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 A Psicometria assume o modelo quantitativista em


Psicologia;

 É considerada uma subárea da Avaliação Psicológica,


responsável pelo desenvolvimento dos chamados “testes
psicológicos” ou instrumentos/escalas/inventários
psicológicos;
 Teste Psicológico: é
 Avaliação
uma das técnicas que
Psicológica: visa, pode ser usada no
através dos mais processo de avaliação
variados métodos e psicológica. Consiste
técnicas, descrever e em um conjunto de
avaliar o tarefas pré-definidas
comportamento das (estímulos), que o
pessoas. sujeito precisa
executar em situação
padronizada. 3
 O termo exame psicológico é comumente associado
a procedimentos de avaliação psicológica utilizados
para fins de seleção de profissionais nas empresas,
concursos públicos e obtenção de carteira de
motorista;

 Já o psicotécnico é muitas vezes utilizado para se


referir aos exames psicológicos na área do trânsito,
sendo essa uma associação feita ao trabalho do
técnico que realizava tais exames mesmo antes da
profissão de psicólogo existir oficialmente no Brasil;

 Por sua vez, o psicodiagnóstico é um termo


associado ao trabalho de avaliação psicológica
realizado em situações de atendimento clínico.

(Alchieri & Noronha, 2003)


 Os testes ou instrumentos psicológicos podem
ser usados na prática do profissional psicólogo
ou na pesquisa em psicologia e áreas afins;

 No entanto, para uso na prática profissional é


necessário seguir as regulamentações de uso do
Conselho Federal de Psicologia, mas para uso em
pesquisa, se o teste não for comercializado, pode
ser usado por diferentes profissionais.

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Testes como Ferramentas
(Utilidade prática; ênfase nas suas qualidades
técnicas; habilidade do usuário)
X
Testes como Produtos
(Comercializados, geram lucro, vários
participantes no processo de testagem)

No Brasil, só podem ser comercializados, após


aprovação pelo Satepsi (CFP)

E ainda servem para realizar pesquisas...


 Como foi desenvolvida, sobretudo, por
estatísticos, ela usa símbolos que expressam
parâmetros, os quais representam variáveis de
caráter abstrato;

 No entanto, como a Psicometria é um ramo da


Psicologia e não da Estatística, tais parâmetros
precisam adquirir um significado psicológico, os
quais vêm das teorias psicológicas (Pasquali,
2003).

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 O objetivo deste texto é apresentar os
fundamentos epistemológicos da medida em
ciências empíricas;

 Além de explicitar os tipos e níveis possíveis


que a medida pode assumir.
(Pasquali, 2003)

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 A Psicometria se insere dentro da teoria da medida
em geral que discute sobre a utilização do símbolo
matemático (número) no estudo científico dos
fenômenos naturais;

 Portanto, a teoria da medida retrata uma interface


entre sistemas teóricos de saber diferentes:

 Modelos de Conhecimento:
◦ Matemático: Mundo absoluto e convencional
◦ Científico: Mundo impreciso e dinâmico

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 Assim, verifica-se que a Matemática e a
Ciência são sistemas de conhecimento muito
distintos;

 Ambos possuem objetos (Símbolo numérico X


Fenômenos naturais) e metodologias próprias
(Dedução X Observação sistemática);

 Não se assemelham estruturalmente em


nada :/

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 Apesar destas distinções entre ciência e
matemática, a ciência sempre percebeu
vantagens consideráveis em utilizar o número
para descrever seu objeto de estudo;

 Foi aí onde se encaixou a Medida: o uso do


número na descrição dos fenômenos naturais
constitui o objeto da Teoria da Medida;

 Teoria da medida: justifica e explica a relação


entre ciência e matemática;

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 A principal vantagens do uso de números
(linguagem matemática) para descrever
fenômenos naturais, seria por ser uma forma
universal e paralela às demais linguagens de
representar o mundo;

 Uma vez que com o passar do tempo e pelas


diversas culturas, a linguagem numérica
representou um avanço do pensamento e da
possibilidade de abstração.

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 Medir Significa atribuir números às
propriedades dos objetos, segundo regras.

 Objeto da teoria da medida: O uso do número


na descrição de fenômenos observáveis.

 Problemas básicos: Representação


(isomorfismo), Unicidade e Erro da Medida

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 Representação: Justificativa de se passar de observação
para números (Compreende o teorema da
representação). Devem-se salvaguardar as propriedades
dos números e dos atributos dos fenômenos.

 Unicidade da representação: Decisão sobre se o número


é a única ou melhor forma de representação das
propriedades dos objetos naturais e/ou psicológicos.
Esta representação implica em níveis diferentes de
qualidade ou precisão da medida (ex. Para o peso, o
número representa excelente informação, a saber o
quilograma, mas para a inteligência , o número já será
menos preciso, ex. QI ou escore num teste X).

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Natureza da Medida
 Erro da Medida: Teoricamente, toda medida é sujeita
a erros (instrumento, observador, amostragem ou
aleatório). Assim, um número matemático é um ponto,
único e absoluto; enquanto que na medida este se
torna um “número estatístico" ou um “intervalo”.

 Ex.: 3 = mais ou menos. Ocorre sempre uma possível


variabilidade (variância) nas respostas, não uma
exatidão, isto já se configura o erro.

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 Pasquali (2003) coloca que os instrumentos
psicológicos fazem a suposição de que a
melhor maneira de observar um fenômeno
psicológico é através da medida.

 Portanto, é lícito representar os fenômenos


psíquicos com base na linguagem numérica, se
atendidas suas definições operacionais
(axiomas).

 É possível representar seu fundamento


mediante três axiomas dentre os postulados por
Hurssel: axiomas da identidade, da ordem e da
aditividade.

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 Propriedades básicas do sistema numérico:

◦ Identidade. Um número é igual a si e somente a si


mesmo. Axiomas:
 Reflexividade: a = a ou a  b.
 Simetria: se a = b, então b = a
 Transitividade: se a = b e b = c, então a = c

Conceito de que algo é igual a si mesmo e somente a ele é


idêntico, e que se distingue de todas as outras coisas por
suas características (identidade). Sua representação pode
possibilitar a expressão nominal das variáveis.

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Ordem. Baseia-se na desigualdade dos números.
Axiomas:

 Assimetria: se a > b, então a  b.


 Transitividade: se a > b e b > c, então a > c
 Conectividade: a > b ou b > a

Preconiza que os números não somente são distintos entre


si (identidade), mas que esta diferença é expressa
também em termos da quantidade. A representação
deste axioma possibilita as operações de ordem nas
variáveis.

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◦ Aditividade. Os números podem ser concatenados,
com a soma dos dois (excetuando o zero) produz
um número diferente deles. As quatro operações
(soma, substração, multiplicação e divisão) podem
ser aplicadas. Axiomas:

 Comutatividade: a + b = b + a. A ordem dos termos


não altera o resultado da adição

 Associatividade: (a + b) + c é igual a a + (b + c). A


ordem da associação dos termos não afeta o resultado

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A medida deve resguardar pelo menos duas
das propriedade básicas do sistema numérico
(identidade e ordem, mas de preferência as três,
incluindo também a aditividade)

Mantendo o mesmo raciocínio, quanto mais


axiomas forem representados no processo da
medida, mais úteis se tornam para a
representação e a descrição da realidade
empírica.

(Pasquali, 2003)
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 São as teorias explicativas do comportamento,
que justificam e, consequentemente, revestem
de sentido, a necessidade da medida sobre este
ou outro fenômeno.

 Se este ponto for descuidado por um


profissional, a medida tomada poderá ser
interpretada em si mesma e, então, o resultado
de um procedimento qualquer, poderá valer
mais que os sentidos teóricos, subjacentes ao
entendimento do fenômeno.

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 O isomorfismo defendido na medida é entre
as propriedades do número e as propriedades
de cada atributo de um objeto natural e não
entre o próprio objeto natural;

 O que é mensurável são os atributos


individuais dos objetos e não os próprios
objetos;

 Um rosa não é mais rosa do outra, mas uma


rosa pode ser mais aromática, mais pesada,
etc.

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 Conclui-se que a medida (utilização do número para
descrever os fenômenos naturais) é legítima e
adequada;
 No entanto, nem todas as medidas são iguais em
“qualidade”;
 Esta qualidade depende da quantidade de isomorfismo
que existe entre as propriedades dos números e as
propriedades dos fenômenos naturais;
 Assim, há níveis diferentes de correspondência entre o
número e os fenômenos naturais, o que implica em
níveis de medida diferentes.

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 Escalas de medida: Definida em função dos
axiomas dos números salvos.

 Tipos:
◦ Nominal: Salva apenas os axiomas de identidade.

◦ Ordinal: Salva os axiomas de identidade e ordem.

◦ Intervalar: Salva os axiomas de identidade, ordem e


aditividade.

◦ Razão: Salva os axiomadas de identidade, ordem e


aditividade, mas possui um zero fixo absoluto.

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 Não é propriamante um “escala de medida”, mas sim
de caracterização (exemplo, sexo: 1 = Homens e 2
= Mulheres)

 Os números não são atribuídos a atributos dos


objetos, mas o próprio objeto é identificado por um
rótulo numérico,

 Os dados consistem apenas em nomes, rótulos ou


categorias, onde a única condição necessária é que
um mesmo rótulo não pode ser duplicado para
identificar objetivos diferentes;

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 As propriedades de um objeto podem ser maiores, iguais
ou menos que outras (exemplo, ordem de nascimento);

 É caracterizado por dados que podem ser ordenados, mas


as diferenças entre os valores dos dados não podem ser
determinadas, ou não tem sentido;

 Os números podem ser colocados numa seqüência


invariável ao longo de uma escala linear:
3 4 6 7 10 ou 0 1 2 3 4

 Porém, estes números não têm outro significado além da


indicação da ordem. Ex.: em um fila, senha 234 e 235,
sabemos que um está na frente do outro, mas não
podemos estimar o tempo de espera entre os
atendimentos

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 Igualdade de intervalos. Contudo, não existe uma origem
natural ou absoluta (exemplo, temperatura, resultados em
testes de QI);

 Os valores se apresentam ordenados, e pode-se


determinar a diferença entre eles;
1 2 3 4 ou 2 4 6 8

 Existe a propriedade adicional de determinação da


diferença significativa entre os dados;
 Ex.: Ao responder um teste de inteligência com 10
minutos e seu colega em 20 minutos, significa que este
levou exatamente a metade do tempo que você.

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► Difere da anterior por apresentar um zero fixo e
absoluto (ex. A medida do tempo que leva para
responder um testo pode ser zero, o que significa que
ainda não decorreu tempo nenhum).

 É o nível intervalar modificado, de modo a incluir o


ponto de partida zero inerente, em que o zero
significa nenhuma quantidade presente;

 Não existe esse nível de medida para descrever


fenômenos naturais. Ex.: Não existe zero de aroma
na rosa ou zero de inteligência em algum sujeito.

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 Como é que se aplicam concretamente os
números às propriedades das coisas?

 Que instrumentos são necessários para


efetuar este procedimento?

 Não há uma forma única de medir todas as


propriedades das coisas;

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 Há diferentes formas de atribuir números às
propriedades dos objetos, como seguem:

◦ Medida fundamental ou direta:


- Conta com uma unidade base-natural específica (kilo,
centímetro), permitindo uma representação extensiva
(correspondência de pontos);

- Ex.: Se um objeto possui 100 centímetros, tem o


tamanho da soma de 100 pedacinhos de
comprimentos (centímetros = Unidade-base natural)

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◦ Medida fundamental ou direta:
- O instrumento utilizado para medí-los possui a
mesma qualidade que se quer medir neles (altura,
comprimento);

- Mesmo podendo teoricamente proceder à medida


fundamental, nem sempre na prática isto é possível,
ex.: medir com o metro as distâncias entre as
galáxias.

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◦ Medida derivada ou indireta:

- Resulta da relação entre duas medidas fundamentais;


A propriedade sendo medida é resultante de dois ou
mais componentes que permitem medida
fundamental;

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Medida derivada ou indireta:

- Ex.: Massa = volume x densidade, então como a


massa permite medida fundamental (peso - Kg), e o
volume também (cubo do comprimento – m³), então
densidade (que não possui medida fundamental) pode
ser medida indiretamente em função de massa e
volume;

- Trata-se de um lei, empiricamente demonstrada, ou


seja, a massa sendo determinanda pelo volume e
densidade é uma descoberta científica.

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Formas de Medida
 Medida por Teoria:

- Quando as medidas fundamental e derivada são


impossíveis, tem lugar a medida por teoria,
típica em Psicologia e demais ciências
psicossociais.

- Assim, alguns atributos da realidade (como os


processos psicológicos) só podem ser
mensuráveis com base em leis ou teorias
científicas.

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 A medida por teoria se tornou cientificamente
legítima na Física, por exemplo, quando
conseguiram comprovar a hipótese de que a
distância das linhas espectrais tem a ver com o
movimento das galáxias;

 Assim, tanto Leis quanto Teorias, se enquadram


na Medida por Teoria, dado que a lei constitui
uma hipótese derivável de alguma teoria e foi
empiricamente demonstrável.

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 Medida por Lei: Mede-se por lei quando se quer
demonstrar empiricamente que dois ou mais
atributos estruturalmente diferentes mantêm entre si
relações sistemática (Ex.: Lei do Reforço: resposta x
estímulo).

 Assim, as manipulações efetuadas num atributo


repercutem sistematicamente no outro, onde é
possível estabelecer uma função de covariância entre
os dois, uma lei (Pasquali, 2003).

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 Medida por Teoria: Já a teoria não é considerada lei
por ser composta de postulados e, não de fatos
empíricos;

 Esta só é científica, se de seus postulados for


possível deduzir hipóteses empiricamente
testáveis;

 Então, se trata de medir através da hipotetização


acerca de relações entre atributos da realidade (Ex.:
relação entre maior estresse e menor
desempenho), permitindo sua medida indireta via
teoria, neste caso é importante que hajam
instrumentos calibrados para medir.

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Medida por Teoria
(Teoria Psicométrica)

 Fundamento: Esta teoria trabalha com dois


parâmetros: a resposta (comportamento do
sujeito) e o critério (item, estímulo).

 Teoria Clássica dos Testes: O critério é


entendido como comportamento futuro.
Teoriza-se acerca de um construto latente e,
em função das respostas que os sujeitos dão,
afirma-se estar medindo aquele construto.

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 Mesmo na medida fundamental é impossível
evitar o erro. A justaposição de pontos não
equivale a sua coincidência perfeita.

 Esta evidenciaria que dois pontos se fundem


em um só;

 Comprovar esta hipótese demandaria uma


ampliação ao infinito dos pontos.

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 Apesar de toda medida apresentar um
componente erro, permite definir limites
(extremos de condensação) dentro dos quais ela
poderá ser expressa.

 Quanto menor o intervalo (os extremos de


condensação), maior a precisão da medida. Isso
requer apresentar a pontuação da medida
acompanhada do seu erro estimado.

 Ex.: A distância entre dois objetivos é de


20 cm (intervalo entre 19 e 21cm).

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 Erros de observação. Têm quatro fontes: (1)
inadequação do instrumento de medida; (2)
erros pessoais devidos a forma de cada pessoa
agir; (3) erros sistemáticos, devido a algum
fator sistemático não controlado (e.g., medir o
humor em uma festa); e (4) erros aleatórios,
sem causas conhecidas.

 Erros de amostragem. Devido à impossibilidade


de contar com o universo de participantes,
opta-se por obter amostra. A escolha de
indivíduos da população é sujeita a erros
(vieses) conectados com a falta de
representatividade (numérica e demográfica).
Isso implica em inferências errôneas

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 Formas de controlar os erros:
◦ Erros de observação. Pode-se calibrar o
instrumento de medida, demandar mais
atenção (treinar) dos observadores, efetuar
controle experimental ou estatístico.

◦ Erros de amostragem. A solução, neste


caso, costuma ser assegurar a
representatividade da amostra, que passa
por assumir erro amostral e intervalo de
confiança específicos. Sempre que possível,
empregar amostras aleatórias ajuda.

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 Precisão: Deixam-se de um lado os adjetivos,
substituindo-os por números. Linguagem
universalmente aceita e compreendida. Em
lugar de falar em ou pouco disso ou daquilo,
diz-se exatamente quanto de cada coisa. A
replicabilidade se faz mais possível.

 Simulação: É possível, por exemplo, testar o


efeito de uma bomba sem os prejuízos de
detoná-la no mundo real.

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Teoria Clássica dos Testes

TCT: teste = f (critério, item, erro)

critério = comportamentos
presentes ou futuros;
item = características do item
(dificuldade, discriminação, ...)
erro = erros da medida.

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Teoria Clássica dos Testes

 O foco da TCT é nos escores observados


produzidos pelos instrumentos psicométricos e
em quanto erro de medida eles apresentam;

 Na TCT defende-se que o escore verdadeiro do


sujeito é a média esperada para os escores de
um indivíduo;

 Na prática, apenas o escore observado é obtido.

(Hauck Filho & Zanon, 2015)

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Teoria Clássica dos Testes
 Assim, outro pressuposto da TCT é estimar o
erro contido nos escores observados;

 A medida usada para isto é a fidedignidade ou


confiabilidade;

 Apesar das limitações, a TCT possui a vantagem


de ser simples e acessível em vários programas
estatísticos.

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 A TRI é um outro modelo da Psicometria, usada para
avaliar itens individualmente, não sendo muito útil
para compreender estrutura fatorial de escalas
psicométricas;

 Esta técnica estatística observa cada um dos itens do


instrumento para saber qual é a probabilidade, e
quais são os fatores que afetam esta probabilidade,
de cada item individualmente ser acertado ou errado
(em testes de aptidão) ou de ser aceito ou rejeitado
(em testes de preferência: personalidade, interesses e
atitudes)

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