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O autor defende que o Estado não nasce como decorrência temporal da família,
antes, nasce como contraposição às relações familiares. É o triunfo do geral sobre o
particular. As relações familiares são superadas.
“Ela pode iludir na aparência - e isso se explica pelo fato de a atitude polida
consistir precisamente em uma espécie de mímica deliberada de manifestações que se
converteu em fórmula. Além disso, a polidez [cordial] é, de algum modo, organização de
defesa ante a sociedade. Detém-se na parte exterior, epidérmica do indivíduo, podendo
mesmo servir, quando necessário, de peça de resistência. Equivale a um disfarce que
permitirá a cada qual preservar intatas sua sensibilidade e suas emoções. Por meio de
semelhante padronização das formas exteriores da cordialidade, que não precisam ser
legítimas para se manifestarem, revela-se um decisivo triunfo do espírito sobre a vida.
Armado dessa máscara, o indivíduo consegue manter sua supremacia ante o social. E,
efetivamente, a polidez [cordial] implica uma presença contínua e soberana do
indivíduo.”
Ainda que utilize essa forma polida para esconder o agir cordial, o homem
cordial não consegue fazê-lo com muita tenacidade. Tanto assim que não nos é comum
uma reverência extensa à autoridade, posto que não é concebível a possibilidade de
excluir um convívio mais familiar. O respeito esperado na sociedade moderna substitui-
se pelo desejo de estabelecer intimidade {de incorporar ao coração, à família}.
Até mesmo nos negócios essa aversão ao ritualismo social se demonstra. Tal
coisa não seria de se esperar, dado que esse exercício está calcado na individualidade e
concorrência (atributos modernos, que, teoricamente, são característicos da sociedade que
superou a legitimação na família). Contudo, a prática do cotidiano da sociedade do
homem cordial exige que para se conquistar um freguês o comerciante deve fazer dele
um amigo.
“No Brasil, ao contrário, foi justamente o nosso culto sem obrigações e sem
rigor, intimista e familiar, a que se poderia chamar, com alguma impropriedade,
‘democrático’, um culto que se dispensava no fiel todo esforço, toda diligência, toda
tirania sobre si mesmo, o que corrompeu, pela base, o nosso sentimento religioso. [...]