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OPINIÃO
FERNANDO VICENTE
Algum dia se escreverá um grande livro sobre a heroica luta do povo venezuelano contra
a ditadura de Chávez e Maduro, que recorde os sofrimentos que padeceu durante todos
estes anos sem deixar de resistir, apesar dos torturados e dos assassinados, da
catástrofe econômica — provavelmente a mais atroz que a história moderna recorda —
que levou um país potencialmente muito rico à fome coletiva e obrigou quase três
milhões de cidadãos a fugirem, a pé, em direção aos países vizinhos para não perecerem
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pela falta de trabalho, de comida, de remédios e de esperança. Menos mal que o martírio
da Venezuela parece chegar ao seu fim, graças ao novo ímpeto inoculado na resistência
por Juan Guaidó e outros jovens dirigentes.
Mas por que então esses jovens oficiais – tenentes, capitães – e soldados golpeados
pela atroz crise econômica não se rebelam contra a tirania de Maduro, assim como o
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resto da população venezuelana? Por uma razão também muito simples. Pela vigilância
estrita e implacável exercida sobre as Forças Armadas da Venezuela pelos técnicos e
profissionais de Cuba, a quem o comandante Chávez praticamente entregou o controle
da segurança militar e civil do regime que implantou. Trata-se de algo sem precedentes;
um país renuncia à sua soberania e entrega a outro o controle total de suas Forças
Armadas e policiais. E os comunistas, como já foi comprovado a não mais poder,
arruínam a economia, destroem as instituições representativas, arregimentam e
esmagam a cultura, mas levaram a censura e a repressão de toda forma de insubmissão
e rebeldia a uma perfeição quase artística. Não nos esqueçamos de que todas as
instituições militares venezuelanas foram submetidas a expurgos sistemáticos, e que há
várias centenas de oficiais expulsos ou encarcerados por não serem considerados
“seguros” para a ditadura.
A fera que vai morrer se defende com unhas e dentes, e não há dúvida de que o regime,
agora que se sente encurralado e pressente seu fim, pode causar muita dor e derramar
ainda mais sangre inocente. Por isso é indispensável que os países e instituições
democráticas internacionais multipliquem a pressão contra o Governo de Maduro,
estendendo os reconhecimentos à presidência de Juan Guaidó e à Assembleia Nacional,
e obtendo o isolamento e a orfandade do regime a fim de precipitar sua queda antes que
cause mais danos do que já causou à desventurada Venezuela.
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O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, disse com clareza: “Não há nada que negociar
com Maduro”. Todas as tentativas de diálogo se viram frustradas porque a ditadura
pretendia utilizar as negociações só para ganhar tempo, sem fazer a menor concessão,
e conspirando sem trégua, graças à ajuda que lhe prestavam pessoas ingênuas ou
maquiavélicas, para semear a discórdia entre as forças da oposição. As coisas foram já
longe demais, e a primeira prioridade agora é acabar o quanto antes com a ditadura de
Maduro, a fim de que sejam convocadas eleições livres e os venezuelanos possam
finalmente se dedicar à reconstrução de seu país.
A mobilização do mundo democrático, começando pelos países ocidentais, foi algo sem
precedentes. Não me recordo de ter visto nada parecido nos muitos anos que tenho. Ao
mesmo tempo em que diversos Governos, começando pelos Estados Unidos e Canadá e
os principais países europeus, reconheciam Guaidó como presidente, a União Europeia,
a OEA, as Nações Unidas e todos os países democráticos latino-americanos, com
exceção do Uruguai e México (algo previsível), rompiam com a ditadura e se
mobilizavam a fim de apressar a queda do regime sanguinário de Maduro. Não se deve
esquecer, nestes momentos em que finalmente se vê uma luz ao final deste longo
caminho, que nada disto teria sido possível sem o sacrifício do povo da Venezuela, que,
se em um primeiro momento se rendeu aos cantos de sereia de Chávez, depois reagiu
com exemplar coragem e manteve sua resistência por todos estes anos, sem se deixar
intimidar pela ferocidade da repressão.
Obrigado a Julio Borges, María Corina Machado, Leopoldo López, Lilian Tintori, Henrique
Capriles, Antonio Ledezma, Juan Guaidó e aos milhares e milhares de mulheres e
homens que os seguiram por todos estes anos, demonstrando nas ruas, e nos
calabouços e no exílio, que a América Latina já não é, como no passado, terra de
sátrapas e de ladrões, e que um povo que ama a liberdade não pode ser indefinidamente
acorrentado. Algum dia, não longínquo, o rebento de um desses grandes escritores que
a Venezuela já deu à língua espanhola escreverá esse grande romance tolstoiano sobre
o que ocorreu e está ocorrendo por lá. E o final será, claro, um final feliz.
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