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© Bernardo Motta
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Curso Ciência e Fé
! I – Introdução
! II – Filosofia Grega e Cosmologia Grega
! III – Filosofia Medieval e Ciência Medieval
! IV – Inquisição e Ciência
! V e VI – O Caso Galileu
! VII – A Revolução Científica
! VIII – Darwin e a Igreja Católica
! IX – Os Argumentos Cosmológico e Teleológico
! X – Filosofia da Mente e Inteligência Artificial
! XI – Milagres e Ciência
! XII – Concordância entre Cristianismo e Ciência
Índice
1. Introdução
3. Sócrates
4. Platão
5. Aristóteles
3
A Ciência é a única fonte de conhecimento verdadeiro?
! Explica que H1 é uma falácia genética ! H1: A religião surgiu porque as pessoas precisam
! Demonstra que a Ciência não é omnipotente, “desesperadamente” de acreditar em Deus
logo que H2 é falsa
! H2: Ciência é omnipotente e não precisa de Deus
! C: Logo, Deus não existe 4
A Ciência é a única fonte de conhecimento verdadeiro?
Os princípios da Lógica
! Há certos princípios que sabemos que têm que ser verdadeiros, mesmo sem prova científica!
! Podíamos abdicar desta confiança na Lógica… ou sermos mais “flexíveis” acerca da Lógica…
! Parece que são objectivas (válidas para tudo e todos) e não meramente subjectivas
A frase auto-refuta-se!
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Terminologia
Ciência, Epistemologia, Filosofia da Mente, Metafísica
! Ciência
! Construção de hipóteses ou modelos quantitativos acerca da realidade natural
! Concepção e execução de testes para comprovar ou refutar essas hipóteses ou modelos
! Recolha de dados empíricos (mensuráveis directa ou indirectamente por via sensorial)
! Confronto entre os resultados dos testes (dados empíricos) e as hipóteses ou modelos
! Filosofia da Mente
! O problema da dualidade “corpo – mente” e da natureza do intelecto
! O problema do livre arbítrio: tomamos decisões livres?
! O problema da percepções subjectivas na consciência (“qualia”, p.ex., “vermelhidão”)
Filosofia da Religião
100 94 (teístas)
90 Filosofia da Religião
80 (teístas e ateístas)
70 Filosofia da Linguagem
61
60 Epistemologia
51
50
40 Metafísica
30 28
23 Filosofia da Mente
20 14
10 Filosofia da Ciência
2
0
Áreas da Filosofia
* Fonte: Quentin Smith
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O ressurgimento da filosofia cristã
«Tem sido dito várias vezes, e certamente com justificação, que o homem de ciência é
um fraco filósofo»
«Tradicionalmente, estas são questões para a filosofia, mas a filosofia está morta. A filosofia
não acompanhou os modernos desenvolvimentos em ciência, em partícular [em] física. Os
cientistas tornaram-se os portadores da tocha da descoberta na nossa busca de
conhecimento.»
1. Introdução
3. Sócrates
4. Platão
5. Aristóteles
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Os filósofos pré-socráticos
Tales de Mileto (c. 620-546 a.C.) e Pitágoras de Samos (c. 570-495 a.C)
! Tales é tido como o fundador da filosofia natural, das explicações filosóficas da realidade natural
! Tales sugere que o primeiro princípio (“archê”) da realidade natural é a água
! Anaximandro (c. 610-546 a.C.), seu aluno, sugere que o “archê” é infinito e indeterminado (“apeiron”)
! Anaxímenes (c. 585-528 a.C.), aluno de Anaximandro, sugere que o “archê” é o ar
! Pitágoras, possível aluno de Tales e Anaximandro, sugere que o “archê” é o número (a Matemática)
Tales de Mileto (c. 620-546 a.C.) Pitágoras de Samos (c. 570-495 a.C.)
Θαλῆς ὁ Μιλήσιος Ὁ Πυθαγόρας ὁ Σάµιος 15
Os filósofos pré-socráticos
Tales de Mileto (c. 620-546 a.C.) e Pitágoras de Samos (c. 570-495 a.C)
! Tales representa um extremo ontológico: a realidade última é material (água)
! Pitágoras representa o outro extremo ontológico: a realidade última é imaterial (números, matemática)
! Para Tales, o fundamento da realidade é material, enquanto que para Pitágoras é imaterial
! Ambos rompem com o passado, ao procurarem as estruturas e fundamentos racionais da Natureza
! A realidade natural tem regras próprias, não está sujeita aos caprichos dos deuses do panteão grego
Tales de Mileto (c. 620-546 a.C.) Pitágoras de Samos (c. 570-495 a.C.)
Θαλῆς ὁ Μιλήσιος Ὁ Πυθαγόρας ὁ Σάµιος 16
Os filósofos pré-socráticos
Heráclito de Éfeso (c. 535-475 a.C.) e Parménides de Eleia (c. 515-450 a.C)
! Heráclito afirma que a essência da realidade é a mudança e a inconstância: “todas as coisas se movem
e nada permanece quieto”, “não se entra duas vezes no mesmo rio”
Heráclito de Éfeso (c. 535-475 a.C.) Parménides de Eleia (c. 500 a.C.)
Ἡράκλειτος ὁ Ἐφέσιος Παρµενίδης ὁ Ἐλεάτης
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Os filósofos pré-socráticos
1. Introdução
3. Sócrates
4. Platão
5. Aristóteles
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Sócrates
Pontos-chave
Tales de Inaugura a interpretação objectiva (filosófica) da Natureza, que é despersonalizada e
Mileto baseada num primeiro princípio material, a água
Heráclito e Como explicar a mudança e a permanência? Para Heráclito, tudo é mudança, e para
Parménides Parménides, a realidade última é a permanência: a mudança é uma ilusão dos sentidos
Para Demócrito, a realidade última é composta por átomos e vazio: a deriva e agregação dos
Demócrito
átomos no vazio explica, quer a mudança, quer a (temporária e aparente) permanência
Ao fazer a crítica dos sofistas, defende uma visão objectiva e racional do Mundo, acreditando
Sócrates
nas faculdades do intelecto e na concordância entre verdades filosóficas e morais
… é fortemente marcado por Sócrates e herda a sua motivação filosófica; Platão concebe o
Platão…
primeiro sistema filosófico dotado de uma metafísica e de uma ontologia abrangentes
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Índice
1. Introdução
3. Sócrates
4. Platão
5. Aristóteles
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Platão
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Platão
“Triangularidade”
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Platão
A Forma do Bem
Formas
Pensamentos/raciocínios
que dependem dos sentidos
Objectos materiais
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Platão
A Forma do Bem
! A teoria platónica das formas introduz um critério objectivo (e não subjectivo) de “bem”
! Uma coisa é tão melhor quanto mais perfeitamente instanciar a sua forma
! Um triângulo desenhado num computador pode ser mais perfeito do que um desenhado à mão
! Se o “bem” corresponde à medida de perfeição de uma coisa, então há uma forma para esse “bem”
! Essa forma é a Forma do Bem (“τοῦ ἀγαθοῦ ἰδέαν”)
! Para Platão, a Forma do Bem é superior a todas as formas e é o fundamento último da realidade
! Não é certo se Platão identificou a Forma do Bem com Deus, mas muitos neoplatonistas fizeram-no
A Alegoria da Caverna
! Fogueira: o Sol
! Cada face de cada poliedro seria composta por triângulos rectângulos isósceles ou escalenos
! O “Timeu” foi o único diálogo platónico acessível durante a Idade Média (trad. Calcídio, séc. IV d.C.)
O “Timeu”
! O uso de sólidos platónicos (poliedros regulares) ainda surge na obra de Kepler (1596)
! O platonismo e o pitagorismo influenciaram a maturação do pensamento científico
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Platão
Realismo, conceptualismo, nominalismo
! Três tipos de entes abstractos parecem ser imateriais: universais, números e proposições
! Qual é o estatuto ontológico destes entes?
! Realismo
! Entes abstractos existem objectivamente na realidade, ou seja, não são meras criações
subjectivas da mente, e são irredutíveis às suas instâncias concretas
– Realismo platónico: entes abstractos existem num domínio imaterial e não mental
– Realismo aristotélico: entes abstractos existem na mente que os abstrai, e também nas
instâncias concretas, todavia não são redutíveis a estas
! Conceptualismo
! Entes abstractos existem apenas na mente que os abstrai a partir de instâncias concretas
! Nominalismo
1. Introdução
3. Sócrates
4. Platão
5. Aristóteles
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Aristóteles
! Parece que as essências das coisas são meras convenções humanas (convencionalismo)...
! No entanto, o convencionalismo é contraditório:
! P: Todas as essências das coisas são convenções criadas por seres humanos (princípio geral)
! Logo, a essência do que é um "ser humano" seria convenção humana (aplicação particular de P)
! Por isso, Q: os seres humanos seriam logicamente anteriores à essência "ser humano"
! Mas Q => R: os seres humanos são instâncias da essência "ser humano"
! E R => ~Q: a essência "ser humano" é logicamente anterior aos seres humanos
! Chegámos a uma contradição (Q ∧ ~Q), pelo que o convencionalismo não pode ser verdadeiro
! A única forma de escapar a esta refutação seria a de estipular uma excepção para o ser humano
! Assim, diríamos que todas as essências são convenções, excepto a essência do ser humano
! Mas porquê postular esta excepção “ad hoc”?
! O convencionalismo acerca das essências é uma forma de nominalismo e padece dos seus problemas
«O mundo objectivo simplesmente é: ele não acontece. Apenas para o olhar da minha
consciência... é que uma secção deste mundo ganha vida como uma imagem fugaz no
espaço que continuamente muda no tempo.» - Weyl, Philosophy of Mathematics and Natural Science, 1949
! Se a mudança é real, então a teoria correcta é a Teoria A (ainda por cima, é validada pelos sentidos)
! Problemas da Teoria B:
! É incompatível com o livre arbítrio: se o futuro já existe, não existem decisões, muito menos livres
! Se passado e futuro são reais, em teoria seria possível “aceder” a eventos passados ou futuros
! Paradoxos: poderíamos alterar o passado ou o futuro, e criar contradições, como por exemplo,
uma pessoa "viajar" ao passado e provocar a sua própria morte, ou impedir o seu nascimento
! É contraditória: mesmo que a mudança apenas fosse real na consciência, a Teoria B seria falsa
Coisa Mudança:
actual P • Corrupção da coisa P (deixa de ser actual)
Potência Q • Geração da coisa Q (passa a ser actual)
Coisa • Temporalidade: requer teoria A do tempo,
actual Q porque na teoria B, tudo é actual
• Causalidade: a causa é o agente da mudança
! A causa não tem que ser temporalmente anterior ao efeito: só não pode ser posterior ao efeito
! Mas a causa tem que ser logicamente anterior (condição necessária): sem causa não há efeito
! Exemplo: uma bola de chumbo colocada sobre uma almofada:
! A cada instante, e de forma instantânea, a bola de chumbo é a causa da deformação da almofada
! A bola de chumbo actualiza na almofada, e a cada instante, o seu potencial para ser deformada
! A relação causa-efeito é síncrona (instantânea): o intervalo de tempo entre causa e efeito é zero 37
Aristóteles
Mudança e causalidade
! Apenas uma (ou mais) causa actual explica a mudança de P para Q
Coisa Mudança:
actual P • Corrupção da coisa P (deixa de ser actual)
Potência Q • Geração da coisa Q (passa a ser actual)
Coisa • Temporalidade: requer teoria A do tempo
actual Q • Causalidade: a causa é o agente da mudança
! Se negamos a causa...
... Ou negamos a mudança:
• P=Q
Coisa
actual P ... Ou não explicamos a mudança:
Potência Q • Como é que P ≠ Q e P mudou para Q?
Coisa • A Potência Q não se actualiza sozinha porque
actual Q antes de ser actual, ainda não existe
• Q não pode ser acto e potência em simultâneo
• Senão Q existia ∧ Q não existia (contradição)
• E o facto de P ≠ Q não implica P mudar para Q
! P pode ser a causa da actualização de Q: eu posso ser a causa da actualização da minha posição 38
Aristóteles
! Aristóteles dá importância central aos entes que não existem noutro ente nem são ditos de outro ente
! São as substâncias primárias ou particulares (do latim "substantia", trad. do grego οὐσία, "ousia")
! As substâncias secundárias ou universais são características essenciais das substâncias primárias
! Os entes cuja existência depende da existência de uma substância são os acidentes (predicados)
Predicação
Predicação 39
Aristóteles
Substancial e acidental
! As coisas naturais podem ser analisadas no que lhes é substancial e no que lhes é acidental
! “Substancial” é tudo o que uma coisa não pode deixar de ser, sem deixar de ser o que é
! “Acidental” é tudo o que uma coisa pode ser ou não ser, sem deixar de ser o que é
! Nenhuma substância pode ser predicado de outra, ou seja, ser um acidente de outra
! Nenhum acidente é substancial, ou seja, nenhum acidente pertence à substância de uma coisa
! Os acidentes não existem por si mesmos, mas sempre como predicados de uma substância
! Dois tipos de mudança:
! Mudança acidental
! Bola de borracha encarnada que é pintada de outra cor (não deixa de ser bola de borracha)
! Átomo de Carbono-12 que muda de posição no espaço (não deixa de ser Carbono-12)
! Cão que é tosquiado (não deixa de ser um cão)
! Mudança substancial
! Bola de borracha que é derretida (deixa de ser bola de borracha)
! Uma molécula de água que é quebrada (deixa de ser água)
! Um papagaio que morre (deixa de ser um papagaio)
! Uma coisa muda acidentalmente quando acidentes potenciais são actualizados na mesma substância
! Uma coisa muda substancialmente quando a potência da sua matéria é actualizada noutra substância40
Aristóteles
Causas aristotélicas
! Aristóteles usa o termo αἴτιον (aition) para "causa", que vem do adjectivo αἴτιος (aitios), "responsável"
! Aristóteles concebe a causa ou causas de X como a(s) resposta(s) à pergunta "porque existe X?"
! As causas de uma coisa X são as explicações para a existência de X e para X ser como é
! As causas de uma mudança de A para B são as explicações para A ter mudado para B
«O conhecimento é o objectivo da nossa investigação, e os homens não consideram que conhecem uma
coisa até terem captado o "porquê" [dessa coisa] (que consiste em captar a sua causa primeira) (...).
Num sentido, então, (1) aquilo de que uma coisa é feita e que persiste é chamado de "causa" [material],
i.e., o bronze da estátua, a prata da taça, e o género do qual o bronze e a prata são espécies.
Noutro sentido, (2) a forma ou o arquétipo, i.e., a afirmação da essência, e do seu género, são chamadas
de "causas" [formais] (p.ex. da oitava, a relação 2:1, e de forma mais genérica o número), e as partes da
definição [da coisa].
De novo (3) a primeira fonte da mudança (...); p.ex. o homem que deu um conselho é uma causa
[eficiente], o pai é a causa do filho, e geralmente o que faz o que é feito e o que muda o que é mudado.
De novo (4) no sentido de fim ou "aquilo para que algo" é feito, p.ex. a saúde é a causa [final] de
caminhar. ("Porque é que ele caminha?", dizemos. "Para ser saudável", e ao dizê-lo pensamos que
atribuímos a causa.)
(...) Isto talvez esgote o número de maneiras de usar o termo "causa".» - Aristóteles, Física, II-3
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Aristóteles
! Causa formal
! P: O que é a coisa?
! R: Uma estátua de mármore da Vénus de Milo, sem braços, e
com 203 cm de altura
! Causa eficiente
! P: Como surgiu a coisa?
! R: A técnica do escultor (Alexandre de Antioquia?)
aplicada no manusear do martelo e escopro
! Causa material
! P: De que é feita a coisa?
! R: De mármore
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Aristóteles
! Causa formal
! P: O que é a coisa?
! R: Um não metal de massa atómica 12u, raio atómico
de 67pm e configuração electrónica [He] 2s2 2p2
! Causa eficiente
! P: Como surgiu a coisa?
! R: Nas estrelas (processo triplo-alfa)
! Causa material
! P: De que é feita a coisa?
! R: De 6 protões, 6 neutrões e 6 electrões
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Aristóteles
! Causa formal
! P: O que é a coisa?
! R: É um gene (troço de uma molécula de ADN)
! Causa eficiente
! P: Como surgiu a coisa?
! R: Por duplicação, fusão/fissão, transferência lateral,
retroposição, etc.
! Causa material
! P: De que é feita a coisa?
! R: De nucleótidos
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Aristóteles
Filosofia da Natureza
! Modelo de uma substância de natureza inorgânica (segundo esquema de William A. Wallace)
! O modelo conjuga a filosofia natural aristotélica com o actual conhecimento científico
! Trata-se de um modelo conceptual e não de um modelo geométrico / espacial
! MP: Matéria-Prima
! FN: Forma Natural
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Aristóteles
TIPO DE ENTE
ENTES ENTES
TIPO DE EXISTÊNCIA ENTES
NATURAIS NATURAIS E VIVOS
ACTUAL
(ACTUALIZANDO ALGO Acto Forma Alma
POTENCIAL)
POTENCIAL
Potência Matéria Corpo
(EXISTINDO EM ALGO ACTUAL)
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Aristóteles
zero (0)
CONCEITOS MATEMÁTICOS
conjunto vazio (ø)
esfera, cinco, conjunto não vazio e finito
infinito (∞)
49
Aristóteles
Vantagens do aristotelismo
(St. Augustine’s Press, 2010) (AuthorHouse, 2004) (Routledge, 2008) (Catholic University of
America Press, 1996)
51
Bibliografia recomendada
ocw.nd.edu/philosophy/ancient-and-medieval-philosophy
Bibliografia recomendada
Filósofos aristotélico-tomistas
Homepage: http://www.u.arizona.edu/~aversa/
Aristotelismo-tomismo: http://www.u.arizona.edu/~aversa/scholastic/
Blogue: http://sententiaedeo.blogspot.pt/
Biblioteca virtual: http://garrigou.us.to/