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Bloch, autor de grande sucesso do período que mantinha seu gosto afinado
com o do público e com a tradição do gênero comédia na dramaturgia
brasileira. Destacam-se, entre suas peças, Dona Xepa e as Mãos de Eurídice.
Com isso, pode-se perceber que o teatro brasileiro possui uma história
escrita em capítulos que não foram redigidos necessariamente seguindo uma
lógica evolutiva, uma vez que a renovação se dá primeiramente no palco antes
mesmo da formação e consolidação do que podemos chamar de drama
moderno no Brasil.
Eles não usam black-tie tem como tema a greve, mas as ações que
ocorrem mimeticamente na peça são de outra natureza. O que é mostrado em
cena são as relações familiares e o modo de vida numa favela do Rio de
Janeiro. O espaço é a casa de Otávio e Romana, mais precisamente a sala do
barraco onde vivem, local onde dormem Tião e Chiquinho, mas que também
serve de ponto de encontro das personagens para relatarem o que se passa
fora de cena.
Guarnieri ao eleger o tema da greve em Eles não usam black tie insere
na obra dramática o elemento épico, mas opta pela forma tradicional do drama.
As relações intersubjetivas entre as personagens sobrepõem-se ao assunto
épico escolhido pelo dramaturgo.
A figura do coringa foi introduzida pela primeira vez pelo Teatro de Arena
na encenação Arena Conta Zumbi. Basicamente esse sistema muda a relação
dos atores em relação à encenação de papéis, pois cada ator pode passar
pelos diversos personagens propostos pelo texto. Com esse sistema, pode-se
identificar uma clara influência brechtiana no tocante a não identificação
completa entre ator e personagem. Há uma grande aproximação entre o
personagem narrador de Brecht e o coringa de Boal, no sentido da função
desempenhada por eles ao direcionar a atenção do público para as mensagens
trazidas pelas peças dos dramaturgos.
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Tião – Quem tem que sustentá mulhé sou eu, não eles!
Problema é meu, não deles! Que fiquem por ai com suas
greve, eu não sou trouxa. Já imaginou, Zuíno... A gente entra
pro escritório, faz um curso de qualqué coisa, sai da fábrica e
arruma a vida...
Jesuíno – Não é tão fácil, não...
Tião – Precisa dá duro! É muito mais inteligente do que ficá
fazendo greve por três mil cruzeiro... (GUARNIERI, 2009, p.65).
Outra ideia que aparece nesse ato, além da ascensão social, que pode
ser conseguida pelo trabalho, é o valor do dinheiro. Tião acredita que Maria vai
apoiar sua decisão, pois as atitudes tomadas por ele levam em consideração o
bem-estar de sua noiva e do filho que vai nascer. Para ele, o importante é
tomar posição e defender seus interesses individuais.