Fotografia e Telefonia Progresso e desenvolvimento no interior do Estado de São Paulo

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Fotografia e Telefonia
Progresso e desenvolvimento no interior do Estado de São Paulo
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Fotografia e Telefonia
Progresso e desenvolvimento no interior do Estado de São Paulo
 apresentação Contribuir para o desenvolvimento da sociedade
brasileira é um dos objetivos do Grupo Telefônica
desde o início de suas atividades no país, em 1998.
Para tal, a Fundação Telefônica, instituição
responsável pelo investimento social do grupo,
mantém programas voltados à promoção de
melhorias na educação e à defesa dos direitos das
crianças e adolescentes, sobretudo com a aplicação
das tecnologias voltadas para a comunicação
e a informação.
Por meio de seu programa Arte e Tecnologia, a
Fundação também se dedica a formas efetivas de
resgate e conservação da história das
telecomunicações no país, procurando difundir
aspectos da formação social brasileira e de seus
costumes, assim como os fatos mais marcantes.
A produção do livro “Fotografia e Telefonia” é fruto de
um grande trabalho de pesquisa histórica junto ao
acervo de telecomunicações da Telefônica, gerido
pela Fundação. Composta por uma caixa com cinco
volumes, a obra apresenta fotos e fatos que
marcaram o desenvolvimento social de diferentes
regiões do estado.
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As cerca de 150 fotos da publicação mostram a
expansão da telefonia por regiões quase despovoadas,
entre o final do século XIX e meados do século XX.
Através desses cinco volumes, é possível compreender
como foi organizado o negócio das telecomunicações
desde os primeiros anos da República; saber como
ocorria a articulação entre as companhias telefônicas e
as autoridades das cidades mais pujantes do interior;
e constatar como a telefonia seguiu o caminho aberto
pela estrada de ferro e, posteriormente, se compôs
com as estradas de rodagem.
Fica também evidente como a tecnologia modificaria
gradualmente o cotidiano e a cena urbana,
encurtando distâncias, aproximando pessoas,
favorecendo o comércio e a prestação de serviços e
entrelaçando centenas de cidades.
O apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura foi
fundamental para viabilizar esse conjunto de livros que
oferecemos como contribuição à memória nacional.
Esperamos que você aproveite a leitura e saboreie
esse mergulho histórico!
Antonio Carlos Valente presidente do grupo telefônica no brasil
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 Um alô para começar Foi um susto para o imperador. “Meu Deus, isso
fala!”, reagiu D. Pedro II, ao tomar conhecimento da
existência do telefone na Exposição do Centenário da
Independência dos Estados Unidos, na Filadélfia, em
1876. Quem falava com ele do outro lado era o próprio
Alexander Graham Bell, que apresentara ao mundo seu
experimento naquele mesmo ano.
Em 1877, graças ao entusiasmo de D. Pedro II, já havia
telefone no Brasil, primeiro na Corte, no Rio de Janeiro,
para a comunicação do imperador com seus ministros,
em repartições do governo, órgãos militares e o Corpo
de Bombeiros. A primeira demonstração pública foi
feita na loja O Grande Mágico, do empresário Leon
Rodde. Ainda em 1877, ele e seu sócio, o engenheiro
Morris Kohn, dividiram-se por várias cidades, incluindo
São Paulo, para apresentar a “máquina falante”.
Em 1879, o monarca autorizou a exploração da
telefonia em várias províncias do Império, provocando
uma enorme disputa entre as concessionárias. Essa
concorrência, em alguns casos, foi parar na justiça.
Por causa disso, o setor foi todo reorganizado nos
primeiros anos da República, aumentando o controle
do poder público sobre a distribuição de concessões às
empresas privadas.
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A expansão do telefone foi acelerada tanto nas capitais
quanto nas cidades do interior. Em um primeiro
momento, comerciantes, proprietários de terra,
profissionais liberais e o governo foram os principais
usuários. Os representantes das companhias visitavam
as cidades para oferecer os serviços que, para entrar
em operação, precisavam do aval das autoridades
locais. A passagem desses agentes era anunciada
nos jornais, sinal de seu prestígio. Visualizando-se os
mapas de empresas como a Companhia Telefônica
Brasileira (CTB), percebe-se a teia criada pela
instalação das linhas entre as décadas de 1910 e 1930,
período coberto por esta pesquisa.
Por todo o século 20 no Brasil, o telefone, o trem, o
bonde, a energia elétrica, a canalização de água e, mais
tarde, as estradas de rodagem foram os principais
sinalizadores do desenvolvimento e do progresso das
cidades. Sua inserção na trama urbana era reivindicação
permanente da sociedade. Dessa forma, o país estava
em sintonia com o que ocorria no mundo ocidental:
a tecnologia modificando o cotidiano dos cidadãos,
encurtando as distâncias e diminuindo o tempo.
A telefonia, em especial, ampliou as possibilidades
de comunicação a longa distância, restrita ao uso do
telégrafo até então. A telegrafia foi introduzida no Brasil
na década de 1850, sendo largamente disseminada
na vida cotidiana. Por isso, o telefone e o telégrafo
conviveram por muitas décadas nas atividades rotineiras
dos órgãos públicos, do comércio, da imprensa e do
cidadão comum. Um diferencial evidente entre ambos
estava no fato de o telefone oferecer ao cidadão a
possibilidade de realizar essa comunicação de modo
mais autônomo, ainda que não possuísse uma linha
particular. Era preciso recorrer aos serviços das estações
telefônicas e a operação dependia de uma telefonista.
Nas estações de acesso público, as telefonistas
operavam as máquinas tornando-se personagens
fundamentais no dia-a-dia das cidades. “Número,
faz favor”, pediam. Eram elas que faziam as ligações,
recebiam as chamadas e as repassavam para
os usuários. As telefonistas foram parcialmente
substituídas por máquinas automáticas no final dos
anos 1920, permanecendo mais algumas décadas
em serviços específicos de interurbanos e ligações
internacionais.
A popularização da telefonia só ocorreu na segunda
metade do século 20, com a automatização do serviço
e a ampliação das linhas. Assim, o telefone foi cada vez
mais fazendo parte da vida privada, sendo hoje, com
os celulares, uma extensão do próprio corpo.
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 O que sabiam as telefonistas? | Santa Rosa – SP, 1922
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A Caixa de Vozes
por Ignácio de Loyola Brandão
Criança ainda, em Araraquara, era comum ouvir minha
mãe dizer:
— Não sei o que aconteceu. Vai perguntar pra Amélia,
ela sabe mais do que uma telefonista.
Ficava intrigado. O que sabem as telefonistas? Mais
do que um pai, um professor? Estes eram, para nós,
as pessoas que mais sabiam coisas. Um, porque os
pais deviam saber tudo. Dois, porque o professor tinha
resposta para tudo. Demorei anos para entender o
enigma, mas, nesse meio tempo, as telefonistas se
tornaram, na minha cabeça, seres especiais como
anjos e santos — vale lembrar que éramos católicos
— e talvez Deus. Porque segundo a catequista, que,
aliás, era a mãe do teatrólogo José Celso Martinez
Correa, Deus sabia tudo o que aconteceu, acontece e
vai acontecer. Deus e as telefonistas, eu dizia para mim
mesmo. Só não sabia onde moravam ou ficavam, onde
se localizavam essas personagens misteriosas.
Um dos primeiros enigmas que a vida me apresentou.
Crescido, tudo começou a se aclarar mais.
Ouvia a mãe, tias, vizinhas afirmarem categóricas:
— É só perguntar pra Augusta, ela é que sabe,
é telefonista.
Bem, agora a telefonista tinha nome e se mandavam
perguntar é porque sabiam onde ela podia ser
encontrada. Percebi que Augusta era respeitada, por
ela passava o mundo oculto, íntimo da cidade. Um dia,
meu pai enfrentou um grupo de pessoas alvoroçadas
com alguma coisa.
— Não adianta querer saber, a Augusta jamais vai
contar, é mexerico, coisa de comadre, conversa fiada.
As telefonistas têm um juramento, não podem contar
o que ouvem, são como os padres na confissão.
Nossa, era demais. Ser telefonista excedia tudo,
era sonho. Passava a noção de poder. Um dia,
quando minha madrinha perguntou o que eu
queria ser, respondi:
— Telefonista.
Ela riu.
— Telefonista? Mas é emprego de mulher.
Não existe homem telefonista.
Foi grande a decepção e outro mistério. Por que
homens não podiam ser telefonistas? Mas a idéia
continuou em minha cabeça. Naquele tempo só os
muito ricos ou os importantes tinham telefone,
de modo que a comunicação era feita pelas janelas.
O que se via eram mulheres no peitoril das janelas
ou nas varandas olhando a rua e esperando alguém
passar. Cada um parava um minuto e transmitia
as informações sobre alguém doente, um namoro
iniciado, um pequeno escândalo (e tudo era escândalo),
um desfalque no banco (assumia proporções de
catástrofe), alguém que perdeu o emprego, um recém-
chegado de São Paulo, uma pessoa que se mudou.
As notícias iam de janela para janela, varanda para
varanda, porque em cada quadra, rua, avenida e casa
havia alguém a postos, ou seja, funcionava um sistema
telefônico boca a boca.
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 De região para região
Um dia, fui com meu pai à Companhia Telefônica
Brasileira. Sabíamos dela por causa de uma luz redonda,
um globo pendurado na porta com os dizeres CTB
em azul. Ficava junto ao Cine Paratodos, ao lado da
banca de jornais do Nelson Rossi. Hoje vejo que era
um centro de comunicações concentrando jornais,
revistas, telefones, cinema. Como tinha parentes por
todo o interior, sabia que em cada cidade funcionava
um centro como aquele. Meu pai me comprava uma
revista, enquanto pedia a ligação. Pediam-se ligações
urbanas ou interurbanas. As urbanas eram raras, sendo
mais fácil se deslocar até a casa da pessoa, bater,
perguntar. As interurbanas eram para saber da saúde de
parentes ou negócios. Cartas não funcionavam quando
havia pressa, o correio era conhecido pela calamidade,
Era preciso usar as demoras, atrasos, extravios, um inferno. Na CTB pedia-
cabines telefônicas | se a ligação e se esperava. O gibi fazia passar o tempo.
Campinas, 1929 Adorava quando meu pai precisava telefonar, pois
isso significava uma revista nova, depois revendida ao
Nelson que tinha uma estante de segunda mão.
Era normal o agente alertar: vai demorar, volte em
quatro horas. Ou cinco. Ou então avisava, “quando
estiver saindo, mando chamar”. Tudo sendo
relativamente perto, um ou dois meninos eram
enviados a correr ou de bicicleta para avisar as pessoas
e ganhavam uma gorjeta por isso. Ganhavam se não
topassem com um pão-duro odioso, unha-de-vaca. A
razão desse ritual é que naquela época havia várias
concessionárias locais espalhadas pelo interior. Cada
uma cuidava de sua região. A CTB, empresa maior,
estava em fase de expansão, mas as locais eram
coisas de muitos anos, fundadas por um prefeito, um
fazendeiro, um comerciante com alguma visão. Só que
os equipamentos eram velhos, deficientes.
Como funcionava? Na hora exata alguém avisava,
“cabine 1, cabine 2”. No Paratodos existiam apenas
duas cabines. A ligação iniciava seu ciclo, a pessoa
ouvia a telefonista de cada região chamando a outra e
a outra e a outra, assim estabelecendo a corrente. Não
me lembro bem, mas Araraquara chamava São Carlos,
que chamava Rio Claro, que chamava Campinas, que
chamava Jundiaí, que chamava São Paulo. Pelo meio
ouvíamos zumbidos, falas entrecortadas, chiados,
estáticas, estalos, sons metálicos misteriosos, gírias
próprias da profissão. Sei disso porque, às vezes, meu
pai ficava folheando alguma revista e me pedia para
manter o fone no ouvido, até que chegasse a hora de
falar com um tio, tia, amigo, parente, fosse quem fosse.
Na hora de falar, gritava-se, falava-se muito alto.
Prenúncio do que viria com o celular que nos mostra
estarmos vivendo em um mundo de surdos. Dessa
maneira, quem estava esperando, e sempre havia muita
gente, ficava sabendo as intimidades de cada um,
doenças, namoros, casamentos, até fofocas. Meu pai teve
um amigo, o Dosualdo, que deixou a mulher e foi embora
por causa de um telefonema que mais de dez pessoas
ouviram e espalharam. Ele teve de mudar da cidade. O
que houve? Explicaram a uma criança como eu? Nada era
dito, o mundo dos adultos era fechado, cheio de códigos.
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 Atendimento comercial em Tietê, 1930

SANTOS
nova linha telephonica

Santos, 27 – Realizou-se hoje a experiência da primeira linha telephonica da

Companhia Bragantina, entre esta cidade e S. Paulo.
Em uma dependência separada do escriptorio da Brazilian Warrante, onde
está installada a estação, o sr. Monteiro de Barros, representando o gerente da
Companhia Bragantina, offereceu uma taça de “champagne” aos convidados.
A imprensa daqui e dessa capital trocou pelo apparelho saudações cordiaes.
O sr. Alberto de Souza, redactor-chefe da “Tribuna do Povo”, saudou a empresa,
respondendo ao sr. Monteiro de Barros.
correio paulistano. são paulo, 28 de janeiro de 1910, p. 2 | telegrammas, interior
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 NOVO POSTO TELEPHONICO PUBLICO DA ESTAÇÃO DA LUZ
Serviço local e interurbano

A COMPANHIA TELEPHONICA BRASILEIRA tem o máximo prazer em annunciar

que, para commodidade do publico, acaba de installar na Estação da Luz um posto
telephonico de onde poderão ser rapidamente feitas ligações com qualquer das
localidades servidas por sua rêde nos Estados de São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro,
Minas Geraes e Districto Federal.
diário de são paulo. são paulo, 20 de novembro de 1932, p. 5 | anúncio da telephonica

Serviço comercial: aumento da venda de aparelhos | Santos, 1933

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 Na década de 1920, a CTB adquiriu empresas no interior| Sorocaba, 1928

SERÁ HOJE OFFICIALMENTE INAUGURADO O SERVIÇO TELEPHONICO INTERNACIONAL

O governador militar falará com os Estados Unidos e o cônsul inglez com Londres

Será hoje officialmente inaugurado nesta capital, o serviço telephonico internacional. A Companhia Tele-
phonica Brasileira convidou hontem o general Waldmiro de Lima, governador militar, para presidir o acto
inaugural.
Essa cerimonia será realizada ás 15 horas, no salão dos despachos do Palácio dos Campos Elyseos.
Falará em primeiro logar o general Waldmiro de Lima, com o sr. Sebastião Sampaio, cônsul geral do Brasil ou
o sr. Paulo Hasslocher, na nossa embaixada em Washington.
A seguir o cônsul britannico sr. Arthur A’bott com o Foreign Office de Londres.
Ao acto assistirão os funccionários superiores da Companhia Telephonica de São Paulo, directores
das Secretarias de Estado, os representantes consulares e demais altas autoridades do Estado.
diário de são paulo. são paulo, 23 de dezembro 1932, p. 1

Estação de São
Carlos, 1955
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São Paulo: capital e cidades do interior do estado.
18

19
 O início de uma rede

A telefonia pública começou em São Paulo em 1884. Não na capital, mas em Campinas,
onde Ferdinand Rodde & Companhia fundaram a Empresa Telefônica Campineira. Os
primeiros aparelhos da capital foram instalados pouco depois em residências e casas
comerciais pela Companhia de Telégrafos Urbanos. Mas Leon Rodde e Morris Kohn já
haviam realizado experiências na capital e no interior em 1877. Já naquele tempo, eles
instalaram aparelhos por demanda de fazendeiros de café, que precisavam de meio
mais rápido de comunicação para auxiliar o escoamento de sua produção.

Em setembro de 1878, o fazendeiro Bento da Silveira Franco, de Limeira, enviou

uma carta a Rodde, no Rio de Janeiro. Ele agradecia ao comerciante pelos aparelhos
telefônicos instalados em sua propriedade, “por quanto funcionam perfeitamente e
nada deixam a desejar, tanto pela sua perfeição artística quanto pela clareza com que
transmitem a voz”. Foi um dos primeiros brasileiros a possuir telefone em casa.

O sistema paulista seguiu a rota dos telégrafos, iniciados na década de 1850, e

das estradas de ferro, construídas na década seguinte. Eram redes conjugadas de
progresso e de comunicação, que se ampliaram com as estradas de rodagem, ainda
na primeira metade do século 20. Teias, tramas e redes estavam relacionadas e até
eram metaforicamente confundidas. Como o fez o articulista da Sino Azul, a revista da
Companhia Telefônica Brasileira (CTB), em setembro de 1928, ao referir-se ao telefone
como “a estrada por onde mais rapidamente veiculam as negociações comerciais e se faz
o intercâmbio das relações sociais”. São Paulo se orgulhava de ser o motor da economia
do país e para a capital se voltava o sistema de comunicações telefônicas do estado.
Sino azul, marca de
um tempo em São
Paulo | Estação de
Assinantes, 1928
20
Interurbano: as facilidades do telefone | Santos, 1934

SINO AZUL

A Sino Azul começou a circular em janeiro de 1928, editada por E. M. Brandão, no Rio de
Janeiro, sendo pioneira na comunicação interna empresarial. Voltada aos funcionários da
Companhia Telefônica Brasileira, a linha editorial da revista abrangia assuntos técnicos,
relacionados à tecnologia, por exemplo, a história da telefonia no mundo, o panorama das
cidades atendidas pela empresa em seu projeto de expansão e o cotidiano da companhia.
Também publicava contos e divulgava as atividades dos funcionários, como forma de
valorizá-los. Pelas páginas da revista, é possível vislumbrar as transformações ocorridas
no país em diversos setores e perceber como fatos nacionais e internacionais, como a
Segunda Guerra Mundial, repercutiram nas atividades da empresa.

Com a criação do sistema Telebrás, o periódico deixou de ser publicado em São Paulo, em
1972. No ano seguinte, a Telesp passou a editar o informativo institucional Entrelinhas.

a versão digitalizada das edições da revista sino azul publicadas entre 1928 e 1972

pode ser consultada no site www.colecaosinoazul.org.br

 No início do século 20, a cidade possuía várias concessionárias, que atendiam regiões
distintas do estado. Uma delas era a São Paulo Tramway, Light & Power Company,
criada em 1899, transformada em 1923 em Brazilian Telephone Company e,
posteriormente, na CTB. A companhia atendia o Distrito Federal (Rio de Janeiro), parte
de São Paulo e Minas Gerais.

Outra era a Companhia Telefônica Bragantina, fundada em 1896, no interior do Estado

e a principal empresa até as duas primeiras décadas daquele século. A Bragantina tinha
estações na capital, em Campinas, Bragança, Jundiaí, Mogi-Mirim, Mogi-Guaçu e outras
cidades do nordeste, norte e centro de São Paulo. Também dividia o tráfego com as
companhias Rio Clarense e Iniciadora, e com estações mineiras. Em 1915 era uma das
mais importantes do país, embora nesse ano tenha sido incorporada pela Rio-São Paulo
Telephone Company, quando esta empresa inaugurou, em 3 de dezembro, um moderno
centro em São Paulo.

Em janeiro de 1910, a Bragantina inaugurava a linha de Santos, de 62 quilômetros,

recebida com entusiasmo pela imprensa. Entre discursos e brindes de champanhe,
jornalistas da capital e de Santos saudaram-se pelo telefone.

Os paulistanos: “A imprensa de São Paulo congratula-se com a de Santos pela

inauguração da nova linha telefônica, que vem estreitar ainda mais as suas amistosas
relações”. Responderam os santistas: “A imprensa de Santos, agradecendo as simpáticas
saudações da imprensa de São Paulo, daqui levanta sua taça, brindando pela fraternidade
jornalística no momento em que a inauguração da linha Telefônica Bragantina vem
apertar os laços de aproximação material que une os destinos de uma imprensa a outra”.

Os escritórios eram chefiados por homens | s/d

24
Amadeo Damasio era chefe do distrito de Jundiaí, 1919

27
 A telefonia se incorporou à trama da história de São Paulo na velocidade da vida,
na urgência do desenvolvimento, acompanhando as demandas públicas cotidianas
e adentrando a intimidade dos cidadãos. No dia 12 de março de 1916, o Correio
Paulistano publicava mais um inventário de objetos perdidos pelos cidadãos e
recolhidos ao Gabinete de Queixas e Objectos Achados da municipalidade. Entre
chapéus, retratos, chaves, chinelos, barras de sabão, latas de leite e de café, estava um
envelope com papéis da Rede Telephonica Bragantina. Quem os teria perdido? Como
teria feito para pagar sua conta de telefone?

Em 1º de maio de 1924, a Brazilian Telephone Company anunciava aos seus usuários

as melhorias oferecidas pelo novo serviço de interurbano, reduzindo as deficiências
então enfrentadas nas vias de comunicação. “O serviço telefônico interurbano [...]
colocá-los-á em situação de não se preocupar com essa falta de meios de comunicação.
Em alguns minutos, V. Exª terá visitado os seus freguezes nesta e em outras cidades
servidas por nossas linhas interurbanas e terá decidido negócios felizes”.

Em 1932, as comunicações telefônicas ficaram temporariamente comprometidas

quando, na capital e no interior, desenrolaram-se os conflitos em torno da Revolução
Constitucionalista: forças paulistas, militares e civis voluntários rebelaram-se contra
o governo de Getúlio Vargas pelo estabelecimento de uma constituição federal e pela
insatisfação da elite paulista com a perda de prestígio político e econômico quando da
ascensão do ditador ao poder em 1930. Um dos primeiros efeitos do movimento foi a
interrupção das comunicações. No dia 26 de maio, após as manifestações que deram
início ao levante, o Diário de São Paulo publicou a seguinte notícia:

Amadeo e os funcionários do setor | Jundiaí, 1919

28

29
 A CTB remodelou o serviço em várias cidades |
Tatuí, 1930

O serviço de informações da sucursal do Diário de São Paulo, no Rio, apresenta-se

hoje, como ontem, muito deficiente. A causa dessa anormalidade reside, unicamente,
na censura telefônica que desde ontem à noite vem sendo feita
em nossas linhas de comunicações com a Capital Federal.
As agências telegráficas U. T. B. e Brasileira informaram-nos, também, que as suas
ligações com o Rio se achavam interrompidas, impossibilitando-as de fazer
a distribuição diária do seu serviço aos jornais.
Ficam, portanto, os nossos leitores cientes das razões da anormalidade. Logo que
a censura for suspensa, a nossa sucursal continuará a mandar-nos, como sempre,
as informações que estamos habituados a distribuir ao público.
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 Inauguração do serviço de telefonia: a primeira chamada |
Mococa, SP, 1930

Meses mais tarde, um contingente formado por soldados, estudantes de direito e civis
invadiu a sede da Companhia Telefônica Brasileira, “controlando o serviço de comunicações
a cargo dessa empresa”, segundo o Diário de São Paulo de 10 de julho de 1932.

A volta à normalidade naquele ano foi marcada pela inauguração de um posto

telefônico na Estação da Luz para ligações interurbanas e pela abertura do serviço
internacional no Palácio dos Campos Elíseos, sede do governo estadual. Assim,
um habitante de São Paulo poderia ligar “de seu próprio telefone” para os Estados
Unidos, Canadá, França, Alemanha, Portugal, Argentina, Chile e Uruguai. Com uma
ressalva, segundo o anúncio: “O ‘serviço internacional’ assegura absoluto segredo
nas comunicações efetuadas; um dispositivo de sigilo, de que a Companhia possui a
exclusividade, torna impossível a escuta das conversações radiotelefônicas por parte
de estranhos munidos de aparelhos de rádio”.
32

33
Os funcionários competiam na venda de telefones, 1919

35
 A estação de Jaú remodelada pela CTB, 1929

A CTB, que a partir de 1928 incorporou inúmeras companhias que atendiam o

interior do estado, tornou-se a empresa mais forte em São Paulo. Mesmo com
a decadência do setor cafeeiro e às vésperas da crise internacional de 1929, sua
presença mostrava-se mais evidente pela quantidade de fios, tubos e postes a
deixar rastros na paisagem urbana.

Enfim, em tempos de guerra ou de paz, o telefone era essencial. Na Sino Azul de

outubro de 1932, o editorial constatava: “A história dos povos é um repositório
de exemplos dos esforços para melhorar e aumentar os meios de comunicações
entre as nações. [...] Faremos menção apenas dos quatro meios mais velozes que
atualmente existem para a comunicação a grande distância:
o telefone, o aeroplano, o trem e o automóvel...”

Foi assim na capital e nas outras regiões do estado.

36

37
 A estação de pagamento da rua Brás Cubas
| Santos, 1934
38
Lilian Elisa Rowlands, funcionária veterana,
recebe homenagem | Santos, 1937

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A Caixa de Vozes
por Ignácio de Loyola Brandão
Crônica | Texto integral
42
Criança ainda, em Araraquara, era comum
ouvir minha mãe dizer:
— Não sei o que aconteceu. Vai perguntar
pra Amélia, ela sabe mais do que uma
telefonista.
Ficava intrigado. O que sabem as
telefonistas? Mais do que um pai, um
professor? Estes eram, para nós, as pessoas
que mais sabiam coisas. Um, porque os pais
deviam saber tudo. Dois, porque o professor
tinha resposta para tudo. Demorei anos para
entender o enigma, mas, nesse meio tempo,
as telefonistas se tornaram, na minha cabeça,
seres especiais como anjos e santos — vale
lembrar que éramos católicos — e talvez
Deus. Porque segundo a catequista, que,
aliás, era a mãe do teatrólogo José Celso
Martinez Correa, Deus sabia tudo o que
aconteceu, acontece e vai acontecer. Deus e
as telefonistas, eu dizia para mim mesmo. Só
não sabia onde moravam ou ficavam, onde se
localizavam essas personagens misteriosas.
Um dos primeiros enigmas que a vida me
apresentou.
Crescido, tudo começou a se aclarar mais.
Ouvia a mãe, tias, vizinhas afirmarem
categóricas:
— É só perguntar pra Augusta, ela é que
sabe, é telefonista.
Bem, agora a telefonista tinha nome e se
mandavam perguntar é porque sabiam
onde ela podia ser encontrada. Percebi que
Augusta era respeitada, por ela passava o
mundo oculto, íntimo da cidade. Um dia,
meu pai enfrentou um grupo de pessoas
alvoroçadas com alguma coisa.
— Não adianta querer saber, a Augusta
jamais vai contar, é mexerico, coisa de
comadre, conversa fiada. As telefonistas
têm um juramento, não podem contar o que
ouvem, são como os padres na confissão.
Nossa, era demais. Ser telefonista excedia
tudo, era sonho. Passava a noção de poder.
Um dia, quando minha madrinha perguntou
o que eu queria ser, respondi:
— Telefonista.
Ela riu.
— Telefonista? Mas é emprego de mulher.
Não existe homem telefonista.
Foi grande a decepção e outro mistério. Por
que homens não podiam ser telefonistas?
Mas a idéia continuou em minha cabeça.
Naquele tempo só os muito ricos ou os
importantes tinham telefone, de modo que
a comunicação era feita pelas janelas. O que
se via eram mulheres no peitoril das janelas
ou nas varandas olhando a rua e esperando
alguém passar. Cada um parava um minuto
e transmitia as informações sobre alguém Adorava quando meu pai precisava telefonar,
doente, um namoro iniciado, um pequeno pois isso significava uma revista nova, depois
escândalo (e tudo era escândalo), um revendida ao Nelson que tinha uma estante
desfalque no banco (assumia proporções de de segunda mão.
catástrofe), alguém que perdeu o emprego,
um recém-chegado de São Paulo, uma Era normal o agente alertar: vai demorar,
pessoa que se mudou. As notícias iam de volte em quatro horas. Ou cinco. Ou então
janela para janela, varanda para varanda, avisava, “quando estiver saindo, mando
porque em cada quadra, rua, avenida e casa chamar”. Tudo sendo relativamente perto,
havia alguém a postos, ou seja, funcionava um ou dois meninos eram enviados a correr
um sistema telefônico boca a boca. ou de bicicleta para avisar as pessoas e
ganhavam uma gorjeta por isso. Ganhavam
se não topassem com um pão-duro odioso,
De região para região
unha-de-vaca. A razão desse ritual é que
Um dia, fui com meu pai à Companhia
naquela época havia várias concessionárias
Telefônica Brasileira. Sabíamos dela por
locais espalhadas pelo interior. Cada uma
causa de uma luz redonda, um globo
cuidava de sua região. A CTB, empresa maior,
pendurado na porta com os dizeres CTB em
estava em fase de expansão, mas as locais
azul. Ficava junto ao Cine Paratodos, ao lado
eram coisas de muitos anos, fundadas por
da banca de jornais do Nelson Rossi. Hoje
um prefeito, um fazendeiro, um comerciante
vejo que era um centro de comunicações
com alguma visão. Só que os equipamentos
concentrando jornais, revistas, telefones,
eram velhos, deficientes.
cinema. Como tinha parentes por todo
o interior, sabia que em cada cidade
Como funcionava? Na hora exata alguém
funcionava um centro como aquele. Meu
avisava, “cabine 1, cabine 2”. No Paratodos
pai me comprava uma revista, enquanto
existiam apenas duas cabines. A ligação
pedia a ligação. Pediam-se ligações urbanas
iniciava seu ciclo, a pessoa ouvia a telefonista
ou interurbanas. As urbanas eram raras,
de cada região chamando a outra e a outra
sendo mais fácil se deslocar até a casa da
e a outra, assim estabelecendo a corrente.
pessoa, bater, perguntar. As interurbanas
Não me lembro bem, mas Araraquara
eram para saber da saúde de parentes ou
chamava São Carlos, que chamava Rio
negócios. Cartas não funcionavam quando
Claro, que chamava Campinas, que chamava
havia pressa, o correio era conhecido pela
Jundiaí, que chamava São Paulo. Pelo meio
calamidade, demoras, atrasos, extravios,
ouvíamos zumbidos, falas entrecortadas,
um inferno. Na CTB pedia-se a ligação e
chiados, estáticas, estalos, sons metálicos
se esperava. O gibi fazia passar o tempo.
43
 misteriosos, gírias próprias da profissão.
Sei disso porque, às vezes, meu pai ficava
folheando alguma revista e me pedia para
manter o fone no ouvido, até que chegasse a
hora de falar com um tio, tia, amigo, parente,
fosse quem fosse.
Na hora de falar, gritava-se, falava-se muito
alto. Prenúncio do que viria com o celular
que nos mostra estarmos vivendo em um
mundo de surdos. Dessa maneira, quem
estava esperando, e sempre havia muita
gente, ficava sabendo as intimidades de cada
um, doenças, namoros, casamentos, até
fofocas. Meu pai teve um amigo, o Dosualdo,
que deixou a mulher e foi embora por causa
de um telefonema que mais de dez pessoas
ouviram e espalharam. Ele teve de mudar
da cidade. O que houve? Explicaram a uma
criança como eu? Nada era dito, o mundo dos
adultos era fechado, cheio de códigos.
Buscando o médico em casa
Aqui há muito de usos e costumes de
algumas épocas. Mudanças radicais em
curto espaço de tempo. Os médicos tinham
telefone, mas a maioria da população não.
Assim, para chamar o médico ou marcar
consulta, era preciso alguém ir até o
consultório, bater palmas, entrar e marcar.
Médicos só visitavam pacientes se a família
mandasse à casa dele um carro de aluguel,
ou seja, um táxi. Vizinho à nossa casa havia
um telefone na casa do Carlos Malkomes,
chefão da Companhia Paulista de Força e Luz.
44
O homem precisava, pois controlava a energia
da região. Somente em casos excepcionais
os Malkomes permitiam o uso, afinal o
aparelho pertencia à empresa. Mesmo assim,
em emergências cediam. Eram vistos como
pessoas excepcionais no bairro.
Nós, uma família de ferroviários, tínhamos
uma vantagem: o uso da estrada de ferro.
Claro que muito camuflado, pois era proibido.
Tratava-se da utilização dos meios de
comunicação da ferrovia, principalmente o
telefone interestações. Mandava-se recados,
pedia-se para chamar a pessoa, a estação,
falava-se de graça. Evidente que havia
cumplicidade, os ferroviários eram solidários
entre si, porque as empresas eram tirânicas,
severas, suspendiam, multavam, quando
não demitiam.
Nas nossas cabeças, quando assistíamos
a filmes americanos, e só havia cinema
americano, instalava-se a perplexidade.
Nos filmes todo mundo tinha telefone,
não precisava girar manivela e chamar
telefonista, era aparelho de disco, discava
e pronto. Aquelas cenas de adolescentes
deitadas no sofá – e como eram incríveis
os sofás americanos (mais tarde, a Sears
vendeu no Brasil) – falando horas ao telefone
indicavam que havia uma civilização
tecnologicamente superior. Daí acreditarmos
no seriado do Flash Gordon quando mostrava
telefones e telas com imagens. Aquele era
o futuro, outro planeta! Um dia a Terra seria
outro planeta. Nunca imaginávamos que as
coisas a partir de certa época, os anos 1970,
avançariam tão velozmente.
A quem pertenciam as vozes?
Na minha adolescência, as telefonistas
continuavam míticas. A CTB havia crescido
e construído um prédio no qual trabalhavam
dezenas de moças que atendiam e faziam
ligações. Era um trabalho por turno e na
porta da Telefônica sempre havia grupos de
rapazes esperando para a paquera ou para
levar namoradas e noivas para casa. As vozes
eram sensacionais, sensuais, excitantes,
provocavam paixões. Uma curiosidade:
como as telefonistas eram escolhidas? Elas
correspondiam às vozes? Como saber? Dentro
daquele prédio tudo era oculto, fechado.
Como saber quem estava falando com a
gente, uma vez que elas cortavam qualquer
conversa pessoal, desligavam se a pessoa
se metesse a engraçadinha? Teve caso
de homem com voz sedutora que acabou
namorando telefonista e até se casando.
Para mim, que sempre delirei, a Telefônica
era a Casa das Vozes, lugar inacessível.
Escrevi uma curta história aos 18 anos, mas
o texto se perdeu por aí. Talvez esteja em
uma das cem caixas que tenho guardadas
em Araraquara. O conto tinha jeito de Kafka
e narrava a história de um homem que,
ao perder a voz devido a uma laringite,
consegue entrar na inexpugnável Casa das
Vozes para roubar a voz de alguém, mas
quando consegue, é uma voz de mulher.
No seu desespero, ele esquecera de que as
telefonistas eram todas mulheres.
Está no banho, não vai atender
Nos meus primeiros anos de São Paulo,
final da década de 1950, princípios de
1960, lembro-me de que a atriz Maria
Alice Vergueiro era casada com Silvio, um
promotor. Por funções do oficio, ele foi
transferido para uma cidade distante, Porto
Epitácio. A primeira vez que tentou ligar para
o marido, Maria Alice viveu uma situação
curiosa. Quando a telefonista local atendeu,
ela pediu a casa do promotor. A moça do
outro lado avisou:
— Nem adianta ligar agora, não vai conseguir
falar com ele.
Intrigada, Maria Alice questionou:
— E pode me dizer por que?
— São cinco da tarde, nesta hora o promotor
está tomando banho.
Sabiam de tudo, tinham a cidade nas mãos.
Aliás, nos dedos que manejavam os pinos.
Uma vez houve um concurso de Miss
Telefônica cuja prévia seria em um clube.
Acho que foi no 27 de Outubro, o mais
popular. Nunca vi uma plateia com tanto
homem, tanta torcida. E aquele enigma
rondando o ar: a quem pertenciam as vozes?
Como identificar, separar, saber?
Elas desfilaram em soirées, como se dizia, e
em maiôs inteiriços. Aquela tinha perna linda.
Mas e a voz? Nem se pensava em biquíni,
porque eram moças de família. Na beira da
passarela, os homens inquietos faziam sinais,
“me dê seu número, seu nome, me telefone”.
Durante anos, a expressão “me telefone” era
traduzida por um gesto que os jovens de hoje,
habituados a digitar o celular, não entendem,
acham arcaico: fechar a mão e girar ao redor
do ouvido. A evolução da telefonia tornou
anacrônicos gestos e expressões que duraram
anos. Quanto ao concurso, havia depois uma
final com telefonistas de todo o interior. Nunca
soube se existiu uma Miss Telefônica do Brasil.
Naqueles tempos poucos pediam uma
ligação pelo número. Dizia-se:
— A casa do doutor Rubens Vaz.
— A casa do Candinho.
— A casa da Magali.
— A casa da neta da Liberalina.
— A casa do namorado da Maria Ernestina.
— A casa do gerente da Caixa Econômica.
Quando alguém pedia pelo número, sabia-se,
era pessoa de fora, um estranho na cidade.
A lista não passava de duas páginas. As
telefonistas ouviam também grosserias.
Como a mulher que, ao descobrir o caso do
marido com outra, pediu:
—Me ligue para a casa da biscate.
As telefonistas desligavam, mas já ficavam
sabendo da história. Elas podiam ouvir todas
as conversas, se quisessem. Porém, como
padres no confessionário, boca fechada.
Havia ainda os enraivecidos que solicitavam:
— Me ligue com a casa daquele crapulazinho!
Era um gerente de banco duro na queda na
hora de emprestar dinheiro.
Quando a televisão e o DDD chegaram à
minha cidade nos anos 1960, eu já estava
fora. Mas não me esqueço da onda de trotes
dados depois do DDD, uma vez que todo
mundo se tornou anônimo. Foi um problema,
mas fazer o quê? Como impedir? Que
segurança oferecer? As empresas não tinham
tecnologia suficiente. Quanto sanduíche foi
entregue em casa que não pediu? E cervejas,
refrigerantes, carne. De tudo. Uma vez, um
agente funerário foi requisitado para medir
um corpo e fazer um caixão. Quando chegou
lá, o “morto” estava em plena festa de
aniversário, comendo e bebendo. Levou um
tempo para o agente se acalmar.
Ligando pelo DDD acontecia de cair numa
linha cruzada. Quando se reconhecia a voz,
ficava-se ouvindo, esperando indiscrições.
Mas se a conversa não interessava, os da
linha cruzada propunham um acordo, os dois
desligarem ao mesmo tempo. O engraçado
45
 é que ninguém desligava, um não acreditava Uma coisa que marcou foram os chamados Cidades paliteiros — Me dê o endereço. Apanho um táxi e — A Tragédia Americana, de Dreiser. Aliás, comigo, abrigada em alguma das cem
no outro. internacionais na década de 1970, em plena Uma coisa sempre me deixou implicado: dou um pulo aí, pois é melhor falarmos relendo. Um livro muito bom, inspirou o filme caixas, as outras se perderam nos armários
ditadura militar. Em cada cidade alguém, por a quantidade de postes nas ruas para pessoalmente. de George Stevens Um Lugar ao Sol, com Liz das pensões onde morei. Por mais duas ou
acaso, descobria um orelhão com defeito, sustentar fios elétricos, fios telefônicos, Taylor e Montgomery Clift. três vezes nos domingos seguintes, nos
O fim de uma era romântica
o que permitia ligações internacionais enfim, a parafernália. Tenho uma crônica — Se quiser vir, venha! Mas o táxi vai custar encontramos ali naquela hora prematura,
Ao mesmo tempo, com o DDD surgiu uma
gratuitas. O que se via? Caminhando, de intitulada Cidades Paliteiros, por causa da caro. Você está em Hollywood, Califórnia, e — Você gosta de cinema? quando as ligações eram mais fáceis. E ele
preocupação nas cidades do interior: o
repente deparava-se com um orelhão e uma imensidade de postes. Bem, eu também eu estou no Colorado. sempre a me repetir, a martelar:
que vai ser das telefonistas? Vão perder o
fila quilométrica. Gente falando de graça com implicava com as calçadas estreitas. — Adoro. Comecei minha carreira em jornal
emprego? Não vamos mais ouvir aquelas
Londres, Paris, Nova York, Nova Zelândia. Para atender à demanda dos motoristas Foi quando descobri a Ligação a Longa como crítico. Pensei em fazer cinema, mas — Queria fazer cinema e desistiu. Por que
vozes que inspiravam? Vamos ter de
Durava até a polícia descobrir. O problema e comerciantes, os prefeitos no interior Distância. Assombroso: aquele número não desisti. desistiu? E como não ficou louco ao desistir
decorar números, consultar listas? Uma era
é que se a polícia pegasse alguém, o pobre passaram a diminuir a largura das calçadas. somente chamava o Colorado, como ainda de fazer cinema?
romântica estava sendo eliminada de um
coitado era levado preso e cobravam dele Curtíssimas e ainda cheias de postes no era o da mesa da atendente. Deslumbrado, — Também fiz crítica na Bahia, agora faço
momento para o outro com o “progresso”.
todas as ligações. Dele e dos outros. Era o que meio. Não eram calçadas para gordos. De caí de costas, o mundo era outro. Onde cinema. Essa pergunta ficou remoendo em mim
Duro golpe.
diziam para desestimular. Nunca soube de novo era o cinema americano ou europeu chegaríamos? Chegaríamos? durante anos, até que aceitei. A gente
alguém que teve de arcar com tais despesas. O influenciando. Como podia haver cidades Desandou a falar de cinema, de política, também recicla sonhos. O do cinema reciclei.
Não me lembro de quando vi o primeiro
problema desses orelhões é que o primeiro que sem postes? Onde estavam os fios, os tubos? Na manhã deserta de sociologia, do Brasil, de música, de Troquei pela literatura. O meu companheiro
telefone público nas ruas de minha cidade ou
descobria a falha podia falar horas. Quando Por que eles podiam e nós não? Tenho uma dívida com a CTB. Num domingo, literatura, meteu o pau nas chanchadas, dominical era Glauber Rocha.
em outras. O pessoal de São Carlos garante
a fila começava, o tempo ficava limitado, desci até a rua 7 de Abril em São Paulo, para no cinema brasileiro tradicional, na Palma
que o primeiro foi ali, mas os ribeirão-
aparecia um organizador impondo regras, Em 1967, trabalhando na revista Claudia, pedir uma ligação para Araraquara. Centro de Ouro do Anselmo Duarte com O Pagador
pretanos puxavam a brasa para a sardinha
surgiam protestos, “chega, falou demais, da Editora Abril, fui a Hollywood editar um da cidade deserto, tudo fechado. Era outro de Promessas.
deles, assegurando: “Aqui foi o primeiro”. O
pensa que o telefone é seu? É de todo mundo”. número especial. Fiquei deslumbrado com tempo, outra cidade, outro Brasil. Entrei, pedi
mesmo aconteceu com Bauru (sob protestos
os estúdios, com Beverly Hills, com os atores minha ligação, meu pai ia esperar na casa Ele falava, falava, falava, citava gente, luta de
de Marília), mas tanto araraquarenses
Os jetons metálicos, com ranhuras, entraram que conheci (um dia, ao abrir uma porta, dos Malkomes, era qualquer coisa ligada à classes, imperialismo. Quem não baixava o
quanto rio-pretenses ou catanduvenses
na nossa vida até ser substituídos pelos dei de cara com Gene Kelly, pedi que ele saúde de minha mãe. Levei um livro, sentei- pau no imperialismo naquele tempo? Nossas
duvidaram. Ressurgiam de repente as velhas
cartões magnetizados. Houve época em passasse, ele pediu que eu passasse; não, era me nos bancos de madeira e esperei. Uma ligações demoraram, ficamos conversando,
e pitorescas rivalidades do interior.
que se pagava café com jetom, que também ele, merecia por todas as danças que me fez hora depois, vejo entrar um sujeito que não a conversa dele era delirante, um tumulto.
servia como troco em bares, supermercados, dançar em sonhos). Certa tarde, precisando tinha mais do que a minha altura, cabelos Provocava:
Há anos, ao assistir a filmes americanos
padarias, tabacarias. O que se observou foi confirmar a minha reserva para a volta e cacheados, roupas desmazeladas, uma
ou ingleses morríamos de inveja daquelas
o surgimento de uma nova atividade, tão fazer uma mudança de voo, liguei para o palavra interiorana. Uma figura familiar, mas — Por que desistiu de cinema? Para fazer
cabines de rua de Nova York. Ou daquelas
difundida quanto são hoje os jongleurs ou número que havia na passagem da Braniff, quem era? Ouvi quando ele pediu a ligação jornalismo? Com essas porcarias de jornais?
vermelhinhas de Londres, com o usuário
comedores de fogo dos cruzamentos: os companhia aérea que desapareceu. Do outro com um forte sotaque baiano, olhou em A imprensa é toda manipulada. Por que
abrigado do vento ou das chuvas. Quando
catadores de jetons ou cartões. Gente que lado me atendeu uma voz cordial. Sobre a volta e veio sentar perto. Puxou conversa. desistiu?
os primeiros telefones públicos surgiram o
percorria as ruas examinando cada orelhão, mudança de voo, havia complicações. Aí,
design foi uma decepção. Era aquilo? E se
a fim de ver se alguém não havido esquecido diante do meu inglês precário, decidi: — O que está lendo? Mais tarde chegamos a trocar algumas
chovesse, viesse granizo, ventanias, raios?
um jetom ou um cartão. cartas, poucas. Uma delas ainda está
Imediatamente foram batizados de orelhões.
46

47
 PRESENTACIÓN
Contribuir al desarrollo de la sociedad
brasileña es uno de los objetivos del Grupo
Telefónica desde 1998, cuando inició
sus actividades en el país. Una forma de
lograr este objetivo es mediante la acción
de la Fundación Telefónica, institución
responsable de la inversión social del Grupo,
cuyos programas tienen por objeto promover
mejoras en la educación y defender los
derechos de los niños y adolescentes, sobre
todo con la aplicación de tecnologías de
comunicación e información.
A través de su programa Arte y Tecnología,
la Fundación también se ocupa de formas
efectivas de rescatar y preservar la historia
de las telecomunicaciones en el país, y
versión en español busca divulgar aspectos de la formación de
la sociedad brasileña, sus costumbres y los
acontecimientos más notables.
La publicación del libro «Fotografia e
Telefonia no Interior de São Paulo» es el
resultado de un gran trabajo de investigación
histórica del fondo de telecomunicaciones
de Telefónica, cuya gestión está a cargo de la
Fundación. Presentar y valorizar las fotos y
los hechos que marcaron el desarrollo social
de las diferentes regiones del estado es uno
de los objetivos de los cinco volúmenes que
integran esta caja.
Hay alrededor de 150 fotografías que
muestran la expansión de la telefonía en
regiones casi despobladas, entre fines del
siglo XIX y mediados del siglo XX. A través de
estos cinco volúmenes, es posible entender
la forma en que se organizó el negocio de
las telecomunicaciones desde los primeros
años de la República; ver como se daba la
articulación entre las compañías telefónicas
y las autoridades de las ciudades más
florecientes del interior o comprobar que el
48
teléfono siguió la vía abierta por el ferrocarril
y, más tarde, a lo largo de las carreteras.
Es una oportunidad para observar el modo
en que la tecnología iba gradualmente
modificando la vida cotidiana y la escena
urbana, acortando las distancias y acercando
a la gente, o incluso, facilitando el comercio
y la prestación de servicios y entrelazando
cientos de ciudades.
Nos enorgullece presentar este conjunto de
libros como una contribución a la memoria
nacional, para lo cual contamos con el apoyo
de la Ley para el Fomento de la Cultura,
al que dejamos constancia de nuestro
agradecimiento.
Esperamos que disfrute de la lectura y se
complazca con esta inmersión histórica.
Antonio Carlos Valente
Presidente del Grupo Telefónica en Brasil
Un aló para empezar
Fue un susto para el emperador. “¡Dios
mío, eso habla!”, reaccionó D. Pedro II, al
tomar conocimiento de la existencia del
teléfono en la Exposición del Centenario
de la Independencia de Estados Unidos, en
Filadelfia, en 1876. Quién hablaba con él al
otro lado era el propio Alexander Graham
Bell, que había presentado al mundo su
experimento en ese mismo año. En 1877,
gracias al entusiasmo de D. Pedro II, ya había
teléfono en Brasil, primero en la Corte, en
Rio de Janeiro, para la comunicación del
emperador con sus ministros, en oficinas del
gobierno, organismos militares y en el Cuerpo
de Bomberos. La primera demostración
pública se realizó en la tienda El Grande
Mágico (El Gran Mago), del empresario
Leon Rodde. Todavía en 1877, él y su socio,
el ingeniero Morris Kohn, se dividieron por
varias ciudades, incluyendo São Paulo, para
presentar la “máquina que habla”.
En 1879, el monarca autorizó la explotación
de la telefonía en varias provincias del
Imperio, provocando una enorme disputa
entre las concesionarias. Esa competencia,
en algunos casos, terminó en la justicia.
Por ello, el sector fue completamente
reorganizado en los primeros años de la
República, aumentando el control del poder
público sobre la distribución de concesiones
a las empresas privadas.
La expansión del teléfono fue acelerada
tanto en las capitales como en las ciudades
del interior. En un primer momento,
comerciantes, propietarios de tierras,
profesionales liberales y el gobierno fueron
los principales usuarios. Los representantes
de las compañías visitaban las ciudades
para ofrecer los servicios que, para entrar en
operación, necesitaban autorización de las
autoridades locales. El paso de esos agentes
era anunciada en los periódicos, característica
de su prestigio. Visualizando los mapas de
empresas como la Companhia Telefônica
Brasileira (CTB), se percibió la red creada por
la instalación de las líneas entre 1910 y 1930,
período cubierto por esta investigación.
Por todo el siglo 20, en Brasil, el teléfono,
el tren, el tranvía, la energía eléctrica, la
canalización de agua y, más tarde, las
carreteras fueron los principales indicios del
desarrollo y del progreso de las ciudades.
Su inserción en la trama urbana era
reivindicación permanente de la sociedad.
De esa forma, el país estaba en sintonía
con lo que ocurría en el mundo occidental:
la tecnología modificando el cotidiano de
los ciudadanos, acortando las distancias y
disminuyendo el tiempo.
49
 La telefonía, en particular, amplió las
posibilidades de comunicación de larga
distancia, restringida al uso del telégrafo
hasta ese momento. La telegrafía se
introdujo en Brasil en 1850, siendo
ampliamente diseminada en la vida
cotidiana. Por eso, el teléfono y el telégrafo
convivieron por muchas décadas en las
actividades rutinarias de los organismos
públicos, del comercio, de la prensa y del
ciudadano común. Un diferencial evidente
entre ambos estaba en que el teléfono le
ofrecía al ciudadano la posibilidad de realizar
esa comunicación de modo más autónomo,
aunque no tuviera una línea particular.
Era necesario recurrir a los servicios de
las estaciones telefónicas y la operación
dependía de una telefonista.
En las estaciones, de acceso público,
las telefonistas operaban las máquinas,
tornándose personajes fundamentales en
el día a día de las ciudades. “Número, por
favor”, pedían. Eran ellas las que realizaban
las llamadas, recibían las llamadas y las
repasaban a los usuarios. Las telefonistas
fueron parcialmente sustituidas por
máquinas automáticas al final de los años
20, permaneciendo algunas décadas más
en servicios específicos de interurbanos y
llamadas internacionales.
La popularización de la telefonía solamente
ocurrió en la segunda mitad del siglo 20, con
la automatización del servicio y la ampliación
de las líneas. De esa forma, el teléfono fue,
cada vez más, formando parte de la vida
privada, siendo hoy con los celulares, una
extensión del propio cuerpo.
50
La Caja de Voces
Ignácio de Loyola Brandão
Texto Completo
Niño aún, en Araraquara, era común oír a mi
madre decir:
— No sé qué pasó. Pregúntale a Amélia, ella
sabe más que una telefonista.
Eso me intrigaba. ¿Qué saben las
telefonistas? ¿Más que un padre, un
profesor? Estos eran, para nosotros, las
personas que más sabían cosas. Unos,
porque los padres debían saber todo. Dos,
porque el profesor tenía respuesta para
todo. Tardé años para entender el enigma,
pero, en ese intervalo, las telefonistas se
tornaron, en mi cabeza, seres especiales
como ángeles y santos — es importante
destacar que éramos católicos — y quizás
Dios. Porque según la catequista, que, a
propósito, era la madre del teatrólogo José
Celso Martinez Correa, Dios sabía todo lo que
pasó, pasa y pasará. Dios y las telefonistas,
me lo decía yo. Solo no sabía dónde vivían
o se quedaban, dónde se ubicaban esos
personajes misteriosos. Uno de los primeros
enigmas que la vida me presentó.
Crecido, todo empezó a aclararse más. Oía a
mi madre, tías, vecinas afirmar categóricas:
— Basta preguntarle a Augusta, ella es la que
sabe, es telefonista.
Bueno, ahora la telefonista tenía nombre y
si mandaban preguntarle es porque sabían
donde era posible encontrarla. Percibí que
Augusta era respetada, por ella pasaba el
mundo oculto, íntimo de la ciudad. Un día,
mi padre enfrentó a un grupo de personas
agitadas con algo.
— No sirve de nada querer saber, Augusta
jamás lo va a contar, es cotilleo, cosa de
comadre, rollo. Las telefonistas tienen
un juramento, no pueden contar lo que
escuchan, son como los curas en la
confesión.
¡Dios mío!, ¡era espectacular! Ser telefonista
sobrepasaba todo, era sueño. Pasaba la
noción de poder. Un día, cuando mi madrina
me preguntó qué me gustaría ser, respondí:
— Telefonista.
Ella se rió.
— ¿Telefonista? Pero eso es empleo de mujer.
No existe hombre telefonista.
Fue grande la decepción y otro misterio. ¿Por
qué hombres no podían ser telefonistas?
Pero la idea siguió en mi cabeza. En
ese tiempo solo los muy ricos o los
importantes tenían teléfono, de modo que la
comunicación se realizaba por las ventanas.
Lo que se veía eran mujeres en el antepecho
de las ventanas o en las barandas mirando
la calle y esperando que pasara alguien.
Cada uno paraba un minuto y transmitía las
informaciones sobre alguien enfermo, un
romance iniciado, un pequeño escándalo
(y todo era escándalo), un desfalque en el
banco (asumía proporciones de catástrofe),
alguien que perdió el empleo, un recién
llegado de São Paulo, una persona que
se mudó. Las noticias iban de ventana en
ventana, baranda a baranda, porque en cada
cuadra, calle, avenida y casa había alguien
a puestos, es decir, funcionaba un sistema
telefónico boca a boca.
De región a región
Un día, fui con mi padre a la Companhia
Telefônica Brasileira. Sabíamos de ella
por causa de una luz redonda, un globo
colgado en la puerta con las letras CTB
en azul. Estaba ubicada al lado del Cine
Paratodos, al lado del quiosco de diarios
de Nelson Rossi. Hoy veo que era un
centro de comunicaciones concentrando
diarios, revistas, teléfonos, cine. Como
tenía parientes por todo el interior, sabía
que en cada ciudad funcionaba un centro
como aquél. Mi padre me compraba una
revista mientras pedía la llamada. Se
pedían llamadas urbanas o interurbanas.
Las urbanas eran raras, siendo más fácil
desplazarse hasta la casa de la persona,
llamarla y preguntar. Las interurbanas
eran para saber de la salud de parientes o
negocios. Cartas no funcionaban cuando
había apuro, el correo era conocido por la
calamidad, demoras, atrasos, pérdidas, un
infierno. En CTB se pedía la llamada y se
esperaba. La revista hacía que pasara el
tiempo. Me encantaba cuando mi padre
necesitaba llamar por teléfono, pues eso
significaba una revista nueva, después
revendida a Nelson que tenía un estante de
segunda mano.
Era normal el aviso del agente: va a demorar,
regrese en cuatro horas. O cinco. O entonces
avisaba, “cuando esté listo, lo mando llamar”.
Todo siendo relativamente cerca, uno ó dos
niños eran enviados a correr o en bicicleta
a avisar a las personas y ganaban una
propina por eso. Ganaban si no se toparan
con un tacaño odioso, avaro. La razón de
ese ritual es que en aquella época había
varias concesionarias locales distribuidas
por el interior. Cada una cuidaba su región.
CTB, empresa mayor, estaba en etapa de
expansión, pero las locales eran cosas de
muchos años, fundadas por un alcalde, un
hacendado, un comerciante con alguna visión.
Pero los equipos eran viejos, deficientes.
¿Cómo funcionaba? En el momento exacto
alguien avisaba, “cabina 1, cabina 2”. En
Paratodos existían solo dos cabinas. La
llamada empezaba su ciclo, la persona oía la
telefonista de cada región llamando a otra y
a otra y a otra, estableciendo así la cadena.
No me recuerdo bien, pero Araraquara
llamaba a São Carlos, que llamaba a Rio
Claro, que llamaba a Campinas, que llamaba
a Jundiaí, que llamaba a São Paulo. Por
el medio oíamos zumbidos, conversas
entrecortadas, chirridos, estáticas, crujidos,
sonidos metálicos misteriosos, jergas propias
de la profesión. Lo sé porque, a veces, mi
padre hojeaba alguna revista y me pedía para
que mantuviera el fono en el oído hasta que
fuera el momento de hablar con un tío, tía,
amigo, pariente, fuera quien fuera.
En el momento de hablar, se gritaba, se
hablaba muy alto. Prenuncio de qué vendría
con el celular, que demuestra que estamos
viviendo en un mundo de sordos. De esa forma,
quien estaba esperando, y siempre había
mucha gente, se enteraba de las intimidades
de cada uno, enfermedades, romances,
casamientos, hasta chismes. Mi padre tuvo
un amigo, Dosualdo, que dejó a la mujer y se
fue a causa de una llamada que más de diez
personas oyeron y contaron. Se tuvo que
mudar de la ciudad. ¿Qué pasó? ¿Le explicaron
a un niño como yo? Nada se decía, el mundo
de los adultos era cerrado, lleno de códigos.
Buscando al médico en casa
Aquí hay mucho de usos y costumbres de
algunas épocas. Cambios radicales en corto
espacio de tiempo. Los médicos tenían
teléfono, pero la mayoría de la población
no. Por ello, para llamar al médico o marcar
consulta, era necesario que alguien fuera
al consultorio, golpeara, entrara y marcara.
Médicos solamente visitaban pacientes si
la familia le mandara a la casa un auto de
alquiler, es decir, un taxi. Vecino a nuestra
casa había un teléfono en la casa de Carlos
Malkomes, jefe de la Companhia Paulista
de Força y Luz. El hombre lo necesitaba,
pues controlaba la energía de la región.
Solamente en casos excepcionales los
Malkomes permitían su uso, pues, el aparato
le pertenecía a la empresa. Sin embargo, en
emergencias lo cedían. Eran vistos como
personas excepcionales en el barrio.
Nosotros, una familia de ferroviarios,
teníamos una ventaja: el uso de la ferrovía.
Claro que muyo camuflado, pues era
prohibido. Se trataba de la utilización de
los medios de comunicación de la ferrovía,
principalmente el teléfono interestaciones.
Se mandaban recados, se pedía para llamar
a la persona, a la estación, se hablaba
gratis. Evidente que había complicidad,
los ferroviarios eran solidarios entre sí,
porque las empresas eran tiránicas, severas,
suspendían, multaban, cuando no demitían.
En nuestras cabezas, cuando veíamos
películas norteamericanas, y solamente
había cine norteamericano, se instalaba la
perplejidad. En las películas todos tenían
teléfono, no era necesario girar manivela y
llamar a la telefonista, era aparato de disco,
se marcaba y listo. Aquellas escenas de
adolescentes acostadas en el sofá – y como
eran increíbles los sofás norteamericanos (más
tarde, Sears los vendió en Brasil) – hablando
horas por teléfono indicaban que había una
civilización tecnológicamente superior. Por ello
creíamos en el seriado de Flash Gordon cuando
mostraba teléfonos y pantallas con imágenes.
51
 ¡Aquél era el futuro, otro planeta! Un día la
Tierra sería otro planeta. Nunca imaginábamos
que las cosas a partir de cierta época, los
años 1970, avanzarían tan velozmente.
¿A quiénes les pertenecían las voces?
En mi adolescencia, las telefonistas
continuaban míticas. CTB había crecido y
construido un edificio, en el cual trabajaban
docenas de jóvenes que atendían y hacían
llamadas. Era un trabajo por turno y en la
puerta de la Telefónica siempre había grupos
de jóvenes esperando para el coqueteo o
para llevar a sus novias a casa. Las voces
eran sensacionales, sensuales, excitantes,
provocaban pasiones. Una curiosidad:
¿Cómo se elegían las telefonistas? ¿Ellas
correspondían a las voces? ¿Cómo saber?
Dentro de aquél edificio todo era oculto,
cerrado. ¿Cómo saber quién estaba hablando
con nosotros, una vez que ellas cortaban
cualquier conversa personal y cortaban si
la persona se pusiera desagradable? Hubo
caso de hombre con voz seductora que tuvo
romance con telefonista, llegando a casarse.
Para mí, que siempre deliré, la Telefónica era
la Casa de las Voces, lugar inaccesible. Escribí
una corta historia a los 18 años, pero el texto
se perdió por ahí. Quizás esté en una de las
cien cajas que tengo guardadas en Araraquara.
El cuento tenía características de Kafka y
narraba la historia de un hombre que, al perder
la voz a causa de una laringitis, logra entrar en
la inexpugnable Casa de las Voces para robar
la voz de alguien, pero cuando lo logra, es una
voz de mujer. En su desespero, se olvidó de
que las telefonistas eran todas mujeres.
Está en el baño, no va a atender
En mis primeros años en São Paulo, final
de la década de 1950, principios de 1960,
me recuerdo de que la actriz Maria Alice
52
Vergueiro era casada con Silvio, un promotor.
Por funciones del oficio, él fue transferido
a una ciudad distante, Porto Epitácio. La
primera vez que trató de llamar al marido,
Maria Alice vivió una situación curiosa.
Cuando la telefonista local atendió, ella le
pidió la casa del promotor. La joven al otro
lado avisó:
— No sirve de nada llamar ahora, no va a
lograr hablar con él.
Intrigada, Maria Alice le preguntó:
— Y, ¿Me puede decir por qué?
— Son las cinco de la tarde, en este horario el
promotor se está bañando.
Sabían todo, tenían la ciudad en las manos.
O mejor, en los dedos que manejaban los
pernos.
Una vez hubo un concurso de Miss Telefónica
cuya preselección seria en un club. Me parece
que fue en el 27 de Outubro, el más popular.
Nunca vi una platea con tantos hombres,
tanta afición. Y aquél enigma en el aire:
¿A quiénes pertenecían las voces? ¿Cómo
identificar, separar, saber? Ellas desfilaron en
soirées, como se decía, y en trajes de baño.
Aquella tenía lindas piernas. Pero, ¿y la voz?
Ni se pensaba en biquini, porque eran niñas
de buena familia. A las orillas de la pasarela,
los hombres inquietos les hacían señales,
“deme su número, su nombre, llámeme”.
Durante años, la expresión “llámeme” era
traducida por un gesto que los jóvenes
de hoy, habituados a digitar el celular, no
entienden, lo consideran arcaico: cerrar la
mano y girar alrededor del oído. La evolución
de la telefonía tornó anacrónicos gestos y
expresiones que duraron años. Respecto
al concurso, había después una final con
telefonistas de todo el interior. Nunca supe si
existió una Miss Telefónica de Brasil.
En aquellos tiempos pocos pedían una
llamada por el número. Se decía:
— A casa do doutor Rubens Vaz.
— A casa do Candinho.
— A casa da Magali.
— A casa da neta da Liberalina.
— A casa do namorado da Maria Ernestina.
— A casa do gerente da Caixa Econômica.
Cuando alguien pedía por el número, se
sabía, era persona de afuera, un extraño en
la ciudad. La lista no pasaba de dos páginas.
Las telefonistas oían también groserías.
Como la mujer que, al descubrir la romance
del marido con otra, pidió:
—Llame a la casa de la sinvergüenza.
Las telefonistas colgaban, pero ya se
enteraban de la historia. Ellas podían
oír todas las conversas, si quisieran. Sin
embargo, como curas en el confesionario,
boca cerrada. Había aún los enfurecidos que
solicitaban:
— ¡Llame a la casa de ese crápula!
Era un gerente de banco de difícil tratamiento
en el momento de prestar dinero.
Cuando la televisión y el DDD (marcado
Directo a Distancia) llegaron a mi ciudad en
los años 1960, yo ya estaba fuera. Pero no
me olvido de la onda de las burlas realizadas
después del DDD, pues todos se tornaron
anónimos. Fue un problema, pero ¿qué se
podíamos hacer? ¿Cómo impedir? ¿Qué
seguridad ofrecer? Las empresas no tenían
tecnología suficiente. ¿Cuántos sándwiches
se entregaron en las casas de aquellos que
no lo habían pedido? Y cervezas, bebidas,
carne. De todo. Una vez, un agente funerario
fue solicitado para medir un cuerpo y fabricar
el ataúd. Cuando llegó al local, el “muerto”
estaba en plena fiesta de cumpleaños,
comendo y bebiendo. Demoró un tiempo
para que el agente se calmara.
Llamando por el DDD a veces ocurría una
línea cruzada. Cuando se reconocía la voz,
uno se quedaba escuchando, esperando
indiscreciones. Pero, si la conversa no
interesaba, los de la línea cruzada proponían
un acuerdo, los dos colgarían al mismo
tiempo. Lo divertido es que nadie cortaba,
uno no le creía al otro.
El fin de una era romántica
Al mismo tiempo, con el DDD surgió una
preocupación en las ciudades del interior:
¿Qué se hará con las telefonistas? ¿Perderán
sus empleos? ¿No vamos más a oír aquellas
voces que inspiraban? ¿Vamos a tener que
memorizarnos los números, consultar listas?
Una era romántica se estaba eliminando de un
momento a otro con el “progreso”. Duro golpe.
No me recuerdo de cuándo vi el primer
teléfono público en las calles de mi ciudad o
en otras. La gente de São Carlos garantiza que
el primero fue allí, pero los de Ribeirão Preto
lo niegan asegurando: “Aquí fue el primero”.
Lo mismo ocurrió con Bauru (bajo protestas
de Marília), pero tanto araraquarenses
cuanto rio-pretenses o catanduvenses
dudaron. Resurgían de repente las viejas y
pintorescas rivalidades del interior.
Hace años, al ver películas norteamericanas o
inglesas nos moríamos de envidia de aquellas
cabinas de calle de Nueva York. O de aquellas
rojitas de Londres, con el usuario abrigado del
viento o de las lluvias. Cuando los primeros
teléfonos públicos surgieron el diseño fue una
decepción. ¿Era eso? ¿Y si lloviera, hubiera
granizo, vientos, rayos? Inmediatamente
fueron bautizados de “orejones”.
Una cosa que marcó fueron las llamadas
internacionales en la década de 1970, en
plena dictadura militar. En cada ciudad
alguien, por acaso, descubría un teléfono
público con desperfecto, que permitía
llamadas internacionales gratuitas. ¿Qué se
veía? Caminando, de repente se encontraba
con un teléfono público y una fila kilométrica.
Gente hablando gratos con Londres, Paris,
Nueva York, Nueva Zelanda. Duraba hasta
que la policía lo descubriera. El problema era
que, si la policía agarrara a alguien, ese pobre
infeliz era detenido y le cobraban a él todas
las llamadas. Las suyas y las de los demás. Era
lo que decían para desestimular. Nunca supe
de alguien que haya tenido que pagar dichas
llamadas. El problema de esos “orejones” es
que el primero que descubría la falla podía
hablar horas. Cuando la cola empezaba, el
tiempo se limitaba, aparecía un organizador
imponiendo reglas, surgían protestas, “¡Basta!
¡Ya habló demasiado! ¿Piensa que el teléfono
es suyo? ¡Es de todos!”.
Las fichas metálicas, con ranuras, entraron
en nuestra vida hasta su sustitución por
las tarjetas magnetizadas. Hubo época en
que se pagaba café con ficha, que también
servía como vuelto en bares, supermercados,
panaderías, tabaquerías. Lo que se
observó fue el surgimiento de una nueva
actividad, tan difundida cuanto son hoy los
malabaristas o comedores de fuego de los
cruces: los recolectores de fichas o tarjetas.
Gente que recorría las calles examinando
cada teléfono, con el objetivo de ver si alguien
no se había olvidado una ficha o una tarjeta.
Ciudades palilleros
Una cosa siempre me llamó la atención:
la cantidad de postes en las calles para
sostener cables eléctricos, telefónicos, al fin
y al cabo, la parafernalia. Tengo una crónica
intitulada Cidades Paliteiros (Ciudades
Palilleros), a causa de la inmensidad de
postes. Bueno, yo también reclamaba de
las veredas estrechas. Para atender a la
demanda de los conductores y comerciantes,
los alcaldes en el interior pasaron a reducir
el ancho de las veredas. Cortísimas y llenas
de postes entre medio. No eran veredas para
gordos. De nuevo era el cine norteamericano
o europeo influenciando. ¿Cómo podía haber
ciudades sin postes? ¿Dónde estaban los
cables, los tubos? ¿Por qué ellos podían y
nosotros no?
En 1967, trabajando en la revista Claudia,
de la Editora Abril, fui a Hollywood a editar
un número especial. Me quedé deslumbrado
con los estudios, con Beverly Hills, con los
actores que conocí (un día, al abrir una
puerta, me vi de frente con Gene Kelly, le
pedí que pasara, é pidió que pasara yo; no,
era él, merecía por todas las danzas que
me hizo bailar en sueños). Cierta tarde,
necesitando confirmar mi reserva para el
regreso y realizar un cambio de vuelo, llamé
al número que había en el pasaje de Braniff,
compañía aérea que desapareció. Al otro lado
me atendió una voz cordial. Sobre el cambio
de vuelo, había complicaciones. Ahí, frente a
mi inglés precario, decidí:
— Deme la dirección. Tomo un taxi y voy,
pues es mejor que hablemos personalmente.
— Si desea venir, ¡venga! Sin embargo, el taxi
le va a costar caro. Usted está en Hollywood,
California, y yo estoy en Colorado.
53
 Fue cuando descubrí la Llamada de Larga
Distancia. Asombroso: aquél número no
solamente llamaba a Colorado, sino también
era el de la mesa de la persona. Deslumbrado,
me fui de espaldas, el mundo era otro.
¿Dónde llegaríamos? ¿Llegaríamos?
En la mañana desierta
Tengo una deuda con CTB. En domingo,
bajé a la calle 7 de Abril en São Paulo, para
pedir una llamada a Araraquara. Centro de
la ciudad desierto, todo cerrado. Era otro
tiempo, otra ciudad, otro Brasil. Entré, pedí
mi llamada, mi padre iba a esperar en la
casa de los Malkomes, era cualquier cosa
relacionada a la salud de mi madre. Llevé un
libro, me senté en los bancos de madeira y
esperé. Una hora después, veo entrar a una
persona que no tenía más que mi altura,
pelo crespo, ropas con aspecto dejado, una
palabra interiorana. Una figura familiar, pero
¿quién era? Oí cuando pidió la llamada con un
fuerte acento de Bahia, miró alrededor y se
sentó cerca. Me empezó a hablar.
— ¿Qué está leyendo?
— Una Tragedia Americana, de Dreiser. O
mejor, releyendo. Un libro muy bueno, inspiró
la película de George Stevens Un Lugar en el
Sol, con Liz Taylor y Montgomery Clift.
— ¿A usted le gusta el cine?
— Me encanta. Empecé mi carrera en un
periódico como crítico. Pensé en seguir la
carrera en el cine, pero desistí.
— También hice crítica en Bahia, ahora
hago cine.
Se puso a hablar sin parar de cine, de
54
política, de sociología, de Brasil, de música,
de literatura, criticó al cine brasileño, en la
Palma de Oro de Anselmo Duarte con El
Pagador de Promesas.
Él hablaba, hablaba, hablaba, citaba gente,
lucha de clases, imperialismo. ¿Quién no
criticaba el imperialismo en esa época?
Nuestras llamadas demoraron, nos
quedamos conversando, su conversa era
delirante, un tumulto. Provocaba:
— ¿Por qué desistió del cine? ¿Para ser
periodista? ¿Con esas porquerías de diarios?
La prensa es toda manipulada. ¿Por qué
desistió?
Más tarde llegamos a intercambiar algunas
cartas, pocas. Una de ellas aún está conmigo,
abrigada en alguna de las cien cajas, las
demás se perdieron en los armarios de
las pensiones donde viví. Por dos ó tres
veces más los domingos siguientes, nos
encontramos allí en aquella hora prematura,
cuando las llamadas eran más fáciles. Y él
siempre me repetía, martillaba:
— Quería hacer cine y desistió. ¿Por qué
desistió? Y, ¿cómo no se volvió loco al desistir
de hacer cine?
Esa pregunta se quedó remoliendo en mí
durante años, hasta que acepté. Nosotros
también reciclamos sueños. El del cine
lo reciclé. Lo cambié por la literatura. Mi
compañero dominical era Glauber Rocha.
El inicio de una red
La telefonía pública empezó en São Paulo
en 1884. No en la capital, sino en Campinas,
donde Ferdinand Rodde & Compañía
fundaron la Empresa Telefônica Campineira,
estableciendo un servicio público. Los
primeros aparatos de la capital se instalaron
poco después en residencias y casas
comerciales por la Companhia de Telégrafos
Urbanos. Pero Leon Rodde y Morris Kohn ya
habían realizado experiencias en la capital
y en el interior en 1877. En esa época,
ellos instalaron aparatos por demanda de
productores de café, que necesitaban un
medio más rápido de comunicación para
auxiliar en la distribución de su producción.
En septiembre de 1878, el hacendado Bento
da Silveira Franco, de Limeira, envió una carta
a Rodde, en Rio de Janeiro. Él agradecía al
comerciante por los aparatos telefónicos
instalados en su propiedad, “por mientras
funcionan perfectamente y no dejan nada
por desear, tanto por su perfección artística
como por la clareza con que transmiten la
voz”. Fue uno de los primeros brasileños a
tener teléfono en casa.
El sistema de São Paulo siguió la ruta de
los telégrafos, iniciados en 1850, y de las
ferrovías, construidas en la década siguiente.
Eran redes conjugadas de progreso y de
comunicación, que se ampliaron con las
carreteras aúna en la primera mitad del siglo
20. Redes, tramas y telas estaban relacionadas
e incluso eran metafóricamente confundidas.
Como lo hizo el escritor de Sino Azul, la
revista de la Companhia Telefônica Brasileira
(CTB), en septiembre de 1928, al referirse
al teléfono como “la carretera por donde
más rápidamente corren las negociaciones
comerciales y se realiza el intercambio de las
relaciones sociales”. São Paulo se enorgullecía
de ser el motor de la economía del país
y para la capital se dirigía el sistema de
comunicaciones telefónicas del estado.
Al inicio del siglo 20, la ciudad tenía varias
concesionarias que atendían diferentes
regiones del estado. Una de ellas era São
Paulo Tramway, Light & Power Company,
creada en 1899 por el Grupo Light. En 1923,
después de una serie de transformaciones
e incorporaciones, esta compañía pasó
a denominarse Companhia Telefônica
Brasileira (CTB), atendiendo al Distrito
Federal (Rio de Janeiro), parte de São Paulo
y Minas Gerais, con un total de 100 mil
kilómetros cuadrados de red.
Otra era la Companhia Telefônica Bragantina,
fundada en 1896 en el interior del estado y la
principal empresa hasta el inicio del siglo 20.
Esa empresa tenía estaciones en la capital,
en Campinas, Bragança, Jundiaí, Mogi-Mirim,
Mogi-Guaçu y otras ciudades del nordeste,
norte y centro de São Paulo. Dividía el tráfico
con las compañías Rio Clarense e Iniciadora, y
con estaciones de Minas Gerais. En 1915 era
una de las más importantes del país, aunque
ese año el Grupo Light la haya incorporado.
En enero de 1910, Bragantina inauguró la
línea de Santos, de 62 kilómetros, recibida
con entusiasmo por la prensa. Entre discursos
y brindis de champaña, periodistas de la
capital y de Santos se saludaron por teléfono.
Por parte de São Paulo: “La prensa de São
Paulo se congratula con la de Santos por la
inauguración de la nueva línea telefónica,
que estrechará aún más sus amistosas
relaciones”. Respondieron los periodistas de
Santos: “La prensa de Santos, agradeciendo
los simpáticos saludos de la prensa de São
Paulo, de aquí levanta una su copa, haciendo
un brindis por la fraternidad periodística
en el momento en que la inauguración de
la línea telefónica Bragantina estrecha los
vínculos de aproximación material que une
los destinos de una prensa a la otra”.
La telefonía se incorporó a la trama de la
historia de São Paulo en la velocidad de la vida,
en la urgencia del desarrollo, acompañando
las demandas públicas cotidianas y entrando
en la intimidad de los ciudadanos. El día 12
de marzo de 1916, el Correio Paulistano
publicaba un inventario más de objetos
perdidos por los ciudadanos y enviados al
Gabinete de Quejas y Objetos Encontrados de
la municipalidad. Entre sombreros, retratos,
llaves, sandalias, barras de jabón, latas de
leche y de café, estaba un sobre con papeles
de la Rede Telephonica Bragantina. ¿Quién los
habría perdido? ¿Cómo lo habría hecho para
pagar su cuenta de teléfono?
El 1º de mayo de 1924, Brazilian Telephone
Company anunció a sus usuarios las
mejoras ofrecidas por el nuevo servicio de
interurbano, reduciendo las deficiencias
enfrentadas, en la época, en las vías de
comunicación. “El servicio telefónico
interurbano [...] los pondrá en situación de
no preocuparse con esa falta de medios de
comunicación. En algunos minutos, usted
habrá visitado a sus clientes en esta y en
otras ciudades servidas por nuestras líneas
interurbanas y habrá realizado buenos
negocios”.
En 1932, las comunicaciones telefónicas
quedaron temporalmente comprometidas
cuando, en la capital y en el interior,
ocurrieron los conflictos de la Revolución
Constitucionalista: fuerzas de São Paulo,
militares y civiles voluntarios se rebelaron
contra el gobierno de Getúlio Vargas por el
establecimiento de una constitución federal
y por la insatisfacción de la elite de São
Paulo con la pérdida de prestigio político y
económico en la ascensión del dictador al
poder en 1930. Uno de los primeros efectos
del movimiento fue la interrupción de las
comunicaciones. El día 26 de mayo, después
de las manifestaciones que dieron inicio al
levante, el Diário de São Paulo publicó la
siguiente noticia:
El servicio de informaciones de la sucursal del
Diário de São Paulo, en Rio, se presenta
hoy, como ayer, muy deficiente. La causa
de esa anormalidad reside, únicamente,
en la censura telefónica que desde anoche
está ocurriendo en nuestras líneas de
comunicaciones con la Capital Federal.
Las agencias telegráficas U. T. B. y
Brasileira nos informaron también, que sus
conexiones con Rio estaban interrumpidas,
imposibilitándolas de realizar la distribución
diaria de su servicio a los periódicos.
Quedan por lo tanto, nuestros lectores
enterados de las razones de la anormalidad.
En el momento en que se suspenda la
censura, nuestra sucursal continuará
mandándonos, como siempre, las
informaciones que estamos habituados a
distribuir al público.
Meses más tarde, un contingente formado
por soldados, estudiantes de derecho y
civiles invadió la sede de la Companhia
Telefônica Brasileira, “controlando el servicio
de comunicaciones a cargo de esa empresa”,
según el Diário de São Paulo del 10 de julio
de 1932.
A volta à normalidade naquele ano foi El
regreso a la normalidad ese año quedó
marcado por la inauguración de un puesto
55
 telefónico en la Estação da Luz para
llamadas interurbanas y por la apertura
del servicio internacional en el Palácio dos
Campos Elíseos, sede del gobierno del
estado. De esa forma, un habitante de São
Paulo podría llamar “de su propio teléfono” a
Estados Unidos, Canadá, Francia, Alemania,
Portugal, Argentina, Chile y Uruguay. Con
una reserva, según el anuncio: “El ‘servicio
internacional’ asegura absoluto secreto
en las comunicaciones realizadas; un
dispositivo de sigilo, del cual la Compañía
tiene exclusividad, torna imposible oír las
conversaciones radiotelefónicas por parte
de extraños con aparatos de radio”.
CTB, que a partir de 1928 incorporó muchas
compañías que atendían al interior del
estado, se tornó la empresa más fuerte en
São Paulo. Incluso con la decadencia del
sector de café y muy próximo a la crisis
internacional de 1929, su presencia se
demostraba más evidente por la cantidad de
alambres, tubos y postes dejando rastros en
el paisaje urbano.
Al fin y al cabo, en tiempos de guerra o de
paz, el teléfono era esencial. En Sino Azul
de octubre de 1932, el editorial constataba:
“La historia de los pueblos es un repositorio
de ejemplos de los esfuerzos para mejorar
y aumentar los medios de comunicaciones
entre las naciones. [...] Mencionaremos
solamente los cuatro medios más
veloces que existen actualmente para la
comunicación a gran distancia: el teléfono,
el avión, el tren y el automóvil...”
Así fue en la capital y en las demás regiones
del estado.
56
Pág. 12
SANTOS – NUEVA LÍNEA TELEFÓNICA
Santos, 27 – Se realizó hoy la experiencia
de la primera línea telefónica de la
Companhia Bragantina, entre esta ciudad
y São Paulo.
En una dependencia separada de la
oficina de Brazilian Warrante, donde está
instalada la estación, el sr. Monteiro de
Barros, representando al gerente de la
Companhia Bragantina, ofreció una copa
de “champaña” a los invitados.
La prensa de aquí y de esa capital
intercambió saludos cordiales por el aparato.
El sr. Alberto de Souza, redactor jefe de la
“Tribuna do Povo”, saludó a la empresa,
respondiendo al sr. Monteiro de Barros.
Correi CA BRASILEIRA tiene el enorme
placer en anunciar que, para comodidad
del público, acaba de instalar en la Estação
da Luz un puesto telefónico de donde
podrán realizarse rápidamente llamadas a
cualquiera de las localidades servidas por su
red en los Estados de São Paulo, Paraná, Rio
de Janeiro, Minas Gerais y Distrito Federal.
Diário de São Paulo. São Paulo, 20 de
noviembre de 1932, p. 5. Anuncio de
Telefônica
Pág. 16
Se inaugurará hoy oficialmente el
servicio telefónico internacional
El gobernador militar hablará con Estados
Unidos y con el cónsul inglés en Londres
Se inaugurará hoy oficialmente en esta
capital, el servicio telefónico internacional. La
Companhia Telefônica Brasileira invitó ayer
al general Waldmiro de Lima, gobernador
militar, para presidir el acto inaugural.
Esa ceremonia se realizará a las 15 horas,
en el salón de los despachos del Palácio dos
Campos Elíseos.
Hablará en primer lugar el general Waldmiro
de Lima, con el sr. Sebastião Sampaio,
cónsul general de Brasil o el sr. Paulo
Hasslocher, en nuestra embajada en
Washington.
A continuación, el cónsul británico sr. Arthur
A’bott con el Foreign Office de Londres.
Participarán del acto los empleados
superiores de la Companhia Telefônica de
São Paulo, directores de las Secretarías de
Estado, los representantes consulares y
demás altas autoridades del Estado.
Diário de São Paulo. São Paulo, 23 de
diciembre de 1932, p. 1
Pág. 23
Sino Azul
Sino Azul (Campana Azul) empezó a
circular en enero de 1928, editada por E. M.
Brandão en Rio de Janeiro, siendo pionera
en la comunicación interna empresarial.
Dirigida a los empleados de la Companhia
Telefônica Brasileira (Compañía Telefónica
Brasileña), la línea editorial de la revista
incluía asuntos relacionados a la tecnología,
como, por ejemplo, la historia de la
telefonía en el mundo y el panorama de las
ciudades atendidas por la empresa en su Brasileira nos informaron también que sus
proyecto de expansión y el cotidiano de la llamadas con Rio estaban interrumpidas,
compañía. Publicaba también cuentos y imposibilitándolas de realizar la distribución
divulgaba las actividades de los empleados, diaria de su servicio a los periódicos.
como forma de valorizarlos. Por las páginas
de la revista es posible vislumbrar las Por lo tanto, informamos a nuestros
transformaciones ocurridas en el país en lectores las razones de las anormalidades.
diversos sectores y percibir como hechos Así que se suspenda la censura, nuestra
nacionales e internacionales, como la sucursal continuará a mandarnos, como
Segunda Guerra Mundial, repercutieron en siempre, las informaciones que estamos
las actividades de la empresa. habituados a distribuir al público.
Con la creación del sistema Telebrás, en Diário de São Paulo. São Paulo, 26 de mayo
1972 el periódico dejó de publicarse en São de 1932, p. 1
Paulo. Al año siguiente, Telesp pasó a editar
el informativo institucional Entrelinhas.
En Rio de Janeiro, Telerj mantuvo a Sino
Azul hasta 1989. Los informativos internos
CTBC y Televip también componen la
memoria de Telefónica.
La versión digitalizada de las ediciones de
la revista Sino Azul está disponible para
consulta en www.colecaosinoazul.org.br
Pág. 30
La situación en São Paulo
Nuestro servicio de informaciones de
Rio de Janeiro
El servicio de informaciones de la sucursal
del Diário de São Paulo, en Rio, se
presenta hoy, como ayer, muyo deficiente.
La causa de esa anormalidad es resultado,
exclusivamente, de la censura telefónica que
desde anoche se está realizando en nuestras
líneas de comunicaciones con la Capital
Federal.
Las agencias telegráficas U. T. B. y
57
 Bibliografia
BORGES, Vavy Pacheco. São Paulo,
1932: em tempo de guerra. In:
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Paulo: uma longa história. São Paulo:
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A paisagem paulistana à época do
telefone: São Paulo em 1884. São
Paulo: Telesp, 1984.
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(Coord.). São Paulo: uma longa história.
São Paulo: CIEE, 2004, pp. 146-166.
(Série Nossa História).
UEDA, Vanda. A implantação do
telefone: o caso da Companhia
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– Pelotas/Brasil. Scripta Nova: Revista
Eletrônica de Geografia y Ciencias
Sociales, nº 46, 15 de agosto de 1999.
Universidad de Barcelona.
58
Periódicos
NOVA linha telephonica. Correio
Paulistano. São Paulo, 28 de janeiro de
1910, p. 2.
COMPANHIA Telephonica Bragantina: a
nova linha de Santos. Correio Paulistano.
São Paulo, 28 de janeiro de 1910, p. 4.
GABINETE de queixas e objectos
achados. Correio Paulistano. São Paulo,
12 de março de 1916, p. 5.
OS PROGRESSOS do telefone. Correio
Paulistano. São Paulo, 3 de dezembro
de 1916, p. 2.
O TELEPHONE cria facilidades. Correio
Paulistano. São Paulo, 1º de maio
de 1924, p. 14. Anúncio da Brazilian
Telephone Company.
A SITUAÇÃO em São Paulo. Diário de
São Paulo. São Paulo, 26 de maio de
1932, p. 1
A INVASÃO da Cia. Telefônica por
contingentes armados. Diário de São
Paulo. São Paulo, 10 de julho de 1932,
p. 1 e p. 6.
SOROCABA e sua nova rêde telephonica.
Sino Azul. Rio de Janeiro, anno I, v. 1, n°
9, p. 1, setembro de 1928.
SERVIÇO Radio Telephonico
Internacional. Diário de São Paulo, 24
de dezembro de 1932, p. 1. Anúncio da
CTB.
EM TORNO da situação atual. Sino Azul. FUNDAÇÃO TELEFÔNICA Editora Tempo d’Imagem
Rio de Janeiro, anno XV, n° 179, p. 1,
outubro/novembro de 1942, p. 5. Presidente do Conselho Curador Fortaleza
Antonio Carlos Valente Av. Dom Luis, 906, sala 802
60160-230 Fortaleza, CE, Brasil
FUNCIONÁRIOS DA CTB convocados
Diretor-presidente Tel. 55 85 3261-2398
para o Serviço Militar. Sino Azul. Rio de
Sérgio E. Mindlin
Janeiro, anno XV, n° 179, p. 1, outubro / São Paulo
novembro de 1942, p. 23. Gerente Rua Aimberê, 1465, sala 02
Maria Gabriella Bighetti 01258-020 São Paulo, SP, Brasil
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS Tel. 55 11 3862-1098
Programa Arte e Tecnologia
ESTAÇÕES FERROVIÁRIAS DO Mateus Vieira Villela de Lima tempodimagem@uol.com.br
BRASIL. Disponível em: http://www. www.tempodimagem.com.br
estacoesferroviarias.com.br/index.html. Comunicação
Fernando Casagrande da Silva
Acesso em períodos diversos entre 2009 Fundação Telefônica
e 2010. Av. Brigadeiro Faria Lima, 1.188 - 3º andar,
Pinheiros, São Paulo, SP, Brasil
MUSEU DO TELEFONE. São Paulo, 55 11 3035 1976
2009. Disponível em: http://www. FICHA TÉCNICA DO LIVRO Fax 55 11 3035 1950
fundacaotelefonica.org.br/Museu/
Default.aspx. Acesso em períodos Projeto Editorial
diversos entre 2009 e 2010. Rosely Nakagawa
Coordenação Editorial
O ESTADO DE SÃO PAULO. São Paulo.
Rosely Nakagawa
Disponível em: http:// site.estadao.
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períodos diversos entre 2009 e 2010. Isabel Santana Terron
PORTAL NOSSO SÃO PAULO (municípios Crônica
de São Paulo). São Paulo. Disponível em: Ignácio de Loyola Brandão
http://www.nossosaopaulo.com.br/
MunicipiosDeSao Paulo.htm. Acesso em Redação e Pesquisa
Rose Silveira
períodos diversos entre 2009 e 2010.
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F859
v.1

Fotografia e telefonia, 01 : progresso e desenvolvimento no interior do Estado de São

Paulo / [organização Rosely Nakagawa ; texto Ignácio de Loyola Brandão]. -
Fortaleza, CE : Tempo d’Imagem ; São Paulo : Fundação Telefônica, 2011.
60p. : il.

ISBN 978-85-60195-12-1

1. Sistemas telefônicos - São Paulo (Estado) - História. 2. Sistemas telefônicos - São

Paulo (Estado) - História - Obras ilustradas. 3. Telefones - São Paulo (Estado) - História. 4.
Telecomunicação - Brasil - História. I. Nakagawa, Rosely. II. Brandão, Ignácio de Loyola,
1936-. III. Fundação Telefônica. IV. Título: Progresso e desenvolvimento no interior do
Estado de São Paulo.

11-0588. CDD: 384.6098161

CDU: 654.15(815.6)
01.02.11 03.02.11 024313
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