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Regular o uso do veto no Conselho de

Segurança: a proposta francesa

25 de janeiro de 2015 ∙ por Patricia Galves Derolle ∙ em Artigos, Diplomacia, Direito, Direito
Internacional, Direito Internacional, Estudos para o CACD, Multilateralismo, OIGs e ONGs,
Política Internacional, Política Internacional, Tópicos. ∙

(https://pgderolle.files.wordpress.com/2015/01/doubleveto.jpg)
Imagem: Google Images / scpss.org

Por Lucas Valente da Costa*

Semana passada, em Paris, um evento de alto nível organizado pela Sciences Po Paris e pelo
Ministério  de  Relações  Exteriores  francês  discutiu  a  regulação  do  uso  do  veto  no  Conselho
de Segurança da ONU em caso de atrocidades de massa. Estavam presentes o atual ministro
das  relações  exteriores  francês,  Laurent  Fabius,  assim  como  o  atual  representante
permanente  da  França  junto  à  ONU,  François  Delattre.  Outros  grandes  nomes  incluíam
Hubert Védrine, Gareth Evans e Jennifer Welsh. A lista com todos os panelistas e o programa
do  colóquio  podem  ser  vistos  aqui  (http://www.sciencespo.fr/psia/content/colloque‑
encadrement‑du‑veto#programme).

A proposta é francesa e foi levada a público em 2013 com a intenção de combater a paralisia
do  Conselho  de  Segurança  em  casos  de  grandes  atrocidades  –  genocídio,  graves  crimes  de
guerra  e  crimes  contra  a  humanidade.  Trata‑se  de  um  engajamento  dos  cinco  países  com
poder  de  veto  a,  voluntariamente  e  coletivamente,  não  recorrerem  ao  veto  em  casos  de
atrocidades  de  massa.  Apesar  de  a  França  ser  favorável  a  uma  reforma  do  Conselho,  não
seria  este  o  caso,  uma  vez  que  não  haveria  modificação  da  Carta  das  Nações  Unidas,  mas
simplesmente um engajamento voluntário dos membros permanentes do CS.

Os franceses, com essa proposta, querem evitar tragédias como a que acontece hoje na Síria,
onde  os  mortos  já  chegam  aos  200  mil  e  o  CS  não  age  por  causa  do  veto  da  Rússia  e  da
China. É uma proposta relativamente simples, rápida de ser implementada e que pode trazer
mais dinamismo para o Conselho.

No  colóquio,  a  maioria  dos  penalistas  se  mostrou  favorável  a  esta  que  seria  a  primeira
modificação do CS desde a expansão dos membros não permanentes há 50 anos. No entanto,
Stewart Patrick do Council on Foreign Relations, chamou atenção ao fato de que os Estados
Unidos ainda não se pronunciaram sobre a proposta, a qual ele considera muito geral. Oliver
Stuenkel, da Fundação Getulio Vargas, ressaltou que Rússia e China consideram o veto uma
ferramenta de poder e regular seu uso seria considerado retirar esse poder (ver artigo: Can
France  succeed  in  limiting  the  veto  in  cases  of  mass  atrocities?
(http://www.postwesternworld.com/2015/01/24/france‑limiting‑atrocities/)).  Dos  cinco
membros permanentes, portanto, apenas o Reino Unido se mostrou vocalmente favorável à
proposta francesa.

Um  aspecto  da  proposta  que  não  foi  profundamente  discutido  é  o  caso  de  exceção  a  essa
regulação  em  situações  de  conflito  com  interesses  nacionais  vitais.  Ou  seja,  enquanto  o
Secretário  Geral  da  ONU,  com  o  apoio  de  ao  menos  cinquenta  membros  da  Assembleia
Geral,  consideram  uma  situação  passível  de  ter  o  veto  regulado,  caso  haja  conflito  com
interesses vitais de um dos cinco membros, o veto pode ser usado. Esta exceção parece abrir
um  precedente  para  o  veto  que,  no  final  das  contas,  faz  da  proposta  francesa  perder
legitimidade,  já  que  interesses  vitais  nacionais  se  fazem  mais  importantes  que  a
responsabilidade coletiva.

Por um lado, caso seja colocada em prática, regular o uso do veto e toda a discussão que essa
proposta gera, pode ser um catalisador para um efetiva reforma do Conselho de Segurança
há  tanto  necessária,  como  já  debatido  por  Patricia  Derolle  em  artigo  (http://e‑
internacionalista.com.br/2014/12/17/o‑brasil‑deve‑continuar‑insistindo‑na‑reforma‑do‑
conselho‑de‑seguranca‑da‑onu/)  de  dezembro  do  e‑Internacionalista.  Apesar  das
controvérsias contidas na proposta em relação à exceção por interesses vitais e à definição de
atrocidades  de  massa  em  si,  em  determinadas  situações,  ela  pode  sim  prover  mais
flexibilidade  de  ação  e  legitimidade  ao  engessado  CS  e  à  ONU  como  um  todo.  Seria  uma
medida paliativa até que uma tão temida mas necessária reforma do Conselho seja posta em
prática.

(https://pgderolle.files.wordpress.com/2015/01/lucas.jpg)* Lucas Valente
da  Costa  é  candidato  a  duplo  diploma  em  Relações  Internacionais  na
Sciences Po Paris e na Columbia University em Nova York.

 
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