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Psicologia da educação: perspectivas de futuro 22/07/2019 07(47

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versão impressa ISSN 1414-6975
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Psicol. educ. no.31 São Paulo ago. 2010
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Psychology of education: future perspectives
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Psicología de la educación: perspectivas de futuro
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Maria Regina Maluf Permalink

Professora titular da PUC-SP. E-mail: marmaluf@gmail.com

RESUMO

O texto reproduz uma apresentação feita por ocasião da comemoração dos 40 anos da criação do Curso de Pós-
Graduação em Psicologia da Educação na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Depois de recordar alguns
marcos históricos, faz considerações de caráter teórico-metodológico sobre a Psicologia atual e suas perspectivas
de futuro. Aponta direções para a formação de pesquisadores em Psicologia da Educação.

Palavras-chave: Psicologia da Educação; novas perspectivas; pós-graduação.

ABSTRACT

The text reproduces a presentation built for the anniversary of 40 years of creation of Post-Graduation in
Psychology of Education at Pontifícia Universidade Católica of São Paulo. After recalling some historical landmarks,
it makes considerations of theoretical- methodological character about Psychology nowadays and its future
perspectives. It indicates directions for the formation of resarchers in Psychology of Education.

Keywords: Educational Psychology; new perspectives; graduate studies.

RESUMEN

El texto reproduce una presentación realizada por ocasión de la conmemoración de los 40 años de la creación del
Curso de Posgrado en Psicología de la Educación en la Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Tras recordar

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algunos marcos históricos, hace consideraciones de carácter teórico-metodológico sobre la actual Psicología y sus
perspectivas de futuro. Apunta direcciones para la formación de investigadores en Psicología de la Educación.

Palabras clave: Psicología de la Educación; nuevas perspectivas; posgrado

O curso de Pós-Graduação em Psicologia da Educação na PUC-SP foi um dos primeiros do País. Foi criado em 1969
pelo professor Joel Martins e teve a importante colaboração do professor Casimiro dos Reis Filho. Joel Martins
faleceu em 1992; era Reitor desta Universidade, eleito por expressiva maioria de professores, alunos e
funcionários. No final da década de 60, quando no Brasil era criada a legislação referente à pós-graduação e muitas
universidades reformavam sua estrutura e organização - uma delas era a PUC-SP -, Joel Martins tomou as
iniciativas que convenceram a Reitoria da Instituição sobre a necessidade e importância de incluir-se entre os
pioneiros que criavam o nível da pós-graduação. Assim foram criados os primeiros cursos de mestrado e
posteriormente os de doutorado, voltados para a formação de pesquisadores e de docentes para o ensino superior.
Os três primeiros cursos de pós-graduação criados na PUC-SP foram: Psicologia da Educação, Teoria Literária e
Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas.

Os primeiros cursos pautaram-se pelo Parecer 977, que era uma tradução dos programas norte-americanos de
mestrado, e pela Portaria 77/69, que regulamentou os Mestrados no Brasil. O nível de doutorado em Psicologia da
Educação na PUC-SP foi criado em 1982. A partir de então, os cursos passaram a constituir um "Programa" de Pós-
Graduação em Psicologia da Educação.

O Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Educação na PUC-SP comemorou, em 1989, seus 20 anos de


existência (1969-1989). Dessa comemoração participou o professor Joel Martins, quando fez uma conferência
histórica na qual relatou com detalhes a experiência dos primeiros anos de pós-graduação no Brasil. Essa
conferência foi transcrita sob o título de "Vinte Anos de Pós-Graduação em Psicologia da Educação - 1969-1989.
Conquistas e Perspectivas". Foi publicada no volume intitulado 30 Anos de Pós-Graduação em Psicologia da
Educação. Dissertações e Teses.

Esse volume a que nos referimos, 30 Anos de Pós-Graduação em Psicologia da Educação. Dissertações e Teses, foi
organizado pela professora Melania Moroz com a colaboração de um grupo de alunos, para comemorar os 30 anos
do Programa, em 1999.

Estamos nos 40 Anos.

Vamos falar um pouco de Futuro.

O ser humano está sempre em confronto com duas dimensões das realidades vividas, o espaço e o tempo. Os
objetos se situam no espaço e os acontecimentos se sucedem e duram no tempo. No interior dessa estrutura
espaço-temporal, os indivíduos nascem e morrem e a humanidade conserva e amplia a sabedoria das idades.

Pensar sobre o futuro foi o que fiz quando decidi empreender minha tese de doutorado sobre o tema da
perspectiva temporal do futuro, sob a orientação de Joseph Nuttin, na Universidade Católica de Louvain, Bégica.
Tratava-se então de pesquisar como os indivíduos organizam seu comportamento em torno da motivação que os
conduz a elaborar planos e projetos localizáveis no tempo: no presente estendido e no futuro próximo ou distante.
Desde então, embora meus problemas de pesquisa se situem no campo da educação e do desenvolvimento,
mantenho um especial interesse pelas reflexões acerca do que é e para onde vai a Psicologia.

Refletir sobre o futuro da Psicologia como disciplina envolve preferências epistemológicas e escolhas de janelas às
quais nos assomamos para tentar prever o que pode vir a ser. Foi o que fiz quando aceitei ser entrevistada por
Rubén Ardila, que recolheu entrevistas de psicólogos dos mais diferentes países e regiões para compor seu livro,
agora publicado em português, sobre A Psicologia no futuro (ARDILA, 2011).

A janela a partir da qual tentar entender o passado e antecipar o futuro é aquela que se abre para mim quando
reflito sobre as relações entre ciência e sociedade.

A Psicologia se constituiu como ciência inserida na racionalidade do século XIX. Adotou os métodos que, na época,
permitiam a aproximação dos fenômenos a serem estudados, sendo o mais livre possível dos dogmatismos e
argumentos de autoridade. Esse modo de estudo se resumia então nos métodos experimentais e nas observações
sistemáticas. Tais métodos se distanciavam do conhecimento vulgar baseado na pura experiência imediata, porque
exigiam manifestações externas verificáveis e controle de variáveis. Nessa perspectiva, as análises capazes de

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incorporar a quantificação e a redução da complexidade foram vistas como indispensáveis para a produção de
conhecimento científico. O conhecimento novo deveria ser necessariamente causal.

Hoje vivemos uma transição epistemológica, que traz consigo novos modos de conhecer que estão relacionados às
mudanças nas formas de organização das sociedades. Essa transição se reflete na Psicologia através da diversidade
de enfoques teóricos e metodológicos e das novas formas de atuação do profissional da Psicologia.

O conhecimento psicológico, para ir além das fragmentações reducionistas que caracterizaram a modernidade, até
fins da primeira metade do século XX, necessita ser local, porém mantendo em seu horizonte a totalidade do
universal, de tal modo que lhe seja possível projetar-se em direção ao futuro sem determinismos.

A Psicologia atual que se projeta no futuro já não busca um saber objetivo e neutro, que exclui valores humanos,
como, por exemplo, a justiça e a emancipação social. Minha projeção da Psicologia para os anos que se anunciam é
a de uma ciência que produz conhecimento útil, incorporando uma profunda relação com a prática, para a geração
de bem-estar para indivíduos e grupos, nas diferentes culturas e na domesticação da tecnologia para fazê-la servir
ao fator humano.

Gosto de pensar, com otimismo, que as tendências emergentes na Psicologia nos conduzirão a avanços que
produzirão melhores e mais efetivas integrações entre a teoria e a prática.

A Psicologia é por natureza uma disciplina que tem tudo a ver com a produção de condições de bem-estar para os
indivíduos e grupos. Nesse sentido ela deverá ser cada vez mais uma fonte de conhecimentos e práticas voltadas
para o bem-estar humano em seus diversos âmbitos, como são a saúde, a educação, o trabalho e todas as áreas
emergentes de atuação do psicólogo.

No entanto, habitamos um mundo desigual e distante da riqueza partilhada entre as nações. Na medida em que
essa desigualdade persistir, acho provável que o futuro da Psicologia seja distinto nos países ricos e nos países
pobres.

Nos países ricos se desenvolverão as neurociências do comportamento, com suas promessas de desvendar o ainda
misterioso funcionamento cerebral e de todo o sistema nervoso, glandular e genético. Neles o estudo das bases
biológicas e neurais do comportamento encontrará potente desenvolvimento.

Nos países não-hegemônicos e economicamente dependentes, a Psicologia passará por inovações de outra
natureza. Surgirão novas propostas teórico-metodológicas, que permitirão a abordagem de questões emergentes e
específicas a contextos socioculturais ainda pouco explorados pela ciência normal. Talvez nessas novas propostas
se encontre o berço do resgate de valores indispensáveis para a vida humana feliz, como a generosidade, o
cuidado, a ajuda, a acolhida, a partilha.

Nestes países não-hegemônicos o desenvolvimento da Psicologia será impulsionado pelos campos de aplicação. No
entanto, é preciso planejar para que se torne possível chegar à elaboração de teorias que possam surpreender pelo
seu vigor e originalidade, porque estarão voltadas para o resgate de dívidas sociais e para o enfrentamento de
adversidades.

Torço para que o avanço da Psicologia nos países pobres passe por inovações teórico-metodológicas que permitam
explicar e compreender a formação da mente e do comportamento em condições adversas de vida, em situações
de vulnerabilidade social, onde faltam a moradia, a escola, a saúde e mesmo o trabalho. Essa Psicologia poderá
estar efetivamente a serviço da vida humana.

Uma das questões teórico-metodológicas que considero da maior importância é a que se refere às propostas de
separação radical entre métodos quantitativos e qualitativos. É uma questão que ainda se apresenta em alguns
desses contextos de pesquisa, e que julgo insuficiente e falaciosa. Todo procedimento utilizado em investigações de
algum modo quantifica e qualifica. A separação entre procedimentos participativos e não participativos também me
parece insuficiente para dar conta da diversidade dos problemas a serem investigados.

Necessitamos visões mais integradoras, procedimentos cruzados que se complementem na busca das melhores
respostas, que serão aquelas que trouxerem consigo os melhores resultados diante dos objetivos antecipados.

Gosto de referir palavras do astrônomo Carl Sagan quando escreveu The demon-haunted world, publicado em
português sob o título de O mundo assombrado pelos demônios. A ciência vista como uma vela no escuro (SAGAN,
1996). Sagan vê a ciência como uma vela no escuro, porque o mundo sem ciência é como um lugar assombrado
por demônios. Essa comparação tem sua origem no livro A candle in the dark, que Thomas Ady escreveu em 1656,
como uma das pouquíssimas vozes que se ergueram no silêncio que envolveu a febre da caça às bruxas na Europa
do século XVII.

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Como em todo conhecimento científico os resultados obtidos pelos pesquisadores da Psicologia exigem o confronto,
a crítica, o debate. Busca-se conhecimento que em alguma medida seja baseado em evidências e possa ser
verificado, confrontado, criticado, discutido. Esse tipo de conhecimento só pode ser encontrado na convivência com
a diversidade metodológica, distante de consensos falaciosos.

As imensas desigualdades sociais, em prejuízo da grande maioria da população, são nossa realidade vivida.

Entre os muitos temas de pesquisa psicológica que se revestem de relevância social, estão os que tratam dos
processos educacionais escolares. Dentre estes, a aprendizagem da linguagem escrita. Em muitos países o ensino
que garante o acesso à linguagem escrita já é uma conquista. Em nosso País, esse é ainda um dos maiores
problemas da educação.

Não há dúvida de que se trata de uma questão de políticas públicas, uma vez que as desigualdades escolares estão
fortemente associadas às desigualdades sociais. No entanto, o psicólogo da educação precisa ir mais longe no
enfrentamento dessa questão.

A ciência psicológica fez grandes progressos, sobretudo nos últimos 35 anos, no conhecimento dos processos por
meio dos quais se aprende a ler e a escrever. O conhecimento desses processos tem gerado revisões profundas nas
políticas e práticas de alfabetização em diversos países. É preciso que isso aconteça também em nosso País, onde
um número excessivamente alto de crianças ainda permanece durante anos na escola sem aprender a ler e a
escrever.

Cabe ao psicólogo da educação agir para revelar o potencial de aprendizagem dos alunos, que permanece oculto e
mesmo negado, devido a crenças teóricas alienantes e a práticas inadequadas. Isso pode ser feito no contexto da
formação de novos pesquisadores e docentes em todos os níveis do ensino.

Essas são perspectivas de futuro para a pesquisa em Psicologia da Educação.

Referências
Ardila, R. (2011). A Psicologia no futuro. São Paulo, Vetor Editora.

Sagan, C. (1996). O mundo assombrado pelos demônios: a ciência visita como uma vela no escuro. São Paulo,
Companhias das Letras.

* Apresentado no evento comemorativo dos 40 Anos de Psicologia da Educação na PUC-SP, em 17 de agosto de


2010.

R. Ministro de Godoy, 969


Complemento: 4o andar - Perdizes
05015-901 São Paulo - SP - Brasil
Tel.: +55-11 3670-8527
Fax: +55-11 3670-8527

pedpos@pucsp.br

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