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Curso: “Fitoterapia para diabetes na prática diária do nutricionista”

Versão 1.0

Antioxidantes e fitoterapia
Luis Carlos Marques

1. Introdução

Este assunto é hoje tema de grande divulgação e disseminação em praticamente todas


as áreas da ciência. Frente ao período de sua descoberta até a atualidade, sua expansão é
surpreendente, partindo de mera hipótese até atingir o status moderno de conceito
consolidado e bem fundamentado.

Como efeito adverso dessa expansão, tem-se a quase vulgaridade do envolvimento


dos radicais livres nas patologias, bem como a colocação simplória do uso de ingredientes
diversos para combatê-los, seja via alimentação saudável ou suplementação nutricional. Nesse
cenário, busca-se conhecer melhor em quais patologias efetivamente os radicais livres estão
envolvidos bem como quais os principais ingredientes que podem atuar de modo terapêutico,
bem como em que doses esses efeitos se expressam de modo real.

2. Radicais livres

Conceituam-se como moléculas orgânicas e inorgânicas e também átomos isolados


que apresentam um ou mais elétrons não pareados, condição que lhes imprime alta
instabilidade química, meia-vida curta e forte capacidade química reativa. Essa reatividade
imprime aos radicais livres tanto importância fisiológica em vários componentes biológicos
quanto, em excesso, poder deletério e atuação como gerador de patologias (Krishnaiah et al.,
2011).

A produção dos diversos radicais livres (ânion superóxido, radicais perhidroxil,


hidroxila, alquila, etc.) ocorre tanto no citoplasma como nas mitocôndrias e membranas
celulares e seus alvos principais são moléculas orgânicas como proteínas e lipídios, bem como
o DNA que sofre alterações diversas por ação das substâncias reativas. Há várias formas de
radicais livres, a maioria relacionada ao oxigênio, mas há outras de origens diversas. Conforme
são gerados nos vários processos biológicos, por exemplo, na respiração celular, os radicais
livres devem ser neutralizados por antioxidantes endógenos ou obtidos via dieta ou
tratamentos. Caso ocorra um desequilíbrio entre formação e neutralização dessas moléculas
oxidantes, surge o chamado stress oxidativo que se manifesta na indução de danos celulares
diversos (Lushchak, 2013).

Há várias doenças que têm sido diretamente associadas ao stress oxidativo, havendo
outras nas quais provavelmente os radicais livres igualmente atuam, mas faltam dados
definitivos a respeito. As principais patologias são as degenerativas como distúrbios do
envelhecimento, câncer, aterosclerose, doenças de Alzheimer e Parkinson, catarata, diabetes,

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© Ao aluno é permitido fazer uma cópia do material didático disponibilizado para uso próprio. De acordo
com a Lei no. 9.610 de 19/02/1998, que trata de direitos autorais, todo aluno fica proibido de propagar,
distribuir e vender o material de qualquer forma, sob pena de responder civil e criminalmente por
violação da propriedade material e intelectual.
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artrite, esclerose múltipla, enfisema, doenças do sistema imune, dentre outras (Thanan et al.,
2015).

3. Antioxidantes

Podem ser definidos como substâncias que, presentes em baixas concentrações


quando comparadas a do substrato oxidável, atrasa ou inibe a oxidação deste substrato de
maneira eficaz. Os vários antioxidantes existentes são divididos em enzimáticos e não
enzimáticos. Os enzimáticos principais são a catalase, superóxido dismutase e a glutationa
peroxidase, e o aumento na sua expressão e ação é uma das estratégicas de combate ao stress
oxidativo. Já os não enzimáticos são as substâncias exógenas da alimentação, suplementação
ou terapêutica, destacando-se dentre elas o beta caroteno, a vitamina E, a vitamina C e os
polifenóis da dieta ou oriundos de terapias (Sem et al., 2010). Cada um desses ingredientes
tem características próprias, como solubilidade, por exemplo, que interferem na sua atividade,
motivo pelo qual a estratégia de intervenção deve variar as substâncias, obtendo-se assim
melhores resultados a longo prazo.

Um problema atual é, dentre os vários ingredientes disponíveis, como comparar


potência e possível eficácia de ação. A definição de poder antioxidante tem sido feita por
métodos experimentais in vitro ou ex-vivo, principalmente pelas técnicas do DPPH (2,2–
Difenil–1–picril–hidrazila), inibição da oxidação do beta caroteno, por métodos que avaliam a
capacidade antioxidante total (TRAP - Total Radical Trapping Antioxidant Parameter, ORAC -
Oxygen-Radical Absorbancy Capacity, etc.), atividade enzimática específica (glutationa
peroxidase, calatase ou superóxido dismutase) ou ainda inibição da lipoperoxidação através da
inibição da formação do malondialdeído, isoprostano ou carbonila em proteínas (Vasconcelos
et al., 2007; Alves; David, 2010). A forma adequada de interpretação dos resultados, desse
modo, deve direcionar-se a dados obtidos pelo mesmo método, pois distintas tecnologias
fornecerão resultados não comparáveis entre si.

4. Principais antioxidantes da fitoterapia

A alimentação natural e saudável certamente é uma fonte relevante de ingredientes


antioxidantes, principalmente vitaminas e polifenóis, presentes na imensa maioria das frutas e
verduras diversas. Destacam-se algumas plantas medicinais e suas preparações, denominados
de fitoterápicos, de marcante atividade antioxidante e com boa documentação experimental e
clínica em patologias relacionadas. Existem inúmeras espécies vegetais com ações
antioxidantes evidenciadas, geralmente relacionadas às classes de polifenóis incluindo
flavonoides, taninos condensados e hidrolisáveis e seus precursores, alcaloides, óleos
essenciais, ligninas, lignanas, cumarinas, saponinas triterpênicas, ácidos fenólicos, fitosteróis,
dentre outros (Sen et al., 2010).

Dentre as milhares de espécies com atividades de distintas potências, estudo


comparativo de vários antioxidantes ricos em polifenóis através dos quatro tipos principais de
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© Ao aluno é permitido fazer uma cópia do material didático disponibilizado para uso próprio. De acordo
com a Lei no. 9.610 de 19/02/1998, que trata de direitos autorais, todo aluno fica proibido de propagar,
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testes (TEAC, ORAC, FRAP, eGAEs) e de um índice de potência antioxidante, gerou um quadro
comparativo das potências médias desses ingredientes. Como destaque, citam-se bebidas à
base de sementes de romã e de vinho tinto, seguida dos ‘berries’ blueberry, blackberry, açaí e
cranberry (Seeram et al., 2008).
Assim, buscando destacar as mais evidenciadas com potencial clínico, os principais
antioxidantes naturais fitoterápicos são os seguintes:

4.1- Chá verde e derivados

O chá verde se refere às folhas de Camellia sinensis, espécie mundialmente utilizada


como bebida em escala apenas inferior à da água; suas folhas são utilizadas de várias formas e
preparados, gerando produtos derivados (chá branco, chá preto, oolong, etc.). Inúmeros
estudos in vitro, in vivo, clínicos e epidemiológicos indicam diversos benefícios à saúde dos
usuários e pacientes, invariavelmente atribuídos à presença dos polifenóis, particularmente da
substância EGCG – epigalo catequina galato. Assim, são reconhecidas as propriedades
anticâncer, antigenotóxica, anticarcinogênica, hipolipemiante, imunomodulador, antiviral e
antibacteriana, anticatarata, hepatoprotetor, quimiopreventiva e anti-inflamatória, bem como
o efeito termogênico auxiliar ao controle da obesidade (Chan et al., 2007; Tariq; Reyaz, 2013;
Health Canada, 2015).

4.2- Pinheiro marítimo

Tratam-se das cascas de Pinus pinaster, conhecidas como pinheiro francês. São drogas
vegetais ricas em polifenólicos do tipo proantocianidinas (LI et al., 2015). A literatura sobre um
determinado extrato dessa espécie, comercialmente referido como pycnogenol, é muito bem
documentada, referendando o produto como fitoterápico anti-inflamatório, cardiovascular,
neuroprotetor, anticancerígeno e com aplicações clínicas em diversas patologias, como
síndrome metabólica, insuficiência venosa crônica, hiperlipemia, diabetes, osteoartrite,
infertilidade masculina, melasma, retinopatia, dentre outras (Maimoona et al., 2011).

4.3- Sementes de uva

As uvas são ricas em polifenóis, principalmente flavonoides e taninos condensados,


também denominados proantocianidinas oligoméricas, grupo que padroniza os extratos. Tem
sido amplamente estudada e recomendada como anti-inflamatório, anticancerígeno,
antimicrobiano e antiviral, cardioprotetor, neuroprotetor e hepatoprotetor, dentre outras
possibilidades de uso (Georgiev et al., 2014).

5. Conclusão

Os produtos naturais, alimentícios ou fitoterápicos, são abundantes em termos de


atividades antioxidantes, existindo diversas outras espécies e produtos igualmente
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importantes para uso e indicação terapêutica (ex.: alho, própolis, açaí, etc.). No entanto, sua
colocação como medicamento carece da adequada definição em termos de patologias bem
como sua administração em doses adequadas, respeitando-se suas restrições. Feito isso, o
potencial de uso é abrangente e extremamente relevante a todos os profissionais de saúde e
certamente a incontáveis pacientes.

Tabela 1. Dados técnicos principais dos antioxidantes naturais de destaque na fitoterapia.

Parte
Nome científico Marcadores Dosagens Restrições
usada
- Contraindicado para
pacientes com gastrite, úlcera
Quantidade de gastroduodenal, ansiedade,
extrato que insônia, taquicardia,
Camellia polifenóis forneça de 240- hipertireoidismo e problemas
sinensis folhas extrato seco a 320 mg de hepáticos
(chá verde) 50% polifenóis por dia, - Pode haver redução na
divididos em 2-3 absorção de ferro dos
tomadas alimentos, do ácido fólico e
interação com warfarina e
vários outros medicamentos
Quantidade de
extrato que - Pode promover desconforto
proantocianidinas forneça de 30 a abdominal, tonturas, náuseas e
Pinus pinaster cascas dos
extrato seco a 200 mg de enxaqueca
(pinho francês) caules
70% marcadores por - Interage com anticoagulantes
dia, divididos em 2-
3 tomadas
Quantidade de
extrato que
forneça de 80-400
mg de marcadores - Pode promover constipação,
proantocianidinas
Vitis vinifera por dia dermatite, enxaqueca,
sementes extrato seco a
(uva) inicialmente e 40- afinamento do cabelo, urticária
80%
80 mg em e metrorragia
manutenção,
divididos em 2-3
tomadas

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