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18-06-2019 Insolvência e

Recuperação das
Empresas
FT-17
INSOLVÊNCIA E MECANISMOS DE RECUPERAÇÃO DAS
EMPRESAS

FT 17 – Direito Aplicado ás Empresas


Formadora: Sandra Mendes
Formanda: Mª João Garcia
18/06/19

1
Índice:

 Introdução 3
 Insolvência das Empresas:
 Quem pode pedir 4-5
 Consequências / efeitos 5-6
 Direitos dos trabalhadores 6-7
 Plano de insolvência / plano de recuperação 7
 Recuperação de Empresas
 Mecanismos de Recuperação de Empresas: 8
- Processo Especial de Revitalização – PER 8-12
- Regime Extrajudicial de Recuperação de Empresas
(RERE) 12-16
- Plano de Insolvência / Plano de Recuperação - Processo
de Insolvência de Empresas: 16
 A quem se destinam os mecanismos de recuperação de
empresas 16
 Plano de Recuperação 17
 Conteúdo do plano - reestruturação do passivo e do
negócio. 17
 Impossibilidade de recuperação - dever de
apresentação à insolvência 18
 Plano de Insolvência 19-22
 Processo de Insolvência 23-26
 Webgrafia 27
 Conclusão 28

2
Introdução:

• No âmbito do Módulo de FT 17, Direito Aplicado ás


Empresas, iremos abordar um dos problemas hoje em dia
muito comum, que é a recuperação das empresas em
dificuldades financeiras e quais os procedimentos que se
devem fazer para conseguir contornar a situação.

• Dentro deste tema será objeto de estudo a Insolvência das
Empresas, o Processo e os vários Mecanismos de
Recuperação, que pode ser feita através de: Processo
Especial de Revitalização (PER), Regime Extrajudicial de
Recuperação de Empresas (RERE) e o Plano de Insolvência
/ Plano de Recuperação.

3
INSOLVÊNCIA DAS EMPRESAS

Quem pode pedir a insolvência de uma empresa?

São vários os sujeitos que podem pedir a insolvência de uma empresa:

 Credores:

Pode pedir a insolvência de uma empresa qualquer credor, titular de créditos de


natureza patrimonial, isto é, em dinheiro ou suscetíveis de avaliação em dinheiro,
ainda que o seu crédito esteja sujeito a condição e qualquer que seja a natureza
do seu crédito

São credores da empresa e, por isso, têm legitimidade para requerer a


insolvência da mesma, nomeadamente, os:

 Trabalhadores;
 Bancos;
 Fornecedores;
 Senhorios, em relação às rendas em atraso, emergentes de contrato de
arrendamento;
 Clientes, no caso de a empresa não ter fornecido o bem ou prestado o
serviço;
 Finanças e a Segurança Social em relação aos respetivos créditos.
Nestes casos, é o Ministério Público quem representa estas entidades e
que, por isso, tem legitimidade para pedir a insolvência da empresa;
 Qualquer outro credor.

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INSOLVÊNCIA DAS EMPRESAS

 Gerente ou Conselho de Administração: dever de apresentação


à insolvência:

Não só podem como têm o dever legal de apresentar a empresa à insolvência o


órgão social incumbido da sua administração:
- Gerente nas sociedades por quotas e nas sociedades unipessoais por quotas;
- Conselho de administração nas sociedades anónimas.

Com efeito, a partir do momento em que demonstrem não ter capacidade para
cumprir com as suas obrigações vencidas os gerentes ou administradores têm a
obrigação legal de, em 30 dias, apresentar as respetivas sociedades à
insolvência. Ora, tal não acontece se a empresa estiver apenas em situação
económica difícil, caso em que poderá recorrer ao processo especial de
revitalização (PER).

Consequências / efeitos da insolvência de empresas:

1) Liquidação:

Uma vez decretada a insolvência todos os bens que integrem o património da


empresa, quer sejam bens imóveis, bens móveis, créditos passam a integrar
a massa insolvente (por ex., edifícios, máquinas, equipamentos, stocks,
veículos, marcas, patentes, créditos sobre clientes, etc.

É nomeado um administrador de insolvência pelo Tribunal que é investido dos


poderes de administração e de disposição dos bens integrantes da massa
insolvente, representando o devedor para todos os efeitos de caráter
patrimonial que interessem ao processo.

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INSOLVÊNCIA DAS EMPRESAS

Na sentença de declaração de insolvência o Juiz decreta a apreensão, para


entrega imediata ao administrador da insolvência, de todos os bens que integrem
o património da empresa, incluindo os seus elementos de contabilidade. Depois
de apreender todos os bens da empresa, o administrador de insolvência vai
proceder à respetiva venda. A venda da empresa deve ser realizada como um
todo, a não ser que se reconheça vantagem na liquidação ou na alienação
separada de certas partes.

Depois da venda, o administrador de insolvência vai pagar aos credores, com o


dinheiro obtido com a venda e de acordo com a respetiva prioridade e graduação.

2) Dissolução e extinção da empresa insolvente:

A sentença de declaração de insolvência de uma empresa tem como


consequência a dissolução da sociedade. Depois da sentença segue-se a
liquidação do património da empresa e depois é encerrado o processo. O
encerramento do processo de insolvência tem como consequência a extinção
definitiva da sociedade.

Ora, tanto a dissolução como a extinção definitiva estão sujeitas ao Registo


Comercial e ao Registo Nacional de Pessoas Coletivas.

Direitos dos trabalhadores na insolvência de empresas:

Por força dos respetivos privilégios creditórios, os trabalhadores têm direito a


receber os seus créditos resultantes de salários, subsídios de férias, de Natal,
de refeição, compensações e indemnizações) com prioridade face a todos os
outros credores.

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INSOLVÊNCIA DAS EMPRESAS

Se não conseguirem obter a satisfação dos seus créditos no âmbito do processo


de insolvência os trabalhadores também podem recorrer ao Fundo de Garantia
Salarial.

Plano de insolvência / plano de recuperação:

No âmbito do processo de insolvência de empresas, o administrador de


insolvência ou qualquer credor ou grupo de credores que representem, pelo
menos, 1/5 dos créditos podem apresentar um plano de insolvência.

O plano de insolvência pode prever a recuperação da empresa, se esta ainda


tiver viabilidade económica, caso em que tem a designação de plano de
recuperação. Em alternativa, o plano de insolvência também prever a liquidação
da empresa e o pagamento aos credores em termos diferentes dos
estabelecidos no Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas (CIRE).

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RECUPERAÇÃO DAS EMPRESAS

Mecanismos de Recuperação de Empresas

Existem vários mecanismos de recuperação de empresa em crise previstos na


Lei, tanto judiciais como extrajudiciais, que passo a explicar de seguida:

1º) Processo Especial de Revitalização - PER:

- O que é o PER?

É um processo especial dirigido a empresas que se encontram em situação


económica difícil ou em situação de insolvência meramente iminente, mas que
ainda sejam suscetíveis de recuperação por terem viabilidade económica e que
se destina a promover negociações com os respetivos credores com vista à
aprovação de um plano de recuperação, conferindo-lhe a possibilidade de
continuar a exercer a sua atividade económica, e assim, evitar a insolvência de
empresas.

- Quem pode recorrer ao PER:

Destina-se a empresas (sociedades por quotas, sociedades unipessoais por


quotas, sociedades anónimas, empresários em nome individual, etc…) que se
encontrem em situação económica difícil ou em situação de insolvência
meramente iminente.

As pessoas singulares que não sejam empresárias em nome individual (e


as pessoas coletivas sem finalidades lucrativas, como por ex. associações,
fundações, misericórdias, etc.) que se encontrem em situação económica difícil
podem recorrer ao processo especial para acordo de pagamento (PEAP), que é
um processo destinado a permitir a sua recuperação e reestruturação e,
assim, evitar a insolvência pessoal.

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RECUPERAÇÃO DAS EMPRESAS

- Finalidade do PER:

O PER destina-se a reestruturar o passivo das empresas que se encontrem em


situação económica difícil ou em situação de insolvência iminente; funciona,
pois, como um mecanismo alternativo à insolvência de empresas, que visa
proteger a empresa e os postos de trabalho, mantendo a atividade
e suspendendo as penhoras e outras diligências executivas.

O PER permite a revitalização das empresas em situação económica difícil,


quando estas tenham viabilidade económica, evitando-se, por essa via,
a deterioração da respetiva situação financeira, patrimonial e contabilística.

- Requisitos do PER - Como se inicia:

É um processo judicial, uma vez que corre os seus termos no Tribunal. Por
conseguinte, nos termos da Lei, só os Advogados, devidamente
mandatados pelos seus clientes, é que podem dar início a estes
processos.

Para iniciar um PER é necessário entregar no Tribunal, nomeadamente:

- um requerimento subscrito e assinado pela empresa (respetivos


administradores) e por um credor ou credores que, não sendo especialmente
relacionados com a empresa, sejam titulares de, pelo menos,10% de créditos
não subordinados (sobre quais é que são os créditos subordinados e respetivo
regime), a manifestar a vontade em iniciar o PER e de iniciar negociações com
todos os credores com vista à aprovação de um plano de recuperação.
- uma declaração escrita e assinada, há não mais de 30 dias, por
um contabilista certificado ou por um revisor oficial de contas, sempre que

9
RECUPERAÇÃO DAS EMPRESAS

a revisão de contas for legalmente exigida, a atestar que a empresa não se


encontra em situação de insolvência atual.
- uma proposta de plano de recuperação;
- a descrição da situação patrimonial, financeira e reditícia da empresa; entre
outros documentos.

- Conteúdo do PER - Reestruturação do passivo:

O plano de recuperação contemplará uma proposta de reestruturação do


passivo da empresa, podendo nomeadamente prever: um alargamento dos
prazos de pagamento, uma redução de juros, um perdão de parte do capital das
dívidas, a conversão de créditos em participações sociais (quotas ou ações),
bem como a apresentação de um novo modelo de negócio.

Para além de prever um programa calendarizado de pagamentos, o plano de


recuperação deve descrever as modificações que dele decorrem para a esfera
jurídica dos credores, as medidas adequadas à sua implementação e integrar
todos os elementos importantes para a sua aprovação pelos credores
e homologação pelo juiz.

- Aprovação do PER:

Para que o plano de recuperação possa ser aprovado é necessário que seja
votado favoravelmente pelos credores. A regra na contagem dos votos é 1 €, 1
voto, ou seja, é atribuído um voto por cada € de crédito.

1) Para que o plano de recuperação possa ter aprovação é necessário que:


- estejam presentes ou representados na votação credores que representem,
pelo menos, 1/3 dos votos (quórum constitutivo); e que o plano obtenha o voto

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RECUPERAÇÃO DAS EMPRESAS

favorável de, pelo menos, 2/3 da totalidade dos votos efetivamente emitidos
(quórum deliberativo), sendo que, pelo menos, ½ (metade) desses votos
efetivamente emitidos devem corresponder a créditos não subordinados.

2) Em alternativa, o plano também pode ser aprovado sem a verificação de


qualquer quórum constitutivo (percentagem de credores cuja presença é
necessária para que o plano de recuperação possa ser admitido à votação),
desde que, recolha o voto favorável de credores que representem mais de ½
(metade) dos votos, sendo que, mais de metade destes votos favoráveis devem
corresponder a créditos não subordinados.

- Efeitos do PER:

O início do PER tem os seguintes efeitos:


- são suspensas todas as penhoras e diligências executivas que corram contra
a empresa; por outro lado, deixa de poder ser possível aos credores intentar
novas ações para cobrança coerciva de dívidas (declarativas e executivas);
- os prestadores de serviços essenciais tais como eletricidade, gás natural, água,
telecomunicações, ficam impossibilitados de suspender o respetivo fornecimento
por não pagamento, durante todo o tempo em que decorrerem as negociações.

- Créditos tributários do PER:

O plano de recuperação não produz efeitos em relação às dívidas fiscais. Com


efeito, a Lei Geral Tributária (LGT) que, neste caso, prevalece sobre
o CIRE determina que os créditos fiscais são indisponíveis, não podendo, por
isso, ser afetados, alterados, reestruturados ou perdoados, no todo ou em parte,

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RECUPERAÇÃO DAS EMPRESAS

pela aprovação de planos de reestruturação do passivo da empresa, judiciais ou


extrajudiciais.

- Prazo para conclusão do PER:

As negociações para a aprovação do plano de recuperação no âmbito do PER


têm de estar concluídas no prazo de 2 meses; esse prazo pode ser prorrogado
por uma só vez e por 1 mês.

2)Regime extrajudicial de recuperação de empresas (RERE):

- O que é o RERE?

O RERE é um procedimento extrajudicial, voluntário e confidencial dirigido a


empresas e outras pessoas coletivas que se encontrem em situação económica
difícil ou em situação de insolvência meramente iminente, mas que ainda sejam
suscetíveis de recuperação, e que se destina a promover negociações com os
respetivos credores com vista à aprovação de um acordo de reestruturação,
conferindo-lhe a possibilidade de continuar a exercer a sua atividade económica,
e assim, evitar a insolvência.

- Quem pode recorrer ao RERE:

Podem recorrer ao RERE se estiverem em situação económica difícil ou


em situação de insolvência meramente iminente:
- empresas - sociedades por quotas, sociedades unipessoais por quotas,
sociedades anónimas (S.A.);
- empresários em nome individual;

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RECUPERAÇÃO DAS EMPRESAS

- outras pessoas coletivas, como associações, fundações, sociedades civis,


cooperativas;
- herança jacente; etc…

As pessoas singulares que não sejam empresárias em nome individual


não podem recorrer ao RERE. Em alternativa, as pessoas singulares que
não explorem nenhuma empresa podem recorrer ao processo especial
para acordo de pagamento (PEAP), que é um processo destinado a
permitir a sua recuperação e reestruturação e, assim, evitar a insolvência
pessoal.

- Finalidade do RERE:

O RERE destina-se a promover negociações por via extrajudicial entre o


devedor e todos ou alguns dos seus credores com vista à aprovação de um
acordo de reestruturação que preveja uma alteração da composição, das
condições ou da estrutura do passivo e/ou do ativo do devedor, incluindo o
capital social, ou uma combinação destes elementos, incluindo a venda de ativos
ou de partes de atividade, com o objetivo que a empresa sobreviva, na totalidade
ou em parte.

Assim, trata-se de um procedimento extrajudicial que se destina


essencialmente a reestruturar o passivo das empresas que se encontrem em
situação económica difícil ou em situação de insolvência iminente; funciona,
pois, como um mecanismo alternativo à insolvência de empresas, mas também
alternativo ao PER ( Processo Especial de Revitalização descrito acima).

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RECUPERAÇÃO DAS EMPRESAS

- Requisitos do RERE - como se inicia:

O RERE é um procedimento extrajudicial, uma vez que corre os seus termos


na Conservatória de Registo Comercial (e não no IAPMEI, como acontecia com
o SIREVE).

Para iniciar um RERE é necessário que o devedor e credores que representem,


pelo menos, 15% de créditos não subordinados (sobre quais é que são os
créditos subordinados e respetivo regime) assinem um protocolo de
negociação e promovam o respetivo depósito na Conservatória do Registo
Comercial.

- Conteúdo do acordo de reestruturação do RERE:

O acordo de reestruturação cuja aprovação se pretende irá comtemplar uma


alteração da composição, das condições ou da estrutura do passivo e/ou do ativo
do devedor, incluindo o capital social, ou uma combinação destes elementos,
incluindo a venda de ativos ou de partes de atividade, com o objetivo que a
empresa sobreviva, na totalidade ou em parte.

Assim, o acordo de reestruturação consiste essencialmente numa proposta de


reestruturação do passivo da empresa, podendo nomeadamente prever: um
alargamento dos prazos de pagamento, uma redução de juros, um perdão de
parte do capital das dívidas, a conversão de créditos em participações sociais
(quotas ou ações), bem como a apresentação de um novo modelo de negócio.

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RECUPERAÇÃO DAS EMPRESAS

- Aprovação do RERE:

Ao contrário do que acontece com o PER o acordo de reestruturação não


precisa de ser votado. Como se trata de um procedimento voluntário cada um
dos credores vota favoravelmente o acordo apenas se aceitar a reestruturação
do respetivo crédito. Se não aceitar o acordo de reestruturação o seu crédito
permanecerá inalterado.

Assim, o acordo de reestruturação que eventualmente for aprovado só vai


produzir efeitos em relação aos credores que tiverem aderido ao RERE e que
tenham aprovado o acordo. Deste modo, o acordo não vincula os credores que
não tenham aderido ao RERE nem os credores que não tenham aprovado o
acordo, pelo que, para estes os respetivos créditos permanecerão
inalterados, sem qualquer perdão.

- Efeitos do RERE:

O início do procedimento previsto no RERE tem os seguintes efeitos:


- são suspensas as penhoras e as diligências executivas promovidas
pelos credores que tenham aderido ao RERE e tenham assinado o protocolo de
negociação; as penhoras e ações executivas promovidas pelos credores que
não tenham aderido ao RERE mantêm-se ativas.
- os prestadores de serviços essenciais tais como eletricidade, gás natural, água,
telecomunicações, ficam impossibilitados de suspender o respetivo fornecimento
por falta de pagamento, durante todo o tempo em que decorrerem as
negociações.

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RECUPERAÇÃO DAS EMPRESAS

- Créditos tributários e da Segurança Social no RERE:

Sempre que as Finanças (Autoridade Tributária) e a Segurança Social forem


credoras do devedor ou mantenham com este acordo de pagamento
em prestações têm obrigatoriamente que participar nas negociações que se
realizarem ao abrigo do RERE, mesmo que não tenham subscrito o protocolo de
negociação.
Contudo, o acordo de reestruturação aprovado não pode, em qualquer caso,
produzir efeitos em relação aos créditos tributários.

3) Plano de insolvência / plano de recuperação - processo de


insolvência de empresas:

- o processo de insolvência, com plano de insolvência, o qual é aplicável apenas


a processos de insolvência de empresas (sociedades por quotas, sociedades
unipessoais por quotas ou sociedades anónimas), e de pessoas singulares que
explorem empresas.

Na verdade, o CIRE determina que o plano de insolvência que se destine a


prover à recuperação da empresa compreendida na massa insolvente designa-
se por plano de recuperação:

A quem se destinam os mecanismos de recuperação de empresas:

Todos os processos de recuperação de empresas acima referidos destinam-se


a empresas que estão em sérias dificuldades financeiras, as quais se
depreendem quando as empresas têm capitais próprios negativos, ou seja,
quando o seu passivo é manifestamente superior ao ativo (situação de falência
técnica).

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RECUPERAÇÃO DAS EMPRESAS

Confrontados com esta realidade os administradores ou gerentes da empresa


devem definir uma estratégia com vista a reestruturar o seu passivo e o seu
negócio, de modo a que se consiga preservar a empresa e conseguir a sua
viabilização.

Plano de recuperação:

No âmbito dos processos de recuperação de empresas acima referidos, os


administradores ou gerentes terão que elaborar um plano de recuperação, que
contemple uma avaliação do modelo de negócio, a redução das despesas
correntes bem como os possíveis cenários de reestruturação do passivo da
sociedade.

Deste modo, serão promovidas negociações com os credores da sociedade com


vista a alterar os termos das obrigações contraídas pela sociedade comercial
(sociedade por quotas, sociedade unipessoal por quotas ou sociedade anónima).

Conteúdo do plano - reestruturação do passivo e do negócio:

A reestruturação do passivo prevista no plano de recuperação pode traduzir-se


em várias mudanças: moratórias (prolongamento dos prazos de pagamento),
perdão de parte do capital da dívida (haircut), redução das prestações mensais,
períodos de carência do pagamento do capital da dívida, conversão de créditos
em capital social, etc.

A análise que será efetuada no plano de recuperação acerca da viabilidade


económica da empresa terá que ser realista, ou seja, não poderá ser demasiado
otimista em relação ao sucesso dos negócios e à obtenção de receitas
financeiras; também não é necessário que seja conservadora ou pessimista.

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RECUPERAÇÃO DAS EMPRESAS

Terão que ser equacionadas no plano de recuperação também as eventuais


dificuldades que possam existir na efetiva implementação das medidas
tomadas. Em casos de maior debilidade financeira poderão ser equacionadas
medidas mais agressivas como, por exemplo, o despedimento coletivo de
trabalhadores.

Impossibilidade de recuperação - dever de apresentação à


insolvência:

Em último recurso, quando já não for possível a recuperação da empresa os


administradores podem e devem apresentar-se à insolvência de empresas.
Importa assinalar que, neste caso, há um dever de apresentação à
insolvência por parte dos gerentes ou administradores da empresa.

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PLANO DE INSOLVÊNCIA

- O que é o Plano de Insolvência:

É um acordo entre os credores da insolvência destinado à:


- recuperação da empresa compreendida na massa insolvente; ou, em
alternativa,
- regular o pagamento dos créditos, a liquidação da massa insolvente, a
repartição do respetivo produto, entre outros aspetos, em derrogação das
normas do CIRE (Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas).

- Plano de insolvência – Plano de Recuperação:

O plano de insolvência que se destine a prover à recuperação do devedor


designa-se por plano de recuperação.

- Quem pode ser objeto de Plano de Insolvência:

Aplica-se apenas a processos de insolvência de:


- sociedades comerciais (sociedades por quotas, sociedades unipessoais por
quotas ou sociedades anónimas (S.A.));
- outras pessoas coletivas sem finalidade lucrativa, como associações,
fundações, etc.
- pessoas singulares que explorem uma empresa.

Assim, as pessoas singulares que não explorem uma empresa não podem
recorrer ao plano de insolvência. Em alternativa, as pessoas singulares que:
- se encontrarem em situação de insolvência, poderão recorrer ao plano de
pagamentos;
- se encontrarem apenas em situação económica difícil poderão recorrer
ao processo especial para acordo de pagamento (PEAP).

19
PLANO DE INSOLVÊNCIA

- Quem pode apresentar uma proposta de Plano de Insolvência:

Têm legitimidade para apresentar uma proposta de plano de insolvência:


- o próprio devedor (se o devedor for uma sociedade comercial têm
legitimidade os respetivos órgãos de administração e
representação: gerentes nas sociedades por quotas e conselho de
administração nas sociedades anónimas);
- qualquer credor ou grupo de credores cujos créditos representem, pelo
menos, um quinto (1/5) do total dos créditos não subordinados (sobre os
créditos subordinados ver o nosso artigo: créditos subordinados);
- o administrador de insolvência; entre outros.

- Conteúdo do Plano de Insolvência:

1) Reestruturação do passivo do devedor ou outras soluções:

O plano de insolvência pode-se destinar à recuperação da


empresa compreendida na massa insolvente. Nesse caso, o plano de
insolvência comtemplará uma proposta de reestruturação do passivo do
devedor, podendo nomeadamente prever: um alargamento dos prazos de
pagamento, uma redução de juros, um perdão de parte do capital das dívidas, a
conversão de créditos em participações sociais (quotas ou ações), a
apresentação de um novo modelo de negócio, etc.

O plano de insolvência pode ainda regular, em derrogação das normas


do CIRE o pagamento dos créditos, a liquidação da massa insolvente, a
repartição do respetivo produto, entre outros aspetos.

20
PLANO DE INSOLVÊNCIA

2) Credores têm ampla margem liberdade de estipulação de


conteúdo; limitações a essa liberdade:

A Lei confere aos credores ampla margem de liberdade de modelação de


conteúdo do plano de insolvência, podendo estes adotar algumas das soluções
previstas no CIRE ou outras quaisquer. Por outro lado, estabelece também
algumas limitações a essa liberdade de estipulação de conteúdo.

3) Princípio da igualdade entre os credores (par conditio


creditorum):

Uma das limitações à liberdade de estipulação de conteúdo do plano de


insolvência é o princípio da igualdade entre os credores ou par conditio
creditorum, que deve ser respeitado, sem prejuízo
das diferenciações justificadas por razões objetivas.

Permitem-se diferenciações de tratamento entre os credores, tendo em conta,


nomeadamente:
- a diferente categoria ou classe dos créditos e, consequente, ordem de
pagamentos. Ora, tendo em conta a sua graduação, os créditos podem ser:
 Créditos garantidos (1º lugar);
 Créditos privilegiados (2.º lugar);
 Créditos comuns (3.º);
 Créditos subordinados (4.º lugar);
- o diferente grau hierárquico dentro da mesma classe de créditos.

21
PLANO DE INSOLVÊNCIA

- Aprovação do Plano de Insolvência:

Para que o plano de insolvência possa ser aprovado é necessário que


seja votado favoravelmente pelos credores. A regra na contagem dos votos é 1
€, 1 voto, ou seja, é atribuído um voto por cada € de crédito.

Para que o plano de insolvência possa ter aprovação é necessário que:


- estejam presentes ou representados na votação credores que representem,
pelo menos, 1/3 dos votos (quórum constitutivo); e
- que o plano obtenha o voto favorável de, pelo menos, 2/3 da totalidade dos
votos efetivamente emitidos (quórum deliberativo), sendo que, pelo menos, ½
(metade) desses votos efetivamente emitidos devem corresponder a créditos
não subordinados.

- Incumprimento do Plano de Insolvência:

Se, após a aprovação e homologação do plano de insolvência, este começar a


ser executado, o devedor, entretanto, entrar em incumprimento de qualquer
crédito pode ser promovido um novo processo de insolvência com vista à
declaração de insolvência do devedor, se este se encontrar em situação de
insolvência.

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PROCESSO DE INSOLVÊNCIA

O que é:

É um processo de execução universal, que tem como finalidade a satisfação de


todos os credores de um devedor através da liquidação (venda) do património
do devedor insolvente e a repartição do produto obtido pelos credores;
ou, em alternativa, através da aprovação de um plano de insolvência, baseado,
nomeadamente, na recuperação da empresa, compreendida na massa
insolvente.

Processo - conjunto encadeado de atos e formalidades; tramitação:

O processo de insolvência constitui um conjunto encadeado de atos e


formalidades que se inicia com a apresentação à insolvência por parte do
devedor ou com o pedido de insolvência requerido pelo credor e que termina
com o pagamento aos credores ou com alguma das outras causas de
encerramento do processo de insolvência.

1) Início do processo até à sentença de declaração de insolvência:

1.1) Se o processo de insolvência se iniciar com a apresentação à


insolvência por parte do devedor segue-se a sentença de declaração de
insolvência, o indeferimento liminar da declaração de insolvência ou o despacho
de aperfeiçoamento.

1.2) Se, ao invés, o processo de insolvência tiver início com um pedido de


insolvência requerido pelo credor segue-se a:
- citação do devedor;

23
PROCESSO DE INSOLVÊNCIA

- oposição à insolvência;
- audiência de discussão e julgamento;
- sentença de declaração de insolvência ou sentença de indeferimento do pedido
de declaração de insolvência; e, eventualmente,
- recurso da sentença de insolvência e/ou embargos à insolvência.

2) Depois da sentença de insolvência:

2.1) Assembleia de credores:

Na sentença de declaração de insolvência o Juiz designa dia e hora, entre os 45


a 60 dias subsequentes, para a realização da assembleia de credores de
apreciação de relatório, ou declara, fundamentadamente, prescindir da sua
realização.

2.2) Liquidação dos bens do insolvente:

Depois da declaração de insolvência segue-se a fase da liquidação da massa


insolvente, devendo por isso, o administrador de insolvência proceder à
apreensão, depósito e venda de todos os bens e rendimentos do devedor
suscetíveis de penhora.

Contudo, o administrador de insolvência só pode começar a vender os bens


integrantes da massa insolvente (já apreendidos ou não) depois de,
cumulativamente:
- ocorrer o trânsito em julgado da sentença de insolvência (ocorre o trânsito em
julgado de uma decisão judicial quando esta se torna insuscetível de recurso
ordinário, seja porque já foi ultrapassado o prazo para recorrer da decisão sem
que o recurso tenha sido apresentado, seja porque já se esgotaram todas as
instâncias de recurso); e depois,

24
PROCESSO DE INSOLVÊNCIA

- da realização da assembleia de credores de apreciação de relatório, ou no caso


de esta diligência ter sido dispensada, nos 45 dias posteriores à sentença de
insolvência.

2.3) Reclamação de créditos - incidente de verificação e graduação de


créditos:

Também depois da declaração de insolvência segue-se o incidente


de verificação e graduação de créditos, que se inicia com a apresentação
de reclamação de créditos por parte dos credores.

3) Rateio final e encerramento do processo:

No final da liquidação tem lugar a realização do rateio final, no qual é feito o


último pagamento aos credores, se valor remanescente houver para ratear
(distribuir). O encerramento do processo de insolvência ocorre com o pagamento
aos credores ou com qualquer uma das outras causas de encerramento do
processo de insolvência.

Incidentes:

O processo de insolvência em sentido amplo compreende ainda todos os


incidentes que surgem na pendência do processo, como por exemplo:

- embargos à insolvência;
- verificação e graduação de créditos;
- verificação ulterior de créditos;
- exoneração do passivo restante;
- plano de pagamentos;
- resolução em benefício da massa insolvente;
- restituição e separação de bens; entre outros.

25
PROCESSO DE INSOLVÊNCIA

Processo urgente:

O processo de insolvência tem caráter urgente e, por isso:


- goza de precedência sobre o serviço ordinário do Tribunal;
- os prazos não se suspendem durante os períodos de férias judiciais e, por isso,
o processo corre normalmente durante esses períodos; e,
- tem prazos mais curtos (por exemplo, o prazo para apresentar recurso da
sentença de insolvência é de 15 dias e não de 30 dias como é o prazo para o
recurso da sentença proferida no âmbito de um processo declarativo comum).

Processo de execução universal:

O processo de insolvência é um processo de execução universal uma vez que


visa a satisfação de todos os credores de um só devedor.

De facto, com este processo pretende-se repartir o produto da liquidação do


património do devedor por todos os seus credores, com respeito pelo princípio
da igualdade entre os credores ou par conditio creditorum, sem prejuízo da
diferente graduação de créditos que, em concreto, exista.

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Webgrafia:

https://www.advogadosinsolvencia.pt/

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Conclusão:

Ainda hoje se regista, um valor elevado do endividamento das empresas.

Na verdade, os impostos elevados, o baixo nível de investimento e as


dificuldades no acesso ao crédito têm prejudicado bastante a situação de
muitas empresas portuguesas.

O estado em que se encontra a economia do país também não beneficia


nada esta situação até pelo contrário.

Por este motivo, o CIRE (Código de Insolvência e Recuperação de


Empresas) vai sofrendo sempre algumas alterações, tendo sofrido a última
em Agosto de 2018.

As mudanças que vão sendo feitas, trazem alternativas às empresas para


que tentem obter mais facilmente planos de recuperação e evitarem a
insolvência.

FIM

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