IC )

9 . C O N S T R U Ç Ã O D O S C E N Á R IO S
A ná lise T ra je tó ria s
M o rfo ló g ica Im a ge n s (C e na s)
P re visõ e s Q u an titativa s

M é to d os 1 0 . C o n ce p çã o d e E stra té gia s A llte rn a tiva s e


Entrantes
M u lticritério s
Entrantes P la n o s de A çã o
Potenciais
Potenciais

F ig u ra 14Ameaça
M eto d de
o lonovos
g ia d e c o n s tru ç ã o d e c en ário s (G o d et)
entrantes

Fornecedores
Fornecedores Compradores
Compradores

CONCORRENTES
CONCORRENTES
Poder de DA
DAINDUSTRIA
INDUSTRIA Poder de
Negociação Negociação

Rivalidades
Rivalidadesentre
entre
empresas
empresasexistentes
existentes

Ameaça de Serviços ou
Prod. Substitutos

Substitutos
Substitutos

Figura 15 Forças competitivas que determinam a


rentabilidade da indústria (Porter)
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Introdução à construção de cenários prospectivos

A
A

BB1[A]
[A] BB2[A]
[A] BBn[A]
[A]
1 2 n

C
C11[B
[B22,A]
,A] C
C22[B
[B22,A]
,A] C
Cnn[B
[B22,A]
,A]

d) A Análise Electre com os seguintes pressupostos:


d.1) Estrutura matricial dos critérios de decisão;
d.2 Limites de diferenciação por critérios;
d.3) Níveis de concordância e discordância;
d.4) Ordenamento baseado em critérios qualitativos.
Ilustração da análise Electre para três opções é:

Na construção de cenários é possível utilizar CRITÉRIO


OPÇÃO
técnicas e métodos das disciplinas que componentes 1 2 ... n
Métodos Multicritérios: Os métodos de avaliação e A g1(A) g2(A) gn(A)
decisão multicriterial compreendem, em geral, a seleção de B g1(B) g2(B) gn(B)
uma opção, dentre um conjunto de alternativas factíveis
C g1(C) g2(C) gn(C)
(aquelas que são estáveis, finitas, satisfazem um conjunto
de restrições e são possíveis e previsíveis), a otimização ...
com várias funções objetivas simultâneas e apenas um
agente decisor e os procedimentos de avaliação racional e
consistente; cada um dos conceitos é definido no campo Apesar de ser básico a elaboração de cenários coerentes,
teórico e com suporte na realidade. criativos e úteis para os propósitos de planejamento e
suporte à tomada de decisões, é preciso ter presente que a
Os principais métodos de avaliação e decisão razão de tal elaboração é traduzir as conseqüências dos
multicriterial podem ser agrupados em métodos contínuos cenários em decisões acertadas e em ações estratégicas;
e métodos discretos; neste último grupo são considerados: isto, porque sem as implementações das ações, o exercício
a) A ponderação linear de fatores do cenário (scoring). se torna inútil.

b) A utilidade multiatributo (MAUT). O ponto inicial para transformar cenário em ação é


definir um foco de decisão associado às necessidades de
c) A Análise hierárquica com os seguintes pressupostos: planejamento estratégico; em seguida, aplicar um método
c.1) estrutura hierárquica dos critérios de decisão; (p. ex., um dos descritos acima) que inclua avaliações
contínuas (p. ex., avaliações de risco e avaliações de
c.2) critério com importância relativa variável: “peso”; estratégias e desenvolvimento de estratégias utilizando
c.3) ordenamento baseado em critérios quantitativos; cenários como foco de planejamento, comparando-os com
situações sem o uso de cenário).
c.4) análise de sensibilidade.
Ilustração da Análise hierárquica, com três
níveis (A, B e C) de decisão multicriterial:

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