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Personalidade e habilidades
Descrita como uma heroína, Dandara dominava técnicas da capoeira e teria lutado ao
lado de homens e mulheres nas muitas batalhas consequentes a ataques a Palmares,
estabelecido no século XVII na Serra da Barriga, região de Alagoas, cujo acesso era
dificultado pela geografia e também pela vegetação densa.
Histórico
Os ataques ao Palmares teriam se tornado frequentes a partir de 1630, com a invasão
holandesa. Segundo a narrativa em torno de Dandara, ela teria tido importante papel
no rompimento do marido com seu antecessor, Ganga-Zumba, primeiro grande chefe
do Quilombo de Palmares e tio de Zumbi. Em 1678, Ganga-Zumba assinou um tratado
de paz com o governo de Pernambuco. O documento previa que as autoridades
libertassem palmarinos que haviam sido feito prisioneiros em um dos confrontos. E
também a liberdade dos nascidos em Palmares, além de permissão para realizar
comércio. Em troca, a partir dali, os habitantes do quilombo deveriam entregar escravos
fugitivos que ali buscassem abrigo. Dandara, ao lado de Zumbi, teria sido contrária ao
pacto por entender que se tratava de um acordo que não previa o fim da escravidão.
Ganga-Zumba acabou sendo morto por um dos negros contrários à sua proposta.
Aqueles que falam dessa data muitas vezes se recordam de Zumbi dos Palmares, que
é o grande ícone da luta contra o racismo por sua resistência contra a escravidão.
Mesmo na escola, muitos ouvimos falar de Zumbi e aprendemos que ele foi líder do
Quilombo de Palmares, onde negras e negros que fugiam da escravidão podiam
encontrar refúgio e organização política. No entanto, pouquíssimos sabem de quem se
tratava Dandara dos Palmares, uma figura tão importante quanto Zumbi.
Dandara foi esposa de Zumbi e, como ele, também lutou com armas pela libertação
total das negras e negros no Brasil; liderava mulheres e homens, também tinha
objetivos que iam às raízes do problema e, sobretudo, não se encaixava nos padrões
de gênero que ainda hoje são impostos às mulheres. E é precisamente pela marca do
machismo que Dandara não é reconhecida ou sequer estudada nas escolas.
Lamentavelmente, nem mesmo os movimentos negro e feminista mencionam Dandara
com a frequência que deveriam. De um lado, o machismo, que embora conte com o
trabalho árduo das mulheres negras, não lhes oferece posição de destaque e voz de
decisão. Do outro, o racismo, que só tem memória para mulheres brancas.
Nós, mulheres negras, crescemos sem nos encontrarmos nos livros de história, poesia,
literatura ou sociologia. O machismo racista da sociedade parece nos dizer que não
temos o direito de encontrar representatividade e inspiração para rompermos as
amarras da discriminação institucional. Muitas sabemos de Dandara e outras mulheres
negras importantes somente devido a nossas próprias pesquisas solitárias, ávidas por
descobrir. E, infelizmente, somos nós as mesmas pessoas que lutam para que essas
mulheres não sejam apagadas da história.