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V DOMINGO T. C.

04 de fevereiro de 2018
JESUS CUROU MUITAS PESSOAS DE DIVERSAS DOENÇAS
Comentário de pe. Alberto Maggi OSM ao evangelho
Mc 1,29-39
Naquele tempo, 29 Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, para a casa de
Simão e André. 30 A sogra de Simão estava de cama, com febre, e eles logo contaram
a Jesus. 31 E ele se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se. Então, a
febre desapareceu; e ela começou a servi-los.
32 À tarde, depois do pôr-do-sol, levaram a Jesus todos os doentes e os possuídos
pelo demônio. 33 A cidade inteira se reuniu em frente da casa. 34 Jesus curou muitas
pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios. E não deixava que os
demônios falassem, pois sabiam quem ele era.
35 De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num
lugar deserto. 36 Simão e seus companheiros foram à procura de Jesus. 37 Quando o
encontraram, disseram: “Todos estão te procurando”. 38 Jesus respondeu: “Vamos a
outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso
que eu vim”. 39 E andava por toda a Galileia, pregando em suas sinagogas e
expulsando os demônios.
Para entender o trecho do evangelho deste domingo é preciso inseri-lo no seu
contexto: é dia de sábado, e, neste dia, eram proibidas 1.521 ações! Este número
nasce dos 39 trabalhos que foram necessários para a construção do templo de
Jerusalém, dos quais, cada um era subdividido em outras 39 ações, para um total de
1.521 atividades.
E, entre elas, estava a proibição de visitar ou curar os doentes! Vamos acompanhar o
texto de Marcos.
“Jesus saiu da sinagoga...” - Na sinagoga houve um imprevisto: Jesus foi contestado
por um homem com o espírito mau - “...e foi, com Tiago e João...” - que
evidentemente estavam com Ele na sinagoga - “...para a casa de Simão e André” -
que, ao que parece, não foram ao culto na sinagoga.
Aqui, temos dois pares de irmãos: um par mais observante, Tiago e João, e outro,
Simão e André, ao que parece, menos. De fato Simão e André são nomes de origem
grega. “A sogra de Simão estava de cama, com febre”. É uma mulher e as mulheres
eram consideradas uma nulidade, e, além disso, está doente e, portanto, ela está
numa condição de impureza.
Uma mulher naquelas condições deve ser evitada. Mas, “eles logo contaram a Jesus”.
É já efeito da Boa Notcia que Jesus havia proclamado na sinagoga, uma Notcia que
não divide os homens entre puros e impuros, entre marginalizados e não, mas a todos
comunica seu amor!
“E Ele se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se”. Então, Jesus procura
curá-la. Mas é proibido, porque tocar uma pessoa impura signifca assumir a sua
impureza. Pois bem, Jesus ignora a regra do sábado. Todas as vezes que Jesus se
encontrou em confito entre a observância da lei de Deus e o bem do homem, nunca
hesitou: sempre escolheu o bem do ser humano!
Fazendo o bem do ser humano temos certeza de fazer também o bem de Deus.
Infelizmente, muitas vezes, pelo bem de Deus, pela honra a Deus, se faz mal ao ser
humano! Portanto, Jesus “segura sua mão”, transgrede a lei, e “a febre desapareceu; e
ela começou a servi-los”.
O verbo utilizado pelo evangelista é o mesmo, do qual se origina a palavra que todos
nós conhecemos: “diácono”. Quem é o diácono? É quem livremente serve por amor!
Pois bem, essa mesma palavra já foi usada para os anjos que, após as tentações,
serviam a Jesus no deserto.
Portanto, Marcos iguala o papel das mulheres ao dos anjos, que são os seres mais
próximos de Deus. Então, a mulher, considerada a pessoa mais distante de Deus, na
realidade, de acordo com o evangelista, é a mais próxima de Deus.
Enquanto naquela casa a necessidade de uma pessoa foi mais importante do que o
sábado, na cidade o sábado é mais importante do que as necessidades das pessoas. De
fato, “à tarde...” - uma expressão que em Marcos é sempre negativa - “...depois do
pôr-do-sol...” - portanto, esperam que esteja passado o dia de sábado, no qual era
proibido visitar e curar os doentes -
“...levaram a Jesus todos os doentes...”. O evangelista usa a expressão “os que
passavam mal”. É uma alusão ao profeta Ezequiel, capítulo 34, versículo 4, onde o
Senhor denuncia os pastores e diz: "vocês não curaram aquelas ovelhas que estavam
passando mal”. Portanto, não se trata tanto de doentes, e sim do povo oprimido e não
curado por seus pastores.
“... e os possuídos pelo demônio”. “Pessoa possuída” é aquela que é possuída por um
espírito impuro (mau), e que geralmente manifesta seu comportamento e é
reconhecida por isso.
“A cidade inteira se reuniu...” - literalmente “se congregou”. A raiz desse verbo é a
mesma da qual se origina a palavra “sinagoga”, “...em frente da casa”.
Para Jesus é um momento de grande sucesso!
“Jesus curou muitas pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios”.
Já vimos, em outras oportunidades, que liberar, expulsar os demônios signifca libertar
de ideologias religiosas - nacionalistas que tornam as pessoas refratárias ou hostis ao
anúncio da Boa Notcia de Jesus.
“E não deixava que os demônios falassem, pois sabiam quem ele era”.
Tudo isso identifca Jesus como o Messias esperado pela tradição, exatamente como
tinha feito a pessoa possuída por um espírito impuro na sinagoga. Pois bem, Jesus,
frente a uma cidade inteira que o está seguindo, que está pronta para segui-lo, rejeita
a tentação do poder e do sucesso.
“De madrugada, quando ainda estava escuro” - portanto quando faltava luz - “Jesus
se levantou e foi rezar num lugar deserto”.
É o primeiro de três momentos nos quais o evangelista apresenta Jesus em oração. E
todas as três vezes é sempre por uma situação de perigo ou de difculdade para os
seus discípulos. Aqui reza porque, como veremos, os discípulos se exaltam por este
sucesso de Jesus; uma segunda vez, reza após a partilha dos pães, quando há a
tentação de enxergar em Jesus o líder que pode resolver os problemas da sociedade e,
fnalmente, reza no Getsêmani, pouco antes de sua captura. Rueza precisamente
porque os discípulos não serão capazes de enfrentar a tragédia daquele momento.
“Simão e seus companheiros foram à procura de Jesus”. O evangelista usa a mesma
expressão que se encontra, no livro de Êxodo, para indicar como o Faraó persegue,
procura o povo hebraico para impedir o êxodo, a libertação!
“Quando o encontraram, disseram: ‘Todos estão te procurando’”. Este verbo
“procurar” em Marcos é sempre negativo. Jesus não permanece em Cafarnaum, mas
convida a todos a segui- lo. Não há a tentação do poder!
“Jesus respondeu: “Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar
também ali”. Jesus começa a “pregar”, e não ensina mais! Ele ensinou na sinagoga,
onde ensinar signifca anunciar algo fundamentando-se sobre os textos da Escritura do
Antigo Testamento.
Jesus, após o fasco da sinagoga, não ensina, mas prega. Pregar signifca proclamar a
novidade do Rueino sem se apoiar na tradição do passado. “Pois foi para isso que eu
vim”. Aqui a tradução “vir” não é exata: parece que Jesus veio a este mundo para isso.
Não! O verbo usado pelo evangelista é “sair”, isto é, “para isso que eu saí”, em outras
palavras: “por isso eu deixei Cafarnaum, porque eu não me limito a Cafarnaum, mas
devo ir e anunciar a toda a humanidade”.
“E andava por toda a Galileia, pregando...” - Jesus não está ensinando mais, mas
pregando - “...em suas sinagogas e expulsando os demônios”. O evangelista parece
aludir ao fato de que o lugar onde os demônios estão aninhados é mesmo nas
sinagogas, os lugares de culto. Era a instituição religiosa que endemoninhava as
pessoas, apresentando para elas uma imagem de Deus totalmente desviada do que
será a forma com a qual Jesus irá apresentar o Pai.

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