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Fraude contra o credor


Fraude contra o credor

Vanderlei Francisco de Vanderlei Francisco de Carvalho


Carvalho

Publicado em 05/2017. Elaborado em 05/2017.

O artigo abordará sobre a Fraude Contra Credor, evolução


histórica, conceito da fraude contra o credor, princípios e a
fraude de modo geral. Apresentará a diferença entre fraude
contra o credor e fraude a execução e por fim tratará da ação
pauliana.

RESUMO

O presente artigo abordará sobre a Fraude Contra Credor, trazendo sua evolução
histórica, o conceito da fraude contra o credor, seus princípios e a fraude de modo
geral. Apresentará ainda a diferença entre fraude contra o credor e fraude a
execução. Abordará ainda os elementos existentes na Fraude Contra o Credor para
sua caracterização. Quando caracterizada a fraude, no âmbito jurídico, será
aplicada a ação pauliana cujo objetivo é a anulação dos negócios jurídicos
realizados por devedores insolventes dos bens que seriam utilizados para o
pagamento das dívidas referentes a uma ação de execução, sendo observada a
legitimidade das partes, sua forma e os efeitos da sentença.

Palavras-chave: Fraude Contra Credor. Fraude a Execução. Princípios. Ação


Pauliana. Efeitos da Sentença. Código Civil. Código de Processo Civil

ABSTRACT

This article will deal with Fraud Against Lender, bringing its historical evolution,
the concept of fraud against the lender, its principles and fraud in general. It will
also present the difference between fraud against the lender and execution fraud.
It will also address the elements of the Fraud Against the Lender for its

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characterization. When fraud is characterized, in the legal sphere, Pauline action


will be applied whose purpose is the annulment of legal transactions carried out
by insolvent debtors of assets that would be used to pay debts related to an
enforcement action, observing the legitimacy of the parties, Its form and the
effects of the sentence.

Keywords: Fraud Against Lender. Execution Fraud. Principles. Paulian Action.


Effects of Sentence. Civil Code. Code of Civil Procedure

Sumário: 1. Introdução, 2. Evolução Histórica, 3. Conceito, 4. Princípios, 4.1.


Princípio da Boa Fé Processual, 4.2. Princípio da Responsabilidade Patrimonial, 5.
Da Fraude 6. Fraude Contra Credor e Fraude Contra a Execução – Diferenças, 7.
Elementos da Fraude Contra o Credor, 8. Divergências Doutrinárias, 9. Ação
Pauliana, 9.1. Legitimidade Ativa, 9.2. Legitimidade Passiva, 10. Efeito da
Sentença na Ação Pauliana, 11. Divergências do Tema, 12. Considerações Finais,
13. Referências Bibliográficas

1. INTRODUÇÃO

Para que o convívio das pessoas em sociedade seja harmonioso o direito figura
como ator principal estabelecendo os direitos individuais e coletivos. Ou seja,
onde partimos do pressuposto que onde termina o direito de um indivíduo
começa o direito do outro, evitando desse modo, a ultrapassagem das barreiras.
Porém, podemos perceber que a teoria nem sempre é igual ao que ocorre no
mundo real. Existem casos onde indivíduos para defender seus próprios interesses
são capazes de ferir direitos de terceiros. Nesses casos o judiciário interfere no
momento da violação do direito para assim o defender e restituir a situação
anterior.

Atualmente, por vivermos no regime capitalista os bens e as propriedades são de


extrema importância para os indivíduos. Conforme previsto no artigo 5º da
Constituição Federal de 1988:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção


de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

[...]

XXII - é garantido o direito de propriedade.[1]


(#_ftn1)

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Dessa maneira, a propriedade em sua essência se transforma em um tema


delicado, principalmente quando essa propriedade é usada para fraudar ou ferir o
direito de um terceiro.

É nessa linha de raciocínio que o atual artigo será trabalhado, o qual tratará da
Fraude Contra Credor, trazendo sua evolução histórica onde a pessoa pagava as
suas dívidas com punições corporais, o devedor poderia ser escravizado ou morto
pelo seu credor e até a atualidade onde o que responde pela dívida do individuo é
seu patrimônio. Situação essa que deixa uma margem gigante para fraudes.
Fraudes com patrimônios que poderiam ser usados para quitar a dívida, porém no
meio do desenrolar da situação os mesmos patrimônios desaparecem, deixando o
credor em situação de não pagamento da dívida.

O presente artigo tratará das formas como o credor pode vir a se proteger das
fraudes que possa ser vítima, descrevendo a ação pauliana, seus princípios e
elementos que trazem divergências de entendimento.

Trataremos ainda da diferenciação existente entre a Fraude Contra Credor e


Fraude à Execução, os efeitos da sentença da ação pauliana e as diversas linha de
pensamentos dos doutrinadores em relação a anulação do ato ou ineficácia do
mesmo.

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA

O principal objeto de estudo do presente artigo é a Fraude Contra


Credor, porém, tanto a Fraude Contra Credor quanto a Fraude a Execução tem a
mesma origem na antiguidade.

Humberto Theodoro nos trás a seguinte lição:

Sebastião Lintz, em seu famoso Livro dos Mortos,


traz o conhecimento de que antigamente existiam
princípios de ordem moral e ética, onde egípcios,
após a morte podiam provar para Osiris, o “Deus da
Morte”, que nenhuma fraude tinha sido cometida
enquanto vivo, assim era alcançada a salvação. Já na
Babilonia, no período de 1955 a 1913 a. C., o famoso
Hammurabi determinou um código para que os
fracos não fossem fraudados pelos mais fortes e os
órfãos e viúvas fossem tratados com justiça.[2]
(#_ftn2)

A Fraude Contra Credor remonta aos primórdios da humanidade tanto que os


romanos que já a previam. O Código Deuteronômio, que tem como base a religião
(ensinamentos de Moisés), já fazia a menção da proibição de fraudar um terceiro,
mas a penalidade era mais branda.

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Porém, como a sociedade, as leis também foram se desenvolvendo. E com isso


foram surgindo várias duvidas sobre a verdadeira origem da ação pauliana. O
Direito Romano já trazia em sua estrutura a ideia de que os bens do devedor
seriam usados para quitação da dívida em algumas ocasiões especiais. E como já
se sabe o direito Romano é o berço de todo ensinamento jurídico que nos servem
de referência.

Leonardo Greco esclarece sobre a resolução dos litígios:

No Direito Romano a execução era privada e penal.


Os litígios não eram decididos por autoridade
pública. Perante esta, no caso o pretor,
compareciam as partes e celebravam a
litisconstestação, seguindo-se a expedição da
fórmula e a escolha de um ou mais árbitros
privados, aos quais incubia a instrução da causa e o
seu julgamento.

A sentença não era, portanto, um ato de autoridade,


mas um ato de um particular, ao qual as partes
haviam espontaneamente se submetido.[3] (#_ftn3)

Antes dos bens do devedor pagar por sua dívida, o corpo físico respondia por elas.
O devedor era colocado em exposição. E a partir do momento que mesmo com
todas as alternativas a dívida não era quitada, o credor se tornava dono do
devedor e esse seu escravo. Podendo então cometer as maiores atrocidades com
seu servo.

Com a escravidão do devedor todos os seus bens passavam a pertencer ao seu


senhor.

Surgiu então a Lex Poetelia Papira e a partir desse momento as dívidas não eram
mais pagas com o corpo do devedor e sim com todos os bens que o mesmo possuía
ou trabalharia para o credor até o pagamento de sua dívida.

A Lex Poetelia Papira foi uma lei aprovada na Roma Antiga, 326 a.C., onde foi
abolida a forma de contrato de Nexum ou a famosa servidão por dívida, ou seja,
podendo somente o devedor ser preso para pagar a dívida ou entregar todos os
seus bens, pelo cessio bonorum.

Pelos ensinamentos de Yussef Said Cahali:

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O credor poderia se valer de três meios diferentes


para receber do devedor: Actio pauliana poenalis,
reparação pecuniária, feita por dinheiro,
Interdictum fraudatorium, dévida retirada do
patrimônio do devedor para seu pagamento e
restitutio in integrum, provimento cedido pelo juiz,
que fazia com que o ato do devedor não fosse
concretizado com intervenção do credor.[4] (#_ftn4)

Em razão do convívio das pessoas em sociedade se tornou comum como


consequência houve aumento na ocorrência das fraudes, causando prejuízo a
terceiros. Por isso várias medidas foram tomadas para tentar coibir esse tipo de
fraude.

Com o passar dos tempos os juristas foram aprimorando suas ideias para tentar
frear essa prática criando assim o que conhecemos hoje como ação pauliana (Actio
pauliana), chamada assim porque sua criação é atribuída ao pretor Paulus.
Aplicada sempre as fraudes já existentes, ação revocatória ou pauliana. Porém do
período do Direito Romano até os dias atuais esse tipo de ação esteve sempre em
constante evolução. A partir desse momento o devedor torna-se insolvente,
doando ou alienando seus bens que seriam de seus credores por direito e a solução
encontrada para esse problema foi então a ação pauliana.

3. CONCEITO

No tocante do conceito da fraude, o verbo "fraudar", proveniente do


latim fraudare, significa, segundo o dicionário português, lesar, enganar, burlar,
espoliar, iludir, frustrar.

Maria Helena Diniz conceitua a Fraude Contra Credor da seguinte maneira:

Constitui fraude contra credores a prática maliciosa,


pelo devedor, de atos que desfalcam o seu
patrimônio, com o escopo de colocá-lo a salvo de
uma execução por dívidas em detrimento dos
direitos creditórios alheios”.[5] (#_ftn5)

A Fraude contra credor é vista como um defeito no negócio jurídico, assim como
erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão.

De uma forma simplista podemos entender a fraude contra credor como abuso de
confiança, ação praticada de má-fé, etc.

4. PRINCÍPIOS

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O ordenamento que seguimos atual está pautado em princípios. O conceito de


fraude contra credor não poderia ser de outra forma, nos ajudando a entender a
vontade da lei e solucionando problemas que surgem em casos práticos.

Nas palavras de Silvio Rodrigues:

Note-se, porém, que a fraude contra credores só se


caracteriza quando for insolvente o devedor, ou
quando se tratar de pessoa que, por atos
malsinados, venha a tornar-se insolvente, porque,
enquanto solvente o devedor, ampla é sua liberdade
de dispor de seus bens, pois a prerrogativa de
aliená-los é elementar do direito de propriedade.
Entretanto, se ao transferi-los a terceiros já se
encontrava insolvente o devedor, permite a lei
torne-se sem efeito tal alienação, quer pela prova do
consilium fraudis, quer pela presunção legal do
intuito fraudulento. [6] (#_ftn6)

No entendimento de Teresa Arruda Alvim Wambier:

Desemprenham, portanto, além de outros papeis, o


de regras interpretativas, já que, se o ordenamento
positivo, de certo modo, se cria e se estrutura partir
de princípios, a estes deve o interprete recorrer
quando extrai o sentido da regra positiva, para com
isso, dar coesão, unidade e imprimir harmonia ao
sistema. [7] (#_ftn7)

E, para José Miguel Garcia Medina:

Os princípios são usados como guia do operador do


direito, para sua atuação servindo tanto para
auxiliar o interprete na sua formação de raciocínio
como para preencher as lacunas que a própria lei
deixa que são passiveis de preenchimento. [8]
(#_ftn8)

4.1. PRINCÍPIO DA BOA FÉ PROCESSUAL

O artigo 789 do novo Código de Processo Civil prevê:

Art. 789. O devedor responde com todos os seus


bens presentes e futuros para o cumprimento de
suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em
lei. [9] (#_ftn9)

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Dessa forma, para que o credor não saia prejudicado em um negócio jurídico onde
o devedor tenta se desfazer dos seus bens para a não quitação da dívida o
instrumento cabível nessa hipótese são ações prevista em nosso Código Civil para
evitar a fraude

Mesmo não aparecendo de forma expressa na Constituição, a mesma incorpora


em algumas partes de seus textos este princípio, dando ênfase ao zelo pela
lealdade, bom senso, equidade e justiça. Assim, o artigo 1º, III da Constituição
Federal de 1988, que trata do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, este
alicerçado no direito fundamental do Estado Democrático de Direito, pregando a
necessidade de convivência em harmonia e lealdade entre as pessoas conviventes
em sociedade, tendo lealdade na boa-fé do outro.

Igualmente estribado esta o artigo 3º, I, também da Carta Maior, tendo como
fundamento “construir uma sociedade livre, justa e solidária”, ou seja, lealdade e
solidariedade em sociedade.

4.2. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

Entende-se que o patrimônio do devedor são todos os bens que se encontram em


seu poder ou propriedade.

O patrimônio é diretamente usado para quitar uma dívida existente mesmo se o


bem estiver em poder de terceiro o ato será anulado da mesma forma.

Com o ato fraudulento o terceiro que faz parte do negócio, o possuidor do bem,
não será citado, porém intimado para tomar conhecimento da situação que o bem
se encontra.

Esse princípio relata que o bem do devedor irá sempre responder pelos seus atos
podendo estar em posse ou propriedade do mesmo ou ainda em posse ou
propriedade de terceiros. Sempre se levando em conta se a disposição do bem for
depois de contrair a dívida de forma fraudulenta.

5.. DA FRAUDE

A Fraude, nos dias de hoje, é um ato que esta no nosso dia-a-dia e também nos
tribunais, temos o judiciário abarrotado de processos que envolvem fraudes,
sendo tanto na esfera criminal, nos artigos 171 a 179 do código penal, quanto na
esfera civil com a fraude ao credor, fraude a execução e muitos outros tipos de
fraude com duplicatas, cheques, seguros, etc, ou seja, nos acompanha mais do que
imaginamos.

Humberto Theodoro Júnior nos ensina:

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O homem realmente probo e de conduta


irreprochável, em toda linha, não chega a ser, em
número, o paradigma das grades massas, ou, pelo
menos, não consegue, só com seu exemplo, plasmar
um ambiente do qual a conduta leal e sincera seja o
único padrão observado. Estranhamente, é nas
sociedades mais evoluídas que a fraude se revela
com mais frequência e maior intensidade. Parece
que o progresso da humanidade se faz, no campo da
delinquência, por meio de uma substituição dos
hábitos violentos pelas praxes astuciosas. A lei,
inspirando-se nas fontes éticas, procurar traçar um
projeto de convivência social, onde cada um se
comporte honestamente, de modo a respeitar o
patrimônio alheio e os valores consagrados pela
cultura. O desonesto, porém, consegue sempre
camuflar seu comportamento para, sob a falsa
aparência de legalidade, atingir um resultado que, à
custa do detrimento de outrem, lhe propicie
vantagens e proveitos indevidos ou ilícitos. [10]
(#_ftn10)

Esse ato normalmente esta mascarado, ou seja, escondendo quais são as


verdadeiras intenções com determinadas ações, mas realmente é uma forma de
burlar a lei, confundi pessoas, buscando sempre tirar vantagem de alguma
situação de qualquer forma possível, mesmo que pra isso o ato se torne ilícito.

Alvino Lima descreve:

A fraude consiste, pois, na prática, pelo devedor, de


ato ou atos jurídicos, absolutamente legais em si
mesmo, mais prejudiciais aos interesses dos
credores, frustrando, ciente e conscientemente, a
regra jurídica que institui a garantia patrimonial dos
credores sobre os bens do devedor.

Se encararmos fraude contra as transferências de


direitos, violando-se relações contratuais
preexistentes, verificamos que, para fraudar o
primeiro contratante, o devedor conclui um
segundo negócio, cujo objeto do contrato é o
primeiro. [11] (#_ftn11)

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A fraude esta nitidamente caracterizada no momento em que é praticado um ato


perfeitamente legal, porém por trás desse ato licito há uma violação de regras e
normas legais, acarretando alguma forma de prejuízo para terceiros.

O dolo, a Fraude e simulação fraudulenta, são vícios do negócio jurídico, formas


de fraudar um ato de boa-fé na celebração de algum negócio jurídico.

A diferença é que a simulação é um disfarce no contrato celebrado entre as partes,


ou seja, cria a aparência de um contrato legalmente perfeito, mas na verdade esse
contrato não é de real intenção das partes, porém deixa à vista de terceiros como
contrato perfeito.

Já o dolo tem como finalidade induzir alguém em erro, para uma declaração de
vontade vantajosa, nesse caso o dolo gera negócio jurídico anulável.

Plácido e Silva define fraude:

Entende por fraude o engano malicioso, ou ação


astuciosa de má-fé, para ocultação da verdade ou
fuga ao cumprimento do dever. Assim, a fraude
sempre se funda na prática de ato lesivo a interesse
de terceiros ou da coletividade, ou seja, em ato,
onde se evidencia a intenção de frustrar-se a pessoa
aos deveres obrigacionais ou legais. [12] (#_ftn12)

6. FRAUDE CONTRA CREDOR E FRAUDE CONTRA A EXECUÇÃO –


DIFERENÇAS

Caio Mario da Silva Pereira define fraude contra credores:

Constitui fraude contra credores toda diminuição


maliciosa levada a efeito pelo devedor, com o
proposito de desfalcar aquela garantia, em
detrimento dos direitos creditórios alheios. Não
constitui fraude, portanto, o fato em si de reduzir o
devedor seu ativo patrimonial, seja pela alienação
de um bem, seja pela constituição de garantia em
beneficio de certo credor, seja pela solução do
debito preexistente. O devedor, pelo fato de o ser,
não perde a liberdade de disposição de seus bens. O
que se caracteriza como defeito, e sofre a repressão
da ordem legal, é a diminuição maliciosa do
patrimônio, empreendida pelo devedor com animo
de prejudicar os demais credores ou com
consciência de causar dano. [13] (#_ftn13)

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Como descrito no nosso ordenamento, os bens do devedor sempre responderá por


suas dívidas, podendo ser os mesmos anteriores ou posteriores a dívida. Valendo-
se dessa informação o devedor, de má-fé, acaba por desfaz-se de seus bens para
que em uma futura execução não se encontre bens a serem penhorados para a
quitação da dívida, trazendo prejuízo aos seus credores.

Então para tentar frear atitudes fraudulentas de devedores o nosso ordenamento


jurídico trás algumas formas de evitar esses prejuízos aos credores.

Humberto Theodoro Junior destaca três fontes para coibir esses atos: ação
pauliana, amparada pelo Código Civil nos artigos 158 e seguintes (onde trata da
fraude contra credor), a Lei da falência que através da ação revocatória cuida dos
atos do devedor antes da sua quebra e a Fraude a execução que está discriminada
no novo Código de Processo Civil, artigos 789 a 796.

A fraude a execução é um ato que vai contra a dignidade da justiça, onde o


principal prejudicado é o Estado, essa fraude ocorre quando o devedor aliena ou
onera um bem onde esta pendente de uma ação. No mesmo momento que o
devedor responde por uma ação judicial, para a quitação de uma dívida, o mesmo
se desfaz do bem que seria usado para a execução da referida ação, os casos
possíveis dessa fraude estão elencados no artigo 792 do novo Código de Processo
Civil.

A partir do reconhecimento da fraude à execução, é reconhecida a alienação da


coisa ou do direito litigioso, o alienante que responderá pela ação também terá
que suportar os efeitos da sentença junto com o terceiro que estiver com o bem.

É importante ressaltar que o devedor que cometer Fraude a execução comete o


crime previsto no artigo 179 do Código Penal.

Para o reconhecimento da fraude a execução, o credor que tiver suspeita do


devedor pode requerer por meio de petição simples ou alegar na contestação dos
embargos de terceiro. A partir do reconhecimento da fraude, o Juiz deve a
requerimento das partes ou de ofício reconhecê-la aplicando a essa à ineficácia,
conforme previsto no artigo 790, V do novo Código de Processo Civil, e assim
impor a penhora sobre o bem que estiver em posse do proprietário ou de terceiros.

O Juiz responsável pelo processo reconhece a Fraude através de uma declaração


simples de ineficácia do negócio jurídico que fraudou a execução e o bem continua
no nome do terceiro adquirente, porém vai responder pela execução.

Já na fraude contra credores, o maior prejudicado é o credor, pois sua garantia de


quitação da dívida se vai junto com o bem. É um ato com vício social, pois ocorre
com a doação, alienação ou oneração do bem ou direito deixando assim o devedor
sem condições financeiras de responder por sua dívida.

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Para o reconhecimento da fraude contra o credor, é ajuizada a ação Pauliana ou


Revocatória, não podendo o juiz reconhecer de ofício nem o reconhecimento nos
embargos de terceiro. Sendo o efeito da sentença a anulação do ato fraudulento
com o bem que foi onerado ou alienado voltando a integrar o patrimônio do
devedor.

Para Humberto Theodoro Junior:

a) a fraude contra credores pressupõe sempre um


devedor em estado de insolvência e ocorre antes que
os credores tenham ingressado em juízo para cobrar
seus créditos; é causa de anulação do ato de
disposição praticado pelo devedor;

b) a fraude de execução não depende,


necessariamente, do estado de insolvência do
devedor e só ocorre no curso de ação judicial contra
o alienante; é causa de ineficácia da alienação. [14]
(#_ftn14)

7. ELEMENTOS DA FRAUDE CONTRA O CREDOR

Carlos Roberto Gonçalves elenca os elementos que constituem a Fraude Contra


Credor:

Elementos Objetivos (eventus damni) – (prejuízo ao


credor): Atos prejudiciais ao credor, que diminui o
patrimônio do devedor, por tornar o devedor
insolvente ou por ter sido realizado em insolvência.

Elementos Subjetivos (consilium fraudi) –


(presunção legal do intuito fraudulento): má-fé,
intenção de prejudicar para ilidir os efeitos da
cobrança.

Elemento da Anterioridade do crédito – A dívida


tem que ser anterior ao ato fraudulento, elemento
fácil de detectar, pois o credor não ira ceder o
credito ao devedor se esse não tiver como pagar.
Logo o crédito deve ser anterior à alienação do bem.
[15] (#_ftn15)

Em relação à anulação dos atos práticos pelo devedor o Código Civil de 2002
prevê:

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Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de


bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor
já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência,
ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos
credores quirografários, como lesivos dos seus
direitos.

§ 2º Só os credores que já o eram ao tempo


daqueles atos podem pleitear a anulação deles. [16]
(#_ftn16)

Clóvis Beviláqua em sua obra “Teoria Geral do Direito Civil” e Maria Helena Diniz
em sua obra “Curso de Direito Civil brasileiro”, afirmam que o consilium fraudis
não necessita de prova cabal, sendo presumido, especialmente, nos negócios
gratuitos, ou seja, a má-fé pode derivar das circunstâncias do negócio
supostamente fraudulento.

No mesmo entendimento Yussef Said Cahali afirma:

Que a jurisprudência e parte da doutrina


reconhecem que, em situações excepcionais, é
afastável esse elemento da anterioridade do crédito,
principalmente quando ocorre a fraude
predeterminada para atingir credores futuros. [17]
(#_ftn17)

Podemos utilizar como exemplo de fraude predeterminada aquela em que o


devedor induz em erro o mutuante, preenchendo ficha cadastral aparentemente
correta, com indicação de propriedade de diversos bens imóveis, e, logo após,
antes da assinatura do contrato e às vésperas de receber o empréstimo, doa seus
bens aos filhos, restando insolvente.

Esse ato fraudulento ocorre tanto no negócio jurídico verdadeiro (concreto), que
são passíveis de anulação, quanto no negócio simulado, que são nulos de pleno
direito.

8. DIVERGÊNCIAS DOUTRINÁRIAS

Arnold Wald, afirma:

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O Código distingue entre os atos gratuitos e os atos


onerosos. Quanto aos primeiros são anuláveis pela
simples prova de sua relação com a insolvência. Os
segundos só podem ser anulados quando a
insolvência for notória ou houver motivo para ser
conhecida do outro contraente, ou quando for
provado o Consilium Fraudis, ou seja, a má fé do
adquirente. [18] (#_ftn18)

A caracterização dos elementos da ação pauliana trás muitas divergências, sendo


que a caracterização da mesma, como visto anteriormente existe a necessidade de
preenchimento de três elementos: consilium fraudis, eventus damini e
anterioridade do crédito. Por unanimidade o único elemento com obrigatoriedade
de existir é o eventos damni, enquanto ou outros elementos não são essenciais.

Washington de Barros Monteiro destaca que:

O direito pátrio contenta-se com o eventus damni;


não exige que o ato seja intrinsecamente
fraudulento. ou melhor, presume a fraude, uma vez
demonstrados referidos pressupostos.[19] (#_ftn19)

Porém nas palavras de Pontes de Miranda:

O Consilium Fraudis não é necessariamente um


elemento, bastando o Eventus damni: "No sentido
exato de intenção, por parte daquele a quem se
transmite, gratuitamente ou a quem se remete a
dívida. [20] (#_ftn20)

Arnold Wald defende outro entendimento:

O Código distingue entre os atos gratuitos e os atos


onerosos. Quanto aos primeiros são anuláveis pela
simples prova de sua relação com a insolvência. Os
segundos só podem ser anulados quando a
insolvência for notória ou houver motivo para ser
conhecida do outro contraente, ou quando for
provado o Consilium Fraudis, ou seja, a má fé do
adquirente. [21] (#_ftn21)

Conforme César Fiuza, para a caracterização da fraude contra credores no direito


em geral, é:

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Imprescindível a existência do binômio: consilium


fraudis e eventus damni. O primeiro pode ser
definido como o conluio de vontades no intuito de
fraudar credores. O segundo propriamente define-se
como a ocorrência de dano, isto é, prejuízo para
credores. No entanto, o direito civil brasileiro exige
tão somente a existência deste último, sendo
o consilium fraudis presumível. [22] (#_ftn22)

Fausto Pereira de Lacerda Filho, defende a ideia de que:

Assim, conclui-se que o devedor age em fraude aos


credores quando tem pleno conhecimento de sua
situação patrimonial e sabe que qualquer alteração
no sentido de diminuí-la, importará na
impossibilidade de saldar seus compromissos. E o
Consilium Fraudis estará evidenciado quando as
circunstâncias demonstrarem que o devedor não
podia ignorar que o ato praticado torná-lo-ia
insolvente ou agravaria a insolvência, se
preexistente. [23] (#_ftn23)

Depois de muita leitura sobre o tema, ficou evidente que, tanto o elemento
objetivo (eventus damni), que figura no prejuízo ao credor, tendo o mesmo um
desfalque, de qualquer quantia. Quanto o elemento subjetivo (consilium fraudi),
presunção legal do intuito fraudulento, que é a má-fé do devedor que celebrou o
contrato, formando assim os elementos necessários para dar inicio a ação
pauliana, pois o credor teve um prejuízo que foi premeditado pelo devedor. A ação
praticada não foi selada de forma honesta, pois atrás do ato legal de doar, vender
ou alienar um bem, esta a desonestidade do devedor em relação a dívida contraída
pelo mesmo, fazendo o seu credor ter um desfalque. Por esse motivo, para o
ajuizamento da ação pauliana basta que esteja de forma clara e evidente o prejuízo
do credor e a má fé do devedor.

9. AÇÃO PAULIANA

Pelo argumento de Silvio Rodrigues:

Os credores posteriores aos atos de transmissão de


bens pelo devedor insolvente já encontram seu
patrimônio desfalcado, razão pela qual não podem
reclamar contra uma situação conhecida, ou que só
desconheciam porque foram negligentes quando da
realização do negócio jurídico com o devedor. [24]
(#_ftn24)

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Com a inovação na forma de pagamento da dívida com a Lex Poetelia Papiria,


fazendo com que as penas corporais para a quitação da dívida fossem banidas do
ordenamento, junto com ela aumentou as fraudes, ou seja, manobras fraudulentas
para a não quitação da dívida.

Fraude essa prevista no artigo 106 do Código Civil de 1916, para que as ações
fraudulentas desde aquela época fossem combatida surgindo assim a ação
pauliana, que é usada para anular a alienação fraudulenta, para que assim o
credor venha a receber o que é seu por direito

Sendo assim a fraude fica caracterizada se ouve atos como alienação gratuita ou
onerosa dos bens, remissão de dívidas, renúncia de herança, privilégio concedido
a um dos credores.

Sua natureza jurídica da ação iniciada para combater fraude é rodeada por
correntes de pensamentos diferentes. A primeira e mais tradicional, defendida por
Nelson Nery Junior usa como ponto de partida o artigo 165 do Código Civil,
defendendo a ideia de uma sentença anulatória. Porém a segunda corrente mais
nova e moderna, defendida por Yussef Said Cahali, trás a nova ideia de efeito de
simples declaração da ineficácia do negócio jurídico que prejudica o credor.

Essa ação se inicia no momento em que é detectada a fraude contra o credor,


tendo como finalidade desfazer a ação que prejudicou o pagamento do devedor ao
credor.

A lei existe para proteção do credor, anulando o negócio fraudulento, tese que
gera muito desentendimento.

Mesmo a lei usando a expressão “poderá” a doutrina entende que a ação


obrigatoriamente tem que ser proposta contra o devedor insolvente e a pessoa que
estiver na posse e propriedade do bem, que terá que ser reavido, se o bem for
doado a ação será contra o devedor e o beneficiário da doação e ainda quando o
bem for dado em garantia, penhora ou hipoteca, o caso trata de litisconsórcio
necessário.

9.1. LEGIMITIDADE ATIVA

Silvio de Salvo Venosa afirma:

Têm legitimidade para propor a ação pauliana


somente os credores que já o eram ao tempo
daqueles atos considerados fraudulentos. [25]
(#_ftn25)

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Como mostra o artigo 158, §2º, do Código Civil, a pessoa com legitimidade para
propor a ação é, somente o credor que já tinha um crédito a receber antes da ação
fraudulenta. Mesmo a dívida não estando vencida a ação pode ser movida contra o
devedor, basta que a dívida exista antes da fraude.

O credor com garantia real também pode interpor ação pauliana, desde o
momento que a garantia se torne insuficiente para o pagamento da dívida,
também descrito no artigo 158 do Código Civil.

9.2. LEGITIMIDADE PASSIVA

Essa ação poderá ser movida contra qualquer devedor insolvente e toda e
qualquer pessoa que tenha celebrado com o mesmo um negócio jurídico ou um
terceiro que tenha agido de má-fé, conforme previsto no artigo 161 do Código Civil
de 2002.

10. EFEITO DA SENTENÇA NA AÇÃO PAULIANA

O principal efeito da ação pauliana é revogar o


negócio lesivo aos interesses dos credores, repondo
o bem no patrimônio do devedor, cancelando a
garantia real concedida em proveito do acervo sobre
que se tenha de efetuar o concurso de credores,
possibilitando a efetivação do rateio, aproveitando a
todos os credores e não apenas ao que a intentou.
[26] (#_ftn26)

Diz-se então que o ato é valido quando esse produz efeitos na esfera jurídica.

Esse é um tema com divergências tanto em doutrinas quanto em jurisprudência.


Ação pauliana tem o intuito de combater a fraude contra credor, o ato fraudulento
que traga prejuízo. Para a afirmação de qual efeito a sentença da ação pauliana
trará ao ato em si existem duas correntes divergentes. A primeira acredita em
ineficácia relativa do ato e a segunda defende a anulabilidade do ato.

Cândido Rangel Dinamarco discorre:

Se o ato fosse efetivamente anulado, criaria


situações injustas, castigando o comprador além
daquilo a que se visa com o instituto da fraude
contra credores, e, de outro lado, trazendo um
benefício ao devedor fraudador. Como interessa ao
sistema jurídico a eficácia do processo, basta
neutralizar a fraude com a ineficácia do ato,
sujeitando os bens à garantia do credor, na medida
necessária para assegurar a satisfação de seu
crédito. [27] (#_ftn27)

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Abaixo segue uma divergência jurisprudencial em relação à ação pauliana:

A 13ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do


Paraná, declarou ineficaz compra e venda de imóvel
em ação pauliana, tendo o Rel. Des. Antônio
Domingos Ramina assim se manifestado em seu
voto: “embora o Código Civil, tanto o atual (art. 171,
II) como o de 1916 (art. 147, II) disponham que é
anulável o negócio jurídico praticado em fraude
contra credores, sabe-se que a melhor doutrina vem
se definindo no sentido de que a fraude contra
credores gera a ineficácia do ato lesivo, o que é
aceito na jurisprudência com vistas à preservação
dos interesses do credor e a evitar que o devedor
fraudador se beneficie da sua própria
torpeza” (Apelação Cível 181.839-1, J. em
16.11.2005).

A doutrina majoritária interpreta a ação pauliana como um vício social, por estar
diretamente ligado ao objetivo do negócio jurídico que se resume na intenção,
finalidade do ato. Os demais vícios são vistos como vícios de consentimento, pois
chega a atingir somente o negócio jurídico em si, a vontade que evolve o ato.

Apesar dos divergentes entendimentos em torno do efeito da sentença, o


pensamento dos legisladores continua fiel ao Código de 1916. No artigo 165 do
atual Código Civil a palavra é “anulável”, continuando assim os ensinamentos
anteriores, com os bens voltando a integrar o patrimônio do devedor para que
esses respondam pela dívida existente.

Porém em alguns Tribunais como a 13ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do


Paraná, estão cada dia mudando mais sua maneira de pensar, pois o efeito agora é
visto de uma maneira mais simples, como ineficaz o ato fraudulento para
resguardar os direitos do credor.

11. DIVERGÊNCIAS DO TEMA

Essa mudança de entendimento em relação ao efeito de sentença, também vem


evoluindo junto com a sociedade. A ação é proposta para que o bem que tenha
deixado de fazer parte do patrimônio do devedor, seja por doação, venda ou
alienação, volte a integrar esse patrimônio para que uma dívida existente possa
ser quitada. Para entender qual a real diferença entre o anulabilidade e a
ineficácia, a melhor forma é entender a essência da palavra.

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O atual Código continuou com o entendimento do Código de 1916, no artigo 165,


usa a expressão “anulável”, que é a defeito da ação pauliana, anulando todo e
qualquer negócio fraudulento, fazendo o bem voltar ao patrimônio do devedor
para assim responder pelas dívidas.

As doutrinas vêm mudando sua forma de pensamento e alteraram o entendimento


por não considerar anuláveis os atos praticados pelo devedor.

No entendimento atual em relação a ação pauliana tem prevalecido a vontade da


lei, sendo ato anulável e o bem voltando a integrar o patrimônio do devedor. Em
alguns casos já estão sendo sentenciados de forma diferente, como o relato acima
da 13ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná, declarou ineficaz compra e
venda de imóvel em ação pauliana.

Como pode ser visto se o efeito da sentença da ação pauliana for declarar
ineficácia, o credor tem, pode-se dizer, mais facilidade de retirar aquele bem para
quitação da dívida. Sendo mais rápida e eficaz ação movida, pois independente de
com quem esteja o bem, a dívida vai ser quitada, o credor não sofrera danos pela
má-fé de seu devedor.

Ações essas que não são poucas, pois o ato fraudulento irá existir por toda
história, como existe pessoas de má-fé, e cada vez mais, credores se valem da
justiça para invocar seu direito para não sofrer desfalque no seu patrimônio.

12. CONSIDERAÇÕES FINAIS

É certo e justo que, junto com a evolução da vida em sociedade a lei e seus
entendimentos também evoluam, para melhor atender as vontades e necessidades
dos conviventes em sociedade. Como já foi dito anteriormente, nos tempos bem
antigos as pessoas pagavam a dívida com punições corporais, mas a sociedade
evoluiu e hoje se paga a dívida com o patrimônio, pois é mais dolorido para o
homem que mexam em suas propriedades. Pois se assim não fosse, não existiria
tanta fraude, muito menos o Estado teria que intervir nas relações para obrigar
uma pessoa a deixar de fraudar negócios jurídicos para a quitação de uma dívida
existente.

Os princípios são sempre um bom alicerce para um norte de um determinado


assunto, sem eles seria mais difícil basear entendimentos e interpretações, por
isso esse assunto não existe divergências.

A Fraude a Execução e a Fraude ao Credor tem uma diferença sutil que: na fraude
a execução já existe uma ação ajuizada contra o devedor que então se desfaz dos
seus bens que seria usado para a execução da mesma e para o reconhecimento da
fraude basta uma petição simples ou alegar na contestação dos embargos de
terceiro. Com o reconhecimento da fraude o bem continua no nome do terceiro
adquirente, porém vai responder pela execução. E na fraude contra o credor, só
existe a dívida e não uma ação proposta, após contrair a dívida o devedor se desfaz

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dos bens se tornando insolvente, para o reconhecimento da atual fraude se inicia a


ação chamada ação pauliana ou revocatória que tem com efeito de sentença a
anulação do ato fraudulento retornando o bem a integrar o patrimônio do
devedor.

O efeito da atual sentença é uma matéria interessante de estudos, pois divide


opiniões nos dias de hoje, por ter seguidores da linha tradicional anulando o ato
fraudulento fazendo o bem voltar a integrar o patrimônio do devedor. E linhas
modernas que entendem pela ineficácia do ato, não precisando o bem voltar a
integrar o patrimônio do devedor, mas respondera pela dívida independente de
que possua ou tenha propriedade.

A Fraude Contra Credor é caracterizada quando o devedor insolvente ou na


iminência de se tornar insolvente se desfaz de seus bens para impossibilitar que
seus credores tomem esses bens como pagamentos de dívidas. É um artifício
ilícito e anulável, previsto no artigo 158 até o artigo 165 do Código Civil de 2002. O
Código permite aos credores, em detrimento de seus interesses, desfazer os atos
fraudulentos praticados pelos devedores através da ação pauliana, desde que
ocorridos os pressupostos que caracterizam a fraude contra credores.

13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] (#_ftnref1) CONSTITUIÇÃO FEDERAL:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm

[2] (#_ftnref2) THEODORO JÚNIOR, Humberto. Fraude contra credores: a


natureza da sentença pauliana. 2. ed. rev. atual. e ampl. Belo Horizonte, MG: Del
Rey, 2001.

[3] (#_ftnref3) GRECO, Leonardo. O processo de execução. Rio de Janeiro: Renovar,


1999, pg. 11.

[4] (#_ftnref4) CAHALI, Yussef Said. Fraudes contra credores: fraude contra
credores, fraude à execução, ação revocatória falencial, fraude à execução fiscal e
fraude à execução penal. 4.ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2008, pg. 63-64.

[5] (#_ftnref5) DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral
das obrigações. 22. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. 7 v.

[6] (#_ftnref6) RODRIGUES, Silvio. Direito civil: parte geral. 34. ed. atual. de
acordo com o novo Código Civil São Paulo: Saraiva, 2006, p. 229. Recurso online
(e-book).

https://jus.com.br/imprimir/57836/fraude-contra-o-credor 02/09/2019
Fraude contra o credor - Jus.com.br | Jus Navigandi Page 20 of 21

[7] (#_ftnref7) WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Controle das decisões judiciais por
meio de recursos de estrito direito e de ação rescisória: recurso especial, recurso
extraordinário e ação rescisória : o que é uma decisão contrária à lei?. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2002, pg.58 a 61.

[8] (#_ftnref8) MEDINA, José Miguel Garcia. Curso de direito Processual Civil, V1,
p. 105.

[9] (#_ftnref9) CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm

[10] (#_ftnref10) THEODORO JÚNIOR, Humberto. Comentários ao Código Civil –


Dos Defeitos do negócio jurídico ao final do Livro III, volume III, Tomo I, Rio de
Janeiro, Editora Forense, 2003, p. 253.

[11] (#_ftnref11) LIMA, Alvino. A Fraude no Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 1965,
p. 24.

[12] (#_ftnref12) SILVA, De Plácido e; SLAIBI FILHO, Nagib; CARVALHO,


Gláucia. Vocabulário jurídico conciso. 2. ed. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2010.

[13] (#_ftnref13) PEREIRA, Caio Mário da Silva, Instituições de direito civil – v. I /


Atual. Maria Celina Bodin de Moraes. – 30. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro:
Forense, 2017. p. 449. Recurso online (e-book).

[14] (#_ftnref14) THEODORO JÚNIOR, Humberto. Comentários ao Código Civil –


Dos Defeitos do negócio jurídico ao final do Livro III, volume III, Tomo I, Rio de
Janeiro, Editora Forense, 2003, p. 101.

[15] (#_ftnref15) GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 1. Parte
Geral. 6 ed. Ver. E atual. São Paulo: Saraiva 2008.

[16] (#_ftnref16) CÓDIGO CIVIL:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm

[17] (#_ftnref17) CAHALI, Yussef Said. Fraudes contra credores: fraude contra
credores, fraude à execução, ação revocatória falencial, fraude à execução fiscal e
fraude à execução penal. 4.ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2008.

[18] (#_ftnref18) WALD, Arnoldo; CAVALCANTI, Ana Elizabeth; PAESANI, Liliana


Minardi. Direito civil: introdução e parte geral. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

[19] (#_ftnref19) MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil,


v.1 : parte geral. 43. São Paulo Saraiva 2010. p. 298. Recurso online (e-book).

[20] (#_ftnref20) MIRANDA, Pontes De. Tratado de Direito Privado, tomo XXII,
3º Edição, Rio de Janeiro: Ed. Borsoi, 1.971.

https://jus.com.br/imprimir/57836/fraude-contra-o-credor 02/09/2019
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[21] (#_ftnref21) WALD, Arnoldo; CAVALCANTI, Ana Elizabeth; PAESANI, Liliana


Minardi. Direito civil: introdução e parte geral. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

[22] (#_ftnref22) FIUZA, Cezar. Direito civil: curso completo. 7. ed., rev., atual. e
ampl. de acordo com o cód Belo Horizonte, MG: Del Rey, 2003.

[23] (#_ftnref23) LACERDA FILHO, F. P. Nova enciclopédia de prática processual,


3º vol., Curitiba: Ed. Carvalho Pacheco Edições Ltda, 1.980, p.44.

[24] (#_ftnref24) RODRIGUES, Silvio. Direito civil: parte geral. 34. ed. atual. de
acordo com o novo Código Civil São Paulo: Saraiva, 2006. Recurso online
(e-book).

[25] (#_ftnref25) VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil - Parte Geral, 8ª ed. São
Paulo: Atlas, 2008.

[26] (#_ftnref26) DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral
das obrigações. 22. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. 7 v.

[27] (#_ftnref27) DINAMARCO, Cândido R. Execução civil. 8. ed. rev. atual. São
Paulo: Malheiros, 2002.

Autor
Vanderlei Francisco de Carvalho

Graduando em Direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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são divulgados na Revista Jus Navigandi.

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