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Domingo, 25 de Março de 2018 ESTE SUPLEMENTO É PARTE INTEGRANTE DO JORNAL PÚBLICO N.º 10.200 E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE

ILUSTRAÇÃO MIGUEL FERASO CABRAL


Comércio
dos dados
pessoais
sem travões
P4 a 9

9c382e76-db39-49c1-aa5a-e59de0b3ba43
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2 • Público • Domingo, 25 de Março de 2018

Índice
4 10 14 16 1
Tema de capa Perfumes Greve também Infograma EUA, um
A vida debaixo do As histórias olfactivas é sinónimo país “automático”
microscópio das já são contadas de universidade? com um problema
grandes empresas em português No Reino Unido, sim de armas de fogo

Ficha técnica Director David Dinis Directora de Arte Sónia Matos Editor Sérgio B. Gomes Designers Marco Ferreira e Sandra Silva Email: sgomes@publico.pt

Semana ilustrada Por João Catarino

A tragédia repetiu-se. As falhas do


Estado voltaram a acontecer. As
alterações climáticas fizeram sentir-se
com força, por duas vezes, em 2017, e
provocaram o colapso das instituições
que deveriam garantir a protecção e
o socorro. Não era possível evitar a
tragédia, mas deveria ter sido possível
mitigá-la — é esta a conclusão dos
peritos independentes no relatório
sobre os incêndios de 15 de Outubro,
quatro meses depois de Pedrógão
Grande. O documento conhecido
esta semana fez estalar uma guerra
de culpas entre os responsáveis da
protecção civil e os políticos que na
altura estavam em funções. E desta
discussão não restará pedra sobre
pedra, mas terão de sair soluções
para o futuro que já está à porta,
avisa o Presidente da República e
avisa a população, que, desta vez,
apesar da chuva de Março, não
esqueceu os incêndios do Verão. O
Governo compromete-se a respeitar
as recomendações do novo relatório
como fez com o primeiro e garante
que algumas já estão em marcha;
outras são de implementação a
médio-longo prazo. Com problemas
na contratação de meios de combate
aéreo e com reforços de meios
humanos que ainda não se percebe
como vão agir no terreno, a poucos
meses da época de incêndios, as
dúvidas agudizam-se: estará o país
preparado para enfrentar novos
monstros, se as voltas do clima
puserem outra vez Portugal no olho de
furacões de fogo? Liliana Valente

Palavras, expressões e algumas irritações Por Rita Pimenta

Dados Além de pequenos cubos que


têm “em cada face determinado
número de pontos, desde um
O dicionário remete para
“processamento de dados”.
Quem tem grande agilidade
denunciada há dois anos e que
terá, entre outras manipulações,
influenciado os resultados
Também se regista “dado” como
“algo que se deu”, voluntariamente,
bem entendido. Pelo que
até seis, e que são usados em nessa prática e relação entre eleitorais nos EUA. E o presidente continuamos a ter o direito de
alguns jogos”, existem outros os dados pessoais e o seu executivo do Facebook querer que os nossos “dados” não
significados para este nome processamento é a Cambridge apresentou desculpas, mas fora sejam “dados” (nem vendidos).
masculino plural, “dados”. Analytica, “amiga” do Facebook de prazo: “Esta foi uma enorme Talvez o Regulamento Geral
Os que hoje nos interessam até há bem pouco tempo. falha de confiança e peço muita de Protecção de Dados que
são, por um lado, “informação Palavras de Mark Zuckerberg desculpa pela sua ocorrência. entrará em vigor a partir de 25 de
relativa a um indivíduo (ex.: nesta semana em entrevista à Temos a responsabilidade de Maio e que punirá o uso abusivo
dados pessoais)” e, por outro, CNN: “Foi claramente um erro proteger os dados das pessoas.” de dados pessoais discipline
“representação convencional de confiar neles, mas vamos tomar Disse ainda, sobre os passos gigantes da informação como o
uma informação, sob uma forma medidas para que o erro não seguintes: “Não sabemos o que Google e o Facebook. Mas esse
que permite o seu tratamento volte a acontecer.” vamos encontrar, mas vamos não é um “dado adquirido”.
automático”. Esta última provém O “erro” foi “a fuga dos dados rever milhares de aplicações —
da linguagem informática. de 50 milhões de utilizadores” vai ser um processo intensivo.” rpimenta@publico.pt
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Público • Domingo, 25 de Março de 2018 • 3

8 22 24 30 31
Entrevista “As pessoas O desporto Televisão Ugly Delicious, Estar bem Crónica
andam muito stressadas chegou ao ou a internacional da Mais actividade física, Os
porque comem animais trabalho comida feia Tecnologia menos diabetes. É telhados
stressados” À escuta pela floresta assim tão simples

Instagramar @rui_palha

Rui Palha não é fotógrafo esperar pelo resultado do que fiz que fotografo é o que mostro”, alguns sites de grande dimensão”,
profissional, mas podia ser. “É num determinado dia”, desabafa. garante. Rui não se deixa intimidar adivinha. O fotógrafo lisboeta
uma opção”, disse ao P2, em Atreve-se mesmo a escrever o que pelas novas tecnologias — o que encontra-se aposentado. “Agora
entrevista. “Sê-lo pressuporia uma que considera, de certo modo, talvez encontre explicação no posso dedicar-me à fotografia
‘submissão’ a um certo número “uma blasfémia”: “Acredito que facto de ter sido consultor de a tempo inteiro. A fotografia
de condicionantes”, algo que o Henri Cartier-Bresson, se fosse tecnologia informática durante de rua é e será o meu projecto
conduziria à perda “do poder de vivo, também usaria digital.” Rui quase toda a vida. “A Internet é permanente enquanto tiver pernas
ser criativo e independente de é um fotógrafo da velha guarda, muito importante para mim e e saúde para a executar.” Tem
tudo e de todos”, como gosta
de ser. ”Deste modo, faço só o
que gosto e quero — e não o que
da “velha escola” da fotografia
de Cartier-Bresson, Winogrand
e Nachtwey. Aprender com os
não apenas para difundir o meu
trabalho”, refere. ”Vejo muita
fotografia de muitos fotógrafos
outros projectos, de cariz social,
em bairros ditos “problemáticos”
dos arredores de Lisboa — onde
A seguir
os outros querem que eu faça”, clássicos “foi fundamental”, do mundo. Aprendo imenso.” também fotografa regularmente.
remata. O irreverente fotógrafo assegura. “Só se pode ter a noção Em Setembro de 2010 criou uma É na prática “do jogo de formas/ Rui Rio,
começou a disparar nas ruas de uma verdadeira escala de página no Facebook, onde passou arquitectura, luz/sombra” que se
de Lisboa aos 14 anos, em 1967, cinzentos quando já se passou a partilhar, regularmente, o seu sente feliz, inteiro. “A fotografia é
o começo
munido de uma câmara analógica pelo filme. E o diapositivo trabalho; hoje, a página é seguida descobrir, é captar, é dar vazão
Minolta de 16mm. Hoje, com 64 [também conhecido por slide], por por mais de 350 mil pessoas. ao que o coração sente e vê A semana que agora entra é
e rendido ao digital, mantém a exemplo, obrigava a uma disciplina No Instagram, @rui_palha reúne num determinado momento; é uma boa oportunidade para
velha máquina numa prateleira de enquadramento levada ao mais de 20 mil seguidores — experimentar, conhecer, aprender Rui Rio inaugurar, como pediu
— mas não sem “uma certa extremo. Nessa altura não havia número que reflecte uma adesão e, essencialmente, praticar a Santana Lopes, a liderança
nostalgia”. “Por vezes, apetece- cortes, reenquadramentos. Ou se tardia à aplicação, que data de liberdade de ser, de estar, de viver, do PSD. “Perdeu-se muito
me pegar nela, ir com ela para enquadrava bem ou o diapositivo Maio de 2016. A popularidade, de pensar.” E, enquanto assim for, tempo com coisas evitáveis
a rua. Mas, e depois, entrego o ia, necessariamente, para o lixo.” E porém, afigura-se-lhe como um Rui Palha irá continuar a disparar. e não se vê oposição (…).
filme para revelar a quem?” Já não muitos fotogramas terão tido esse verdadeiro mistério. “Aconteceu É altura de se começar a
dispõe, como outrora, de uma destino até Rui ter aperfeiçoado naturalmente, desconheço as Ana Marques Maia liderança do partido”, desafiou
câmara escura e do equipamento a sua técnica. Hoje, mais de 95% razões (…). Foi acontecendo ao recentemente o derrotado
necessário para a revelação dos das suas imagens preservam longo de vários anos, talvez pelo Ver mais em nas eleições internas, na SIC
filmes. “E não tenho paciência para o enquadramento original. “O facto de eu ter fotografias em p3.publico.pt Notícias, num comentário
que Rio interpretou de forma
peculiar. “O que eu interpretei
do que o dr. Santana Lopes
disse é que deveriam dar
oportunidade a que eu pudesse
inaugurar a liderança do PSD”,
explicou em Bruxelas. Assim,
na segunda-feira, o líder do
PSD tem o seu primeiro teste
no terreno: uma acção de rua
em Arganil, onde estará com
deputados do seu partido de
visita a zonas ardidas. No dia
seguinte, o teste é um pouco
mais musculado: Rio reúne-
-se com a comissão política
para divulgar os nomes dos
16 dirigentes equiparados a
parlamentares que vão compor
o conselho estratégico do PSD
(uma espécie de governo-
-sombra). O líder do PSD
encontra-se ainda, ao final do
dia, com os presidentes de
todas as distritais do partido
pela primeira vez desde o
congresso. Sónia Sapage
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4 • Público • Domingo, 25 de Março de 2018

A vida debaixo
do microscópio
das grandes
empresas

Por Karla Pequenino texto Miguel Feraso Cabral ilustração

O Facebook admitiu que milhões de dados


dos utilizadores foram vendidos a campanhas
políticas, mas o número de utilizadores
pouco mudou. Ter empresas a usar os nossos
dados começa a ser visto como normal
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Público • Domingo, 25 de Março de 2018 • 5

“M
asqualescândalo
do Facebook?”
Os problemas
de privacidade
do Facebook
têm feito cor-
rer muita tin-
ta nos últimos
dias, mas a pergunta ainda se ouve na rua, e de
acordo com o fundador, Mark Zuckerberg, são
poucos os utilizadores que deixaram mesmo a
rede social.
Foi durante o fim-de-semana passado que
se descobriu que a empresa tinha escondido
a venda de dados pessoais — sobre os gostos,
idade, geografia, relações, crenças, medos — de
cerca de 50 milhões de utilizadores a uma em-
presa britânica de recolha e análise de dados, a
Cambridge Analytica. Esta, por sua vez, usou-a
em várias campanhas políticas: desde a saída
do Reino Unido da União Europeia e a corrida
de Donald Trump à Casa Branca, a eleições em
países como o Quénia e a Nigéria.
O Parlamento Europeu já abriu uma inves-
tigação ao caso. A Comissão Federal para o
Comércio dos EUA também. O Presidente da
Cambridge Analytica foi suspenso, e a expres-
são “#DeleteFacebook” tornou-se viral noutras
redes sociais, com celebridades e empresários a
eliminarem as suas contas. Na Internet, porém,
ainda há quem descreva a situação como “um
exagero” e critique comparações ao sistema
de controlo descrito no livro 1984 de George
Orwell.
Roni, uma estudante chinesa no Reino Unido
não faz parte desse grupo. “Temos de saber se a
nossa informação é usada e onde é usada”, diz
numa chamada de voz com o PÚBLICO, em que
a jovem de 25 anos pediu para não utilizarmos o
seu nome verdadeiro. Tem muito cuidado sobre
aquilo que escreve e partilha online.
Desde 2014 que a China está a desenvolver
um sistema social para classificar e hierarquizar
cada um dos seus 1,3 mil milhões de cidadãos
a partir dos dados pessoais que entregam às
aplicações móveis e serviços públicos. Essa
pontuação, que varia entre 350 e 950 pontos,
pode determinar o acesso ao emprego, o preço
dos produtos, o lugar num comboio, o tempo
que se passa na fila do aeroporto (e a entrada
no avião), e até a pessoa que escolhe para na-
morar ou a escola onde os filhos estudam. O
objectivo é que esteja totalmente operacional
em 2020.
Uma das primeiras etapas começou nas redes
sociais chinesas para fazer pagamentos. “Nós já
temos sistemas de crédito social a ser testados
no Alipay e no WeChat Pay. Estas aplicações
mostram-nos a nossa pontuação. Se tivermos
uma muito alta, podemos receber descontos,
empréstimos, ou alugar uma bicicleta de graça.
Nestes casos, até é bom”, diz a jovem chinesa
depois de enviar uma fotografia da aplicação
Alipay onde se vê uma pontuação de 642. c
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6 • Público • Domingo, 25 de Março de 2018

Controlo por crédito


O conceito de “crédito social” tornou-se
num jogo em que os cidadãos competem
através de jogos e do tempo que passam
numa aplicação. O Governo chinês não
desiste do sistema de crédito a partir das
novas tecnologias

“Mas de certeza que guardam informação de Para Morozov, que escreveu um livro dedi-
todo o tipo, do que partilhamos nas redes aos cado ao lado negro da Internet, é necessário
pagamentos que fazemos. A Sina, a versão chi- um novo modelo de controlo de dados em que
nesa do Twitter, já começou a fazer isto.” os clientes são os donos. “Têm de ser vistos
O Zhima Credit (a empresa responsável pelo como mais do que ‘mercadorias’ que podem
sistema do Alipay) foi uma das oito empresas ser vendidas e transaccionadas no mercado
que o Governo Chinês avisou em 2015 para co- aberto ou negro.”
meçar a preparar modelos de crédito. O Baihe, Afinal, a informação electrónica sobre as pes-
um site de encontros amorosos, é outro dos ser- soas, utilizada para tomar decisões políticas,
viços que o usa. “Eles motivam-nos a aumentar económicas e sociais já não se recolhe apenas
a nossa pontuação, e mostram formas como o na Internet ou em países autoritários. Começam
podemos fazer”, explica Roni. “Para ser since- a surgir cada vez mais cidades equipadas com
ra, acho que a maioria das pessoas ainda não sensores e monitores que as fazem ser descritas
acredita que esta informação vai ser utilizada como “inteligentes”. A cidade de Eindhoven,
no crédito social, quando entrar em vigor.” na Holanda, é um exemplo: desde 2014, uma
das ruas mais problemáticas (com bares e ri-
Governo versus empresas xas nocturnas) passou a ter candeeiros de rua
equipados com câmaras, microfones, e rastre-
O Governo chinês também começa a ter dú- adores de Wi-Fi que detectam comportamento
vidas sobre o uso de dados de grandes multi- problemático e avisam as autoridades.
nacionais. Em meados de Fevereiro, o Banco Londres, Barcelona, Singapura, Boston e
Popular da China revelou preocupações de que Dubai são outras cidades com tecnologia que
os sistemas de crédito construídos pela Ten- permite monitorizar a poluição do ar, o barulho
cent e a Alibaba, responsáveis pelo WeChat e nas ruas, ou os locais livres em parques de esta-
pelo AliPay respectivamente, fossem utilizados cionamento. Na grande maioria dos casos, a in-
como ferramentas de marketing para vender formação é toda transferida para grandes redes
produtos, incluindo investimentos perigosos. de computadores onde é agregada e anonimi-
As diferentes fórmulas utilizadas para calcular a zada para retirar conclusões sobre indicadores
pontuação dos utilizadores eram um mistério, estatísticos. Ou seja, é impossível conhecer a
com o número de minutos de exercício diário origem exacta da informação ou seguir pessoas
a fazer parte de algumas métricas. a partir dos dados recolhidos.
O conceito de “crédito social” tornou-se num Mas há situações em que a tecnologia falha
jogo em que os cidadãos competem através de ou as empresas que a controlam abusam. Em
jogos e do tempo que passavam numa aplica- 2013, a cidade de Londres foi protagonista de
ção. O Governo chinês não desiste do sistema um caso particularmente flagrante quando uma
de crédito a partir das novas tecnologias (des- empresa chamada Renew London testou um
crevendo-o como “um mecanismo institucional programa com caixotes de reciclagem capazes
que valoriza a integridade e penaliza a desones- de seguir o percurso de telemóveis que passa-
tidade”), mas a Tencent foi obrigada a travar o vam por perto com o Wi-Fi ligado. Os sensores
lançamento nacional do rival da Zhima. Parece instalados nos caixotes acediam ao endereço
que a visão de um mundo onde se sabe tudo dos MAC (Media Access Control) dos aparelhos — um
cidadãos e das organizações não funciona com identificador físico único associado a um dispo-
empresas rivais a controlar os sistemas. sitivo que pode ajudar a localizar smartphones
Independentemente da geografia, as grandes perdidos — para determinar percursos diários
empreas tecnológicas tendem a achar que po- das pessoas e enviar anúncios personalizados
dem analisar, guardar e utilizar os dados que de cafés, restaurantes e lojas nas redondezas. O
lhes chegam, desde que mantenham a sua con- projecto foi descontinuado assim que a situação
fidencialidade. Isto inclui os locais por onde as veio à tona, e o governo da cidade descobriu:
pessoas passam, as pessoas com quem falam “Independentemente do que é tecnicamente
na Internet, e os sites que visitam. O potencial possível, qualquer coisa que funciona a este
para abuso é enorme, mas há quem critique a nível nas estradas tem de ser feito com cuidado,
origem do debate. e com o consentimento do público,” lia-se num
“Leva as elites políticas nos Estados Unidos comunicado publicado na altura.
e na Europa a achar que os problemas que en-
frentam por causa do Trump e dos novos mo- Directiva europeia não é solução
vimentos políticos são culpa das redes sociais,
dos bots, ou neste caso da Cambridge Analyti- A situação é um exemplo claro do que Moro-
ca”, alerta o investigador e autor Evgeny Moro- zov critica. O novo Regulamento Geral para a
zov, num email enviado ao PÚBLICO. Há anos Protecção de Dados (RGPD) na União Euro-
que o bielorrusso estuda os impactos políticos peia — que entra em vigor dia 25 de Maio —
e sociais da tecnologia. “A grande questão aqui é visto como uma solução pelas autoridades
é a de que os dados e as infra-estruturas que europeias.
geram têm um grande valor económico, mas já Para Portugal, de acordo com um comuni-
não são nem do Estado nem dos cidadãos.” cado da Presidência do Conselho de Ministros,
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Público • Domingo, 25 de Março de 2018 • 7


THOMAS PETER/REUTERS

A Renew London chegou


a testar um programa
com caixotes de reciclagem
que seguiam telemóveis
próximos com o Wi-Fi ligado

o objectivo é “proteger o cidadão face ao tra- têm todas laboratórios dedicados à tecnolo- a grande culpada é mesmo a mercantilização
tamento de dados de pessoas em larga escala gia. “Com o desenvolvimento da inteligência da informação. É o problema em comum de to-
por grandes empresas e serviços da sociedade artificial nas mãos de grandes empresas, isto dos os problemas, desde empresas que criaram
de informação”. As empresas que desrespeita- torna-as imensamente poderosas e permite que anúncios falsos e notícias falsas para ganhar
rem as novas regras serão sujeitas a coimas que possam, um dia, ditar o acesso que temos de dinheiro à custa das eleições, ao sistema de re-
podem chegar aos 20 milhões de euros, ou 4% diferentes serviços.” ciclagem que seguia os londrinos, à Cambridge
do volume de negócios anual de uma empresa, A União Europeia define dados pessoais co- Analytica que vendeu dados de pessoas que
consoante o valor que for mais alto. mo “qualquer tipo de informação relacionada respondiam a um teste psicológico da Internet,
Morozov não se convence. Embora o novo com uma pessoa identificada ou que pode ser ou tinham amigos que respondiam.
regulamento exija mais transparência, con- identificada”. Ou seja, dados sobre o sistema “Acabar com o Facebook ou com as redes
sentimento e responsabilidade pela gestão dos financeiro, o clima, a poluição, o número de sociais é tão realista como dizer ‘acabem com
dados, não muda o modelo: quem recolhe os carros a passar numa rua, continuam a ser mo- as estradas’ ou ‘acabem com tudo a gás’. As
dados é quem os controla. eda de troca entre grandes empresas. plataformas digitais são parte da infra-estrutura
“O RGPD até podia ser uma boa solução, se da sociedade”, realça Morozov. “A demissão do
estivesse combinada com uma estratégia eu- O modelo económico é o culpado Zuckerberg não iria mudar nada.”
ropeia ambiciosa para o desenvolvimento da Quem depende das redes sociais para falar
inteligência artificial”, explica o bielorusso. “O problema com os dados não é legal, é econó- com familiares que estão longe, pesquisar infor-
A Google, o Facebook e a chinesa Tencent já mico,” frisa Morozov. Aos olhos do investigador, mação, ou encontrar grupos que partilham os
mesmos interesses (por muito obscuros que se-
jam), não as vai deixar facilmente. Mesmo que

Os culpados somos nós? O que os gigantes o faça, é provável que continue a utilizar outros
serviços da mesma empresa: tanto o Instagram,
da Internet sabem da nossa vida como o serviço de mensagens WhatsApp, por
exemplo, pertencem ao Facebook.
E é o próprio fundador do Facebook, Mark
Queremos privacidade, mas não sistemas podem ser desactivados, mas Zuckerberg, que diz que precisa de mais leis
paramos de partilhar informação. Cada tendem a passar despercebidos. ao nível da publicidade. “Não tenho a certe-
vez que utilizamos o smartphone, za sobre se não devemos ser regulamentados,
andamos com ele no bolso, ou abrimos • As nossas pesquisas anónimas mas adorava ver regulamentação sobre trans-
uma página na Internet, deixamos As janelas de navegação privadas parência na publicidade”, disse à CNN, numa
“pegadas digitais”. Eis os que os dos motores de busca — seja o das muitas entrevistas que fez na quarta-feira
gigantes da Internet sabem de nós: Chrome, o Bing ou o Edge — não são à tarde, quando emergiu depois de cinco dias
completamente privadas e continuam em silêncio desde o início do escândalo de re-
• Idade e género a ser utilizadas para cookies. São colha de dados.
Mesmo que não tenhamos preenchido pequenos ficheiros colocados nos Morozov descreve a situação como um em-
esses dados no nosso perfil. O Twitter computadores dos utilizadores que purrão para construir plataformas e serviços
explica o processo nas suas definições, seguem a actividade online de quem que não ponham a identidade digital e elec-
ao lado da informação que escreve visitava uma página. trónica das pessoas nas mãos de anunciantes.
sobre nós: “Se não adicionou um “Se não resolvermos o problema agora, vamos
género, esta é que está mais associada • A nossa voz ver muitas consequências económicas, como
à sua conta com base no seu perfil e O Google regista o som da nossa voz o aumento de desigualdade social”, alerta. “Já
actividade.” A informação não é pública, quando utilizamos a assistente virtual não falta muito tempo.”
mas chega aos anunciantes. da empresa, ou activamos o gravador O debate sobre como o fazer, porém, perdu-
do tradutor da Google. A informação ra. Enquanto as soluções demoram na Internet,
• A nossa localização é usada para melhorar o sistema de quem não ignora títulos sobre a falta de priva-
A partir das nossas fotografias ou do reconhecimento de voz, mas também cidade na Internet, dados roubados e notícias
smartphone que vai connosco para para a empresa “aprender o som” da falsas, começa a perder a sensibilidade sobre
todo o lado. Há um site inglês que nossa voz individual e a nossa maneira o tema. Há sítios onde a privacidade online já
mostra como se pode descobrir onde única de dizer palavras. nem é vista como um direito. Em conversa com
alguém está a partir de fotografias que o PÚBLICO, uma produtora chinesa de conteú-
publica do seu gato. O mapa do site • Interesses, gostos e crenças do visual defende o sistema que o seu país está
utiliza os metadados nos ficheiros: dos nossos amigos a tentar impor. “Para ser sincera, eu já não me
ou seja, informação como a origem e Partilhamo-los com o Facebook quando sinto muito mal. A nossa vida é cada vez mais
data de uma fotografia que é criada utilizamos uma aplicação. “As pessoas transparente. Ao menos sabemos o que está a
automaticamente por câmaras digitais, que podem ver a tua informação acontecer”.
ou telemóveis. A precisão do site é de também podem levá-la consigo quando O futuro que George Orwell imaginou po-
7,8 metros. utilizam aplicações”, lê-se nas definições de não estar assim tão longe. Como comenta
Os serviços de mapas da Apple e do site que podem ser alteradas, mas um dos utilizadores do Facebook, numa no-
do Google também têm serviços que passam despercebidas. A informação tícia do PÚBLICO sobre o tema: “Mas alguém
mostram, dia após dia, todos os sítios está toda nas definições de privacidade ainda acha que a partir do momento em que
por onde passamos e se viajamos a pé, destes sites. É este tipo de informação estão numa rede social têm direito a alguma
de carro, ou de transportes públicos. que permite esquemas como o da privacidade?”
Basta andar com um telemóvel que Cambridge Analytica de funcionarem. É
acedeu a uma conta destes gigantes. Os importante ler as letras pequeninas. karla.pequenino@publico.pt
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8 • Público • Domingo, 25 de Março de 2018

Enquanto o Ocidente teme os efeitos do Facebook no processo


democrático, na Ásia a rede social é acusada de ter facilitado
conflitos étnicos e projectos de consolidação de poder
autoritário. Um responsável da rede diz perder “algum sono”
com o problema, mas admite não ter solução
Por Pedro Guerreiro

Uma ferramenta
para ditadores
e genocidas
É
tentador limitarmo-nos a de- que na sua última edição declarou em manche- desses seis países foi precisamente o Camboja,
bater como o Facebook tem te que o país se tornou uma ditadura. onde as publicações de jornais independentes
sido uma ferramenta central Sem crítica nem contraditório, o primeiro- e de serviços internacionais como o da Rádio
em operações de influência ministro Hun Sen, no poder há 33 anos e candi- Ásia Livre (filial da Voz da América) desapare-
e manipulação do eleitorado dato às eleições de Julho, fez do Facebook o seu ceram dos feeds dos utilizadores. O Post Khmer,
nos Estados Unidos, no Reino órgão oficial e por lá protagoniza um estranho um jornal independente de Phnom Penh, disse
Unido ou em Itália, mas tam- fenómeno de popularidade. Tem 9,6 milhões à BBC ter perdido pelo menos 35% das audiên-
bém no Quénia. No entanto, de fãs, apesar de o número oficial de utilizado- cias e foi obrigado a pagar posts. a incitar à violência e ao ódio contra os rohin-
o problema de uma rede social que se tornou res do Facebook no Camboja pouco ultrapassar A experiência do algoritmo foi oficialmente gya e outras minorias”.
uma praça pública global, e cujo sentido de res- os seis milhões. Consegue o feito de ser o oita- suspensa a 1 de Março. Quanto ao processo O mais influente desses extremistas é o mon-
ponsabilidade não acompanhou o crescimento vo líder político mais popular da rede a nível movido na Califórnia sobre a página de Hun ge budista Ashin Wirathu, que apela ao extermí-
explosivo do seu número de utilizadores, vai mundial e o terceiro com maiores índices de Sen, o Facebook continua em silêncio. nio dos rohingya e não enjeita as comparações
muito além do seu impacto nas democracias interacção, segundo uma análise da empresa que lhe são feitas na imprensa internacional a
avançadas ou em desenvolvimento. Em paí- de relações públicas Burson-Marsteller. Rede transformou-se num “monstro” Adolf Hitler e Osama bin Laden. Recorrente-
ses com fracas instituições, reduzida literacia, Sam Rainsy, o dirigente da oposição exila- O Facebook enfrenta acusações mais graves na mente proibido de proferir sermões na Birmâ-
uma imprensa manietada, tensões étnicas e do, diz que a presença digital de Hun Sen foi Birmânia, outro país que acordou tarde para a nia, e depois de vários anos a distribuir DVD
religiosas, ou onde a Internet chegou tarde e inflacionada por posts pagos e fãs comprados Internet e onde a rede ocupa o papel central na com os seus discursos de ódio, encontrou no
se resume praticamente à rede social de Mark a “fábricas de cliques”. Em Fevereiro, advoga- paisagem virtual — e, tal como no Camboja, on- Facebook uma plataforma para a sua mensa-
Zuckerberg, os erros e omissões do Facebook dos do político entraram com uma acção num de a imprensa independente tem um alcance gem. Foi suspenso várias vezes, mas foi só em
custam vidas. tribunal da Califórnia para exigir ao Facebook limitado e vive sob fortes constrangimentos. Janeiro que a rede apagou definitivamente a
Muito longe das atenções dos últimos dias, que revele “informação importante sobre a ma- A 12 de Março, Marzuki Darusman, líder de sua página.
por exemplo, o Camboja transformou-se num nipulação das redes sociais por Hun Sen para uma missão de apuramento de factos das Na- Mesmo sem Wirathu, o Facebook continua a
país onde a mensagem do líder autoritário Hun defraudar o eleitorado do Camboja e cometer ções Unidas na Birmânia, acusou o Facebook ser uma fonte de desinformação e propaganda
Sen passa sem filtros através do Facebook, on- abusos de direitos humanos”, segundo noticia- de ter tido um “papel determinante” na violên- extremista na Birmânia, onde 38% do público
de a oposição diz ocorrer um fenómeno sus- va a Reuters. “Esta levanta questões fundamen- cia contra a minoria muçulmana rohingya, alvo tem na rede a sua principal fonte de notícias e
peito, ao mesmo tempo que a comunicação tais sobre como o Facebook deveria lidar com de uma campanha por parte de extremistas a empresa diz não encontrar parceiros credí-
social é silenciada. abusadores dos direitos humanos que manipu- budistas e das forças militares que tem valido veis para exercícios de verificação de factos. O
A nação do Sudeste asiático, que nos anos lam eleições”, dizem os advogados. acusações de “genocídio” e “limpeza étnica” problema das notícias falsas assume especial
70 perdeu um quinto da população às mãos Perante este cenário, o Facebook é acusado por parte de observadores internacionais. gravidade, com responsáveis militares e polí-
do regime dos Khmeres Vermelhos, vai a votos de ter ainda agravado a situação. No final de “Contribuiu substantivamente para o nível ticos, incluindo o porta-voz de Aung San Suu
em Julho. O líder da oposição, Kem Sokha, do 2017, a empresa testou em seis países uma mu- de animosidade, discórdia e conflito na opinião Kyi (líder birmanesa de facto), a disseminarem
Partido de Salvação Nacional, foi detido e acu- dança do algoritmo e da estrutura do feed de pública. O discurso de ódio é certamente uma informação incorrecta sobre a crise dos rohin-
sado de colaborar com os EUA para derrubar notícias para privilegiar as publicações de per- parte disso. Em relação à Birmânia, as redes gya e a empregarem abusivamente o termo
Hun Sen. Sam Rainsy, anterior líder do mesmo fis pessoais em detrimento das publicações de sociais são o Facebook e o Facebook são as fake news contra jornalistas independentes e
partido, foi forçado ao exílio em França. No úl- páginas de empresas, incluindo órgãos de co- redes sociais”, disse citado pela Reuters. órgãos estrangeiros.
timo Verão, o regime fechou dezenas de rádios municação social (o objectivo era tentar conter “Temo que o Facebook se tenha tornado Mais de 700 mil muçulmanos foram força-
regionais que retransmitiam noticiários da Voz a recente quebra dos índices de interacção en- num monstro”, disse na mesma altura Yanghee dos a fugir para o vizinho Bangladesh desde
da América e, reclamando impostos em atraso, tre utilizadores). Nesses países, vários jornais, Lee, investigadora das Nações Unidas, citando Agosto de 2017 e um número indeterminado
levou ao encerramento o principal jornal inde- rádios e televisões viram as visitas aos seus sites o exemplo de “budistas ultranacionalistas que de civis foram assassinados ou morreram du-
pendente de língua inglesa, o Cambodia Daily, oriundas do Facebook cair drasticamente. Um com os seus próprios perfis de Facebook estão rante a fuga.
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Público • Domingo, 25 de Março de 2018 • 9


TYRONE SIU/REUTERS

Há uma semana, Adam Mosseri, um alto res-


ponsável do Facebook, admitia num podcast
da revista Slate que a empresa perdia “algum
sono” a pensar na situação na Birmânia, mas
dizia não ter solução para o problema. No Twit-
ter, o colunista do The New York Times Kevin
Roose respondeu à confissão de impotência
de Mosseri: “Então por que não encerram o
Facebook ali?”

“Matem todos os muçulmanos”


O Sri Lanka é outro país predominantemente
budista e com um historial de violência entre
comunidades étnicas e religiosas que enfrenta
um problema de incitamento ao ódio no Face-
book. Este mês, o Governo suspendeu o acesso
à rede e também ao Instagram, WhatsApp e
Viber durante uma semana para travar a circu-
lação de mensagens a apelar a ataques contra a
minoria muçulmana. Pelo menos duas pessoas
morreram e dezenas de mesquitas, casas e lojas
pertencentes a muçulmanos foram destruídas
na região de Kandy.
A violência no Sri Lanka tem aumentado des-
de 2017, com os extremistas budistas a justifica-
rem as suas acções com crimes supostamente
cometidos por muçulmanos. Aqui, mais uma
vez, o Facebook tem sido uma ferramenta para
a disseminação de boatos. Às notícias falsas
juntam-se memes e vídeos (com o YouTube a
ser outro foco de propaganda) que vendem

Uma nova lei e um novo desafio a ideia de uma conspiração para islamizar o
país através da arma demográfica (citam-se
dados duvidosos sobre os índices de fertilida-
• O abuso de dados pessoais, como no Ganha também força o “direito a existirem decisões judiciais, textos de das famílias muçulmanas) e de conversões
caso Cambridge Analytica, e fugas de ser esquecido”, que prevê que se legislativos de países como a Alemanha, forçadas.
informação privada em larga escala, possa pedir para apagar informação o Reino Unido ou os EUA sugerem que “Acabou-se a paciência. A faca que tens em
como as que atingiram a Yahoo, a armazenada. No entanto, a lei colide o conteúdo ilegal pode tornar ilegal a casa não serve só para cortar a fruta”, ouvia-se
Equifax ou o site Ashley Madison, vão com o advento de tecnologias que não posse da blockchain”, alertam. num dos vídeos que circularam nas semanas
ser severamente punidos a partir de permitem que se “esqueça” um dado. O mesmo problema se coloca em anteriores ao pogrom de Kandy.
25 de Maio. O Regulamento Geral A blockchain, tecnologia na qual a relação a fugas de dados. Ao P2, Roman O Governo de Colombo, justificando o blo-
de Protecção de Dados (RGPD) terá moeda virtual bitcoin assenta, é uma Matzutt, da Universidade de Aachen, queio de Março, acusa o Facebook e outros
consequências em todo o mundo, base de dados distribuída que tem afirma que “as blockchains podem gigantes da Internet de terem agido tardia-
abrangendo não só entidades europeias como característica o facto de os seus ser simultaneamente uma ameaça e mente aos sinais de alarme. “Este país inteiro
como as que detêm dados de residentes registos não poderem ser alterados. A uma possível solução”. Em teoria, uma podia ter ficado em chamas numa questão de
do espaço comunitário, o que inclui o transparência radical da blockchain, estrutura descentralizada pode “mitigar horas”, disse o ministro das Comunicações,
Facebook ou a Google. bem como a encriptação e a natureza erros individuais que levam à fuga de Harin Fernando, citado pelo The Guardian.
Para os consumidores, a lei passa a distribuída (replicada em inúmeros dados em serviços centralizados como “O discurso de ódio não está a ser controlado
consagrar os dados pessoais como computadores), entusiasma quem nela o Yahoo e o Google”. No entanto, a por estas organizações e tornou-se um grave
sua propriedade. Estes só podem ser vê uma ferramenta para a publicação de tecnologia ainda não oferece o nível de problema global.”
utilizados para fins expressamente contratos, diplomas ou notícias. desempenho e rapidez de um serviço “O Facebook não está a reagir tão rapida-
declarados e autorizados e têm de ser Porém, investigadores das universidades centralizado. Sobram os riscos. mente quanto queríamos. Demoraram vários
apagados após o uso ou devolvidos alemãs de Aachen e de Frankfurt alertam “No nosso artigo discutimos incidentes dias a rever publicações e a eliminar páginas”,
ao consumidor. O RGPD obrigará para questões legais. Os pesquisadores de doxxing, um comportamento hostil disse. No Twitter, Fernando deu o exemplo de
as entidades com mais de 250 encontraram cerca de 1600 ficheiros na em que utilizadores revelam a identidade mensagem partilhada no Facebook a apelar à
funcionários, ou que trabalhem com blockchain do bitcoin não relacionados de outro. Isto já aconteceu na blockchain morte de muçulmanos: “Matem todos os mu-
grande volume de dados, a ter um com a moeda virtual. Destes, muitos e se se tiver acesso fácil e permanente çulmanos, não deixem sequer as crias desses
encarregado de protecção de dados continham informações pessoais e a tais dados, é claro que a divulgação cães escaparem.” A publicação foi denunciada.
com deveres legais como o de informar oito eram de cariz sexual, incluindo irresponsável pode ter consequências Seis dias depois, chegou a resposta de que não
imediatamente as autoridades em três de teor pedófilo. Os ficheiros não graves”, diz Matzutt, que apela a que violava qualquer regra específica do Facebook.
caso de ataque informático. As multas podem ser apagados e, ao estarem se deixe de pensar na blockchain como A empresa diz agora que vai contratar mais
por incumprimento podem chegar a replicados em computadores de todo uma “moda” e que se desenvolva moderadores de língua cingalesa.
20 milhões de euros ou 4% do volume o mundo, podem causar problemas tecnologia “com uma base científica
global de negócios da empresa. aos utilizadores. “Apesar de ainda não devidamente pesquisada”. P.G. pedro.guerreiro@publico.pt
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10 • Público • Domingo, 25 de Março de 2018

Perfumes
As histórias
olfactivas já
são contadas C omeça a ser moda fazer e ter
perfumes made in Portugal.
Os joalheiros querem, os de-
signers também, as grandes
marcas e até pessoas a títu-

em português
lo individual desejam um
perfume em nome próprio.
Além dos perfumistas que
desenvolvem os perfumes, existem também
fábricas que os produzem. A primeira em
Portugal surgiu no século XIX, mas dois sécu-
los depois, há, pelo menos, uma fábrica que as
marcas de luxo estrangeiras procuram porque
produz em grande escala.
A Nortempresa Perfume LAB abriu em Bra-
ga, em 2016, num investimento superior a dois
milhões de euros e consegue produzir mais de
20 mil perfumes por dia. Durante anos, a em-
presa tinha a sua própria marca de perfumes,

Há novas empresas que recebem encomendas a Ydentik, que era feita no exterior, até que um
dia, Daniel Vilaça, proprietário da empresa
pensou: “Por que não fazê-los eu?” Para isso,
não só de marcas portuguesas, mas também era preciso ter maquinaria moderna, linhas
automáticas de enchimento e embalamento.
Da ideia à concretização do projecto foi um ins-
de marcas de luxo estrangeiras que pedem tante. “Abri a primeira fábrica de perfumes, em
Portugal, com total especialização na produ-

perfumes made in Portugal ção, com a mais alta tecnologia. Não havia nada
assim”, orgulha-se. A empresa tem 14 postos
de trabalho e no final de 2017 facturou cerca
um milhão e meio de euros.
Por Susana Pinheiro texto Adriano Miranda Fotografia Antes de Daniel Vilaça, já havia outras fábri-
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Público • Domingo, 25 de Março de 2018 • 11

mes criam a empresa I-Sensis — Investigação


e Desenvolvimento em Engenharia Química,
Lda. “Não havia nada assim, nessa altura em
Portugal”, recorda Vera Mata, que entretanto
saiu da I-Sensis e abriu, em 2014, a empresa de
produtos perfumados e aromatização Ownya,
para trabalhar com o mercado internacional.
Agora já não desenvolve perfumes para uso
pessoal como então fez na I-Sensis; por estes
dias, cria perfumes e ambientadores em spray
para casa e velas. Regressando ao ano 2004,
a empresa surgia para a formulação de perfu-
mes inovadores e exclusivos à medida do clien-
te. “Notámos que havia uma oportunidade de
negócio na parte da composição dos produtos
perfumados”, acrescenta a então sócia e actual
proprietária, Paula Gomes, em conjunto com
o director comercial Eduardo Oliveira. Mais,
prossegue, “o cliente não queria apenas o per-
fume, mas sim o produto chave-na-mão, desde
o desenvolvimento do frasco até ao design da
embalagem”. Foi o que fizeram.
Depois, o ano de 2008 foi marcante. “A ca-
deia de lojas de crianças Knot procura-nos para
aromatizar a loja e, dois anos depois, criámos
o perfume da marca”, conta Vera Mata. Come-
çava aqui uma nova tendência no mercado.
“Era um prestígio as marcas e lojas terem um
perfume seu.” Cada vez mais empresas co-
meçam a comprar fragrâncias em Espanha e
Itália, só que não eram originais. Foi aqui que
a I-Sensis encontrou um espaço no mercado
cas, laboratórios e perfumistas a trabalhar em
Portugal. Afonso Oliveira, coleccionador de
miniaturas e de frascos de perfumes, fez uma
uso corporal nas suas marcas Castelbel e Portus
Cale. Saem da unidade de Castêlo da Maia, onde
também se fabricam produtos perfumados de
Um perfume onde poderia vingar: criar fragrâncias à medida
do cliente. Surge o Amor-Perfeito para mulher
e outro para homem do estilista José António
pesquisa por conta própria. Encontrou três
dezenas de fábricas nacionais. Muitas delas
luxo para a casa e corpo, desde sabonetes, loção
corporal, gel de duche, velas, saquetas, papéis
é um acessório Tenente que foi desenvolvido por Luís Pereira,
da 100 ml. Paula Gomes lembra-se bem dessa
fecharam há anos. “A primeira fábrica de per-
fumes em Portugal, a Phomaz e Mendonça e
Filhos, Lda, surgiu no ano de 1850, em Lisboa”,
perfumados e vaporizadores de fragrâncias,
não só para Portugal como para exportação.
No mesmo ano, em Coruche, surge a Laver-
como uma altura: “Foi um grande desafio. Tínhamos de
traduzir o perfume do amor-perfeito.” Tinham
de concretizar em aromas uma ideia abstracta
conta ao P2. Também pesquisou sobre a Arch.
Brito, fundada em 1887 com o nome Claus &
de que fabrica produtos de cosmética e higiene
corporal para outras empresas e marcas do
jóia. Pode que o cliente lhes levava.

Schweder, no Porto, pelos alemães Ferdinand


Claus e Georges Schweder. Passou, anos de-
pois, para as mãos do português Achilles Brito,
país e do estrangeiro. “Fabricamos para mui-
tas marcas, mas não as podemos divulgar”,
diz Nicole Carocha, directora técnica e filha
fazer a mulher Uma narrativa olfactiva
Seguiram-se as marcas de roupa de criança
com a designação Ach. Brito. Tem o bisneto
Aquiles de Brito à frente da empresa. Pelo 130.º
do proprietário, pois aquelas pedem o anoni-
mato. A empresa exporta para a Alemanha,
sentir-se mais Laranjinha e a Metro Kids. “O grande boom foi
em 2009 e 2010 com as marcas de retalho a
aniversário da marca, em 2017, o empresário
lançou o Le Parfum. A perfumista inglesa Lyn
Harris criou uma fragrância unissexo inspirada
Suíça e França, desde perfumes e águas-de-
colónia para uso corporal a ambientadores e
difusores para a casa. Também fabrica cham-
encantadora, quererem ter perfumes de marca própria, co-
mo a Women Secret”, recorda Vera Mata.
Estava lançado o caminho para as marcas
em Portugal.
Anos depois da Arch. Brito, corria o ano de
pôs, sabonetes líquidos e cremes solares. Em
2017, facturou 5,5 milhões de euros, cerca de
romântica de luxo da joalharia, vestuário e calçado te-
rem perfumes de marca própria. Queriam
1894, nasce a Confiança, em 1894, em Braga.
Tornou-se uma referência na saboaria e per-
fumaria. Dos sabonetes, às pastas dentífricas,
60% dos quais foram exportação directa. A
Laverde está a crescer e, dentro de meio ano,
os 33 funcionários vão mudar-se para uma nova
e levantar-lhe um produto que contasse histórias através
do olfacto, que levasse as pessoas a viajar pelo
mundo dos aromas. Como o joalheiro Eugé-
estiques para a barba, também havia lugar para
as águas-de-colónia, loções e essências. E con-
unidade fabril com seis mil metros quadrados,
num investimento de três milhões de euros,
a auto-estima nio Campos que encomendou o Gold Stone
(para homem) e Gold Rose (para mulher); as
tinua de portas abertas. anuncia a responsável. marcas de roupa Decenio e de calçado Seasi-
Já em 1999 abriu a Castelbel que, na área da de; além do Sporting Clube de Braga — todos
perfumaria tem no mercado as Eau de Toillet- Perfumes à medida foram produzidos na Nortempresa de Daniel
te em vaporizador, dotada de uma fragrância Vilaça. O empresário tem ainda na sua car-
exclusiva desenvolvida pelos perfumistas Fran- Desde o ano da criação da fábrica de Coruche, teira de clientes a Bacardi, a Claus Porto e
çois Robert e Mireille Picard. Actualmente, a muito mudou no panorama nacional. Em 2004, a Papillon London Cosmetics. Recentemente
fábrica tem várias colecções de perfumes de as engenheiras químicas Vera Mata e Paula Go- desenvolveu o perfume unissexo, com c
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12 • Público • Domingo, 25 de Março de 2018

Produtores
Daniel Vilaça (ao lado)
decidiu construir a fábrica
que em 2017 facturou
cerca de um milhão e meio
de euros. Paula Gomes e
Eduardo Oliveira (em baixo)
criam perfumes desde o
início, a pedido dos clientes

notas florais e frutadas, para o Instituto Poli- do. É aqui que Luís Pereira, dono da empresa
técnico de Beja. 100 ml, produziu os perfumes Ribeira do Porto
O principal negócio de Eugénio Campos é e o Chiado. Inspira-se sempre nos bairros e bar-
a joalharia, mas, pela comemoração dos 30 bearias portuguesas. “Na I-Sensis mostraram
anos da marca, resolveu apostar na criação uma folha de tabaco que serviu de base para o
de “uma jóia em estado líquido”. Rita Carva- perfume Chiado”, recorda. Este ingrediente ti-
lho, consultora na área da perfumaria, acom-
panhou todo o processo da criação do perfu-
me e fabrico. O joalheiro queria um perfume
Jamais se chega respostas a um inquérito onde pergunta quais
os perfumes que usou e mais o marcaram, a
música que gosta de ouvir, as viagens que gosta
nha tudo o que queria: elegância, sensualidade
e era masculino. Com 20 anos a trabalhar na
área de alta perfumaria, Luís Pereira chegou a
100% made in Portugal. “Um perfume é um
acessório como uma jóia. Pode fazer a mulher
à primeira ao de fazer, o que o transporta para a felicidade e
o que o descansa.
participar, numa outra empresa, na criação do
perfume Morangos com Açúcar e no perfume da
sentir-se mais encantadora, romântica, seduto-
ra e levantar-lhe a auto-estima”, descreve Rita
Carvalho. “Mexe com as nossas emoções. É
perfume. É um O perfumista tem de ter alguns cuidados
como o nariz desentupido, conseguir memo-
rizar centenas de matérias-primas, “que é o
comemoração dos 100 anos do Benfica.

Laboratório apetrechado em Braga


quase como um compositor olfactivo.” Ainda
que, elucida, entre risos, “Napoleão tomava
trabalho muito garante no momento em que quer criar uma
determinada formulação das quantidades “É no laboratório da Nortempresa Perfume que
banho de perfume: usava 43 litros de água-
de-colónia”.
Já Lourenço Lucena, “compositor de perfu-
de tentativa que vai utilizar”. No momento em que está
a escrever a fórmula do perfume, primeiro
pensa que história quer contar — “é o que me
se desenvolvem novos produtos, formulações,
se fazem testes às matérias-primas, como as
essências e óleos guardados nos frasquinhos
mes” como se descreve, acredita que “a perfu-
maria é a arte de contar uma narrativa olfacti-
e erro. Cheiro permite identificar um conjunto de matérias-
primas (os óleos essenciais, soluções aquosas
de vidro, que fazem parte dos perfumes e dos
ambientadores. É desta sala, onde realça à vis-
va”. Da mesma forma que um escritor cria uma
narrativa com personagens, no perfume são
as matérias-primas que contam uma história.
a composição ou etílicas)”. São estas as personagens da his-
tória olfactiva.
Depois, num bloco de notas ou no compu-
ta o olfatómetro e o cromatógrafo — permite
separar os compostos —, que se segue para um
outro espaço de grande dimensão, onde está
“O perfume tem o lado mágico e prático de
assegurar que, no final, haja harmonia entre
e vou refazendo tador, Lourenço Lucena faz a identificação de
cada uma das matérias-primas que vai utilizar
instalada a linha de produção de grande escala
e a mais moderna maquinaria. Aqui só se en-
as personagens”, diz o especialista, membro
da Sociedade Francesa de Perfumistas. a fórmula e imagina as quantidades para cada uma delas.
“Faço a fórmula, passando depois à compo-
sição física do perfume, que é a junção das
tra com bata, touca, luvas e calçado próprio.
Sempre que acaba uma produção, esta sala é
desinfectada”, descreve Daniel Vilaça.
A criação da fórmula matérias-primas nas quantidades definidas.” Num outro espaço, fazem-se a mistura dos
O passo seguinte é cheirar. “Jamais se chega à perfumes, com “os lotes de perfumes, por
Lourenço Lucena é diplomado em Composição primeira ao perfume. É um trabalho muito de norma de 300 litros, apesar de a fábrica ter
de Perfumes pela Cinquième Sens, em Paris. tentativa e erro. Cheiro a composição e vou re- capacidade para 1200 litros de cada vez”. É
Nunca foi prioridade criar um perfume seu, fazendo a fórmula até corresponder à história um sistema automático com maquinaria, e por
mas acabou por fazê-lo depois de lhe lançarem que quero contar”, elucida. Apresenta depois ali há cubas de produção que fazem lembrar o
o desafio. Primeiro criou o perfume unisse- ao cliente e a fórmula segue para laboratório processo do vinho. “Também o perfume fica
xo Casa comigo Lisboa, inspirado no Tejo, nos que estuda a sua composição e assegura que em estágio dentro destas cubas de inox, du-
manjericos, no limão e nos pastéis de nata para o perfume cumpriu as regras. rante 45 a 60 dias, nesta sala que está a menos
a marca Noivas de Santo António. Depois de- À entrada da I-Sensis Perfume Design, em Vi- de 10 graus de temperatura”, conta. Depois, o
senvolveu perfumes para as empresas Carris, la Nova de Gaia, há um intenso cheiro perfuma- perfume é introduzido nas máquinas de enchi-
EDP e Hotéis Tivoli. Só então decidiu ter um mento que atestam 20 mil produtos por dia.
com a sua marca: durante oito meses desenvol- É aqui que também produz a sua marca,
veu o perfume Acqua di Portokáli que lançou a Ydentik, que surgiu em 2013 depois de Daniel
em Junho de 2017, “em homenagem a uma fór- Vilaça se ter inspirado no conceito de bar. “Vi
mula clássica da história da perfumaria, a água um senhor a servir uma bebida com os dosea-
de Portugal, dando-lhe a sofisticação e moder- dores das garrafas ao contrário e pensei: ‘Por
nidade necessárias, num eau de parfum”. que não faço uma perfumaria com conceito de
Primeiro desenvolveu-o no seu laboratório bar?’” As semelhanças são muitas, o cliente faz
e depois fabricou-o na I-Sensis Perfume De- um cocktail de perfume até três ingredientes,
sign. “Agora, que fiquei com o bichinho, irei explica o empresário que abriu a primeira loja
lançar outro antes do Verão que será cítrico”, em Braga. Depois foi sempre a crescer com
informa. Entretanto, cria perfumes pessoais a apenas um espaço comercial da marca e os res-
partir do perfil psico-social-olfactivo do cliente. tantes 51 em franchising em Portugal, Espanha,
“É um trabalho demorado, entre quatro a seis França, Irlanda, Suíça, México e Tunísia.
meses, e não é propriamente barato”, admite. “O perfume já foi visto como um bem de lu-
Também cria um perfil olfactivo para quem xo. Hoje democratizou-se”, diz Rita Carvalho.
não sabe que perfume usar. Consegue deter- É um produto que está ao alcance de todos. “É
minar o que melhor se ajusta a cada pessoa. um acessório de moda que posso não usar, mas
“Se há 20 ou 30 anos tínhamos três dezenas sinto-o através do olfacto”, exemplifica. “Esta-
de perfumes, de homem e outros tantos de mos mais sensibilizados para usar o nariz”, diz
mulher, agora temos centenas, o que baralha por seu lado Lourenço Lucena. “Basta estar-
o consumidor na hora de se decidir”, refere. mos com a ‘lente’ olfactiva ligada, despertar
Assim, o perfumista desenha o perfil da pessoa, para a dimensão olfactiva e o nosso dia-a-dia
para poder escolher o perfume, em função das ganha logo outra magia”, termina.
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Público • Domingo, 25 de Março de 2018 • 13

Perfumes
O coleccionador ganhou reconhecimento
dentro e fora de portas. O frasco mais
antigo é de 1828, da Guerlain (à esq),
e o mais moderno é da Versace (à dir)

FOTOS SEBASTIÃO ALMEIDA

Afonso
Oliveira é
coleccionador
e quer contar
a história da
perfumaria
portuguesa

a casa do coleccionador Afonso ternacionais que colecciona há quatro décadas. nante” mundo. Foi comprando mais frascos

N
Oliveira, em Lisboa, mais de “É muito raro. Tem uma tampa com a imagem em leilões, antiquários, feiras de antiguidades
dois mil frascos e miniaturas da Nossa Senhora, com o Menino Jesus ao colo, e velharias. Actualmente tem quase tantos fras-
de perfumes, com as mais que remete para a religiosidade”, descreve. Foi cos de perfume como de miniaturas. Duas cen-
variadas formas, tamanhos e este que o fez “entrar nesta grande aventura tenas são de origem portuguesa dos anos 1890
imagens, estão alinhados nas de coleccionador”, recorda. até 1940. “Sempre que viajo, vou à procura de
prateleiras dos móveis de uma Então, Afonso Oliveira tinha 20 anos e já tra- novos frascos”, diz.
das divisões. Vieram de todos os cantos do
d balhava no ramo da perfumaria. Desde sempre Esta paixão levou-o a querer saber mais so-
mundo. Muitos deles chegam a ser autênticas
m que se lembra de estar rodeado de perfumes. bre a perfumaria portuguesa. Começou por
rrelíquias dos anos 1850 a 1970, que contam “Fui decorador de montras, sócio de um grupo pesquisar, recolher frascos e vários tipos de
histórias e levam o nariz a viajar por cheiros
h de lojas nos anos 1980, maquilhador, promotor, documentação, como publicidade em revistas
de outros tempos.
d formador e sou relações públicas de uma em- antigas nacionais, que deverá compilar num
Muitos destes frascos estão ainda guardados presa” de distribuição de perfumes, enumera livro a publicar em Dezembro deste ano. Por
nas suas caixas originais, outros contêm per-
n o profissional de 61 anos, que é vice-presidente essa altura, tem prevista a organização de uma
fume no interior e outros tantos estão vazios
fu da International Perfume Bottle Association, exposição no Museu do Vidro da Marinha Gran-
mas libertam fragrâncias no ar. Quando Afonso
m que tem mais de mil sócios em 21 países, infor- de com parte da sua colecção de frascos.
Oliveira abre as portas dos armários, os perfu-
O ma. “Represento o clube, a nível internacional, Durante as suas pesquisas, Afonso Olivei-
mes de diferentes marcas misturam-se no ar e
m junto de outros coleccionadores, museus e fei- ra encontrou três dezenas de fábricas de per-
despertam os sentidos.
d ras ou leilões de perfumes.” fumes em Portugal que operavam há muitos
O frasco mais antigo é de 1828, da francesa Estreou-se com as miniaturas, que hoje ul- anos. “Descobri que a primeira fábrica de per-
Guerlain. O mais recente, conta, “é um frasco
G trapassam as mil; e só há uma década é que fumes em Portugal, a Phomaz e Mendonça e
Versace, Dylan Femme, inspirado numa ânfora
V passou a juntar frascos de perfumes. O pontapé Filhos, Lda, surgiu no ano de 1850, em Lisboa.”
da mitologia grega com a Medusa, o símbolo de
d de saída deu-o durante uma viagem a Cuba, Desde então muito mudou, diz, incluindo o
Versace”. Mas o seu preferido é o frasco de Mer-
V em 2008, quando um amigo lhe ofereceu três mercado da distribuição. E conclui?: “Há dez
ry Christmas, da marca Benoit, que salta logo frascos que, garante, “são muito cobiçados por anos tínhamos mais de 20 distribuidores de
à vista entre as mais de mil miniaturas e igual coleccionadores”. Foi assim que viu aguçar, perfumes em Portugal e agora só temos cinco
número de frascos de perfumes nacionais e in-
n cada vez mais, a curiosidade por “este fasci- ou seis.” Susana Pinheiro
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14 • Público • Domingo, 25 de Março de 2018

I
mprovável. O que parecia ser impos-
sível aconteceu e a palavra “greve”
passou a figurar no rol de termos as-
sociados às universidades britânicas,
de que fazem parte expressões como
“investigação”, “prestígio” ou “di-
nheiro”. Este foi um dos resultados
de uma história que tem apenas um
mês e que se traduziu, na prática, em 14 dias
de greves rotativas (entre 22 de Fevereiro e
19 de Março), realizadas por professores de
64 universidades, entre elas, Cambridge e
Oxford.
Segundo informação enviada ao P2 pe-
lo maior sindicato de professores do Reino
Unido, o University and College Union (UCU),
a greve foi votada em Janeiro por 42 mil pro-
fessores, mas “muitos milhares mais” se jun-
taram à paralisação a partir do seu início, a
22 de Fevereiro.
Numa aliança também pouco usual, junta-
ram-se nesta acção professores catedráticos,
associados, auxiliares e assistentes, com con-
trato ou em situação precária. Começaram
por protestar contra um projecto de redução
das suas pensões de reforma, que em média
se poderá traduzir por um corte de 11.255 eu-
ros/ano em cada uma destas prestações. E
acabaram a ir mais longe, pondo em causa

Greve também
o que consideram ser a “mercantilização do
ensino superior” no Reino Unido, um modelo
de que, frisam, também faz parte a obrigação
do pagamento de propinas por parte dos estu-
dantes, que passou a vigorar a partir do final
dos anos de 1990.

é sinónimo
Actualmente, o valor da propina anual para
os estudantes do Reino Unido ronda os 11 mil
euros, o mais alto da União Europeia. Não
existem apoios públicos para o seu pagamen-
to, apenas linhas de crédito bancário.
Os estudantes (cerca de um milhão terão

de universidade?
sido afectados pelas greves) juntaram-se aos
professores nos piquetes montados nas vá-
rias faculdades e instituições, que se prolon-
garam noite dentro, e exigem também, em
petições já subscritas por mais de 80 mil,
que os responsáveis pelas universidades lhes

No Reino Unido, sim


devolvam o dinheiro que pagaram pelas aulas
que não foram dadas. Muitos professores,
a quem não serão pagos os dias de greve,
apoiam esta pretensão.

“Somos muitos e estamos fartos”


O projecto de corte de pensões, justificado pe-
la existência de um alegado défice de seis mil
milhões de libras (cerca de sete mil milhões
de euros), ainda não foi abandonado pelos Por Clara Viana
reitores, reunidos na organização Universities
UK (UUK), que representa os empregadores Durante 14 dias, dezenas de milhares de professores de 64 universidades britânicas
nas conversações com os sindicatos. E a UCU
ainda não decidiu quais serão os próximos
fizeram greve. Um protesto contra um projecto de cortes nas pensões, que alia o
passos, que poderão passar por novas gre- pagamento destas ao desempenho da Bolsa de Valores, tornou-se um levantamento
ves durante os exames, marcados para Maio.
“Já não é apenas sobre as reformas, há uma contra a “mercantilização” do ensino superior. Os estudantes também estiveram lá
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Público • Domingo, 25 de Março de 2018 • 15


PETER SUMMERS/REUTERS

teiramente dependente [do desempenho] da


Bolsa de Valores, o que aumenta em muito
a incerteza do que acontecerá quando nos
reformarmos.”
Porque fazemos greve
Mercantilização do ensino superior
Para este docente, trata-se de “mais um passo Leste”), custa saber que há colegas que
na mercantilização do ensino superior”, que queriam fazer greve mas não tinham
se for por diante levará, por exemplo, a que os como prescindir dos seus precários
jovens professores venham a receber, quando salários, em escalões que não lhes
se retirarem, uma pensão “abaixo do salário permitem descontar, pagos à hora, a
mínimo”. Dos dias de greve ficou-lhe, para já, prazo, sem qualquer protecção. São
“um incrível sentimento de solidariedade e de 69% dos professores no país (segundo
pertença a um esforço colectivo”. Por Raquel Ribeiro o sindicato).
“Demonstrámos o poder do pensamento Custa saber que os alunos pagam
crítico, da acção colectiva, da compaixão no Antes de ser professora numa nove mil libras por ano em propinas (20
local de trabalho, do diálogo aberto e da so- universidade no Reino Unido, mil se de fora da União Europeia) para
lidariedade”, resume William Rowlandson, contrato permanente e salário no que aos professores lhes seja retirado
professor associado na Universidade de Kent, fim do mês, também eu fui precária, entre 30 e 60% das pensões.
destacando que o apoio dos estudantes neste freelance, a prazo e recibos verdes Custa perceber que o sistema
protesto “foi impressionante”. “Sentimos em Portugal. Nunca pude participar universitário britânico se tenha tornado
colectivamente que estamos a resistir não numa greve porque eu era o meu uma grande empresa, com reitores-
só a um projecto de corte das pensões, mas próprio empregador, a minha própria CEO a receber entre 250 mil e 450 mil
sim a um projecto mais amplo de neolibera- Segurança Social e os descontos libras por ano em salários e benefícios.
lização das nossas universidades”, aponta que tenho em Portugal, como Um sistema em que os estudantes são
também. independente, quem sabe se algum consumidores (e têm sempre razão?), o
Neste processo, exemplifica Joana Canelas, dia chegarão para pagar a conta da luz. ensino mercantilizado e os professores
os estudantes “são levados a endividar-se com Talvez por ter sido precária tantos anos, funcionários “uberizados” fornecendo
empréstimos de 26 mil libras [cerca de 30 mil nunca tinha pensado, até há pouco, um “serviço”.
revolução em andamento”, apontou no seu euros] para terminar uma licenciatura [92% quanto valeriam os meus descontos Mas as universidades equivocaram-
blogue o professor da London School of Eco- recorrem a este meio], o corpo docente é mal quando me reformasse. se quando nos deixaram fazer três
nomics, Jason Hickel. O P2 foi ouvir quem pago (em relação às suas qualificações), em Mas fiz as contas — eu semanas de greve,
andou por lá. muitos casos está sujeito a contratos precá- e milhares de professores As universidades pensando que daqui
“Houve a oportunidade de falar abertamen- rios, e os meios de produção de conhecimento que desde 22 de Fevereiro sairíamos desmoralizados
te, com professores e estudantes, sobre o que ficam sujeitos aos mecanismos da especulação participaram em 14 dias de
equivocaram-se ou vencidos. Porque
precisa de mudar neste sistema e perceber económica”. greve em 64 universidades quando nos foram dias suficientes para
que somos muitos e estamos fartos”, relata “Sinto-me traída pela universidade”, de- do Reino Unido, a maior percebermos quem está
Joana Canelas, 33 anos, estudante de doutora- sabafa Stephanie Dennison, 50 anos, pro- greve de sempre no ensino deixaram fazer do nosso lado. Ganhámos
mento e professora na Universidade de Kent. fessora catedrática em Leeds, insistindo que superior. De acordo com as três semanas visibilidade. Somos mais
E isso aconteceu, conta, por que “de repente, os responsáveis por estas “têm de ouvir os deduções propostas pelo e mais unidos hoje do que
durante os dias de greve, tínhamos tempo pa- professores e funcionários e não só os seus fundo de pensões, USS, de greve, éramos no fim de Fevereiro.
ra falar uns com os outros para além da disci- colegas do fundo de pensões (USS)”. Foi es- quando me reformar, vou pensando que A disputa está, por
plina que leccionamos ou do departamento ta organização, Universities Superannuation perder 32% do valor da isso, para lá das pensões.
em que estamos”. Quebraram-se barreiras: Scheme, dirigida por responsáveis das uni- minha pensão e receberei daqui sairíamos É sobre a educação
“Numa universidade onde antes nos sentía- versidades, que propôs o novo projecto ao pouco mais do que o desmoralizados universitária que queremos
mos ilhas isoladas, estávamos juntos tanto lá Conselho de Reitores (UKK), que o aprovou. salário mínimo actual. — pública, de qualidade,
fora [nos piquetes] como em reuniões com “Foi uma consulta viciada. O voto de alguns Como é que um fundo ou vencidos universal e que não afunde
mais de 200 pessoas a discutir estratégias, o colégios de Oxford e Cambridge foi equipara- de pensões que diz ter um em dívidas funcionários
que queremos mudar e como.” do ao de universidades inteiras. Na prática, “défice” de seis mil milhões de libras e alunos. Não admira que 126 mil
Joana Canelas está na Universidade de Kent só 42% das universidades representadas na (com aumentos nas contribuições estudantes tenham assinado petições,
há três anos: recebeu uma bolsa de doutora- UKK concordaram com o projecto”, denuncia desde 2011) permite que o CEO tenha escrito aos reitores, reclamado o “seu
mento em conjunto com uma oferta de tra- William Rowlandson um aumento salarial de 82 mil libras dinheiro” de volta, ocupado edifícios
balho. Nos termos do contrato que assinou, Stephanie Dennison adianta que há “alguns para 566 mil/ano? Se o fundo está “em em 22 universidades, boicotado aulas,
prescindir de uma função significa abdicar da reitores que estão a manifestar abertamente risco”, como é que os “investidores” recusando-se a furar a greve. Porque
outra. No total, acrescenta, recebe “o equiva- a sua simpatia pela posição sindical”. Não é o recebem mais do que o CEO? Como as nossas condições de trabalho são
lente ao salário mínimo do Reino Unido”. caso do seu, como conta: “Na Universidade é que um fundo que se diz “falido” também as suas condições de ensino.
“Desproporcional e altamente penaliza- de Leeds estão a ameaçar que nos vão tirar consegue pagar só em funcionários 125 Muitos edifícios continuam ocupados
dor das reformas futuras.” É assim que Jorge ainda mais do salário se não repusermos as milhões de libras/ano, incluindo dois por alunos. Haverá mais 14 dias de
Catalá-Carrasco, 40 anos, professor associa- aulas que não demos durante a greve. Che- que ganham mais de um milhão cada? greve na época de exames, em Maio.
do da Universidade de Newcastle, descreve ga a ser ofensivo. E pior, é antidemocrático Isto não é propaganda do sindicato, Isto é só o princípio.
o projecto de cortes que esteve na base do porque anula o efeito desejado quando se veio na BBC.
protesto, acrescentando um “pormenor” sig- faz greve: não produzir.” Mais do que ter estado 14 dias de Escritora, jornalista, professora
nificativo: “Todo o dinheiro que descontamos greve (muitos ao frio, na neve e sob de Estudos Portugueses
dos nossos salários para a reforma ficará in- cviana@publico.pt temperaturas negativas da “Besta do na Universidade de Edimburgo
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16 • Público • Domingo, 25 de Março de 2018

Infograma

EUA, um país “automático” com


um problema de armas de fogo
No país do “fogo e fúria” ocorreram nos últimos dois anos dois dos maiores massacres jamais
observados. As armas de fogo já são mais numerosas do que os habitantes. Enquanto se tenta
desencorajar o crime com a pena capital, a promoção das armas continua. Entretanto a Marcha
pelas Nossas Vidas, dos alunos de Parkland, foi realizada ontem em Washington

Homicídios vs Pena de morte AR-15, a arma favorita dos assassinos em massa


Execução da pena de morte por estado e número de mortes em tiroteios em massa* Fizemos uma lista de compras através do site online Deg
a cor ou modelo do equipamento). Após o ataque no fes
Mortes provocadas
por tiroteios em
massa em 2017 Coronha Alça de
30 carregamento
60 55
30

NEVADA
1

CALIFORNIA
Execuções da pena
de morte por estado
Desde 1976 houve
1469 execuções
Assistência
Nenhuma TEXAS
directa
1 a10
11 a 49 FLORIDA 15,95
50 a 99
100 ou mais Parkland
Abolida a pena Dispositivo
de morte bump-stock

Os assassinatos mais mortíferos no mundo nos últimos 36 anos Vítimas de homicídio Há mais armas do que pessoas no
Os 11 maiores Segundo os meios usados para matar Armas por cada 100 pessoas
(dados do FBI)
Vítimas de explosivos
Mortes em tiroteios em massa 0 20 40 60
Ataques na Noruega 2011 68 8 % do total por arma de fogo EUA
Festival de música country, Nevada, EUA 2017 58 Outra arma de fogo Alemanha
Ataque na Coreia do Sul 1982 57 Pistola Áustria
Discoteca gay Pulse na Florida, EUA 2016 49 Islândia
Discoteca Reina em Istambul, Turquia 2017 39 Por armas de fogo 5,4% Nova Zelândia
Ataque a hotel em Sousse, na Tunísia 2015 38 6515 3899 590 Finlândia
Escola primária em Port Arthur, Austrália 1996 35 Uma 11.004 Noruega
Vila de Mikenskaya, Rússia 1999 34 portuguesa Canadá
Universidade Virginia Tech, EUA 2007 32 entre as vítimas Sem recurso a arma de fogo Suíça
Restaurante Pozzetto em Bogotá, Colômbia 1986 29 Portugal 24,2
Túmulo dos Patriarcas, Cisjordânia 1994 29 4066
Grécia

Fonte: CNN; gunpolicy.org; Reuters; FBI; massshootingtracker.org; Adam Lankford, Universidade do Alabama; PÚBLICO
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Público • Domingo, 25 de Março de 2018 • 17

Infografia é uma representação gráfica que promove a compreensão


mais imediata de um tema, sem excluir diversos níveis de leitura

Por José Alves

Os piores ataques
Tiroteios em bases militares Escola de Parkland
da História dos EUA Festival de música country 58
Tiroteios noutros locais
Acontecem onde menos se
espera e as suas motivações Escola primária de Sandy Hook, Discoteca gay Pulse 49
são frequentemente 20 crianças são mortas
inesperadas. Recordamos Restaurante, em Killeen Universidade Estreia do filme O Cavaleiro Complexo de
alguns dos mais sangrentos Virginia Tech 32 das Trevas Renasce serviços de apoio
massacres dos últimos anos social, em San
26
nos EUA. Número de mortos Bernardino
22 Liceu de Fort Hood
Columbine 17
13 13 13 12 12 14
Nota: Inclui incidentes 9 10 9
com cinco ou mais mortes, 6 7 6 6 7 6 6 67 5
exclui os atiradores

1991 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Colorado
Wisconsin
Washington D.C.
Texas
Nevada
Florida

Países com mais


guns.net. Eis alguns valores de venda ao público (em dólares sujeitos a alterações segundo assassínios em massa
stival em Las Vegas, o sistema bump stock se esgotou nas lojas por todo o país Os EUA, em 2016, foram
responsáveis por 31% dos casos a
Guarda-mão Cano Quebra- nível global. Dados de 1966 a 2012
29,99 99,99 -chamas
34

90
EUA
Receptor inferior
49,99
Peso 18
kg Dispositivo
3,5kg
Filipinas 15
bump-stock
Capacidade
30 disparos à venda por Rússia
Carregador 199,95 dólares
Preço de venda ao público 11
Punho
7,99 $ 1299,99 dólares (1054,97 euros) (162,264 euros)
Iémen 10
16 França
Aproveita o recuo do disparo,
batendo continuamente o gatilho
contra o dedo do atirador

os EUA, desde 2015 Tiroteios em massa*


Mortos Feridos

80 100 Apenas três países no 600 Num mês de Outubro trágico, 94 pessoas perderam a vida e 529 ficaram feridas.
101 mundo têm actualmente O incidente que mais contribuiu para este número foi o ataque em Las Vegas dia 1,
500
o direito segundo a sua com 59 mortos e 422 feridos, o segundo ataque mais mortífero a nível mundial
Constituição de possuir 400
uma arma: os EUA, o
México e a Guatemala. 300
Seis outros países 200
costumavam ter esse
direito, mas revogaram 100
entretanto essas leis. Os
0
EUA são o único país
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F
com o direito de possuir
e transportar armas sem 2013 2014 2015 2016 2017 2018
restrições.
*Vítimas em incidentes com quatro ou mais pessoas baleadas (pelo atirador ou pela polícia). Inclui a morte do atirador. Até 26 de Fevereiro de 2018
PÚBLICO
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18 • Público • Domingo, 25 de Março de 2018

Entrevista Susete Estrela Nasceu no campo e orgulha-se de ser


filha de agricultores. Estudou Engenharia Alimentar e já foi auditora,
formadora e consultora. Escreveu Sabe o Que Anda a Comer?,
em que alerta para os problemas de segurança alimentar
Por Bárbara Wong texto Miguel Manso Fotografia

“As pessoas andam


muito stressadas
porque comem
animais stressados”
S
usete Estrela é engenheira das Caldas de Rainha, que produziam matéria-prima e teve de dar margem de químicas ou microbiológicas são caríssimas
alimentar e fala com e vendiam no mercado local. Por isso, lucro ao fornecedor e à grande superfície. —, há países asiáticos onde as coisas não
entusiasmo sobre a segurança defende que quem vive na cidade deve Qual é a qualidade do que vem lá dentro? funcionam da mesma maneira. Obviamente
e a higiene dos alimentos. reaproximar-se do campo e conhecer E estamos a falar de vários tipos de que quando o produto entra na União
Escreveu Sabe o Que Anda quem produz os seus alimentos. Essa qualidade, a nutricional, a microbiológica, Europeia tem de haver um interlocutor
a Comer?, editado pela será uma forma, acredita, de promover organoléptica. Estamos a falar de qualidade que o controla, mas há muitas nuances. No
Arena, recentemente, onde os agricultores a um lugar que já deviam a que nível? A indústria tem de produzir de meu trabalho faço a ponte entre os chefs
alerta para a forma como ocupar, o de promotores de saúde. acordo com o que as grandes superfícies [de hotéis de luxo] e os fornecedores, há
funciona o sistema alimentar mundial, Depois de ler o livro Sabe o que anda a pedem e estas pedem para produzir de dias um deles pedia-me um queijo mais
além de dar conselhos muito práticos sobre comer?, pensei: “Agora não vou comer acordo com aquilo que o cliente é capaz de barato e eu dizia-lhe que não era possível,
como guardar e preservar os alimentos. mais na vida!” comprar e existe um preço para tudo isso. ele insistiu e respondi: “Eu arranjo um
A engenheira, que actualmente está a Susete Estrela — (riso) Isso foi o que E, para o mesmo tipo de produtos, queijo mais barato, mas não é um queijo
trabalhar como consultora, no Dubai, com me aconteceu nos primeiros dias de pode haver uma enorme disparidade de com 100% de leite de vaca, é um queijo que
chefs de hotéis de luxo, já fez auditoria — Microbiologia Alimentar [disciplina do preços? tem óleo de palma.” Isso faz baixar o preço
dos matadouros aos restaurantes, passando curso de Engenharia Alimentar], olhava Uma das razões por que quis ir trabalhar drasticamente, mas o comportamento
por fábricas —, deu formação, criou a sua para tudo e pensava nas bactérias, mas para o Dubai foi para compreender por daquele queijo é diferente porque quando
própria empresa de produtos de pastelaria depois isso passa! que é que tudo o que vem daquela parte do for aquecido no forno vai transformar-se
que vendia nas grandes superfícies e Escreve que quando vamos ao mundo é mais barato e perceber como é em óleo, enquanto que o queijo de vaca
voltou a estudar. Está a aprofundar os seus supermercado, vamos comprar que funciona este sistema a nível mundial, tem mais rendimento. Mas a maioria
conhecimentos em Nutrição Integrada no doenças. Porquê? por que é que há empresas que conseguem das pessoas não faz estas contas a longo
Institute for Integrative Nutrition, em Nova A frase é um bocadinho forte, mas serve fazer refeições finais tão baratas? prazo, só vê o custo do quilo e compara,
Iorque, com o objectivo de ser conselheira para alertar o consumidor porque quando Às vezes, os produtos vêm de países isso também acontece com as famílias no
de saúde — uma profissão que ainda não é compramos um produto que custa 50 onde o rigor de segurança alimentar não é supermercado.
muito conhecida. ou 99 cêntimos, que foi embalado, que o mesmo que na Europa e isso tem custos. Um produto a 99 cêntimos pode ter o
Mas a engenheira alimentar não esquece pagou ordenados, que pagou transportes, Quando na Europa há auditorias e análises mesmo nome, mas não é igual a um de
as suas origens: é filha de agricultores portagem, gasóleo, instalações, mais a quase todos os meses — as análises físico- cinco euros?
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Público • Domingo, 25 de Março de 2018 • 19

Quando vou ao supermercado e compro


um produto e custa 99 cêntimos, o
que aquilo tem para me oferecer é
Se eu tenho o pessoas sabem que um frango de aviário é
mais barato que um biológico e do campo.
Qual é a grande diferença? A forma como
vamos conservá-lo? Desidratado, em vácuo,
congelado. Qual é a melhor maneira de
acordo com o produto? Por exemplo, o leite
conveniência, a probabilidade daquilo me
oferecer saúde é muito, muito baixa. A
meu cabeleireiro o animal é alimentado é a forma como eu
me vou alimentar. E disto o público não
desidratado dura mais do que o líquido,
mas no processo perde propriedades. É esta
saúde é cara e só nos apercebemos quando
vamos ao médico e não reclamamos o preço
da consulta. Não há nenhum médico com
ou o meu se apercebe. Nos últimos 40 ou 60 anos,
a indústria alimentar mudou muito e por
conveniência. A minha avó não sabia ler, a
educação que procuro fazer com o livro,
para que as pessoas fiquem mais atentas
e percebam por que tenho uma lasanha
uma “promoção da semana”, porque nós
já chegamos num momento desesperado e
dentista por minha mãe tinha a 4.ª classe e fez questão
que eu e os meus irmãos tivéssemos um
que pode custar um euro e outra custa
dez. A diferença pode estar na qualidade
é então que decidimos que vamos mudar
a nossa alimentação e aí já pode ser tarde.
As pessoas só acordam para a realidade e
que é que não curso universitário. Isso diz muito da
mudança nas últimas gerações. Hoje eu não
passo tanto tempo a cozinhar como a minha
da farinha, se é com ou sem glúten; na
qualidade da carne, se é industrial ou
orgânica; na origem do tomate...
para a importância dos alimentos como
medicamento quando já é tarde.
tenho o meu mãe ou a minha avó. Essa conveniência
paga-se sobre a forma de produto
Quando a grande superfície pede para
produzir a lasanha, é ela que estipula
Então, devemos escolher os produtos
mais caros?
Não, até porque pode ser mais caro por
agricultor? embalado. Hoje alguém me dizia que tinha
ouvido o seguinte comentário: “Devemos
desembalar menos e descascar mais.”
quanto pode custar?
A grande superfície diz-me: “Susete produz-
me uma lasanha a este preço, em que a
questões de marketing. O que tenho E devemos? minha margem é esta e o IVA é este.” É a
de perguntar é: qual é a qualidade dos Devemos. partir daí que eu vou construir o produto e
ingredientes? Há um preço básico para Até por causa dos plásticos. o grande consumidor não tem esta noção,
as coisas. Em Portugal temos muita sorte Sim, há a questão ambiental. Nós, tem a percepção que é ao contrário. E isto é
porque temos abundância de comida e engenheiros alimentares quando muito importante. Porque há intervenientes
comida boa, depois estamos na Europa e produzimos um alimento e nos é pedido que não abdicam da sua margem e as
a legislação é muito apertada. Devemos que tenha uma validade de oito meses, grandes superfícies são um deles. O
olhar para a carne e para o peixe. As um ou cinco anos, temos de pensar como agricultor ou o pequeno industrial c
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20 • Público • Domingo, 25 de Março de 2018

vêem-se numa tarefa muito difícil porque há cara. Estes exemplos servem para que o
margens mínimas para que uma operação consumidor perceba por que é que paga
continue no seu dia-a-dia, mas toda a gente preços diferentes por alimentos que têm o
quer trabalhar com as grandes superfícies. mesmo nome, mas não são iguais.
Então, a nossa opção enquanto Falou da importância de termos o
consumidores é não ir à grande nosso próprio agricultor, mas no seu
superfície, mas à mercearia ou ao livro conta que em sua casa havia uma
mercado? horta que era a vossa, aquela da qual
Tenho uma professora de Nutrição, em consumiam.
Nova Iorque, Marion Nestle que escreveu o Havia, na altura em que começaram os
livro Food Politics, que defende que sempre pesticidas.
que vamos ao supermercado, damos-lhe Ou seja, eu até posso ter o meu
mais poder e deveríamos dispersar os agricultor, mas isso não significa que vá
nossos investimentos por outros espaços. comer produtos mais saudáveis.
Há um outro conceito que adoraria que Em minha casa, nós cumpríamos os prazos
funcionasse: Se eu tenho o meu cabeleireiro de segurança, mas havia agricultores que
ou o meu dentista por que é que não tenho não o faziam. Hoje em dia é mais difícil
o meu agricultor? fazer isso, porque um agricultor para ter a
Porque os alimentos processados são sua máquina de pulverizar precisa de ter
um veneno? formação. O nível de formação e legislação
Não. Qual é o problema de ter uma maçã é completamente diferente do que era nos
desidrata? Não tem de ser pior. Uma anos de 1980, que é quando tudo começa
maçã que não é transformada pode estar a evoluir. Então, qualquer pessoa fazia o
contaminada com químicos. Nem todos os que queria e havia umas correctas e outras
alimentos processados ou transformados menos correctas. Mas a nossa batata não
são veneno. É mais fácil criar chavões para era tão bonita, a laranja não era tão bonita e
assustar o consumidor. Pessoas honestas o consumidor gosta de arregalar o olho.
e desonestas existem sempre, e o grau de Tem de ser bonito, mas também tem de
ganância varia de pessoa para pessoa e de cheirar. As nossas memórias de infância
quem está por detrás da empresa. O que têm aromas, não é?
é importante é o consumidor conseguir Não cheira por causa da rega gota-a-gota.
aproximar-se da produção pela sua saúde. Cresce mais rápido, a planta tem água e
Também refere no livro que a nossa não precisa de se enraizar tanto e não gasta
saúde está relacionada com a saúde dos energia à procura da água. O fruto cresce
nossos solos. mais mas dissolve-se o açúcar da fruta.
Muito! Achamos que essa questão está Nunca comi pêssegos tão doces como na
muito longe, na mão do agricultor. minha infância porque não tinham rega, era
A verdade é que os solos estão mais o processo natural. Não havia intervenção
contaminados, assim como refiro as Conselhos 50 anos, entretanto já temos gerações humana e os açúcares eram naturais. Nós
contaminações químicas do ar, da água No livro, a autora dá de pessoas obesas e são efectivamente não acelerávamos as coisas e hoje em dia
e isso chega-nos ao sangue através da conselhos sobre a doentes. Mas também fomos nós que aceleramos tudo: o processo da fruta, das
comida que ingerimos. Dai que se este livro segurança e higiene dos pedimos isso porque à indústria pedimos galinhas, das alfaces. Lembro-me de a
contribuir para alertar as pessoas para alimentos. Terminadas conveniência e em troca dessa conveniência minha mãe levar a nossa fruta ao mercado
como funciona o sistema e reaproximá-las as compras, vá logo pedimos um produto que fosse barato e porque os clientes pediam — não era tão
da produção primária. Porque, em tempos, para casa para evitar para isso temos de dar alguma coisa em bonita, mas era mais doce. Na altura era
vivemos muito próximos da produção interromper o ciclo do frio troca, o tempo. permitido e agora já não é. Do processo
primária. dos produtos congelados O tempo? normal da agricultura não nasce tudo
E continuamos a viver. À volta de Lisboa Hoje passamos menos tempo na cozinha perfeito, há sempre uma cenoura torta mas
há hortas e agricultores que vendem que as nossas mães ou avós. Qual é o não deixa de ser cenoura!
os seus produtos no MARL (Mercado problema de um peixe congelado? Nenhum, Aconselha a comer fruta e vegetais
Abastecedor da Região de Lisboa), por se não houver interrupção da cadeia de frio, biológicos?
exemplo. eu posso consumi-lo. As pessoas têm uma Sim, se a pessoa puder comprar. Hoje
Mas qual é a nossa proximidade desse percepção errada dos produtos congelados. em dia o nível de pesticidas é baixo, mas
agricultor, aquele que nos alimenta, e Por exemplo, um produto de época como continua a existir. Se puder comprar o
o reconhecimento que lhe damos? Um as ervilhas ou as favas. As congeladas produto honestamente biológico.
médico tem muito mais estatuto social do foram apanhadas na época, é um produto Mas como é que distinguimos o honesto
que um agricultor. E o médico faz a gestão seguro. Enquanto uma manga que vem do do desonestamente biológico?
da doença — não percebo por que é que Brasil, há a que vem de avião e a que vem Se eu for ao supermercado não distingo e
o Ministério da Saúde não se chama da de barco. A de avião é apanhada no ponto tenho de confiar na marca, mas se for a um
Doença! —, enquanto um agricultor pode certo, quando vem de barco é apanhada mercado começo a conhecer as pessoas
fazer a gestão da nossa saúde. É importante verde e chega cá madura. É como um bebé e a perceber quais são os seus valores. É
perceber que vamos precisar sempre de que cresce dentro de uma incubadora, era por isso que, na minha opinião, é muito
produtos transformados e da indústria muito melhor que crescesse na barriga importante reaproximar os consumidores
e esta mudou muito nos últimos 40 ou da mãe. Por isso, a manga de avião é mais de quem produz os alimentos. Ir à quinta
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Público • Domingo, 25 de Março de 2018 • 21

no fim-de-semana e começar a criar uma


relação. Continuo a preferir os produtos
biológicos não só pela questão dos
Qual é o Exactamente, mas todos nós já passamos
por fases de mais ou menos abundância
financeira e há alimentos que são base.
Falta educação alimentar?
Falta, em casa. Tenho amigas professoras,
quando falo com elas sobre os lanches,
pesticidas, mas pela forma como o produto
é criado, do fruto à galinha — a calma, a paz.
problema de Por exemplo, uma pessoa que tem pouco
dinheiro, uma lata de atum continua a ser
os pais mandam coisas que as deixam
chocadas. Não é preciso mandar um sumo
As pessoas andam muito stressadas porque
comem animais stressados!
Como auditora, trabalhei em matadouros
ter uma maçã das coisas mais saudáveis que pode comer
e é barata. Um bom azeite não custa assim
tanto. A fruta, se for directamente do
de pacote todos os dias. No meu tempo
o açúcar era negociado e agora é dado
gratuitamente.
e começava a minha vida às cinco ou seis
da manhã. Quando se está no corredor da
desidratada? produtor, é mais barata.
Há pouco falava das emoções dos
Então, para mudar, é preciso educar
para comer, mas também ensinar
morte, percebe-se o medo que os animais
sentem e isso fica registado. Achamos
que os animais existem para nos servir,
Não tem de animais e essa é uma das razões por
que há pessoas que se tornaram
vegetarianas, mas depois comem sojas
segurança alimentar?
Quando comecei a minha carreira propus que
houvesse um minuto de segurança alimentar
sim, mas se a energia não for boa, não vai
servir de grande coisa. Vivemos muito de
ser pior. Uma com sabores a farinheira ou a alheira.
Não estão também a ingerir produtos
na televisão, que é um meio fácil de chegar
às pessoas. Falta investimento nesta área.
preencher só o estômago, mas a questão
emocional também é importante para
a nossa saúde. Ou seja, a nossa saúde
maçã que não menos saudáveis?
Sim, é preciso ter cuidado. Quando temos
soja — é geneticamente modificada ou é
Perceber o que é saudável. Considerando
que todos os alimentos são seguros, é preciso
perceber que a reacção do corpo não é igual
não está só dependente da indústria
ou dos supermercados, mas de tudo à
é transformada orgânica? —, esta não tem sabor — como é
que foi feita a melhoria do sabor? É preciso
em todas as pessoas. Há milhares de estudos
que dizem que o leite é muito bom ou muito
nossa volta, se estamos felizes pessoal e
profissionalmente, o ar que respiramos, a
água que bebemos.
pode estar mais ter respostas a estas questões porque há
um processo tecnológico por detrás. Como
engenheira alimentar não posso fazer nada,
mau, mas eu é que sei como é que o meu
corpo reage No futuro vai haver consultores
de saúde, não é um nutricionista ou um
Hoje as pessoas estão mais despertas e
preocupadas com aquilo que comem, se
contaminada mas posso alertar: fujam destas coisas, não
há necessidade. A soja não tem sabor, mas se
médico, mas alguém que está antes. Por
exemplo, uma pessoa quer melhorar o seu
tem glúten, se tem lactose...
Estão mais preocupadas, mas não param
para pensar. Há cada vez mais estudos
por químicos. eu fizer um bom refogado, é boa. Desconfio
muito dos organismos geneticamente
modificados (OGM), temo que daqui a 20 ou
nível de sono ou ter uma pele mais bonita,
fala como um desses consultores.
Quais são as principais preocupações
a relacionar o cérebro com o intestino,
como este é o nosso segundo cérebro.
Nem todos 30 anos se descubram coisas aconteceu com
os pesticidas e depois é tarde demais.
que devemos ter no que à segurança
alimentar diz respeito?
Uma péssima digestão prejudica a nossa
saúde. Li um texto que diz que a rainha
do castelo é o trato intestinal e quando
os alimentos É muito crítica não só em relação à
indústria alimentar mas também ao
Estado, a quem esta indústria paga
Se pudermos comprar produtos da época
a probabilidade de ter menos pesticidas
e conservantes pode ser maior... Pode!
a rainha está irritada tem a capacidade
de deitar o reino abaixo. Como é que a
processados ou impostos. Em quem devemos confiar?
Em nós próprios e na nossa intuição.
Se tivermos produtos industrializados
embalados podem ter mais aditivos. Saber
indústria veio contribuir para isto? Com os
aditivos, quanto mais extensa a validade transformados Precisamos de supermercados? Sim, vamos
lá de vez em quando. Nós fazemos parte
ler os rótulos, pelo menos a informação
que vem a bold. Ir às compras e voltar logo
de um produto, mais aditivos tem; esses de um sistema e não vamos resolver os para casa, os microrganismos desenvolvem-
quando chegam ao trato intestinal vão
destruir os “soldadinhos bons”; com os
são veneno. problemas do mundo amanhã. Se no fim-de-
semana puder comprar maçãs biológicas,
se muito bem entre os 5 e os 65 graus.
Cuidado quando cozinhamos, se dermos
antibióticos, esse é um problema que
já foi identificado pelas autoridades e é É mais fácil criar compro, até para incentivar a agricultura
biológica. Não conseguimos todos pagar?
tempo e temperatura às bactérias, pode
haver intoxicações alimentares. Não fazer a
necessário reeducar os veterinários para se
produzir animais dentro do mesmo tempo
de vida sem doenças, para que não se tenha
chavões para Não. Então deixo de comer vegetais? Não.
Há alimentos mais susceptíveis de ter mais
pesticidas porque são mais sensíveis a
lavagem da carne porque vai ser cozinhada
e se lavar vai espalhar as bactérias e pode
haver contaminação cruzada; não usar a
de adicionar tantos antibióticos.
O que é “dentro do mesmo tempo de assustar pragas. É tudo mau? Não. O que temos de
compreender é que não há risco zero. Nós
mesma tábua para cortar a carne crua e, de
seguida, os legumes. Se só tiver uma tábua,
vida”?
Um frango de churrasco tem 18 ou 22
dias de vida; um frango do campo pode
o consumidor precisamos da indústria e se amanhã todos
decidirmos comprar produtos sem açúcar,
ela vai mudar.
lavá-la com água e sabão ou com álcool 70%.
O álcool faz parte dos utensílios da
cozinha?
ter 55 a 60 dias; um orgânico pode ter E já está a mudar, a Nestlé anuncia Faz parte, aprendi com uma professora de
um bocadinho mais. Um pinto, como lhe a redução do açúcar, a Olá tem um microbiologia. Quando estava a estudar,
chamo, pronto para ir para o matadouro Cornetto vegan, a Vigor tem uma bebida trabalhei num restaurante e os talheres eram
para fazer um frango de churrasco tem de kefir. A indústria já percebeu que há limpos com álcool para ficarem brilhantes.
muito pouco tempo, mas tem muito um nicho de mercado, o do saudável, e Ficavam brilhantes e desinfectados.
antibiótico. Na indústria alimentar há não o quer perder? É importante sabermos escolher os
sempre os bons e os maus, há uns que estão Sim, mas qual é a percentagem de vendas? restaurantes onde vamos, não podemos
a desenvolver testes para apanhar os maus O que continua a pagar as contas é o açúcar. ir à cozinha, mas podemos observar a
e esses já estão a desenvolver outra técnica, É giro ir a uma Starbucks e observar, há organização, higiene e limpeza do espaço,
antes de serem apanhados pela primeira. lá fruta, a oferta saudável, mas quem é por exemplo, a higiene dos empregados, se
Porque a indústria está sempre à procura que lhe pega? Devem ser abolidas todas os candeeiros têm pó ou o estado da casa de
do que o consumidor quer, o mais barato. as indústrias de bolachas e gelados? Não, banho. Isso revela o que pode ser a cozinha.
Mas isso é porque o consumidor não porque eu quero comer um doce, não
consegue comprar o mais caro. precisa é de ser todos os dias! bwong@publico.pt
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22 • Público • Domingo, 25 de Março de 2018

C
umprem a pontualidade
como se picassem o ponto Nos corredores do edifício da autarquia, no jardim, no mercado.
à entrada no trabalho. Estão,
em rigor, no seu posto e em Os trabalhadores municipais de São João da Madeira têm 30
horas de serviço. Mas não
em registo profissional. São minutos de dispensa semanal para fazer exercício. No local
9h45 de uma quinta-feira e
enquanto os vendedores do de trabalho. A ideia do vereador Pedro Silva quer fazer escola
mercado municipal de São João da Madeira
vão vendendo os seus produtos, meia dúzia de
trabalhadores camarários reúnem-se junto ao Por Mariana Correia Pinto texto e Joana Gonçalves fotografia
gabinete do encarregado do espaço. “Vamos
à caminhada?”, pergunta Valdemar Vaz, voz
de desafio sorridente. E logo as pernas dos
“alunos” se mexem em sinal de concordância.
Percorrem o mercado, escadas acima, escadas

Da empregada de
abaixo, e à medida que o percurso se faz a tur-
ma vai-se avolumando.
— Ó dona Rosa, venha!
— Eu ia de boa vontade! Mas não posso dei-
xar a banca.

limpeza ao presidente
António, trabalhador do mercado, vai anun-
ciando a aula como se apregoasse fruta, legu-
mes, um produto qualquer. E um ou outro
arrisca abandonar a bancada para se juntar
à iniciativa desenhada pelo vereador do des-

o desporto
porto e juventude, Pedro Silva: um projecto
de sessões informais de exercício físico para
trabalhadores municipais.
Laura Ribeiro não se deixa vencer pelos “gra-
ves problemas nos joelhos”. Tem 66 anos, “pe-
lo menos 35” como vendedora de roupa no
mercado, e não perde uma aula apesar da di-
ficuldade em caminhar. Tantas horas passa no
trabalho, muitas vezes de pé, que os finais do
dia são quase sempre um anseio de descanso:
“Quando saio já não tenho força para ir para

chegou
outro sítio fazer ginástica.” Por isso, as aulas
vieram como uma dádiva divina: “É logo outra
alegria e o pouquinho que é já ajuda”, comenta
satisfeita, para logo admitir o orgulho aumen-
tado de mãe: “O vereador é meu filho.”
São 30 minutos de desporto por semana,
em alguns casos divididos em duas aulas. E
de um projecto-piloto no Fórum Municipal,
ainda burilado com receio de pouca adesão, a
onda cresceu e foi apanhada por trabalhadores

ao trabalho
de vários sectores: os do mercado, os dos ar-
mazéns, os jardineiros. Em breve, também os
da Casa da Criatividade e da incubadora Oliva
Creative Factory terão o mesmo direito.
O plano surgiu numa das primeiras reuniões
da equipa socialista que assumiu os destinos do
mais pequeno concelho do país em Outubro.
Jorge Sequeira, agora presidente, tinha assu-
mido “uma visão de futuro” como slogan de
campanha. E para Pedro Silva, com a pasta do
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Público • Domingo, 25 de Março de 2018 • 23

desporto e juventude, isso não era possível sem


“cuidar do presente”. Com o desafio de levar
para dentro da câmara o seu conhecimento,
está já uma espécie de campanha antipreguiça,
com autocolantes à porta dos elevadores em
modo de apelo: “Entre pisos, evite o elevador”,
São apenas 15 em Lisboa, com a qual fez um projecto experi-
mental em Loulé. E já testou um piloto em São
João da Madeira com uma turma de 4.º ano.
propôs fazer para os 290 trabalhadores muni-
cipais aquilo que praticava profissionalmente
lê-se. “Queremos combater o tempo sentado e
o sedentarismo, explicar como é importante
minutos. “Mas Sem exercício, não havia tecnologia.
Como empresário, tentou por diversas vezes
com a sua empresa. Mas de forma gratuita.
“Queríamos começar de dentro para fora, dar
o exemplo. Isto é serviço público.”
interromper o tempo de trabalho a cada 30
ou 45 minutos.”
Nos Estados Unidos da América, geografia
chegam para fazer negócio com a autarquia onde agora é
vereador. “Nunca foi possível. Agora, ironica-
mente, faço-o pro bono”, diz a pôr os pontos
É o próprio vereador quem assume, desde
final de Janeiro, as aulas às segundas e quartas-
inspiradora para Pedro Silva no que à promo-
ção da saúde no trabalho diz respeito, há vários
aliviar o stress” nos is no que a conflitos de interesses diz res-
peito. No futuro, Pedro Silva quer ainda apostar
feiras no Fórum Municipal, o edifício onde fun-
cionam vários serviços da câmara e onde tem
o seu gabinete. O relógio está a bater as nove
exemplos de iniciativas do género: “O uso das
escadas, por exemplo, é muito promovido. Até
se fazem exposições entre pisos, para incenti-
e são fonte de no desenvolvimento de uma aplicação móvel
do LaboSer. Por essa via podem ser feitos de-
safios aos trabalhadores, combinar encontros
horas da manhã e um grupo de trabalhadores
reúne-se num corredor do segundo piso. Há
var as pessoas a passar por lá”, comenta. Por
cá, não há muitas práticas a imitar. “Em termos
“felicidade” informais, caminhadas, aulas. E monitorizar
o exercício físico. “O plano nacional da acti-
quem se renda à roupa desportiva, quem as- públicos, há um projecto interessante na Câ- vidade física está neste momento focado em
suma o traje de trabalho, há saias e saltos altos. mara de Águeda. Mais não conheço.” centros de saúde e farmácias. Gostava que
“Não dispenso o bâton”, comenta com uma nas de trabalhadores se distribuem pelas qua- estivesse também em autarquias e juntas de
energia invejável Isabel Xará. A engenheira Desporto ainda é negligenciado tro carrinhas e dois carros: o dia de trabalho freguesia”, aponta.
civil, fiscalizadora de obras na câmara há 25 vai começar. “Mais do que educação física, é Com o grupo aumentado, depois da cami-
anos, anda entusiasmada com a iniciativa. Já As “escolhas mais saudáveis” podem ser de- activação do corpo”, diz Valdemar Vaz, que nhada inicial de sedução de novos “alunos”
antecipa os dias de Primavera para se dedicar sencadeadas por “pequenos catalisadores”. E divide a orientação das aulas com Pedro Silva. para a aula no mercado municipal, os exercí-
a caminhadas no jardim vizinho do local de ir fazendo escola. “A vida é muito mais do que “Há quem tenha limitações físicas e explico cios fazem-se no passadiço do primeiro piso,
trabalho. E ainda que não seja muito dada ao trabalho”, sublinha Pedro Silva como quem sempre que não há problema. Cada um faz o com o cacarejar dos galos como música de fun-
desporto não hesitou em abraçar o plano. justifica a importância de cuidarmos de nós. que pode. O importante é estar no grupo e do e vistas para bancadas de frutas e legumes,
São apenas 15 minutos. “Mas chegam para Em Portugal, “o desporto ainda é muito ne- fazer pequenas actividades.” E mesmo num talhos e flores. Do rés-do-chão olha-se para o
aliviar o stress” e são fonte de “felicidade”. Isa- gligenciado” e a “actividade física no local de agregado com um trabalho duro, como o dos alto, do segundo piso, um grupo de quatro
bel Xará jura que tem notado os colegas menos trabalho é praticamente inexistente”, lamenta. jardineiros, aqueles 30 minutos semanais “fa- mulheres acercadas do beiral comentam a au-
cabisbaixos no elevador. É que se antes muitos “É obrigatório fazer uma consulta por ano. E zem a diferença”. Palavra de António Coelho, la sorridentes. Ali ao lado, uma vendedora vai
não se conheciam e trocavam um bom dia tí- pouco mais. Fomentar a saúde não é isto, o coordenador destes trabalhadores. acompanhando os movimentos sem coragem
mido, “sem olhar nos olhos”, quando se cruza- bem-estar é multidimensional.” Quando terminou o seu doutoramento, há de se juntar ao grupo apesar das provocações
vam, agora o vínculo aconteceu. “Criou-se uma Pedro debruça-se na semântica para mostrar quase dez anos, Pedro Silva foi ao Ministério da galhofeiras de alguns clientes.
ligação entre departamentos”, analisa. aquilo que é cultura enraizada por cá: “Temos Saúde e à Direcção-Geral de Saúde apresentar — Ó Juventude, não faz a aula?
Pedro Silva, 43 anos, não quer trabalhar um Ministério da Saúde que é, na verdade, um a ideia subjacente àquilo que tinha estudado: a Juventude Azevedo é o nome invulgar da mu-
apenas a musculatura. O LaboSer — palavra Ministério da Doença. A verdadeira saúde é ne- aplicação dos acelerómetros na promoção do lher que um dia foi dactilógrafa mas se rendeu
que brinca as palavras labor [trabalho] e ser gligenciada”, diagnostica. No seu gabinete na desporto. Os aparelhos eram na altura “uma ao mercado para ajudar a mãe nas contas quan-
— não responde à recomendação mundial de autarquia, uma série de frases em inglês afixa- novidade” naquela área e ele ambicionava pôr do a ASAE apertou o cerco e tirava horas de
saúde de praticar 150 minutos de exercício mo- das nas paredes explicam a aposta no LaboSer. em funcionamento um projecto que propunha sono à vendedora, pouco dada a matemáticas
derado por semana. Mas é um incentivo, um Uma delas é para o autarca um verdadeiro man- monitorizar a actividade física das crianças: en- e papéis. “Não posso deixar a banca sozinha,
sinal. E vai para lá do desporto. “As sessões tra: “Não existe desenvolvimento profissional quanto não cumpriam os 60 minutos de exer- com o dinheiro. E não posso perder clientes. O
juntam toda a gente no mesmo patamar, do sem desenvolvimento pessoal.” Ou, por outras cício diário recomendado, não tinham direito negócio já vai mal assim...”, justifica Juventude,
presidente à funcionária da limpeza” e, dessa palavras: daquele programa querem fazer-se a usar o computador Magalhães (ou o smar- deixando a devida vénia à ideia. Vera Marques,
forma, “aumentam a proximidade entre traba- melhores trabalhadores. tphone ou tablet). A crise sentia-se forte em veterinária da autarquia há 14 anos, não dispen-
lhadores”. Foi o caso de dois colegas que não José Valente, 63 anos, fica para trás quando, Portugal e o argumento financeiro deixou o sa aqueles 30 minutos uma vez por semana. O
se falavam há algum tempo e que numa das depois de alguns minutos de exercícios feitos plano na gaveta. “espírito de convívio”, diz, é coisa que se no-
aulas se viram a pôr os desentendimentos de num círculo e entre sorrisos rasgados, um gru- Com a sensação de que o assunto tinha per- tou aumentada desde que a iniciativa ganhou
lado: “Comentou-se que parecia uma sessão do po de 30 jardineiros inicia em passo acelerado nas para andar, Pedro Silva arriscou, em 2013, forma. Mas os ganhos maiores apresenta-os
Perdoa-me”, conta divertido o vereador, licen- uma série de voltas ao quarteirão, colete ama- criar a Exerlife: uma startup que presta serviços numa trilogia perfeita: “Melhora-se a postura,
ciado em Educação Física, mestre em saúde e relo vestido. “Há uns anos tive um acidente e de consultoria para a saúde pública e individu- ganha-se consciência das nossas limitações e
doutor na área do envelhecimento. não posso fazer esse tipo de esforços”, explica. al, incentivando a adopção de estilos de vida trabalha-se melhor”, aponta, para logo deixar
Além desta promoção dos relacionamentos e Trabalhou vários anos na secção de águas e sa- mais saudáveis, representa equipamentos des- um apelo misturado de conselho: “Era bom
do exercício, o programa delineado quer tocar neamento da câmara e há cerca de oito meses portivos e desenvolve tecnologia relacionada que as empresas pensassem sobre isto.”
em diversas áreas. Em breve, a nutricionista foi para a jardinagem. Corta relva, limpa estra- com desporto e saúde.
da câmara leccionará um workshop, prova- das, planta. “Isto é bom para desenferrujar”, Adaptando a ideia pensada para os mais no- mariana.pinto@publico.pt
velmente centrado na dieta mediterrânica, comenta, “só havia de ser mais vezes”. vos aos idosos, Pedro Silva já deu nas vistas ao
classificada pela UNESCO como Património A aula ao ar livre com início às 8h30 termina ser seleccionado para uma bolsa do Banco de Ver mais em
Cultural Imaterial da Humanidade. Em curso 15 minutos depois. Rapidamente as três deze- Inovação Social da Santa Casa da Misericórdia, p3.publico.pt
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24 • Público • Domingo, 25 de Março de 2018

Media&Tecnologia
PAULO WHITAKER/REUTERS

Televisão
Ugly Delicious,
ou a internacional
da comida feia
tregas da Domino’s e às tantas diz,
Jorge Mourinha farto, “chega, não faço nem mais
uma entrega”; ou no outro em que,
“Konnichi-wa, bitches!” A expressão levado a um restaurante de cozinha
só é usada no último dos oito episó- imperial chinesa, o chef é incapaz
dios de Ugly Delicious, mas define de comer os manjares que lhe são
muitíssimo bem o que se passa no propostos.
delirante monstro de muitas cabe- Digamos, à falta de melhor com-
ças a que David Chang, Peter Me-
ehan e Morgan Neville deram forma
para a Netflix. É uma viagem de sa-
paração, que desde os tempos áu-
reos de Anthony Bourdain pré-CNN
e do seu No Reservations que não
O que Ugly A floresta
amazónica
pode ter a
Tecnologia
bores com Chang, o chefe coreano-
americano celebrizado pela cadeia
víamos uma série de culinária tão
desformatada e tão marcada pela
Delicious faz ajuda dos
telemóveis que
À escuta
Momofuku, Meehan, ex-crítico de
restaurantes reconvertido em autor
personalidade do seu chef — e, ao
mesmo tempo, tão apaixonada e é mergulhar se tornaram
obsoletos
pela floresta
e colaborador regular de Chang, e tão capaz de pensar inteligente-
os seus convidados — que vão de
Aziz Anzari e Alan Yang, da série
mente naquilo que une a comida
de conforto de todo o mundo. Ugly
a fundo na
Pedro Guerreiro
Master of None, a David Simon, o
criador de The Wire, passando por
nomes respeitados da elite culiná-
Delicious faz a ponte entre os ra-
violi e outros gnocchi italianos e os
dumplings e outros dim sum chine-
confort food É impossível patrulhar em per-
ria como René Redzepi ou Sean
Brock. Mas a ideia da série, super-
ses, entre os churrascos de lenha
de animais inteiros do Sul ameri-
malvista e manência a imensidão da floresta
amazónica e protegê-la contra as
visionada pelo documentarista Ne- cano e as delicadas espetadas de actividades madeireiras ilegais e a
ville (premiado com o Óscar por A
Dois Passos do Estrelato e já autor
aves de “escondidinhos” de Tóquio.
Recusa-se a fazer a diferença entre
perceber que caça a espécies protegidas. Outro
problema sem relação aparente: o
de Abstract para o serviço de strea-
ming), não é celebrar a gastronomia
comida “rica” e “pobre”, “étnica”
e “ocidental”, “caseira” e “indus-
todo o mundo que fazer com milhares de telemó-
veis que se tornam obsoletos e in-
molecular. Aliás, um dos episódios trial”. Para David Chang, só há co- desejados a cada lançamento de um
começa com uma paródia do gené-
rico de Chef’s Table que acaba com
mida boa e comida má, e desde que
se faça e se coma com gosto pouco
tem aquela smartphone mais avançado?
A organização não-governamen-
sangue. Muito sangue.
O que Ugly Delicious faz é mergu-
interessa de onde venha. Konnichi-
wa, bitches! comida tal norte-americana Rainforest Con-
nection tem em marcha um projec-
lhar a fundo na confort food malvis- DR to que oferece uma solução para os
ta — pizzas, sushi, galinha frita, dim dois problemas: transformar tele-
sum, churrasco, tacos mexicanos, móveis antigos em postos de escuta
arroz chau-chau — e perceber que alimentados a energia solar que são
todo o mundo tem aquela comida colocados na floresta para ouvir ac-
que nos habituámos a comer em tividades ilegais.
casa ou no restaurante da esquina, A iniciativa corre desde 2014 mas
que não faz vista nem é considera- ganha agora um novo impulso atra-
da alta-cozinha mas que, se calhar, vés de uma parceria com a Google,
nos agrada muito mais do que o me- que vai disponibilizar à ONG a sua
nu de degustação uma-vez-na-vida. ferramenta de aprendizagem auto-
Chang chama a essa comida feia matizada. O TensorFlow vai anali-
deliciosa, e é daí que vem o título sar os sons registados por milha-
Ugly Delicious, decantado em oito res de telemóveis espalhados pela
episódios que têm qualquer coisa Amazónia e encontrar padrões não
de punk na maneira desestrutu- detectáveis pelo ouvido humano:
rada como estão estruturados. O por exemplo, a presença silencio-
genérico nunca é igual, as viagens sa de um jaguar, identificável pela
são entrecortadas por animações agitação de outras espécies.
bizarras, reportagens de exterior A desflorestação em países tropi-
à la Daily Show e interlúdios satíri- cais é um dos principais factores na
cos propositadamente amadores, base das alterações climáticas, da
a câmara revela de vez em quando desertificação e da perda de biodi-
mais do que devia. Como no epi- versidade.
sódio das pizzas em que Chang vai
acompanhar uma carrinha de en- pedro.guerreiro@publico.pt
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Público • Domingo, 25 de Março de 2018 • 25

Semana de lazer Por Sílvia Pereira


lazer@publico.pt

Arte
O viajante de André Alves
O Museu de Arte Contemporânea do Chiado abre a programação deste LISBOA
ano com Double Exposure, um “vídeo-poema” de André Alves. Inspirado na MNAC – Museu do Chiado
alegoria de Nietzsche O Viajante e a Sua Sombra, investiga “as possibilidades De 30 de Março a 3
e os limites de representar e traduzir o real e expor ou tornar acessível uma de Junho. Terça a
experiência artística”, explica a curadora, Sandra Vieira Jürgens. A peça foi domingo, das 10h às 18h.
concebida para o Pavilhão de Pesquisa: Utopia do Acesso, um projecto da Bilhetes a 4,50€
Universidade de Artes de Helsínquia (Finlândia) para a 57.ª Bienal de Veneza.

Arte
Com sons de outros
Depois de ter protagonizado
um dos mais celebrados
concertos da última edição
Música Pedro Tudela e Miguel Carvalhais,
que colaboram regularmente há
do festival de Paredes de
Coura, o inglês Benjamin
Clementine regressa
Clementine na 18 anos, mostram em Anotações
Sonoras: Espaço, Pausa,
Repetição uma instalação feita
com o álbum que lançou
entretanto. Com uma
mudança de tom.
fronteira com objectos sonoros fornecidos
por mais de 50 convidados de
várias áreas artísticas, entre eles
Se o primeiro, At Least André Gonçalves, Carlos Zíngaro,
David Lee Myers, Jonathan Uliel
for Now (distinguido
com o Mercury Prize),
exalava intimidade,
o novo I Tell a Fly
traz um olhar sobre
o mundo. De pendor
dramático — a que
ajuda a inclusão de
coros e o uso do
cravo —, é pontuado
por ecos de questões
como a crise dos Saldanha e Lawrence English. A
refugiados ou os dupla criou três peças sonoras
VIANA — exibidas ao longo de um mês
massacres na Síria. DO CASTELO cada uma — que compõem um
A perspectiva é a de Centro Cultural estrutura apresentada como
um viajante, estranho, Dia 26 de Março, às 22h. “uma área de experiência
alienígena. O gatilho FIGUEIRA DA FOZ multissensorial e imersiva que
criativo foi a impressão Centro de Artes vive do diálogo com o espaço
que lhe deixou uma nota e Espectáculos arquitectónico e com o tempo de
no visto para os EUA, que o Dia 27 de Março, às 21h30. permanência do visitante”.
descrevia como “estrangeiro LISBOA PORTO Faculdade de Belas-Artes
Campo Pequeno da Universidade do Porto
[alien] de capacidades Até 30 de Junho. Terça a sábado,
extraordinárias” Dia 29 de Março, às 21h30.
Bilhetes de 20€ a 40€ das 14h30 às 18h30.
Grátis

Teatro Música
Como Vos Aprouver Fantasia de diva
No Dia Mundial do Teatro, 27 Incluído pelo The Guardian na
de Março, Carlos Avilez estreia lista de “gemas escondidas de
com o Teatro Experimental de 2017” (ou os grandes álbuns que
Cascais mais uma incursão à podem ter passado ao lado),
obra de Shakespeare. Depois de Fantasii é o pretexto para o
A Tempestade (2016), encena encontro com a norte-americana
Como Vos Aprouver (As You Mhysa. A cantora e compositora,
Like It), a partir da tradução de também conhecida nas artes
Fátima Vieira e com dramaturgia multimédia como E. Jane,
de Miguel Graça. Assente numa apresenta-se como “uma diva
história de enganos e confusão negra e queer e uma estrela
de géneros e identidades, é a pop do underground”, numa
comédia pastoral que inclui noite que conta também com
uma das falas mais citadas de as electrónicas da fotógrafa-
sempre: “Todo o mundo é um CASCAIS Teatro Municipal Mirita Casimiro performer Jejuno (Sara Rafael).
palco.” No vasto elenco da peça, De 27 de Março a 29 de Abril. Terça, às 21h (só 27 de Março, LISBOA Galeria Zé dos Bois
destaca-se o veterano Ruy de Dia Mundial do Teatro); quarta a sábado, às 21h (excepto 28 de Abril, Dia 28 de Março, às 22h.
Carvalho. às 16h e 21h30); domingo (excepto 7 de Abril), às 16h. Bilhetes a 10€ Bilhetes a 8€
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26 • Público • Domingo, 25 de Março de 2018

Dia de ficar

entre eles funciona na perfeição


CINEMA Os mais vistos da TV RTP1 17,5% e não faz sequer segredo da
Sexta-feira, 23 ligação adúltera que mantém
O Círculo
TVC1, 21h30 Futebol - Jogo Amigável
% Aud. Share
RTP1 17,5 36,2
RTP2 1,5 com ele. Contudo, e apesar de
todos parecerem aceitar o caso,
The Circle é uma das empresas
mais prestigiadas na área da
A Herdeira II TVI 12,7 26,2 SIC 16,2 eles percebem que a um dado
momento terão de escolher um
TVI
Paixão II SIC 10,3 21,4
tecnologia. O seu principal foco
são os e-mails e as redes sociais,
Televisão Futebol - Flash Interview RTP1 10,3 20,8 20,1 caminho. De Victor Levin, com
Anton Yelchin, Bérénice Marlohe,
Cabo
Jornal das 8 TVI 9,9 20,1
com o objectivo de avaliar a forma
lazer@publico.pt
FONTE: CAEM
33,2 Glenn Close, Lambert Wilson,
como os utilizadores gerem as suas Frank Langella e Olivia Thirlby.
actividades diárias, os seus hábitos
RTP 1 TVC1 FOX
GALA
de consumo e as suas motivações
pessoais. Quando a jovem e 6.00 As Horas Extraordinárias 10.35 O Número 12.15 Tour de 13.03 Hawai Força Especial 15.39 As
ambiciosa Mae é contratada para 6.30 Espaço Zig Zag 8.00 Bom Dia Farmácia 13.05 Uma História Aventuras de Tintin - O Segredo do
fazer parte da equipa, não cabe Portugal Fim de Semana 8.30 Missa Americana 15.00 Bleed for This - A Licorne (V.P.) 17.43 Conan, o Bárbaro Prémios Sophia 2018
em si de contentamento. Porém, de Domingo de Ramos 10.45 Paraíso Força de um Campeão 17.00 Os Sete (2011) 19.53 Die Hard: Nunca é Bom Dia RTP2, 23h06
ao aperceber-se de que forma Verde 12.00 De Volta ao Solo - Aves Magníficos (2016) 19.20 Viver na Noite para Morrer 21.49 Príncipe da Pérsia: O melhor da produção nacional,
as informações são obtidas e Terrestres 13.00 Jornal da Tarde 14.15 21.30 O Círculo 23.20 O Homem dos As Areias do Tempo 0.02 Hawai Força num prémio organizado pela
das verdadeiras implicações do Sociedade Recreativa 15.15 Flash Blues 0.55 The Wilding - Presença Especial 2.30 The Walking Dead 3.15 Academia Portuguesa do Cinema.
conhecimento detalhado da vida 16.00 Divergente 18.15 Marido por Obscura 2.15 Animal (2014) 3.35 C.S.I. Miami São Jorge, de Marco Martins, é
privada dos indivíduos, começa a Acidente 19.59 Telejornal 21.00 Got Homenzinhos o filme com mais nomeações na
questionar-se sobre até que ponto Talent Portugal 23.00 Das 5 às 7 0.45 edição deste ano dos Prémios
tudo aquilo pode ser moralmente De Volta ao Solo - Aves Terrestres 1.45 FOX LIFE Sophia, da Academia Portuguesa
aceitável. De James Ponsoldt, com Sociedade Recreativa 2.30 Parlamento FOX MOVIES 13.00 9-1-1 13.47 The Resident 14.35 de Cinema, arrecadando 14
Emma Watson, Tom Hanks e John 3.15 Televendas 5.45 Hora dos 9.23 Dia da Independência 11.42 Robin Mom Wars 16.16 My Teacher, My nomeações incluindo melhores
Boyega. Portugueses (Fim de Semana) Hood (2010) 13.52 X-Men 2 16.00 Obsession 18.08 A Proposta 20.13 Filme, Realizador, Actor e
X-Men: O Confronto Final 17.35 Velozes Separados de Fresco 22.20 Louca por Actriz Principal, Actor e Actriz
3 Dias Para Matar e Furiosos 19.09 Velocidade Furiosa Compras 0.19 Cisne Negro 2.21 Ossos Secundária e Argumento Original.
Hollywood, 22h RTP 2 6 21.15 Kon-Tiki: A Viagem Impossível 4.46 Power Seguem-se, com 11 nomeações
Agente da CIA altamente 7.00 Euronews 7.55 Espaço Zig Zag 23.04 A Vida de Pi 2.05 Centurião 3.37 cada, Al Berto, de Vicente Alves do
qualificado, Ethan Renner 13.02 Voz do Cidadão 13.06 Caminhos Corrida Mortal (2008) Ó, e Peregrinação, de João Botelho.
sacrificou tudo em prol do seu 13.42 70x7 14.15 Nikolaj e Julie 15.00 DISNEY

MÚSICA
trabalho. Quando descobre que Desporto 2 17.04 Vamos à Descoberta 15.24 Lab Rats 16.10 Acampamento
tem uma doença terminal e que 17.55 A Mentira da Verdade 18.24 CANAL HOLLYWOOD Kikiwaka 16.35 Mickey Mouse -
pouco tempo lhe resta, resolve Bob’s Burgers 18.49 Ernest e Celestine 9.30 Artur 3 - A Guerra dos Dois Edição Especial 17.04 Miraculous
abandonar a carreira e tentar uma (V.P.) 20.06 E2 - Escola Superior de Mundos (V.P.) 11.10 Pai, Filho e Sarilho - As Aventuras de Ladybug 17.27 Um Músico, um Mecenas
aproximação à ex-mulher e à filha, Comunicação Social 20.36 Madeira 12.55 Brave - Indomável (V.P.) 14.35 Acampamento Kikiwaka 17.50 RTP2, 1h35
as únicas pessoas que realmente Prima 21.03 Jóias Para Que Vos Quero? Dava Tudo Para Estar Cá 16.25 A Melhores Amigas Sempre 18.14 K.C. Concerto do ciclo de instrumentos
nunca deixou de amar. É então 21.30 Jornal 2 22.17 O Gerente da Noite Branca de Neve e o Caçador 18.35 Agente Secreta 18.37 Lab Rats 19.00 históricos, organizado, em 2016,
que lhe é dada uma última 23.06 Prémios Sophia 2018 1.35 Um Os Substitutos (2009) 20.10 Eu Sou a A Irmã do Meio 21.01 Miraculous - As pelo Museu Nacional da Música,
oportunidade: em troca de um Músico, um Mecenas 2.34 Cinemax Lenda 22.00 3 Dias Para Matar 0.00 Aventuras de Ladybug com o objectivo de divulgar um
tratamento revolucionário que lhe 3.46 Afinidades 4.28 Ophiussa - Uma Polícia sem Lei 2.05 O Corvo (2012) dos mais importantes acervos
promete mais tempo de vida, terá Cidade de Fernando Pessoa 5.30 3.55 O Banquete do Amor instrumentais da Europa. Neste
de dedicar três dias à sua antiga Euronews DISCOVERY concerto, Fernando Costa
profissão e eliminar um dos mais 17.30 Corridas Ilegais 18.20 Chapa e (violoncelo Lockey Hill de
perigosos terroristas de sempre. AXN Pintura 20.05 A Febre do Jade 21.00 A Guilhermina Suggia c. 1800) e Luís
Com a vida por um fio e pouco a SIC 13.46 Viagem ao Centro da Terra 15.25 Febre do Ouro 22.00 À Pesca de Ouro Costa (piano Bechstein de Luís de
perder, Ethan decide arriscar-se 6.00 Espaço Infantil 9.20 Lua MIB 3: Homens de Negro 3 17.14 Amor, 23.50 A Febre do Ouro 0.40 A Febre Freitas Branco c. 1920) interpretam
a uma última missão. Um thriller Vermelha 10.15 Blinky Bill - O Filme Estúpido e Louco 19.18 Forrest Gump do Jade 1.30 À Pesca de Ouro 3.00 Os Luís de Freitas Branco, Fernando
de acção por McG, com Kevin (V.P.) 12.00 Vida Selvagem: Earths 21.55 A Queda de Wall Street 0.20 Caçadores de Mitos 4.30 Leilões Em Lopes-Graça e Luís Costa.
Costner, Amber Heard, Hailee Great Seasons 13.00 Primeiro Jornal Chicago Fire 1.10 Golpe no Paraíso Família 5.00 Caçadores de Leilões

INFANTIL
Steinfeld, Connie Nielsen, Richard 14.15 Fama Show 15.00 Cinema 17.30 2.49 Einstein (V.P.) 3.35 Einstein (V.P.)
Sammel e Eriq Ebouaney. Cinema 20.00 Jornal da Noite 21.30 4.24 Este País Não é Para Velhos
DivertidaMente 22.45 O Outro Lado HISTÓRIA
Das 5 às 7 do Paraíso 0.30 No Limite do Amanhã 17.07 Loucos por Carros 18.30 O Ernest e Celestine (V. Port.)
RTP1, 23h 2.15 Os Europeus 2.20 Poderosas 3.30 AXN BLACK Preço da História - Louisiana 20.39 RTP2, 18h49
Brian é um jovem nova-iorquino Televendas 14.34 Tudo Sob Controlo 16.38 21: O Preço da História 22.00 A Última Um filme de animação baseado
que ambiciona tornar-se escritor. A Última Cartada 18.37 Amor Sem Ceia Com Diogo Noronha 22.05 O nas delicadas personagens
Arielle é uma mulher madura, Fronteiras 20.34 O Acontecimento Preço da História 22.45 Os Sete Novos criadas pela ilustradora belga
mãe de dois filhos e esposa de um TVI 22.00 Os Filhos da Meia-Noite 0.30 Sinais do Apocalipse 0.15 Alienígenas Gabrielle Vincent. Celestine é
diplomata com quem mantém 6.15 Os Batanetes 6.30 Campeões e Vista Pela Última Vez... 2.22 Amor Sem 1.38 Forjado no Fogo 2.19 O Preço da uma ratinha órfã que sempre
uma relação aberta. Quando se Detectives 7.48 Detective Maravilhas Fronteiras 4.19 O Acontecimento História 2.41 A Era do Medo se sentiu incompreendida no
conhecem, a atracção é imediata. 8.40 O Bando dos Quatro 10.00 mundo subterrâneo dos ratos.
Com o passar do tempo, depois Querido, Mudei a Casa! 11.11 Missa No orfanato, onde foi criada,
de vários encontros, eles dão - Venda do Pinheiro 12.27 Somos AXN WHITE ODISSEIA habituou-se a ouvir terríveis
início a encontros diários entre as Portugal 13.00 Jornal da Uma 14.01 14.57 A Teoria do Big Bang 15.20 18.30 Luz na Terra 19.22 Albânia histórias sobre a crueldade dos
17h00 e as 19h00, entregando-se Somos Portugal 19.58 Jornal das 8 Casamento em Dose Dupla 16.52 Selvagem 20.15 Animais Vestidos Para ursos. Certo dia, a ratinha decide
de corpo e alma. Brian, apesar de 21.14 Secret Story 7 - Gala 0.00 Secret Psych - Agentes Especiais 19.10 Os Surpreender 21.06 Reviver o Bosque deixar as profundezas e explorar
apaixonado e feliz como nunca Story 7 - Pós-Gala 0.30 Secret Story 7 - Passageiros do Tempo 19.56 A Teoria Antigo 21.59 Planeta Azul Selvagem o perigoso mundo dos ursos.
antes tinha estado, sente-se Ligação à Casa 1.00 Querido, Comprei do Big Bang 22.00 Alguém Chamado 22.48 Resgate na Praia 0.20 Sexy É então que conhece Ernest,
inseguro e desconfortável com uma Casa 1.39 Querido, Mudei a Casa! Joe 23.46 Hora de Ponta 0.32 Gravidez Business 1.08 Fantasias Fetichistas um urso bonacheirão que, ao
a situação e quer levar a relação 2.33 Anjo Meu 2.56 Olhos de Água de... Alto Risco 1.55 Alguém Chamado 1.56 Sexy Business 2.43 Fantasias contrário do que seria de esperar,
para um outro nível; Arielle, 4.29 TV Shop Joe 3.41 Gravidez de... Alto Risco Fetichistas 3.31 Resgate na Praia adora música e fazer rir todos à
pelo contrário, acha que tudo sua volta.
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Público • Domingo, 25 de Março de 2018 • 27

Dia de sair

Mark Felt - O Homem Que Derrubou a 18h20, 21h35; Maria Madalena M12. 12h30, 13h30 (V.Port./2D); Gringo M14. 13h20, 21h40; A Idade da Pedra M6. 13h, 20h;

CINEMAS Casa Branca M12. 17h30, 22h; A Idade da


Pedra M6. 15h (V.Port./2D); Categoria 5 M12.
21h55; Tomb Raider: O Começo M12. 15h,
15h30, 18h30, 21h30; Sherlock Gnomes M6.
11h, 13h10, 15h35, 18h35 (V.Port./2D)
16h10, 18h45, 21h40; Tomb Raider: O
Começo M12. 13h15, 16h, 18h40, 21h30;
Sherlock Gnomes M6. 10h50, 13h10, 15h15,
Categoria 5 M12. 17h10; Lady Bird M14.
19h30; Gringo M14. 14h45, 22h; Tomb
Raider: O Começo M12. 15h, 17h30, 21h40;
Porto 17h30, 21h50; Maria Madalena M12. 15h, 17h20, 19h15 (V.Port./2D) Sherlock Gnomes M6. 11h,14h30, 16h30,
17h30, 21h45
Gondomar 18h30 (V.Port./2D)
Cinemas Nos Alameda Shop e Spot Cineplace - Braga Cinemas Nos Parque Nascente
R. dos Campeões Europeus, 28-198. T. 16996 C. C. Nova Arcada, Av. De Lamas nº 100. Praceta Parque Nascente, nº 35. T. 16996
Maia
A Forma da Água M16. 18h35; O Último Coco M6. 14h10 (V.Port./2D); As Cinquenta Sombras Livre M16. 21h40, Cinemas Nos MaiaShopping
São João da Madeira
Retrato M12. 14h30, 17h, 19h35; A Idade Ferdinando M6. 14h40 (V.Port./2D); Três 24h; 15:17 Destino Paris M12. 18h10, 20h40, MaiaShopping, Lugar de Ardegaes. T. 16996 Cineplace - São João da Madeira
da Pedra M6. 11h40, 13h10, 15h40, 18h20 Cartazes à Beira da Estrada M16. 19h; 23h30; Black Panther M12. 12h30, 15h20, As Cinquenta Sombras Livre M16. 13h20, São João da Madeira.
(V.Port./2D); Lady Bird M14. 13h15, 15h50, Patrulha de Gnomos M6. 16h20 (V.Port./2D); 18h30, 21h20, 00h10; Hostis M12. 13h10, 16h, 18h40, 21h40; Black Panther M12. As Cinquenta Sombras Livre M16. 21h40;
22h; Ciúme M12. 22h10; Tomb Raider: O A Forma da Água M16. 21h20, 23h50; As 16h20, 21h, 00h05; A Agente Vermelha M16. 18h05, 21h10; A Agente Vermelha M16. 21h; Black Panther M12. 14h10; A Agente
Começo M12. 13h50, 16h40, 19h40, 22h30; Cinquenta Sombras Livre M16. 18h50, 14h, 17h20, 20h50, 00h15; Snow: Uma A Idade da Pedra M6. 10h50, 13h30, 15h50 Vermelha M16. 18h30, 21h20; Snow: Uma
Aparição M12. 13h30, 16h20, 19h20, 22h35; 21h50, 23h30; Black Panther M12. 13h30, Viagem Heróica M6. 11h10, 13h30, 15h30, (V.Port./2D); Tomb Raider: O Começo M12. Viagem Heróica M6. 13h30 (V.Port./2D);
Sherlock Gnomes M6. 10h50, 15h55, 18h20, 21h10, 23h55; Hostis M12. 15h40, 17h50 (V.Port./2D); A Idade da Pedra M6. 14h, 17h, 21h30; Maria Madalena M12. A Idade da Pedra M6. 14h30, 16h30
18h40, 21h15, 23h45 (V.Port./2D), 13h20 18h30, 21h20, 00h10; Eu, Tonya M16. 13h30, 10h50, 13h40, 16h30, 18h50 (V.Port./2D); 13h50, 17h30, 21h20; Sherlock Gnomes M6. (V.Port./2D); Categoria 5 M12. 15h20,
(V.Port./3D); Wonderstruck: O Museu das 16h30, 19h, 21h30; A Agente Vermelha M16. Categoria 5 M12. 21h50, 00h25; Gringo M14. 10h40, 13h10, 15h45, 18h20 (V.Port./2D) 21h50; Gringo M14. 17h, 19h20, 21h40; Com
Maravilhas M12. 13h40, 16h30, 19h30, 12h50, 15h40, 18h30, 21h20, 00h05; Snow: 13h50, 16h50, 19h30, 22h, 00h35; Com Orient Cineplace - Mira Maia Shopping Paixão M12. 17h30, 19h40; Tomb Raider: O
22h20 Uma Viagem Heróica M6. 14h, 15h50 Paixão M12. 19h20; Tomb Raider: O Mira Maia Shopping, Estrada Real nº 95 - Começo M12. 14h, 16h30, 21h30 (2D), 19h
Medeia Teatro Municipal Campo Alegre (V.Port./2D); A Idade da Pedra M6. 12h50, Começo M12. 13h, 14h10, 15h50, 17h, 18h40, Lugar das Guardeiras. T. 229419241 (3D); Sherlock Gnomes M6. 13h40, 15h40,
R. das Estrelas. T. 226063000 14h50, 16h50 (V.Port./2D); Lady Bird M14. 19h50, 21h30, 22h30, 00h20; The Strangers Patrulha de Gnomos M6. 14h30 (V.Port./2D); 17h40, 19h40 (V.Port./2D)
O Capitão M16. 15h30, 18h30, 22h 15h20, 17h30, 21h50; Gringo M14. 17h, - Predadores da Noite M16. 12h40, 15h, As Cinquenta Sombras Livre M16. 21h20;
Trindade 19h20, 21h40, 00h10; Ciúme M12. 13h, 17h10, 22h10, 00h40; Maria Madalena M12. Black Panther M12. 18h30; A Agente
R. Dr. Ricardo Jorge. T. 223162425 19h40, 00h05; Com Paixão M12. 17h40, 12h55, 15h40, 18h20, 21h10, 23h50; Sherlock Vermelha M16. 21h10; Snow: Uma Viagem
Viana do Castelo
Últimas Conversas M12. 15h ; Colo M16. 19h50; Tomb Raider: O Começo M12. 14h10, Gnomes M6. 10h40, 12h50, 15h10, 17h30, Heróica M6. 15h10 (V.Port./2D); A Idade Cineplace - Viana do Castelo
18h15, 21h30; Lady Bird M14. 16h30, 16h40, 21h40, 00h10 (2D), 19h10 (3D); The 19h40 (V.Port./2D); Wonderstruck: O Museu da Pedra M6. 14h20, 16h20 (V.Port./2D); Avª General Humberto Delgado, Orient
20h; Wonderstruck: O Museu das Strangers - Predadores da Noite M16. 22h, das Maravilhas M12. 13h20, 16h10, 19h, Gringo M14. 12h50, 17h, 19h20, 21h40; Tomb Cineplace . T. 258100260
Maravilhas M12. 14h10, 21h45; Edifício 00h15; Aparição M12. 14h, 16h30, 21h30, 21h45, 00h30 Raider: O Começo M12. 16h30, 19h, 21h30; As Cinquenta Sombras Livre M16. 21h20;
Master M12. 18h; Jogo de Cena M12. 16h10 24h; Maria Madalena M12. 14h, 16h30, 19h, Sherlock Gnomes M6. 13h10, 15h10, 17h10, Black Panther M12. 13h40; Hostis M12. 13h,
21h30, 24h; Sherlock Gnomes M6. 13h20, 19h10 (V.Port./2D) 15h50, 21h30; A Agente Vermelha M16.
15h20, 17h20 (V.Port./2D), 19h20 (V.Port./3D)
Guarda 18h40; A Idade da Pedra M6. 13h, 15h
Aveiro Cineplace - Guarda (V.Port./2D); Gringo M14. 17h, 19h20, 21h40;
Cinemas Nos Fórum Aveiro C.C. Vivaci, Av. dos Bombeiros Voluntários
Matosinhos Tomb Raider: O Começo M12. 16h30, 21h30
R. Homem Cristo. T. 16996
Coimbra Egitanienses, nº 5. T. 271212140 Cinemas NOS Marshopping (2D), 19h (3D); Sherlock Gnomes M6. 13h10,
Três Cartazes à Beira da Estrada M16. Cinemas Nos Alma Shopping Coimbra A Forma da Água M16. 21h10; A Agente IKEA Matosinhos, Av. Óscar Lopes. T. 16996 15h10, 17h10, 19h10 (V.Port./2D)
18h10; A Forma da Água M16. 14h10, R. General Humberto Delgado, 207. T. 16996 Vermelha M16. 18h30, 21h20; Snow: Uma Coco M6. 10h45 (V.Port./2D); As Cinquenta
21h10; A Agente Vermelha M16. 14h, 18h, Colo M16. 13h45; Três Cartazes à Beira da Viagem Heróica M6. 15h10 (V.Port./2D); Sombras Livre M16. 22h50; Black
21h15; Snow: Uma Viagem Heróica M6. Estrada M16. 14h25, 20h50, 23h50; A Forma A Idade da Pedra M6. 14h20, 16h20 Panther M12. 14h, 17h50, 21h, 00h10;
Vila Nova de Gaia
10h45, 13h, 15h35, 18h20 (V.Port./2D); da Água M16. 20h40, 23h40; Hostis M12. (V.Port./2D); Categoria 5 M12. 14h10; Hostis M12. 12h25, 15h20, 18h30, 21h30, Cinemas Nos GaiaShopping
Lady Bird M14. 13h50, 16h30, 21h40; 14h20, 21h10, 00h10; O Último Retrato M12. Gringo M14. 12h50, 17h, 19h20, 21h40; Tomb 00h25; A Agente Vermelha M16. 13h, 16h, Av. Descobrimentos, 549. T. 16996
Ciúme M12. 19h05; Com Paixão M12. 21h; 21h, 23h30; A Agente Vermelha M16. Raider: O Começo M12. 16h30, 21h30 (2D), 19h10, 22h20; A Idade da Pedra M6. 10h30, As Cinquenta Sombras Livre M16. 18h30,
Tomb Raider: O Começo M12. 12h55, 15h40, 14h10, 21h20, 00h25; A Idade da Pedra M6. 19h (3D); Sherlock Gnomes M6. 13h10, 12h55, 15h20, 17h30, 19h50 (V.Port./2D); 18h30, 21h05; Black Panther M12. 14h40,
18h35, 21h30; Maria Madalena M12. 14h20, 11h30, 14h, 16h20,18h40 (V.Port./2D); Lady 15h10, 17h10, 19h10 (V.Port./2D) Tomb Raider: O Começo M12. 12h50, 17h50, 20h55; Hostis M12. 14h10, 17h30,
18h25, 21h20; Wonderstruck: O Museu das Bird M14. 16h50, 19h15, 21h40, 00h05; 15h30, 18h20, 21h10, 23h55; The Strangers 21h; A Agente Vermelha M16. 14h, 17h10,
Maravilhas M12. 13h15, 16h05, 18h55, 21h45 Ciúme M12. 17h20; Com Paixão M12. 17h30; - Predadores da Noite M16. 22h10, 00h30; 20h40; A Idade da Pedra M6. 10h50, 13h05,
Cinemas Nos Glicínias Tomb Raider: O Começo M12. 13h20,
Guimarães Maria Madalena M12. 12h30, 15h10, 18h, 15h50, 18h30 (V.Port./2D); Categoria 5 M12.
C. C. Glicínias - Aradas . T. 16996 16h05, 18h50, 21h35, 00h20; Aparição M12. Castello Lopes - Espaço Guimarães 20h50, 23h40; Sherlock Gnomes M6. 22h20; Com Paixão M12. 19h40; Tomb
As Cinquenta Sombras Livre M16. 13h20, 13h35, 16h25, 19h10, 21h55, 00h40; Maria R. 25 de Abril, 1 - Silvares. T. 253539390 10h40, 10h45, 13h30, 15h50, 18h10, 20h30 Raider: O Começo M12. 14h50, 18h, 20h50;
16h05, 18h45, 21h30; Black Panther M12. Madalena M12. 13h30, 16h15, 19h, 21h45, As Cinquenta Sombras Livre M16. 21h10; A (V.Port./2D); Tomb Raider: O Começo M12. Tomb Raider: O Começo M12. Sala 4DX -
14h10, 17h20, 21h10; Hostis M12. 14h30, 00h30; No Intenso Agora M12. 17h50; Agente Vermelha M16. 13h, 15h50, 18h30, Sala Imax ? 13h30, 16h10, 19h, 21h50, 00h35 12h35, 15h40, 18h40, 21h40; The Strangers
17h50, 21h; A Idade da Pedra M6. 11h10, Sherlock Gnomes M6. 11h, 13h40, 16h, 21h20; Snow: Uma Viagem Heróica M6. Cinemas Nos NorteShopping - Predadores da Noite M16. 12h55, 15h05,
14h05, 16h30, 19h (V.Port./2D); Categoria 18h20 (V.Port./2D); Wonderstruck: O Museu 13h10 (V.Port./2D); A Idade da Pedra M6. NorteShopping, R. Sara Afonso. T. 16996 17h20, 22h10; Maria Madalena M12. 12h40,
5 M12. 21h35; Gringo M14. 13h45, 16h35, das Maravilhas M12. 13h25, 16h10, 19h05, 13h10, 15h10, 17h10 (V.Port./2D); Categoria Black Panther M12. 14h30, 17h30, 20h50, 15h30, 18h20, 21h10; Sherlock Gnomes M6.
19h15, 22h; Tomb Raider: O Começo M12. 21h50, 00h35 5 M12. 19h; Gringo M14. 13h10, 15h40, 24h; A Agente Vermelha M16. 14h, 17h20, 10h45, 13h, 15h20, 17h40, 19h55 (V.Port./2D)
13h15, 16h, 18h55, 21h50; The Strangers - Cinemas Nos Fórum Coimbra 18h20, 21h45; Com Paixão M12. 21h40; 21h, 00h10; A Idade da Pedra M6. 10h50, UCI Arrábida
Predadores da Noite M16. 21h20; Sherlock Fórum Coimbra. T. 16996 Tomb Raider: O Começo M12. 13h10, 16h, 13h20, 15h50 (V.Port./2D); Categoria 5 M12. Arrábida Shopping.
Gnomes M6. 11h, 14h, 16h25, 18h50 As Cinquenta Sombras Livre M16. 21h20, 18h40, 21h30; Sherlock Gnomes M6. 13h20, 18h20, 21h50, 00h30; Lady Bird M14. 13h30, Coco M6. 11h, 13h55, 16h35 (V.Port./2D);
(V.Port./2D) 00h15; Black Panther M12. 14h30, 18h, 21h, 15h20, 17h20, 19h20 (V.Port./2D) 16h, 21h25, 23h55; Gringo M14. 13h, 15h40, A Hora Mais Negra M12. 21h15, 24h; Três
24h; A Agente Vermelha M16. 14h20, 17h30, Castello Lopes - Guimarães Shopping 18h40, 21h30, 00h15; Com Paixão M12. Cartazes à Beira da Estrada M16. 13h55,
21h10, 00h20; A Idade da Pedra M6. 13h50, Lugar das Lameiras - GuimarãesShopping. 18h50; Tomb Raider: O Começo M12. 12h50, 16h40, 19h10, 21h45, 00h35; The Post M12.
Barcelos 16h20, 18h40 (V.Port./2D); Gringo M14. T. 253520170 15h30, 18h30, 21h20, 00h20; The Strangers 19h; A Forma da Água M16. 13h40, 16h20,
Cinemax - Barcelos 13h30, 16h10, 18h50, 21h30, 00h10; Tomb As Cinquenta Sombras Livre M16. 21h10; - Predadores da Noite M16. 21h40, 00h05; 21h35, 00h25; Linha Fantasma M12. 19h;
Campo 25 de Abril. T. 253826571 Raider: O Começo M12. 13h40, 16h25, Black Panther M12. 15h30, 18h20, 21h20; Maria Madalena M12. 12h40, 15h20, 18h10, As Cinquenta Sombras Livre M16. 13h35,
Tomb Raider: O Começo M12. 21h40; 19h10, 21h55, 00h40; The Strangers - Hostis M12. 13h05, 15h50, 1835, 21h25; A 21h10, 23h50; Sherlock Gnomes M6. 10h40, 16h25, 21h45, 00h35; 12 Indomáveis M14.
Sherlock Gnomes M6. 15h30, 17h30 Predadores da Noite M16. 21h40, 00h30; Agente Vermelha M16. 13h, 15h45, 18h30, 13h10, 15h10, 18h (V.Port./2D) 21h40, 00h30; Black Panther M12. 13h45,
(V.Port./2D) Sherlock Gnomes M6. 14h10, 16h40, 19h 21h15; Snow: Uma Viagem g Heróica M6. 16h45; Black Panther M12. 21h20, 00h20;
(V.Port./2D) 11h (V.Port./2D); A Idade da Pedra M6. 11h, Hostis M12. 13h30, 16h15, 19h05, 21h25,
Ovar 00h25; Eu, Tonya M16. 21h45, 00h20; O
Braga Cinema Dolce Vita Ovar Último Retrato M12. 14h10, 18h40, 00h10;
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R. dos Congregados, S. Victor. T. 16996 Cineplace - Serra Shopping O Capitão M16. 16h, 18h30, 21h30 21h25, 00h25; Mark Felt - O Homem Que
Coco M6. 10h40 (V.Port./2D); As Cinquenta Avenida Europa, Lt 7 - Loja A102. Derrubou a Casa Branca M12. 18h55; Snow:
Sombras Livre M16. 20h50, 23h40; Black A Forma da Água M16. 21h10; Black Uma Viagem Heróica M6. 11h, 14h15, 16h15,
Panther M12. 12h40, 15h45, 21h15, 00h25; Panther M12. 13h30; A Agente
Paços de Ferreira 18h45 (V.Port./2D); A Idade da Pedra M6.
A Agente Vermelha M16. 14h, 17h20, 21h, Vermelha M16. 16h20, 21h20; A Idade da Cinemas Nos Ferrara Plaza 11h, 13h50, 16h10, 18h20 (V.Port./2D);
00h15; A Idade da Pedra M6. 11h, 13h40, Pedra M6. 15h (V.Port./2D); Categoria 5 M12. Ferrara Plaza. T. 16996 Categoria 5 M12. 13h45, 16h35, 21h55,
16h05, 18h30 (V.Port./2D); Categoria 19h10; Gringo M14. 12h40, 17h, 19h20, As Cinquenta Sombras Livre M16. 15h, 17h50, 00h30; Lady Bird M14. 14h, 16h25, 18h50,
5 M12. 13h20, 15h40, 18h15, 21h20, 00h10; 21h40; Tomb Raider: O Começo M12. 14h, 21h50; A Agente Vermelha M16. 15h10, 18h10, 21h30, 24h; Gringo M14. 13h45, 16h20,
Gringo M14. 12h50, 15h30, 18h10, 21h10, 16h30, 21h30 (2D), 19h (3D); Sherlock 21h10; A Idade da Pedra M6. 10h50, 13h30 18h55, 21h30, 00h10; Ciúme M12. 16h15,
24h; Com Paixão M12. 13h45, 16h35, 19h15, Gnomes M6. 13h10, 15h10, 17h10, 19h10 (V.Port./2D); Categoria 5 M12. 21h40; Tomb 21h20; Com Paixão M12. 13h45, 16h15,
22h, 00h45; Tomb Raider: O Começo M12. (V.Port./2D) Raider: O Começo M12. 13h10, 16h, 18h20, 18h45, 21h15, 00h05; Tomb Raider: O
13h, 15h50, 18h40, 21h30, 00h30; The 21h30; Maria Madalena M12. 11h, 14h30, Começo M12. 13h50, 16h30, 19h10, 21h50,
Strangers - Predadores da Noite M16. 17h30, 21h, 23h50; Sherlock Gnomes M6. 00h30 (2D), 19h (3D); The Strangers -
22h, 00h20; Maria Madalena M12. 13h10,
Figueira da Foz 10h40, 13h20, 15h40, 18h (V.Port./2D) Predadores da Noite M16. 22h, 00h40;
16h10, 19h, 21h40, 00h40; Sherlock Cinemas Nos Foz Plaza Aparição M12. 13h50, 16h30, 19h05, 21h40,
Gnomes M6. 11h10, 11h40, 13h30, 16h, C. C. Foz Plaza, R. Condados. T. 16996 00h15; Maria Madalena M12. 13h40, 16h20,
18h20 (V.Port./2D); Wonderstruck: O Museu A Forma da Água M16. 12h20, 15h, 18h10,
Penafiel 18h55, 21h35, 00h15; Sherlock Gnomes M6.
das Maravilhas M12. 13h15, 16h20, 19h05, 21h20; Black Panther M12. 21h10; A Agente Cinemax - Penafiel 11h, 13h45, 16h10, 18h35 (V.Port./2D); O
21h50, 00h35 Vermelha M16. 21h; A Idade da Pedra M6. Sherlock Ed. Parque do Sameiro. T. 255214900 Capitão M16. 13h35, 16h20, 18h55, 21h35,
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28 • Público • Domingo, 25 de Março de 2018

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calculadora, façam-me lá o De qualquer forma, os confrontos para a Se em qualquer momento se abrirem Espirito Santo Ldª (Sanfins do Douro), das Tílias
(Vilar de Maçada) Almeida - Cunha, Moderna
produto dos dois números que segunda eliminatória são publicados no alternativas, há que seguir cada uma (Vilar Formoso) Amarante - De Amarante Amares -
estão aqui nesta folha. blogue Crime Público, em http://blogs. delas para verificar se mais à frente Marques Rego (Ferreiros) Anadia - Central (Ancas/
publico.pt/policiario, onde podem ser elas ficam inviabilizadas. Neste caso, o Paredes do Bairro) Arcos de Valdevez - Torres
O primeiro número terminava Arganil - Moderna Armamar - Batista Ramalho, Lúcio
consultados, sempre a tempo de cada problema ficará perfeito, uma vez que Arouca - Santo António (Stª Eulália - Arouca) Aveiro -
em 1 mas a Carlota confundiu-o confrade saber com precisão quem é apenas terá aquela solução, mas diversos Higiene (Esgueira) Baião - Queirós Cunha (Campelo),
com um 7, obtendo como o seu oponente e poder elaborar a sua caminhos que vão podendo ser seguidos
Rocha Barros (Eiriz) Barcelos - De Arcozelo Boticas
- S. Cristovão Bragança - Vale D´Álvaro Cabeceiras
resultado 41891. proposta de solução com conhecimento pelos decifradores, para serem todos de Basto - Moutinho Caminha - Beirão Rendeiro,
Brito (Vila Praia de Âncora) Cantanhede - Cruz
O último algarismo do da sua identidade. eliminados mais à frente. Carrazeda de Ansiães - Rainha Carregal do Sal
segundo número era um 3 Em resumo, um produtor de problemas - Abreu, Ramos (Cabanas de Viriato) Castelo de
Paiva - Adriano Moreira, Pinho Lopes (Oliveira do
mas o Alessandro viu lá um 8 PROBLEMAS POLICIÁRIOS policiários deverá construir o seu caso Arda), Marques Lopes (Santa Maria de Sardoura)
e o produto a que chegou foi DE TODOS PARA TODOS! para concluir na solução escolhida e Castro Daire - Gastão Fonseca, Matias Pereira
(Mões), Costa (Parada de Ester) Celorico da Beira
Recomeçaram as nossas competições única e testar o desafio para que não
42168. - Barreiros Celorico de Basto - Alves Dias Chaves -
e com elas, os desafios policiários aceite mais nenhuma alternativa válida. Costa Gomes Condeixa-a-Nova - S. Tomé Espinho
Quais eram os números da que assumem importância vital no Um dos maiores obstáculos que hoje se - Paiva Esposende - Gomes Estarreja - Campos
Fafe - De Quinchães (Quinchães) Felgueiras - Sta.
Isabel? nosso passatempo, quase sempre apresenta aos candidatos a produtores, Quitéria Figueira da Foz - Goes Pinheiro Figueira
de Castelo Rodrigo - Bordalo Fornos de Algodres -
com uma dose de polémica à mistura. é a questão do espaço disponível. Em Central Freixo de Espada à Cinta - Guerra Góis - da
Naturalmente, as discussões sobre tempos não muito distantes, a questão Serra (Alvares), Coroa, Frota Carvalho (Vila Nova
do Ceira) Gondomar - Central (Rio Tinto) Gouveia
policiário são recorrentes, sobretudo do espaço não era um problema - Patrício, Central (Melo - Gouveia), Albuquerque
O desafio proposto na semana passada foi o seguinte quando o que está em causa são candente e todos os que já temos uns (Moimenta da Serra), Pedroso (Vila Nova de Tazem)

Pipopas no cinema primeiros problemas, de novos anitos disto nos lembramos dos desafios Guarda - Tavares (Trinta) Guimarães - Henrique
Gomes (Oliveira do Castelo) Ílhavo - Morais
produtores, muitas vezes sem o “calo” publicados no Mundo de Aventuras, (Gafanha da Nazaré) Lamego - Santos Monteiro
que permita evitar os conflitos. pela mão do Sete de Espadas, ou na Lousã - Torres Padilha (Serpins) Lousada - Ribeiro
S.A Macedo de Cavaleiros - Diogo Mangualde -
“O Nelson, quando vai ao tornavam-se banais e sem Mas, hoje não nos vamos debruçar revista Passatempo, a cargo do Inspector Albuquerque, Beirão (Chãs de Tavares) Manteigas
sobre problemas em concreto, mas sim Aranha, com várias páginas, muita - Bráulio Monteiro Marco de Canavezes - do Marco
cinema, compra sempre um grande interesse. Mealhada - Miranda, Suc. Meda - Pereira Melgaço
apontar alguns aspectos que poderão ser descrição de cenas e personagens, muito - Gonçalves (Castro Laboreiro), Durães, Vale do
pacote de pipocas. A variante de hoje está úteis para os candidatos a produtores, texto para dissimular os pormenores Mouro Mesão Frio - Ferreira Mira - Pisco Miranda
Quando está sozinho, as pipocas “atualizada” para os costumes que nunca devem desistir, mas sim que faziam a solução. A simples leitura
do Corvo - Lima Natário, Borges (Semide - Miranda
do Corvo) Miranda do Douro - Miranda (Mirando
duram-lhe 36 minutos. de muitos frequentadores das aperfeiçoarem os seus métodos. do problema já era um exercício bem do Douro) Mirandela - Central Mogadouro - Nova
Moimenta da Beira - Ferreira, César (Leomil)
Quando vai com a Raquel, o salas de cinema. Como é óbvio e natural, todas as complicado e a sua interpretação Monção - Codeço Sucr. Mondim de Basto - Oliveira
pacote já só dura 20 minutos. A melhor maneira de chegar à capacidades dedutivas dos confrades era obtida em leituras “à linha” ou Montalegre - Canedo Montemor-o-Velho - Natário
(Verride) Mortágua - Abreu Murça - Saúde Murtosa
Se também levarem com eles os solução é começar por calcular têm que ser postas em actividade “ao parágrafo”, para poderem ser - Portugal Nelas - Da Misericórdia (Santar) Oliveira
máxima para responderem aos absorvidos todos os indícios. Hoje, de Azemeis - Gomes da Costa Oliveira de Frades
dois filhos, o Pedro e o Filipe, a que parte do pacote come o - Oliveirense Oliveira do Bairro - Tavares de Castro
problemas que são propostos. Estes, o espaço disponível é reduzido e os
situação é dramática: compram Nelson durante um minuto: 1/36. produzidos também no seio da nossa problemas têm um número máximo de
Oliveira do Hospital - Gonçalves Ovar - Carmindo
Lamy Paços de Ferreira - Antero Chaves Pampilhosa
dois pacotes que, mesmo Quando o Nelson e a Raquel se “tribo policiária”, encerrarão elementos caracteres que obrigam os produtores da Serra - do Zêzere (Dornelas do Zêzere), Central
Paredes - Ferreira de Vales (Rebordosa) Paredes
assim, desaparecem em quinze “deliciam” com as pipocas, em que são obrigatórios, nomeadamente a um exercício suplementar de síntese, de Coura - Da Calçada Penacova - Alves Coimbra
minutos. cada minuto esvazia-se 1/20 do retratarem situações verosímeis e haver causando uma concentração de Penafiel - Oliveira Penalva do Castelo - Silveira
Penedono - Rua Penela - Penela Peso da Régua -
Quanto tempo demora a Raquel pacote. uma componente de mistério para pormenores e indícios que acabam Arrochela Pinhel - Nova de Pinhel, Da Misericórdia
decifrar. facilitando a tarefa dos decifradores, (Alverca da Beira), Moderna (Pínzio) Ponte da Barca
a comer as pipocas quando vai Logo, a parte que a Raquel come - Saúde Ponte de Lima - Cerqueira Porto - Sousa
só ela ao cinema? por minuto é a diferença entre Quando um autor apresenta um para além de dificultarem a parte Beirão Póvoa de Lanhoso - Matos Vieira Póvoa
problema, sabe de antemão que vai literária do próprio texto. de Varzim - Praia Resende - Avenida Ribeira de
E se apenas forem o Pedro e o a parte comum e a parte do ser escrutinado e alvo de críticas, que Alguns confrades entendem que
Pena - De Cerva (Cerva), Borges de Figueiredo
Sabrosa - Vieira Barata, Fraga (São Martinho de Anta)
Filipe?” Nelson: poderão ter fundamento ou nem deveríamos explorar outros caminhos, Sabugal - Aldeia Velha (Aldeia Velha), De S.Miguel
Os leitores mais atentos ou 1/20 – 1/36 = (9 – 5)/180 = 1/45 por isso. desde a publicação de desafios mais (Cerdeira do Coa), Higiene (Souto) Santa Comba
Dão - Carrilho, Sales Mano (S.João de Areias) Santa
mais habituados a resolver Portanto, se a Raquel come 1/45 No processo de feitura, o autor deve extensos em duas partes, em semanas Maria da Feira - Araújo, Teles (Lourosa) Santa Marta
de Penaguião - Santa Eulália (Cumieira), Douro
enigmas terão reparado estar do pacote por minuto, vai ter ter bem presente a chave que pretende consecutivas, até à publicação no blogue (Santa Marta Penaguião) Santo Tirso - Salutar São
em presença de uma variante pipocas para três quartos de para o problema, ou seja, a solução que Crime Público, onde as limitações de João da Madeira - Central São Pedro do Sul - Dias
Sátão - Santo André (Lamas), Andrade Seia - Melo,
de um tipo de problemas que, hora. quer que os solucionistas lhe venham espaço não existem. Popular (Loriga), Paranhense (Paranhos da Beira),
a dar. Assim, deve conferir, desde Se a primeira sugestão não reúne as Neves Rodrigues (Pinhanços), do Alva (Sandomil), De
há muitos anos, atormentavam Quando vão os quatro ao São Romão (São Romão) Sernancelhe - Confiança,
logo, se essa solução é absolutamente preferências dos confrades, que já em
ou entusiasmavam os alunos cinema, cada pacote dá para correcta ou não. Em muitos casos, diversas ocasiões fizeram saber que a
Mota (Vila da Ponte) Sever do Vouga - Terra (Couto
de Esteves) Soure - Soure Tábua - Quaresma
dos primeiros anos de ensino: sete minutos e meio. Logo, em acontece que os factos são empíricos perda da unidade do problema pela (Mouronho) Tabuaço - Nova de Tabuaço Tarouca
- Augusta (Salzedas), Moderna Terras de Bouro
as célebres questões de cada minuto esvazia-se 1/7,5 do e não verificáveis e depois aparecem publicação “em prestações” não era - Alvim Barroso (Covas) Tondela - Horta Torre de
enchimento e esvaziamento de pacote. várias opiniões e conclusões para o boa solução, no caso do blogue ainda Moncorvo - Avenida Trancoso - Macedo de Crespo,
Pereira (Vila Franca das Naves) Trofa - Barreto Vagos
banheiras. A parte correspondente aos dois mesmo acto. Por exemplo, se a solução mais vozes se levantam, por conduzir à - Tavares Vale de Cambra - Matos Valença - Central
se vai basear no facto de um cão ladrar exclusão de muitos leitores que seguem Valongo - Central Valpaços - Almeida Sousa Viana
Das várias estratégias de rapazes é: do Castelo - São Domingos Vieira do Minho - Freitas
resolução, há uma muito simples 1/7,5 – 1/20 = (8 – 3)/60 = 1/12 a estranhos e não aos donos, isso terá se fielmente o PÚBLICO, mas ignoram Vila do Conde - Normal Vila Flor - Do Hospital Vila
ser concretamente vertido no texto, sob completamente a informática e as novas Nova de Cerveira - Cerqueira, Suc., Correia de
de executar mas que, de início, O Pedro e o Filipe comem um pena de não ser uma conclusão óbvia e tecnologias.
Sampaio Vila Nova de Famalicão - Gavião (Picoto)
Vila Nova de Foz Côa - Moderna Vila Nova de Paiva
não ocorre facilmente, o que pacote de pipocas em doze certa. Há cães que ladram a todos, outros Enfim, temos de usar aquilo que é posto - Galénica Vila Nova de Poiares - Martins Pedro
provocava algum pânico na minutos. que não ladram a ninguém, outros ainda à nossa disposição, mesmo com as (S.Miguel de Poiares), Santo André Vila Pouca de
Aguiar - Figueiredo Vila Real - Chaves Ferreira Vila
maioria dos estudantes. Depois, Note-se que, se um e outro que ladram de modo diferente conforme limitações existentes e continuarmos a Verde - Fátima Marques Vimioso - Barreira, Ferreira
(Argozelo) Vinhais - Albuquerque, de Rebordelo
percebido (ou decorado, por comerem ao mesmo ritmo, cada o seu humor e o destinatário! O autor levar aos “detectives” os casos criminais (Rebordelo) Viseu - Portugal Vizela - Campante
alguns) o caminho que se tinha um deles demoraria 24 minutos teria, pois, que nos fornecer todos os e policiais que todos gostamos de ler (Caldas de Vizela) Vouzela - da Torre (Alcofra) , Ana
Rodrigues Castro (Campia), Teixeira Cinfães - Nova
de seguir, estes problemas a esvaziar um pacote completo. dados sobre o animal, disfarçadamente, e decifrar, independentemente das de Cinfães Vagos - Viva Vouzela - Vieira
ao longo do texto, para que pudesse ser restrições existentes.
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Público • Domingo, 25 de Março de 2018 • 29

Jogos

CRUZADAS 10.200 SUDOKU TEMPO PARA HOJE


HORIZONTAIS: 1.Fio metálico. Que
ou aquele que se baba. 2 . Colheita Problema
das uvas. 3 . Tomba. Teimoso. 4 . 8174
Engordar. É um dos símbolos bíblicos
da inocência. 5 . Lavrar. Dobra feita Dificuldade: Viana do Bragança
num tecido. 6 . Antes de Cristo
(abrev.). Nó que se desata facilmente. Fácil Castelo 1º 12º
Autores (abrev.). 7 . Mofo. Terceiro 7º 14º
Braga
mês do ano civil. 8 . Atrapalhado.
Casal. Alternativa. 9 . Prefixo 4º 15º Vila Real
(separação). Relativo a modalidade. Solução do
problema 8172 13º Porto 3º 12º
10 . Autoridade Tributária e
Aduaneira. Flutuar. Érbio (s.q.). 11 . 6º 14º
Reprovação em exame (académico). Viseu
Pedaço de madeira ou metal entre a
3º 12º Guarda
sola e a palmilha de um sapato. 2,5-3m Aveiro
VERTICAIS: 1 . Quadril. Nomear 0º 8º
abade. 2 . Religioso ou penitente 7º 14º Penha
que vive na solidão. 3 . Atender. Douradas
Redução de leste. 4 . Terceira nota Coimbra -1º 5º
musical. Disse. Redução das formas
7º 14º
linguísticas “em” e “o” numa só. 5 .
Castelo
Enfrentar. Senão. 6 . Prestar para. Branco
Corte de alguns ramos de uma planta
com o fim de regularizar a produção
Problema Leiria 5º 15º
e melhorar os frutos. 7 . Dígito binário. 8175 7º 13º
Bom vinho (gíria). 8 . Agastar-se sem Solução d o problema anterior
dizer o motivo. Pateta (gíria). 9 . Fazer Dificuldade:
Santarém
a barba a. 10 . Concavidade que a HORIZONTAIS: 1 . Dado. Cosmos. 2 . Ola. Barrela. 3 . Alerta. Muito difícil Portalegre
saia faz entre os joelhos e a cintura, Lei. 4 . Tri. Erro. Or. 5 . Em. Ave. Mas. 6 . Madre. Pop. 7 . AC. 9º 16º
quando a mulher está sentada. 4º 13º
Esmo. 8 . Os. HISTÓRIA. 9 . Aro. Aa. Tez. 10 . Miite. Imane. 11 .
Preposição que indica lugar. 11 . Balela. Crer. Lisboa
Pedra preciosa, forma mineral amorfa VERTICAIS: 1 . DO. TEMPO. Mb. 2 . Alarma. Saia. 3 . Dali. Da. Solução do 9º 14º
hidrosa de sílica. Que não é a mesma. Ril. 4 . Archote. 5 . BREVE. El. 6 . Catre. ESA. 7 . Orar. Estai. 8 problema 8173
Depois do problema resolvido . Sr. Om. Mó. MC. 9 . Mel. Aportar. 10 . Oleoso. Iene. 11 . Sair. Setúbal
encontre o provérbio nele inscrito Prazer. Évora
TÍTULO DA OBRA Breve História do Tempo. 9º 15º
(6 palavras).
6º 15º
AMANHÃ

CRUZADAS BRANCAS 14º Sines


Beja
6º 16º
8º 15º
HORIZONTAIS 1. Objecto
metálico que serve para prender
alguém pelos pulsos. Transpirar. © Alastair Chisholm 2008 and www.indigopuzzles.com 2-3m
2. Botequim. Enfermidade que
grassa numa região (povo,
Sagres
país, etc.), e que tem causas
exclusivamente locais. 3.
Combinar, ajustar, conciliar.
DESCUBRA AS 8 DIFERENÇAS 10º 17º
Faro
10º 20º
Sofrimento. Suspiro. 4. Contr. 15º
da prep. em com o art. def. os.
1-2m
Contr. da prep. a com o art. def.
o. Alternativa (conj.). 5. A minha Açores
pessoa. Desapiedado. 6. Nome
Corvo
próprio feminino. Despedida. 7.
Graciosa
Designação genérica de matérias Terceira
corantes. A acusada. 8. Sobre Flores
(prep.). Lantânio (s.q.). Aqui está. S. Jorge 7º 14º
8º 15º
9. Brisa. Pau-ferro. Deusa. 10.
Falso. Possui. 11. Agastamento. 17º 17º
Pico
Marido.
VERTICAIS 1. Sacudi. Borracha 3-4m
Faial
(utensílio escolar). 2. Agricultura.
Órgão excretor que tem a 8º 14º
5-7m S. Miguel
função de formação da urina. 3.
Cinzento-azulado. Nome da letra 8º 14º
N. Despido. 4. Adversário. 5. A Ponta
mim. Pequena argola com que se 17º Delgada
enfeitam os dedos. Planta liliácea
4-5m
da China. 6. Caminhou. Engana.
7. Contr. da prep. de com o art.
8. Seroada. 9. Um, Une, Eito. 10. Aia, Ourives. 11. Raiz, Sésamo.
4. Inimigo, 5. Me, Anel, Ti, 6. Andou, Ilude. 7. Do, Mana, Os.
Madeira Sta Maria

def. o. Irmã (fam.). Ósmio (s.q.). VERTICAIS: 1. Abanei, Safa, 2. Lavoura, Rim, 3. Gris, Ene, Nu,
8. Longo serão. 9. A unidade. Porto Santo
Junta. Sucessão, seguimento de
14º 19º
8. Em, La, Eis. 9. Ar, Itu, Diva. 10. Fingido, Tem. 11. Amuo, Esposo.
coisas. 10. Camareira. Fabricante 4. Nos, Ao, Ou. 5. Eu, Inumano. 6. Irene, Adeus. 7. Anilina, Ré. 18º
ou vendedor de objectos de ouro HORIZONTAIS: 1. Algema, Suar. 2. Bar, Endemia. 3. Avir, Dor, Ai.
ou prata. 11. A parte oculta de Solução
qualquer coisa. Gergelim. Funchal
2,5-3,5m
3-4,5m 16º 21º
18º

XADREZ Sol Lua Cheia

M. Liburkin Nascente 07h33


4/5 menção, 1934 Poente 19h53 31 Mar. 13h37
(As brancas empatam)
1/2 - 1/2
Dxd5 Marés
[6.Bxh1? Cd6+ 7.Rc6 Rxh1]
3.Ra8! Cb6+ 4.Rb7 Cxc8 5.Bd5+ Rg1 6.Rxc8!! Leixões Cascais Faro
[2...Cd7+ 3.Rb7]
2...Cc4+! Preia-mar 09h09 2,7 08h45 2,8 08:49 2,7
[2.Bd5+ Cf3!] 21h47 2,8 21h24* 2,8 14:46 1,3
2.c8=D
[1...Da1 2.c8=D Bxe5+ 3.Rb7 Db2+ 4.Rc6 Dc2+ 5.Rb7] Baixa-mar 15h17 1,3 14h56 1,4 21h29* 2,8
[1...Bxe5 2.Bd5+]
04h19* 1,2 03h55 1,3 03h48 1,2
vaca; Desenho do quadro.
1.e5 Cxe5 Nuvem de fumo do cachimbo; Braço do sofá; Cabelo do senhor da foto; Orelha da
Solução: Soluções: A gravata na foto do quadro; Os olhos do senhor; A gravata do senhor;
Fonte: www.AccuWeather.com *de amanhã
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30 • Público • Domingo, 25 de Março de 2018

Estar bem

Mais atividade física, menos diabetes.


É assim tão simples
HUY PHAN/UNSPLASH

O controlo da diabetes A diabetes tem-se revelado como um sistema simples de avaliação


um dos maiores desafios para e aconselhamento breve para a
tipo 2 em Portugal os sistemas de saúde em todo atividade física, por médicos e
passa inevitavelmente, o mundo. Atualmente, existem outros profissionais de saúde;
e em larga medida, 425 milhões de pessoas a viver e por um maior envolvimento
com diabetes e estima-se que o de profissionais de exercício
pelo aumento da número de casos aumente para físico, quer na prescrição de
atividade física na 629 milhões em 2045 (aumento atividade física em articulação
população e por uma de 48%). Portugal ocupa um lugar com os serviços de saúde, quer
na linha da frente dos países na condução de programas de
maior participação europeus com maior prevalência exercício físico na comunidade
das pessoas com esta desta doença crónica — as ou em contextos clínicos.
doença em programas estimativas apontam para uma Apesar do reconhecimento
prevalência entre 9,8% e 13,3% na da atividade física como um
de exercício físico população adulta e idosa (mais de dos objetivos das consultas
um milhão de portugueses). de diabetes nos cuidados de
Romeu Mendes A diabetes está associada saúde primários (e também nos
a uma elevada mortalidade hospitais) e da referência à figura
Pedro Teixeira prematura por doenças cérebro- do “promotor da atividade física”
cardiovasculares (acidentes Casos evitáveis se a inatividade Custos com diabetes em 2020 como um elemento da equipa
vasculares cerebrais e enfartes física fosse eliminada da atribuíveis à alimentação pouco multidisciplinar de abordagem à
agudos do miocárdio) e é das população como fator de risco saudável e à inatividade física diabetes nos Centros de Saúde
principais causas de amputações Em % Em milhões de euros (Despacho n.º 3052/2013, de
dos membros inferiores, de 26 de Fevereiro de 2013), a
cegueira, de insuficiência renal Portugal Região europeia Alimentação Inatividade atividade física continua a ser
crónica e de perda de anos de pouco saudável física uma área do combate à diabetes
Cancro do cólon
vida com qualidade. com reduzido investimento.
15,1 3542
De todos os casos de diabetes, Urge a implementação de
9,8 Espanha 21.262
cerca de 95% são de diabetes soluções concretas de atividade
Cancro da mama
tipo 2, cujos principais fatores física para estas pessoas,
de risco são o excesso de peso/ 14,2 comparticipadas pelos sistemas
obesidade e a inatividade física. 9,3 de saúde, como acontece com
Não é coincidência que Portugal Diabetes tipo 2 outros tipos de tratamentos (por
seja um dos países europeus com 10,5 30.971 França 51.619 exemplo, farmacológicos ou via
níveis mais elevados destes dois 6,8 aconselhamento nutricional).
fatores de risco. Doença das artérias coronárias Urge a integração e articulação de
Para além de ter um papel profissionais do exercício físico
8,4
fundamental na prevenção da nos sistemas de saúde, como
5,5 5953
diabetes tipo 2, a atividade física se de profissionais de saúde se
demonstrou ser altamente eficaz Mortalidade (todas as causas) Itália 41.675 tratassem.
no controlo agudo e crónico 13,6 A diabetes custa ao país
dos níveis de glicose no sangue 8,8 cerca de 12% de toda a despesa
e na redução dos níveis de em saúde, equivalente a 1% do
Fonte: Lee et al (2012). Effect of physical inactivity on major non-communicable diseases worldwide: an analysis of
colesterol, da pressão arterial, burden of disease and life expectancy. Lancet 380:219-29; Candari et al (2017). Assessing the economic costs of PIB de Portugal (Observatório
do excesso de peso/obesidade, unhealthy diets and low physical activity: An evidence review and proposed framework. WHO and The European Nacional da Diabetes, 2016).
Observatory on Health Systems and Policies. WHO, United Kingdom
da insuficiência renal e do risco Dados da Organização Mundial
de pé diabético, levando a um de Saúde referentes a alguns
menor risco de complicações eliminada como fator de risco apesar de tanta evidência países vizinhos (figura do
associadas e de mortalidade da população portuguesa, cerca científica dos seus benefícios? lado direito) alertam para
Romeu Mendes cérebro-cardiovascular. É ainda de 10% de todos os casos de Para além das barreiras mais os custos no tratamento da
Médico de saúde pública na ARS reconhecido o papel crucial da diabetes tipo 2 seriam evitados, comuns como a falta de tempo diabetes diretamente atribuíveis
Norte, professor na Universidade atividade física na diminuição do para além do efeito na incidência e a falta de interesse/motivação à inatividade física, por
de Trás-os-Montes e Alto Douro, risco de quedas, no aumento da de outras doenças crónicas não (principais motivos apontados, comparação com outros fatores
e investigador no Instituto de aptidão funcional e na melhoria transmissíveis e na mortalidade também, pela população em de risco como a alimentação
Saúde Pública da Universidade da qualidade de vida destas global (figura do lado esquerdo). geral), os estudos apontam para pouco saudável.
do Porto pessoas. Qualquer aumento de atividade o medo de agravamento do Problemas graves de saúde
Todas as sociedades científicas física é positivo, mas exceder estado de saúde, nomeadamente pública controlam-se com
Pedro Teixeira internacionais recomendam a as recomendações mínimas de medo da ocorrência de estratégias de intervenção
Professor da Faculdade atividade física como um dos atividade física (150 min/semana) hipoglicemias, medo do risco baseadas na melhor evidência
de Motricidade Humana, pilares da prevenção e tratamento conduz ainda a maiores ganhos de pé diabético e medo de científica, com elevada
Universidade de Lisboa, e diretor da diabetes tipo 2. No entanto, os em saúde por um efeito de dose- queda e, ainda, para a falta de efetividade, baixo custo e boa
do Programa Nacional para a níveis de inatividade física nesta resposta, que está comprovado. apoio à prática de atividade aceitabilidade pela população.
Promoção da Atividade Física, população são alarmantes. O que levará esta população física. Algumas destas barreiras É este o potencial da atividade
Direção-Geral da Saúde Se a inatividade física fosse a não praticar atividade física, podem ser ultrapassadas com física no controlo da diabetes.
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Público • Domingo, 25 de Março de 2018 • 31

Crónica

Os telhados

A
s videiras refém por 30 anos de um banco, coisa. Tanto sofrimento. Tanto Deus? A nenhum. Talvez não seja
continuavam mas ganhei o meu telhado. Já lá desencanto. Por vezes, sinto o uma reza porque não tenho fé.
secas. Caídas. vão 11 anos. Serei cliente-refém desamparo. Onde me agarrar? Será mais convicção. Convicção
Mortas. por mais 19 anos. Mas o telhado E o jovem ateu que colocava cheia de dúvidas, mas convicção.
E a grua tem feito magia. Arregacei a estrela no peito, agora com E o céu está estrelado. Bonito.
continuava as mangas em dias de sol e barbas brancas, necessita de um Só existe um céu. O céu é de
ali, como plantei no telhado laranjeiras, altar. E eu encontrei o meu. O todos e para todos. Não é fé,
um objecto pessegueiros, bananeiras, telhado. é convicção. As crianças do
estranho. Encolhida. O tempo figueiras, pereiras, ameixoeiras, É lá que me refugio. Bem no subúrbio de Damasco deviam ver
Por Adriano Miranda foi passando e a ansiedade diospireiros, nespereiras, alto, mais perto do céu. Falo com o céu que eu vejo. Mas lá, o céu
aumentando. Até que, numa papiros, loureiros, mirtilos e as árvores e elas retribuem com é riscado com objectos de metal.
manhã, homens arrancaram uma borracheira. Coloquei duas o fruto. Rego as raízes e elas dão Lá chove maldade. Nos telhados
as cepas, atulharam o poço espreguiçadeiras. sinal de vida na Primavera. Mas de Ghouta Oriental, não existem
e começaram a fazer betão. Sou um ateu baptizado. Não do que mais gosto é da noite. O árvores. Só pó e buracos. Nos
A grua esticou-se na vertical sei se para as estatísticas sou silêncio. Enquanto os vizinhos telhados de Ghouta Oriental, são
e na horizontal. Depressa considerado cristão, mas pouco dormem para retemperarem as colocados prisioneiros. Serão
começaram a nascer paredes importa. Os números nunca forças para a manhã seguinte, eu escudos humanos. Outros são
laranja. Depressa comecei a foram o meu forte. Os meus pais deito-me numa espreguiçadeira lançados para morrerem
fazer visitas regulares ao que decidiram que eu devia receber e fico a contemplar as estrelas, esmagados na rua.
seria a cozinha, o quarto, a o amor de Deus. Assim foi. E se a seguir os aviões e a imaginar As imagens que nos chegam,
garagem, a sala. Num desses durante a rebeldia da juventude, quem vai lá dentro, de onde e ou seja, as imagens que nos
dias, acompanhado pelo indignado, os questionava por tal para onde vão. De quando em querem mostrar fazem doer
construtor, que falava em atrevimento, agora o sacramento vez, um gato vadio olha para o corpo e a alma. Na cozinha
cerâmica de primeira, em corte do Senhor não me incomoda. Foi mim desconfiado, um morcego está uma televisão que muitas
térmico, em domótica, em piso feito com amor e isso é o mais ronda as paredes à procura de vezes faz com que o garfo
radiante com um entusiasmo importante. E se na juventude alimento e vozes vagueiam no fique à beira do prato. Aquelas
igualmente radiante, eu só transformamos o mundo, passeio. Ali fico mergulhado em pessoas do subúrbio de Damasco
tinha olhos para o telhado. Foi com a velhice, ou melhor, na pensamentos. presas nos labirintos de betão
uma descoberta. Era ali que eu pré-velhice, começamos a No meu telhado, no meu altar, e ferro torcido, entregues às
queria estar. É ali que eu estou. compreender o mundo. Eu estou ornamentado com árvores, barbaridades da Al-Qaeda e aos
Entregues as chaves depois nesse estádio. Já construi uma olho o céu de barriga para o ar. obuses das autoridades, fazem-
de entregue o cheque, senti um vida. Agora começo a ter medo Estranha forma de rezar. Numa me subir as escadas o mais
prazer agridoce. Fiquei cliente- da morte. Da perda. Já vi tanta espreguiçadeira. Rezar a que depressa que consigo, até ao
MOHAMMED BADRA/EPA
telhado. Ali fico, preso às minhas

Por vezes, sinto convicções, cheio de dúvidas.


O céu é agora um fosso negro.

o desamparo. Sem estrelas. Sem aviões. Sem


morcegos. Só o gato teima em
aparecer. E como um castigo,
Onde me uma chuva forte começa a cair.
As árvores abanam, algumas
agarrar? E o tenras flores caem. Fico ali a
sentir a chuva a cair como se de
jovem ateu um chuveiro grande se tratasse.
Um banho que leve de vez a
que colocava vergonha que tenho. Vergonha
por aqueles rostos de inocência.

a estrela no Vergonha por aquela violência.


Vergonha porque na Síria não

peito, agora existem telhados como o meu.


Só pó e buracos. Em Mossul
também. Em Cabul também. Em
com barbas Bagdad também. Em Jerusalém
também.
brancas, Com a janela meio aberta,
uma voz chama por mim. Estou
necessita de doido, a apanhar chuva?! Vou
ficar doente. Sinto ainda mais
um altar. E eu vergonha. O que é uma gripe ao
pé da morte? Resta rezar. Resta

encontrei o lutar. Talvez a salvação esteja na


união de ambas.

meu. O telhado amiranda@publico.pt


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Veja a versão electrónica do jornal que remonta


ao Público dos anos 1990 em publico.pt/28anos

Fotografia tirada para a campanha


de lançamento do jornal em 1990
(da esquerda para a direita, de cima
para baixo): José Alberto Lemos,
Rogério Gomes, Leonor Pinhão,
José Vítor Malheiros, Áurea Sampaio,
Teresa de Sousa, João Cândido
da Silva, Nuno Pacheco, Jorge Wemans,
Joaquim Fidalgo, José Manuel Fernandes
e Vicente Jorge Silva

ASSINATURA
ANUAL: 100€ 60€
Dia 5 de Março completámos 28 anos
e fizemos uma viagem no tempo desde
1990 até 2018. Torne-se assinante O único jornal
e ajude-nos a continuar
a escrever a história diário que em 2017
publico.pt/assinaturas
cresceu em vendas
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