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Capítulo 1: Meio Ambiente Urbano e a Proteção Constitucional

1.1 Conceituação Meio Ambiente

A conceituação de meio ambiente é bastante ampla, visto que ele compõe tudo o
que nos cerca, é justamente o ambiente em que estamos inseridos. A Política Nacional do
Meio Ambiente, legislação ambiental de referência no Brasil, define meio ambiente
como: "O conjunto de condições, leis, influencias e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas."- Lei 6.938/81, art.
3º, inciso I. Isto significa que nós cidadãos, temos uma grande conexão com o espaço em
que vivemos, portanto devemos zelar por isso. Porém, pode-se perceber que não é bem
assim que acontece, visto que várias atividades humanas tem prejudicado muito este elo
entre o homem e o ambiente em que vive, a poluição das águas, a enorme quantidade de
lixo descartada, as construções inapropriadas que acabam acarretando nos desastres
ecológicos e outras inúmeras ações tem gerado um enorme desequilíbrio.

O fato é que meio ambiente engloba diversos conceitos, tudo o que afeta a vida e
os ecossistemas, desde fatores biológicos até sociais, ou seja, a harmonia entre o homem e
a natureza no mesmo espaço. Dentre os objetos do meio ambiente, temos aqueles que são
imediatos, que buscam a proteção direta do meio ambiente propriamente dito e os objetos
mediatos que visam a garantia da saúde, segurança e bem-estar físico e psíquico das
pessoas.

O meio ambiente pode assumir quatro modalidades, de acordo com art. 225 da
Constituição Federal: natural ou físico, que engloba ar, água, solo, subsolo, flora e fauna,
dividindo-se em ambientes aquáticos e terrestres; artificial, que é aquele construído pelo
homem, nele se inclui o meio ambiente urbano, o qual será tratado posteriormente;
cultural, constituído pelo patrimônio cultural, artístico, arqueológico, paisagístico,
manifestações culturais, dentre outros; e de trabalho, que se refere ao local onde as
pessoas desempenham suas atividades de trabalho, encontra o equilíbrio na salubridade
do meio e na ausência de agentes que comprometam a incolumidade física e mental do
trabalhador.

1.2 Conceituação Meio Ambiente Urbano (art 182 CF)

O meio ambiente urbano se caracteriza pelas formações culturais humanas,


construídas para atender as necessidades humanas. A relação que os homens
estabeleceram nesse meio ambiente artificial, entre si e coexistindo com equipamentos e
serviços criados para atendimento de várias de suas demandas, acabou por constituir um
espaço atípico, equiparando-se a um ecossistema. Segundo Marques a respeito do tema:
"A cidade é um ecossistema, efetivamente, mas não natural. Nele sobressai-se o homem,
pois foi por ele construído para suprir suas necessidades." (MARQUES, 2005, p. 94).

A cidade brasileira, somente a partir da vigência da Lei 10.257/2001, que iremos


nos aprofundar posteriormente, passa a ser vista sob um aspecto efetivamente urbano-
ambiental.

1.3 Política Urbana (Lei Estatuto da Cidade)

O Estatuto da Cidade regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal,


capítulo relativo à Política Urbana, expondo seus objetivos e diretrizes gerais. A política
urbana, prevista no art. 182 da CF e art. 2 da Lei 10.257/2001, ordena o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade a fim de garantir o bem-
estar de seus habitantes, com uma sadia qualidade de vida, assegurando a dignidade
humana.

O objetivo da política urbana pode ser traduzido em quatro grupos de propósitos:


promover a gestão democrática das cidades, oferecer mecanismos para a regularização
fundiária, combater a especulação imobiliária, assegurar a sustentabilidade ambiental,
social e econômica dos núcleos urbanos.

No Estatuto incorpora-se a gestão democrática como uma diretriz geral da política


urbana. A ideia é trabalhar com modelos de gestão do interesse público, em que o papel
do cidadão é valorizado como colaborador, prestador e fiscalizador de atividades da
Administração Pública, exercendo sua cidadania.

A lei expõe também um rol exemplificativo de Instrumentos da Política Urbana,


com a finalidade de atender a função social da propriedade e das funções sociais das
cidades. Dividem-se em quatro grupos de instrumentos: planejamento, institutos
tributários e financeiros, institutos jurídicos e políticos e institutos ambientais. São
exemplos concretos: PEUC, IPTU progressivo e desapropriação com títulos, direito de
preempção, outorga onerosa do direito de construir, operações urbanas consorciadas,
transferência do direito de construir, direito de superfície, Plano Diretor.
O plano diretor, instrumento básico da política urbana, como consta no parag. 2,
art. 182 da CF, é lei municipal criada com a participação de toda sociedade, devendo
contar com a participação popular em todas as etapas, tem alcance em todo território do
município e deve ser aprovado na Câmara Municipal. Vale ressaltar que o Poder Público
pode exigir do proprietário do solo urbano não edificado, que promova seu adequado
aproveitamento, em áreas incluídas no plano diretor nas cidades com mais de 20 mil
habitantes, que sejam integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas
integrantes de locais de especial interesse público e causem significativo impacto
ambiental de âmbito regional ou nacional.

1.4 Da Origem do Amparo Legal

Todo este amparo legislativo mostrou-se necessário devido as consequências


ambientais do processo de urbanização, sendo uma delas as ocupações irregulares, tema
de análise neste artigo. Causado pois as áreas mais privilegiadas e de fácil acesso das
cidades são ocupadas por pessoas de maior poder econômico, já as áreas com dificuldade
de ocupação, sendo em grande parte as encostas, acabam sendo habitadas pela população
com menor poder aquisitivo. Isto retira a ocupação vegetal das encostas e as
impermeabiliza, causando uma dificuldade de infiltração da água, com isso, quando se
tem chuva, a enxurrada acaba levando toda a crosta dos morros e até mesmo as
construções que foram feitas nestas áreas, caracterizando os deslizamentos. Outro
problema, também relativo a questão das ocupações irregulares, é que os rios acabam
sendo ocupados em suas encostas, e esta ocupação faz com que o leito do rio diminua,
suas encostas se tornem impermeabilizadas e assim impossibilitando a infiltração da água
nos lençóis freáticos, o que dá causa as enchentes.

Ambas as complicações citadas anteriormente, os deslizamentos a as enchentes,


decorrentes das ocupações irregulares, são frutos de problemas de origem social, visto
serem áreas de risco e que acabam sendo ocupadas pela população mais pobre, devido a
especulação imobiliária, que faz com que uma grande parcela da população não tenha
condições de habitar áreas que sejam seguras para moradia, pelo exorbitante valor dos
imóveis que são cobrados nestes locais. O que acontece é uma alta valorização do preço
do solo, em valores muito superiores ao aumento da renda da população, assim as áreas
mais centrais tornam-se praticamente inacessíveis a população mais pobre, que é
praticamente jogada para as regiões periféricas, que não deveriam estar sendo ocupadas
por não terem estrutura para tal função, assim gerando risco à população.

Referências:

MIRANDA, Jorge; AMADO GOMES, Carla; BORRÀS PENTINAT, Susana. Diálogo


Ambiental, Constitucional e Internacional: Vol. 10. Rio de Janeiro (Brasil). Disponível em:
<http://www.dialogoaci.com/wp-content/uploads/2018/04/Dia%CC%81logo-ambiental-
constitucional-e-internacional-VOL-10_EB.pdf>. Acesso em: 20 maio 2018.
MARQUES, José Roberto. Meio ambiente urbano. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2005. Disponível_em:_<https://tede.pucsp.br/bitstream/handle/8786/1/Jose%20Roberto
%20Marques.pdf>. Acesso em: 20 maio 2018.
FREITAS, Eduardo de. "Segregação e desigualdades nos centros urbanos"; Brasil Escola.
Disponível em <https://brasilescola.uol.com.br/geografia/segregacao-desigualdades-nos-
centros-urbanos.htm>. Acesso em 02 de junho de 2018.

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