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12.

JURISDIÇÃO PENAL

12.1- Conceito

Em sentido estrito significa o poder de dizer o direito. No sentido mais amplo


deste conceito, podemos interpretar a jurisdição como o poder e dever do Estado
de editar e interpretar suas próprias normas e determinar o direito aplicável aos
casos concretos, com força imperativa (obrigatória). A partir destas noções,
podemos finalmente falar de jurisdição penal, que entenderemos como:
• Poder-dever do Estado de julgar uma pessoa pelo suposto cometimento
de infração penal;
• Função estatal, atribuída ao Poder Judiciário, de julgar processos penais;
• Atividade da autoridade judiciária em processo penal.

12.2 Carater da Jurisdição

O caráter é subjetivo, significa que não cabe a nenhuma das partes afirmar onde
se encontra a razão, sob pena de invadir a esfera jurídica. A busca pela razão
se dará por meio do Estado que de forma isenta e racional busca a resolução do
conflito.

12.3 Características da Jurisdição

• Existência de um órgão adequado: a jurisdição deve ser exercida pelo juiz,


autoridade estatal, mas que é distinta dos órgãos que exercem as funções
estatais de legislar e administrar, de modo absolutamente imparcial em face dos
interesses das partes.
• Contraditório: permite às partes a defesa de seus interesses em igualdade
de condições, facultando-se a cada um dos litigantes se insurgir aos argumentos
do outro.
• Procedimento: e refere a observância do modelo ou rito previsto em lei
para a prática de atos processuais.

12.4-Espécies
jurisdição como um todo não possui divisões. Aceitar esta afirmativa seria dizer
que não existe unidade no Estado. o que existem são classificações de jurisdição
que podem ser apresentadas da seguinte forma: critério de objeto, penal ou civil.
Critério de órgãos judiciários de exercício, especial ou comum. Critério de
hierarquia, superior ou inferior. Critério de fonte de direito, direito ou equidade. A
jurisdição penal é exercida por juizados estaduais comuns, juizados militares
estadual, justiça militar federal e pela justiça eleitoral. Vale ressaltar que a justiça
do trabalho é isenta de competência penal. A jurisdição civil é exercida pela
justiça estadual, federal, trabalhista e eleitoral. Em sentido estrito é exercida pela
justiça estadual e federal.

12.5-Legitimiade para Jurisdicionar

O Estado brasileiro conferiu o poder jurisdicional aos órgãos do Poder Judiciário,


arrolados no art. 92 da CF. Estes deverão exercer a função e atividade
jurisdicionais na qualidade de representantes do Estado, julgando e atuando nos
processos dos quais forem incumbidos.

Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:

I - o Supremo Tribunal Federal;

I-A o Conselho Nacional de Justiça;

II - o Superior Tribunal de Justiça;

II-A - o Tribunal Superior do Trabalho;

III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;

IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho;

V - os Tribunais e Juízes Eleitorais;

VI - os Tribunais e Juízes Militares;

VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito


Federal e Territórios.

12.6- Princípios da Jurisdição

• Investidura: Pelo princípio da investidura, a jurisdição penal deverá ser


exercida somente por autoridade judiciária aprovada em concurso público e
devidamente empossada no cargo e na função.
Observação: A CF criou exceção para a regra acima ao prever o que chamamos
de quinto constitucional, segundo o qual 1/5 das cadeiras dos Tribunais
Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal e Territórios,
do Tribunal Superior do Trabalho e dos Tribunais Regionais do Trabalho deverá
ser composta por membros do Ministério Público e da advocacia de notório saber
jurídico e reputação ilibada.
• Do Juiz Natural: este princípio consiste que ninguém poderá ser
processado e julgado, senão por meio de quem tenha competência jurisdicional
em regras previamente determinada, e que não haverá juízo ou tribunal de
exceção estando nos incisos LIII e XXXVII do Artigo 5º da Constituição :

LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;

• Da Inércia: Ne procedat judex ex officio significa que não pode haver


jurisdição sem ação: a jurisdição é inerte, e seu papel é de apenas obedecer aos
preceitos legais
• Indelegabilidade: o juiz tem que exercer sua função pessoalmente, não
podendo delegar para que outra pessoa julgue determinado caso. Possui
algumas exceções a este princípio, como o caso das precatórias emitidas para
outras comarcas, em que o juiz deprecado para o ato recebe a precatória do juiz
deprecante e ouve o interrogatório da testemunha
• Indeclinabilidade: nenhum magistrado pode subtrair-se ao exercício da
jurisdição (art. 5.º, XXXV). Existem casos excepcionais em que as partes podem
pedir o impedimento do juiz no caso por determinadas razões pessoais, mas este
representante se negar a julgar um caso será vetado por este princípio.

Xxxv:a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a


direito

• Improrrogabilidade :salvo em situações excepcionais expressamente


previstas, um juiz não pode invadir a competência de outro
• Unidade: a jurisdição é uma só, ou seja, exercida com a finalidade de
aplicação do direito objetivo ao caso concreto
• Correlação: o juiz, ao proferir sentença, deverá observar a exata
correspondência entre sua decisão e o pedido incorporado à denúncia e à
queixa. Nula será a sentença citra, extra ou ultra petita, vale dizer, a que julgar
aquém, for além ou decidir fora dos limites atribuídos à prestação jurisdicional
pelo acusado
12.7-Jurisdição e Função Judiciária

É uma das funções do Estado. A função jurisdicional compete ao Poder


Judiciário. A jurisdição como função "expressa o encargo que têm os órgãos
estatais de promover a pacificação de conflitos interindividuais, mediante a
realização do direito justo e através do processo" (Cintra, Grinover e Dinamarco).
a função jurisdicional é exercida somente diante de casos concretos de conflitos
de interesses, quando provocada pelos interessados.

13.COMPETÊNCIA

13.1- Conceito

Competência é o limite da atuação jurisdicional, ou seja, é medida de jurisdição.


Para aplicar a sanção penal aos casos a ele levados, o Poder Judiciário utiliza-
se de um conjunto de regras para eleger, para cada matéria, um órgão ou Justiça
“natural”, por assim dizer. É justamente a competência, por meio de regras e
critérios que definirá o local, Juízo e órgão onde a lide tramitará.

13.2- Distribuição do poder de julgar


Separa a competência em razão de:
• Matéria
• Pessoa
• Local

Após fixado o foro competente, bem como a justiça competente é possível que
existam mais de um juiz competente, sendo que será prevento o juiz que
adiantar-se aos demais na prática de algum ato ou medida a este relativa, ainda
que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (decretação da prisão
preventiva, concessão de fiança e etc).Não havendo prevenção processar-se-á
a distribuição realizada por sorteio para fixação de um determinado juiz dentre
os competentes.

13.3-Competência pelo lugar da infração


Também chamada de competência de foro ou territorial, ou, ainda, competência
ratione loci:
Dependendo do local da pratica ou consumação da infração ou da residência do
réu, é possível definir a competência. Se violada enseja nulidade relativa (só
pode ser alegada em um prazo especifico e de determinada forma) – em regra
é no local da consumação do crime que este será julgado.
No entanto, diante das possibilidades de execução da infração em lugares
distintos ou incertos, o legislador preocupou-se em estabelecer as seguintes
regras complementares:
§ 1º, artigo 70, CPP:Uma vez iniciada a execução da infração no território nacional e a
consumação ocorrer fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido
praticado, no Brasil, o último ato de execução

§ 2.º, artigo 70, CPP :Quando o último ato tiver sido praticado fora do território nacional, será
competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia
produzir seu resultado

§ 3.º, artigo 70, CPP :A competência será firmada pela prevenção, quando incerto o limite
territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração
consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições

artigo 71, CPP: A competência, ainda, firmar-se-á pela prevenção, na hipótese de infração
continuada ou permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições

13.4 Competência pelo domicílio do réu

Também chamada de foro subsidiário. Estabelece o caput do artigo 72 que não


sendo conhecido o lugar da infração (competência pelo lugar da infração), a
competência será firmada pelo local do domicílio ou residência do Réu. O critério
da competência pelo domicílio ou residência do Réu é subsidiário em relação ao
critério do lugar da infração, sendo que somente será aplicado quando
desconhecido o lugar da infração. Vale lembrar que:
§ 1.º, artigo 72, CPP :A ação penal poderá ser proposta em qualquer dos locais onde o réu tenha
residência, firmando-se pela prevenção, na hipótese do réu ter mais de uma residência

§ 2.º, artigo 72, CPP :O juiz que primeiro tomar conhecimento dos fatos será competente quando
o réu não tiver residência certa ou paradeiro desconhecido

artigo 73 do CPP :Nos casos de ação penal privada exclusiva, o querelante pode preferir o
domicílio ou residência do réu para dar início à ação penal, ainda que conhecido o lugar da
infração, ou seja, tal disposição trazida pelo, constitui exceção à regra da fixação de competência
pelo lugar da infração

13.5 Competência pela natureza da infração


Após a observância dos dois critérios supramencionados para fixação do foro
competente, deve-se observar a natureza da ação para fixação da justiça
competente para o julgamento na comarca competente, sendo que dependendo
da espécie do crime cometido o julgamento poderá ser competência da Justiça
Especial (militar ou eleitoral) ou da Comum (Estadual ou Federal)....
Para saber quem irá julgar é necessário saber se será na justiça especial (que
tem estrutura própria definida na CF) ou comum. No caso do processo penal,
não se trata de justiça especial, mas sim da comum e, por isso, é necessário
saber o que é crime federal e crime estadual e o critério para essa diferenciação
é que as infrações federais ocorrem quando forem violados bens, interesses ou
serviços da união, suas empresas públicas federais ou suas autarquias, com
ressalva das contravenções penais (súmula 38 do STJ que diz que ainda que
afete bens e serviços da união, se for contravenção penal, a competência será
estadual) (art. 109, I, CF). A competência estadual é residual, ou seja, tudo o que
não for de competência da justiça federal é estadual.

Justiça Especial:

• Militar: consoante artigo 124 da CF, cabe à Justiça Militar julgar os crimes
militares assim definidos em lei (Código Militar, Lei n. 1.001/69);
• Eleitoral: Julga os crimes eleitorais e seus conexos (art. 121, combinado
com o art. 109, IV, ambos da CF).

Justiça Comum:

• Justiça Federal: Competência criminal prevista expressamente na CF em


seu art. 109

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal
forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as
de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do
Trabalho;
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou
pessoa domiciliada ou residente no País;
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro
ou organismo internacional;
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens,
serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas,
excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça
Eleitoral;
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a
execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente;
V-A - as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei,
contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;
VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o
constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a
outra jurisdição;
VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade
federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais;
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a
competência da Justiça Militar;
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de
carta rogatória, após o exequatur, e de sentença estrangeira, após a homologação, as
causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;
XI - a disputa sobre direitos indígenas.
§ 1º As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde
tiver domicílio a outra parte.
§ 2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária
em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu
origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.
§ 3º Serão processadas e julgadas na Justiça estadual, no foro do domicílio dos
segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência
social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se
verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também
processadas e julgadas pela Justiça estadual.
§ 4º Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o Tribunal
Regional Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau.
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da
República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá
suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou
processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.

• Justiça Estadual: Se conclui por exclusão que um julgamento cabe a


Justiça Comum Estadual, quando não competente à Justiça Militar, eleitoral ou
Federal.
13.6 Competência pela distribuição

A distribuição é também uma providencia de organização judiciária, e


estabelecer a competência por distribuição significa dizer que se trata de uma
repartição dos feitos entre os juízes, ocorre quando há mais de um juiz com
idêntica competência no mesmo juízo, esse procedimento visa equiparar as
quantidades de ações tramitando nas varas e evitar que o juiz seja “escolhido”
pelas partes, por se conhecer suas tendências doutrinárias, por exemplo. O
parágrafo único do art. 75, trata dos casos em que medidas que foram
necessárias durante o inquérito previnem a distribuição, como uma prisão
preventiva, por exemplo, o juiz que a decretou, torna-se prevento.

13.7 Competência pela prevenção

A fixação de competência em razão da prevenção é apenas residual, ela se


apresenta como uma possibilidade dentro dos critérios de local,
domicílio/residência do réu e conexão ou continência por exemplo. Antecipar é
nesse sentido que caminha tal critério, tornar-se-á prevento o juízo que preceder
aos demais em alguma pratica processual ou de medidas ao processo
relacionadas. Ocorre em casos onde há mais de um juiz igualmente competente,
coloca que por “igualmente competente” compreende-se os juízes com a mesma
queixa (decretação da prisão preventiva, concessão de fiança e etc)

13.8 Competência nos crimes cometidos fora do Brasil

Art. 88. No processo por crimes praticados fora do território brasileiro, será competente o juízo
da Capital do Estado onde houver por último residido o acusado. Se este nunca tiver residido no
Brasil, será competente o juízo da Capital da República

13.9 Território marítimo e espaço aéreo

Nos termos do Código Penal Brasileiro, segundo diz Damásio E. de Jesus,


Direito Penal, Parte Geral, Vol. I, "para os efeitos penais, consideram-se como
extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de
natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem,
bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo
correspondente ou em alto-mar" (art. 5.o, § 1.o).
Os navios, diz o aclamado autor, podem ser públicos ou privados. Navios
públicos são os vasos de guerra, os em serviços militares, em serviços públicos
(polícia marítima, alfândega etc.), e os postos a serviço de soberanos, chefes de
estado ou representantes diplomáticos. Navios privados são os mercantes, de
recreio etc. Quanto aos navios públicos, quer se encontrem em mar territorial
nacional ou estrangeiro, quer se achem em alto-mar, são considerados parte de
nosso território. Assim, é competente a nossa Justiça para apreciar os crimes
neles praticados (Cód. Penal art. 5.o, § 1.o, 1.a parte). Com relação aos navios
privados, quando em alto-mar, seguem a lei da bandeira que ostentam. Quando
surtos em portos estrangeiros, ou em mares territoriais estrangeiros, seguem a
lei do país em que se encontram (art. 5.o, § 1.o, 2.a parte).
Em relação à aeronave, o Código Brasileiro de Aeronáutica, Lei 7.565/86, no seu
art. 106, define:

“Art. 106. Considera-se aeronave todo aparelho manobrável em voo, que possa sustentar-se e
circular em espaço aéreo, mediante reações aerodinâmicas, apto a transportar pessoas e
coisas”.

13.10 Competência por prerrogativa da função

A prerrogativa por função é um privilégio que algumas autoridades gozam em


relação as atribuições exercidas por elas, como por exemplo, o Presidente da
República. Não quebra o princípio da igualdade, tendo em vista que a
prerrogativa é da função e não da pessoa. Quando findada a função, cessa a
prerrogativa. Exemplificativamente, no STF serão julgados o Presidente da
República, o Vice-presidente, os deputados federais, seus próprios ministros, o
procurador-geral da República, o advogado-geral da União, ministros de Estado,
comandantes das forças armadas, ministros dos Tribunais Superiores, membros
do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter
permanente
TABELA DA PRERROGATIVA DE FUNÇAO
13.11- Modificações da competência
São hipóteses de modificação da competência, no processo penal, a
prorrogação e o desaforamento.Cândido Rangel Dinamarco, “pelo fenômeno da
prorrogação, alarga-se a competência de um órgão jurisdicional, para receber
uma causa que ordinariamente não se incluía nela” (op. cit., p. 453).
Trata-se de uma exceção ao princípio da aderência ao território, pelo qual o juiz
exerce suas funções dentro do território sujeito a sua jurisdição

13.12 Delegação de Competencia

Existem casos dentro do andamento processual em que é necessário o


auxílio de juízos de outras comarcas, seja para citação, intimação ou para ouvir
testemunhas em outras comarcas, assim como também pode acontecer de um
juiz delegar a outro juiz o poder de atuar dentro daquele processo, sem a
alteração da competência. Existem dois tipos de delegação:
a) Delegação externa: é quando ocorre a expedição das cartas precatórias para
outras comarcas para que estas auxiliem o andamento processual dos autos de
origem. Pegamos um exemplo, de que existe um processo em Cachoeiro de
Itapemirim, em que o acusado mora na cidade de origem do processo, porém
existe uma testemunha que mora em Vitória. A comarca de Cachoeiro de
Itapemirim precisa do depoimento desta testemunha, e para que consiga, será
expedida uma carta precatória para a comarca de Vitória pedindo o interrogatório
da testemunha. Depois de cumprida a determinação do juízo de Cachoeiro, a
comarca de Vitória irá remeter esta carta precatória devidamente cumprida.

b) Delegação interna: é quando ocorre a mudança somente da pessoa do juiz


dentro daquela comarca. Pegamos um exemplo em que ocorre nas cidades de
varas únicas, em que é somente um juiz para todos os casos, e que chega seu
período de férias. Será nomeado pelo Tribunal de Justiça um juiz substituto para
que atue naqueles autos enquanto o juiz titular encontrar-se ausente devido suas
férias.

13.12 Desaforamento

O desaforamento consiste no deslocamento da competência de uma comarca


para outra, para que nesta seja realizado o julgamento pelo Tribunal do Júri, nas
hipóteses previstas no caput do artigo 427, do Código de Processo Penal, que
são: em caso de interesse da ordem pública ou havendo dúvida sobre a
imparcialidade do júri ou a segurança pessoal do acusado. É de se concluir que
só é possível o desaforamento após o trânsito em julgado da decisão de
pronúncia.

Art. 427. Se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver dúvida sobre a imparcialidade
do júri ou a segurança pessoal do acusado, o Tribunal, a requerimento do Ministério Público, do
assistente, do querelante ou do acusado ou mediante representação do juiz competente, poderá
determinar o desaforamento do julgamento para outra comarca da mesma região, onde não
existam aqueles motivos, preferindo-se as mais próximas.

(...)

4o Na pendência de recurso contra a decisão de pronúncia ou quando efetivado o julgamento,


não se admitirá o pedido de desaforamento, salvo, nesta última hipótese, quanto a fato ocorrido
durante ou após a realização de julgamento anulado

13.13 Conexão e continência

Conexão é quando duas ou mais infrações estão relacionadas de alguma forma.


O legislador identifica cada caso descritivamente, como demonstrado no art. 76
do CPP. Exemplo: Se infração na comarca A tiver relação com a comarca B,
quem julga é o juiz da comarca onde ocorreu o crime mais grave (uma das
possibilidades do art. 76)

CPP - Art. 76. A competência será determinada pela conexão (quando existe algum elo/vínculo
entre dois delitos):

I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias
pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por
várias pessoas, umas contra as outras;

II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou
para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;

III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir
na prova de outra infração.

A conexão pode ser:

I – intersubjetiva: conota relação entre as pessoas, ex. – fruto de caminhão


tombado na estrada – várias pessoas X; A e B furtam o veículo e com ele roubam
um banco.
II – objetiva: homicídio/ocultação de cadáver (júri); furto em apto e mata pessoa
que viu furtando (júri); traficante que mata policial que fazia investigação (júri).
III – instrumental: prova de uma infração influencia em outra (A adquire bem de
furto).
Continência:
CPP- Art. 77. A competência será determinada pela continência (quando uma conduta está
contida na outra):

I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração;

II - no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1o, 53, segunda parte,
e 54 do Código penal

A continência pode ser:


I – subjetiva: duas ou mais pessoas que cometem mesma infração, contém a
prática de dois agentes (art. 77, I)
II – objetiva: resultado duplo

Observações :
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração,
ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.

§ 1 Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a


competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de
execução.

§2 Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o
juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu
resultado.

§ 3 Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a
jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições,
a competência firmar-se-á pela prevenção.

No processo penal, nos casos de conexão e de continência (arts. 76 a 79, CPP),


opera-se a prorrogação da competência. Em ambas as hipóteses “um juiz,
normalmente incompetente p/ conhecer de uma causa, quando proposta
isoladamente, competente se torna p/ julgá-la pelo fato de dever unir-se
semelhante causa a outra, p/ a qual ele é competente, a fim de terem decisão
simultânea (simultaneus processus)” (José Frederico Marques. Elementos de
Direito Processual Penal. Campinas: Bookseller, 1997. v. I, p. 264-265)

13.14 Foro Prevalente

O art. 78, CPP estabelece uma série de regras para definir de quem será a
competência:
Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as
seguintes regras.
I. No concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá
a competência do júri;
II. No concurso de jurisdições da mesma categoria.
a) Preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave;
b) Prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas
penas forem de igual gravidade;
c) Firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos;
III. No concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação; IV.
No concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta.

observação:Antes de aplicar o art. 78 deve ser observar se, tratando-se de


continência, o crime é continuado, pois o critério, nesse caso, será o da
prevenção – art. 71, CPP. Da reunião e separação de processos

13.15 Dição do Processo


Apesar da existência da conexão ou continência, a lei estabelece algumas
hipóteses em que deverá ocorrer a separação de processos. Essa separação
pode ser obrigatória ou facultativa.
• Separação obrigatória As hipóteses encontram-se no art. 79 do Código de
Processo Penal: I. No concurso entre a jurisdição comum e a militar. Já
estudamos anteriormente que a Justiça Militar não julga crime comum conexo,
quer cometido pelo militar, quer por terceiro. O crime militar é julgado na Justiça
Especial e o comum na Justiça Comum

13.16 Da separação facultativa


As hipóteses de separação facultativa estão localizadas no art. 80 do Código de
Processo Penal “quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias
de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados
e para não lhes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante o juiz
reputar conveniente a separação”.
O legislador estabeleceu três situações distintas:
1. Quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou
de lugar diferentes – Desde que estas circunstâncias prejudiquem o andamento
processual.
2. Quando houver um número excessivo de réus: esta circunstância pode
prejudicar substancialmente o andamento regular do feito, bastando imaginar,
por exemplo, que cada um dos 30 acusados pode arrolar até 8 testemunhas.
3. Para não prolongar a prisão dos réus
13.17-Competência Absoluta e competência relativa

Absoluta: Os critérios que determinam que a competência em razão da matéria


e das pessoas é absoluta estão relacionados ao interesse público. Logo, essa
competência não pode ser modificada, nem prorrogada sob pena de nulidade
absoluta e, caso ocorra, os atos praticados, sejam eles instrutórios ou decisórios,
não terão nenhuma validade
Relativa: atende, sobretudo, ao interesse das partes e diz respeito à competência
em razão do lugar. Esse tipo de consequência pode ser prorrogado ou
modificado, podendo acarretar uma nulidade relativa que deve ser arguida no
momento oportuno sob pena de preclusão. Reconhecida a incompetência
relativa, os atos instrutórios são considerados válidos, sendo anulados apenas
os atos decisórios
art. 567, CPP;” A incompetência do juízo anula somente os atos decisórios, devendo o processo,
quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juízo competente”.

13.18 Questões

A). Como se dá a fixação da competência, na hipótese de crime continuado ou permanente


praticado em território de duas ou mais jurisdições? Poderá ser fixada a competência pelo lugar
onde se praticara o maior número de infrações?
Resposta: A competência, na hipótese de crime continuado ou permanente praticado em
território de duas ou mais jurisdições, é fixada pelo lugar onde se praticar o maior número de
infrações.
ARTIGO 78 , II

a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; (Redação dada
pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
b) b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as
respectivas penas forem de igual gravidade; (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)

B) . Julgue se o a assertiva abaixo é Verdadeira ou Falsa e justifique:


A prevenção no Processo Penal, em diversas situações, constitui critério de fixação de
competência, como na hipótese em que for possível a dois ou mais juízes conhecerem o crime,
seja por dividirem a mesma competência de juízo, seja pela incerteza da competência territorial
ou, ainda, nos crimes continuados ou permanentes.
Verdadeiro, pois essa afirmativa é baseada nos artigos CPP, art. 69, VI), , (CPP, art. 83), (CPP,
art. 70, § 3º), (CPP, art. 71)

C) Cheque sem fundo dado em Uberlândia, faz compra em Uberaba e cheque de agência de
Goiânia. Qual juiz tem a competência pra julgar?
Resposta: O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a
modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a
recusa do pagamento pelo sacado. Nesse caso em Goiânia
D) Qual a diferença entre prorrogação e deslocamento de competência?
Na prorrogação do foro competente para o ato, ocorre quando aquele juiz não é competente para
o julgamento daquele delito, sendo esta prorrogação realizada pelas partes, e assim outro juiz
seria nomeado para dar continuidade ao processo. O incidente de deslocamento de
competência, mais conhecido como a federalização das graves violações aos direitos humanos,
é a possibilidade de transferência da competência da Justiça Estadual para a Justiça Federal,
nas hipóteses de graves violações aos direitos humanos que afrontem obrigações assumidas
pelo Brasil em tratados internacionais. Este instrumento só poder ser suscitado pelo Procurador
Geral da República ao Superior Tribunal de Justiça – STJ.

E) Ao Senado Federal, exercendo atividade jurisdicional, compete processar e julgar:

1-o Presidente da República pelos crimes comum e de responsabilidade.


2- os Ministros do STF pelos crimes de responsabilidade.
3- os Ministros de Estado pelos crimes de responsabilidade, desde que não sejam conexos aos
crimes do Presidente da República.
4- o Procurador Geral da República pelos crimes comuns.
Resposta:

F) Assinale a opção correta acerca do processo penal segundo o CPP e o entendimento do STF
e do STJ.
1-A prevenção no processo penal, em diversas situações, constitui critério de fixação de
competência, como na hipótese em que for possível a dois ou mais juízes conhecerem do mesmo
crime — seja por dividirem a mesma competência de juízo, seja pela incerteza da competência
territorial — ou, ainda, nos crimes continuados ou permanentes.
2-De acordo com a jurisprudência do STF, é imprescindível a transcrição integral dos diálogos
colhidos por meio de interceptação telefônica ou escuta ambiental.

3-Segundo a jurisprudência do STJ, são impossíveis sucessivas prorrogações de interceptações


telefônicas, ainda que o pedido de quebra de sigilo telefônico seja devidamente fundamentado,
em razão da previsão legal de prazo máximo de quinze dias para tal medida, renovável por igual
período.

4-A notícia anônima sobre eventual prática criminosa, por si só, é idônea para a instauração de
inquérito policial ou a deflagração de ação penal.

5-A competência, na hipótese de crime continuado ou permanente praticado em território de duas


ou mais jurisdições, é fixada pelo lugar onde se praticar o maior número de infrações
RESPOSTA: A
G Carlos e Marcos foram transferidos para um presídio federal de segurança máxima em
decorrência de suposto plano para tomada do presídio estadual onde cumpriam pena privativa
de liberdade. Carlos foi transferido imediatamente, no dia 3/1/2014, e Marcos, no dia 20/2/2014.
Nos requerimentos que ensejaram a transferência, o secretário de Estado de Administração
Penitenciária fundamentou a necessidade da medida em razão da comprovada periculosidade
de Carlos, reincidente na prática de crimes com violência ou grave ameaça à pessoa e um dos
principais líderes de uma violenta organização criminosa, sendo, ainda, o responsável direto pelo
planejamento de um incidente de fuga. O pedido de transferência de Marcos teve fundamentação
na condenação do apenado pelo crime de furto de automóvel, muito embora não tenha sido
comprovado o seu envolvimento no plano para tomada do presídio. Foi alegado, ainda, nos
requerimentos, o interesse da segurança pública. No dia 29/12/2014, o juízo de origem solicitou
que fosse renovada, excepcionalmente, a permanência de Carlos. Da mesma maneira, no dia
20/1/2015, solicitou a permanência de Marcos, alegando que a renovação da permanência
visava, de forma excepcional, resguardar a ordem pública. O pedido foi acatado em relação a
Carlos e rejeitado em relação a Marcos.

Com referência à situação hipotética apresentada, julgue os itens subsequentes.

A competência para o recebimento dos requerimentos formulados pelo secretário de Estado de


Administração Penitenciária, nos quais foi registrada a motivação para as transferências, é do
juiz federal corregedor responsável pelo presídio de segurança máxima de destino.
C. Certo
E. Errado
RESPOSTA: errado

H- Carlos e Marcos foram transferidos para um presídio federal de segurança máxima em


decorrência de suposto plano para tomada do presídio estadual onde cumpriam pena privativa
de liberdade. Carlos foi transferido imediatamente, no dia 3/1/2014, e Marcos, no dia 20/2/2014.
Nos requerimentos que ensejaram a transferência, o secretário de Estado de Administração
Penitenciária fundamentou a necessidade da medida em razão da comprovada periculosidade
de Carlos, reincidente na prática de crimes com violência ou grave ameaça à pessoa e um dos
principais líderes de uma violenta organização criminosa, sendo, ainda, o responsável direto pelo
planejamento de um incidente de fuga. O pedido de transferência de Marcos teve fundamentação
na condenação do apenado pelo crime de furto de automóvel, muito embora não tenha sido
comprovado o seu envolvimento no plano para tomada do presídio. Foi alegado, ainda, nos
requerimentos, o interesse da segurança pública. No dia 29/12/2014, o juízo de origem solicitou
que fosse renovada, excepcionalmente, a permanência de Carlos. Da mesma maneira, no dia
20/1/2015, solicitou a permanência de Marcos, alegando que a renovação da permanência
visava, de forma excepcional, resguardar a ordem pública. O pedido foi acatado em relação a
Carlos e rejeitado em relação a Marcos.
Com referência à situação hipotética apresentada, julgue os itens subsequentes.
Em decorrência da rejeição ao pedido de renovação da permanência de Marcos, o juízo de
origem poderá suscitar conflito de competência, devendo o apenado retornar ao estabelecimento
prisional de origem onde permanecerá até a decisão do conflito suscitado.
C. Certo
E. Errado
Resposta: errado
I- Carlos e Marcos foram transferidos para um presídio federal de segurança máxima em
decorrência de suposto plano para tomada do presídio estadual onde cumpriam pena privativa
de liberdade. Carlos foi transferido imediatamente, no dia 3/1/2014, e Marcos, no dia 20/2/2014.
Nos requerimentos que ensejaram a transferência, o secretário de Estado de Administração
Penitenciária fundamentou a necessidade da medida em razão da comprovada periculosidade
de Carlos, reincidente na prática de crimes com violência ou grave ameaça à pessoa e um dos
principais líderes de uma violenta organização criminosa, sendo, ainda, o responsável direto pelo
planejamento de um incidente de fuga. O pedido de transferência de Marcos teve fundamentação
na condenação do apenado pelo crime de furto de automóvel, muito embora não tenha sido
comprovado o seu envolvimento no plano para tomada do presídio. Foi alegado, ainda, nos
requerimentos, o interesse da segurança pública. No dia 29/12/2014, o juízo de origem solicitou
que fosse renovada, excepcionalmente, a permanência de Carlos. Da mesma maneira, no dia
20/1/2015, solicitou a permanência de Marcos, alegando que a renovação da permanência
visava, de forma excepcional, resguardar a ordem pública. O pedido foi acatado em relação a
Carlos e rejeitado em relação a Marcos.
Com referência à situação hipotética apresentada, julgue os itens subsequentes.
Aceita a renovação da permanência de Carlos, o termo inicial do prazo irá retroagir ao dia
seguinte ao término do prazo anterior.
C. Certo
E. Errado
Resposta: certo
J- Um servidor público, concursado e estável, praticou crime de corrupção passiva e foi
condenado definitivamente ao cumprimento de pena privativa de liberdade de seis anos de
reclusão, em regime semiaberto, bem como ao pagamento de multa.
A respeito dessa situação hipotética, julgue os itens seguintes.
A pena de multa, que poderia ser fixada em percentual do proveito econômico obtido com a
prática do crime, ou do prejuízo causado à administração, terá de ser executada pela
procuradoria da fazenda, na vara de execuções fiscais.
C. Certo
E. Errado
Respota: errado

K- A respeito da competência e temas correlatos, analise as afirmativas a seguir.

I. Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição
por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições,a
competência firmar-se-á pela prevenção, cuja inobservância constitui nulidade relativa, de
acordo com a jurisprudência predominante do Supremo Tribunal Federal.

II. A competência será determinada pela continência quando duas ou mais pessoas forem
acusadas pela mesma infração e no caso da infração cometida nas hipóteses de concurso formal
de crimes, erro na execução e resultado diverso do pretendido.

III. De acordo com a jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, a atração por
continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal.
IV. Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no processo da
sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que
desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará
competente em relação aos demais processos.

Estão CORRETAS as afirmativas

A. I e III apenas.
B. II e IV apenas.
C. I, II e IV apenas.
D. I,II,III e IV.

Resposta: D

L- m relação à competência no processo penal, é correto afirmar que:


A. é da competência da Justiça Federal o julgamento de contravenções penais, desde que
conexas com delitos de competência da Justiça Federal;
B. compete à Justiça Estadual processar e julgar as ações penais relativas a desvio de verbas
originárias do Sistema Único de Saúde (SUS), independentemente de se tratar de valores
repassados aos Estados ou Municí
pios por meio da modalidade de transferência “ fundo a fundo” ou mediante realização de
convênio;
C. compete à Justiça Estadual o julgamento de ação penal em que se apure a possível prática
de sonegação de ISSQN pelos representantes de pessoa jurídica privada, ainda que esta
mantenha vínculo com entidade da administração indireta federal;
D. compete à Justiça Federal processar e julgar acusado da prática de conduta criminosa
consistente na captação e armazenamento, em computadores de escolas municipais, de vídeos
pornográficos oriundos da internet, envolvendo crianças e adolescentes;
E. compete à Justiça Estadual processar e julgar crime consistente na apresentação de
Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV) falso a agente da Polícia Rodoviária
Federal, em rodovia que cruza três Estados.
Resposta: C

M - Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:

I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral até
o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade
policial, auxiliar da justiça ou perito;
II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha;
III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a
questão;
IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até
o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.
O Juízo da Vara Única de uma Comarca do interior, que concentra todas as competências
jurisdicionais do local, julgou procedente ação civil pública para destituir o réu da função de
Conselheiro Tutelar daquela cidade, decretando ainda sua inelegibilidade para a mesma função.
Os mesmos fatos que sustentaram a condenação do réu na ação civil pública foram utilizados
pelo Ministério Público para denunciá-lo pelos crimes tipificados no Art. 216-A, no Art. 65 do
Decreto-lei nº 3688/41 e do Art. 240, § 2º, I, da Lei nº 8069/90.
Em relação ao fato de a ação penal ser conduzida pelo mesmo magistrado que proferiu a
condenação na ação civil pública, é certo dizer que:

A. o rol de causas de impedimento do Art. 252 do CPP não é taxativo e pode ser ampliado pela
via da interpretação;
B. pela via de interpretação é possível a criação de hipótese de impedimento estranha às
previstas no Art. 252 do CPP;
C. nas causas de impedimento do Art. 252 do CPP não é possível ao Judiciário legislar para
incluir causa não prevista pelo legislador, seja por analogia, seja por interpretação extensiva;
D. o mesmo fato (conduta humana), com repercussões administrativas, cíveis ou penais, deve
ser julgado por juízes diferentes, sob pena de impedimento;
E. há comprometimento do julgador com as consequências dos atos por ele reconhecidas em
julgamento anterior, na mesma instância, porém em outra esfera.
Resposta: C

N- João foi prefeito municipal de 2009 a 2012, tendo após o término do mandato se dedicado
unicamente à sua clínica particular, como médico. Foi denunciado agora junto com corréus pelo
delito de corrupção passiva, por fatos ocorridos durante sua gestão à frente da Prefeitura e
ligados à secretaria da saúde. Diante disso,
A. caso a ação penal esteja instruída por inquérito policial, é desnecessário que a defesa de João
apresente resposta à acusação.
B. caso houvesse concurso com outro crime, de competência da Justiça Federal, João deveria
ser processado perante o Tribunal Regional Federal respectivo.
C. João deve ser processado perante o Tribunal de Justiça Estadual respectivo.
D. a ação penal contra João deve seguir o procedimento especial do capítulo do processo e
julgamento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos, previsto no Código de
Processo Penal.
E. João deve ser processado na comarca do local onde ocorridos os fatos.
Resposta: E

O- A Constituição do Estado X estabeleceu foro por prerrogativa de função aos prefeitos de todos
os seus Municípios, estabelecendo que “ os prefeitos serão julgados pelo Tribunal de Justiça” .
José, Prefeito do Município Y, pertencente ao Estado X, está sendo acusado da prática de
corrupção ativa em face de um policial rodoviário federal.
Com base na situação acima, o órgão competente para o julgamento de José é
A. a Justiça Estadual de 1ª Instância.
B. o Tribunal de Justiça.
C. o Tribunal Regional Federal.
D. a Justiça Federal de 1ª Instância.
Resposta:C

P-A Constituição do Estado “ X” estabeleceu foro por prerrogativa de função aos Prefeitos de
todos os seus Municípios, estabelecendo que “ os prefeitos serão julgados pelo Tribunal de
Justiça". José, Prefeito do Município “ Y” , pertencente ao Estado “ X” , mata João, amante de
sua esposa. Pergunta‐se, qual o órgão competente para o Julgamento de José?
A. Justiça Estadual de 1ª Instância;
B. Tribunal de Justiça;
C. Tribunal Regional Federal;
D. Justiça Federal de 1ª Instância
Resposta: A

Q- Paulo reside na cidade “ Y” e lá resolveu falsificar seu passaporte. Após a falsificação, pegou
sua moto e viajou até a cidade “ Z” , com o intuito de chegar ao Paraguai. Passou pela cidade
“ W” e pela cidade “ K” , onde foi parado pela Polícia Militar. Paulo se identificou ao policial
usando o documento falsificado e este, percebendo a fraude, encaminhou Paulo à delegacia. O
Parquet denunciou Paulo pela prática do crime de uso de documento falso.
Assinale a afirmativa que indica o órgão competente para julgamento.
A. Justiça Estadual da cidade
B. Justiça Federal da cidade
C. Justiça Federal da cidade
D. Justiça Estadual da cidade
Resposta:B

14 PROCESSO

14.1 Conceito e Finalidade:


É a ciência que regula a forma por meio da qual o Estado intervém de forma
legítima na esfera das liberdades individuais, tendo em vista a realização de um
comportamento socialmente indesejável que constitui infração penal.

14.2 Objeto, conteúdo, estrutura, tipos


Objeto: consideramos que o objeto do processo é a matéria sobre a que recai o
complexo de elementos que integram o processo e não se confunde com a causa
ou princípio, nem com o seu fim. “É o estudo de normas e princípios relativos às
pessoas que intervêm no processo, às relações entre elas, e ao procedimento,
entendido este como a coordenação das atividades por elas desenvolvidas”.
(Edgar Magalhães Noronha)
Conteúdo: A atuação jurisdicional e a atuação dos sujeitos da lide
Estrutura: nitidamente inquisitória

TIPOS:

Sistema Acusatório – é o tipo de processo penal que surgiu na Europa, com os


ideais de liberdade dos iluministas. As características do processo acusatório:
julgar, acusar e defender pertencem a órgãos diversos; surge a igualdade entre
as partes, o contraditório é uma exigência, o processo passa a ser público, as
condenações motivadas, salvo do juri, igualdade entre as partes.
Sistema inquisitório: É sigiloso, sempre escrito, não é contraditório e reúne na
mesma pessoa as funções de acusar, defender e julgar. O réu é visto nesse
sistema como mero objeto da persecução, motivo pelo qual práticas como a
tortura eram frequentemente admitidas como meio para se obter a prova-mãe: a
confissão.
Sistema Misto – uma junção do sistema inquisitório com o condenatório, é o
sistema que tem o inquérito policial inquisitório e a ação penal acusatória. No
inquérito policial não há contraditório ou ampla defesa, apesar do sujeito ter
direitos já consagrados, como os direitos humanos, só para citar um exemplo,
no inquérito ele é investigado e inquirido e não pode se defender.

14.3 Processo e procedimento

Processo: O processo pode ser considerado como o conjunto de atos tendentes


à solução definitiva do conflito de interesses. Através do processo, o juiz exerce
a função jurisdicional (aplicação da lei ao caso concreto). Assim, fácil perceber
que o processo é a instrumentalização da ação penal.
Procedimento: não se confunde com o processo, pois aquele é a ordem
concatenada e prevista em Lei com a qual os atos processuais se realizam no
curso deste.A previsão do procedimento na lei se faz necessária para que os
sujeitos do processo (juiz, acusador e defensor) saibam como os atos se
sucederão, podendo realizar seu mister de forma à implementar a justiça.
Outrossim, como a realização da justiça é de interesse da sociedade, as normas
que regem o procedimento são de ordem pública, devendo as partes e o juiz
zelar pelo seu cumprimento, assim como previsto.

Pressupostos Processuais: são requisitos necessários para existência e validade


de um processo. Sem a presença deles no caso concreto, o processo ou é
inexistente ou é inválido, sendo que em qualquer uma das duas hipóteses, o
processo não alcançará o seu desiderato.
Pressupostos de Validade:
1) competência e imparcialidade do juiz
2) capacidade das partes:
 capacidade para ser parte;
 capacidade para estar em juízo (capacidade processual);
 capacidade postulatória: para agir em juízo.

3) citação válida do réu


4) intervenção do Ministério Público (como parte ou como fiscal da lei)
5) existência de defesa (através de defensor dativo ou constituído)
6) procedimento adequado
7) ausência de pressupostos negativos de litispendência e coisa julgada

Pressupostos de existência:

1) órgão dotado de jurisdição: juiz ou tribunal


2) pedido realizado pela acusação
3) partes: autor e réu

14.4 Visão Geral


O procedimento comum, previsto no CPP, será aplicado de modo residual, ou
seja, sempre que não houver nenhum procedimento especial previsto no CPP
ou lei extravagante.
- O procedimento especial é todo aquele previsto, tanto no CPP quanto em leis
extravagantes, para hipóteses legais específicas, que, pela natureza ou
gravidade, merecem diversa tramitação processual. É utilizado para
determinados tipos penais:
- Crimes dolosos contra a vida (procedimento do júri);
- Crimes contra a honra;
- Crimes praticados pelo funcionalismo público;
- Crimes falimentares;
- Crimes contra a Propriedade Imaterial

.
15. Sujeitos Processuais

15.1 Conceito: Todas as pessoas que intervém na relação jurídico-


processual, ou seja, aquelas que atual no processo.

15.2Classificação:

1)Sujeitos processuais principais: Participam da relação em caráter de


obrigatoriedade, de modo que, sem eles, não se constitui um processo. São
sujeitos processuais principais:
 o juiz;
 o acusado;
 o MP;
 o querelante.

Deles, forma-se a relação angular-processual, estando o juiz acima e entre as


partes (em decorrência de sua imparcialidade)

2) Sujeitos processuais secundários (acessórios ou colaterais): Integram a


relação processual sem caráter de obrigatoriedade. Em suma, sua presença é
facultativa. É chamado também de colateral, haja vista que se agregam ao
polo ativo ou passivo processual. Faz parte desse grupo o assistente de
acusação ou o fiador do réu.

3) Sujeitos processuais terceiros: Intervêm no processo, mas não integram a


relação jurídico-processual.

a) Interessados: Possuem interesse na causa, nesse rol se enquadra o


ofendido que vem prestar declarações.

b) Não interessados: Não possuem direito a ser tutelado na causa, tal como a
testemunha, o perito, escrevente, oficial de justiça e etc.

O ofendido pode ocupar 3 posições na relação processual, a depender da


natureza da ação penal, assim:
 Se privada, ele é sujeito processual principal, haja vista ser querelante.
 Se pública, ele pode ser tanto sujeito processual secundário, se for
habilitado nos autos como assistente da acusação, como terceiro
interessado, se não houver habilitação.

O MP na ação penal subsidiária da pública é chamado de interveniente adesivo


obrigatório, sendo impossível que o processo se desenvolva sem sua
presença, sendo, desse modo, um sujeito principal. Já na ação penal
privada exclusiva, sua intervenção será como custos legis, sendo também
obrigatória na relação processual. Logo, no processo penal, o MP sempre será
sujeito processual principal. Ressalte-se que os advogados não são sujeitos
processuais, apenas representam algum sujeito processual. O promotor não é
sujeito processual, e sim o MP.

15.3 Poder judiciário, estrutura e divisão

Estrutura: O funcionamento do Poder Judiciário se dá por meio de instâncias


judicantes, as quais visam a concretização dos princípios do devido processo
legal, do contraditório e da ampla defesa. Em regra, a primeira instância
corresponde ao órgão que analisará e julgará inicialmente a ação apresentada
ao Poder Judiciário. As decisões por ela proferidas poderão ser submetidas à
apreciação da instância superior, composta por órgãos colegiados, dando
oportunidade às partes conflitantes de obterem o reexame da matéria. É a
garantia do duplo grau de jurisdição. Além dos recursos, cabe às instâncias
superiores, em decorrência de sua competência originária, apreciar
determinadas ações que, em razão da matéria ou dos cargos ocupados pelos
envolvidos, lhes são apresentadas diretamente
Divisão: A organização do Poder Judiciário está fundamentada na divisão da
competência entre os vários órgãos que o integram nos âmbitos estadual e
federal:
 A Justiça Federal é composta pelos tribunais regionais federais e juízes
federais, e é de sua competência julgar ações em que a União, as
autarquias ou as empresas públicas federais forem interessadas. Existe
a Justiça federal comum e a especializada, que é composta pelas Justiças
do Trabalho, Eleitoral e Militar.
 À Justiça Estadual cabe o julgamento das ações não compreendidas na
competência da Justiça Federal, comum ou especializada. É, portanto,
competência residual. Os Estados também têm sua Justiça Militar, cuja
função é julgar os crimes próprios cometidos pelos policiais militares.

16. Ministério Publico

O Ministério Público no processo penal é uma instituição de capital importância,


pois funciona, a um só tempo, de regra, como o próprio titular da ação penal e
ainda tem uma função mais genérica que é a de fiscalizar o cumprimento da lei,
a qual em muitas oportunidades suplanta a primeira, como quando, ao ensejo da
conclusão do procedimento, o representante do MP em vez de insistir no pedido
de condenação do acusado, pede que o mesmo seja absolvido por estar
convencido, afinal, que provas não há a incriminá-lo, consoante prenunciou a
denúncia num primeiro momento da causa criminal. Com isso, o representante
do MP não se desnatura antes se afirma como tal, pois sua missão principal é
ser fiel executor da lei e não da vontade partidária ou subjetiva de quem quer
que seja.

17. EXCEÇÕES
17.1 NOÇÕES

A análise etimológica do vocábulo ‘exceção’ demonstra sua derivação do latim


exceptio que, em amplo sentido, significa o direito do acusado de se defender.
Em sentido estrito, Fernando Capez (2005, p. 346) conceitua exceção “como o
meio pelo qual o acusado busca a extinção do processo sem o conhecimento do
mérito”. Entretanto, há de se estender a legitimidade ao Ministério Público e ao
querelante que, em certos casos, como se verá adiante, poderão se valer de
determinas exceções. Portanto, “de maneira geral, a argüição das exceções
constitui incidente processual próprio da defesa, mas é possível que também o
autor possa opô-la”. (MIRABETE, 2001, p. 207)

São, portanto, exceções as que se referem à suspeição e incompetência do


juízo, litispendência, ilegitimidade de parte e coisa julgada. Não obstante inexistir
naquele rol a figura da exceção de impedimento, esta se encontra fulcrada em
uma das conjecturas do artigo 252 do Diploma Processual Penal, portanto,
plenamente admissível sua ocorrência.

Aquelas exceções que põem fim à relação jurídica, se acolhidas, são chamadas
de peremptórias. Já as que meramente ocasionam a extensão do curso
processual são conhecidas por dilatórias. Dentre as primeiras tem-se a exceção
de coisa julgada e litispendência e, quanto à segunda espécie, podem-se
relacionar as demais (suspeição, impedimento e incompetência do juízo). A
exceção de ilegitimidade de parte poderá ser considerada peremptória ou
dilatória se se referir à titularidade do direito de ação ou à capacidade de
exercício, pois nesta derradeira hipótese é possível a ratificação por quem de
direito, o que não ensejará o término da respectiva ação penal até mesmo por
questão de economia e celeridade processual, respeitados todos os direitos e
garantias constitucionais da defesa.

17.2. EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO

DELIMITAÇÃO E HIPÓTESES

Esta exceção tem por finalidade a rejeição do dirigente processual quando


existirem razões suficientes para que se infira por sua parcialidade diante do
caso que lhe fora apresentado. Assim, havendo algum interesse ou sentimento
pessoal capaz de interferir na solução da situação em deslinde, caso o
magistrado não se dê por suspeito, poderá as partes recusá-lo (art. 254, CPP).

As causas que ensejam a suspeição sucedem quando o juiz:

a) for amigo íntimo da parte: amizade íntima é o relacionamento capaz de


interferir na condição de imparcialidade do julgador, em que a pessoa suporta
“toda a sorte de sacrifícios pelo outro”, “como se fosse um parente próximo”
(CAPEZ, 2005, p. 348). A simples consideração por outrem ou a estima derivada
de relações profissionais não justificam a existência de suspeição;

b) for inimigo capital de uma das partes: o sentimento de aversão ao advogado


da parte não leva à suspeição[1];

c) seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo


por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia:

“Nessa hipótese o juiz seria indiretamente interessado na causa, ou seja, numa


decisão favorável ao acusado a fim de que não se considerasse criminoso o fato
semelhante praticado por ele ou por seu ascendente ou descendente”.
(MIRABETE, 2001, p. 209)

d) ou seu cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou afim, até o terceiro grau,


inclusive sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado
por qualquer das partes;

e) tiver aconselhado qualquer das partes: neste caso o ato do juiz acaba por
revelar a sua intenção sobre o assunto que irá apreciar o que macula o exercício
da jurisdição;

f) for credor, devedor, tutor ou curador de qualquer das partes;

g) for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo:


aqui, como bem expressou o legislador, basta que a pessoa jurídica, vinculada
de alguma forma ao juiz, tenha interesse no caso, não sendo necessário seu
envolvimento direto.

Reconhece-se também a existência de suspeição derivada de razões íntimas,


por analogia à previsão do art. 135, parágrafo único, do Código de Processo
Civil. Para Eugênio Pacelli de Oliveira (2009, p. 266), razões de foro íntimo são
tratadas como uma das incompatibilidades previstas no art. 112 do CPP.
Todavia, a nomenclatura (exceção de suspeição ou de incompatibilidade) não
revela importância alguma porque há identidade no tratamento legal dispensado.

Oportunamente, vale ressaltar que a suspeição dos juízes é extensível aos


peritos, intérpretes, serventuários da justiça e jurados (arts. 105, 106 e 280 do
CPP).

PROCEDIMENTO E QUESTÕES AFINS

Pode o magistrado dar-se por suspeito sem provocação das partes, isto é, ex
officio, caso em que deverá fundamentar sua decisão e providenciar a remessa
dos autos ao seu substituto legal, intimando as partes (art. 97, CPP).

Anota-se que a falta de procuração com poderes especiais não permite o


conhecimento da exceção, conforme o seguinte excerto:

“SUSPEIÇÃO - Exceção - Juiz de direito - Alegação de falta de imparcialidade


em virtude de amizade íntima com a filha da vítima, que também é magistrada -
Argüição desacompanhada de instrumento de procuração com poderes
especiais - Inteligência do artigo 98 do Código de Processo Penal - Vício formal
que impede o conhecimento da exceção - Cumulação de pedido com exceção
de incompetência territorial - Inadmissibilidade em virtude da incompatibilidade
de ritos - Exceções não conhecidas”. (Exceção de Suspeição n. 53.839-0 - São
Paulo - Câmara Especial - Relator: Oetterer Guedes - 18.02.99 - V.U.)

A alegativa da parte excipiente, isto é, que apresentou a objurgação, necessitará


de fundamentação acompanhada da respectiva prova documental ou
testemunhal.

A exceção deverá ser arguida logo após o conhecimento da parte sobre sua
existência. Assim, a defesa “deve promovê-la não quando lhe aprouver, mas logo
em seguida ao interrogatório, ou na defesa prévia” (MIRABETE, 2001, p. 210).
Entretanto, pode acontecer de a circunstância motivadora da suspeição somente
surgir ou vir a se tornar conhecida da parte após a apresentação da defesa
prévia, o que não a impedirá de manifestar sobre sua ocorrência.
Da decisão que reconhece a suspeição arguida pelo interessado não cabe
recurso, tendo, parte da doutrina, admitido apenas a correição parcial na
hipótese de o juiz declarar-se suspeito espontaneamente.

A exceção somente suspenderá o curso do processo principal se a parte ex


adversa reconhecer a procedência da arguição e requerer o sobrestamento do
feito até que se julgue o incidente (MIRABETE, 1997, p. 188). Entretanto, ante a
ausência de expressa indicação do momento em que será ofertada oportunidade
à parte contrária de se manifestar sobre a exceção de suspeição, entende-se
que o dirigente processual deverá, antes de apresentar sua resposta, intimar
aquela parte para que se manifeste sobre o incidente. Evita-se assim o
prosseguimento infrutífero do feito principal, já que, se for suspenso ab initio,
com o eventual reconhecimento da exceção pelo juízo de segundo grau não
haverá atos processuais a serem declarados nulos. Evitar-se-á, por conseguinte,
a prática desnecessária de atos com carga decisória. Além disso, a
apresentação prévia do entendimento da parte adversa sobre a exceção poderá
fomentar a valoração que o excepto irá realizar no caso, aceitando ou rejeitando
a existência da suspeição.

.OBSERVAÇÕES

Consoante o artigo 256 do Código de Processo Penal: “A suspeição não poderá


ser declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de propósito
der motivo para criá-la”.

Sendo o representante do Parquet o suspeito, a exceção será oposta perante o


juiz vinculado à atuação do promotor. Após a oitiva deste, poderá o juiz admitir
a colheita de provas no prazo de três dias, consoante dispõe o art. 104 do
Diploma Processual Penal. Caso haja procedência, passará a atuar no processo
o substituto legal do promotor de justiça.

Por fim, é incabível a oposição de exceção de suspeição em desproveito de


autoridades policiais (art. 107, CPP), haja vista a natureza do inquérito que é
mera peça inquisitorial. “Contudo, o Código impõe-lhes a obrigação de se
declararem suspeitos, restando ainda à parte recorrer ao superior hierárquico”.
(CAPEZ, 2005, p. 351)
17.3. EXCEÇÃO DE IMPEDIMENTO

A exceção de impedimento, apesar de não constar expressamente no rol do


artigo 95, fundamenta-se nas hipóteses elencadas nos quatro incisos do artigo
252 do Código de Processo Penal. Assim, o juiz estará impedido quando no
processo: I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em
linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado,
órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito; II -
ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como
testemunha; III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se,
de fato ou de direito, sobre a questão; IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente,
consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for
parte ou diretamente interessado no feito.

A regra insculpida no art. 253 do Código de Processo Penal trata de uma


hipótese específica de impedimento nos juízos coletivos, em que “não poderão
servir no mesmo processo os juízes que forem entre si parentes, consanguíneos
ou afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive”.

Registra-se, outrossim, que os impedimentos dos juízes aplicam-se aos


membros do Ministério Público (art. 258, CPP), serventuários da justiça, peritos
e intérpretes (art. 112, CPP).

PROCEDIMENTO E EFEITOS

O procedimento é o mesmo estabelecido para a exceção de suspeição (art. 112,


CPP). Da mesma forma, nada obsta o reconhecimento espontâneo do
magistrado, do promotor de justiça ou de algum dos auxiliares supracitados.

Observa Eugênio Pacelli de Oliveira (2009, p. 267) que “... tratando-se de


questão ligada ao devido processo legal, no que toca à imparcialidade da
jurisdição, a suspeição, o impedimento ou a incompatibilidade poderão ser
reconhecidos mesmo após o trânsito em julgado da ação condenatória (exceto
quando absolutória a decisão, tendo em vista a vedação da revisão pro
societate), se comprovada a violação da imparcialidade do órgão julgador.”
Reconhecido o impedimento, ter-se-ão como inexistentes os atos praticados,
não havendo que se falar em ratificação, pois só se confirma o que existe.
Registra-se, todavia, que há entendimento no sentido de que os atos praticados
por juiz impedido ensejam a anulação.

17.4. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA DE JUÍZO

NOÇÕES

A exceção de incompetência de juízo está regulamentada nos artigos 108 e 109


do CPP. Refere-se à incapacidade do órgão julgador de conhecer e
processualizar determinado episódio. É também conhecida como declinatoria
fori e tem por pressuposto uma ação penal interposta ou em curso em foro
incompetente.

As regras atinentes à competência estão dispostas nos artigos 69 a 91 do CPP.


Como a competência é a medida da jurisdição, isto é, a delimitação do poder
estatal de dizer o direito, fazer cumprir as leis e, conforme a situação, exercer o
jus puniendi, ela pode ser fixada pelo: lugar da infração, domicílio ou residência
do réu; natureza da infração; distribuição; conexão ou continência; prevenção ou
pela prerrogativa de função.

Insta ressaltar que a incompetência poderá ser absoluta ou relativa. A primeira


ocorre quando é impossível sua prorrogação, não podendo o julgador, de forma
alguma, atuar no caso. É o que se identifica quando a competência é
determinada pela natureza da infração (em razão da matéria) ou pela
prerrogativa de função, que “poderá ser reconhecida a qualquer momento,
mesmo após o trânsito em julgado”, salvo se proferida sentença absolutória
(OLIVEIRA, 2009, p. 268). Por sua vez, a incompetência relativa admite que o
órgão judicante aprecie o evento que lhe fora submetido, pois, se não
reconhecida por este, ex officio[4] ou por arguição do interessado, não é capaz
de gerar prejuízo aos sujeitos processuais antitéticos, valendo-se, portanto, os
atos processuais praticados. É o que acontece quando a competência for
territorial.
PROCEDIMENTO

Havendo a incompetência, o dirigente processual deverá, de ofício, declará-la,


caso contrário, poderá ser arguida a respectiva exceção. Ainda que se trate da
modalidade relativa, parte da doutrina acolhe a possibilidade de seu
reconhecimento ex officio “desde que antes de operada a preclusão” (CAPEZ,
2005, p. 352). Outros propugnam que a qualquer tempo pode ser reconhecida
tal modalidade de incompetência, pois o art. 109 do CPP assim permite,
ressalvando-se a hipótese de trânsito em julgado de sentença penal absolutória.

Portanto, admite-se a interposição da exceção pelo acusado, querelante e pelo


Ministério Público, quando atuar como parte ou fiscal da lei. A arguição poderá
ser oral ou por escrito e será dirigida ao próprio juiz da causa. Ao recebê-la, após
a redução a termo no caso de ter sido apresentada oralmente, o magistrado
determinará sua autuação em apartado e a oitiva do representante do Ministério
Público, se não for ele o proponente, cabendo ressaltar que não há prazo
predeterminado no Código para tal manifestação. Após, seguem os autos
conclusos para a apreciação da exceção. Se rejeitada, permanecerá o juiz no
feito (§ 2º, art. 108, CPP), inexistindo na Lei previsão de recurso próprio,
remanescendo, contudo, a possibilidade de habeas corpus. Se acolhida a
exceção, o feito será remetido ao juízo competente, sendo que da decisão
caberá recurso em sentido estrito (art. 581, II, CPP).

Ademais, é impossível processualizar esta exceção em conjunto com a de


suspeição do juiz tendo em vista a diferença dos ritos (vide julgado transcrito no
item 2.2 deste).

17.5. LITISPENDÊNCIA

A litispendência decorre do princípio constitucional da segurança jurídica,


previsto no art. 5º, caput, da CF e auxilia o Poder Judiciário a evitar decisões
conflitantes, além de assegurar que os indivíduos não sejam demandados mais
de uma vez por uma mesma questão. Em síntese, é um elementos da paz social.
A definição está no art. 337, §§1º a 4º, do CPC, que prevê a ocorrência de
litispendência quando se propõe ação processual ao mesmo tempo em que outra
ação, idêntica, está em curso, enquanto que a coisa julgada ocorre quando se
propõe ação que já foi julgada anteriormente. Nesse ponto já se pode destacar
fato relevante: quando uma das ações é julgada não há mais debate possível
para a litispendência, devendo-se analisar, somente, a existência de coisa
julgada; e quando as duas ações são julgadas também não há debate de coisa
julgada, levando a discussão para a seara da ação rescisória.

São elementos que registram a identidade de demandas: o pedido, as partes e


a causa de pedir. Intentando-se novo pleito, cujo fato que o fundamenta já está
sendo examinado em juízo, com o mesmo pedido e em desfavor do mesmo
acusado, haverá a litispendência.

Para a identidade de ações referida é necessário que haja, de forma simultânea,


identidade nos elementos da ação: personnae (partes), petitum (pedido) e causa
petendi (causa de pedir). Se um dos elementos não é igual ao processo
comparado, a litispendência e a coisa julgada devem ser afastadas.

Assim, conclui-se que é inviável a arguição de litispendência ou de coisa julgada


na fase de cumprimento de sentença. Para alcance dessa conclusão foram
estabelecidas as seguintes premissas:

a) para discussão de litispendência é necessário que existam duas ações em


fase de conhecimento;

b) para a discussão de coisa julgada é preciso que haja uma ação em fase de
conhecimento e outra em fase de cumprimento de sentença (ou com quitação);

c) a eficácia preclusiva da coisa julgada impede análise de litispendência e coisa


julgada extemporânea;

d) litispendência e coisa julgada não estão no rol dos arts. 525, §1º, e 535 do
CPC. A alternativa identificada para o enfrentamento da questão é a ação
rescisória, com fundamento no art. 966, IV, do CPC.

17.6. LEGITIMIDADE DA PARTE

A ilegitimidade das partes é citada no Código de Processo Penal brasileiro (lei


nº 3869/41) como uma causa de nulidade e como uma das formas de exceção
que podem ser opostas a um processo
Há de se reconhecer como causas que justificam a arguição da exceção, dentre
outras, as seguintes:

a) quando é oferecida a queixa-crime no caso de ação penal pública. Insta


lembrar que é cabível o oferecimento da queixa, no caso de ação originariamente
pública, quando o Ministério Público deixar transcorrer in albis o prazo legal para
a propositura da ação;

b) quando é ofertada a denúncia no caso de ação penal privada;

c) na hipótese de ser o querelante incapaz;

d) se o querelante não for o representante legal do ofendido;

e) quando na ação privada personalíssima, cujo único caso, atualmente, é o do


artigo 236 do Diploma Penal, a queixa é oferecida pelo sucessor da vítima.

As principais hipóteses que levam à ilegitimidade das partes são o caso de o


Ministério Público entrar com a denúncia de ação penal privada; se uma pessoa
que não o Ministério Público entrar com denúncia de ação penal pública, se o
autor ou réu forem incapazes ou se alguém se disser representante do ofendido,
mas não for. O réu ou o Ministério Público podem arguir a ilegitimidade, caso
esta não seja reconhecida de ofício pelo juiz no início do processo.

Caso o juiz reconheça como procedente a exceção, esta pode ter dois
andamentos. Se a exceção for por uma ilegitimidade ad causam, o processo
sofre de nulidade absoluta, ou seja, é anulado ab initio; caso a ilegitimidade seja
ad processum, há uma nulidade relativa, que admite convalidação, conforme
estipula o artigo 568 do Código de Processo Penal. Nesse segundo caso, a
nulidade pode ser sanada mediante ratificação dos atos processuais (conforme
art. 568 do CPP). Dessas decisões, segundo as quais há procedência da
exceção, cabe recurso em sentido estrito. Caso haja improcedência da exceção,
não cabe recurso. Não há suspensão do processo para a apreciação da exceção
nem prazo para sua arguição.

17.7. EXCEÇÃO DE COISA JULGADA


Em simples termos, pode-se conceituar a coisa julgada como “uma qualidade
dos efeitos da decisão final, marcada pela imutabilidade e irrecorribilidade”.
(CAPEZ, 2005, p. 355)

Ora, se for julgada a questão vertente em um determinado processo e nenhuma


das partes interpuser recurso, ou se este for manejado, mas não conhecido ou
denegado e não houver nova manifestação de inconformismo, ter-se-á, em
regra, a imutabilidade da decisão final. Diz-se “em regra” porque ela (a sentença)
poderá ser passível de alteração, no caso de condenação, através da revisão
criminal[8] (art. 621 e seg., CPP).

É conveniente destacar a diferença de cunho acadêmico-doutrinária entre coisa


julgada formal e material. A primeira refere-se à “imutabilidade da sentença no
processo em que foi proferida” (MIRABETE, 2001, p. 219), o que significa que,
na mesma ação, não será possível nova discussão e apreciação atinente ao
mesmo fato. Já na coisa julgada material a imutabilidade da sentença é
transferida para o plano exterior do processo, vale dizer, “o juiz de outro processo
está obrigado a respeitar a decisão na medida em que isto lhe é imposto pela
lei”. (MIRABETE, 2001, p. 219)

17.8. CABIMENTO E PROCEDIMENTO

Para a procedência da arguição “é necessário que a mesma coisa (eadem res)


seja novamente pedida pelo mesmo autor[9] contra o mesmo réu (eadem
personae) e sob o mesmo fundamento jurídico do fato (eadem causa petendi)”.
(CAPEZ, 2005, p. 358)

Para que a parte possa opor a exceção de coisa julgada é necessário que na
segunda ação tenha o juiz recebido a denúncia ou a queixa. Se apenas for
instaurado um segundo inquérito policial, caberá à parte impetrar ordem de
habeas corpus visando seu trancamento.

Interessante é a seguinte questão suscitada por Fernando Capez (2005, p. 359):

A exceção de coisa julgada seguirá o mesmo rito da destinada ao


reconhecimento de incompetência (art. 110, caput, CPP), não havendo prazo
para sua interposição e nem suspensão do processo.
Da decisão que acolher a exceção caberá recurso em sentido estrito (art. 581,
III, CPP); se rejeitá-la não há previsão de recurso específico, mas poderá a parte
interessada abordar o seu teor novamente em sede preliminar de algum recurso
ou impetrar habeas corpus. Caberá apelação se o magistrado reconhecer
espontaneamente a existência de coisa julgada.

Observa-se, por fim, que havendo duplo julgamento pelo mesmo fato, sendo em
ambos proferidos sentença condenatória, prevalecerá a que primeiro transitou
em julgado.

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