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Por um punh ii
Para economizar US$ 100, o Laboratório
Enila falsificou medicamento e pode ter
matado pelo menos 21 pessoas no país de
dólares
rico à matéria-prima. Mas, se a ope-
ração não for realizada dentro das
condições adequadas, produz-se o
carbonato, que é venenoso. O sul-
fato, inofensivo, não é absorvido pe-
lo organismo. Em contato com a ra-
diação, torna-se fluorescente e per-
mite enxergar, por exemplo, o estô-
NELTTO FERNANDES E TINA VIEIRA mago do paciente no raio X.
O carbonato, ao contrário, entra na
R
icardo Diomedes saiu de corrente sangüínea e provoca intoxi-
casa, na Baixada Flumi- cação aguda. Primeiro o rosto come-
nense, no dia 21 de maio ça a formigar e a vítima é tomada por
queixando-se de dores um enjôo profundo. Duas horas de-
no estômago. Aos 57 pois, já vomita sem parar e tem uma
anos, o técnico de consul- diarréia intensa. A dor
tório dentário estava ani- abdominal é fortíssima, a
mado com a chegada do pupila se dilata e a pes-
terceiro neto. O menino soa mal consegue enxer-
nasceu na segunda-feira gar. O processo químico
9. Não conheceu o avô. CELOBAR devastador provoca um
SULFATO D l ftÁ*M
Diomedes morreu dois desequilíbrio celular e os
dias depois de entrar no músculos começam a en-
hospital para fazer um fraquecer. O carbonato é
simples raio X. Ele é uma tão letal que bastam 35
das supostas vítimas da- miligramas para matar
quele que pode se tomar VENENO Lote contaminado um adulto de 70 quilos.
o maior crime da história do contraste pode matar É usado como veneno de
da indústria farmacêutica rato. "Meu pai tentava
no Brasil. Em vez de importar a ma- falar, mas não conseguia. Quando eu
téria-prima do Celobar, um líquido tentei levantá-lo, sua cabeça caiu no
de contraste usado em radiografias, meu ombro. Eu vi que ele ia morrer",
o laboratório carioca Enila resolveu conta Wellington Almeida de Lima.
fabricá-lo no próprio quintal, sem ter O pai dele, o comerciante goiano Otá-
competência técnica para isso. A em- vio Gonçalves de Lima, de 63 anos,
presa economizou US$ 100 na ope- tomou dois frascos de Celobar em •
ração. E pode ter matado pelo me-
nos 21 pessoas. Elas saíram de ca-
sa no fim de maio para fazer uma ra-
diografia e morreram em agonia me- As vítimas do Celobar
nos de 48 horas depois.
A tragédia começou a ser esboça-
da mais de um ano antes, em feve- RICARDO
reiro de 2002. Naquele mês, o Eni- DIOMEDES
la recebeu 6 toneladas de sulfato de Aos 57 anos,
bário do laboratório alemão Sachtle- carioca, ele deixou
ben Cheme, um dos quatro no mun- dois filhos e três
do com autorização para sua fabrica- netos. Morreu 48
ção. Não pagou a encomenda e a horas depois de
companhia alemã cortou o forneci- ingerir o contraste
mento. O laboratório carioca resol-
MORTE EM AGONIA
Paulo (à esq.) e Wellington viram
o pai, Otávio Gonçalves de Lima, sofrer
dores atrozes antes de desfalecer
48 É P O C A 16 DE J U N H O , 2003
CRIME
50 É P O C A 16 DE J U N H O , 2003