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2 Estacio Disciplina: PSICOLOGIA, GESTAO E RESPONSABILIDADE SOCIAL DO eer na Sociedade Empresas na Sociedade: Sustentabilidade e Responsabilidade Social ta. Edig&0/2008 Puppim de Oliveira, José Anténio Capitulos = Por que Estudamos Responsabilidade Social? - Evolugao dos Debates Sobre Desenvolvimento Sustentavel e Responsabilidade Social das Empresas Campus / Elsevier www.elsevier.com.br ISBN 9788535229592 POR QUE ESTUDAMOS RESPONSABILIDADE SOCIAL? OBJETIVO TENTAR ENTENDER POR QUE TEM CRESCIDO © INTERESSE DE EMPRESAS E DA SOCIEDADE NO CONCEITO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DE EMPRESAS. EMPRESAS NA SOCIEDADE ELSEVIER 1.1 POR QUE £ IMPORTANTE ESTUDAR RESPONSABILIDADE SOCIAL? Oestudo da responsabilidade social de empresas engloba o entendimento da rela- a0 complexa que existe entre as empresas ¢ a sociedade, incluindo comunidades, empregados, governos e até outras empresas. Isso envolve refletir sobre a fungi da empresa na sociedade, como a sociedade deve se portar em relagao as empresas € como estas devem responder as demandas da sociedade. Existem varios termos para caracterizar a maneira como as empresas devem se relacionar com a socie- dade. Usaremos, durante todo o livro, como sinénimos as express6es responsabi- lidade social de empresas, responsabilidade social corporativa (RSC), cidadania corporativa e responsabilidade social empresarial (RSE). ‘Muitos se perguntam por que devemos estudar responsabilidade social das empresas, ji que vem pouca relagao direta entre elas e as questdes sociais. Outros colocam as questoes sociais estritamente na esfera do Estado, como sendo de sua 6 responsabilidade, Porém, mesmo que nao concordemos a respeito de qual deve ser o papel das empresas na sociedade, ha muitos motives para discutirmos a im- portancia de estudarmos RSC. AS EMPRESAS TEM UM GRANDE PESO ECONOMICO NO MUNDO. Nos iiltimos anos, temos visto uma crescente expansio do papel econdmico das empresas ao redor do mundo. A globalizacao dos mercados, 0 boom econdmico global e as fusdes e parcerias entre as empresas tém alavancado suas receitas ¢ ou- tros indicadores econdmico-financeiros. Algumas empresas jé esto hoje entre as maiores entidades econdmicas do mundo, com receitas maiores que 0 Produto Interno Bruto (PIB) de muitos paises. Em 2005, 100 empresas estavam entre as 150 maiores entidades do mundo ELSEVIER POR QUE ESTUDAMOS RESPONSABILIDADE SOCIAL? em termos econdmicos (ver tabela a seguir), A cadeia de lojas Wal-Mart jé era a 228 entidade do mundo, seguida de perto pelas gigantes do petréleo, como a BP, Esso e Shell, com receitas que ultrapassam o PIB de paises como Portugal, Grécia Finlandia. A Shell, com 108 mil empregados diretos,' tem uma receita maior que 0 PIB da Indonésia, com mais de 234 mithoes de habitantes! Ba tendéncia € 0 au- mento da participagdo das empresas entre essas maiores entidades nos préximos anos e décadas, Nao demoraré muito para termos, possivelmente, alguma empresa entre as dez.maiores (por exemplo, seas trés gigantes do petr6leo se juntassem em uma s6 empresa, jé ocupariam o lugar da India na décima posigdo da tabela). No Brasil, situagao nao ¢ diferente quando comparamos o poder econdmico das empresas aos PIBs dos estados (para nao falar dos municipios). Por exemplo, a Cia, Vale do Rio Doce (CVRD), uma empresa privada, teve uma receita bruta consolidada de R$29,02 bilhoes em 2004. Tss0 maior que o PIB de 12 estados brasileiros, e que os PIBs de Alagoas, Sergipe, Acre ¢ Roraima somados. Seu Iucro liquido naquele ano foi de RS6,46 bilhGes, maior que o PIB de quatro estados. A Petrobras, de controle estatal mas que opera como uma empresa privada, teve uma receita operacional bruta (consolidada) de mais de R$150 bilhGes em 2004, per- dendo apenas para o PIB dos dois estados mais ricos, So Paulo e Rio de Janeiro, ultrapassando Minas Gerais, inclusive, © impacto social das empresas nao € s6 na produgao, que é importante, mas no € 0 tinico, Empresas podem ter impacto nos pregos ¢ acessibilidade dos produtas aos consumidores (como no caso direto da Wal-Mart), na taxa de cambio com transfe- réncia de lucros, exportacio ¢ importagio, e mesmo no desenvolvimento local com a possibilidade de gerar ou nao novos negécios a partir das atividades da empresa. © campo da responsabilidade social nao trata somente de empresas multina- cionais, que tém um impacto global. Empresas pequenas tém uma atuagao econd- mica importante em nivel local em muitos lugares do mundo. Além disso, muitas tém uma relagao bem prOxima com a sociedade, investindo em projetos sociais, mesmo que nao sejam reconhecidos como agdes de responsabilidade social. Portanto, é inegavel o poder econdmico das empresas, maior do que o de mui- tos paises. Isso lhes dé um poder fenomenal em todos os niveis: local, nacional ou global. Suas decis6es, além dos impactos econdmicos, tém impactos sociais, am- bientais e politicos, que nao podem ser ignorados pela sociedade. Entender esses impactos e como a sociedade e as empresas respondem a eles € um dos objetivos de se estudar responsabilidade social empresarial. T Mais 30000 ereirnados (Shel, 2006). EMPRESAS NA SOCIEDADE ELSEVIER TABELA 1.1 DAS 150 MAIORES ENTIDADES ECONOMICAS DO MUNDO, 100 SAO EMPRESAS Eg Evia Pros 1 Estados Unidos 11667515 2 Japao 4.623.398 3 ‘Alemanha 2714418 4 Reino Unide 2.140.898 5 Franga 2.002582 6 Tali 1.672.302 7 China 1.649.529, @ Espanha 91a 9 Canad 9795768 10 inia 691876 4 Brasil 604855 5 Russia 582395 2 Austia 290.109 2 WakMart 287 989 2 eP 285.059 Ey Bx1on Mobil (E350) 27072 5 Shell 268.690 26 Indonesia 257.641 32 Grecia 203401 3 General Motors (GM) 193517 4 Finn 186597 39 Portugal 168.281 Fonte: Fortune, 2005 GOES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL PODEM AFETAR O VALOR DAS EMPRESAS Responsabilidade social € um tema de grande interesse para as empresas também. Uma das razies para isso ¢ o impacto que as questdes ligadas 4 RSC podem ter no valor econdmico das empresas. Além de impactos econdmicos diretos de uma ELSEVIER POR QUE ESTUDAMOS RESPONSABILIDADE SOCIAL? atitude socialmente irresponsavel, como o recebimento de multas, paralisagdes e indenizagées, hd também o impacto sobre a marca da empresa a longo prazo. Hoje muitas empresas tém marcas cujo valor ultrapassa mais de US$50 bilhoes (veja na Tabela 1.2 0 valor de algumas das mais importantes marcas corporativas no planeta). Questoes sociais e ambientais refletem o valor da marca da empresa. Quaisquer problemas podem ter um impacto significativo no valor da marca (aci- dentes, falsificagbes etc.). Uma empresa, ou até mesmo setor econdmico, com uma ‘marca ruim em termos de RSC pode ser sujeita a mais regulagdes do estado ou ter uma maior rejeicdo de seus projetos por parte da populagdo ou de governantes, ‘Ninguém quer ter por perto um vizinho com uma mé fama. Por outro lado, uma atitude mais responsivel diante da RSC pode fortalecer a marca da empresa ao longo do tempo, proporcionando um crescimento sustenta- vel. Assim, agdes de responsabilidade social aliadas a comunicagao podem reduzir 0s riscos ¢ adicionar valor & empresa. Um novo projeto de uma empresa com boa reputago na drea de RSC sempre é mais bem-vindo do que uma empresa vista como socialmente problemética. Seu valor também tende a crescer. Por exemplo, a empresa de veiculos japonesa Toyota recentemente desenvolveu 0 carro hibrido, que economiza combustivel e reduz o impacto do uso do carro nas mudangas eli- miticas, tendo um aumento importante no seu valor de marca (Tabela 1.2). © valor da marca e sua associagdo com uma empresa socialmente responsivel importante principalmente para empresas em setores mais impactantes ou polé- micos, como mineragao ¢ tabaco, e que tentam expandir suas operagdes e vendas, ou até mesmo internacionalizar-se. Para a empresa, isso pode evitar desconfianca e descrédito nos novos locais onde atuaré, facilitando sua atuaga0 com governos € comunidades ou, como se diz mais popularmente, ajudando a conseguir “alicenca para operar”. Algumas empresas também envolvem seus produtos em questdes sociais e am- bientais. Muitos consumidores levam essas questdes em consideragao na hora da decisao de compra, criando uma lealdade a0 produto ou marca ou até mesmo pagando mais caro por ele. Vemos hoje varias empresas de cosméticos buscando essa associagao positiva com atuagao nas dreas social e ambiental. Podemos citar desde a pioneira inglesa Body Shop (j4 vendida a L’Oréal) até as brasileiras Natura Boticério, que tiveram expansdes internacionais nas iltimas dcadas e tornaram- se lideres de mercado. EMPRESAS NA SOCIEDADE ELSEVIER TABELA 12 (VALOR DA MARCA DEUMA EMPRESA Interbrand or 2008 rae Vater da Mudanea Fak fick MARCA. Briggs setor Narcan Valor 3 ies eS) Marea 67) ty eae CUR tebldae someon 2 Mook EUR Softw sons ae 3 we EUR Computadores sant a EUR hwnd SOR : Na FUGA Finlindia Ayrehontiewencor g¢e6 Ee GB sapse atoms now ee SR Computadoren 20984 a Se ets YY UR Restaurmies a8 a + om PMRengp EUR MiarEatoimento 210 to Marat @ ‘Alemanha Autemévels zs oe ont: Interbrand, 2007, A.CONFIANGA NAS INSTITUICOES PUBLICAS E BAIXA ‘Um outro ponto importante para estudarmos a responsabilidade social empresa- rial é uma grande descrenga da populagao em relagao as instituigdes publicas, que so as principais responsaveis pelo bem-estar social da populagao. Poucas organizacdes piblicas, como a policia federal e as forgas armadas, con- tam com alguma confianga da populacao no Brasil (Figura 1.1). Em especial, as or- ganizagdes ligadas ao sistema politico, principal responsavel por indicar os gesto- res puiblicos mais importantes do pais, contam com uma credibilidade baixfssima, somente 21%. Com isso, as pessoas cada vez mais tendem a confiar em empresas € organizagdes ndo-governamentais (ONGs), nao s6 no Brasil, mas em muitos pai- ses. No Brasil, as empresas sio as organizages que contam com a maior confianca ELSEVIER POR QUE ESTUDAMOS RESPONSABILIDADE SOCIAL? da populacao (Tabela 1.3), seguida de perto pelas ONGs. Essa confianga chega a ser até trés vezes maior do que a confianga colocada aos governos, resultado de anos de proviso de péssimos servigos ptiblicos, mesmo com a crescente carga tributaria, eos regulares escandalos de corrupsdo politica, que resultam em pouca ou nenhuma punigao dos responséveis. Esses mimeros, de alguma forma, sfo ruins para a democracia, pois dé uma sensagio de falta de esperanga para mudangas e diminui a pressio sobre nossos governantes para que melhorem as organizagoes piblicas. Porém, sem nos alon- garmos nas conseqiiéncias da péssima imagem do setor puiblico, ela leva as pessoas a buscarem organizagdes em outras esferas, como a privada, em quem possam confiar e com quem possam contar para preencher os espagos puiblicos. Assim, as pessoas jogam sua confianga de um mundo melhor nas empresas, passando a pres- tar mais atengao em suas responsabilidades sociais e a demandar que cumpram 0 papel falho do Estado. PolisaFeaes Forgan Amads =Confia ParidoePottiece Pocoe BINEocontia ‘chreradosVereasores : Nao soube Cemaracos Depuaios avaliar OR RO 10 Fonte: AME, 2007, Figura 1.1 - Confianga da populagao brasileira em organizagdes publicas. TABELA 13, ‘OQUANTO VOCE CONFAEM CADA UMA ESTAS INSTITUICOES PARA FRZER AS CORSAS DE MANERA CORREA? (em 4) EUA EUROPA ASIA. CANADA BRASIL EMPRESAS 49 2 56 7 a GOvERNOS 38 3 54 36 a Minis 30 30 56 45 3 ‘ones 54 37 8 a © Fonte: Eelman, 2006 Pesquisa com formadores de opinito. 7 EMPRESAS NA SOCIEDADE ELSEVIER 1.2 POR QUE O GRANDE INTERESSE EM RSC?” Por que esse interesse em RSC ultimamente? Isso esté relacionado possivelmen- te com as mudangas nas tiltimas décadas. Temos visto grandes transformagbes nos contextos econdmico, politico e social em que atuam as organizagbes. Essas mudangas influenciam © comportamento das empresas e da sociedade diante da questao de RSC. No contexto econdmico, a RSC surge como um fator de diferen- cial competitivo entre as empresas e que pode aumentar seu potencial econdmico. Com a abertura de mercados, privatizagdes e modernizagao, cresce 0 acirramento da competicao entre as empresas. A RSC pode aumentar a competitividade das empresas de varias formas. Primeiro, algumas agdes de RSC atuam na diminuigao de custos. Por exemplo, na parte de protecao ambiental, RSC pode ser uma opor- tunidade de reduzir desperdicios com energia ¢ égua, economizando recursos am- bientais e diminuindo riscos financeiros. Segundo, ha vantagens na parte humana da empresa, criando um ambiente de maior satisfagao entre os empregados e par- ceiros. Na parte social e trabalhista, uma empresa que trata bem os empregados ¢ suas familias gera um ambiente que motiva e aumenta a produtividade. Terceiro, ‘uma empresa que busca RSC também melhora sua imagem no mercado e conse- alientemente influencia positivamente o comportamento de consumidores sensi- veis a questdes sociais ou ambientais. Finalmente, RSC jé € um fator de diferencial para os acionistas e o mercado financeiro. Cada ver mais bolsas de valores adotam indicadores de RSC na avaliagdo de empresas, pois nota-se que as empresas mais socialmente responsaveis também geram maior retorno em suas agdes na bolsa. Nova York conta com o Dow Jones Sustainability Index, ¢ a bolsa de Sao Paulo tem 0 ISE ~ Indice de Sustentabilidade Empresarial Outra mudanga no contexto de atuagdo das empresas foi no ambito politico. Cada vez mais existe uma pressio politica de governos, organizagdes da socieda- de civil e cidados em geral para que empresas atuem de forma mais socialmente responsdvel. Na América Latina, houve uma grande onda de democratizagaio a "isa parte €basceda em um artigo anterior do autor (Puppim de Oliveira, 2005) ELSEVIER POR QUE ESTUDAMOS RESPONSABILIDADE SOCIAL? partir da década de 1980. Muitos paises se democratizaram, permitindo, assim, uma maior atuago da sociedade civil ¢ liberdade dos érgaos de imprensa. Tal fato levou a uma presséo maior para que as empresas fossem mais transparentes em suas ages, apesar de ainda termos muito o que avangar, Também, em muitos paises, aumentou o aparecimento de organizagées ndio-governamentais nas areas social ¢ ambiental, algumas, inclusive, atuando especificamente em RSC, como 0 Instituto Ethos. Muitas dessas organizagGes tém se profissionalizado e atuam com independéncia, servindo como agentes fiscalizadores da sociedade, enquanto ou- tras atuam em parcerias com empresas. No lado do Estado, apareceram novas leis e 6rgiios que operam ativamente na drea ambiental e de direitos humanos, como © Ministério Publico, com isso fazendo crescer a pressio regulatoria sobre as em- presas. O processo de globalizagdo, especialmente a popularizago da tecnologia da informacdo, permitiu uma rapida intemacionalizagao da atuagio de movimen- tos da sociedade civil. Hoje, movimentos de todo o mundo estio organizados em rede e se organizam de maneira muito mais efetiva para suas ages. Assim, mes- ‘mo atuando em éreas remotas, empresas podem ser afetadas pela ago de redes de movimentos sociais organizados e ter os impactos dessa agiio repercutidos em varias partes do mundo em questiio de horas. © contexto social de atuagdo das empresas também tem mudado. Existe uma expectativa que as empresas atuem em éreas que antes ndo eram vistas como de sua responsabilidade, como projetos sociais e ambientais. Com a falta de credi- bilidade e a crise fiscal dos governos em muitos paises, mais acentuadamente na América Latina, o papel do Estado tem sido muitas vezes reduzido em quantida- de e qualidade na provisto de servigos puiblicos, inclusive nas éreas sociais, como educagio, satide e assistencia social. Além disso, a estagnacio econdmica das tlti- ‘mas décadas tem levado a um agravamento do quadro social, com 0 desemprego, a no diminuicdo significativa da pobreza ¢ 0 aumento da criminalidade. Esses problemas afetam diretamente o ambiente em que muitas empresas estio instala- das, ¢ fazem com que recaia sobre elas a responsabilidade de mitigé-los, provendo escolas, hospitais seguranga para comunidades ao seu redor. Finalmente, ha uma mudanga ética em tudo isso. Empresas e cidadaos estao se conscientizando da im- portancia de uma agdo empresarial responsivel, porque simplesmente é 0 que se deve esperar de uma empresa, ocasionando, com isso, mudangas. 10 | emPREsAS NA sociEDADE ELSEVIER 1.3 PRINCIPAIS PERSPECTIVAS PARA ESTUDAR RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL CCiticas sobre o papel das empresas na sociedade ¢ sua relagdo com 0s atores so- ciais (empregados, comunidades etc.) remontam ha séculos, como 0 movimento das cooperativas de Robert Owen na Inglaterra ¢ 0 movimento socialista no sé- culo XIX embasado nos trabalhos de Karl Marx. Muitos questionavam a idéia da propria existéncia da empresa e propriedade privadas. Porém, o que poderiamos chamar dos debates modernos sobre responsabilidade social empresarial so mais recentes. Estes no questionam a existéncia da empresa nem a propriedade priva- da, mas sim a relagao da empresa com a sociedade ea maneira como essas relagbes so decididas e impactam a empresa. Na década de 1950, surgiram alguns traba- Thos questionando as funcdes puramente econémicas da empresa na sociedade, como a maximizagao de lucros ¢ a remunera¢ao dos acionistas, defendidas pelos economistas liberais (Bowen, 1953). Os liberais, como Milton Friedman (1970), contra-atacaram, argumentando que a responsabilidade social de empresas era ‘um movimento a caminho do socialismo, e reforgando os objetivos econdmicos dda empresa dentro da lei. Com isso, partir da década de 1970,0 debate académico ¢ pritico ganhou folego, com varias abordagens sobre o conceito de responsabili- dade social aparecendo. O estudo da responsabilidade social nao uma ciéncia. B uma rea de inte- resse inter multidisciplinar, transitando pelos campos de varias ciéncias sociais ¢ humanas, até mesmo filosofia. Em administragao, foi onde o debate conceitual € pritico sobre responsabilidades social tomou corpo, talvez por ser a empresa tum dos principais objetos de estudo das ciencias da administragdo. Dentro das abordagens conceituais para tratar o tema responsabilidade social de empresas, ha quatro correntes principais de andlises: + Etica empresarial: analisa a RSC baseada nos conceitos filos6ficos da ética aplicada, ¢ tende a ter um carster normativo. Ela é centrada no estudo dos valores e julgamentos morais que estdo por trés das decisoes empresariais € suas conseqiiéncias. Nesta abordagem, a responsabilidade social da empresa ELSEVIER POR QUE ESTUDAMOS RESPONSABILIDADE SOCIAL? e de seus gestores pode ser examinada sobre o ponto de vista moral e ético (certa ou errada, boa ou ruim). + Gestdo social: examina os aspectos sociais das atividades empresariais, in- cluindo investimentos sociais. Este campo desenvolve maneiras de avaliar © desempenho social das empresas e técnicas de modo a avaliar investimentos sociais sob a 6tica privada, Busca estudar estratégias de ago social das em- presas (filantropia estratégica) e maneiras de introduzir as questoes sociais na estratégia das empresas. Nao vé incompatibilidade entre investimentos sociais ¢ lucratividade das empresas, + Recursos ambientaise empresas estuda a relagdo entreas empresas eo meio am- biente, incluindo os atores que defendem seus interesses (por exemplo, ambien- talistas). Tenta entender as conseqtléncias ambientais, e seus impactos na socie- dade, das atividades empresariais ¢ as reagdes de empresas e gestores diante das demandas por mais sustentabilidade no uso dos recursos naturais. Vea empresa como parte do meio ambiente e que deve se adaptar a ele, Mede o desempenho ambiental das empresas. Busca saber se hé uma relagao positiva entre boa gestdo e desempenho ambiental e resultados financeiros das empresas. + Empresas e sociedade: compreende a empresa como parte da sociedade. As empresas devem agir para buscar a legitimidade na sociedade. Estuda como as empresas respondem as demandas da sociedade e como esta reage As ages das empresas, Ve a gestio com stakeholders (partes interessadas) como uma forma eficaz ou justa de tomar decisdes na empresa. tca Empresarial Gestdo Social N\ x “ \ Empresas e Sociedade Recursos Ambientas e Empresas Figura 1.2 — Correntes de andlise do tema RSC. Nao hé uma distingdo muito clara entre as varias abordagens na maneira de analisar algumas questoes transversais ou objetos. Por exemplo,a relagdo empresa- governo, as cadeias produtivas ou o mercado financeiro podem ser analisados por qualquer das quatro abordagens. Como 0 livro nao utiliza um direcionamento nN 12 | empResas Na socicoave ELSEVIER conceitual rigido, ele ndo segue nenhuma das abordagens estritamente, Apesar disso, ao longo do livro, usaremos principalmente as abordagem empresas ¢ sacie- dade e recursos ambientais e empresas. SITES INTERESSANTES PARA PESQUISA + Instituto Ethos para Responsabilidade Social: www.ethos.org.br + Business for Social Responsability: wwbst.org + CEBDS — Conselho Brasileiro Empresarial para o Desenvolvimento Sustentével: www.cebds.org.br + World Business Council for Sustainable Development (WBCSD): www.wbesd.org + Aspen Institute: www.aspeninstitute.org + TABS — International Association for Business and Society: www.iabs.net + Social Responsibility Network: www socialzesponsibility.biz PERGUNTAS PARA DEBATE 1. Por que as empresas estdo se tornando atores tao importantes? 2. Quais empresas do Brasil ¢ da sua regido so socialmente responséveis na sua opiniao? Por qué? 3. Quais nao sto? Por qué? REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS AMB — Associagao dos Magistrados do Brasil. Apresentagao baixada do Web site vwew.amb.org.br, acessado em 10 de outubro de 2007. Bowen, H. Social Responsibilities of the Businessman. Nova York, BUA: Harper&Row, 1953. CSREurope (2005). Web site www.esreurope.org, acessado em 24 de novembro de 2004. Edelman (2006). Anual Edelman ‘Trust Barometer, baixado do Web site www.edelman.com, acessado em 20 de julho de 2007. ELSEVIER POR QUE ESTUDAMOS RESPONSABILIOADE SociAL? | 13 Fortune. Fortune Global 500, do Web site money.cnn,com/magazines/fortune, 2005. Friedman, M. “The Social Responsibility of Business is to Increase its Profits” The New York Times Magazine, 13 de setembro, 1970. Interbrand (2007). Best Global Brands 2007. Baixado do Web site ‘www.interbrand.com, acessado em 29 de julho de 2007. [News Forge (2004). Web site www.software.newsforge.com, acessado em 29 de junho de 2005. Puppim de Oliveira, José Antonio. “Responsabilidade Ampliada”. GV Executivo, v.4,n.2, pp. 78-81, 2005. Shell. The Shell Sustainability Report 2006. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA. Bakker; FE; Gronewegen, P; Hond, F.“A bibliometric analysis of 30 years of Research and Theory on Corporate Social Responsibility and Corporate Social Performance”. Business & Society, v. 44, n. 3, p. 283-317, 2005. Crook, C. “The good company. A survey of CSR” The Economist, p. 2-16, 22 jan., 2005. Moretti, S. L. A. Figueiredo, J. C. Andlise bibliométrica da produgo sobre RSE no EnANPAD: evidéncias de um discurso monolégico. Revista de Gestato Social ¢ Ambiental (www.rgsa.com.br), V. 1, n.3, p. 3-18, 2007. ‘Tenério, Fernando Guilherme (org.). Responsabilidade Social Empresarial — teoria e pratica. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004, 14 | empResas a socizoave ELSEVIER PERIODICOS DA AREA + Revista de Gestéio Social e Ambiental: www.rgsa.com.br + Business & Society: bas.sagepub.com + Journal of Corporate Citizenship: www.greenleaf-publishing.com/pagel6/ Journals/JecHome + Journal of Business Ethics: wwwspringerlink.com/content/100281 * Business Ethics Quartely: www.pdcnet.org/beqtoc.html + Social Responsibility Journal: www.emeraldinsight.com/info/journals/srj/srjsp EVOLUCAO DOS DEBATES SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS OBJETIVO FAMILIARIZAR-NOS COM OS PRINCIPAIS MARCOS HISTORICOS E DOCUMENTAIS DO DEBATE SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL. Neste capitulo estudaremos como a Revolugdo Industrial trouxe a tona uma série de problemas relacionados com a qualidade de vida da populagao,a utilizagao dos recursos naturais ¢ a degradacio do ambiente urbano e rural. Veremos como a so- ciedade reagiu a degradacao do meio ambiente e como se articulou em nivel global local de modo a criar regras para a gestio socioambiental. Seguiremos com uma definigdo dos principais instrumentos de gestdo da politica ambiental. 16 | emPREsAS Na sociEDADE ELSEVIER 2.1 ESTRUTURACAO DO DEBATE AMBIENTAL E SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL ‘A REVOLUGAO INDUSTRIAL E SUAS IMPLICAGOES AMBIENTAIS Até o século XVI, as tinicas formas de energia a disposigao do ser humano para produgdo e transporte eram praticamente as energias manual, animale, em alguns casos, a e6lica Isso limitava a aso humana. Com a méquina a vapor, a Revolugio Industrial permitiu que o ser humano pudesse facilmente transformar combusti- veis abundantes na natureza (carvao e depois outros fésseis e biomassa) em ener- gia e utilizé-laa seu bel-prazer. ‘A Revolugio Industrial foi marcada como uma revolucao tecnol6gica, inicial- mente, com a descoberta da méquina a vapor. Como conseqiiéncia, vieram ou- tras transformagoes no campo econdmico, social, politico e ambiental. No campo econdmico, a méquina a vapor permitiu um aumento significativo na produgio ¢ produtividade de diversos bens materiais, e com isso um aumento na riqueza ‘material das sociedades. Essas mudangas econdmicas levaram a diversos cambios sociais nos locais que experimentavam a revolugdo industrial. Como as induistrias estavam em boa parte em nticleos urbanos, houve uma demanda por mao-de-obra nas fébricas, 0 que levou a um éxodo rural. Como as fébricas precisavam cada ver ‘mais de matérias-primas, muitas delas vindas do campo, como aa para tecelagem, houve uma pressao para uma expansio da produgio dessas matérias-primas no campo, com conseqente aumento de produgdo ¢ produtividade nas éreas rurais. Isso tudo levou a grandes transformagoes sociais no campo e na cidade, com uma crescente urbanizagdo e mudangas no sistema agrario, como a quebra no sistema feudal e privatizagao de propriedades. Essas mudangas sociais, como, por exemplo, a criagao de uma classe trabalhadora urbana, influenciaram mudangas politicas, como 0s movimentos de trabalhadores e os movimentos socialistas. ELSEVIER EVOLUGAO DOS DEBATES SOBRE DESENVOLIMENTO SUSTENTAVELE | 17 ‘RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS A Revolugdo Industrial possibilitou que o ser humano expandisse sua capaci- dade de produgio e deslocamento, Com isso também permitiu que ele tivesse uma maior interferéncia na natureza, Agora, com o uso da energia dos combustiveis fs- seis, o ser humano podia modificar de forma radical o espago natural ao seu redor, emesmo modificar lugares mais longes pela facilidade de deslocamento. Primeiro, a Revolugdo Industrial aumentou bastante a utilizagao de recursos naturais per capita, tanto pela necessidade crescente de matérias-primas como de combustiveis para abastecer as méquinas. Por outro lado, 0 deslocamento também facilitou que mais mercados pudessem ser alcangados ¢ que a energia ¢ matérias-primas pudes- sem ser trazidas de lugares mais distantes. Finalmente, as consequéncias do pro- cesso de producao, como residuos ¢ efluentes, aumentavam a degradacio ambien- tal. Essas mudangas causaram cimbios profundos na relagdo homem-natureza. Inicialmente, os problemas socioambientais eram vistos como uma consequiencia natural do “desenvolvimento”, que era confundido com crescimento econdmico. Era mais ou menosassim: “se querem desenvolvimento, entao tém de abrir mao da qualidade ambiental’. [sso nao era somen- te uma visdo da sociedade capitalista. Nos paises ditos comunistas, como a ex-Uniao Sovietica, havia uma visto bastante pareci- da (ilustrado muito bem na Figura 2.1). A poluigao era mostrada até como uma coisa positiva (“estamos desenvolvendo"!). Era 0 crescimento econémico a qualquer custo da sociedade moderna. Figura 2.1 — Um cartaz da Era Soviética. (A tradugao do texto €:“A fumaga das chaminés 6 a respiragao soviética”) (Os primeiros movimentos sociais mais organizados criados para tentar contro- lar as transformagdes crescentes vindas da revolugdo industrial na natureza ocor- reram na segunda metade do século XIX, com os movimentos conservacionistas, especialmente nos Estados Unidos. Com a expanso americana para o Oeste, os conservacionistas temiam que os resultados dessa expansio fossem os mesmos da 18 | EMPRESAS NA sOciEDADE ELSEVIER ‘ocupagdo da Costa Leste, ou seja, praticamente o desaparecimento dos espacos naturais para dar lugar as cidades e fazendas. Os conservacionistas conseguiram grandes éxitos nas suas a¢des, como o movimento de criacdo dos parques nacio- nais nos Estados Unidos, sendo o primeiro deles o Yellowstone. Porém, estes mo- vimentos nao conseguiram mudar a agao humana de forma mais radical. ‘AERA POS:INDUSTRIAL EO MOVIMENTO AMBIENTALISTA A PARTIR DA DECADA DE 1960 A partir da Segunda Guerra Mundial, as grandes poténcias da época (os chamados paises desenvolvidos hoje) reorganizaram suas economias e seus parques industriais. Muitos deles voltaram a crescera taxas significativas e ter produgdes industria inve- javeis. Ja década de 1960, suas populagbes alcangaram padroes materiais bastante altos para a época, padrdes que até hoje nao foram alcangados por muitos pafses da Africa e da América Latina nos dias de hoje. Porém, esse alto padrao material nao necessariamente levava a uma alta qualidade de vida em outros aspectos para as po- pulagies dos paises avangados. Para o crescimento do padrao material da populacio, foram necessirias varias transformagoes, como, por exemplo, aumentar o miimero ce tamanho de fabricas e a quantidade de veiculos, eaté mesmo dar um salto de pro- dugao na agricultura com 2 revolugao verde. Isso teve como consequéncia a criag20 de varios problemas ambientais, especialmente nos grandes centros urbanos com a poluigio do ar e da agua e a contaminagio dos solos. No campo, espécies estavam sendo extintas com a expansio das propriedades agricolas e a revolugao verde, que levava ao uso intensivo de fertilizantes e pesticidas. Comesaram a surgir protestos de virios lados. Intelectuais escreviam livros alertando sobre os problemas ambientais, como o célebre livro Primavera Silen- ciosa de Rachel Carson, em 1962. Nele a autora alertava sobre o desaparecimento dos passaros com a destruigao de seus habitats pela expansio da revolugao verde. Cada primavera em que ia para o campo, ela via que existiam menos péssaros cantando, até que se silenciaram. Nas cidades, a qualidade de vida era cada vez pior, com grande contaminagio do ar e da 4gua causando doengas ligadas a esses fatores, muitas delas munca vistas. Pafses como 0 Japdo tiveram casos graves de contaminagao de populagdes inteiras por metais pesados, poluentes acumulativos perigosos, levando a doencas terriveis como a de Minamata (nome de uma bafa contaminada com merctirio no sul do Japio) e Itai-itai ELSEVIER EVOLUGAO DOS DEBATES SOBRE DESENVOLMIMENTO SUSTENTAVELE. | ‘RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS A partir da década de 1960, comegou-se a perceber uma grande transformagao na economia nos paises desenvolvidos. Seria uma nova revolugao, comparivel & Revolugdo Industrial. Alguns pensadores, como Alvin Toffler (1980), chamaram essa transformagdo de A Terceira Onda. As mudangas aconteceram no ambito da economia e tém tido impactos nos ambitos social, tecnolégico e ambiental. Jé a partir da década de 1960, economia dos paises desenvolvidos comegou a depen- der cada vez menos do setor industrial, e cada vez mais do setor de servigos, uma transigao de uma Era Industrial para uma Era Pés-Industrial (Tabela 2.1). Hoje, muitos paises tém mais de 70% de sua economia baseada no setor terciétio (ser- vvigos e comércio).. Podemos dividir as mudangas em quatro partes. Primeiro, os bens materiais produzidos por processos industriais mecanizados perderam forga na economia para a produgao de informagao trabalhada pela tecnologia da informagao (TT), como computadores ¢ dispositives de comunicacoes. Um exemplo éa participacao do setor de software, bancos e telecomunicagdes na economia dos pafses. Segundo, 6 gigantismo gerencial das organizagdes produtivas, como mostrado no filme de Carlitos, Tempos Moderns, passou a um processo de decisdes mais descentraliza- das e independentes (Figura 2.2). O gigantismo gerencial — que exigia processos produtos padronizados, tremenda especializagao da mao-de-obra e uma grande hierarquizagao das organizaSes — apareceu com as transformagées fordistas no inicio do século XX e conseguiu dar mais um salto na Revolugto Industrial, per- mitindo 0 aumento de produtividade pela organizagao da produgao em massa. Porém, 0 gigantismo é incompativel com a nova economia, que exige das organi- zagbes flexibilidade nos produtos e processos, especializagao com generalidade da mio-de-obra e a formacio de redes organizacionais (redes fornecedores-cliente, terceirizagao ete.). Uma terceira mu- danga foi a valorizagao dos capitais humano, social, intelectual e natural, € nao somente do capital fisico. Final- mente, a divisio puiblico-privado esta cada vez mais dificil, com 0 apareci- mento das parcerias ¢ das organiza- Ges nao-governamentais (ONGs). Figura 2.2—Tempos Modernos, de Charles Chaplin. 19 20 EMPRESAS NA SOCIEDADE ELSEVIER © movimento ambientalista mundial, que comecou nos paises desenvolvidos, chegou com essas transformagées na sociedade moderna, cada vez menos depen- dente do setor industrial, que comegava a ser questionado pelos seus impactos. Além disso, esses movimentos ocorreram ao mesmo tempo ¢ em sinergia com ou- tros movimentos da sociedade civil que aconteciam na época, como o movimento pacifista (contra a Guerra do Vietna), feminista, dos direitos civis (nos Estados Unidos com Martin Luter King) e hippie. TABELA2.1 [MUDANCAS DA SOCIEDADE INDUSTRIAL PARA A POS-INDUSTRIAL PENS Ng Eeeen ei SOCEDADE DE SeRviGos SOCEEDADE NDUSTRAL ecrotoga da ovat (7) Bens materials =e CicaNNO GERENCIAL DEGSOES DESCENTRALIZADAS Pacroieado Fonbiidde pecan Generac Herrqusac Redes panos CAPITAL FISICO CAPITAL NATURAL, SOCIAL, HUMANO, INTELECTUAL UBLCO PADD ONG PARCERAS Os movimentos ambientalistas comegaram a se organizar. Primeiro houve mobilizago em nivel local, através de associagdes de moradores, movimentos da sociedade civil em escolas, universidades ¢ associagdes de trabalhadores. Muitos desses movimentos protestavam contra problemas locais criados pela contamina «a0 do meio ambiente e sua consequencia nas populagoes que viviam em contato com ele, Depois, alguns se associaram e expandiram para outros paises, transfor- mando-se em movimentos globais ambientalistas. Ao mesmo tempo, existia um dilema sobre como combater os problemas ambientais, As empresas diziam que os problemas ambientais eram conseqiiéncias naturais da produgio desde os primérdios da Revolugéo Industrial, ou seja, se voce produz, vai ter poluigao e problemas sociais. Assim, se a populagao quer al- tos padrdes materiais terd, consequentemente, de suportar altos padrdes de con- taminago ambiental. O Estado nao sabia como compatibilizar produsao mate- ELSEVIER EVOLUGAO DOS DEBATES SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVELE | 21 ‘RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS rial e preservagao da qualidade de vida, Ele dependia dos empregos ¢ impostos gerados pelas fébricas. Boa parte da populagao civil era empregada nas fabricas e via na produgdo industrial uma forma de geraao de emprego ¢ renda. Como nem o Estado (primeiro setor), nem as empresas privadas (segundo setor) se mobilizavam para resolver os problemas ambientais, ganharam forga politica as organizagdes da sociedade civil (terceiro setor) que nao eram nem estatais nem privadas, simplesmente defendiam o interesse piiblico. Essas organizagoes foram chamadas de Organizagdes Nao-Governamentais (ONGs).Os ambientalistas ra- dicalizavam ¢ pediam o fechamento de fabricas ¢ a diminuigéo da economia, Para eles, havia uma relagao direta entre meio ambiente e desenvolvimento eco- nomico. Mais desenvolvimento econdmico levava a mais degradacao ambiental. Assim, para proteger 0 meio ambiente, a economia tinha de diminuir: era um ou outro. No Ambito internacional, surgiam sinais estarrecedores. O relatério do Clube de Roma, uma organizagao civil internacional que reunia especialistas respeitados, apontava que, se 0 aumento da populacao ¢ da utilizagdo de recursos naturais continuasse na mesma proporsdo dos tiltimos anos, a Terra entraria em colapso, «, conseqiientemente, a vida dos animais do planeta, incluindo o ser humano. Esse relat6rio foi bascado em estudos feitos por equipes de especialistas renomados do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), 0 que deu bastante credibilidade as previsoes. Os estudos do Clube de Roma repercutiram mundialmente, levando a comunidade internacional a se organizar para evitar esse possivel colapso (Meadows, 1972). ESTOCOLMO ~ 1972 E A INSTITUCIONALIZAGAO DO SETOR AMBIENTAL NO ESTADO. Com o crescente mimero de protestos, movimentos ¢ relat6rios sobre os problemas ambientais em diversas partes do mundo, a Organizagdo das NagSes Unidades (ONU) decidiu discutir a questao de forma institucionalizada e organizou sua primeira con- feréncia para debater problemas ambientais gerais, a Conferéncia das Nagdes Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, Suécia, em 1972. Os principais temas debatidos na conferéncia foram trazidos principalmente pelos pafses industrializados na época, jé que neles existiam os problemas mais graves e 0s protestos de movimentos sociais e politicos organizados para tentar 2 EMPRESAS NA SOCIEDADE ELSEVIER controlé-los. A agenda foi marcada pela discussto dos chamados problemas am- bientais locais, principalmente a poluiglo industrial nos grandes centros urbanos € seus impactos nas populagoes vizinhas. Boa parte das solugdes dos problemas estava baseada nas idéias de protegio am- biental da época, ou seja, que o desenvolvimento econémico era 0 grande vilao do ‘meio ambiente, que para melhorar a qualidade ambiental seria necessério diminuir o ritmo de crescimento econdmico, ou até mesmo ter crescimento econdmico nega- tivo. Na época, eram comuns as teorias de crescimento econdmico zero para a huma- nidade resolver scus problemas ambientais e de qualidade de vida nas cidades., Alguns paises em desenvolvimento mostravam ceticismo em relagao a esse tipo de solugio. Alguns, como a India, de Indira Gandhi, pais muito pobre 2 época, achavam que a pobreza era a grande vild do meio ambiente, pois boa parte de seus problemas estava ligado a pobreza. Um outro grupo de paises em desenvolvimento liderados pelo Brasil tinha desconfianca nas atitudes dos paises desenvolvidos ¢ achava que as idéias de protecao ambiental eram uma manobra destes para impe- dir o desenvolvimento dos paises mais atrasados. Aumentar a protecdo ambiental significa diminuir o ritmo de crescimento econdmico dos pafses em desenvolvi- ‘mento, que tinham crescimento acelerado na época, como o Brasil ‘A Conferéncia de Estocolmo foi importante para institucionalizar o debate ambiental na agenda global. Terminada a conferéncia, muitos pafses comegaram a introduzir as questoes ambientais nas suas politicas nacionais e a criar a estrutura organizacional e legal para gerir os problemas ambientais, como leis e Ministérios do Meio Ambiente. DEBATES SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E A RIO-92 No decorrer da década de 1970, varias pessoas, incluindo especialistas e lideres am- bientalistas, comecaram a questionar as conclusdes vindas da Conferéncia de Es- tocolmo, principalmente a relagao de dependéncia direta entre desenvolvimento econdmiico e protecio ambiental. Primeito, viu-se que, como disse Indira Gandhi, varios problemas ambientais eram resultados da falta de desenvolvimento econdmi- 0, € nao do excesso. Esses problemas aconteciam principalmente nos pafses em de- senvolvimento, como a poluigdo por falta de saneamento bésico ou o desmatamento por falta de oportunidades para uma populagio agréria pobre. Segundo, mostrou-se ELSEVIER EVOLUGAO DOS DEBATES SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVELE | 23 ‘RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS que, em varias experiéncias préticas, empresas e comunidades tinham conseguido melhorar a qualidade ambiental e a0 mesmo tempo melhorar o desempenho eco- némico, ou seja, que os dois nao eram incompativeis como se pensava. Por exemplo, fabricas conseguiam reduzir seus residuos solidos através de reciclagem e, a0 mesmo tempo, aumentar sua produtividade. Esses questionamentos levaram a ONU a criar uma comisséo de especialistas para analisar mais de perto as causas e conseqiléncias dos problemas ambientais e suas solugdes. Foi criada a Comissio Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvol- vimento, ou Comissio Brundtland, pois era chefiada pela ex-primeita ministra da ‘Noruega Gro Harlem Brundtland, formada por mais de 40 especialistas de virios paises, incluindo o brasileiro Paulo Nogueira Neto, na época presidente da SEMA. Durante anos, através de varias reunides e debates ao redor do mundo, a comissao chegou a suas andlises finais e conclusdes, que foram colocadas em um relatério fi- nal, publicado em 1987, como “Nosso Futuro Comum’ — Relatério Brundtland. Os resultados da Comissio Brundtland levaram a visbes diferentes daquelas de Estocol- ‘mo-72, Primeiro, crescimento econémico ¢ prote¢ao ambiental nao sio incompati- veis e podem acontecer ao mesmo tempo. Iss0 € hoje chamado de eooeficiencia ou ecoeficacia, Segundo, a pobreza e as questées socias, e no s6 as econémicas, devem ser incorporadas a0 debate ambiental. Terceiro, devemos levar em conta nas con- seqiléncias das nossas agdes ndo s6 a geragao atual, mas também as geragbes Fusturas, que podem ser afetadas de forma mais contundente pelos problemas ambientais. © Nosso Futuro Comum popularizou o conceito de Desenvolvimento Sus- tentavel (DS): Desenvolvimento sustentivel ¢ aquele que atende as necesidades das geragbes presenter sem comprometer a posibilidade de as geragées futurassatisfazerem suas prdprias necess- sdades (Brundtland, 1987). © conceito embute a idéia de que o desenvolvimento tem de ocorrer nas esferas ambiental, econdmica e social. A comissio colocava que seria possivel um melhora- mento nas trés esferas, ao mesmo tempo, em muitos casos (Figura 2.3). Existia tam- ém a dimensio politica do desenvolvimento sustentavel, dizendo que os processos de mudanga teriam de ser transparentes e participativos. Além disso, ele pregava que © desenvolvimento também teria de ser para as geragGes futuras, de modo que dei- xdssemos um mundo melhor para nossos descendentes. Na definigao da comissao, 0 desenvolvimento sustentavel ¢0 desenvolvimento que busca a satisfagao das necessi- dades da geragio atual sem minar as capacidades das geragdes futuras em suprir suas 24 EMPRESAS NA SOCIEDADE ELSEVIER necessidades. A agenda pés-Comissio Brundtland deixou de ser uma agenda verde ou ambiental ¢ passou a ser uma agenda socioambiental., Figura 23 — 0 Conceito de De- senvolvimento Sustentavel (DS). Enquanto a Comissao Brundtland trabalhava e divulgava seus resultados, apa- reciam problemas ambientais preocupantes, porque tinham a sua escala global. A camada de oz6nio estava sendo destruida pelos cloro-fluor-carbonos (CFCs), gerando uma onda de preocupacio sobre o aumento da taxa de cancer na pele da populagdo em virias regides do globo, especialmente no sul do planeta. Co- mecavam a surgir evidéncias de que o aquecimento global aumentava sua escala, devido ao excesso de gases de efeito estufa na atmosfera, principalmente devido a queima de combustiveis fésseis, aumentada pela intensificagao e expansao global da Revolugao Industrial, Ao mesmo tempo, notava-se que um niimero alarmante de espécies de fauna e flora estava em processo de extingao, principalmente devido a destruigao de seus habitats naturais. Esse empobrecimento da biodiversidade poderia levar a consequiéncias imprevistveis, como 0 desaparecimento de espécies que poderiam ter principios ativos de cura de doengas como o cancer ou a Aids. Todos esses debates sobre problemas globais ¢ a necessidade de um novo tipo de desenvolvimento, o desenvolvimento sustentavel, levou a ONU a organizar sua segunda conferéncia global sobre questoes ambientais, a Conferencia das Nagoes Unidas sobre Meio Ambiente ¢ Desenvolvimento, ou Rio-92, realizada na cidade do Rio de Janeiro em 1992. A Rio-92 foi o encontro que juntou mais lderes mun- diais (chefes de Estado ou Governo) até aquele momento, sendo um marco nos debates socioambientais mundiais. A Rio-92 teve como temas a implementagdo do conceito de desenvolvimento sustentivel em escala mundial e a solugao dos problemas globais, principalmente ‘© aquecimento global (ou efeito estufa) ¢ a perda da biodiversidade. Da conferén- ia sairam varios documentos importantes. As convenes das mudangas climaticas ELSEVIER EVOLUGAO DOS DEBATES SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVELE | ‘RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS ¢ da diversidade biol6gica foram as mais importantes em termos de legislagoes ¢ avangos institucionais globais para deter os dois problemas. Por outro lado, outros documentos com implementa¢ao menos formal foram resultados da Rio-92, como © Protocolo de Florestas, a Carta da Terra (terminada depois) e a Agenda 21. Este \ltimo era um documento de 40 capitulos que tracava um plano de agao para imple- mentagio do desenvolvimento sustentével, que podia ser adaptado a qualquer nivel de governo, comunidade ou organizacao. A Agenda 21 foi importante em divulgar popularizar 0 conceito de desenvolvimento sustentivel. Nela, além das questoes conceituais do desenvolvimento sustentével, como a ideia de desenvolvimento para as geracdes futuras falava-se do processo de construgao do plano de agao (ou adap- taco da Agenda 21 ao local), que deveria ser participativo e democritico. A Rio-92 Jangou uma agenda positiva para a sociedade global, e muitos safram confiantes de que algo seria feito finalmente para mitigar os problemas ambientais e sociais da humanidade. desafio p6s-Rio-92 foi exatamente como implementar um desenvolvimen- to mais sustentével e conseguir resultados concretos em termos de melhoria dos problemas globais e locais. As convengdes tiveram desdobramentos importantes, como 0 Protocolo de Quioto, que estabeleceu mecanismos para tentar conter 0 efeito estufa, e diversas iniciativas para gerir a questo da biodiversidade, como © Protocolo de Cartegena. Além disso, alavancaram diversos projetos interna- cionais, nacionais e locais para controle dos problemas globais. Por outro lado, © conceito de desenvolvimento sustentavel popularizou-se, pelo menos nos dis- cursos, em governos, empresas e organizacoes da sociedade civil. Varios paises, regides, cidades e organizagdes criaram agendas 21 a partir da década de 1990. Em 2002, lideres mundiais e organizagbes da sociedade civil xeuniram-se em Jo- hanesburgo, Africa do Sul, para avaliar o que foi conseguido depois da Rio-92. A conferéncia foi chamada de Cépula Global, Rio+10 ou Johanesburgo 2002. Porém, chegou-se a conclusio de que, dez anos apés a Rio-92, apesar dos avancos institu- cionais para se tentar conseguir um desenvolvimento mais sustentavel, 0s resultados mostram que a situago continua agravante, até mais que em 1992, Cresce a emissio de gases de efeito estufa, a perda de biodiversidade e a degradacao ambiental, social ce econdmica em varias regives do globo. Nem os paises desenvolvidos, nem os paises em desenvolvimento conseguiram colocar a Agenda 21 em prética com resultados efetivos. Johanesburgo, além de apontar para a piora dos problemas debatidos na Rio-92,alertou para problemas que comegaram a despontar no final do século passa- do, como a questio da degradagio dos recursos hidricos ao redor do globo, especial- 5 26 EMPRESAS NA SOCIEDADE ELSEVIER ‘mente nas regides onde ja existe escassez de Agua. Além disso, até por tomar parte no continente mais pobre do planeta, Riot 10 colocou a questi da pobreza na agenda global de desenvolvimento sustentivel. A pobreza passou a ser um problema global, endo mais um problema de cada pafs. A conferéncia de Johanesburgo terminou com a promessa dos paises ricos em aumentar sua ajuda aos paises mais pobres. Hoje, a agenda ambiental esta bastante complexa, com vérios problemas am- bientais cada vez mais inter-relacionados. Além disso, novos problemas tém apare- ido na agenda a cada dia, como a questao dos oceanos e dos poluentes orginicos persistentes (POPS), que so quimicos cumulativos com alto perfodo de biodegra~ dagao e que possivelmente tém impactos negativos na satide humana e animal. Em ‘um pais em desenvolvimento como o Brasil, a situaco é cada vez mais critica, pois temos de pensar solugdes para nossos crescentes problemas sociais ¢ ambientais locais, como o desmatamento da Amazénia e a degradagao dos recursos hidricos, além de termos de participar em agSes coletivas globais para solucionar os velhos € novos problemas socioambientais. 2.2 EVOLUCAO DOS MOVIMENTOS DE RSC" conceito de responsabilidade social de empresas esté ligado & atuaco de com- panhias fora de sua atividade-fim. Apesar de seu crescente interesse nos tltimos anos, nao é um conceito novo na pritica, Organizagdes privadas na Idade Média, bem antes da criagdo do capitalismo como sistema econmico, jé atuavam na érea social, com ages de filantropia. Os séculos XIX e XX viram a consolidacao da acao filantrépica nas empresas capitalistas e a criagdo das grandes fundagies ligadas as corporagdes. Além disso, especialmente a partir da segunda metade do século XX, comegaram a aparecer diversos movimentos ligados a0 que hoje se conhece como responsabilidade social de empresas. ‘a parte €bascada em Puppim de Olivera, 2005 ELSEVIER EVOLUGAO DOS DEBATES SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVELE | 27 ‘RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS Por um lado, temos 0 movimento ambientalista, que comegou nos paises de- senvolvidos e hoje esté presente em praticamente todas as partes do mundo, atuando globalmente em rede. A Conferéncia das Nagdes Unidas para 0 Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro, ou Rio-92, consolidou o conceito de desen- volvimento sustentivel e mudou um pouco o caréter do ambientalismo para que levasse em conta também a dimensio social em suas ages e demandas. Por outro lado, temos os movimentos que fiscalizam a ago das multinacio- nais, especialmente com respeito & utilizagao por parte dessas empresas de mao- de-obra infantil, escrava ou em condig6es deploraveis nas suas fébricas em pafses em desenvolvimento. Também temos os movimentos anticorrupgao pedindo uma maior transparéncia das empresas e governos, representados pela ONG Transpa- réncia Internacional. Dentro do prOprio setor empresarial e financeiro, comegou uma tendéncia para uma maior transparéncia das empresas quanto as suas infor- mag6es financeiras ¢ suas acbes socioambientais para que pudessem ser avaliadas. Na parte social, também foi cobrada, por algumas ONGs e movimentos sociais, uma maior contribuicio das empresas para projetos sociais. Ainda recentemente, temos visto os movimentos antiglobalizado, que sio manifestagdes algumas vezes violentas mostrando o descontentamento quanto ao sistema capitalista de distri- buicdo de recursos na sociedade e pedindo uma mudanga radical. Na parte governamental e intergovernamental, surgiram recentemente diver- sas iniciativas para pressionar as empresas com uma maior responsabilidade so- cial. No ambito das Organizagdes das Nagdes Unidas (ONU), foi criado 0 Pacto Global, uma rede voluntéria internacional de cidadania corporativa liderada pela ONU para conseguir apoio das empresas e sociedade civil de modo a desenvolver prinefpios sociais e ambientais universais em um mundo cada vez mais globali- zado. Na Organizagao para Cooperagao e Desenvolvimento Econémico (OCDE), uma organizago que congrega praticamente todos os paises desenvolvidos, foram criadas as diretrizes de responsabilidade social para empresas multinacionais de maneira a controlar suas atuagdes em boa parte do globo. Na década de 1990, todas essas tendéncias de movimentos da sociedade civil, governos e empresas comegaram a se convergir num movimento maior, que € atu- almente 0 que conhecemos como responsabilidade social empresarial, envolvendo as muitas dimensGes dos diversos movimentos organizados, com demandas sobre as empresas nas questoes ambiental, ética, social, econdmica e politica (Figura 2.4). Presentemente, esses diversos movimentos ainda existem com suas diferentes tona- lidades, mas hé um dialogo muito maior entre eles, e houve uma gradual incorpora- 28 | EMPRESAS NA SOCIEDADE ELSEVIER «fo de outras dimensoes nas suas linhas de atuagdo. Hoje, fica dificil para qualquer um dos movimentos citados falar em uma dimensio sem levar em consideracio as coutras. Como, por exemplo, falar de protegdo ambiental sem pensar o social? ‘Ao mesmo tempo, as empresas responderam aos diversos movimentos da so- ciedade civil e governos. Boa parte das grandes organizagdes tem ages na area de RSC. Também percebeu-se que, além de ser uma questo ética, a RSC pode ser feita de forma estratégica para ter um impacto positivo nas atividades-fins da em- presa, gerando, assim, maior retorno & empresa em médio e longo prazo. RSC NO BRASIL Iniciativas de filantropia empresarial tm existido no Brasil durante décadas, ainda que sem @ mesma intensidade de outros paises, como nos Estados Unidos ou In- glaterra. Ademais, o longo perfodo de ditadura limitou o aparecimento de organi- zagbes da sociedade civil fortes ¢ independentes atuando em RSC, exceto 0 movi- mento ambientalista em algumas partes do pais. Porém, a partir da década de 1980, surgem as primeiras organizagOes que trabalham efetivamente com RSC, como o Instituto Brasileiro de Andlises Sociais e Econdmicas (IBASE), ligado ao socislogo Betinho, que foi pioneiro na difusto do balango social de empresas, documento que divulga publicamente as ages socioambientais das empresas. Na década de 1990, o movimento de RSC cresceu no Brasil, especialmente com a lideranga do Instituto Ethos criado em 1998. Hoje, além de um movimento ambientalista mais forte e organizado, temos diversas organizacbes que trabalham no ambito de RSC, como o Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC), a Fundagao Abring ¢ 0 Cen- tro Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentével (CEBDS). No Brasil, RSC ganhou um cariter bastante ligado & ago social empresarial. Talver.seja por isso que muitos ainda confundem agao social com responsabilida- de social de empresas. Assim, os imensos problemas sociais que temos ¢ a incapa- cidade do Estado de resolvé-los sozinho levam ao surgimento de uma demanda por parte da sociedade para que as empresas atuem mais firmemente em projetos sociais, muitas vezes até em substituigdo ao Estado. ELSEVIER EVOLUGAO DOS DEBATES SOBRE DESENVOLMIMENTO SUSTENTAVELE | 29 ‘RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS Feministas, Trabalhistas Direitos Humanos Dee pec Filantropia/ Acao Social Gestdo por Stakeholders Figura 2.4 ~ Convergéncia dos diversos movimentos de RSC. SITES INTERESSANTES + Agenda 21 no Brasil: www.mma.gov.br + Clube de Roma: www.clubofrome.org (procure por publicagdes) + Relatério Brundtland: http://habitat.ige.org/open-gates/wced-ocfhtm + Conferéncia Rio-92: www.un.org/geninfo/bp/intro.html + SOSHISHA, the Supporting Center for Minamata Disease: www soshisha.org + Instituto Brasileiro de Anslises Sociais e Econ6micas (IBASE): www.ibase.orgbr + Instituto Ethos: www.ethos.org.br + Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC): www.idee.org.br + Fundagao Abring: wwwaabringorg.br + Conselho Empresarial Brasileiro para 0 Desenvolvimento Sustentavel (CEBDS): wwweebds.org.br REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS Comissao Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nosso Futuro Comum, 2. ed. 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