02/09/2019 Método da loucura faz crescer rejeição a Bolsonaro: é estratégia eleitoral - Reinaldo Azevedo - UOL

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Método da loucura faz crescer rejeição a Bolsonaro: é
estratégia eleitoral
Reinaldo Azevedo
02/09/2019 07h30

Buffon escreveu que "o estilo é o próprio homem". Ainda que não seja assim, é
certo que contribui para definir o seu destino. O de Jair Bolsonaro teve peso
importante na sua eleição. Como a Lava Jato havia feito terra arrasada da
política, um postulante que dizia representar o antiestablishment, o avesso de
tudo o que se conhecia como razoável da vida pública, pareceu a muitos a
solução. Eleito, ele não mudou e ainda acentuou alguns aspectos mais
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ásperos da sua atuação e da sua personalidade. Nem sempre os modos que

ajudam a eleger ajudam a governar. A rejeição a seu governo é crescente. De
toda sorte, já escrevi aqui, ele resolveu fazer do estilo belicoso uma estratégia.

Pesquisa Datafolha publicada nesta segunda, com levantamento realizado nos

dias 29 e 30 de agosto, aponta que 38% dos entrevistados consideram o seu
governo ruim ou péssimo; em julho, eram 33%; para 30%, é regular; antes,
eram 31%; dizem que a gestão é ótima ou boa 29% — em julho, eram 33%. A
margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. São
números compatíveis com os da pesquisa CNT/MDA, divulgada na semana
passada, com dados coletados entre os dias 22 e 25. Nesse levantamento,
39,5% o veem como ruim ou péssimo; 29,1% como regular, e 29,4% como
ótimo ou bom, com margem de erro de 2,2 pontos para mais ou para menos.

O Datafolha evidencia que Bolsonaro segue o campeão disparado em rejeição

em primeiro mandato em período correspondente a seus antecessores. Com
oito meses de governo, FHC era visto como ruim ou péssimo por 15%; Lula,
por 10%; Dilma, por 11%.

A pesquisa de julho já apontava uma possível erosão da popularidade de

Bolsonaro quando confrontada com a de abril, mas as mudanças se davam
dentro da margem de erro. O ótimo/bom empatava com o ruim/péssimo em
33% — e isso já não era uma boa notícia. Agora, no Datafolha, a diferença em
desfavor de Bolsonaro é de nove pontos percentuais. Na CNT/MDA, de 10,1
pontos.

Houve uma deterioração importante do apoio ao presidente em dois meses —

justamente o período em que exacerbou o estilo da pancadaria em que tirou
da cartola o nome do deputado Eduardo Bolsonaro, seu filho, para a
embaixada do Brasil em Washington, o que não foi bem visto nem por parte do
seu eleitorado.

SINAIS
Nesses dois meses, segundo o Datafolha, despencou o apoio que tinha entre

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os que ganham mais de 10 mínimos: o ótimo/bom caiu de 52% para 37%. Os

grupos que formavam, vamos dizer assim, a sua linha de defesa estão
enfraquecendo. Há dois meses, era considerado ótimo ou bom por 38% dos
homens; agora, por 33%. A rejeição no Nordeste cresceu de 41% para 52%.
No dia 19 de julho, ele se referiu aos governadores da região como "paraíbas",
em tom inequivocamente depreciativo. No empresariado, Bolsonaro ainda
mantém 48% de ótimo e bom; em julho, eram 58%. A pesquisa CNT/MDA já
apontava perda importante de prestígio no grupo com ensino universitário: o
ruim ou péssimo chegava a 37,4%; no Datafolha: 43% — em abril, 35% e, em
julho, 36%.

MAU COMPORTAMENTO

Os brasileiros vêm reprovando crescentemente os modos de Bolsonaro. Em

julho, ainda eram 22% os que viam nele um comportamento sempre adequado
a um presidente. Esse número caiu para 15%. No outro extremo, eram 25% os
que afirmavam que ele nunca tinha um comportamento adequado; agora, são
32%; em julho, para 21%, ele era inadequado na maioria das vezes; desta
feita, 23%. Para 27%, ele se comporta corretamente na maioria das ocasiões
27%; antes, 28%.

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Se compararmos os dados de agora com os de abril, as coisas se complicam

para o presidente: eram 54% os que sustentavam que ele atuava sempre de
modo adequado (27%) ou quase sempre (27%); agora, apenas 42% dizem
que sempre (15%) ou quase sempre (27%). Em abril, eram 43% os que viam
uma atuação sempre incompatível com o cargo (23%) ou quase sempre
(20%). Na avaliação se agora, esse índice subiu para 55%: nunca é compatível
para 32% e quase nunca para 23%.

Declaram ter uma expectativa positiva do governo 45% dos entrevistados. Não
é pouca gente. Ocorre que, em abril, eram 59%; há dois meses, 51%. Nada
menos de 44% afirmam nunca confiar no que diz o presidente.

É claro que Bolsonaro não ignora esses dados. Se o Planalto encomendar uma
pesquisa séria, vai chegar a números semelhantes. Será que a estratégia do
confronto com tudo o que não constitui a sua base mais radical de apoio vai
mudar? Acho que não. A crise do meio ambiente indica que o presidente fez
uma escolha: já tratei desse assunto aqui e no programa "O É da Coisa". Nesse
momento, o diálogo do presidente é com seus extremistas, com os soldados
fiéis do bolsonarismo, que tacham até João Doria de comunista.

Já opera no modo eleitoral e aposta em manter unido e aguerrido o seu

exército. Antevê, mais uma vez, a fragmentação das hostes não-esquerdistas e
pretende ter a maioria nesse grupo — o suficiente para disputar um segundo
turno. Aí, pretende ver a tragédia reproduzida como a farsa de si mesmo e
propor a segunda guerra contra… os comunistas. Sim, é método. O método da
loucura.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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