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Projeto da Jéssica

Das questões que se colocam perante o desafio de ressocialização dos detentos, a mais

pujante, certamente, é aquela que se relaciona com a noção mesma de liberdade. Sem adentrar no

mérito das discussões que tal termo é capaz de suscitar, enxergamos a necessidade de questionar

a real efetividade dos processos que, em suma, procuram a emancipação dos indivíduos em

ambiente que se utiliza justamente da privação de liberdade enquanto medida correcional. Em

outras palavras: a educação carcerária poderia ser efetivamente desvencilhada de uma pedagogia

em si contraditória? Se assumirmos o fato de que a educação é, sobretudo, um ato que procura

estimular nos sujeitos a capacidade de julgamento (citar Kant, Crítica do Juízo), do senso-crítico,

é preciso considerar que o processo de prisionalização funda-se na destituição de referenciais,

desde atos simples, como a deposição dos objetos pessoais, até atos mais radicais, como a

interrupção do tempo cotidiano (destarte, identificado ao tempo de punição), da submissão dos

detentos à uniformização das tramas burocráticas (tanto aquelas instituídas tanto pelo Estado

quanto pelos encarcerados) – instituindo-se, portanto, a descaracterização do sujeito, de sua

personalidade, da imagem do mundo etc., tornando-o alheio aos processos que podem engendrar

a autoafirmação do sujeito, de seu posicionamento perante os acontecimentos do real, em suma,

de seu senso crítico.

A análise do espaço, ou antes, do território que “assenta” ou contextualiza o processo

de aprendizado deve ser visto não enquanto algo secundário, meramente subjacente, mas como

campo de uma certa imanência, a partir do qual se estabelecem as diretrizes do agir, das relações,

dos posicionamentos. De um ponto de vista taxonômico, pode-se dizer que o território prisional,

constitui-se enquanto espaço heterotópico, espaço desviante, “no qual se localiza os indivíduos
cujo comportamento desvia em relação à média ou à norma exigida”. (FOUCAULT, 1984:416).

Enquanto espaço desviante, divergente ao topos de normatividade, é geralmente descrito como um

“espaço residual”, contraponto territorial necessário à arregimentação promovida pela sociedade

disciplinar. Ademais, é espaço estratificado, hierárquico, rugoso, em suma, espaço de poder, que

pretende barrar justamente a potência-de-ser. Exercer o poder é impedir que alguém realize a sua

potência. (Tal espaço, como se sabe, é ainda penetrado por outras formas de poder ou

agenciamento, por assim dizer complementares, como o religioso).

(+)

Possibilidades: fazer conter nas heterotopias justamente a utopia, um não-lugar. Por um

processo de ensino capaz de criar reais “linhas de fuga”.

(+)

Entrevistas qualitativas (possibilidade de feitura de um documentário como resultado da

pesquisa?)

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