Sören Aabye Kierkegaard foi um filósofo e teólogo dinamarquês, nascido no ano de
1813, em Copenhague. Dedicou sua vida a seus estudos e seus escritos filosóficos e teológicos. Todas as suas obras foram elaboradas para apresentar sua insatisfação e sua rejeição ao modo de pensamento que circundava sua época, tanto na dimensão filosófica quanto na dimensão religiosa. Filosoficamente, foi um dos responsáveis pelas críticas feitas ao sistema de pensamento hegeliano, o qual rejeitava intensamente. E também o responsável pelas primeiras indicações teóricas do pensamento existencialista. É um dos autores cuja vida exerceu profunda influência no desenvolvimento de seus trabalhos. As inquietações e angústias que o acompanharam estão expressas em seus textos. Ele se dedicou ao tema da existência humana e, consequentemente, suas relações com os elementos que a circunda. Sua preocupação era de apresentar que a filosofia não é uma realidade dissociada do existir. Para ele, a existência não é uma mera abstração ou mera possibilidade de efetivação, mas ao contrário, é uma realidade concreta que deveria ser abordada pela dimensão filosófica. As obras de Kierkegaard são divididas em duas partes: a primeira são os escritos assinados com pseudônimos, que têm como conteúdo toda sua elaboração filosófica-teólogica e a segunda são textos assinados em seu próprio nome que têm um conteúdo catequético os quais ele denomina como obras edificantes. Este trabalho monográfico foi elaborado a partir de seus escritos filosófico- teológicos, mas precisamente em quatro obras, a saber: Ou –ou: Um fragmento de vida- 1° parte de 1843, O conceito de Angústia de 1844, O desespero humano de 1849 e Temor e tremor de 1843. Todas as obras citadas tratam sobre o tema da existência humana e seus elementos constitutivos. Em todas elas o autor apresenta a situação real do indivíduo como existente e como essa realidade da vida humana deve ser abordada e expressa pela filosofia. Além disso, apresenta um itinerário de como o existente pode alcançar a sua autenticidade existencial, é com essas teses que Kierkegaard possibilita o existencialismo. Com suas elaborações textuais Kierkegaard, não queria ter uma carreira ou se lançar a uma, pelo contrário queria auxiliar a sociedade a viver verdadeiramente sua existência. Ele não queria ser um filósofo sistemático, procurando ensinar doutrinas lógicas, mas queria que suas teses o refletissem como um pensador existente, pois para ele a existência é superior à lógica e ao pensamento. Além disso, queria deixar claro que a existência não era um problema sobre o conteúdo da vida, mas sobre como se relacionar com a vida. Kierkegaard, não quer pregar suas ideias a sociedade, ele quer apresentar as possibilidades de existência para todos, tudo isso a partir de seus escritos, e é por isso que ele os assina com pseudônimos. Desse modo, será exposta, no desenvolvimento deste trabalho monográfico, uma argumentação evidenciando as teses kierkegaardianas referentes à existência e a autenticidade existencial do indivíduo. A partir da apresentação sobre a existência focaremos na angústia e no desespero humano como realidades necessárias para que tal situação existencial se efetive. A existência, na visão de Kierkegaard, se dá partindo de uma perspectiva subjetiva. Segundo o autor há três condições nas quais o existente pode se encontrar: a estética, a ética e a religiosa. Porém a divisão, destes três estados, feita por ele não tem como intenção apontar um existir que simplesmente ascenda de uma condição à outra, respeitando um ciclo fisiológico ou momentos sequenciais preparatórios para o estágio seguinte. Há de fato um crescimento que é causado por alguns princípios metafísicos presentes no homem, e nesta dissertação tentar-se-á apresentar que estes principais elementos são a angústia e o desespero. Tal crescimento é observado pelo o autor como saltos qualitativos no estágio em si. A angústia na filosofia kierkegaardiana não ocupa um papel negativo, é uma realidade humana, que tem suas limitações e que causa um desconforto no existente, mas que tem sua importância na vida de todo e qualquer homem. Ela é explicitada pelo autor como um fato real e intrínseco no gênero humano, sendo assim, se encontra presente em todo ser humano, inclusive no primeiro de todos os homens, ou seja, Adão. É a partir da existência dele que Kierkegaard fará uma demonstração de como a angústia se fez e se faz presente no indivíduo. Assim, tendo como base o pensamento kierkegaardiano, far-se-á um itinerário neste trabalho retratando como a angústia conduz um existente à sua autenticidade existencial. Dessa mesma maneira acontecerá com o desespero humano, pois esse é uma realidade própria somente da humanidade. Nenhum outro ser se desespera. Somente o homem, em sua luta em ser o que se quer ser ou ser aquilo que se é radicalmente, pode se tornar um desesperado. Segundo as teses do autor, essa situação existencial é tão própria do ser humano que acaba por ser uma prova, da mesma forma como o andar de pé, de que o homem é um ser superior. É uma situação própria do indivíduo em sua interioridade, pois o desespero de um não implicará no desespero de outrem, assim é diferenciado da angústia. No entanto, é uma realidade desprezada por muitos, e acaba por ser negada em sua existência, mas é impossível fugir dessa categoria existencial, pois ela sempre se fará presente no homem. Sendo assim, relatar-se-á de que modo o desespero se encontra no existente e como o ajuda a chegar à sua autenticidade plena. O autor expõe vários elementos que constituem cada um destas duas realidades metafísicas já citadas e constata que no final da passagem de um estágio a outro o existente encontra sua autenticidade. Em Kierkegaard o autêntico não se encontra em cada uma dos estágios, mas se dará a partir de renúncias, escolhas, da liberdade, da verdade e da fé. Sendo assim, para se apresentar todo esse tema, esta dissertação monográfica foi elaborada em três capítulos, sendo que em cada um deles apresenta-se claramente cada uma das realidades da filosofia kierkegaardiana e como se expressa a autenticidade em cada uma delas. No primeiro capítulo foi apresentado o conceito da existência segundo Kierkegaard, seus elementos constitutivos e como essa se expressa na realidade real. No segundo capítulo foi trabalhado o conceito de angústia, seus elementos constitutivos e sua relação com a existência, tendo como base seu caráter universal no gênero humano. E por fim, no terceiro capítulo se discorre sobre o conceito de desespero humano e como esse se encontra expresso dentro da existência humana, na sua individualidade. Todo esse caminho será percorrido a partir de uma problematização feita sobre os conceitos de cada uma das situações citadas anteriormente, para que com as respostas o leitor possa compreender melhor essas categorias e entender onde cada uma delas se faz presente na sociedade. Os questionamentos sobre a existência, a angústia e o desespero são de suma importância, pois essas categorias são realidades muito latentes no meio social hodierno, mas que infelizmente são tomadas e vivenciadas de maneira errônea. E, além disso, temos uma dificuldade como indivíduos existentes, em alcançar uma clara ideia do que seja individualidade, pois a maioria das vezes a vivência desse termo é confundida como ser individualista. É por causa dessas dificuldades de compreensão do tema que muitos perdem sua individualidade, e caindo fora de sua autenticidade se tornam qualquer coisa que não seja ele mesmo. É por esse motivo que se toma como abordagem Kierkegaard, pois sua época é marcada por uma filosofia idealista onde o existente é sempre observado no universal, deixando de lado a individualidade, e a existência é reduzida ao abstrato e ao pensamento. Kierkegaard luta contra tais teses afirmando que tal realidade humana somente é vivenciada se estiver pautada no agir do próprio indivíduo, ou seja, nas suas escolhas livres, na paixão colocada sobre a decisão tomada e a convicção do mesmo de realizar na perfeição sua existência. Assim, na perspectiva desse autor, a subjetividade é a maior das características da existência. Hodiernamente nos deparamos com uma sociedade relativista que se utiliza de uma argumentação a partir da subjetividade para basear suas ações. Além disso, o autor apresenta o desespero como uma doença da humanidade. O desespero é um fato real na vida das pessoas hoje, mas estas evitam esta realidade ao invés de encarar como o próprio Kierkegaard propõe. A angústia também se encontra comum em nosso meio, contudo assim como o desespero esta é rechaçada da existência, pois representa uma perturbação no existir. Sendo assim não há um movimento que conduza ao crescimento, a mudança. Ou seja, toda essa situação coloca em risco autenticidade do sujeito, pois não há na uma condição de devir na existência. Portanto, este trabalho tem como esperança contribuir para a conscientização dos indivíduos, levando-os a compreender os reais valores e significados de cada uma dessas realidades propostas por Sören Kierkegaard. Quer, pois, ajudar os leitores a entenderem com uma clareza maior o que é sua existência e qual é o meio para se alcançar a autenticidade existencial, levando sempre em consideração a vivência da angústia e do desespero. Por fim pretende-se tornar-se conhecida as reflexões desse nobre autor que se utilizou de sua própria existência para elaborar suas esplêndidas teses, acreditando que estas serão de grande ajuda a muitas outras reflexões para a sociedade. Para se atingir o objetivo deste trabalho e o desenvolver, foi utilizado o método hipotético-dedutivo, que possibilita satisfazer verdadeira e eficazmente os objetivos já apresentados. Toda abordagem acerca do tema foi conduzida a partir de leituras selecionadas da bibliografia, tanto do autor principal quanto de comentadores, que auxiliariam na finalização do trabalho.