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XXI DOMINGO do TEMPO COMUM – 25 de agosto de2019

VIRÃO HOMENS DO ORIENTE E DO OCIDENTE, DO NORTE E DO SUL, E TOMARÃO LUGAR À


MESA NO REINO DE DEUS – Comentário de Pe. Alberto Maggi OSM ao evangelho

Lc 13,22-30

Naquele tempo: 22Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o


caminho para Jerusalém.
23Alguém lhe perguntou: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” Jesus
respondeu: 24“Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo
que muitos tentarão entrar e não conseguirão.
25Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a
bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta!’ Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’. 26Então
começareis a dizer: ‘Nós comemos e bebemos diante de ti, e tu ensinaste em nossas praças!’
27Ele, porém, responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim todos vós que praticais a

injustiça!’
28Ali
haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os
profetas no reino de Deus, e vós, porém, sendo lançados fora.
29Virão
homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no reino
de Deus. 30E assim há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos”.

Para entender a passagem do evangelista Lucas, capítulo 13, versículo 22, é preciso saber que
no tempo de Jesus o povo de Israel acreditava ser o único povo salvo, ao passo que todos os
outros povos, quer dizer os pagãos, não!

Vamos ouvir o que o evangelista nos escreve. “Jesus atravessava cidades e povoados,
ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém”. Então, Jesus vai para o que será a
última etapa de sua viagem, a cidade onde ele encontrará a morte pelas mãos das autoridades
religiosas.

“Alguém lhe perguntou: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” Ou seja, quer
saber quantos são aqueles que se salvam! Porque isso? Porque se acreditava que a salvação era
um privilégio reservado ao povo de Israel. Para aquele “alguem” que lhe tinha perguntado
quantos são aqueles que se salvam, Jesus responde afirmando quem são os que se salvam.

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Jesus respondeu: “Fazei todo esforço possível (literalmente “lutai”) para entrar pela porta
estreita”. Jesus não está convidando a fazer, quem sabe, alguns tipos de esforço ascético, ou a
pesquisar sobre quais dificuldades apresenta essa porta. Veremos que por essa porta não se
consegue entrar, não porque seja difícil entrar, mas porque - como diz Jesus - “Porque eu vos
digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão....” pelo simples fato que a porta já estará
fechada!

Portanto, Jesus não está convidando para fazer esforços dolorosos ou sacrifícios para entrar por
essa porta estreita, mas para abrir os olhos, porque há o risco de que, em seguida, essa porta
seja fechada. Por quê? “Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado
de fora...” então, não é que seja difícil entrar, mas ela será fechada.

“...Vós começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta!’”. Portanto, aqui o evangelista
apresenta pessoas que já têm uma comunhão com Jesus: de fato elas O chamam de “Senhor”.
“Mas Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’”. Quer dizer, “eu não vos conheço”.

Porque Jesus não os conhece? Para entender vamos prestar atenção à réplica desses que
ficaram “do lado de fora”. “Então começareis a dizer: ‘Nós comemos e bebemos diante de
ti...’. É uma alusão à Eucaristia! Então essas pessoas já tinham celebrado a Eucaristia do
Senhor!

“ ...E tu ensinaste em nossas praças!’”. Portanto, essas pessoas se nutriram já de Sua Palavra,
e, mesmo assim, Jesus declarará: “Ele, porém, responderá: ‘Não sei de onde sois’”. Jesus volta
a repetir o que já disse antes. E além do mais - citando do Salmo 6 o versículo 9 – acrescenta:
“Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça!’”. Na realidades o salmo diz: “todos
vós malfeitores que fazem o mal”. Porque essa dureza de Jesus? Porque a Jesus não importa a
relação que os discípulos podem ter com ele ou com o Pai.

Mas a Jesus interessa o fruto dessa relação com ele e com o Pai, isto é, a relação com os
irmãos: ações de amor, misericórdia, compaixão, perdão e generosa partilha. É isso o que
permite a comunhão com Deus. Deus não nos perguntará se temos acreditado Nele, mas se nós
temos amado como Ele. É a partir disso que se entende a resposta muito dura do Jesus: “eu
não vos conheço”. A Ele não importa que tipo de relacionamento essas pessoas tiveram com
Deus! A Jesus interessa a relação que elas tiveram com os outros humanos.

Esses participaram da Eucaristia, mas, depois, não foram capazes de fazer-se pão, de fazer, de
suas vidas, pão e alimento de vida para os outros. Ouviram Seus ensinamentos, mas esse
ensinamento não trasformou a existência deles.

E as palavras de Jesus são muito rigorosas: “Ali haverá choro e ranger de dentes...”. Imagem
essa que indica o fracasso completo de suas próprias vidas e desespero total.

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“...Quando virdes Abraão, Isaac e Jacó (os grandes patriarcas), junto com todos os profetas (os
profetas foram aqueles que tinham denunciado o culto a Deus e, ao mesmo tempo, completo
desinteresse para com os pobres), no reino de Deus, e vós, porém, sendo lançados fora”.

O povo de Israel acreditava ter direito de fazer parte do Reino de Deus! Com Jesus, pelo
contrário, quem não transforma esse conhecimento de Deus em amor pelos outros, é excluído
do Reino! Mas não só! É excluído e o seu lugar é tomado exatamente por aqueles povos que o
povo de Israel acreditava fossem os excluídos, ou seja, os pagãos. De fato, Jesus conclui: “Virão
homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, (portanto, de todos os recantos do
mundo) e tomarão lugar à mesa no reino de Deus”.

Jesus, quando deve apresentar o reino de Deus não o apresenta com símbolos religiosos e
litúrgicos, mas sempre com símbolos de convívio e de mesa. Pois bem, a essa “mesa do Reino”
à qual essas pessoas acreditavam pertencer de direito, essas serão afastadas e, em vez,
aqueles que se acreditava fossem excluídos vão participar. A conclusão de Jesus é clara: “E
assim há últimos...” - isto é, aqueles que eram considerados excluídos - “...que serão
primeiros, e primeiros...” - isto é, aqueles que acreditavam ter direito ao Reino - “...que serão
últimos”.

É uma repreenção muito severa e muito atual o que Jesus nos dá! Pode haver a presunção pela
pertença a uma religião ou pela participação em atos de culto, de ter direitos, a partir dos
quais, se possa excluir outras pessoas porque elas não pertencem à nossa cultura, nossa fé,
nossa etnia ou acreditam em outros deuses e se comportam de maneiras diferentes...então
Jesus os convida seriamente a tomar muito cuidado!

Atenção! Porque aqueles que vocês consideram os excluídos e aqueles que vocês rejeitam,
serão esses próprios que tomarão o vosso lugar no Reino de Deus.

Naturalmente “os primeiros” irão protestar e se queixar! (Reação essa que hoje não lemos, mas
que encontramos logo depois nos versículos seguintes). “Nesse momento, uns fariseus se
aproximaram…”(Lc 13,31) com ameaças de morte.

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