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RESUMO
O presente artigo abordará sobre a Fraude Contra Credor, trazendo sua evolução
histórica, o conceito da fraude contra o credor, seus princípios e a fraude de modo
geral. Apresentará ainda a diferença entre fraude contra o credor e fraude a
execução. Abordará ainda os elementos existentes na Fraude Contra o Credor para
sua caracterização. Quando caracterizada a fraude, no âmbito jurídico, será
aplicada a ação pauliana cujo objetivo é a anulação dos negócios jurídicos
realizados por devedores insolventes dos bens que seriam utilizados para o
pagamento das dívidas referentes a uma ação de execução, sendo observada a
legitimidade das partes, sua forma e os efeitos da sentença.
ABSTRACT
This article will deal with Fraud Against Lender, bringing its historical evolution,
the concept of fraud against the lender, its principles and fraud in general. It will
also present the difference between fraud against the lender and execution fraud.
It will also address the elements of the Fraud Against the Lender for its
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1. INTRODUÇÃO
Para que o convívio das pessoas em sociedade seja harmonioso o direito figura
como ator principal estabelecendo os direitos individuais e coletivos. Ou seja,
onde partimos do pressuposto que onde termina o direito de um indivíduo
começa o direito do outro, evitando desse modo, a ultrapassagem das barreiras.
Porém, podemos perceber que a teoria nem sempre é igual ao que ocorre no
mundo real. Existem casos onde indivíduos para defender seus próprios interesses
são capazes de ferir direitos de terceiros. Nesses casos o judiciário interfere no
momento da violação do direito para assim o defender e restituir a situação
anterior.
[...]
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É nessa linha de raciocínio que o atual artigo será trabalhado, o qual tratará da
Fraude Contra Credor, trazendo sua evolução histórica onde a pessoa pagava as
suas dívidas com punições corporais, o devedor poderia ser escravizado ou morto
pelo seu credor e até a atualidade onde o que responde pela dívida do individuo é
seu patrimônio. Situação essa que deixa uma margem gigante para fraudes.
Fraudes com patrimônios que poderiam ser usados para quitar a dívida, porém no
meio do desenrolar da situação os mesmos patrimônios desaparecem, deixando o
credor em situação de não pagamento da dívida.
O presente artigo tratará das formas como o credor pode vir a se proteger das
fraudes que possa ser vítima, descrevendo a ação pauliana, seus princípios e
elementos que trazem divergências de entendimento.
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA
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Antes dos bens do devedor pagar por sua dívida, o corpo físico respondia por elas.
O devedor era colocado em exposição. E a partir do momento que mesmo com
todas as alternativas a dívida não era quitada, o credor se tornava dono do
devedor e esse seu escravo. Podendo então cometer as maiores atrocidades com
seu servo.
Surgiu então a Lex Poetelia Papira e a partir desse momento as dívidas não eram
mais pagas com o corpo do devedor e sim com todos os bens que o mesmo possuía
ou trabalharia para o credor até o pagamento de sua dívida.
A Lex Poetelia Papira foi uma lei aprovada na Roma Antiga, 326 a.C., onde foi
abolida a forma de contrato de Nexum ou a famosa servidão por dívida, ou seja,
podendo somente o devedor ser preso para pagar a dívida ou entregar todos os
seus bens, pelo cessio bonorum.
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Com o passar dos tempos os juristas foram aprimorando suas ideias para tentar
frear essa prática criando assim o que conhecemos hoje como ação pauliana (Actio
pauliana), chamada assim porque sua criação é atribuída ao pretor Paulus.
Aplicada sempre as fraudes já existentes, ação revocatória ou pauliana. Porém do
período do Direito Romano até os dias atuais esse tipo de ação esteve sempre em
constante evolução. A partir desse momento o devedor torna-se insolvente,
doando ou alienando seus bens que seriam de seus credores por direito e a solução
encontrada para esse problema foi então a ação pauliana.
3. CONCEITO
A Fraude contra credor é vista como um defeito no negócio jurídico, assim como
erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão.
De uma forma simplista podemos entender a fraude contra credor como abuso de
confiança, ação praticada de má-fé, etc.
4. PRINCÍPIOS
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Dessa forma, para que o credor não saia prejudicado em um negócio jurídico onde
o devedor tenta se desfazer dos seus bens para a não quitação da dívida o
instrumento cabível nessa hipótese são ações prevista em nosso Código Civil para
evitar a fraude
Igualmente estribado esta o artigo 3º, I, também da Carta Maior, tendo como
fundamento “construir uma sociedade livre, justa e solidária”, ou seja, lealdade e
solidariedade em sociedade.
Com o ato fraudulento o terceiro que faz parte do negócio, o possuidor do bem,
não será citado, porém intimado para tomar conhecimento da situação que o bem
se encontra.
Esse princípio relata que o bem do devedor irá sempre responder pelos seus atos
podendo estar em posse ou propriedade do mesmo ou ainda em posse ou
propriedade de terceiros. Sempre se levando em conta se a disposição do bem for
depois de contrair a dívida de forma fraudulenta.
5.. DA FRAUDE
A Fraude, nos dias de hoje, é um ato que esta no nosso dia-a-dia e também nos
tribunais, temos o judiciário abarrotado de processos que envolvem fraudes,
sendo tanto na esfera criminal, nos artigos 171 a 179 do código penal, quanto na
esfera civil com a fraude ao credor, fraude a execução e muitos outros tipos de
fraude com duplicatas, cheques, seguros, etc, ou seja, nos acompanha mais do que
imaginamos.
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Já o dolo tem como finalidade induzir alguém em erro, para uma declaração de
vontade vantajosa, nesse caso o dolo gera negócio jurídico anulável.
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Humberto Theodoro Junior destaca três fontes para coibir esses atos: ação
pauliana, amparada pelo Código Civil nos artigos 158 e seguintes (onde trata da
fraude contra credor), a Lei da falência que através da ação revocatória cuida dos
atos do devedor antes da sua quebra e a Fraude a execução que está discriminada
no novo Código de Processo Civil, artigos 789 a 796.
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Em relação à anulação dos atos práticos pelo devedor o Código Civil de 2002
prevê:
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Clóvis Beviláqua em sua obra “Teoria Geral do Direito Civil” e Maria Helena Diniz
em sua obra “Curso de Direito Civil brasileiro”, afirmam que o consilium fraudis
não necessita de prova cabal, sendo presumido, especialmente, nos negócios
gratuitos, ou seja, a má-fé pode derivar das circunstâncias do negócio
supostamente fraudulento.
Esse ato fraudulento ocorre tanto no negócio jurídico verdadeiro (concreto), que
são passíveis de anulação, quanto no negócio simulado, que são nulos de pleno
direito.
8. DIVERGÊNCIAS DOUTRINÁRIAS
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Depois de muita leitura sobre o tema, ficou evidente que, tanto o elemento
objetivo (eventus damni), que figura no prejuízo ao credor, tendo o mesmo um
desfalque, de qualquer quantia. Quanto o elemento subjetivo (consilium fraudi),
presunção legal do intuito fraudulento, que é a má-fé do devedor que celebrou o
contrato, formando assim os elementos necessários para dar inicio a ação
pauliana, pois o credor teve um prejuízo que foi premeditado pelo devedor. A ação
praticada não foi selada de forma honesta, pois atrás do ato legal de doar, vender
ou alienar um bem, esta a desonestidade do devedor em relação a dívida contraída
pelo mesmo, fazendo o seu credor ter um desfalque. Por esse motivo, para o
ajuizamento da ação pauliana basta que esteja de forma clara e evidente o prejuízo
do credor e a má fé do devedor.
9. AÇÃO PAULIANA
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Fraude essa prevista no artigo 106 do Código Civil de 1916, para que as ações
fraudulentas desde aquela época fossem combatida surgindo assim a ação
pauliana, que é usada para anular a alienação fraudulenta, para que assim o
credor venha a receber o que é seu por direito
Sendo assim a fraude fica caracterizada se ouve atos como alienação gratuita ou
onerosa dos bens, remissão de dívidas, renúncia de herança, privilégio concedido
a um dos credores.
Sua natureza jurídica da ação iniciada para combater fraude é rodeada por
correntes de pensamentos diferentes. A primeira e mais tradicional, defendida por
Nelson Nery Junior usa como ponto de partida o artigo 165 do Código Civil,
defendendo a ideia de uma sentença anulatória. Porém a segunda corrente mais
nova e moderna, defendida por Yussef Said Cahali, trás a nova ideia de efeito de
simples declaração da ineficácia do negócio jurídico que prejudica o credor.
A lei existe para proteção do credor, anulando o negócio fraudulento, tese que
gera muito desentendimento.
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Como mostra o artigo 158, §2º, do Código Civil, a pessoa com legitimidade para
propor a ação é, somente o credor que já tinha um crédito a receber antes da ação
fraudulenta. Mesmo a dívida não estando vencida a ação pode ser movida contra o
devedor, basta que a dívida exista antes da fraude.
O credor com garantia real também pode interpor ação pauliana, desde o
momento que a garantia se torne insuficiente para o pagamento da dívida,
também descrito no artigo 158 do Código Civil.
Essa ação poderá ser movida contra qualquer devedor insolvente e toda e
qualquer pessoa que tenha celebrado com o mesmo um negócio jurídico ou um
terceiro que tenha agido de má-fé, conforme previsto no artigo 161 do Código Civil
de 2002.
Diz-se então que o ato é valido quando esse produz efeitos na esfera jurídica.
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A doutrina majoritária interpreta a ação pauliana como um vício social, por estar
diretamente ligado ao objetivo do negócio jurídico que se resume na intenção,
finalidade do ato. Os demais vícios são vistos como vícios de consentimento, pois
chega a atingir somente o negócio jurídico em si, a vontade que evolve o ato.
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Como pode ser visto se o efeito da sentença da ação pauliana for declarar
ineficácia, o credor tem, pode-se dizer, mais facilidade de retirar aquele bem para
quitação da dívida. Sendo mais rápida e eficaz ação movida, pois independente de
com quem esteja o bem, a dívida vai ser quitada, o credor não sofrera danos pela
má-fé de seu devedor.
Ações essas que não são poucas, pois o ato fraudulento irá existir por toda
história, como existe pessoas de má-fé, e cada vez mais, credores se valem da
justiça para invocar seu direito para não sofrer desfalque no seu patrimônio.
É certo e justo que, junto com a evolução da vida em sociedade a lei e seus
entendimentos também evoluam, para melhor atender as vontades e necessidades
dos conviventes em sociedade. Como já foi dito anteriormente, nos tempos bem
antigos as pessoas pagavam a dívida com punições corporais, mas a sociedade
evoluiu e hoje se paga a dívida com o patrimônio, pois é mais dolorido para o
homem que mexam em suas propriedades. Pois se assim não fosse, não existiria
tanta fraude, muito menos o Estado teria que intervir nas relações para obrigar
uma pessoa a deixar de fraudar negócios jurídicos para a quitação de uma dívida
existente.
A Fraude a Execução e a Fraude ao Credor tem uma diferença sutil que: na fraude
a execução já existe uma ação ajuizada contra o devedor que então se desfaz dos
seus bens que seria usado para a execução da mesma e para o reconhecimento da
fraude basta uma petição simples ou alegar na contestação dos embargos de
terceiro. Com o reconhecimento da fraude o bem continua no nome do terceiro
adquirente, porém vai responder pela execução. E na fraude contra o credor, só
existe a dívida e não uma ação proposta, após contrair a dívida o devedor se desfaz
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[4] (#_ftnref4) CAHALI, Yussef Said. Fraudes contra credores: fraude contra
credores, fraude à execução, ação revocatória falencial, fraude à execução fiscal e
fraude à execução penal. 4.ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2008, pg. 63-64.
[5] (#_ftnref5) DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral
das obrigações. 22. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. 7 v.
[6] (#_ftnref6) RODRIGUES, Silvio. Direito civil: parte geral. 34. ed. atual. de
acordo com o novo Código Civil São Paulo: Saraiva, 2006, p. 229. Recurso online
(e-book).
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[7] (#_ftnref7) WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Controle das decisões judiciais por
meio de recursos de estrito direito e de ação rescisória: recurso especial, recurso
extraordinário e ação rescisória : o que é uma decisão contrária à lei?. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2002, pg.58 a 61.
[8] (#_ftnref8) MEDINA, José Miguel Garcia. Curso de direito Processual Civil, V1,
p. 105.
[11] (#_ftnref11) LIMA, Alvino. A Fraude no Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 1965,
p. 24.
[15] (#_ftnref15) GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 1. Parte
Geral. 6 ed. Ver. E atual. São Paulo: Saraiva 2008.
[17] (#_ftnref17) CAHALI, Yussef Said. Fraudes contra credores: fraude contra
credores, fraude à execução, ação revocatória falencial, fraude à execução fiscal e
fraude à execução penal. 4.ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2008.
[20] (#_ftnref20) MIRANDA, Pontes De. Tratado de Direito Privado, tomo XXII,
3º Edição, Rio de Janeiro: Ed. Borsoi, 1.971.
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[22] (#_ftnref22) FIUZA, Cezar. Direito civil: curso completo. 7. ed., rev., atual. e
ampl. de acordo com o cód Belo Horizonte, MG: Del Rey, 2003.
[24] (#_ftnref24) RODRIGUES, Silvio. Direito civil: parte geral. 34. ed. atual. de
acordo com o novo Código Civil São Paulo: Saraiva, 2006. Recurso online
(e-book).
[25] (#_ftnref25) VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil - Parte Geral, 8ª ed. São
Paulo: Atlas, 2008.
[26] (#_ftnref26) DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral
das obrigações. 22. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. 7 v.
[27] (#_ftnref27) DINAMARCO, Cândido R. Execução civil. 8. ed. rev. atual. São
Paulo: Malheiros, 2002.
Autor
Vanderlei Francisco de Carvalho
Este texto foi publicado diretamente pelo autor. Sua divulgação não depende de
prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos
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