Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
todo o sistema normativo nacional, principiando-se pelo preâmbulo e texto da Carta Magna até
a legislação infraconstitucional e convenções internacionais.
A prática do “bullying”, como conduta degradante da pessoa humana, encontra vedação, seja
tácita ou expressa, em todo o sistema normativo nacional, principiando-se pelo preâmbulo e
texto da Carta Magna até a legislação infraconstitucional e convenções internacionais das quais
o Brasil é signatário[1], desde que, evidentemente, observada a hermenêutica teleológica dos
seus variados dispositivos em benefício da proteção às vítimas.
Com efeito, é sabido que a prática do ”bullying” configura-se por uma infinidade de
modalidades, tais como as consubstanciadas por agressões verbais, intimidação, ameaças,
constrangimentos e agressões físicas. Além disso, apresenta-se em diferentes ocasiões, seja em
ambiente pessoal e escolar (hipóteses aqui destacadas), ou, ainda, laboral, e não discrimina
agentes nem vítimas, sendo constatada a sua prática na infância, adolescência ou mesmo na
fase adulta.
Destarte, diversos podem ser os bens juridicamente tutelados lesados (a vida, a integridade
física, a honra, a saúde etc.) e daí a necessidade de especial proteção do estado no que toca à
vedação de semelhantes práticas, sobretudo se observadas as nefastas consequências
virtualmente ocasionadas à integridade física e psicológica das vítimas, notadamente quando
encontram-se ainda em estágio de desenvolvimento da personalidade, como os que ainda não
atingiram a maioridade, pelo que passam a requerer especialíssima tutela estatal.
Assim, cumpre aduzir que a Carta Magna traz consigo em seu bojo o escopo precípuo de
”assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna,
pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social” [2] conforme infere-se do seu
preâmbulo.
Ademais, em especial proteção à criança e ao adolescente, dispõe, em seu art. 227, que ”É dever
da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.”
Em análise reversa, forçoso concluir que o “bullying”, enquanto afronta aos preceitos
supracitados e outros expressos no texto constitucional, ofende flagrantemente as suas
finalidades pedagógicas e protetivas e veste-se como invectiva à dignidade da pessoa humana[3]
e à interdição à tortura e ao tratamento desumano ou degradante[4]. Assim, cumpre ao Estado
a prevenção e a repressão de práticas congêneres.
De fato, em virtude da extensão lesiva desses procedimentos violentos, que em casos extremos
chegam a resultar em tortura, e até mesmo em morte, invoca-se também a Declaração
Universal dos Direitos Humanos da ONU, que afasta o tratamento cruel, desumano ou
degradante ao ser humano, e a Convenção Interamericana de Direitos Humanos – Pacto de São
José da Costa Rica, o qual preleciona o direito à integridade pessoal, compreendendo, claro está,
aspectos físicos, psíquicos e morais[5].
Com efeito, conquanto as referidas condutas encontrem reflexo, sob cominação de pena, no
texto legal, a exemplo do que se observa nos crimes contra a pessoa ou contra o patrimônio
(Títulos I e II, respectivamente, da Parte Especial do Código Penal), há que se observar que,
sendo muitas vezes os “bullies” (ou “bully”, no singular, denominação endereçada aos agentes
agressores) adolescentes ou mesmo crianças, não estão sujeitas à sua aplicação.
Nada obsta, contudo, que a vítima lesada por agressor menor de idade pleiteie a reparação
adequada (a título de compensação por danos morais, materiais ou estéticos, conforme o
caso)[8], pela via civil, em face dos representantes legais do agressor, seja ele incapaz de
responder nas esferas cível e penal por seus atos[9].
Como se vê, a interface do “bullying” com variadas esferas do direito, bem como a a
repercussão da sua prática reiterada na manutenção e preservação de bens juridicamente
tutelados de maior importância, implicam reverberação imediata do fenômeno na sociedade e,
portanto, desperta a circunspecção do legislador.
Nesse sentido, cita-se, a título de exemplo, a iniciativa do Senado Federal, através do Projeto de
Lei nº 228/2010, substituído pelo Projeto de Lei 1.785/2011, ainda em tramitação nesta casa
legislativa, que inclui entre as incumbências dos estabelecimentos de ensino a promoção de
ambiente escolar seguro e adoção de estratégias de prevenção e combate ao “bullying”.
Outra iniciativa de destaque, de origem da Câmara dos Deputados, foi o Projeto de Lei nº
6.935/2010 (já arquivado), que pretendia a criminalização da prática. A nosso ver, data venia,
inconcebível é a iniciativa que pretenda o tratamento pela via do direito penal, porquanto
transgride o consagrado princípio da intervenção mínima e ignora a inocuidade a que
mencionamos alhures, uma vez que, ressalta-se, verifica-se na grande maioria dos casos crianças
ou adolescentes como agressores. Afirmar o contrário é, portanto, fechar os olhos à realidade.
Em contrapartida, temos como louváveis iniciativas como a do município de Belo Horizonte, que
através da Lei Municipal nº 10.213, de 29 de junho de 2011, criou o programa BH Trote Solidário
e Cidadão e de Prevenção e Combate ao Bullying, além de proibir a prática de trote violento. A
predita Lei Municipal acertadamente criou ação de caráter multidisciplinar e participação
comunitária nas escolas da rede municipal de educação.[10]
”A matéria, ainda não regulamentada por legislação federal, é objeto de normas municipais e
estaduais. Em São Paulo, a Câmara Municipal editou a lei nº 14.957/2009, determinando "incluir
no projeto pedagógico medidas de conscientização, prevenção e combate ao bullying" (artigo
1º). No mesmo sentido é a lei nº 5.089/2009, do município do Rio de Janeiro. Segundo a lei nº
5.824/2010, do Estado do Rio de Janeiro, além dos estabelecimentos de saúde, os de ensino
também ficam obrigados a notificar à autoridade policial e ao Conselho Tutelar qualquer caso de
violência contra a criança e o adolescente. O Estado de Santa Catarina foi o pioneiro na
normatização do tema, considerada a lei nº 14.651, de 12 de janeiro de 2009.” [12]
Não há como crer, contudo, que pela via penal há de se solucionar o problema. A solução é,
antes, pluridisciplinar, e requer trabalho conjunto das autoridades para que se proceda ao
devido planejamento legislativo, bem como à eficaz atuação administrativa, sem olvidar,
evidentemente, de que em se tratando de questão aparentemente cultural, não se deve
menosprezar, ainda, a importância da conscientização, conquanto soe modesta solução.
[1] Lei 10.406/2002 (Código Civil), Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente),
Decreto-Lei 2.848/40 (Código Penal), ademais das variadas legislações (que regulam
especificamente a matéria ou não) regionais e locais em tramitação nas casas legislativas, bem
como as já em vigor. Ainda, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, Convenção
Interamericana de Direitos Humanos – Pacto de São José da Costa Rica.
[13] Ibid.
Leia mais:
http://jus.com.br/artigos/28324/bullying-panorama-juridico-e-legislacao-aplicavel#ixzz3YA6mAI
Ng
fonte: http://jus.com.br/artigos/28324/bullying-panorama-juridico-e-legislacao-aplicavel
23/04/2015