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MODELAGEM TEÓRICA E COMPUTACIONAL DE FONTES

IONIZANTES EM AMBIENTES ASTROFÍSICOS


Lara M. Gatto1
Dinalva A. de Sales 2
João Thiago Amaral 3

Resumo: Em ambientes astrofísicos, como no meio interestelar, um gás, uma molécula, ou um


átomo podem ser ionizados de diversas formas, como por exemplo, através da ionização por
impacto de elétrons (EIE), fotoionização (PI), autoionização (AI), recombinação dielétrica (DR)
e também, através da recombinação radiativa (RR). Neste trabalho será estudado a ionização
obtida por meio da fotoionização. A fotoionização ocorre quando um átomo é ionizado através da
incidência de um fóton no átomo. Ou seja, o fóton é absorvido pelo átomo, excitando(ionizando)
o átomo, e liberando um elétron. O elétron emitido pelo átomo terá energia cinética igual à
diferença entre a energia do fóton absorvido e a energia de ionização do átomo no estado
em que se encontrava. Na astronomia o processo de fotoionização ocorre em remanescentes
de estrelas (nebulosas planetárias e supernovas) e em núcleos ativos. Como a fotoionização
está muito presente na astronomia, este trabalho abordou uma modelagem teórica, utilizando
conhecimentos de mecânica quântica, e computacional, utilizando modelos do processo de
fotoionização. Através do estudo teórico do processo de fotoionização, foi obtido a seção de
choque do sistema átomo – fóton, em função das probabilidades de transições do átomo, e da
posição esperada. E com a utilização de modelos computacionais de fotoionização, foi discutido
ao longo do texto particularidades dos modelos aplicados a remanescentes estelares e em
núcleos ativos de galáxias observadas pelo telescópio Gemini.

Palavras-chave: Fotoionização; Modelagem Computacional; Mecânica Quântica; Regiões HII;


AGNs.

1
Mestranda em Física, Universidade Federal do Rio Grande, laragatto01@gmail.com.
2
Dra. em Física, Universidade Federal do Rio Grande, dinalvaires@gmail.com.
3
Dr. em Física, Universidade Federal do Rio Grande, jtamaral@furg.br.

8o MCSul / VIII SEMENGO - Universidade Federal do Rio Grande


1 Introdução

O processo de fotoionização foi primeiro notado por Heinrich Hertz em 1886. Ele
descobriu que uma descarga elétrica entre dois eletrodos ocorre mais prontamente
quando luz ultravioleta incide sobre um dos eletrodos. A partir desta descoberta,
estudos sobre esses efeitos foram responsáveis por grandes avanços na história da
física. Um excelente exemplo foi o trabalho teórico, realizado por Einstein em 1905,
sobre o efeito fotoelétrico, que o conduziu ao desenvolvimento da teoria quântica de
fótons (Einstem,1905), teoria essa que viria a contribuir para seu prêmio Nobel em 1921.
Dois anos mais tarde, Millikan foi condecorado com seu Prêmio Nobel pela confirmação
experimental da teoria fotoelétrica de Einstein, desempenhando um importante papel
na colocação dos alicerces da Mecânica Quântica. Desde então, o processo de
fotoionização tem sido utilizado em pesquisas teóricas e aplicações em física, química e
muitos outros campos.
Antes de definirmos o que é a fotoionização, discutiremos um pouco sobre ionização,
pois a fotoionização é um dos processos de ionização de átomos. A ionização é o ganho
ou a perda de um elétron por um átomo, e pode ocorrer de várias formas, e algumas são
facilmente presenciadas em nosso dia a dia.
Um átomo é ionizado através da perda ou da absorção de um elétron. Quando um
átomo perde um elétron, ele é chamado de íon positivo, já quando ele ganha, é chamado
de íon negativo. Ou seja, quando um átomo perde um elétron, ele possui mais prótons
do que elétrons, se tornado um átomo positivo, um íon positivo, e vice-versa.
Para retirar os elétrons mais externos de um átomo, é necessária uma certa
quantidade de energia. A energia dependerá de quão grande é a atração do elétron com
o átomo, precisará ser grande se os elétrons estiverem fortemente atraídos pelo núcleo
do átomo, e pequena se eles estiverem fracamente atraídos. Esta energia exigida para
arrancar um, dois ou mais elétrons de um átomo é chamada de energia de ionização ou
potencial de ionização.
A partir deste ponto usaremos o termo ionização e ionizar no sentido de perda de
elétrons, tendo como consequência a formação de íons positivos.

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Finalmente podemos definir que a fotoionização é um tipo de ionização, em que é
utilizada a energia de um fóton para ionizar um átomo. Neste caso, o fóton é absorvido
pelo átomo, que libera um elétron. O elétron emitido pelo átomo terá energia cinética
igual à diferença entre a energia do fóton absorvido e a energia de ionização do átomo
no estado em que se encontrava.

1.1 Fotoionização na astronomia

O processo de fotoionização é muito observado na astronomia, como por exemplo, em


regiões HII, em nebulosas planetárias, em remanescentes de supernovas, em galáxias
e em AGNs (Active Galatic Nuclei).
Na astrofísica é utilizada uma notação padrão para os níveis de ionização de um
átomo. Por exemplo, o hidrogênio neutro é denotado por HI, e o hidrogênio uma vez
ionizado é escrito como HII, e assim sucessivamente.
No espaço entre as estrelas existem regiões onde o hidrogênio está ionizado. Estas
são as "regiões HII", regiões do espaço interestelar onde a radiação proveniente de
estrelas vizinhas mantém completamente ionizado o hidrogênio local.
Regiões HII são nebulosas ionizadas formadas basicamente por gás, estrelas e
poeira. São regiões onde ocorre formação estelar e são caracterizadas por conter em
seus espectros linhas de emissão proeminentes. Em regiões HII, a fotoionização do
gás é produzida principalmente por fótons emitidos na região espectral do ultravioleta
provenientes de uma estrela massiva ou de um aglomerado de estrelas também
massivas. Devido ao seu alto brilho superficial, regiões HII podem ser observadas a
distâncias consideráveis no Universo, tornando estes objetos úteis na determinação de
distâncias (Melnick, 1998) e na composição química de galáxias (Kennicutt, 2003) e
tornando o estudo das regiões HII um importantíssimo tema na astrofísica.
O gás de regiões H II consiste em aproximadamente 90% de hidrogênio, 8% de hélio
e 2% de elementos chamados de metais. O espectro em comprimento de onda do óptico
de regiões HII é caracterizado por conter um grande número de linhas de emissões fortes
como, por exemplo, as da série Balmer (Hα, Hβ, Hγ ), como também linhas proibidas

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de metais , tais como, [OII]λ 3727, [OIII]λ5007, [N II]λ6584, [SII]λ6716, 6731. Estas
linhas são chamadas de proibidas pois não são observadas em espectros de gases
em laboratórios terrestres. Isto ocorre devido à alta densidade eletrônica destes
gases, sendo que após a excitação de um elétron, ocorre uma desexcitação colisional
(Osterbrock, 2006). Assim, uma vez que no meio interestelar encontramos uma
baixa densidade eletrônica, transições proibidas representam um percentual significativo
de fótons emitidos por gases de alta densidade no espaço interestelar, onde linhas
proibidas de nitrogênio ([N II]λ6548 e λ65840), enxofre ([SII]λ6716 e λ6731]) e oxigênio
([OII]λ3727, [OIII] λ5007 , [OIII]λ4959) são comumente observadas em plasmas
astrofísicos.
O Núcleo Ativo de Galáxia, do inglês Active Galatic Nuclei (AGN), é considerado
o objeto mais energético do Universo, e é encontrado em uma região muito pequena
no centro de uma galáxia. Ou seja, AGNs são galáxias que possuem um buraco
negro supermassivo (SMBHs) ativo e um disco de acreção de plasma quente em seu
centro. E de acordo com o modelo unificado de AGNs no centro da galáxia existe um
SMBHs (onde sua dimensão é menor que o valor dada pelo raio de Schwarzschild,
rs = 2GM/c2 ), com um disco de acreção em sua volta, onde são produzidos jatos de
partículas relativísticas. Numa região mais externa ao disco de acresção, o modelo do
AGN prevê a existência da chamada Região das Linhas Largas (BLR – “Broad Line
Region”), onde seriam formadas as componentes largas das linhas de emissão que
são visíveis nos espectros dos AGNs. Finalmente, externamente à BLR, existiria a
chamada Região das Linhas Estreitas (NLR – “Narrow Line Region”), onde são formadas
as linhas estreitas visíveis nos espectros dos AGNs. A emissão de radiação de um AGN
é explicada através de modelos de fotoionização e de ondas de choque, onde a radiação
provinda do disco de acresção choca-se com o torro molecular, e com nuvens de poeira
que estão circulando o núcleo. Isto ocorre porque normalmente o AGN está imerso em
poeira.
Galáxias com formação estelar intensa (Starburst) e os AGNs possuem
características espectrais diferentes (eg, intensos fluxos em UV e infravermelho). Essas

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características é consequência das regiões de formação estelar (regiões HII) serem
aquecidas por estrelas jovens, e os AGNs a energia é originada no disco de acresção do
SMBH. Assim, diagramas de diagnósticos baseado nas intensidades relativas de linhas
espectrais ([OIII ]λ5007/Hβ , [NII ]λ6583/Hα , [SII ]λλ6716, 6731/Hα , [OI ]λ6300/Hα ,
foram propostas para distinguir AGNs de galáxias Starburst (Baldwin, 1981). Estes
diagramas de diagnósticos são conhecidos como diagrama BPT e dividem as regiões de
galáxias ativas e região de formação formação estelar. A Fig.(1) ilustra o diagrama BPT,
as linhas representadas separam as diferentes classes de objetos, a curva tracejada
azul é um modelo computacional que simula o ambiente de galáxia Starburst, é o limite
entre as galáxias Starbust (formação estelar- SF) e AGNs, a linha azul contínua é o
limite superior da modelagem computacional que mostra as relações de linha SF, uma
classe adicional de objetos é a galáxias de ionização chamadas LINERs. LINERs são
caracterizado por linhas de emissão muito fortes de espécies neutras, e estão bem
separados das galáxias AGN e SF no BPT e diagramas de relação de linha semelhantes.
A linha diagonal azul pontilhada é o limite entre Seyferts e LINERS.

Figura 1: Diagrama BPT. Pontos em cinza amostra de galáxias. A curva tracejada azul
é o limite entre as galáxias Starbust(formação estelar) e AGNs, a linha azul contínua é
o limite superior teórico sobre as relações de linha SF, uma classe adicional de objetos
é a galáxias de ionização chamadas LINERs, a linha diagonal azul pontilhada é o limite
entre Seyferts e LINERS. Extraído de. Richardson (2014).

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1.2 Objetivos

Como discutido anteriormente, a fotoionização está muito presente na astronomia e em


outras áreas da física, como por exemplo, na física dos plasmas. Por este motivo, este
trabalho tem como principal objetivo estudar e compreender o processo de fotoionização,
utilizando a modelagem computacional, que delimita as regiões onde encontraremos
AGNs e galáxias com formação estelar. A comparação dos modelos serão feitos com
dados observados com o telescópio Gemini (8m de diâmetro) da galáxias IRAS 11506-
3851 após o tratamento das imagens.
Neste trabalho a fotoionização será abordada pela visão da mecânica quântica, ou
seja será estudado uma colisão fóton-átomo, focando no estudo da seção de choque de
um fóton e um átomo. Também será discutido a aplicação de modelos computacionais
para a fotoionização em ambientes astrofísicos da nossa Galáxia.

2 Fotoionização

A fotoionização é um importante meio de estudo da interação da radiação


electromagnética com moléculas e átomos, devido à possibilidade de aceder
diretamente à informação sobre as energias relativas dos diferentes estados. Essa
informação é obtida por meio do espectro eletromagnético, o qual consiste num conjunto
de bandas (como por exemplo, as banda do visível, do infravermelho, do rádio), cada
uma das quais corresponde à remoção de um elétron de um orbital particular do sistema
em estudo (átomo ou molécula).
Plasma é considerado o quarto estado da matéria, em que o aquecimento de uma
nuvem de gás provoca a dissociação das suas ligações moleculares, convertendo-o em
seus átomos constituinte, além disto esse aquecimento adicional pode levar à ionização
(ganho ou perda de elétrons) dessas moléculas e dos átomos do gás, transformando-
o em plasma contendo partículas carregadas (elétrons e íons positivos). O plasma
pode ser observado de forma densa principalmente nas estrelas, como o Sol, e em
outros materiais intergaláticos. No planeta Terra o plasma é encontrado em lâmpadas
fluorescentes, em raios, e entre outros.

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Os processos atômicos em plasmas astrofísicos e de laboratório envolvem interações
elétron-íon-fóton. Os processos atômicos dominantes envolvendo elétrons, íons e fótons
em plasmas astronômicos são os seguintes: excitação por impacto de elétrons (EIE),
fotoionização (PI), autoionização (AI), recombinação dielétrica (DR) e a recombinação
radiativa (RR). Estes processos estão esquematicamente descritos na Fig. (2).

Figura 2: Quadro unificado de processos atômicos dominantes em plasmas: excitação


por impacto de elétrons (EIE), fotoionização (PI), autoionização (AI), recombinação
dielétrica (DR) e recombinação radiativa (RR). Observe o papel frequentemente
importante ressonância estados no centro, mediando processos atômicos. Fonte:.

A ionização de um gás pode ocorrer de duas formas, através da colisão devido ao


impacto de elétron, e através da fotoionização devido a uma fonte radioativa. Entre
as fontes emissoras de radiação estão as estrelas, os AGN, entre outros. A taxa de
fotoionização e o grau de ionização alcançado em uma nuvem de gás dependem da (i)
distribuição de fótons no campo de radiação e (ii) das seções de choque transversais em
função da energia dos fótons.
Quando um fóton incide em um átomo X, e transmite uma energia suficiente para
que um elétron seja ejetado do átomo, deixando o átomo positivamente carregado, esse
processo é chamado de fotoionização, isto é: X + hν → X + + e(). O elétron livre
ejetado, é dito estar no continuum com energia positiva  = 1/2mv 2 , que é igual à
diferença entre a energia do fóton hν e o potencial de ionização ou a energia de ligação
de elétrons hν − EIp = 1/2mv 2 .
Ao estudarmos o processo de fotoionização visto pela mecânica quântica,
começamos a tratar de um sistema constituído inicialmente de um fóton e de um átomo.

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Neste sistema podemos estudar o processo de colisão, e a seção de choque entre o
fóton e o átomo em questão, o que nos levará a estudarmos a probabilidade de transição
do átomo, o que será discutido no capítulo a seguir.

3 Fotoionização: tratamento quântico

3.1 Seção de choque para a fotoionização

A quantidade física que descreve a fotoionização é a seção de choque σ com uma função
de energia do fóton incidente de ~ν . Na natureza, o campo de radiação é caracterizado
por uma distribuição de frequência, e considerando uma frequência de um fóton ou vetor
de onda ~k , em um intervalo infinitesimal ~k + d~k .
Considerando o volume de um cubo V = L3 , com uma condição de contorno
periódica (como no problema do poço quadrado infinito) eikx (L+x) = eikx x , indicando que
eikx L = eiky L = eikz L = 1, assim, temos que as componentes do vetor de onda podem
2π 2π 2π
ser escritos como: kx = n ,k
L x y
= L y
n , kz = L z
n, onde nx , ny , nz são números
V
inteiro. O número de modos em um intervalo k + dk é dn = (2π)3
d3 k , realizando uma

mudança de variável, onde d3 k = k 2 dkdΩ, dΩ = sin θdθdφ . Sabendo que k é k = λ
,
e considerando que a radiação incidente é isotrópica e puramente polarizada, dentro de
um ângulo sólido (dΩ) temos
2V ω 2
dn = dωdΩ (1)
(2π)3 c3
A energia incidente por unidade de tempo no intervalo de frequência é Idω = cU dω .
Integrando a energia no Ângulo sólido temos:

nω ~ω 3
I= (2)
π 2 c2

A Eq.(2) nos mostra a intensidade da radiação.


Se Tij é a probabilidade por unidade de tempo que um quantum de energia no
elemento dΩ é absorvido na transição entre os estados i e j, então a energia (potência)

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absorvida pelo átomo será:

dP = ~ωij dTij (3)

dσ dσ dP
A seção de choque diferencial dΩ
é definida como: dΩ
= I
dΩ
. Substituindo a Eq.(3)

e a Eq.(2), obtemos a seção de choque diferencial, e total

dσ 4π 3 c2 dTij
=
dΩ nω ωij3 dΩ
(4)
π 2 c2 Tij
σ = P/I =
nω ωij2

3.2 Probabilidade de Transição

Considerando que o sistema é descrito por um hamiltoniano perturbado = H0 + H 0


~2
p e ~
onde H0 = 2m
+ V , e H0 = mc
A.~p. Sendo H0 o termo não perturbado, e H 0 o
~ o um campo de radiação. Considerado
termo perturbado de pequenas oscilações, e A
~ =
como uma superposição de duas ondas planas periódicas no tempo, temos: A
~ ~
A~0 [ei(ωt−k.~r) + e−i(ωt−k.~r) ].
Na mecânica quântica, a equação de Schrödinger é uma equação diferencial parcial
que descreve como o estado quântico de um sistema físico muda com o tempo, e é
descrita como
∂Ψ
i~ = HΨ (5)
∂t
Em um tratamento perturbativo semi-clássico da interação de um campo de
radiação (fóton) com a matéria, é utilizado métodos de primeira quantização, onde é
permitido construir modelos de uma partícula dentro da mecânica quântica a partir da
correspondente descrição clássica do espaço de fases de uma partícula. Neste caso
utilizamos a Equação de Schrödinger dependente do tempo, Eq. (5). Enquanto o tempo
e as dependências espaciais forem separáveis, a função de onda pode ser escrita em
termos de estados estacionários ou auto-estados independentes do átomo, uma vez que
estamos interessados em mudanças nos estados do átomo com o tempo e não com o
estado do campo. Nós expandimos:

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X
Ψ= an (t)ψn e−iEn t/~ (6)
n

Onde an (t) é um coeficiente dependente do tempo, sobre as funções de onda


p
~ 2
dependente de espaço satisfazendo: [ 2m + V ]ψn = En ψn , e < ψi |ψj >= δij .
Considerando an (0) = 1 para um estado particular i no tempo t = 0, enquanto
an6=i (0) = 0 para todos os outros estados. Então |aj (t)|2 é a probabilidade de encontrar
o átomo em um estado j depois de um tempo t.
Resolvendo a Eq.(5) para o Hamiltoniano total, temos

|aj (t)|2 2π
= | < j|H 0 |i > |2 δ(Ej − Ei ) (7)
t ~
A equação (7) é a probabilidade por unidade de tempo para uma transição de um
estado |i > para um estado |j > sob um potencial perturbador H’.
Vale a pena estender a formulação das transições de limite limitado para o caso
em que os estados finais podem abranger uma gama de energias contínuas, como nas
proximidades de uma ressonância no processo livre de ligações. A regra de ouro de
Fermi dá a taxa de transição radiativa:


Tij = | < j|H 0 |i > |2 nj (8)
~
Onde nj é a densidade final de estados j

3.3 Matriz de Transição

Através da Regra de Ouro de Fermi Eq. (8) , escrevemos a probabilidade de transição


como:
|aj (t)|2
Z
Tij = dn.
t
Utilizando a aproximação bipolar para a transição de ligação, e reescrevendo p
~ na
representação de ~r chegamos e as equação de choque tomos as seguintes equações

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para a seção de choque, em termos do comprimento e da velocidade.

4π 2 αωij2
σL = | < j|~r|i > |2
3
(9)
4π 2 α
σv = | < j|~p|i > |2
3m2 ωij

As seções de choque em termos de comprimento e em termos de comprimento é


mais precisa que a seção de choque em termos de velocidade. Por esse motivo, iremos
abordar a seção de choque em termos do comprimento.

3.4 Potencial Central

Para o cálculo da probabilidade de transição Tij , deveremos conhecer o potencial


central e o mesmo depende da configuração quântica de cada átomo. Através de uma
construção adequada do potencial central radial, podemos empregá-lo para construir
corretamente a matriz de transição Tij , e também, através do potencial central, podemos
expressar estados independentes (radial e angular), pois podemos escrever as funções
de onda radial e angular separadas, Rnl (r) e Υlm (r̂).
Considerando a forma de comprimento de Tij e sua matriz de transição Tij =
3
4nω αωij
3c2
| < j|~r|i > |2 e, como na fotoionização inicialmente temos um átomo que,
através de um fóton, fica ionizado (íons + elétron), temos as seguintes regras de seleção:
4m = mj − mi = 0, ±1; e 4l = lj + li = ±1. Definindo a integral radial como:
n ,l R∞
Rnij,lij = 0 Rnj ,lj (r)Rni .li (r)r3 dr . A probabilidade total de transmissão entre os estados
3
4nω αωij 1 n ,l +1 n ,l −1
com 4l = ±1 e 4m = 0, ±1 será: Tij = 3c2 2li +1
[(li + 1)|Rnij,lii |2 + li |Rnij,lii |2 ].
Portanto a seção de choque em termos do comprimento será escrita como:

4π 2 αωij 1 n ,l +1 n ,l −1
σL = [(li + 1)|Rnij,lii |2 + li |Rnij,lii |2 ] (10)
3 2li + 1

Para o cálculo da integral radial é necessário saber a função de onda radial inicial e final
do átomo desejado.

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4 Modelagem de Fontes Ionizantes em Astrofísica

Como dito anteriormente, as regiões HII são dominadas por hidrogênio atômico
(neutro HI) e ionizado (HII) e hidrogênio molecular H2 . Estudos como Aleman (2002)
mostram que o potencial de fotoionização do hidrogênio molecular é de 15,4 eV, que fica
acima do potencial de ionização do H (E = 13,6 eV) e, portanto, o H2 é protegido da
radiação pela presença de H em regiões mais internas. A Fig. 3 mostra a modelagem
computacional feita com o código AANGABA pela Aleman (2002) das seções de choque
dos processos de fotoionização do átomo H, linha contínua preta, da molécula H2 , linha
contínua vermelha, e as duas rotas de fotodissociação da molécula H2 , em verde a
fotodissociação direta, e em azul a fotodissociação de dois passos.

Figura 3: Seções de choque dos processos envolvendo a incidência de fótons no átomo


H e na molécula H2 . Extraído de (Isabel, 2002).

Em remanescentes de supernovas, fótons de altas energias (hν > 100 eV) propiciam
a excitação de elementos com altos níveis de ionização, como C IV, N V, O VI, S VI, Ar V,
Ca V e Fe XIV (Pauletti, 2011). Essas linhas são comumente encontradas em espectros
de remanescentes de supernovas, mas raramente nos de regiões H II. Além disto, os
objetos ionizados por choque e os fotoionizados diferenciam-se quanto a intensidades
de linhas, em regiões HII as intensidades das linhas [OI]λ6300, 6363e[SII]λ6717, 6731
são de menor intensidades comparadas ás linhas de Hα Hβ (Osterbrock, 2006).
A Fig. (4) ilustra os espectros observados de uma remanescente de super nova, à
esquerda, e uma região HII, à direita. Notamos que a linha de Hα no espectro da região

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HII se destaca muito mais do que no espectro de uma remanescente de supernova. Para
fins de comparação, trago o espectro de uma Galáxia Ativa a IRAS 11506-3851, Fig. (5).

Figura 4: A esquerda, espectro de um remanescente de supernova na região espectral


que contém linhas importantes na distinção entre objetos fotoionizados e ionizados por
choque. A direita, Espectro de uma região HII na região espectral que contém linhas
importantes na distinção entre objetos fotoionizados e ionizados por choque. Extraído
de Pauletti (2011).

Figura 5: Espectro da galáxia IRAS 11506-3851 obtido pelo Telescópio Gemini e dados
reduzidos pela autora. As linhas de Hα e de [NII] estão demonstradas na figura.

Notamos que na Fig. (5) temos uma intensa emissão na linha de Hα , que é uma
característica das regiões HII. Também notamos, que temos uma linha alargada de
[SII], assim como outras linhas proibidas não indicadas na figura Fig. (5), e este tipo
de emissão é uma característica de remanescentes de supernovas. Concluímos através
dos modelos computacionais mostrados na Fig (1), que o processo de ionização da
galáxia IRAS 11506-3851, é uma mistura de excitação devido ao efeito da fotoionização

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e por excitação devido a choques.
Henrique Fraquelli em sua dissertação (Fraquelli, 2002) discute estas duas diferentes
formas de ionização do gás em galáxias ativas aplicando modelos computacionais de
fotoionização e de ionização por choques em uma amostra de galáxias ativas, e chega
a conclusão que, à medida que nos afastemos do núcleo de uma galáxia, os valores
das razões de linhas tendem a ser uma mistura entre fótons dos AGN e de regiões
HII, e só podemos reproduzi-los a partir de modelos computacionais que simulam uma
mistura de gás ionizado pelo AGN e por regiões HII. E a inclusão de uma contribuição
de regiões HII ao mecanismo de choques não modifica o resultado. Ou seja, os modelos
computacionais de fotoionização reproduzem melhor as observações do que os modelos
computacionais de choques.

5 Conclusão e Perspectivas

Este trabalho estudou o conceito e o formalismo matemático da fotoionização,


chegando na expressão da seção de choque. Também, evidenciou alguns exemplos
de modelagem computacional para simular a fotoionização e suas aplicações na
astronomia.
Este trabalho terá continuidade através de simulação numérica de uma classe
específica de objetos denominado de galáxias megamasser de OH, OHMGs, usando
o código público CLOUDY. Os dados espectroscópicos que serão utilizados nesta
fase do trabalho, dados das galáxias IRAS 15587+1609 e IRAS 11506-3851, foram
obtidos através do espectrógrafo GMOS acoplado no telescópio Gemini e tratados
com algoritmos computacionais para retirar ruídos dos instrumentos e das condições
climáticas na Terra.

Agradecimentos
Agradeço a Proª. Dinalva e o Prof. João Thiago por me orientar e auxiliar neste trabalho.

Referências
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emissoin-line spectra of extragalactic objects. Astronomical Society of the Pacific,

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8o MCSul / VIII SEMENGO - Universidade Federal do Rio Grande

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