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Mecânica Quântica – Interpretações e Desinterpretações

Resumo: Este trabalho faz um resumo dos capítulos II.7 a II.12 do livro Tecnociências e Humanidades.
Nestes capítulos são abordadas as interpretações e discussões sobre essas interpretações históricas da
mecânica quântica.
Palavras-chave: mecânica quântica; atomismo.

A ciência física atual intenta representar/apresentar/descrever/etc a natureza


usando a matemática. Isso cria o problema de como interpretar essas
representações/apresentações/descrições/etc matemáticas em termos físicos, utilizando
textos ou imagens visuais. Como os fenômenos que são estudados pela física são uma
amálgama complexa de percepção e cognição, percebemos o mundo e o interpretamos.
Como interpretar uma equação matemática representando/apresentando/descrevendo um
fenômeno, já que desde Galileu e Newton, o “livro da natureza” é lido através da
matemática, buscando a racionalidade e a denotação pura? São usadas imagens, visuais
e textuais, do senso comum, para interpretar a matemática dos fenômenos, mesmo que
os fenômenos não sejam tão imediatos ao senso comum. As imagens trazem o senso
comum à física.
Porém na física do século XX essa aproximação entre as imagens e as equações
tornou-se complicada. A interpretação física da onda associada a uma partícula gerou
muita controversa. A dualidade onda/partícula, que apareceu quando Einstein em 1905
criou/descobriu o fóton, para explicar fenômenos que a ideia de luz como onda não
conseguia explicar, e também a hipótese da onda piloto de De Broglie de 1909 que
associa o elétron a uma onda, criaram dificuldades na interpretação dessas entidades,
que dependendo da experiência sendo executada têm características de partículas ou de
ondas. A equação de Shroedinger, que não é relativística e portanto não consegue
explicar o fóton que tem a velocidade da luz, tentou normalizar os saltos quânticos dos
elétrons nos átomos. Mas essa leitura não foi aceita por todos os físicos, como Borh. E
em 1926, Born publica a interpretação mais aceita entre os físicos, de que a função da
onda permite que seja encontrada a distribuição de probabilidades de se localizar o
elétron no átomo.
Átomos não podem ser visualizados, e os modelos baseados no macrocosmo e no
senso comum deixam de ser válidos. Na física clássica o experimento não altera as
propriedades do sistema de modo a confundir as medições, diferentemente do que
acontece no mundo microscópico da mecânica quântica. Além disso, elétrons aparecem e
desaparecem dentro dos átomos, durante as transições, passando por barreiras de
potencial. Fótons e elétrons passam por dois orifícios ao mesmo tempo como se fossem
ondas.
Na interpretação de Born, ele não tenta compreender o que acontece durante a
transição entre estados de um elétron, mas assume que a equação de Shroedinger dá os
valores desses estados e da energia emitida/absorvida no processo. A mecânica quântica
seria fundamentalmente probabilística, sendo o indeterminismo inerente a ela. E somente
previsões probabilísticas de variáveis observáveis seriam possíveis. Como escreve Born,
“Não se responde à questão ‘qual é o estado após a colisão’, mas sobretudo à questão
‘qual é a probabilidade de se obter um efeito dado pela colisão?’” (BORN, apud
PINGUELLI ROSA, p. 132).
Para tornar as coisas mais complicadas, temos ainda as relações de
incerteza/indeterminação de Heisenberg. Segundo elas, não é possível determinar
simultaneamente valores de grandezas, como a posição e a quantidade de movimento
linear, que é um vetor dado pela massa multiplicada pela velocidade. Para medir uma
dessas grandezas temos que alterar seu estado, logo experimentalmente não podemos
como fazer uma medida precisa pois o processo de medição alteraria o momento ou a
posição da partícula, e também a teoria mostra que posição e momento não comutam, a
função de onda ao ser integrada geraria uma série de ondas com diferentes
comprimentos, diferentes momentos, quanto maior for a certeza na posição maior será a
incerteza no momento e vice-versa. Para Heisenberg, os elétrons são apenas
representados/apresentados/descritos pela radiação que emitem ou absorvem durante as
transições, medidas por suas linhas espectrais. Sem qualquer interpretação. Os
paradoxos da quântica estariam envolvidos com a linguagem das percepções que não se
aplicariam ao domínio do átomo, que seria explicado somente pelas equações da
mecânica quântica, probabilísticas e com a incerteza inerente a elas.
Para tentar interpretar essas questões, Bohr ofereceu a abordagem da
complementaridade. Bohr considerava que não era necessário escolher um modo,
partícula ou onda, em vez do outro, mas que ambos eram possíveis e necessários, e que
esses paradoxos ocorrem porque ao se fazer um experimento apenas os atributos de
uma dessas características, partícula ou onda, serão medidos. Se o experimento for para
medir uma partícula, assim será medido; se for para medir uma onda, assim será. A
complementaridade desloca a previsão, e assim a causalidade, dos processos
fundamentais de conservação da energia e momento. Além das entidades da mecânica
quântica, Bohr estendeu a complementaridade a vários outros campos, como o caos
determinista e a complexidade, na termodinâmica a entropia e a descrição detalhada do
comportamento dos átomos do corpo, e no estudo das culturas primitivas.
A interpretação probabilística da mecânica quântica é a oficial, conhecida como a
interpretação da Escola de Copehhagen, onde Bohr tinha um centro de pesquisas. A
função de onda de Shroedinger mostra uma superposição de soluções no espaço de
Hilbert, um espaço vetorial constituído de funções. E ao quadrarmos o módulo dos
resultados, aparece um termo de interferência, mesmo para somente uma partícula. Isso
é interpretado como as probabilidades de um termo ou outro, ocorrendo uma
superposição dos dois estados. No estado final medido temos a redução dos estados
superpostos, observando-se um ou outro, mas no conjunto de todas as medições aparece
a interferência. Essas equações representariam a probabilidade de se encontrar um
elétron numa dada posição com dado momento. Born, que primeiro lançou essa proposta,
acreditava que a probabilidade era ligada a falhas do nosso conhecimento, e não à
realidade física em si. Heisenberg coloca a incerteza dentro do mundo mesmo, que seria
inerentemente não causal e não determinista. A redução também foi ponto de discórdia,
para Bohr a redução acontecia no equipamento de medição, e para Von Neumann
acontecia na mente do observador, a consciência do observador por seu conhecimento
devido a observação escolheria um entre os diversos componentes da função de onda
prevista, rejeitando os não observados.
Shroedinger cria um cenário para mostrar a contra-intuitividade das interpretações
da quântica, conhecido como o ‘gato de Shroedinger’. Se um gato fosse colocado numa
caixa com um artefato radioativo, que dependendo do decaimento de um átomo poderia
matar o gato, ao abrirmos a caixa teríamos um gato morto ou não, dependendo do evento
aleatório do decaimento. Mas se não abríssemos a caixa, não fizéssemos a medida, o
gato estaria num estado superposto morto-vivo ao mesmo tempo.
Einstein colocou-se contra a interpretação probabilística da mecânica quântica:
“Deus não joga dados”. Na Conferência Solvay de 1927, ele levantou alguns pontos de
discussão, argumentando que a função de onda dá o resultado não de uma partícula mas
de um conjunto delas, a chamada interpretação de ensemble ou estatística coletiva, e que
para o caso de uma partícula somente, passando por dois orifícios, essa informação teria
que ser transmitida instantaneamente, mas segundo a relatividade restrita a maior
velocidade possível seria a da luz. Uma possibilidade para esses resultados seria que
haveria variáveis escondidas ainda não descobertas na teoria quântica. No experimento
EPR (de Einstein, Podolsky e Rosen), de 1935, um experimento mental onde usa-se o
entrelaçamento de estados quânticos: uma partícula entrelaçada com outra poderia ser
medida e perturbada, medindo a posição e perturbando o momento e medindo o
momento perturbando-se a posição, medindo-se assim a outra que estava entrelaçada
sem que ela fosse perturbada também, já que não teria sido medida, o que seria
impossível já que a teoria prevê que não se pode medir simultaneamente posição e
momento, portanto essa teoria estaria incompleta e haveria variáveis escondidas não
sendo consideradas. Bohr respondeu que a teoria não autorizava interpretações da
realidade conforme as fórmulas e equações, e que o entrelaçamento criaria um estado
uno entre as partículas não permitindo realidades independentes, toda perturbação em
uma seria feita em ambas.
Em 1964, Bell mostrou que algumas desigualdades entre grandezas de estados
das partículas deveriam existir para haver variáveis escondidas no sistema quântico, que
não foram encontradas experimentalmente no experimento de Aspect, Granger e Roger
de 1981. Então a hipótese de variáveis escondidas deixou de ser válida.
Neste século o atomismo tornou-se corrente, os átomos e suas partículas elétrons,
prótons e nêutrons agora fazendo parte do senso comum educado. Mesmo no século XIX
quando o positivismo era forte, na química os átomos eram levados em conta, como nas
reações químicas e na tabela periódica de Mendeleyev. E na física na teoria cinética dos
gases, por exemplo com Boltzmann, atomista. Com a quântica, os elétrons perderam sua
corpuscularidade e transformaram-se em partículas quânticas. Pauli trouxe o princípio da
exclusão, que proíbe mais do que um átomo com o mesmo estado dentro do mesmo
sistema físico, como um átomo, o que os leva a se posicionarem nos diferentes níveis de
energia, os níveis de energia de Bohr, explicando-os.
O que vemos é que a física quântica, apesar de ter equações que descrevem os
fenômenos, foge do lugar comum e de explicações/interpretações simples. Existem
posições positivistas/neopositivistas, que propõem que temos apenas que medir os
efeitos e não tentar explicar e entender o que acontece internamente. Mas seres humanos
acabam tentando explicar as coisas. Por isso, diversas outras interpretações surgiram, a
partir destas descritas aqui, históricas. Mas isso é outro capítulo.

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