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INTENSIVO I

Aula 01

ROTEIRO DE AULA

TEMA: INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL

1. Conceito de Direito Penal

O Direito como um todo – e não apenas o Direito Penal – é composto por normas jurídicas, as
quais se subdividem em regras e princípios: aquelas são rígidas; estes, flexíveis. Portanto, o
Direito Penal é o conjunto de regras e princípios destinados a combater o crime e a contravenção
penal, mediante a imposição de uma sanção penal.

• Crime e contravenção penal são espécies do gênero infração penal.


• Sanção penal é a resposta do Estado a quem viola a lei penal. Tem como espécies a pena e a
medida de segurança.

2. Posição do Direito Penal na teoria geral do Direito

O Direito Penal é um ramo do Direito Público: é composto por regras indisponíveis e dirigidas a
todas as pessoas. Ademais, o direito de punir (“ius puniendi”) pertence ao Estado, com
exclusividade. Em outras palavras, o Estado é o titular exclusivo do direito de punir, inclusive nos
crimes de ação penal privada, nos quais o Estado delega somente o direito à persecução penal.
Outro fundamento que justifica o Direito Penal como ramo do Direito Público é o de que o
Estado figura como sujeito passivo em todo e qualquer crime ou contravenção penal. O Estado
poderá ser:

• Sujeito passivo imediato. Exemplo: crimes contra a Administração Pública.

1
• Sujeito passivo mediato. Exemplo: homicídio – o Estado é o responsável pela manutenção da
paz e da segurança pública.

3. Nomenclatura: “Direito Penal” x “Direito Criminal”

A expressão “Direito Criminal” é mais abrangente, pois enfatiza o crime (e não a pena). A
expressão foi empregada em 1830 pelo primeiro diploma codificado em matéria penal - Código
Criminal do Império.

Nada obstante a expressão “Direito Criminal” ser mais abrangente, atualmente o correto é falar-
se em “Direito Penal”, pois temos em vigor um Código Penal (Dec.-Lei n. 2.848/40 –
recepcionado pela Constituição Federal de 1988 como lei ordinária). Ademais, a própria
Constituição Federal cita a expressão “direito penal” (CF, art. 22, I).

4. Características do Direito Penal

De acordo com Magalhães Noronha, “O Direito Penal é uma ciência cultural, normativa,
valorativa e finalista”.
Análise:

• Ciência: o Direito Penal é uma ciência porque suas normas dialogam entre si e compõem a
dogmática penal.
• Ciência cultural: o Direito Penal pertence à classe da Ciência que estuda o denominado “dever-
ser”.
• Ciência normativa: o objetivo de estudo do Direito Penal é a norma penal.
• Ciência valorativa: o Direito Penal possui sua própria escala de valores na apreciação dos fatos
que lhe são submetidos.
• Ciência finalista: o Direito Penal tem uma finalidade prática (e não meramente acadêmica) de
proteção de bens jurídicos (Claus Roxin).

O Direito Penal é constitutivo ou sancionador? Para Zaffaroni, “o direito penal é


predominantemente
sancionador e excepcionalmente constitutivo”.

O Direito Penal cria sanções para reforçar a proteção que já é dada por outros ramos do Direito
a um determinado interesse ou bem jurídico. Exemplo: o crime de furto proporciona uma
especial proteção ao direito de propriedade, o qual é criado pelo Direito Civil.

Excepcionalmente, o Direito Penal é constitutivo ao tutelar interesses não regulados pelos


demais ramos do Direito. Exemplo: crime de posse ilegal de droga para consumo pessoal.

5. Funções do Direito Penal


5.1. Proteção de bens jurídicos

Para Claus Roxin, a função do Direito Penal é exclusivamente a proteção de bens jurídicos, os
quais consubstanciam valores ou interesses relevantes para a manutenção e o desenvolvimento
do indivíduo e da sociedade.

Todo e qualquer bem jurídico pode ser protegido pelo Direito Penal? Não. Somente os bens
jurídicos mais relevantes para o indivíduo e para a sociedade é que podem ser tutelados pelo
Direito Penal. Portanto, compete ao legislador fazer a seleção, mediante um juízo de valor
positivo.

Por fim, a proteção de bens jurídicos é a função precípua do Direito Penal, dando-lhe
legitimidade.

5.2. Instrumento de controle social

O Direito Penal é utilizado pelo Estado para controlar o comportamento das pessoas e,
consequentemente, para manter a paz social e a ordem pública.
5.3. Garantia

Para Franz von Liszt, “o Código Penal é a magna carta do delinquente”. Assim, o Direito Penal,
mais do que perseguir e punir as pessoas, serve para protegê-las do arbítrio e da ingerência
indevida do Estado em suas vidas particulares.

5.4. Função ético-social do Direito Penal

A função ético-social também é denominada de “função criadora dos costumes” ou “função


configuradora dos costumes”. Ela tem origem na estreita vinculação entre o Direito Penal e os
valores éticos de uma sociedade.

A função ético-social se vale do Direito Penal para buscar na sociedade um efeito moralizador.
É o “mínimo ético” que deve vigorar na sociedade.

5.5. Função simbólica

A função simbólica existe em toda e qualquer lei, mas é mais acentuada no Direito Penal. É
aquela que não produz efeitos externos ou concretos, mas somente na consciência dos
governantes e dos governados.

A função simbólica manifesta-se com o chamado “Direito Penal do terror”, caracterizado pela
“inflação legislativa” (Direito Penal de emergência) e pela “hipertrofia do Direito Penal”. Tal
função deve ser afastada do Direito Penal. Justificativas:

• Em curto prazo ela se limita a fazer propaganda de programas de governo, o qual não é papel
do Direito Penal.
• Em médio e longo prazos ela leva ao descrédito do Direito Penal.

5.6. Função motivadora

O Direito Penal, mediante a ameaça da imposição de uma sanção penal, motiva as pessoas a
não violarem as suas normas.
5.7. Função de redução da violência estatal

Trata-se de proposta de Jesús-Maria Silva Sanchez. Para ele, a função de redução da violência
estatal tem íntima relação com a intervenção mínima do Direito Penal: se o Direito Penal se
destina a reduzir a violência, tal redução também deve ser dirigida ao Estado. Em outras
palavras, a violência estatal deve ser reservada para os casos em que ela é efetivamente
necessária.

5.8. Função promocional

Segundo a função promocional, o Direito Penal deve ser encarado como um instrumento de
transformação social. Em outras palavras, o Direito Penal deve auxiliar a sociedade a promover
uma melhora em seu desenvolvimento (segura, equilibrada, respeitadora de normas).

6. A ciência do Direito Penal

A ciência do Direto Penal ampara-se no tripé:

• Crime.
• Criminoso.
• Sanção Penal.

O crime, o criminoso e a sanção penal são objetos de várias ciências, as quais formam a
“Enciclopédia de Ciências Penais” – expressão cunhada por José Cerezo Mir.
6.1. Dogmática Penal

Dogmática Penal é a interpretação, sistematização e aplicação lógico-racional do Direito Penal.

“Dogmatismo” é distinto de “dogmática”. Dogmatismo é a aceitação cega e imutável de algo


tido como uma verdade absoluta. Ele é incompatível com a ideia de ciência.

6.2. Política criminal


Política criminal é o filtro entre a letra fria da lei e os interesses da sociedade. Por meio dela
realiza-se uma adaptação da letra lei aos valores atuais da sociedade.

6.3. Criminologia

De acordo com o Antonio Garcia Pablos de Molina, “a criminologia é uma ciência empírica e
interdisciplinar” que estuda o crime, o criminoso, a vítima e os fatores sociais que levaram à
prática do crime, dentre outros.

A criminologia é empírica porque se preocupa com aquilo que é provado; e interdisciplinar


porque emprega diversas áreas do conhecimento.

Diferença entre a criminologia e o Direito Penal:

• Direito Penal: estuda o “dever-ser” (ciência cultural) e ocupa-se das consequências do crime.
• Criminologia: estuda o “é” (ciência empírica) e ocupa-se das causas do crime.

6.4. Vitimologia

É uma tendência moderna estudar o papel da vítima no Direito Penal.

Observações:

• O CP, art. 59, “caput” cita o comportamento da vítima como uma das circunstâncias judiciais
que orientam o juiz na fixação da pena-base.
• A vitimologia também se preocupa com a proteção da vítima. Exemplos: justiça restaurativa e
justiça negociada.
7. Divisões do Direito Penal

7.1. Direito Penal fundamental versus Direito Penal complementar

O Direito Penal fundamental também é chamado de Direito Penal primário. Trata-se do


conjunto de normas aplicáveis a todo o Direito Penal, inclusive aos crimes previstos por leis
especiais, quando estas não preveem regras específicas. No Direito Penal fundamental há,
basicamente, a Parte Geral do Código Penal e algumas normas da Parte Especial – exemplo: CP,
art. 327 (conceito de funcionário público para fins penais).

Já o Direito Penal complementar também é chamado de Direito Penal secundário. São as


normas que integram a legislação penal especial (extravagante).

7.2. Direito Penal comum versus Direito Penal especial

Direito Penal comum é aquele que se aplica a todas as pessoas, indistintamente. Exemplos:
Código Penal, Lei de Drogas e Código de Trânsito Brasileiro.

Direito Penal especial é aquele que se aplica somente a determinadas pessoas que preenchem
os requisitos exigidos pela lei específica. Exemplos: Código Penal Militar (Dec.-Lei n. 1.001/1969)
e Dec.-Lei n. 201/1967 (crimes de Prefeitos).

7.3. Direito Penal geral versus Direito Penal local

Direito Penal geral é aquele que tem incidência em todo o território nacional. É
produzido pela União, de acordo com a competência prevista na CF, art. 22, I.

Direito Penal local é aquele que se aplica somente em uma determinada parte do território
nacional. É produzido pelos Estados, com fundamento na CF, art. 22, parágrafo único.

7.4. Direito Penal objetivo versus Direito Penal subjetivo

Direito Penal objetivo é o conjunto de leis penais em vigor, ou seja, são todas aquelas leis penais
que já foram produzidas e ainda não foram revogadas.

O Direito Penal subjetivo é o direito de punir, exclusivo do Estado, que se concretiza no


momento em que alguém viola a lei penal. O direito de punir deve ser encarado sob uma tríplice
vertente: direito de punir, dever de punir e poder de punir.
7.5. Direito Penal material versus Direito Penal formal

O Direito Penal material também é chamado de Direito Penal substantivo. Trata-se do Direito
Penal propriamente dito: o conjunto de leis penais em vigor.
O Direito Penal formal também é chamado de Direito Penal adjetivo. Trata-se das leis
processuais penais em vigor.

8. Fontes do Direito Penal

“Fontes” dizem respeito às formas pelas quais se opera a criação e, depois, a aplicação prática
do Direito Penal.
As fontes dividem-se em dois grandes grupos:

8.1. Fontes materiais, substanciais ou de produção

São os órgãos encarregados de criar o Direito Penal.

A fonte material por excelência do Direito Penal é a União (CF, art. 22, I). Excepcionalmente, os
Estados também podem legislar sobre Direito Penal (CF, art. 22, parágrafo único).

Para que os Estados legislem sobre Direito Penal exigem-se dois requisitos:

• Natureza formal: autorização da União por lei complementar.


• Natureza material: o conteúdo deve tratar de questões específicas de interesse do Estado.

8.2. Fontes formais, cognitivas ou de conhecimento

São fontes que dizem respeito à aplicação prática do Direito Penal, ou seja, aos modos pelos
quais o Direito Penal se exterioriza:

• Fonte formal imediata: lei – somente ela pode criar crimes e cominar penas (princípio da estrita
legalidade: CF, art. 5º, XXXIX, e CP, art. 1º).
• Fontes formais mediatas ou secundárias - elas não criam crimes ou cominam penas, mas
auxiliam na aplicação do Direito Penal:
 Constituição Federal: possui princípios, limites ao poder punitivo do Estado e mandados de
criminalização. Inclusive, fala-se em “Constituição Penal”: são os dispositivos da Constituição
relacionados ao Direito Penal.
 Tratados internacionais sobre direitos humanos1.
 Jurisprudência: o parâmetro para aferir se a jurisprudência é considerada fonte do Direito Penal
encontra-se no CPC, art. 927, pois nem toda decisão deve ser tida como tal.
 Doutrina: é necessária uma posição crítica sobre a doutrina como fonte formal do Direito Penal
em razão de abusos ou excessos.
 Princípios gerais do Direito.
 Costumes: é a reiteração de um comportamento (elemento objetivo) em razão da crença na sua
obrigatoriedade (elemento subjetivo). Observações:

 É o elemento subjetivo (crença na sua obrigatoriedade) que diferencia o costume do hábito


(mera repetição de um comportamento).
 No Direito Penal o costume não pode criar crimes ou cominar penas. Ele só pode ser utilizado
no campo das normas não incriminadoras.
 Espécies de costumes:

o “Secundum legem” ou interpretativo: é aquele que auxilia o intérprete do Direito Penal a


esclarecer o conteúdo de elementares ou circunstâncias do tipo penal. Exemplo: a definição de
“ato obsceno” leva em consideração os costumes da época em que se vive de determinada
localidade.
o “Contra legem” ou negativo (desuetudo): é aquele que contraria a lei penal, mas não a revoga,
por mais arraigado que seja. Exemplo: a contravenção penal do “jogo do bicho”. o “Praeter
legem” ou integrativo: é aquele que supre a lacuna da lei. Tal costume só pode ser utilizado no
tocante às normas penais não incriminadoras. Exemplo: circuncisão peniana realizada em
crianças de determinadas religiões.

 Atos administrativos: funcionam como complemento de algumas normas penais em branco.

9. Interpretação da lei penal

1
Para ser incorporado exige-se: (a) assinatura pelo Brasil; (b) aprovação pelo Congresso
Nacional, por decreto legislativo; e (c) ratificação por decreto do Presidente da República. Caso
aprovados com quórum de emenda constitucional terão força de norma constitucional. Do
contrário, terão força supralegal.
9.1. Introdução
A tarefa de interpretar consiste em buscar o alcance e o significado da lei penal. Em outras
palavras, é a
atividade mental que busca descobrir a vontade da lei, e não do legislador.

Toda e qualquer lei, por mais simples que seja, tem que ser interpretada.

Distinção entre “hermenêutica” e “exegese”:

• Hermenêutica: é a ciência que estuda a interpretação das leis em geral.


• Exegese: é a atividade prática.

9.2. Espécies de interpretação

9.2.1. Quanto ao sujeito: autêntica, judicial ou doutrinária

I – Autêntica (ou legislativa)

Interpretação autêntica é aquela efetuada pelo próprio legislador. Cria-se uma norma com o
intuito de esclarecer o conteúdo e o significado de outra norma. Portanto, há uma norma
interpretativa e uma norma interpretada.

a) A norma interpretativa pode ser:

• Contextual: a norma interpretativa está no mesmo corpo da norma interpretada.


• Posterior: a norma interpretativa é editada após a edição da norma interpretada.

b) A norma interpretativa tem eficácia retroativa e é obrigatória.

Exemplos: CP, art. 13, “caput” (conceito de causa) e CP, art. 327 (conceito de funcionário
público para fins penais).
II – Judicial (ou jurisprudencial)
Interpretação judicial é aquela efetuada pelos juízes e pelos Tribunais no caso concreto. Ela é
obrigatória na
decisão do caso concreto ou quando constituir algum dos precedentes obrigatórios (CPC, art.
927) que são fontes do Direito Penal.

III – Doutrinária (ou científica)

Interpretação doutrinária é aquela efetuada pelos doutrinadores do Direito Penal. Ela não é
obrigatória.

A Exposição de Motivos é interpretação doutrinária – ela não integra a parte normativa de uma
lei.

9.2.2. Quanto aos meios ou métodos: gramatical e lógica

I – Gramatical (literal ou sintática)

Interpretação gramatical é aquela que decorre da mera análise das palavras que integram a lei.
É um modo de interpretação precário.

II – Lógica (ou teleológica)

Interpretação lógica é aquela que busca esclarecer o sentido da norma na totalidade do


ordenamento jurídico – ela é sugerida pela LINDB (art. 5º). É a interpretação mais confiável e
técnica.

9.2.3. Quanto ao resultado: declaratória, extensiva ou restritiva

Resultado é a conclusão obtida pelo intérprete da lei penal.

I – Declaratória (declarativa ou estrita)

É aquela em que há perfeita sintonia entre a letra da lei e a sua vontade – não há nada
para ser acrescentado ou suprimido.
II - Extensiva

É aquela que busca conferir um alcance maior à lei – a lei disse menos do que queria.
A interpretação extensiva é admitida pela maioria da doutrina e da jurisprudência no sentido
de que não se trata de analogia “in malam partem” ou de abarcar uma situação não prevista
pela lei.

Observação (aplicação em concurso): a interpretação extensiva, via de regra, prejudica o réu.

III – Restritiva

É aquela que vai restringir ou limitar o alcance da lei – a lei disse mais do que queria.

9.2.4. Interpretação progressiva, adaptativa ou evolutiva

É aquela que busca adaptar a letra da lei à realidade atual.

9.2.5. Interpretação analógica ou “intra legem”

I – Interpretação analógica é distinta de analogia.

A analogia é uma forma de integração da lei penal (e não uma forma de interpretação). Integrar
significa suprir um vácuo legislativo.

II - A Interpretação analógica ocorre quando a lei penal traz uma fórmula casuística seguida de
uma fórmula genérica. Exemplo:

CP, art. 121: “(...).


§ 2º: Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; (...)”.
• Fórmula casuística: “paga ou promessa de recompensa”.
• Fórmula genérica: “ou por outro motivo torpe”.

O Código Penal está dizendo que a “paga ou promessa de recompensa” são motivos de natureza
torpe, mas não são os únicos. No caso concreto podem surgir outros motivos semelhantes e
igualmente torpes.
III - O legislador penal se socorre da interpretação analógica porque é impossível prever todas
as situações que
podem surgir na vida real.

TEMA: PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL I

1. Introdução

As Normas Jurídicas se subdividem em:


I) Regras; e
II) Princípios.
→ Conclusão: Portanto, o Princípio é uma espécie de Norma Jurídica.

• Conceito de Princípios: São valores fundamentais que inspiram a criação e a aplicação do


Sistema Jurídico. Assim, os Princípios Penais se dirigem tanto ao Legislador (devem ser
observados na criação da Lei Penal) como ao Aplicador do Direito Penal (devem ser observados
na aplicação da Lei Penal ao caso concreto), orientando-os no sentido de controlar o Poder
Punitivo do Estado (essa é a finalidade dos Princípios no Direito Penal).

OBS.¹: Os Princípios são caracterizados pela flexibilidade e pela conformação (adaptação) ao


caso concreto.

OBS.²: Existem Princípios que estão positivados na legislação – estão previstos expressamente

na Constituição Federal e nas Leis (ex.: Princípio da Reserva Legal e Princípio da Anterioridade –

art. 5º, XXXIX, da CF e art. 1º do CP; Princípio da Individualização da Pena – art. 5º, XLVI, da CF;

etc.). Entretanto, existem Princípios que não estão positivados na legislação – não estão
previstos expressamente na Constituição Federal e nas Leis, mas são reconhecidos e a aplicados

pela Doutrina e pela Jurisprudência (ex.: Princípio da Insignificância; Princípio da Ofensividade;

Princípio da Proporcionalidade; etc.).

2. Princípio da Reserva Legal ou Princípio da Estrita Legalidade

O Princípio da Reserva Legal ou Princípio da Estrita Legalidade inaugura o Código Penal:


Anterioridade da Lei
Art. 1º, CP. Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.

#Pergunta: Caso ocorra a revogação do art. 1º do Código Penal o Princípio da Reserva Legal
deixará de existir?
R.: Não. O referido princípio também está previsto no art. 5º, inciso XXXIX, da CF.
Art. 5º, CF. (...)
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;

→ Conclusão: O Princípio da Reserva Legal ou Princípio da Estrita Legalidade por também estar
previsto no art. 5º, inciso XXXIX, da CF, constituí uma Garantia Fundamental do indivíduo contra
o Estado e, portanto, é uma Cláusula Pétrea – integra o núcleo imutável da Constituição Federal
(não pode ser suprimido nem mesmo por Emenda Constitucional – art. 60, §4º, inciso IV, CF).

O Princípio da Reserva Legal ou Princípio da Estrita Legalidade proclama o


MONOPÓLIO/EXCLUSIVIDADE da Lei para criar Infrações Penais (Crime e Contravenção Penal) e
cominar Sanções Penais (Pena e Medida de Segurança).
→ Conclusão: A Lei, e somente ela, é a Fonte Formal Imediata do Direito Penal.

2.1. Origem do Princípio da Reserva Legal ou Princípio da Estrita Legalidade


Não obstante a expressão latina “nullum crimen nulla poena sine lege” (“não há crime
não há pena sem lei”), o Princípio da Reserva Legal ou Princípio da Estrita Legalidade não tem
origem no Direito Romano. O antecedente seguro deste princípio ocorreu na Inglaterra no ano
de 1.215, no art. 39 da Magna Carta do Rei João sem Terra.
Nesse contexto, o Princípio da Reserva Legal surge com a ideia de que “nenhum homem
livre poderia ser submetido à pena sem uma prévia lei prevista naquela terra”.
OBS.: Ao longo do tempo, o Princípio da Reserva Legal foi sendo aperfeiçoado. Um dos principais
responsáveis foi Feuerbach, com a “Teoria da Coação Psicológica”, para ele, toda ameaça ou
intimidação de pena somente pode ser efetuada por Lei (o Estado somente pode coagir
psicologicamente o indivíduo, através da ameaça de imposição de uma pena, mediante a
existência de uma Lei).

2.2. Previsão Normativa e Conceito do Princípio da Reserva Legal ou Princípio da Estrita


Legalidade

• Art. 1º, CP: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação
legal”.
• Art. 5º, XXXIX, CF: “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal”.
• Art. 9º, Convenção Americana Sobre Direitos Humanos (“Pacto de São José da Costa Rica”):
“Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no momento em que forem
cometidas, não sejam delituosas, de acordo com o direito aplicável. Tampouco se pode impor
pena mais grave que a aplicável no momento da perpetração do delito. Se depois da perpetração
do delito a lei dispuser a imposição de pena mais leve, o delinquente será por isso beneficiado”.

OBS.: Tanto no Código Penal como na Constituição Federal há a previsão de 2 princípios:


Princípio da Reserva Legal e Princípio da Anterioridade (ambos se complementam – por isso,
tanto a CF quanto o CP tiveram o cuidado prevê-los de forma conjunta no mesmo dispositivo).

• Conceito de Princípio da Reserva Legal ou Princípio da Estrita Legalidade: A Lei tem a


exclusividade para a criação de Crimes (e Contravenções Penais) e cominação de Penas (e
Medidas de Segurança).

2.3. Fundamentos do Princípio da Reserva Legal ou Princípio da Estrita Legalidade

1º) Fundamento Jurídico: O fundamento jurídico corresponde à Taxatividade, Certeza ou


Determinação da redação do Tipo Penal.

De acordo com esse fundamento, a Lei deve descrever com precisão o “conteúdo
mínimo” da conduta criminosa.
OBS.: A descrição do “conteúdo mínimo” da conduta criminosa legitima os Crimes Culposos, os
Tipos Penais Abertos e as Normas Penais em Branco (haja vista que neles não há a descrição
pormenorizada da conduta criminosa, apenas o conteúdo mínimo).

→ Conclusão: Basta descrição do conteúdo mínimo da conduta criminosa para que seja atendida
a Taxatividade da Lei Penal. Se fosse exigida a descrição completa/pormenorizada da conduta
criminosa, os Crimes Culposos, os Tipos Penais Abertos e as Normas Penais em Branco seriam
todos inconstitucionais.

#Pergunta: Qual é o desdobramento lógico do Princípio da Reserva Legal no Plano Jurídico


(Taxatividade, Certeza ou Determinação da Conduta Criminosa)?
R.: É a proibição da Analogia “In Malam Partem” no Direito Penal (utilização da Analogia para
criar Tipo Penal Incriminador), ou seja, não é possível aplicar uma Lei Penal que regula caso
semelhante em um caso concreto não regulado em Lei para prejudicar o Réu.

2º) Fundamento Político: O Princípio da Reserva Legal ou Princípio da Estrita Legalidade é um


Direito Fundamental de 1º Geração/Dimensão (ligado ao lema da Revolução Francesa
“Liberdade”).
Os Direitos Fundamentais de 1º Geração/Dimensão correspondem às Liberdades
Públicas Negativas: são aquelas que buscam proteger o indivíduo contra o arbítrio do Estado.

→ Conclusão: O Estado somente pode punir criminalmente o indivíduo se ele praticar um


comportamento definido em Lei como Crime ou como Contravenção Penal, caso contrário o
Estado não pode intervir em sua liberdade.
• Franz Von Liszt: O Código Penal é a “Magna Carta do Delinquente”. A Lei Penal visa proteger
o indivíduo contra a ingerência indevida do Estado no seu direito de liberdade, que somente
pode puni-lo se ele praticar um comportamento (ação ou omissão) tipificado em Lei como
criminoso.

3º) Fundamento Democrático ou Fundamento Popular: Este fundamento é o que o Supremo


Tribunal Federal chama de “a Dimensão Democrática do Princípio da Reserva Legal”.
Se somente a Lei pode criar Infrações Penais e cominar Sanções Penais, significa dizer
que a Dimensão Democrática do Princípio da Reserva Legal é o Povo, através de seus
Representantes Eleitos (Legislativo), definindo quais são os crimes e as penas que interessam ao
País.

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