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Pós-doutoranda e professora
E SUBJETIVAÇÃO colaboradora no PPGG-UFES.
carolinavecchia@gmail.com
Daniel Manzione Giavarotti
La movilidad revisitada: capital, trabajo y subjetivación Doutorando em Geografia Hu-
mana pelo PPGH-USP.
Revisiting mobility: capital, labor and subjectivation manzione79@gmail.com
Erick Jones Gabriel Kluck
Pós-doutorando no Instituto de
Geociências da Unicamp-SP.
erick@usp.com.br
RESUMO
Cássio Arruda Boechat
Professor do DG-UFES.
A partir de balanços feitos nos anos 1990 sobre os fundamentos teóricos dos es- cassio.boechat@ufes.br
tudos migratórios, propomos aqui uma análise e uma crítica de um destes tron- Carlos de Almeida Toledo
cos. Com esse artigo ressaltamos as contribuições decisivas da perspectiva teóri- Professor do DG-FFLCH-USP.
carlosdealmeidatoledo@gmail.com
ca da mobilidade do trabalho no questionamento dos limites da separação entre
as determinações estruturais reivindicadas pela leitura identificada no contexto
do agrupamento dos estudos migratórios em troncos teóricos como enfoque Artigo recebido em:
histórico-estrutural e a vontade subjetiva reivindicada pelo enfoque neoclássico, 17/04/2017
além do papel desempenhado pelos discursos sobre a migração e pelos mecanis- Artigo publicado em:
mos que eles acionam enquanto formas de controle do espaço, do trabalho e do 15/12/2017
trabalhador. Procuramos avançar, todavia, propondo uma leitura crítica dessa
própria perspectiva de modo a evidenciar seus limites na conceituação ontológica
do trabalho em que se baseia. A partir daí e da historicidade que a categoria de
trabalho ganha nessa interpretação crítica, refletimos sobre as condições hodier-
nas críticas para a sua mobilização e sobre a posição de administração estatal da
crise do trabalho que assume o antigo planejamento juntamente com a produção
científica que o fundamenta, tornando essencial a crítica da mobilidade inclusive
dos sujeitos que produzem os estudos migratórios.
Palavras-chave: Mobilidade do trabalho; crítica do trabalho; fetichismo.
RESUMEN
Esse trabalho foi originalmente produzido por ocasião do XIII SIMPURB (Simpó-
sio Brasileiro de Geografia Urbana), ocorrido no Rio de Janeiro em novembro de
2013. Publicamo-lo agora, posteriormente à incorporação das críticas recebidas
naquela oportunidade de debate, como consolidação de uma interpretação crítica
de grupo relativa ao conceito de trabalho, conduzida nos últimos vinte anos no âm-
bito do LABUR (Laboratório de Geografia Urbana), no Departamento de Geografia
da Universidade de São Paulo.
essa massa trabalhadora não se torna outra verdade, sua outra verdade:
imobilizada, nem mesmo quando não práticas de controle do trabalho e
do trabalhador (Vainer, 1984, p. 21).
consegue se reproduzir pelo trabalho,
uma vez que a única alternativa para
a mesma segue sendo essa forma de Como assinala Vainer (1984), a
mediação social. perspectiva da mobilidade do tra-
balho permite desvendar por detrás
Mobilidade como categoria de ad- da miríade de políticas elencadas na
ministração de crise? citação acima, intenções políticas que
Agora se faz possível retornarmos revelam precisamente seus interesses
ao ponto de partida, levando em con- de classe, já que se configuram como
sideração o que dissemos até então. A formas particulares de dominação da
disputa política registrada por Vainer classe trabalhadora. Em outras pala-
(1984) e consubstanciada na produção vras, revelam a redução do trabalho
dos discursos sobre os deslocamentos, a objeto da gestão, sobretudo estatal,
que aponta tanto para práticas de sendo possível identificar uma teo-
organização do espaço, como para ria sobre o Estado e também sobre a
a gestão dos fluxos migratórios e de dominação, que subjazem a essa per-
combate aos problemas que provo- spectiva, ao acusar a teoria neoclás-
cam ou que são provocados pelas mi- sica de silêncio acerca de seu com-
grações, oculta a mobilidade como promisso ideológico com as classes
característica do trabalho, ignoran- dominantes.
do-se a determinidade deste último A grosso modo, parece-nos possível
como fundamento do processo de afirmar que se a teoria neoclássica vê o
produção e acumulação capitalista. migrante, ou trabalhador, como senhor
Nesse sentido, quando se discute o su- de seu próprio destino, delineia-se
perpovoamento das cidades, a existên- uma sociedade que funciona e se move
cia de “vazios” populacionais em de- a partir da somatória dos desejos de
terminadas regiões ou a desorientação cada sujeito, sem quaisquer constrangi-
dos fluxos migratórios, como sugere mentos permeando suas trajetórias
Póvoa Neto (1997, p. 14), geralmente de trabalho e deslocamentos. Dito de
se tem em mente uma boa alocação outro modo, afigura-se uma socie-
do trabalho como fator de produção. dade mercantil (Smith, 1988) na qual as
O mesmo também acontece quando trocas voluntárias entre os sujeitos ten-
estudos de planejamento identificam dem ao equilíbrio, apagando-se o papel
ausências ou deficiências no desen- que o Estado joga, seja na constitu-
volvimento regional responsáveis por ição das próprias relações capitalis-
produzir processos de expulsão dos tas, seja em sua manutenção e repro-
migrantes: nesses casos o trabalhador dução ampliada. Já do ponto de vista
também se encontra pressuposto, da perspectiva histórico-estrutural,
estando em discussão somente as for- o sujeito migrante e/ou trabalhador,
mas para garantir sua reprodução que como já afirmamos acima, emerge
permitam evitar o inchaço urbano (e como puro objeto da política, donde
os problemas derivados do mesmo) o Estado se afigura como sujeito ab-
ou a crise de abastecimento de tra- soluto da reprodução social, perden-
balhadores no campo. do-se a dimensão subjetiva do sujeito
Políticas de organização territo- sujeitado à liberdade contraditória da
rial, políticas urbanas, regionais, mobilidade do trabalho. Destarte, não
migratórias, etc., podem ver os dis- Revista do Programa de
cursos e mecanismos que acionam
obstante a filiação de Vainer (2000) Pós-Graduação em Geografia e
com vistas ao controle do espaço e à perspectiva da mobilidade do tra- do Departamento de Geografia
da UFES
de seus desequilíbrios serem des- balho, consideramos possível suger- Julho - Dezembro, 2017
vendados e deixarem aparecer uma
ir que ele ainda permanece próximo ISSN 2175 -3709 17
da perspectiva histórico-estrutural, e tecnocratas, também das migrações
por não dar a devida atenção, assim e dos deslocamentos, não tratam de
Revista do Programa de como Gaudemar (1977), ao significa- uma realidade que lhes é externa,
Pós-Graduação em Geografia e
do Departamento de Geografia do da dimensão subjetiva do sujeito tampouco objetiva, no sentido posi-
da UFES sujeitado à mobilidade do trabalho tivista. Ao contrário, inserem-se tanto
Julho - Dezembro, 2017
ISSN 2175 -3709 (aspecto mais tarde confirmado em no processo de mobilização para o tra-
livro do último intitulado La movi- balho que é geral (como trabalhadores
lización general), por carecer de uma complexos) como também podem
teoria sobre o trabalho enquanto pensar e agir somente a partir das
abstração real e forma de mediação mesmas categorias que simultanea-
social historicamente específica. Dese- mente conformam o comportamento
jamos apresentar uma noção crítica da dos migrantes.
dominação que permita ultrapassar a Se, como dissemos acima, diante
maneira como Carlos Vainer (1984) e da crise do trabalho provocada pelo
Jean Paul de Gaudemar (1977) a com- desenvolvimento exponencial das
preendem, enquanto encobrimento forças produtivas, a população tra-
ideológico da luta de classes, portanto balhadora e/ou migrante se encontra
das relações sociais de produção, don- apenas negativamente liberada do
de os trabalhadores figurariam como trabalho, a camada dos trabalhadores
uma totalidade apartada e contrária complexos, tecnocratas e pesquisa-
ao capital, mobilizados puramente dores, também nos encontramos en-
pelos desígnios deste último. cerrados por esta mesma forma social.
Se para Marx o trabalho, desdo- Nesse sentido, se de um lado a crise
brado da forma-mercadoria, carac- do trabalho também desencadeia
teriza-se enquanto uma forma de ser piora nas condições de exercício da
[Daseinsformen] ou determinações mobilidade do trabalho deste grupo
de existência [Existenzbestimmun- particular do mercado de trabalho,
gen] (Postone, 2014), não poden- por outro o aparato que os abriga
do ser compreendido num sentido enquanto trabalhadores – o Estado e
ordinariamente econômico, já que suas diversas instituições como uni-
decididamente informa as categori- versidades, agências de desenvolvi-
as de pensamento modernas, como mento, dentre tantas outras – também
demonstrado por nós anterior- sofre com os desdobramentos críticos
mente, faz-se imprescindível levar da desubstancialização do capital as-
em consideração seu caráter como sinalada acima. Em outras palavras
realização subjetiva. Não apenas no e de maneira muito sucinta, se o Es-
sentido da ação política do sujeito tado, enquanto aparato, estrutura-se
submetido à mobilidade, mas simul- por meio da tributação do valor e da
taneamente como processo de inter- mais-valia produzida pelas relações de
nalização da lógica do trabalho e da trabalho no mercado, e esta começa a
mediação da mercadoria por estes ser abalada enquanto fundamento da
mesmos sujeitos. Aqui nos referimos reprodução social, começa a se tornar
à constituição objetiva – subjetiva da inevitável o estreitamento do raio de
sociedade moderna, que se constitui, ação estatal (cf. Kurz, 1998).
portanto, simultaneamente como su- Assim, consideramos plausível
jeito e objeto dos processos por meio sugerir que a produção de conheci-
dos quais se reproduz. mento científico e suas disputas se en-
Na sociedade moderna a aparência contram encerradas na jaula de ferro
é real, e o sujeito é personificação dos da administração estatal da crise do
processos sociais que se reproduzem trabalho. E exemplos da veracidade
por meio dele, mas também para além desse prognóstico não faltam. Basta
18 dele. O que significa que os estudiosos olharmos para os últimos quatorze
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Revista do Programa de
Pós-Graduação em Geografia e
do Departamento de Geografia
da UFES
Julho - Dezembro, 2017
ISSN 2175 -3709 21