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A tecnologia e gestão da informação como suporte dos processos

logísticos: a análise do processo produtivo de uma farmácia de


manipulação

Adriano R. De Queiroz Santos – UFVJM – adriano.queiroz@ufvjm.edu.br


Altamir Fernandes Oliveira – UFVJM – altamir.fernandes@ufvjm.edu.br
Antônio de Pádua Magalhães – UFVJM – antonio.magalhaes@ufvjm.edu.br

Resumo: Tendo em vista que a T.I (tecnologia da informação) está cada vez mais presente na
logística e gestão da cadeia de suprimentos como ferramenta fundamental na tomada de
decisão e controle da produção; este artigo visa descrever o processo produtivo de um
laboratório de manipulação de medicamentos, e analisar como a T.I. é aplicada, avaliando
as características intrínsecas que agregam valor ao produto final. Para tanto, o trabalho
pautou-se numa abordagem qualitativa, classificando-se como uma pesquisa descritiva e
explicativa quanto aos fins. Quanto aos meios utilizou-se de um estudo de caso e revisão
bibliográfica. Adotou-se como mecanismos de coleta de dados instrumentos de comunicação
direta e indireta com a empresa, mediante visita e observação sistemática, aplicação de
questionário semi-estruturado e entrevista em profundidade. Após análises verificou-se que o
software de controle de produção torna o processo produtivo mais rápido, eficiente e eficaz,
agregando valor e qualidade ao produto final, com segurança e precisão de dados. Além
disso, avaliou-se que a T.I. como suporte no processo de produção possibilita a fabricação
das fórmulas de forma hábil, reduzindo incertezas, duplicações de esforços, evitando
desperdícios e prováveis falhas.

Palavras-chave: Logística; Cadeia de Suprimentos; Tecnologia da Informação.

1. Introdução
A logística no Brasil, na década de 90, passou por importantes mudanças. Tais
modificações ocorreram tanto em termos das práticas empresariais, bem como na
disponibilidade de infraestrutura de transportes e comunicações, qualidade e eficiência dos
processos logísticos. Esses aspectos influenciaram o mercado positivamente quanto as
oportunidades devido aos grandes espaços existentes para melhoria de qualidade de serviço e
aumento de produtividade.
Atualmente as indústrias operam em um ambiente que muda constantemente devido a
aspectos como: inovação tecnológica, alterações na economia e legislação, além da
disponibilidade de recursos. Sob essa ótica, a logística é ferramenta fundamental de geração
de valor de forma eficiente e efetiva na indústria. O progresso da tecnologia da informação

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permitiu ampla modificação do modus operandi de diversas indústrias, gerando impactos
positivos sobre o planejamento, a execução e o controle logístico. Destacando-se então um
ambiente favorável para inovações referidas à área logística, em razão principal o aumento da
complexidade das operações envolvidas no processo.
No segmento de farmácias e laboratórios de manipulação as empresas exercem um
papel importante na melhoria contínua da qualidade de vida da população brasileira. A
presença de indústrias farmacêuticas no mercado competitivo significa distribuir
democraticamente produtos e serviços com mais qualidade a um menor custo.
Para que isso aconteça deve-se reconhecer que o desempenho do planejamento e
controle gerencial depende diretamente da qualidade, precisão e disponibilidade das
informações. Até alguns anos atrás, os dados eram colhidos, arranjados e manipulados de
forma manual, com a introdução e disseminação dos computadores, tais dados passaram a ser
manuseados com maior formalidade e padronização. A indústria conhece e gerencia a cadeia
de suprimentos com suporte na tecnologia da informação.
Pela relevância do tema, a questão problema fundamenta-se na seguinte abordagem: a
indústria estudada conhece e gerencia a cadeia de suprimentos com suporte na tecnologia da
informação?
Diante disto, o objetivo principal deste artigo é identificar e analisar como a empresa
conhece e gerencia a cadeia de suprimentos com o suporte na tecnologia da informação sob a
perspectiva do gerente de produção do processo de fabricação de remédios manipulados da
farmácia Indiana.
2. Marco teórico
2.1 Definição de logística
A concepção logística de agrupar conjuntamente as atividades relacionadas ao fluxo
de produtos e serviços para administrá-las de forma coletiva é uma evolução natural do
pensamento administrativo. As atividades de transporte, estoques e comunicações iniciaram-
se antes mesmo da existência de um comércio ativo entre regiões vizinhas (Ballou 2007).
Por muito tempo a Logística foi tratada de forma desagregada. Cada uma das funções
logísticas era tratada independentemente e como áreas de apoio ao negócio. Segundo
Bowersox & Closs (2001), até a década de 50 não existia uma definição formal de logística.
As empresas fragmentavam completamente a administração das funções chave da logística.
Este tratamento desagregado da logística é parte da explicação dos vários nomes pela qual foi
batizada: distribuição, distribuição física, administração de materiais, logística de distribuição,
dentre outros, segundo Lambert (1998).
Apesar de o conceito existir há bastante tempo, a primeira referência bibliográfica que
realizou sugestões explícitas sobre os benefícios da gestão coordenada das atividades de
logística foi publicada em 1961, segundo Ballou (2007). Nesta mesma linha, Fleury at al.
(2000) afirmam que Logística é um verdadeiro paradoxo dado que é um conceito muito
antigo, mas um conceito gerencial muito moderno. Ainda para Fleury at al. (2000), o que vem

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fazendo da logística um dos conceitos gerenciais mais modernos são duas linhas fundamentais
de transformações: a econômica e a tecnológica.
As transformações econômicas no mundo globalizado criam um novo ambiente de
exigências competitivas e as transformações tecnológicas permitem um aumento de eficácia e
eficiência na gestão de operações cada vez mais complexas. Desta forma, a logística deixa de
ser vista como uma simples atividade operacional para ser uma função de relevância
estratégica. O tratamento da logística como um grupo de áreas dispersas que não possuíam
interdependência traz uma perspectiva adicional. Segundo Lambert (1998), o foco destas
áreas era apenas o controle físico dos fluxos de materiais, do ponto de origem ao ponto de
consumo. A transformação desta visão da logística para o entendimento de sua importância e
abrangência é um movimento de poucas décadas, mas que provocou uma avalanche de
neologismos e definições para Logística, ressaltando a sua relevância. Para Ballou (2007) foi
dentro do ambiente empresarial que se iniciou o processo de aperfeiçoamento gerencial das
funções de logística através do agrupamento destas atividades.
A definição de Ballou (2006) para logística acrescenta o conceito de “mix marketing”
(produto, local, tempo e condições), quando diz que a missão da logística é disponibilizar o
produto ou serviço certo, no lugar certo, no tempo certo e com as condições combinadas. Para
Ballou (2007), trata-se de uma evolução do pensamento administrativo, pensar e gerenciar as
funções logísticas de forma coletiva. Assim, Ballou (2007) agrega ao conceito de logística a
ideia desta ser um fato econômico que tem como missão diminuir o hiato entre a produção e o
consumo, ou seja, ser o elo destes dois universos.
2.2 Definição de cadeia de suprimentos
Segundo Ballou (2006) a cadeia de suprimentos abrange todas as atividades
relacionadas com o fluxo e transformação de mercadorias desde o estágio da matéria prima
(extração) até o usuário final, bem como os respectivos fluxos de informação.
Na época antiga da humanidade, as mercadorias eram produzidas distante de onde
eram consumidas e não se encontravam disponíveis com facilidade. Um outro agravante era a
inexistência de um sistema de transporte e de armazenagem eficiente, cujas mercadorias
chegavam a poucos consumidores e o seu armazenamento era inadequado. Com a evolução
do comércio de mercadorias, se fizeram necessários sistemas logísticos eficientes e adequados
a cada época. Estes sistemas têm evoluído e ganhado novos conceitos e importâncias nas
organizações.
Uma das maiores evoluções aconteceu no conceito de cadeia de suprimentos. Ainda
segundo Ballou (2006) “cadeia de suprimentos é um conjunto de atividades funcionais
(transportes, controle de estoque, etc.) que se repetem inúmeras vezes ao longo do canal pelo
qual matérias-primas vão sendo convertidas em produtos acabados, aos quais se agrega valor
ao consumidor”. A maior dificuldade é gerenciar este conjunto de atividades. O
gerenciamento da cadeia de suprimentos é a integração dessas atividades, mediante
relacionamentos aperfeiçoados na cadeia de suprimentos, com o objetivo de conquistar uma
vantagem competitiva sustentável.

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Sendo assim, observa-se que todas essas definições vistas até aqui são convergentes.
2.3 A relação entre logística e cadeia de suprimentos
Para o Council of Supply Chain Management Professional (CSCMP, 2007) a gestão
logística é a parte da Cadeia de Suprimentos (Supply Chain) que planeja, implanta e controla
a eficiência, efetividade do escoamento e do estoque e fluxo reverso de bens, serviços e
informações relacionadas com o ponto de origem e o ponto de consumo com objetivo de
atender as restrições de serviço. A boa administração logística interpreta cada atividade na
Cadeia de suprimentos como contribuinte do processo de agregação de valor. Ballou (2006).
O mercado criou o contexto no qual a logística passou a assumir o papel de integrador
das atividades dentro de um elo da cadeia, partindo de ótimos locais para o conceito de um
ótimo global (FLEURY, 2000). Porém, garantir o melhor para um elo específico da cadeia
poderia não garantir a eficácia de uma cadeia inteira, pois um processo logístico bem
estruturado em um elo não garante que nos elos anteriores ou posteriores tenha havido uma
busca por eficácia. E, partindo do mesmo conceito de que o ótimo local não garante o ótimo
global passa-se a entender que a integração entre os elos da cadeia é o que pode permitir a
construção da eficiência e eficácia global.
O conceito de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (Supply Chain Management),
segundo Ballou (2007) abrange o planejamento e gerenciamento de todas as atividades
envolvidas na busca e suprimento, conversão, de todo o gerenciamento das atividades
logísticas. Também inclui a coordenação e colaboração com os parceiros dos canais de
suprimentos, intermediários, prestadores de serviços logísticos e clientes. Na essência,
gerenciamento da cadeia de suprimentos integra o gerenciamento do suprimento e da
demanda dentro e através das empresas.
2.4 Tecnologia e sistemas de informação
Um Sistema de Informação (SI) é um sistema cujo elemento principal é a informação.
Seu objetivo é armazenar, tratar e fornecer informações de tal modo a apoiar as funções ou
processos de uma organização. Geralmente, um SI é composto de um subsistema social e de
um subsistema automatizado. O primeiro inclui as pessoas, processos, informações e
documentos. O segundo consiste dos meios automatizados (máquinas, computadores, redes de
comunicação) que interligam os elementos do subsistema social.
Para Laudon (1999, p.4) um sistema de informação pode ser definido como um
conjunto de componentes inter-relacionados trabalhando juntos para coletar, recuperar,
processar, armazenar e distribuir informações com a finalidade de facilitar o planejamento,
controle, coordenação, análise e o processo decisório em organizações.
Segundo Potter (2005) uma das formas de classificar os sistemas é de acordo com o
tipo de suporte que oferecem aos funcionários em cada nível organizacional.
O nível administrativo: Constituem uma grande classe de funcionários que dão suporte a
gerentes em todos os níveis da empresa. Esses trabalhadores administrativos têm o suporte de

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sistemas de automação de escritório e comunicação, incluindo software de gerenciamento de
documentos, fluxo de trabalho, correio eletrônico e coordenação. Eles também podem ter o
suporte de sistemas de processamento de transações, sistemas de informação gerencial e
sistemas móveis, embora normalmente não em uma capacidade de tomada de decisão.
O nível operacional: Os gerentes operacionais, ou de primeira linha, lidam com as operações
do dia-a-dia da organização, tomando decisões de rotina, como atribuir funcionários a tarefas
e registrar o número de horas que eles trabalham, ou fazer uma ordem de compra. Os sistemas
de processamento de transações oferecem o principal suporte para os gerentes operacionais,
pois tais sistemas dão suporte à coleta, processamento e disseminação de dados a partir das
transações de negócios básicos da organização. Esses gerentes também têm o suporte dos
sistemas de informação gerencial e sistemas móveis.
O nível de gerência: Os gerentes de nível médio tomam decisões táticas, que lidam em geral
com atividades como planejamento, organização e para controle a curto prazo. O sistema de
informação gerencial da área funcional oferece o principal suporte para esses gerentes. Esses
sistemas são projetados para resumir dados e preparar relatórios para as áreas funcionais,
como contabilidade e marketing. (Administração de tecnologia da informação)
2.5 Tecnologia de Informação aplicada à logística
Segundo CEL (2007) o avanço da Tecnologia de Informação (TI) nos últimos anos
vem permitindo às empresas executar operações que antes eram inimagináveis. Atualmente,
existem vários exemplos de empresas que utilizam a TI para obter reduções de custo e/ou
gerar vantagem competitiva.
A Dell Computer investiu na venda direta e customizada de computadores pela
internet. O resultado foi um faturamento de US$ 12,3 bilhões em 1998, crescendo 60% em
apenas um ano. Além disso, ela obteve um lucro de quase US$ 1 bilhão, sendo considerada
como a empresa de melhor desempenho no setor de Tecnologia de Informação pela revista
Business Week em 1998. A Wal-Mart, maior varejista do mundo, que possui 5.000
fornecedores em todo o mundo e 3.000 lojas localizadas nos Estados Unidos, controla e
gerencia suas atividades baseando-se fortemente em TI (Tecnológica, jul. 1999). Esses
exemplos mostram como a TI, tanto por meio de sistemas, quanto pelo avanço dos hardwares,
é fundamental para o desenvolvimento da Logística.
O fluxo de informação é um elemento de grande importância nas operações logísticas.
Pedidos de clientes e de ressuprimento, necessidades de estoque, movimentações nos
armazéns, documentação de transporte e faturas são algumas das formas mais comuns de
informações logísticas. Antigamente, o fluxo de informações baseava-se principalmente em
papel, resultando em uma transferência de informações lenta, pouco confiável e propensa a
erros. O custo decrescente da tecnologia, associado a sua maior facilidade de uso, permitem
aos executivos poder contar com meios para coletar, armazenar, transferir e processar dados
com maior eficiência, eficácia e rapidez.
A transferência e o gerenciamento eletrônico de informações proporcionam uma
oportunidade de reduzir os custos logísticos mediante sua melhor coordenação. Além disso,

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permite o aperfeiçoamento do serviço baseando-se principalmente na melhoria da oferta de
informações aos clientes.
Tradicionalmente, a Logística concentrou-se no fluxo eficiente de bens ao longo do
canal de distribuição. O fluxo de informações muitas vezes foi deixado de lado, pois não era
visto como algo importante para clientes. Além disso, a velocidade de troca de informações
limitava-se à velocidade do papel (CEL 2007). Um exemplo de como a informação tem
grande importância na Logística é a interação entre fabricantes e varejistas no gerenciamento
da cadeia de suprimentos, promovida no Brasil pelo Movimento ECR Brasil. Com tal prática,
algumas redes varejistas começam a disponibilazar informações do ponto de venda para seus
fornecedores, de modo que estes sejam responsáveis pelo ressuprimento automático dos
produtos. Segundo CEL (2007) isso reduz consideravelmente o custo com estoque dos
varejistas e possibilita aos fabricantes ter melhor previsibilidade da demanda, propiciando
uma utilização de recursos mais racionalizada.
2.6 Tecnologia da informação aplicada a indústria farmacêutica
O setor farmacêutico é responsável pelo faturamento de US$ 365 bilhões no mundo,
sendo 50% nos Estados Unidos.
A tendência da indústria farmacêutica consiste em promover uma integração entre os
segmentos de diagnóstico, medicamentos, planos e serviços que dão assistência a pacientes
portadores de uma doença específica.
Capela (2002) propõe que a indústria farmacêutica assuma um papel de liderança no
processo, flexibilizando e adaptando a condução dos negócios e o tratamento dos pacientes. A
receita para se assumir essa liderança inclui medidas como desenvolvimento de drogas mais
específicas, criadas a partir de conceitos como biotecnologia e a reestruturação do
departamento de pesquisa e desenvolvimento
No setor farmacêutico os laboratórios de manipulação representam uma parcela
significativa. Atualmente no Brasil são mais de 5.500 estabelecimentos, sendo 70%
associados a ANFARMAG (Associação Nacional das Farmácias Magistrais).
Numericamente, a farmácia magistral representa cerca de 8% de todo o mercado de
medicamentos no Brasil. (LAFIS, 2004).
Sob essa ótica a competição no segmento de indústrias farmacêuticas está cada vez
maior, portanto tais organizações necessitam de informações que contribuam para o
gerenciamento de seu formato de atuação. Estas informações tornam possíveis os estágios do
controle sobre as estruturas envolvidas nos canais de marketing e no direcionamento os
investimentos em pesquisas para a criação e manipulação de novos medicamentos.
Essas implicações têm resultados positivos sobre o custo das transações, sobre a
lucratividade e a competitividade organizacional, à medida que existe o contato direto entre as
empresas que compõem a cadeia de suprimentos, há eliminação de várias etapas de conversão
de informações, permitindo constituir programas conjuntos de aperfeiçoamento e
desenvolvimento, assim como dinamiza os processos de tomada de decisão e de resolução de
problemas.

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A tecnologia da informação está ligada ao processo de produção de fármacos como um todo,
sendo aplicada na realização de pedidos para os fornecedores de matérias-primas, na escolha
para a sintetização dos componentes e adição de aditivos, até o testamento de conformidade
com as normas técnicas que possibilitam a disposição do medicamento manipulado ao
consumidor final.
A competição entre as indústrias farmacêuticas é acirrada e, portanto, estas devem
fazer uso da tecnologia da informação, interligada aos sistemas de informação estratégica e de
gestão, que podem trazer diversos benefícios que dizem respeito à possibilidade de tomada de
decisão com qualidade, completa, antecipada e útil, ou seja, oportuna (Rezende e Abreu,
2001). A indústria farmacêutica assim como outras precisa da boa gestão de informações e de
fluxos dentro e fora da organização englobando assim, toda sua cadeia produtiva.
2.7 Processo de Manipulação de medicamentos
Considera-se medicamento manipulado aquele preparado diretamente na farmácia,
pelo profissional farmacêutico, a partir das fórmulas inscritas no Formulário Nacional ou em
Formulários Internacionais reconhecidos pela ANVISA, ou ainda a partir de uma prescrição
de profissional habilitado, que estabeleça em detalhes sua composição, forma farmacêutica,
posologia e modo de usar.
O segmento de manipulação de fármacos tem a constante preocupação de fornecer
medicamentos de alta qualidade a um preço acessível. A manipulação desses produtos
necessita de seleção criteriosa de princípios ativos e da dose, para obter a eficácia terapêutica
esperada.
A cadeia produtiva da indústria farmacêutica é constituída da etapa química, onde são
sintetizados os fármacos e os aditivos, e da etapa farmacêutica, na qual se produz o
medicamento final em si. A etapa de síntese química usa como insumos os produtos gerados
na indústria química básica e é realizada geralmente em grande número de etapas
intermediárias, que podem ultrapassar 20 em alguns casos. Cada uma dessas etapas gera
produtos purificados, para os quais há oferta de mercado e que servem como matérias-primas
nas etapas seguintes da síntese, tornando possível a manipulação de medicamentos de acordo
com as especificações fornecidas pelo cliente.

Hoje, existem mais de cinco mil farmácias magistrais em todo o país, mas a
manipulação de medicamentos não é algo simples, a morte de dez pessoas no município de
Teófilo Otoni, em Minas Gerais, em dezembro de 2011, vítimas da manipulação incorreta de
um medicamento antiparasitário, colocou a credibilidade das farmácias que manipulam
remédios em questionamento.
A busca pela melhoria da qualidade de produtos manipulados vem sendo perseguida
pelas farmácias não apenas como um diferencial, mas também pela reconquista de sua
credibilidade frente aos produtos industrializados. Mas a garantia da qualidade depende não
apenas do Controle de Qualidade, mas de um sistema de qualidade regido por um Manual de
Qualidade e Boas Práticas de Manipulação (RDC 210 de 2003) que envolve todos os
processos da produção do medicamento. Tais processos dizem respeito a todas as etapas, que

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vão desde a compra das matérias-primas até o acompanhamento terapêutico. (PORTAL
EDUCAÇÃO).
A RDC (RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA - RDC Nº 67, DE 8 DE
OUTUBRO DE 2007) fixa os requisitos mínimos para manipulação de medicamentos,
abrangendo questões relacionadas a instalações, equipamentos, recursos humanos, aquisição e
controle de qualidade da matéria-prima. Traz ainda as exigências para armazenamento,
avaliação farmacêutica da prescrição, fracionamento, conservação, transporte, dispensação
das formulações e atenção farmacêutica aos usuários. As farmácias devem obedecer esses
requisitos para garantir maior segurança, qualidade e eficácia das fórmulas manipuladas.
As farmácias são classificadas em seis grupos, de acordo com a área de atuação e a
natureza dos insumos, que abrangem desde manipulação de medicamentos homeopáticos até
hormônios e medicamentos de uso controlado. Para cada grupo, a ANVISA fixou regras
específicas de Boas Práticas de Manipulação.
3. Metodologia
Métodos e procedimentos adotados
Tendo como base o objetivo principal desta pesquisa que é o de identificar e analisar
um processo produtivo suportado pela tecnologia da informação - a concepção do trabalho em
vigor permeia desde etapas de formulação de um problema e hipótese, coleta e análise de
dados, ao estabelecimento de generalizações com base em estudos bibliográficos e
levantamento de dados secundários, pautadas no estudo de caso de um empreendimento real.
Utilizando-se de uma abordagem qualitativa, para a consecução desta pesquisa
enfatizou-se a descrição e explanação do sistema produtivo, de fluxos logísticos e sistemas
gerenciados da cadeia de suprimentos envolvidos em uma filial da rede de farmácias Indiana,
localizada na cidade de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri de Minas Gerais.
Foram adotados instrumentos de comunicação direta e indireta com a empresa em
análise, de modo a favorecer a obtenção de informações úteis para o desenvolvimento do
trabalho. A coleta de dados foi feita mediante visita e observação sistemática do processo
produtivo, aplicação de questionári semi-estruturado e concessão de uma entrevista em
profundidade à gerência local.
Por fim, tanto os dados coletados no estabelecimento quanto os de origem secundária
e os de pertinência à revisão bibliográfica, foram processados e transcritos em informações de
modo a subsidiar a confecção do relatório sob uma abordagem e perspectiva de análise crítica.
Ações como sintetizar os resultados obtidos, demonstrar as conquistas alcançadas com o
estudo e indicar as limitações e as reconsiderações também puderam ser evidenciadas no
contexto do trabalho.
Caracterização do objeto de pesquisa
Adotou-se como objeto de pesquisa, uma filial da rede de Farmácias Indiana, empresa
com quase 80 (oitenta) anos de atuação no mercado, sendo hoje uma das maiores instituições
do ramo farmacêutico do país. Nascida no nordeste mineiro na cidade de Teófilo Otoni, a

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Indiana, empresa referência na qualidade dos serviços prestados, oferece em mais de 60
(sessenta) lojas, produtos diversificados e de alta qualidade, abrangendo um amplo nicho
consumidor e bem atendendo os seus clientes.
Construída sob bases familiares, a empresa prima por um trabalho ético, valorizando e
respeitando os seus mais de mil colaboradores e buscando preservar as políticas de qualidade
conferidas ao atendimento ao cliente, ao cumprimento de exigências legais e normas internas,
ao respeito ao meio ambiente com adoção de métodos sustentáveis e otimizados de produção
e ao aperfeiçoamento contínuo do sistema de gestão de qualidade.
Caracterização do sujeito de pesquisa
Uma comunicação direta com o objeto de estudo foi intermediada pela gerente do
setor de produção da empresa, atuante no ramo há quase 20 (vinte) anos, com formação em
Serviço Social e graduanda em Farmácia. Com a função básica de gerenciar a orientação dos
fluxos de materiais e serviços envolvidos no processo de manipulação de medicamentos, a
entrevistada demonstrou bastante interesse em auxiliar na consecução do trabalho, fornecendo
informações valiosas sobre a forma de gestão empregada no âmbito produtivo.
4. Análise e discussão de resultados
Descrição do processo produtivo
Para um melhor entendimento do processo, faz-se necessário a representação de um
esquema explicativo das operações atribuídas ao processo de manipulação de medicamentos
envolvendo não somente a produção em si, mas também as atividades pré-produção e pós-
produção:
1) Na etapa de aquisição ocorre a compra de insumos necessários para a manipulação de
fórmulas e armazenamento dos medicamentos já prontos. Para tanto, são selecionados
fornecedores qualificados, com base numa listagem de requisitos de qualidade para aprovação
da compra. O laudo de qualificação verifica se as empresas atendem as legislações vigentes e
regularizadas pela Vigilância Sanitária e pelo Conselho Regional de Farmácia (CRF) e se
possuem certificação pela Organização Internacional de Padronização (ISO) ou pela
Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais (ANFARMAG). Ainda vale destacar que
fornecedores contratados podem ser desqualificados devido a alta frequência de não-
conformidades de matéria-prima. A reposição dos insumos é feita com o auxílo de uma lista
de demanda emitida semanalmente, que possibilita o controle dos níveis de estoque máximo e
mínimo.
2) Ao receber os insumos, o setor de expedição realiza uma conferência do lote, verificando
se a quantidade está conforme com o encomendado.
3) Posteriormente, no setor de controle de qualidade, os materiais são movidos para
quarentena, onde são realizados testes físico-químicos e organolépticos para comprovação da
qualidade das matérias-primas e embalagens recebidas. Se aprovado, o insumo recebe um selo
de garantia e é estocado para posterior utilização.

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4) A ordem de manipulação e a receita médica (quando necessária) são encaminhadas para
laboratórios específicos onde o medicamento é produzido. A medição e pesagem de fórmulas
são feitas em equipamentos devidamente calibrados, que possuem laudos atestando a precisão
e aprovação do aparelho perante as legislações existentes.
5) Após a realização dos processos de produção, envase e rotulagem o medicamento é
redirecionado para o setor de conferência onde as fórmulas são conferidas uma a uma com o
receituário médico e a ordem de produção, garantindo que o produto dispensado seja o
medicamento prescrito pelo médico.
Análise e discussão
Diante da descrição do processo produtivo e dos meios de gestão envolvendo os
âmbitos interno e externo da instituição, percebeu-se que a prioridade de investimento da
empresa no momento consiste na manutenção da atividade atual e garantia de sustentabilidade
futura, qualificação de capital intelectual e prospecção de mercado com base em estratégias
eficazes de marketing. A gestão da informação é peça fundamental na escolha de pontos
prioritários de investimento na organização, atravessando a empresa de departamento em
departamento, para ligá-los ao ambiente externo. A informação é considerada como
diferencial de negócios, quando proporciona alternativas de lucratividade e retornos profícuos
para a empresa, seja sedimentando atuações e implementando os atuais negócios, seja criando
novas oportunidades comerciais.
A integração e coordenação entre os canais de coleta, transmissão e análise de
informações e canais físicos de transportadoras e centros de distribuição é feita mediante a
adoção de sistemas específicos de processamento rápido, que possibilitam o
compartilhamento de dados entre os agentes e a operação de atividades de forma sincronizada
entre os elementos da cadeia, funcionando como uma única organização. Além disso, são
utilizados métodos convencionais de comunicação via sistemas de correios eletrônicos e
telecomunicação.
O uso da T.I. e da gestão da informação na empresa, amplia os horizontes do
comércio, eleva o grau de conhecimento do negócio e, consequentemente, torna mais
confiável o controle sobre as operações comerciais, definição de variedade de produtos
oferecidos e suas especificações. A proximidade do consumidor e as informações quanto às
suas necessidades e preferências, colhidas por meio da informatização e tendo como entrada
de dados os pontos de venda, trazem para o comércio a oportunidade de conhecimento de seus
usuários, prestando ao cliente um serviço adequado e identificando novas demandas por
produtos a serem desenvolvidos.

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No que se refere a problematização estabelecida no trabalho pode-se verificar que, suportada
pela tecnologia da informação, a gestão integrada da logística proporciona a empresa
analisada uma maior agilidade e segurança quanto ao processo de manipulação de
medicamentos e disponibilidade de informações entre os agentes, favorecendo o
gerenciamento da cadeia de suprimentos que envolve fornecedores, serviços de transporte,
almoxarifado, distribuição, produção e dispensação. De acordo com Bowersox (2007; p. 24 e
25) "Empresas que têm competência logística [...] usam uma tecnologia da informação capaz
de monitorar a atividade logística global em tempo real. Tal tecnologia identifica problemas
operacionais potenciais e facilita a ação corretiva antes de ocorrer falha no serviço de
entrega". A contribuição que a gestão da informação fornece ao processo logístico de uma
empresa enaltece aspectos de tempo, custo e eficiência no gerenciamento dos processos de
uma cadeia de suprimento empresarial.
5. Considerações Finais
Sendo uma componente vital do bom planejamento, operação eficiente e controle de
sistemas logísticos, a informação torna possível a integração de todas as etapas de produção,
desde a aquisição e controle de estoque até a expedição dos produtos.
Na empresa estudada foi possível verificar e visualizar que a utilização da T.I. através
de software de controle de produção torna o processo produtivo mais rápido, eficiente e
eficaz, agregando valor e qualidade ao produto final. Outro ponto a se destacar sobre a gestão
da informação, é que a T.I. é de extrema importância no segmento de manipulação de
medicamentos uma vez que possibilita maior segurança e precisão de dados para a fabricação
das fórmulas; assegurando vantagens competitivas como: produção em tempo hábil, redução
de incertezas e duplicações de esforços, evitando desperdícios e prováveis falhas.
Perante a discussão do problema exposto e do objetivo proposto para análise
compreende-se que os resultados foram satisfatórios, pois indicam resposta relevante a
asserção formulada para a realização da pesquisa, isso porque, atualmente existem fortes
tendências que impulsionam a integração de todos os setores envolvidos na produção na
própria empresa, assim como as empresas que fazem parte da mesma cadeia de suprimentos;
pois o processo de produção baseia-se na utilização de softwares de T.I., sejam eles de apoio a
decisão ou mesmo de controle, traduzindo os métodos e técnicas empregados no processo de
fabricação em melhorias, suporte para produção sustentável e desenvolvimento das operações
logísticas.
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