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EÇA DE QUEIROZ
ROBERTO NUNES BITTENCOURT (PUC-RIO)
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Há que se destacar que Eça de Queiroz não critica o fato, por
exemplo, de as mulheres se darem ao gosto da leitura; sua crítica
deve-se ao fato de como os romances são lidos, o que fazia as jovens
encontrarem na literatura grandes ilusões sobre a vida, sobre o mun-
do e sobre o amor. Quantas e quantas mulheres não devem ter so-
nhado ser Emma Bovary?
Todo o comportamento de Luísa é uma predisposição para o
adultério. Casara-se com o engenheiro Jorge, ainda que não o amas-
se. O casamento foi uma troca mútua de interesses, fruto do desejo
de organização da vida quotidiana. É um enlace de comodidades e
conveniências: com Luísa, Jorge tem o carinho de que necessitava; a
moça, por sua vez, vê no marido a concretização de toda moça da sua
idade: o de casar.
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Para satisfazer os prazeres do coração, entretanto, Luísa trans-
gride os laços do matrimônio ao aventurar-se a uma relação adúltera
com o primo Basílio.
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Mas, qual! Nunca viajaria decerto; eram pobres; Jorge era casei-
ro, tão lisboeta! (Queiroz, oip. cit., p. 69-70)
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rimentar, sensações excepcionais! Havia tudo a casinha misterio-
sa, o segredo ilegítimo, todas as palpitações do perigo! Porque o
aparato impressionava-a mais que o sentimento; e a casa em si in-
teressava-a, atraía-a mais que Basílio! Como seria? Conhecia o
gosto de Basílio, - e o Paraíso decerto era como nos romances de
Paul Féval. (Id., ibid., p. 184-5)
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início das visitas de Basílio à Luísa, percebeu a possibilidade de uma
relação entre o casal. Sendo conduzida pela revolta e pelo rancor
contra a patroa, Juliana, ao conseguir provas da infidelidade de Luísa
– como numa das cartas do primo Basílio – passa a chantagear a
moça. Além disso, Basílio começa a dar sinais de tédio e descaso,
revelando seu verdadeiro caráter à prima e deixando claro que não a
ama.
Parte de Lisboa e Luísa fica à mercê das chantagens de Julia-
na, que transforma a sua vida em uma tormenta diária. Em certo
momento, os papéis se invertem: de empregada, Juliana torna-se
senhora de Luísa. Esta sofre e aceita o sofrimento, tanto físico quanto
moral, tudo para que o adultério com Basílio não fosse revelado.
Atormentada por pesadelos, Luísa perde a paz e o sono. Sua agonia é
longa e suas dores são intensas.
Destaca Ana Helena Cizotto Belline que
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Jorge dobrou o papel, lentamente, em duas, em quatro dobras, a-
tirou-o para cima da mesa, disse alto: – Sim, senhor! Bonito! En-
cheu o cachimbo de tabaco maquinalmente, com os olhos vagos,
os beiços a tremer; deu alguns passos incertos pelo escritório. De
repente, arremessou o cachimbo, que despedaçou um vidro da ja-
nela, bateu com as mãos desvairado, e, atirando-se de bruços para
cima da mesa, rompeu a chorar, rolando a cabeça entre os braços,
mordendo as mangas, batendo com os pés, louco! (Id., ibid., p.
385)
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adas de acordo com o ponto de vista de cada um [...] A lingua-
gem é o principal meio de comunicação humana. Se o sistema
nervoso de um animal não transmite sensações e estímulos, o a-
nimal se atrofia. Se a literatura de uma nação entra em declínio, a
nação se atrofia e decai. (Pound, 1977, p. 36)
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Referências Bibliográficas
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