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RELATÓRIO DA ATIVIDADE DA MONITORIA

Data de execução: 13 de Agosto de 2019

A atividade foi iniciada por volta das 13:30 e durou até as 15:30. Seu
objetivo era de, através de uma roda de conversa, possibilitar a articulação
entre os textos de Freud e Jung, ressaltando suas aproximações e
distanciamentos. Ademais, procurou-se investigar o potencial de utilizar as
noções de ambos os textos para uma leitura profícua do contexto social e
político brasileiro contemporâneo.

O momento contou com 10 discentes da matéria de Teorias da


Subjetividade I; a lista com o nome de todos está em anexo. Para iniciar
discussão, todos assistimos ao primeiro vídeo
[https://www.youtube.com/watch?v=ExfIhkK6JeI], no qual uma mulher
compartilha suas opiniões acerca da onda de ódio crescente no Brasil; para
ela, isto tem a ver com o fato de que a sociedade estava instituindo, nos
últimos anos, que pessoas que cultivavam qualquer tipo de preconceito e
atitudes discriminatórias deveriam se envergonhar por fazê-lo, mas não
construiu-se, junto a essas pessoas, a conscientização capaz de modificar a
cultura de ódio na qual estavam inseridas. Para a mulher, tal trabalho de
discussão, acima de qualquer julgamento social, poderia fazer esses sujeitos
modificaram suas atitudes violentas para com outrem.

A fim de iniciar a discussão, lancei a pergunta: que conhecimentos


advindos dos textos de Freud e Jung nos permitem concordar ou discordar com
o posicionamento dela? A partir de tal questionamento, múltiplas intervenções
foram feitas por quase todos do grupo. A discussão fluiu fácil e initerruptamente
durante as duas horas.

Acerca do que diz Freud, enfatizou-se a contenção da agressividade


exigida pela cultura. Outrossim, mencionou-se o narcisismo das pequenas
diferenças, o papel da conexão libidinal entre os membros da comunidade e a
importância da culpa, tanto individual quanto coletiva, a partir do supereu
coletivo, para o controle dos comportamentos humanos. Mencionou-se
também, sem muito aprofundamento, a pulsão de morte e a de vida como
assuntos relevantes para o tema, assim como a possível associação entre o
alívio da tensão vivida pelos eleitores de Bolsonaro e o discurso do próprio.
Recomendou-se, por mim e por alguns dos discentes, dois vídeos do Christian
Dunker que buscam relacionar Bolsonaro e ideias da Psicanálise.

O foco da conversa pairou, na maior parte do tempo, sobre Jung. Os


discentes que opinaram sobre o porquê disso demonstraram maior afeição pelo
texto dele, sobretudo no que se refere ao objetivo da roda de conversa. A partir
do texto do autor, enfatizou-se a figura do Bolsonaro como tirano capaz de
mobilizar os afetos inconscientes da população através de uma linguagem
considerada acessível, popular. Conversou-se sobre como o fato de Bolsonaro
desafiar as instituições faz com que parte da população se sinta representada.

Os discentes discutiram sobre Jung ter construído seu texto após a


Segunda Guerra Mundial, tendo como referencial de tirano, por exemplo, Hitler,
conhecido por sua boa oratória. Chegamos à conclusão de que ver Bolsonaro
desempenhar esse papel, apesar de sua incapacidade de articular frases
coerentes, sobretudo em comparação com Hitler, só mostra o poder dos afetos
inconscientes e como a falta do autoconhecimento torna os sujeitos mais
vulneráveis à manipulação. Foi-se levantado por um dos integrantes do grupo
de estudos de Psicologia Analítica que Jung, em alguns textos, enfatiza mais a
relevância da consciência; em outros, puxa o foco para o inconsciente. Os
movimentos atuais fazem com que o foco do estudo, segundo concordância
geral, deva ficar no inconsciente.

Mencionou-se, ademais, a legitimação de discursos de ódio feita por


Bolsonaro; também de que modo a capacidade de reflexão sobre os
movimentos atuais contribui a aproximação do autoconhecimento preconizado
por Jung. Foi debatido também a questão da massificação e seu poder
alienante, especialmente nessa era da pós-verdade.

Para embasar a discussão, aproveitei comentários feitos para articular


com enxertos de Presente e Futuro que se encaixavam nas ocasiões. Por meio
disso, busquei não distanciar muito a conversa do material utilizado como base.

Quanto as articulações entre Freud e Jung, ressaltou-se a ideia de


ambos quanto ao fato da violência ser intrínseca. Realçaram sobre Jung a
positividade, especialmente em relação ao pessimismo exposto de Freud, visto
que ele defende o autoconhecimento como a chave para a “resolução” das
cisões individuais e coletivas.

Os discentes recomendaram os materiais ‘Por que a Guerra?’ e


‘Fascismo Eterno’ para leituras complementares a respeito do tema. Em
contrapartida, recomendei o texto de Koyré sobre a mentira para entender um
pouco mais de um dos mecanismos adotados por Bolsonaro.

Duas dúvidas muito interessantes foram tiradas na ocasião: a primeira,


sobre a diferença entre confissão e religião para Jung. A segunda foi sobre o
fato de, durante a Segunda Guerra Mundial, terem posicionado os campos de
concentração distantes da cidade. A respeito disso, teorizou-se sobre as
possíveis razões, isto é; por que descarregar a violência “a queima roupa”, em
sujeitos cuja convivência é facilitada pela aproximação, é mais difícil? Muitas
teorizações foram feitas. Os discentes, em primeiro lugar, defenderam que tal
distância enfraquecia o sentimento de culpa. Eu enfatizei que, quanto mais
distante física e emocionalmente o opressor se sente do oprimido, mais o
abismo formado entre sua comunidade e a do outro se faz possível. Sabemos,
através dos textos, que enquanto a ligação libidinal entre membros da
comunidade é reforçada, tudo o que é diferente – e que diverge, por exemplo,
das palavras ditas pelo tirado, de acordo com Jung – acaba virando foco de
ódio.

Aproveitei o momento para me colocar a disposição para futuras


monitorias e conversas, agradeci a participação, informei sobre a necessidade
de dividir o trabalho em dois para o II SIM e tirei fotos para a posterioridade.

Concluo, a partir do exposto, que a roda de conversa foi um interessante


momento de troca de saberes e opiniões entre discentes e monitora.
ANEXO

Lista de presença da roda de conversa

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