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“Todo estado está fundado na força”, enunciou Weber em 1918 (p. 194). Esta
afirmação traz toda a realidade que o texto irá analisar. O Estado, nos dias atuais,
opera numa contradição entre a violência indiscriminada, ou terror como foi enunciado
pelo autor, e a dissimulação de uma sociedade pacificada. Independente do regime
ser autoritário ou extremamente democrático, a violência generalizada como
ferramenta de controle social se faz presente (p.192).
Hoje este monopólio da força tem duas funções: uma para os que controlam o
Estado e outra para aqueles que vivem regulamentados pelo Estado, onde se busca
um equilíbrio que é verificado por um desejado “grau de pacificação interna”. Todavia,
esta dupla função explicita uma contradição onde, para aparentar a diminuição da
violência ilegal, como por exemplo o crime, tipificado em lei, o Estado pratica com
cada vez mais intensidade o terror, ou seja, “Toda pacificação imposta pelo Estado é
uma falsa pacificação da violência” (p. 196). Assim, o mesmo Estado que formula as
leis na forma de direito institucionalizado é o mesmo que o distorce para garantir a
ordem. Legalidade e ilegalidade convivem num equilíbrio que pende ora para um lado
ora para outro mediante uma aparência de justiça e equidade que o Estado a todo
tempo busca construir (p. 198).
Assim a violência evoluiu para uma distinção entre violência doce e violência
aberta, onde para o funcionamento normal do terror esta violência doce funciona pela
“ameaça permanente e pelo uso contingente – legal e ilegal, ou melhor, não legal” da
violência aberta. Um existe por conta do constante e exagerado uso do outro, e é
nesta contradição – a impressão de somente uma ameaça frente ao uso
indiscriminado – que o Estado opera (p.199).
Por fim, o autor irá analisar o uso destes elementos nos regimes republicanos
atuais, especialmente no caso brasileiro, para atestar que, em países que
vivenciaram ditaduras militares e regimes de exceção, mesmo após o fim destes, o
terror e a ameaça do terror não diminuíram. A repressão física ilegal foi substituída
por outros meios de controle social, onde uma aparente justiça e favorecimento por
meio de políticas públicas empreendidas pelo Estado são vividas igualmente a
aparelhos de repressão agindo sem limitação e instrumentalizados por aqueles que
estão no poder (p.201).
Referências:
- Pinheiro, Paulo Sérgio. “Estado e terror”. In: Adauto Novaes (Org), Ética, São Paulo:
Companhia das Letras/Secretaria Municipal de Cultura, 1992, p. 191-204.