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A REGÊNCIA VERBAL EM TRÊS DICIONÁRIOS PARA APRENDIZES DE


LÍNGUA ESPANHOLA

Aline Noimann1

RESUMO: O trabalho faz uma análise de como três dicionários de Língua Espanhola
apresentam as informações de regência verbal e se essas informações ajudam aos usuários
destes dicionários em atividades de produção. Para tanto, mostraremos o que é um
dicionário para aprendizes para alguns lexicógrafos e faremos uma pequena explicação
sobre a microestrutura de um dicionário.
PALAVRAS-CHAVE: Lexicografia, dicionários monolíngues para aprendizes de língua
espanhola, valência verbal, microestrutura.

ABSTRACT: The work is an analysis of how three Spanish Language dictionaries have the
information and conducting verbal information to help users of these dictionaries in
production activities. To this end, we will show what is a dictionary for learners to some
lexicographers and make a little explanation on the microstructure of a dictionary.
KEYWORDS: lexicography, monolingual dictionaries for learners of Spanish language,
verbal valence, microstructure.

Este artigo tratará de como três dicionários para aprendizes de língua espanhola
tratam do fenômeno da regência/ valência verbal em seus verbetes. Para tanto,
analisaremos três dicionários que têm um amplo uso por estudantes de Língua Espanhola:
O Diccionario Práctico del Estudiante de la Real Academia Española (2007); o Diccionario
Señas, Diccionario para la Enseñanza de la Lengua Española para brasileños (Ed. Martins
Fontes, 2002); e o Diccionario de la Lengua Española para Estudiantes de Español (Ed.
Espasa, 2002).

1
Mestre em Estudos da Linguagem na área de Teoria e Análise Linguística: Gramática, Semântica e
Léxico pela UFRGS e Doutoranda em Estudos da Linguagem: Estudos Linguísticos do Léxico também
pela UFRGS. Atualmente é professora de Língua Portuguesa e Língua Espanhola do Instituto Federal do
Rio Grande do Sul.
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Para o entendimento de como estruturam estas obras, faremos uma breve


apresentação das mesmas, mostrando o tipo de usuário a que elas são destinadas e como
elas são estruturadas. Após isso, faremos um breve resumo de como alguns lexicógrafos
tratam os dicionários para aprendizes e o sobre a microestrutura de um dicionário.
Sabemos que o tratamento da regência verbal não é o foco dos dicionários e que os
mesmos não seguem um padrão para o tratamento da mesma. Como afirma Weinrich
(1979):

Vários linguistas têm chamado a atenção para o fato de a maioria dos


dicionários nos oferecerem uma informação deficiente acerca do uso dos
verbos. As usuais indicações sobre o uso transitivo ou intransitivo dum
verbo não são, de modo nenhum, suficientes. (WEINRICH, 1979: 323)

Sabemos também que os verbos não são de fácil tratamento. Os verbos são uma
das mais complicadas categorias gramaticais para serem definidas em um dicionário.
Landau (2001) afirma que:

Verbs are often considered- justly, I think- the most difficult words to
define, in part because many verbs have numerous senses that must be
discriminated, and partly because of de complex relationship between
verbs and their objects. (LANDAU, 2001: 173)

Tratando deste mesmo ponto Bugueño (2003) afirma que,

A nuestro modesto modo de ver, uno de los puntos más débiles en


nuestra tradición lexicográfica es el tratamiento sintáctico de los artículos
léxicos en los diccionarios.
Concepto fundamental para abordar este problema es el de “valencia”,
que se debe a Tesnière (1965). Se podría decir que la valencia es la
capacidad que tiene una palabra para obligar a llenar ciertas casillas o
lugares en torno de sí. Estas casillas o lugares son denominados de
“actantes”. Una carencia que presenta la lexicografía académica española
es la de no explicitar de forma consecuente la cantidad de actantes que
un verbo requiere. Así, por ejemplo, DRAE (1992) marca sólo la
transitividad y la intransitividad de un verbo (concomitantemente se
entregan también indicaciones sobre el uso reflejo o pronominal). A ello
habría que agregar que algunos verbos tales como los atmosféricos
(llover, nevar,etc.) van marcados como “impers.” (=impersonal). Fuera
de eso, otra marca sintáctica no hay. (BUGUEÑO, 2003: 105)
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Deste modo, acreditamos ser muito importante o tratamento da valência verbal em


dicionários para aprendizes, explicitando a quantidade de actantes que um verbo necessita e
trazendo não somente marcas de transitividade e intransitividade, mas também outras
informações que ajudem o usuário do dicionário nas atividades de produção.
Morán (1997) afirma que em muitas ocasiões se colocou em dúvida a necessidade
da presença das indicações sobre transitividade ou intransitividade no dicionário. E a autora
conclui que a opinião da Real Academia Española é clara a respeito:
Sin embargo, los diccionarios registran con acierto el uso
transitivo o intransitivo en cada una de las acepciones de un verbo
determinado. Debe entenderse que esta calificación gramatical define el
empleo predominante, pero no puede prever todas las situaciones en que
el verbo puede hallarse construido. Cuando un verbo o acepción tiene
ambos usos, suelen indicar los diccionarios que un verbo transitivo se
usa también como intransitivo, o viceversa.” (R.A.E, 1973, apud Morán,
1997).

E completa:
“Así, podría considerarse que indicaciones gramaticales de este
tipo deben interpretarse de manera ciertamente relativa, y que se trata en
realidad de indicaciones gramaticales que hacen especial referencia a la
frecuencia. Por otro lado, puede considerarse que existe una diferencia
entre la acepción del verbo transitivo y la del verbo intransitivo,
entonces, además de esta primera diferenciación, sería necesario, en su
caso, otra diferenciación según criterios más específicamente
semánticos.” (Morán, 1997: 154).

Mostraremos em nossa análise, que critérios os lexicógrafos usam para tratar a


regência/ valência verbal, se somente expõem a classificação em verbos transitivos e
intransitivos e se usam de outros critérios, como critérios sintáticos, semânticos, se usam
exemplos, etc.

OS DICIONÁRIOS PARA APRENDIZES


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Os dicionários para aprendizes, segundo Welker (2005), objetivam auxiliar o


estudante de línguas estrangeiras não especificamente na aprendizagem do vocabulário e
sim nas suas diversas atividades, especialmente na produção de textos. Assim, acreditamos
que eles devem servir de instrumento para as mais diversas consultas em atividades de
produção. Neste trabalho iremos analisar se os dicionários apresentam de maneira eficiente
informações sobre a regência verbal da língua espanhola.

Binon e Verlinde (2000) afirmam que um dicionário de aprendizagem não é


somente um dicionário para aprendizes, mas um dicionário que tem como objetivo
favorecer a aquisição do vocabulário de uma língua, selecionando as informações,
apresentando-as e organizando-as, de maneira a facilitar a integração e a memorização do
vocabulário. E completam que um dicionário para aprendizes centrado na produção tem
como missão principal dar uma solução aos diversos problemas na comunicação, aos quais
os aprendizes são confrontados. Assim,

“Ele deve fornecer-lhes simultaneamente todas as informações


morfológicas, semânticas, sintagmáticas, sintáticas, paradigmáticas e
pragmáticas de que eles necessitam”. (BINON e VERLINDE, 2000: 96).

Tratando deste mesmo tema, Calderón Campos (1994) afirma que “En los últimos
quince años, ha aumentado el interés por los diccionarios pedagógicos, interés que se
evidencia en la publicación de numerosos diccionarios, y en la aparición de una
abudantísima bibliografía al respecto.” (Calderón Campos, 1994, p. 13). No entanto, o
autor reitera que mesmo com esse aumento de interesse pelos dicionários, seguimos mal
informados no que se refere à importância e ao efeito deste tipo de dicionário no processo
de aprendizagem. E completa:

Además, en la mayor parte de los artículos dedicados a los diccionarios


pedagógicos, los autores se interesan más por la elaboración de los
mismos que por sus efectos en el aprendizaje del vocabulário. (Calderón
Campos, 1994: 14)
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Assim, o autor conclui que há muitos estudos sobre a elaboração deste tipo de
dicionários, mas muito poucos sobre a eficácia dos mesmos.
Pontes (2009), tratando dos dicionários para aprendizes e da diferenciação entre um
dicionário monolíngue para estrangeiros e para nativos, afirma que os dicionários
monolíngües para estrangeiros devem ser distintos dos dicionários monolíngues para
nativos e são ideais para usuários estrangeiros. Apresentam definições que são autênticas
explicações, pois são mais claras que as dos monolíngues para nativos. Constam
informações elementares que podem ser supérfluas em muitos casos para um falante
nativo. Devem incluir exemplos que permitam o uso da palavra e aclarem o seu significado.
Pontes conclui que,

Indubitavelmente, todos os lexicógrafos, a seu modo, buscam


conseguir definições simples e claras para os usuários, especialmente os
não nativos, no caso dos dicionários de aprendizagem. A tendência hoje
é incorporar a esse tipo de obra um vocabulário controlado, a partir de
dois critérios fundamentais: o da frequência de uso e o da utilidade
lexicográfica. O critério da utilidade, como lembra Calderón Campos
(1994), define-se como a necessidade de incorporar palavras que, ainda
que não sejam especialmente frequentes, têm demonstrado sua utilidade
na hora de definir. No dicionário de aprendizagem, palavras populares,
regionais e gírias são essenciais na formação de sua nomenclatura.”
(Pontes, 2009: 37)

Desta forma, acreditamos que este tipo de dicionários deve trazer informações mais
precisas do que um dicionário monolíngue para falantes nativos e que a informação da
regência verbal é de muita importância para os usuários compreenderem o uso correto das
preposições da língua espanhola e se um determinado verbo pode ser empregado como
transitivo ou intransitivo.
Tratando do caso da regência verbal nos dicionários para aprendizes, Sao (2009)
afirma que
No caso específico da regência verbal, quando tal informação está
inserida no dicionário, ela encontra-se geralmente implícita em exemplos
ou abonações. Localizá-la, portanto, dentre outras informações
gramaticais, pode consumir grande tempo do consulente. Vemos, então,
a necessidade de um dicionário que poupe tempo do usuário ao
pesquisar uma dúvida pontual. Sanar essa dúvida torna-se ainda mais
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complicado para os aprendizes iniciantes de LE, que muitas vezes não


dominam suficientemente o idioma para compreender os exemplos e até
mesmo fazer uma busca completa. Dessa forma, acabam escrevendo
inadequadamente a estrutura por pensarem na construção decalcada e
reproduzi-la na LE, o que provoca um alto índice de erro. (Sao, 2009: 56)

Neste artigo faremos uma pequena análise de como três dicionários para aprendizes
de espanhol tratam da regência/ valência verbal e se as informações que os mesmos trazem
são suficientes para um aluno que necessite resolver suas dúvidas em atividades de
produção. A seguir, faremos uma pequena exposição de como deve ser a elaboração de
uma microestrutura de um dicionário para alguns lexicógrafos, já que o tema central deste
artigo, ou seja, a regência verbal em dicionários para aprendizes faz parte da microestrutura
de um dicionário.

A MICROESTRUTURA DE UM DICIONÁRIO

Haensch (1997) classifica a microestrutura como “La ordenación de los elementos


que componen el artículo lexicográfico”. (Haensch, 1997: 41).
Welker (2005, p. 109) afirma que desde que se estabeleça um padrão, o lexicógrafo
pode, em princípio, elaborar qualquer tipo de microestrutura. O autor salienta, baseado em
Hausmann e Wiegand (1989), que os verbetes de um dicionário devem ter as seguintes
informações:
a) Informação que identifica o lema na sincronia (grafia, pronúncia,
informação gramatical, flexão);
b) Informações que identifica o lema na diacronia (etimologia);
c) Marcas de uso;
d) Informação explicativa (principalmente a definição; às vezes
descrições enciclopédicas);
e) Informação sintagmática (construção, colocações, exemplos);
f) Informação paradigmática (sinônimos, antônimos, etc);
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g) Vários tipos de informação semântica (por exemplo, sobre


metáforas);
h) Observações (por exemplo, sobre o uso do lema);
i) Ilustrações (desenhos, gráficos);
j) Elementos de ordenamento (por exemplo, diversos símbolos);
k) Remissões;
l) Símbolos substitutivos (geralmente, o til, para evitar repetições).

Welker (2005) apresenta, ainda, uma tipologia microestrutural baseado também nos
autores citados acima, apresentando quatro tipos de microestrutura:
1) Microestrutura integrada: as respectivas informações sintagmáticas
(colocações, etc) são apresentadas em cada acepção;
2) Microestrutura não integrada: as informações sintagmáticas são
separadas das diversas acepções, aparecendo no final do verbete, às vezes num
bloco a parte;
3) Microestrutura semi-integrada: tem a mesma organização da não
integrada, mas os sintagmas que estão no final recebem números que se referem
à acepção à qual pertencem, permitindo, assim, uma melhor identificação;
4) Microestrutura parcialmente integrada: é como a integrada, mas
alguns sintagmas estão colocados no final, num parágrafo ou bloco à parte, que
não está claro a que acepção pertencem.

Para a questão da valência verbal, Welker (2005) afirma que se pode separar as
acepções por critérios sintáticos:
Podem-se ordenar as acepções, principalmente no caso dos verbos, por
critérios sintáticos. Se for levado em conta apenas a regência, poderão
sobrar, em cada tipo de regência, ainda muitas acepções a serem
separadas. Quando o dicionário indica a valência- que dá informações
mais precisas do que a regência- a necessidade de subdivisão é menor:
quanto maior o detalhamento das informações, menos acepções terão
que ser separadas em cada valência. (Welker, 2005, p. 139).
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Já Guerra (2003), afirma que as informações como o regime preposicional podem


aparecer de forma implícita nos exemplos. Assim, um fator importante a ser considerado é
a questão da importância dos exemplos para tornar a informação do verbete mais
compreensível. Conforme Bugueño e Farias (2006) “segundo a categoria de palavras
consideradas, o exemplo pode ter duas funções básicas:
“a) ajudar a elucidar a significação de uma unidade léxica, e
b) ajudar a compreender melhor como é ou pode ser usada uma palavra”.
(Bugueño e Farias, 2006)
Os autores salientam que essas funções referem-se basicamente às unidades com
significação léxica (substantivos, adjetivos e verbos) no caso do item a) e o item b) aponta
para as relações sintagmáticas (valência e regência verbal). Os mesmos citam alguns
problemas que podem ser encontrados com relação aos exemplos:

1) a falta de critérios coerentes para a escolha das acepções que


realmente necessitam ser complementadas por um exemplo (para auxiliar
a compreensão e/ou apresentar contextos sintáticos), e 2) o
fornecimento de exemplos ambíguos, que não ajudam o consulente a
entender o significado nem os possíveis contextos de uso, ou ainda, nos
casos de nomes e verbos regidos por preposições, exemplos que não são
suficientemente claros para que o leitor entenda o emprego sintático
correto do vocábulo. (BUGUEÑO e FARIAS, 2006, p. 129).

Para os dicionários estudados neste artigo analisaremos se os exemplos aparecem


em suas microestruturas e se os mesmos servem como uma ferramenta importante para
tornar a informação da valência verbal mais compreensível. Analisaremos também se a
informação sintagmática auxilia o consulente a reconhecer a necessidade de inserção dos
complementos verbais (verbos transitivos e intransitivos), qual a forma de marcação para
os seus objetos e a maneira em que são classificados os verbos.

OS DICIONÁRIOS ANALISADOS

Analisaremos três dicionários no que se refere ao tratamento da regência verbal: O


Diccionario Señas, Diccionario para la Enseñanza de la Lengua Española para brasileños
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(Ed. Martins Fontes, 2002), o Diccionario Práctico del Estudiante de la Real Academia
Española (2007), e o Diccionario de la Lengua Española para Estudiantes de Español (Ed.
Espasa, 2002).
O Diccionario Señas, Diccionario para la Enseñanza de la Lengua Española para brasileños
(Ed. Martins Fontes, 2002) é direcionado e concebido especialmente para estudantes
brasileiros. Em sua apresentação temos a informação de que o mesmo compõe-se de uma
base monolíngue constituída pelo Diccionario para la enseñanza de la Lengua Española elaborado
pela Universidad de Alcalá de Henares. Contém 22.000 entradas e mais de 45.000
significados. Ao final de cada definição há um termo equivalente em português à palavra ou
expressão definida em espanhol.
O Diccionario Práctico del Estudiante de la Real Academia Española (2007) é direcionado a
estudantes hispanoamericanos. Em sua apresentação temos:

La Real Academia Española ofrece, en el presente Diccionario Práctico


del Estudiante, una adaptación para Hispanoamérica de su diccionario
del estudiante, dirigida, como este, a una franja que abarca los
muchachos y jóvenes de edades entre doce y dieciocho años. (…)
Contiene más de 30 000 palabras y locuciones representativas del léxico
vivo del español general, y en particular de Hispanoamérica, en una
cuidada selección del vocabulario fundamental que precisa un estudiante
de enseñanza secundaria. Para esta tarea se tomó como base la consulta
de un banco de datos léxicos, creado por la Academia ex profeso para la
elaboración del Diccionario del estudiante e integrado por libros de texto
de todas las materias. (Diccionario Práctico del Estudiante de la Real
Academia Española, 2007, p. XV)

O Diccionario de la Lengua Española para Estudiantes de Español (Ed. Espasa,


2002), em sua introdução, afirma a quem se dirige:

Este diccionario se dirige fundamentalmente a Estudiantes que deseen


iniciarse o perfeccionar su dominio de la lengua española, así como a
profesores que se dedican a impartir dicha lengua”. (Diccionario de la
Lengua Española para Estudiantes de Español, Ed. Espasa, 2002, p. IX)

Assim, como podemos observar acima, os dicionários que servirão de análise deste
trabalho têm usuários diferentes, o primeiro citado é direcionado a estudantes brasileiros, o
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segundo a estudantes hispanoamericanos e o terceiro a estudantes que queiram começar ou


melhorar seus estudos de Língua Espanhola.

A seguir, trataremos da análise dos verbetes dos três dicionários citados. Para tanto
selecionamos quatro verbos de cada dicionário e mostraremos como os mesmos
apresentam a regência verbal e se as informações são úteis a um usuário de Língua
Espanhola.

ANÁLISE

Para a análise dos dicionários, utilizaremos como exemplos quatro verbetes de cada
dicionário: Os verbos comenzar, comprar, encontrar e llegar. 2

Señas, Diccionario para la enseñanza de la Lengua Española para brasileños:


a) comenzar
Co.men.zar /KomenƟár/ 1. Tr. [algo] Dar principio; hacer que una cosa
exista o se haga: Luís comenzó la discusión. → empezar. □ começar

Como podemos observar no verbete Co.men.zar, a única informação que temos


sobre a valência do verbo é que o verbo é transitivo e que o objeto do verbo é uma coisa
(algo). Não temos nenhuma indicação se o verbo necessita de alguma preposição. Faltam
indicações de outras regências, como por exemplo, “comenzar por”, “comenzar con” ,
“comenzar a”, etc. Não temos nenhuma informação clara quanto ao número de actantes
do verbo, somente pelo exemplo dado conseguimos detectar que o verbo na classificação
de Tesnière (1966) é um verbo bivalente, que necessita de dois argumentos, não mostrando
outras possibilidades de valência a este verbo.

2
Tentamos escolher verbos com diferentes tipos de transitividade para ver como os mesmos são
apresentados nos dicionários.
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b) comprar
Com.prar /Komprár/ 1. Tr. [algo] Conseguir a cambio de dinero: ha
comprado un coche; Voy a comprar el pan. ↔vender. .□ Comprar
2. [a alguien] Conseguir que una persona haga una cosa a favor de otra a
cambio de dinero: el entrenador intentó ~ al árbitro para ganar el partido. →
sobornar.□ Comprar.

Aqui podemos ver que o dicionário traz duas possibilidades de regência a


este verbo. A única informação que temos é que o verbo é transitivo e que ele exige
dois tipos de complementos (um direto na primeira acepção e um indireto na
segunda). O dicionário não apresenta outras opções de regência do verbo, como por
exemplo, falta a indicação de “comprar algo a alguien” (verbo trivalente na classificação de
Tesnière), trazendo somente o verbo como bivalente (transitivo para a gramática
tradicional). Não há nenhuma indicação de uso de preposições, já que ele não traz
exemplos do verbo como transitivo indireto. Os exemplos não trazem informações
claras sobre o número de actantes do verbo.

c) encontrar

En.con.trar /eŋkontrár/ 1. Tr. [algo, a alguien] Ver o descubrir lo que se


buscaba: encontraron al niño que se había perdido en los grandes almacenes; no encuentro las
llaves del coche. → hallar. ↔ buscar, extraviar. □ encontrar.

- 2 tr. –prnl. [algo, a alguien] Ver a una persona, animal o cosa por
azar, sin buscarlo: encontraron un obstáculo en su camino; nos hemos encontrado con tus
padres; el amor se encuentra donde menos se espera. →hallar. □ encontrar
- 3 tr. [algo] averiguar; llegar a conocer o comprender: no encuentro
solución a mis problemas; no encuentro la intención de sus palabras. □ encontrar
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- 4 [algo, a alguien] Notar una cualidad o circunstancia con los


sentidos o con la mente: le he encontrado un sabor un poco rancio; te he encontrado muy
cambiado. □ achar
- 5 encontrarse prnl. Estar de cierta manera: no me encuentro bien, así
que me voy a acostar; se encuentra muy solo en aquella ciudad. □ encontrar-se
- 6 Estar juntos en un mismo lugar; coincidir: se encontraron en el teatro;
en este libro se encuentran textos de diversos autores. □ encontrar-se
- 7 Tener o mostrar opiniones contrarias; discutir: las dos alas del partido
acabaron encontrándose a la hora de elegir al presidente. ⌂ Se conjuga como 31. □ opor-
se

Neste verbete temos a informação de que o verbo é transitivo e pronominal. Não


há informações claras a respeito de que preposições o verbo necessita e sobre o número de
actantes deste verbo. Sobre os objetos do verbo, somente há as informações [algo e a
alguien], tendo o usuário que interpretar os exemplos para entender a regência do verbo.
Na segunda acepção os objetos estão marcados como [algo, a alguien] e aparece nos
exemplos a regência “encontrarse con”, não sendo mostrada esta opção na acepção, somente
aparecendo no exemplo. Quando colocado como pronominal a única informação que
temos sobre o uso do pronome é nos exemplos.

d) llegar

Lle.gar- 1- Int. Alcanzar un lugar; alcanzar el final o el destino de este


recorrido o de um movimiento: cuando lleguemos a casa, cenaremos; ¿a qué horas llegaréis
al aeropuerto?- .□ chegar
2- [a algo] Alcanzar una edad determinada: no sé si llegaremos a viejos- chegar
3- Alcanzar una longitud determinada: el agua nos llegaba a las rodillas; el
término llega hasta el pueblo de al lado; la vista no me llega tan lejos- chegar
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4- Alcanzar una cantidad determinada: los gastos no llegan a tres millones de


pesetas.- .□ chegar
5- Alcanzar un fin; conseguir: llegó a ser general; no llegó a oírnos. El verbo al
que acompaña va en infinitivo.- □ chegar.
6- TR. Prnl. (algo; a algún lugar)! Acercar o poner en algún lugar: llegó su
mano hasta Ella; llegaron el coche hasta la puerta; llégate a la tienda y compra una barra de
pan. □ aproximar, levar, ir.

- ~el alma, causar una impresión fuerte: sus lamentos me llegaron al


alma.- tocar a alma
- ~a las manos, * pelear físicamente empleando la fuerza: después de
insultarse, llegaron a las manos.- partir para a briga.
- ~ lejos, conseguir hacer grandes cosas en el futuro: este chico llegará
lejos en el mundo de la música. Se conjuga como 7. – Ir longe.

Como podemos observar acima no verbete do verbo llegar, o dicionário Señas


apresenta algumas informações sobre a regência do verbo, mostrando duas possibilidades
para o verbo, classificando-o em intransitivo e transitivo e que também se usa como
pronominal. Entretanto, as informações não são claras, apenas temos exemplos de frases
com o verbo, mas não temos a informação de que tipos de preposições são empregadas
com o mesmo. O estudante deve analisar os exemplos para saber o tipo de regência do
verbo, não há informações claras. Não há informações sobre o número de actantes do
verbo . Somente observando os exemplos constatamos que o dicionário apresenta o verbo
como necessitando de um ou dois argumentos.

Diccionario Práctico del Estudiante, Real Academia Española, 2007:

a) comenzar

Comenzar. tr. 1. Empezar (algo), o hacer que pase a existir, ocurrir o


hacerse, ocurrir o hacerse. Los obreros han comenzado la nueva casa. ○ intr.. 2.
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Empezar algo, o pasar a existir, ocurrir o hacerse. Las vacaciones comienzan mañana.
3. Seguido de a y un infinitivo: Pasar a realizar la acción que se expresa. Comienza
A comer, no me esperes. ► 1, 2: EMPEZAR.

A única informação a respeito da regência do verbo é a de que ele é transitivo ou


intransitivo. Não temos nenhuma informação a respeito do uso de preposições. Quanto ao
objeto do verbo, somente há a informação [algo] e o sujeito do verbo vem em letras um
pouco menores que o resto do verbete. Não traz outras opções de regência, como,
“comenzar con”, “comenzar por”. Traz uma acepção em que no dicionário citado anteriormente
não havia, a opção “comenzar A”.

b) comprar

Comprar. tr. 1. Obtener (algo) a cambio de dinero. Compra pan. 2.


Conseguir que (alguien) actúe favorablemente a cambio de una recompensa,
espec. dinero. Compraron al juez. ►1: ADQUIRIR. 2: *SOBORNAR.

Não há informações claras a respeito da regência verbal. A única informação que


temos é de que o verbo é transitivo. Não há informações claras sobre o uso de preposições,
tendo o usuário do dicionário que interpretar os exemplos para saber se há necessidade do
uso das mesmas. Traz o complemento (alguien) sem a preposição A, não deixando claro se
o verbo exige ou não a preposição. Não apresenta o verbo como trivalente (na classificação
de Tesniére; transitivo direto e indireto para a gramática tradicional), ou seja, não aparece
no verbete a opção “comprar algo a alguien”. Há poucos exemplos e os mesmos não são
claros quanto ao número de actantes do verbo.

c) encontrar

Encontrar. Tr. 1. Llegar alguien a tener a la vista o a su alcance (la cosa o


a la persona que busca). No encuentra las llaves. 2. Conseguir (algo o a alguien que se
buscan o desean). ¿Ha encontrado trabajo? 3. Ver casualmente (algo o a alguien) o
llegar a estar (junto a ellos). ¡Lo que he encontrado! 4. Percibir una persona (algo o a
alguien) de la manera que se indica al ver(los) o pensar (sobre ellos). La encontré
rara. ○ intr.. prnl. 5. Seguido de un complemento introducido por con que expresa
la persona o cosa que se buscan: Pasar a estar junto a ellas. Nos encontraremos contigo
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en el cine. 6. Seguido de un complemento introducido por con que expresa una


persona o cosa: Llegar a verlas, o a estar junto a ellas, inesperadamente. Adivina con
quién me he encontrado. 7. Enfrentarse dos o más personas al coincidir en un lugar. Los dos
equipos se encontrarán EN semifinales. 8. Estar en el lugar o de la manera que se
indica. Ya me encuentro bien.7: ENFRENTARSE. 8: * ESTAR.

Traz as informações de que o verbo é transitivo, intransitivo e pronominal. As


informações a respeito dos complementos que o verbo exige não são claras e não há
nenhuma indicação sobre o uso da preposição A, nem mesmo nos exemplos. Não há
informações claras a respeito do número de actantes do verbo.

d) llegar

Llegar. Intr. 1. Acabar alguien o algo su trayectoria o su recorrido hacia


un lugar. Su avión llega a las ocho. 2. Durar una persona o una cosa hasta un límite
determinado. Su abuela llegó HASTA los cien años. 3. Hacerse realidad algo
previsible o esperado. Ya ha llegado el invierno. 4. Convertirse alguien o algo que
graml. se ha propuesto como objetivo. Llegó A general muy rápidamente. 5. Seguido
de a y un infinitivo, expresa que la realización de la acción denotada por el
infinitivo se produce al término de un proceso, frec. Como resultado de un
esfuerzo. Llegaron a hacerse amigos íntimos. 6. Extenderse algo hasta un punto o
límite determinados. La falda le llegaba A los tobillos. 7. Ascender algo a una
cantidad. El cuadro subastado llegó AL millón de dólares. 8. Ser suficiente una cantidad
de algo. Ese dinero no llega ni PARA comprar el billete.

No verbete llegar, acima, temos uma única informação sobre a regência verbal, a de
que o verbo é intransitivo. Nele não aparece o verbo como transitivo e pronominal, como
no dicionário anterior. Traz informações sobre o uso de três preposições (A, HASTA e
PARA), não aparecendo nenhum tipo de informação sobre o número de actantes do verbo,
tendo o usuário que interpretar os exemplos para um efetivo entendimento da valência do
verbo.

Diccionario de la Lengua Española para estudiantes de Español, Espasa, 2002:

a) comenzar
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Co-men-zar [komenΰár] tr. e intr. Empezar o iniciarse /algo/: La función ha


comenzado. ►MOD. Tropezar. ANT. Concluir, finalizar, terminar.

O dicionário traz poucas informações sobre este verbo. Classifica o verbo como
transitivo e intransitivo, mas coloca somente um exemplo do verbo sendo empregado
como intransitivo. Não temos informações a respeito dos objetos que o verbo exige,
somente temos a informação sobre o sujeito do verbo (/algo/). Não há informações sobre
o número de actantes do verbo. Não traz nenhuma informação sobre o uso de preposições
e faltam indicações de outras regências, como por exemplo, “comenzar por”, “comenzar
con” , “comenzar a”, etc.

b) comprar

Com-prar [Komprár] tr. 1 Adquirir /alguien/ (algo) a cambio de dinero: No


te olvides de ~ tomates. 2 Sobornar /alguien/ (a una persona): Compraron al árbitro para
ganar el partido. ANT. 1. Vender.

O dicionário apresenta poucas informações sobre este verbo, informando somente


que o mesmo é transitivo. Não apresenta informações claras sobre o uso de preposições,
tendo o usuário que interpretar, na segunda acepção, no exemplo, que o verbo exige a
preposição A. Apresenta o verbo somente como bivalente (na classificação de Tesnière,
transitivo para a gramática tradicional), não apresentando o verbo com três argumentos
(“comprar algo a alguien”). Não há informações claras sobre o número de argumentos que o
verbo necessita.

c) encontrar

En-con-trar /eŋkontrár/ tr. 1. Dar /alguien/ con (una persona o cosa) que
se busca: Por fin encontré la llave perdida. 2. Tr. y prnl. Dar /alguien/ con (una persona
o cosa) sin buscarla: El otro día me encontré con tu padre. 3. Encontrarse prnl. Hallarse
/alguien/ en cierto estado: encontrarse mal/bien/feliz/deprimido. 4. Estar /algo o
alguien/ en determinado lugar: Ahora se encuentra en Tokio. 5. Reunirse /dos o más
personas/ en un lugar: Nos encontraremos en el bar de siempre. 6. Oponerse, enfrentarse
/dos personas, posturas u opiniones/: En su obra se encuentran diversos estilos. ►MOD.
521

Contar. Sin. 1. Hallar.2. chocar, topar, tropezar.5. citarse, verse. 6. Contraponerse.


ANT. 1 perder. 6 acercarse.

No verbete acima temos as informações de que o verbo pode ser transitivo


e pronominal. Não há informações sobre com que preposições o verbo deve ser
empregado. A única informação que há sobre os objetos que o verbo exige é (una
persona o cosa), não deixando claro se o verbo vem acompanhado de alguma
preposição (somente no exemplo da acepção 2 há a preposição con, o dicionário não
apresenta a acepção “encontrar a alguien”, que nos dicionários citados anteriormente
havia). Não há informações claras sobre os actantes do verbo.

d) llegar

Lle-gar [λeyár] intr.1 Alcanzar / una persona, animal o cosa/ el fin o


término de un desplazamiento: ¿Cuándo llegamos a la playa? 2 Durar /algo/ hasta un
tiempo determinado: Su fama ha llegado hasta nuestros días. 3 Conseguir /alguien o
algo/ el fin que aspira: Llegaré hasta el final de este asunto. 4 Seguido de un infinitivo,
alcanzar o producir /alguien o algo/ la acción expresada por ese infinitivo: Llegó a
reunir una importante colección de cerámica. 5 Alcanzar /alguien o algo/ cierta
altura o extenderse hasta cierto punto: El agua le llegaba hasta la cintura. 6 DEP. En
las carreras deportivas, alcanzar /una persona o animal/ la línea de meta: El ciclista
llegó el primero. 7 Ser suficiente /una cantidad/: No me llega el dinero para ir al
cine. 8 Llegarse prnl. Ir /alguien/ a un lugar determinado: Nos llegamos a su casa y le
hicimos una visita. ►Ver conjugación MOD. Sin. 1 arribar. 3 alcanzar, lograr. 7
bastar. 8 acercarse. ANT. 1 marchar, partir. 7 faltar.

Como podemos observar no verbete llegar, o verbo é apresentado como intransitivo


e pronominal. Não há informações sobre que tipo de complemento o verbo exige e nem
sobre as preposições que devem ser usadas. Somente conseguimos perceber que o verbo
exige, em alguns casos, a preposição A, interpretando os exemplos, já que nas acepções não
há nenhuma informação a respeito disso. Não há informações sobre o número de
argumentos do verbo. Os exemplos não são claros e as informações vêm todas juntas. Na
acepção pronominal, não há informações a respeito da obrigatoriedade do uso do
522

pronome, somente se consegue perceber isso pelos exemplos, tendo o usuário do


dicionário que interpretá-los.

A seguir, apresentaremos um quadro comparativo dos dicionários acima analisados,


da forma como eles apresentam as informações sobre regência verbal, no que se refere ao
sujeito do verbo, ao objeto do verbo, aos exemplos de uso e à indicação das preposições.

QUADRO COMPARATIVO DOS DICIONÁRIOS

No quadro abaixo expomos a estrutura dos dicionários analisados no que se refere


à regência verbal.

DICIONÁ SEÑAS DICCION DICCION


RIO ARIO PRÁCTICO ARIO DE LA
DEL LENGUA
ESTUDIANTE ESPAÑOLA
(RAE) PARA
ESTUDIANTES
DE ESPAÑOL
(ESPASA)

SUJEITO Não É colocado Indicação do


DO VERBO apresenta indicações em letra menor que sujeito entre barras
do sujeito do verbo. o resto do verbete verticais. Ex.: /algo
para ser destacado. a alguien/
Ex.: Empezar algo,
o pasar a existir,
ocurrir o hacerse.

OBJETO Aparece Aparece Indicação do


DO VERBO entre colchetes. Ex.: entre parênteses. objeto do verbo
[algo] Ex.: (algo o a alguien entre parênteses.
que se buscan o Exemplo: (a, hacia o
sobre una persona o
523

desean) cosa)

EXEMPLO Apresenta Apresenta Apresenta


S DE USO exemplos de uso exemplos de uso exemplos de uso.

INDICAÇÃ As As Não destaca


O DAS preposições vêm preposições que quais preposições
PREPOSIÇÕES indicadas junto ao devem ser devem ser
complemento do empregadas empregadas.
verbo, entre aparecem em letras
colchetes. Ex.: [algo, maiúsculas nos
a alguien] exemplos dados.

Como podemos observar no quadro acima, as informações sobre a regência dos


verbos não são muito claras e os dicionários não seguem um padrão para o seu uso. O
usuário, para entender a forma como o dicionário traz essas informações deve interpretar
códigos, como colchetes, parênteses e letras em tamanhos diferentes, ou ainda fixar-se nos
exemplos e interpretá-los, quando não há informações completas nas acepções. Para uma
consulta rápida os dicionários não trazem informações claras e precisas sobre o tema.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como já mencionamos anteriormente, os verbos são de difícil definição e os


dicionários trazem informações deficientes a respeito dos mesmos. O tratamento sintático
é um dos pontos fracos da tradição Lexicográfica. Os dicionários para aprendizes
analisados não trazem informações precisas e claras sobre a valência verbal. Sabemos que o
foco dos dicionários não é este, mas acreditamos ser importante que este tipo de
informação esteja presente para os usuários destes dicionários, já que são os dicionários
mais procurados por estudantes que queiram aprender a língua e resolver atividades de
produção.
524

Os dicionários gerais de aprendizes da Língua Espanhola não dão conta do


problema da regência/ valência verbal, não auxiliando, assim, ao aluno, quando tem uma
dúvida referente a mesma.

Para que o usuário entenda as informações que o dicionário traz sobre os


argumentos do verbo (sujeito e complementos do mesmo) ele deve entender a estruturação
do dicionário e decodificar de que forma os mesmos são apresentados. Deve ler a
introdução e todas as explicações que vêm na apresentação do dicionário, dificultando,
assim, uma consulta mais rápida a respeito do tema. Sabemos que a maioria dos usuários de
dicionários não procura este tipo de informação na apresentação do dicionário e muitas
vezes não lê nem mesmo a introdução do mesmo. Calderón (1994) afirma que

Los usuarios de los diccionarios no suelen detenerse a leer las


introducciones y guías de uso de los mismos y que los códigos
gramaticales casi nunca se entienden y por eso son escasamente
utilizados, con lo que se desaprovecha todo el esfuerzo de los redactores
por ofrecer información complementaria de uso (estructuras
gramaticales, restricciones léxicas, niveles idiomáticos, etc).
(CALDERÓN, 1994, P. 15)

Sabemos que a nossa análise não é, e nem pretende ser, exaustiva sobre o tema, mas
acreditamos que os dicionários analisados trazem informações deficientes sobre a valência
dos verbos, não trazendo informações sintáticas importantes para auxiliar o usuário em
atividades de produção.

Assim, percebemos a necessidade de um dicionário especializado em regência


verbal que auxilie os alunos em uma busca mais precisa e eficiente, pois, como afirma
Zavaglia,

Nos dicionários de língua geral, há uma imprecisão no tratamento das


preposições. Talvez por almejar que o dicionário seja facilmente
compreendido, o lexicógrafo atente mais para o enfoque semântico-
pragmático das entradas, omitindo o papel da preposição, seja quanto ao
regime verbal, seja quanto ao nominal. Nesse sentido, seria de extrema
importância e utilidade a existência de dicionários específicos que
525

abordassem o tema da regência verbal, contemplando especialmente os


verbos que exigem os complementos indiretos ou podem funcionar em
companhia deles, já que os dicionários de língua geral desatendem, na
maioria das vezes, esse tipo de informação em seus verbetes. E parece
ser crescente o interesse do público usuário por esse tipo de obra de
referência, máxime se bilíngüe ou multilíngüe, ainda escasso no mercado
brasileiro. (Zavaglia, p. 4)

REFERÊNCIAS

BORBA, Francisco da Silva. Organização de dicionários: Uma introdução à lexicografia.


São Paulo: UNESP, 2003.

BUGUEÑO, Felix. Cómo leer y qué esperar de un diccionario monolingue (con especial
atención a los diccionarios del español). Revista de língua e literatura, v. 9 (97-114), 2003.

DURAN, M. S.; XATARA, C. M. Lexicografia Bilíngüe Pedagógica: atores e interfaces. DELTA,


2006.

GUERRA, Antonia Maria Medina. Lexicografia española. Barcelona: Ariel, 2003.

HAENSCH, G. La lexicografia. De la lingüística teórica a la lexicografia práctica. Madrid:


Editorial Gredos, 1982.

HAUSMANN, Franz J. Lexikographie. Königstein: Athenäum, 1985.

HAUSMANN, Franz Joseph, WIEGAND, Herbert E. Component Parts and structure of


general monolingual dictionaries. In: HAUSMANN, F. J; REICHMANN, O; IEGAND,
H. E; ZGUSTA, L. (eds) International Encyclopedia of Lexicography. Berlin: Walter de Gruyter,
1989. v.1.

LANDAU, S. Dictionaires: the art and the craft of lexicography. Cambridge: CUP, 2001.

MARTÍN GARCÍA, Josefa. El diccionario en la enseñanza del español. Madrid. Arco


Libros: 1999.

TESNIÈRE, Lucien. Éléments de Syntaxe Structurale. Paris: Klinncksieck, 1966.

XATARA, Claudia Maria. Lexicografia Pedagógica: Atores e interfaces. Revista Delta,


2007.

XATARA, Claudia Maria. Lexicografia Pedagógica: Pesquisas e perspectivas. UFSC, 2008.


526

WELKER, Herbert Andreas. Dicionário: Uma pequena introdução à Lexicografia.


Thesaurus: 2006.

WELKER, Herbert Andreas. A valência verbal em três dicionários brasileiros. Linguagem e


Ensino, Pelotas, v.8, p.51-72, jan/jun. 2005.

WELKER, Herbert Andreas. Panorama Geral da Lexicografia Pedagógica. Brasília:


Thesaurus, 2008.

ZGUSTA, Ladislav. Manual of Lexicography. Paris: Academia, 1971.

DICIONÁRIOS ANALISADOS

ESPASA. Diccionario de La lengua española para estudiantes de español. Madrid:


ESPASA, 2002.

REAL ACADEMIA ESPANOLA. Diccionario práctico del estudiante. Barcelona: Santillana,


2007.

SEÑAS. Diccionario para la Enseñanza de la Lengua Española para Brasileños. São Paulo: Martins
Fontes, 2000.

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