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C. S.

LEWIS: UMA HISTÓRIA DE NOMES POR TRÁS DA HISTÓRIA


Audrey Carine Cerqueira Santos do Nascimento1

Resumo: O trabalho a seguir trata-se de um pequeno estudo biográfico a respeito de Clive


Staples Lewis, ou C. S. Lewis, como é comumente conhecido. A partir do relato
biográfico deste autor buscou-se estudar alguns daqueles que foram influentes em sua
vida tanto na escrita, como na forma de pensar, nas formações ideológicas, filosóficas e
críticas desse autor. Alguns nomes como J. R. R. Tolkien, Dorothy L. Sayers e G. K.
Chersterton serão igualmente citados biograficamente, devido à influência na vida de
Lewis, quer como amigos ou como leitores de base para a sua escrita.

Palavras-chave: C. S. Lewis, J. R. R. Tolkien, Dorothy L. Sayers, G. K. Chesterton,


amizade, literatura, influência.

INTRODUÇÃO
Sabe-se que C. S. Lewis foi professor universitário, escritor, romancista, poeta,
crítico literário, ensaísta e apologista cristão britânico2. É sabido também que este famoso
escritor foi influenciado por diversos nomes da literatura, por filólogos, críticos entre
outros renomados do universo das letras. Para conhecer um pouco mais sobre Lewis, este
trabalho tem o objetivo de fazer uma pequena análise sobre sua biografia, bem como a de
alguns dos nomes que lhe influenciaram e participaram de sua vida, ao longo de sua
carreira e, também, do início de sua vida, a infância. Por serem muitos os nomes que
influenciaram esse autor, serão abordados aqui, apenas três deles: J. R. R. Tolkien.
Dorothy L. Sayers e G. K. Chesterton e ao final do estudo pretende-se abordar um pouco
do círculo de amizade do qual Lewis participava e liderava, o Inklings.

C. S. LEWIS: UMA HISTÓRIA


“Sim. Dificilmente o mais perspicaz
dos observadores imaginaria
que aquele menino iria tornar-se

1
Aluna do Programa de Pós Graduação em Letras, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie São
Paulo), nível, Mestrado. E-mail: audy.psi@gmail.com
2
C. S. Lewis: o apóstolo dos céticos. https://www.raciociniocristao.com.br/2016/09/cslewis-apostolo-dos-
ceticos/. Acesso em: 09 dez. 2018
um dos maiores escritores cristãos
de todos os tempos.”3

Nascido em 29 de novembro 1898, em Belfast, na Irlanda do Norte, Clive Staples


Lewis foi e ainda é um dos grandes nomes da literatura do século XX. C.S. Lewis, como
é conhecido, foi um grande estudioso, escritor aclamado, crítico literário e apologista
cristão. Além disso, foi professor universitário, poeta e ensaísta4. É mundialmente
conhecido e possui contribuições na literatura infantil e de fantasia, bem como na
apologética cristã e na crítica literária (BELMONTE, 2018).

Filho mais novo de Albert James Lewis (1863-1929) e de sua esposa, Florence
Augusta Lewis (1862-1908)5, formada em matemática6. Lewis teve apenas um irmão
(Warren Hamilton Lewis), que era três anos mais velho do que ele e de quem foi bastante
próximo7. Sua mãe faleceu de câncer quando ele tinha apenas nove anos de idade, fato
que marcou profundamente a vida do autor.

Nos estudos, C. S. Lewis chegou a receber bolsa para estudar na Universidade


Oxford, na Inglaterra, em 1916, aos 18 anos, porém suspendeu os estudos para se alistar
na infantaria britânica, ao longo da Primeira Guerra Mundial. Entretanto, após ter sido
ferido em batalha, retornou aos estudos em Oxford, em 1918 e trabalhou na instituição
entre 1925 e 1954, ano em que foi nomeado diretor de literatura medieval e renascentista
no Magdalen College, em Cambridge (BELMONTE, 2018).

Lewis foi descrito como uma “criança sonhadora” e quando tinha cinco 8 anos,
decidiu adotar o nome de “Jack”, pelo qual ficaria conhecido na família e no círculo de
amigos próximos durante toda a vida. Lewis teve a oportunidade de crescer em meio aos
livros de uma seleta biblioteca particular de sua família e esse fato lhe permitiu criar um
mundo muito particular, repleto de imaginação e criatividade.

3
Referência a C.S. Lewis, no livro Surpreendido pela alegria, o qual ele escreveu a pedidos para explicar
como passou do ateísmo ao Cristianismo (LEWIS, C.S. Surpreendido pela alegria. 1998, p.2, 11.).
4
C. S. Lewis: o apóstolo dos céticos. https://www.raciociniocristao.com.br/2016/09/cslewis-apostolo-dos-
ceticos/. Acesso em: 09 dez. 2018.
5
Ibid.
6
C. S. Lewis- Deus em questão. Direção: Joel Shapiro. Produção.: Leigh Henly Sorge. Canal: Celtic
Spirit, 2014. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=we0JvEMTdUM&index=4&t=0s&list=PLY5mcg4_lIuAy24NUfenC
yGeRyK5CYB4O. Acesso em: 09 dez.2018.
7
LEWIS, op. cit., p.13.
8
C. S. Lewis: Deus em questão, 2014, op. cit.
Clive Lewis e seu irmão Warren Lewis, durante a adolescência, passavam boa
parte de seu tempo dentro de casa imersos na leitura de livros clássicos e, com isso,
acabaram por distanciarem-se da realidade materialista e tecnológica do século XX.
Ainda na adolescência encontra a obra do compositor Richard Wagner o que introduz, na
vida de Lewis, o interesse pelas mitologias nórdica e grega, bem como pelas línguas,
como o latim e o hebraico9.

Quanto à educação, foi iniciada na Irlanda, tendo sido instruído por um tutor. Aos
12 (doze) anos de idade, foi enviado para o colégio Malven College, em Worcestershire,
Inglaterra. Ainda em sua infância, sua mãe (Florence, também conhecida como Flora),
ofereceu à Lewis a oportunidade de introduzir o conhecimento em latim, francês e em
inglês10.

Como fora dito anteriormente, Lewis parou os estudos para servir na Primeira
Guerra Mundial e durante a guerra conheceu um soldado irlandês, Paddy Moore, com
quem fez uma grande amizade a ponto de combinarem que se um dos dois morresse na
guerra, o outro cuidaria da família do que falecesse. Moore faleceu em 1918 e Lewis
cumpriu a promessa de cuidar da mãe de seu amigo e da irmã dele (Janie Moore e
Maureen Moore, respectivamente). Tornou-se muito próximo delas, desenvolvendo uma
profunda amizade, que não agradava a seu pai. Por esse tempo já havia abandonado o
Cristianismo, em que fora educado11.

Aos 22 anos, Clive formou-se em letras e literatura, com louvor, em Oxford e,


também, em teologia e linguística. Dentre os anos de 1925 a 1954, deu aulas no Magdalen
College, em Oxford, onde fez parte do corpo de professores e, ainda, dava consultas sobre
literatura e sobre teologia, o que fez até a sua morte, em 1963. Em Oxford pode conhecer
diversos escritores renomados, como J. R. R. Tolkien, de quem tornou-se grande amigo
e que também teve influência em sua conversão ao Cristianismo. Também conheceu T.
S. Eliot, G. K. Chesterton e Owen Barfield. Além disso, foi professor de Literatura
Medieval e Renascentista na Universidade de Cambridge12. Em sua aula inaugural em

9
C. S. Lewis: o apóstolo dos céticos, 2016, op. cit.
10
C. S. Lewis: Deus em questão, 2014, op. cit.
11
C. S. Lewis: o apóstolo dos céticos, 2016, op. cit.

12
C. S. Lewis: o apóstolo dos céticos, 2016, op.cit.
1954, na Universidade de Cambrigde, refere-se a si com um “dinossauro”, por pensar ser
diferente das tendências acadêmicas que predominavam em seu tempo13.

Com relação à conversão do ateísmo para o Cristianismo, fator que influenciou


bastante em sua escrita literária, ocorreu em 1931 ao mudar-se para uma nova residência,
conhecida como The Kilns, próxima a Oxford, Lewis, passou a ser influenciado por textos
de G. K. Chesterton e George MacDonald, escritores cujos trabalhos incluíam estudos
religiosos e filosóficos. Outro fator que contribuiu, de igual forma, para a conversão, foi
sua amizade próxima com J. R. R. Tolkien e que também influenciou seu trabalho como
escritor literário (BELMONTE, 2018). O escritor, professor e crítico literário ficou
bastante conhecido durante a II Guerra Mundial, pois durante esta guerra fazia palestras
transmitidas pela rádio BBC, da Inglaterra14.

No começo dos anos 1950, Lewis teve sua atenção voltada para a poetiza Joy
Davidman Gresham, com que desenvolveu uma outra profunda amizade e com quem
mantinha uma correspondência de cartas. Essa amizade fez com que Joy Gresham fosse
visitar a Inglaterra em 1952. C. S. Lewis ajudou a sra. Gresham a permanecer na
Inglaterra, casando-se com ela, após o findar de seu casamento. Com o tempo, o
relacionamento dos dois foi se tornando mais próximo, mais profundo. Entretanto, em
1957, Joy foi diagnosticada com câncer e veio a falecer em 1960 e este luto deu origem a
um dos livros mais famosos de Lewis, Anatomia de uma Dor (A Grief Observed)15.

Em junho de 1961, C. S. Lewis foi diagnosticado com inflamação nos rins, o que
ocasionou envenenamento em seu sangue. Passar por essa enfermidade o fez perder o
período de outono na Universidade de Cambridge. Contudo, em abril de 1962, teve
razoável melhora e retornou ao trabalho. Apesar da continua melhora, em julho de 1963,
Lewis adoece novamente, sofre um ataque cardíaco do qual se recupera, porém, decide
não retornar ao trabalho, por pensar na gravidade de sua saúde. Dessa maneira, renuncia
ao cargo na Universidade de Cambridge, em agosto deste mesmo ano. Em novembro é
diagnosticado com insuficiência renal, estando no estágio final da doença16. No dia 22 de
novembro de 1963, antes de completar seus 65 anos, C. S. Lewis faleceu em sua casa,

13
MACGRAPH, Alister. A vida de C. S. Lewis [livro eletrônico]: do ateísmo às terras de Nárnia. Tradução
de Almiro Pisetta. São Paulo: Mundo Cristão, 2013.
14
Ibid.
15
C. S. Lewis. Disponível em: https://www.findagrave.com/memorial/1455. Acesso em: 09 dez 2018.
16
C. S. Lewis: o apóstolo dos céticos, 2016. op. cit.
The Kilns, tendo sido enterrado perto dela, próximo à Igreja da Santíssima Trindade, em
Headington Quarry, Oxford (BELMONTE, 2018).

C.S.Lewis foi autor de mais de trinta títulos e diversos ensaios. Dentre os mais
conhecidos estão a série “As Crônicas de Nárnia”, “Cristianismo Puro e Simples” e
“Cartas de um diabo ao seu aprendiz”. Dentre essas três, a série “As Crônicas de Nárnia”
é a mais popular e tem sido adaptada para peça, produções de rádio e longas-metragens.
Os escritos deste autor já foram traduzidos para mais de trinta idiomas e distribuídos em
milhões de cópias, vendidas ao redor do mundo (BELMONTE, 2018).

ALGUNS DOS MESTRES DE LEWIS

J. R. R. TOLKIEN

John Ronald Reuel Tolkien foi um escritor, filólogo e professor


universitário inglês, autor de Senhor dos Anéis e Hobbit, verdadeiros clássicos da
literatura fantástica17. Nasceu no dia 03 de janeiro de 1892, em Bloemfontein, África do
Sul. Seu pai, Arthur Tolkien era inglês e trabalhava no Bank of Africa e sua mãe, Mabel
Suffield Tolkien, de família de origem inglesa, também. Até a morte de seu pai, J. R. R.
Tolkien viveu na África do Sul e em 1896, mudou-se com sua mãe e seu irmão para
Birminghan, na Inglaterra. No início dos anos 1900, Mabel converte-se ao catolicismo,
fator que foi de importante influência na conversão do filho também18. Em 1904 Mabel
Tolkien morre19 e Tolkien e seu irmão (Hilary Arthur Reuel20) são entregues aos cuidados
do padre jesuíta Francis Xavier Morgan, que era considerado como um segundo pai para
Tolkien21.

J. R. R. Tolkien teve uma infância bastante marcada por contos de fadas os quais
foram de grande estímulo para a sua imaginação e para o envolvimento com o mundo dos

17
FRAZÃO, Dilva. Biografia de J. R. R. Tolkien. Disponível em:
https://www.ebiografia.com/t_r_r_tolkien/. Acesso em: 11 dez 2018.
18
J. R. R. Tolkien. Biografia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/J._R._R._Tolkien.> Acesso
em: 11 dez 2018.
19
Ibid.
20
CARPENTER, Humphrey. J. R. R. Tolkien: uma biografia. Tradução de Ronald Eduard Kyrmse.
Martins Fontes, 1992. p. 15
21
Ibid.
seres fantásticos22. O interesse do autor, por esse mundo do fantástico, tornou-se crescente
ao longo de sua vida, fato que o tornou amplamente conhecido como “o pai da moderna
literatura fantástica”, tendo sido considerado um dos maiores e mais bem sucedidos
autores da literatura fantástica de todos os tempos23.

Tolkien ingressou no Exeter College, Universidade de Oxford em 1908 e pouco


tempo depois interessou-se pela filologia e por sagas antigas e lendas nórdicas. Fez
especialização em línguas Anglo-Saxônicas, língua alemã e em literatura clássica. No
mesmo ano em que ingressou na Universidade de Oxford, conhece sua futura esposa
Edith Bratt, que era três anos mais velha do que Tolkien 24. Em 1914, alista-se no
Lancashire Fusilieres e serve militarmente durante a Primeira Guerra Mundial. Após o
serviço militar, John Ronald deu continuidade aos estudos em Linguística, pela
Universidade de Leeds e entre os anos de 1925 e 1945 foi professor de língua e literatura
anglo-saxônica, na Universidade de Oxford. Quando teve a oportunidade de especializar-
se em literatura medieval25.

No tocante aos estudos e ao desenvolvimento na literatura, como novelista e,


ainda, como pensador e filólogo, é importante considerar o que Frazão26 afirma a cerca
dessa ligação do autor com o pensamento e a literatura.

“A atividade de J. R. R. Tolkien como novelista é inseparável da de


filólogo. Sua paixão por línguas antigas, como o grego, o anglo-saxão,
o inglês medieval, o galês, o gótico, o finlandês, o islandês e o
norueguês antigos, o levaram a criar sons e inventar uma linguagem,
seguindo um método rigorosamente filológico.”
No ano de 1916, Tolkien casa-se com Edith e com quem ficou casado até o fim
da vida, durante 55 anos, e com ela teve quatro filhos: John Francis Reuel Tolkien (1917–
2003), Michael Hilary Reuel Tolkien (1920-1984), Christopher John Reuel
Tolkien (1924-) e Priscilla Anne Reuel Tolkien (1929-)27. Em novembro de 1971, J. R.
R. Tolkien perde sua esposa, acontecimento que o leve a um quadro de isolamento e de
aparente depressão. Em setembro de 1973, o autor vem à óbito28 deixando marcas de uma

22
J. R. R. Tolkien. Biografia. op. cit.
23
Ibid.
24
Ibid.
25
FRAZÃO, Dilva. Biografia de J. R. R. Tolkien. op. cit.
26
Ibid.
27
J. R. R. Tolkien. Biografia. op. cit.

28
J. R. R. Tolkien. Biografia. op. cit.
envolvente paixão pela literatura fantástica, as quais ainda podem ser percebidas na
atualidade.

No decorrer de sua vida, especialmente a partir de 1957, por diversas


oportunidades, Tolkien foi instigado por empresários e produtores de filmes a fazer
adaptações de suas obras para outros meios de comunicação, entretanto, ele sempre
manteve-se relutante em fazê-lo. Contudo, devido à pressão de seu editor e também à
necessidade de dinheiro na época, ele acaba por vender os direitos autorais de O Hobbit
e de O Senhor dos Anéis, em 1969, para a United Artists29. Assim, além de sua influencia
na literatura, o professor-escritor e renomado filólogo, acabou por influenciar outros
ramos da comunicação também, como histórias em quadrinhos, música, cinema e
televisão30.

Algumas das obras do autor: Sir Gawain e o Cavaleiro Verde (1925), Sobre
Histórias e Fadas (1945), Mestre Gil de Ham (1949), O Senhor dos Anéis (1954), As
Duas Torres (1954), O Retorno do Rei (1955), As Aventuras de Tom Bombadil (1962), A
Última Canção de Bilbo (1966), Ferreiro do Bosque Grande (1967), Silmarillion (1977),
sendo esta última uma obra póstuma, publicada por seu filho Christopher Tolkien.

G. K. CHESTERTON

A biografia de Gilbert Keith Chesterton, descrita no site Sociedade Chesterton


Brasil31, traz uma bela e ampla introdução a respeito desse notável escritor:

“Um dos maiores escritores do mundo nasceu em 29 de maio de 1874,


Kensington, Londres. Seus pais se chamavam Edward Chesterton e
Marie Louise Keith. Gilbert Keith Chesterton era um escritor profundo,
caridoso e de uma inteligência honesta e brilhante. Sua irmã, Beatrice,
faleceu aos 8 anos de idade, porém ele teve outro irmão, Cecil
Chesterton, com quem travou calorosos debates ao longo da infância e
juventude.”

Chesterton foi dotado de uma inteligência incomum, porém, apesar de sua


inteligência, não era um bom aluno, chegando a ser motivo de chacota de um de seus

29
Ibid.
30
Ibid.
31
Gilbert Keith Chesterton. Disponível em: <https://www.sociedadechestertonbrasil.org/g-k-chesterton/>.
Acesso em: 12 dez 2018.
professores, durante sua infância. G. K. Chesterton estudou no Saint Paul’s College e foi
um aluno que bastante inclinado às letras e com Bentley e Lucien Oldershaw fundou um
grupo de estudos e debates sobre literatura, grupo que deram o nome de O Junior
Debating Club, criado em julho de 1890. Rapidamente, o grupo se firmou e cresceu,
atingindo um número de dez amigos participantes. Desse grupo, foi criada, a seguir, uma
revista, chama de The Debate, a qual publicou dezoito números32.

Chesterton teve uma adolescência marcada pelo agnosticismo e, segundo ele, foi
do paganismo, aos doze anos de idade, para o agnosticismo, com dezesseis anos. no
entanto, apesar de ter sido criado no Anglicanismo, converteu-se ao catolicismo no ano
de 1922. Em 1901 casou-se com Frances Blogg, porém não tiveram filhos. Frances sofria
de uma artrite na coluna, enfermidade com a qual teve de lidar a vida toda, muito embora
tivesse consultado com diversos especialistas, esforço feito por Chesterton para cuidar de
sua esposa33.

Em 1926, o casal precisou contratar uma secretária para os auxiliar nas atividades,
pois a demanda de trabalhos de Chesterton crescia com frequência e ele era um homem
esquecido e desorganizado. Contrataram Dorothy Collins para o auxílio. Ela trabalhou
com eles por toda a vida e tornou-se amiga próxima da família, além de trabalhar para
eles. G. K. Chesterton escrevia e publicava nos jornais. Chegou a escrever para o Daily
News, Illustrated London News e The New Witness34.

Ainda no ano de 1926, Chesterton e seu irmão Cecil Chesterton fundaram a G.


K.’s Weekly, revista onde eram publicados os artigos de Chesterton a respeito do
Distributismo. Com rapidez, o escritor ficou conhecido na Inglaterra e em vários países.
Era reconhecido por ter um talento extraordinário na literatura. Foi autor de mais de 80
livros, com alguns destaques para as biografias de Tomás de Aquino (1933), São
Francisco de Assis (1923), para a novela O Homem que foi quinta-feira(1908) e para as
séries de contos policiais do Padre Brown (famoso personagem de Chesterton, baseado
em no Padre John O’Connor amigo da família). Além disso, escreveu 4.000 artigos e

32
Gilbert Keith Chesterton. op. cit.
33
Ibid.
34
Ibid.
participou como preletor de diversas conferencias, inclusive no exterior, sendo bem
recebido em todos os países que passava35.

Ainda sobre este diversificado e polêmico autor:

“Chesterton era um polemista nato, mas era sempre respeitoso e


afetuoso com seus adversários[...] Tinha um humor elegante e
refinadíssimo, e suas piadas causavam grandes gargalhadas na
plateia[...] Chesterton escreveu praticamente a respeito de tudo, e em
diversos gêneros literários. De poesias a livros que podem ser
considerados tratados de filosofia e, sem exagero, carregados de
teologia digna dos mais profundos teólogos católicos; escreveu também
contos policiais, ensaios, critica literária, etc. Discorria facilmente sobre
temas que iam desde a instituição da família e o homem das cavernas
até o pensamento de Santo Tomás de Aquino. Sua erudição e
versatilidade para tratar sobre diferentes temas com profundidade é
característica de sua mente genial”.36

Em 1918, Chesterton sofreu, o que foi para ele uma grande perda, com a morte do
irmão, pois esse havia sido um grande e inseparável amigo do escritor. O irmão faleceu
na Primeira Guerra Mundial. Tal perda gerou um poema que ele dedicou ao irmão e,
também, aos que morreram em consequência da guerra. G. K. Chesterton faleceu em
junho de 1936, em sua casa em Beaconsfield, Buckinghamshire, na Inglaterra, com 62
anos de idade. Um gigante, literalmente, pois tinha 2,09metros de altura e gigante também
na literatura37.

DOROTHY L. SAYERS

Dorothy Leigh Sayers nasceu em 13 de junho de 1893, em Oxford, foi a única


filha de Helen Mary e do Reverendo Henry Sayers, o qual fora diretor da Christ Church
Cathedral School38. Aos seis anos de idade começou a aprender latim com seu pai e em
1909 foi estudar na Godolphin School, um internato em Salisbury. Em 1912 a escritoras

35
Gilbert Keith Chesterton. op. cit.
36
Ibid.
37
Ibid.

38
Perto de Dorothy L. Sayers. Disponível em: <https://www.sayers.org.uk/biography>. Acesso em: 12
dez 2018.
ganhou uma bolsa de estudos no Somerville College, em Oxford, onde estudou letras e
literatura medieval e onde concluiu o curso com honras, em 191539.

Na época de Sayers, as mulheres não tinham o costume de adquirir graus


acadêmicos porém, ela foi umas das primeirasa receberem o grau acadêmico. Em 1920,
obteve a titulação de Mestre. Por não se adaptar à rotina de isolamento da vida na
academia, a autora entrou para a Blackwell’s, editora de Oxford e trabalhou com um de
seus amigos da Universidade, Eric Whelpton, na L’Écoles des Roches, situada na
Normandia. Entre os anos de 1922 a 1929 trabalhou na empresa de publiciade de Londres,
a Bensons40. Devido à experiencia obtida em Oxford, Dorothy obtém inspiração para
escrever uma de sua últimas histórias, a Gaudy Night41. Em 1923, publica o seu primeiro
romance, Whose Body e neste apresenta o seu mais famoso herói, Lord Peter Wimsey,
que fez parte de outros quatorze volumes de romances e contos. Além disso, escreveu
outros quatro romances, junto com outros autores e duas histórias em série para serem
transmitidas42.
Apesar de possuir diversas obras literárias, a autora é mais conhecida por seus
romances policiais, que giram em torno do personagem acima citado, Lord Peter Wimsey.
Além disso, ficou bastante conhecida pelas traduções que fez, incluindo a tradução de A
Divina Comédia de Dante Alighieri. Contudo, embora tenha traduzido boa parte de A
Divina Comédia, Sayers morreu antes de concluir a tradução do terceiro volume deste,
intitulado como o Paraíso43.
Quanto à vida pessoal, em 1920 Dorothy L. Sayers teve um relacionamento com
o poeta e emigrante russo, John Cournos. Em 1924, teve um filho, chamado John Anthony
que foi criado por uma tia e uma sobrinha, pois Sayers deu à luz a este menino em secreto.
Foi após esse episódio, que ficou conhecido como uma falha moral na vida da escritora,
que a escrita religiosa começou a chamar atenção do público e Dorothy foi convidada a
escrever peças e ensaios sobre temas cristãos44. Em abril de 1926, casa-se com o Capitão

39
Dorothy L. Sayers. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Dorothy_L._Sayers>. Acesso em: 10
dez 2018.
40
Perto de Dorothy L. Sayers. op. cit.
41
Dorothy L. Sayers. op. cit.
42
Perto de Dorothy L. Sayers. op. cit.
43
Dorothy L. Sayers. op. cit.

44
Dorothy Sayers: escritora misteriosa e apologista. Disponível em:
<https://www.christianitytoday.com/history/people/musiciansartistsandwriters/dorothy-sayers.html>.
Acesso em: 12 dez 2018.
Oswald Atherton que tinha dois filhos45. Sayers veio a falecer de insuficiência cardíaca
de dezembro de 1957. Ao longo de sua vida, Dorothy teve apoio de seus amigos como
TS Eliot, Charles Williams e CS Lewis, e após sua morte, ainda possui a devoção de
milhões de fãs46.

AS AMIZADES DE LEWIS

THE INKLINGS

Trata-se de um grupo de discussão literária informal, ligado à Universidade de


Oxford, Inglaterra e que reunia-se entre os anos 1930 até o fim da década de 1950.
Escritores e autores conhecidos fizeram parte desse grupo, dentre eles, os mais
famosos, são C. S. Lewis e J. R. R. Tolkien. No livro The Inklings: C.S. Lewis, J.R.R.
Tolkien, Charles Williams and Their Friends, de Humphrey Carpenter, o autor cita
dezenove nomes como tendo participado deste grupo. Dentre os quais estão: Owen
Barfield (1898-1997), J. A. W. Bennett (1911-1981), Lord David Cecil (1902-1986),
Nevill Coghill (1899-1980), James Dundas-Grant (1896-1985), H. V. D.
Dyson (1896-1975), Adam Fox (1883-1977), Colin Hardie (1906-1998), Robert E.
Havard, (1901-1985), C. S. Lewis (1898-1963), W. H. Lewis (1895-1973), Gervase
Mathew (1905-1976), R. B. McCallum (1898-1973), C. E. Stevens (1905-1976),
Christopher Tolkien (1924-), J. R. R. Tolkien (1892-1973), John Wain (1925-1994) e
Charles Williams (1886-1945)47.

O autor do site Inklings48, Eduardo Oliveira Ferreira, descreve o seguinte propósito


para a reunião deste grupo de amigos literários:
“Os Inklings debatiam sobre temas especialmente no campo literário,
religioso e filosófico. Eles tratavam a respeito de narrativas de ficção,
fantasia, literatura inglesa, medievalismo, mitologias, contos de fadas,
cristianismo, judaísmo e outros. Aproveitavam a companhia dos amigos
para ler seus escritos e para ver as suas críticas.”

45
Dorothy L. Sayers. op. cit.
46
Dorothy Sayers: escritora misteriosa e apologista. op. cit.
47
Inklings. Disponível em: < https://osinklings.wordpress.com/os-inklings/>. Acesso em: 12 dez 2018.
48
FERREIRA, Eduardo Oliveira. Sobre o Inklings. Disponível em:
<https://osinklings.wordpress.com/sobre/>. Acesso em: 12 dez 2018.
No livro J. R. R. Tolkien e C. S. Lewis: o dom da amizade, Tolkien descreve os
Inklings da seguinte maneira:

“um círculo indeterminado e não eleito de amigos que se reuniram em


torno de C. S. Lewis e se encontravam em seus aposentos em Magdalen
[...] Nosso costume era ler em voz alta composições de vários tipos (e
comprimentos!)[...]. Os Inklings personificavam ideais de vida e prazer
de Tolkien e Lewis, especialmente Lewis. Ambos os amigos tinham
uma predileção por clubes informais. Tolkien lembrava o quanto Lewis
se sentia em casa nesse tipo de companhia. “C. S. L. tinha uma paixão
por ouvir coisas lidas em voz alta, um poder de memória para coisas
recebidas dessa forma. E nada disso era compartilhado (especialmente
não essa última) pelos seus amigos, nem em grau semelhante” Numa
carta a Donald Swann, muitos anos mais tarde, Tolkien explicou que o
nome “The Inklings” pertencia a um grupo de estudantes (como era
comum em Oxford naqueles dias).” (DURIEZ, 2018, p. 119-120)
O grupo foi formado no outono de 1933 e tinha duas formas de funcionamento
padrão. Os amigos reuniam-se às teças-feiras pela manhã, em um pub e, às quintas-feiras,
durante a tarde, nos aposentos de Lewis em Magdalen49. Dorothy Sayers também era
amiga próxima de Lewis e de muitos membros dos Inklings e por vezes a autora participou
de reuniões com C. S. Lewis, do Socratic Club50.

No entanto, nos diversos relatos biográficos encontrados, pôde-se perceber que


para além de serem influências na escrita de Lewis, os autores relatados, em suas
biografias acima, foram, também, amigos próximos do escritor. No que diz respeito a
Tolkien e a Sayers, os quais foram contemporâneos de C. S. L. Com relação à Chesterton,
observou-se que foi, assim como tantos outros escritores e apenas para citar T. S. Eliot e
Owen Barfield, uma grande influência tanto na escrita, como para a vida e para ideais
filosóficos e religiosos do autor. Escritores que Lewis conheceu durante seu tempo em
Oxford51.

Em alguns de seus comentários, Lewis, com um criticismo característico seu dizia


o que lhe chamava atenção às obras que lia, como sobre The Mind of the Maker, de
Sayers52, disse o seguinte:

49
DURIEZ, Colin. J. R. R. Tolkien e C. S. Lewis: o dom da amizade. Tradução de Ronald Kyrmse. Rio de
Janeiro: Haper Collins, 2018. p. 121; 123.

50
Dorothy L. Sayers. op. cit.
51
C. S. Lewis: o apóstolo dos céticos. 2016, op. cit.
52
Dorothy L. Sayers. op. cit.
“Este é o primeiro livro sobre religião que li nos últimos tempos em que
cada frase é inteligível e cada página faz o argumento avançar.
Recomendo-o de todo o coração a teólogos e críticos. A romancistas e
poetas. Se já têm certa tendência a idolatrar a própria vocação,
recomendo-o com cautela. Talvez seja melhor que o leiam em jejum.”
Por outro lado, Lewis foi, ainda um grande incentivador de publicações dos textos
de seus amigos, como a publicação de O Senhor dos Anéis, pelo escritor J. R. R. Tolkien.
Lewis, juntamente com o filho de Tolkien, Christopher Tolkien foi um dos primeiros a
ouvir a história do livro e, apesar de Tolkien não gostar muuito dos livros de C. S. L., o
admirava como amigo53.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo dessa pesquisa, percebeu-se como em cada história há outra história por
trás. Escritores escrevem a partir de suas vivências pessoais, a partir de outras histórias,
outras leituras, outros personagens, outras ficções. Quando o leitor se interessa por uma
determinada escrita, leitura, interessa-se por aquilo que está implícito nela: a história de
quem a idealizou e a escreveu. autores sobre os quais são despertados interesses e
curiosidades literárias, históricas, filosóficas, ideológicas, culturais, religiosas e entre
tantos outros interesses que podem surgir ao longo de estudos sobre a literatura e sobre a
diversidade que esta proporciona.

Compreende-se que os escritores que tanto são apreciados por seus infinitos
leitores, possuem um histórico singular, particular de vida que os leva a escreverem o que
seus diversos fãs tanto apreciam em suas leituras. Histórias, personagens, realidade e
ficção se misturam. Um mundo fantástico, de criaturas e seres fantásticos que envolvem
o leitor e o levam a um outro mundo: o da imaginação. Por alguns momentos, de
prazerosa leitura e jornada, esquecem do mundo real. Mas também, faz pensar que o
mundo real e o mundo do imaginário estão tão intimamente ligados, atrelados que trazem,
por meio das histórias escritas, reflexões para o real.

C. S. Lewis em sua ampla diversidade de escrita, de contos, poesias, romances,


novelas, críticas, reflexões, leva o leitor a esse mergulho na fantasia e também nos textos
não fantasiosos que escreveu. Certamente, uma grande mente, um grande escritor, um
grande apologista, um grande nome que fez sucesso tanto pelo que escreveu, como pelas
trocas em conversas com os amigos, nos sermões que pregava, na rádio quando convidado

53
J. R. R. Tolkien. Biografia. op. cit.
para falar e, hoje, ainda, continua a influenciar e a instigar seus leitores e estudiosos a
conhecerem mais sobre sua vida, seu trabalho, suas história, seus primeiros passos e o
crescimento literário, bem como sua voz, que assim como Aslam, o poderoso leão de
Nárnia (personagem de As Crônicas de Nárnia), continua a ecoar alto e estrondosamente
de maneira a despertar mais e mais interesse e curiosidade por sua vida e por seus curiosos
e intrigantes personagens.
REFERÊNCIAS BIBLIGRÁFICAS

BELMONTE, Kevin. Who is C.S. Lewis? In: C. S. LEWIS FOUNDATION. Living the
Legacy of C.S. Lewis. Disponível em: <http://www.cslewis.org>. Acesso em: 20 abr.
2018.

CARPENTER, Humphrey. J. R. R. Tolkien: uma biografia (digitalizado). Tradução de Ronald


Eduard Kyrmse. Martins Fontes, 1992.

C.S.Lewis: o apóstolo dos céticos. Disponível em:


<https://www.raciociniocristao.com.br/2016/09/cslewis-apostolo-dos-ceticos/>. Acesso
em: 09 dez. 2018.

C. S. Lewis: Deus em questão. Direção: Joel Shapiro. Produção.: Leigh Henly Sorge.
Canal: Celtic Spirit, 2014. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=we0JvEMTdUM&index=4&t=0s&list=PLY5mcg
4_lIuAy24NUfenCyGeRyK5CYB4O>. Acesso em: 09 dez.2018.

C. S. Lewis. Biografia. 2001. Disponível em:


https://www.findagrave.com/memorial/1455. Acesso em: 09 dez 2018.
Dorothy L. Sayers. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Dorothy_L._Sayers>.
Acesso em: 10 dez 2018.

Dorothy Sayers: escritora misteriosa e apologista. Disponível em:


<https://www.christianitytoday.com/history/people/musiciansartistsandwriters/dorothy-
sayers.html>. Acesso em: 12 dez 2018.

DURIEZ, Colin. J. R. R. Tolkien e C. S. Lewis: o dom da amizade. Tradução de Ronald


Kyrmse. Rio de Janeiro: Haper Collins, 2018.

FERREIRA, Eduardo Oliveira. Sobre o Inklings. Disponível em:


<https://osinklings.wordpress.com/sobre/>. Acesso em: 12 dez 2018.

FRAZÃO, Dilva. Biografia de J. R. R. Tolkien. Disponível em:


https://www.ebiografia.com/t_r_r_tolkien/. Acesso em: 11dez 2018.
Inklings. Disponível em: < https://osinklings.wordpress.com/os-inklings/>. Acesso em:
12 dez 2018.

J.R.R.Tolkien. Biografia. Disponível em:


<https://pt.wikipedia.org/wiki/J._R._R._Tolkien.> Acesso em: 11 dez 2018

LEWIS, Clive Staples. Surpreendido pela alegria (digitalizado). Tradução de Eduardo


Pereira e Ferreira. São Paulo: Mundo Cristão, 1998.

MACGRAPH, Alister. A vida de C. S. Lewis [livro eletrônico]: do ateísmo às terras de


Nárnia. Tradução de Almiro Pisetta. São Paulo: Mundo Cristão, 2013.
Perto de Dorothy L. Sayers. Disponível em: <https://www.sayers.org.uk/biography>.
Acesso em: 12 dez 2018.

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